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16/04/2021
Número: 0024008-63.2014.8.07.0007
Classe: APELAÇÃO CRIMINAL
Órgão julgador colegiado: 3ª Turma Criminal
Órgão julgador: Gabinete do Des. Jesuino Rissato
Última distribuição : 09/12/2020
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0024008-63.2014.8.07.0007
Assuntos: Crimes da Lei de licitações
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITORIOS (APELANTE)
ADELSO THEODORO DE MENEZES JUNIOR (APELADO)
LOURIVAL MOURA E SILVA (ADVOGADO)
EDMUNDO CAMPOS DE CARVALHO (APELADO)
DAVID GOMES FRANCO (ADVOGADO)
LUIZ CARLOS AGUIAR (ADVOGADO)
GUSTAVO HENRIQUE PIRES FREITAS (APELADO)
WILSON SAMPAIO SAHADE FILHO (ADVOGADO)
JOSE ANSELMO DE SOUSA (APELADO)
LOURIVAL MOURA E SILVA (ADVOGADO)
JOSE EDILBERTO LOUREIRO DE OLIVEIRA (APELADO)
NEY MARCIO DE OLIVEIRA (ADVOGADO)
JOSE RAIMUNDO VIEIRA DE SOUSA (APELADO)
CARLOS ABRAHAO FAIAD (ADVOGADO)
Outros participantes
MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITORIOS (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
24722567 09/04/2021 Acórdão Acórdão
14:52
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
Acórdão Nº 1330170
EMENTA
1. Ausente o dolo específico de frustrar ou fraudar a competição, mediante ajuste ou qualquer outro
expediente, bem como inexistente vantagem pela adjudicação do objeto da licitação, não se configura o
crime do art. 90, da Lei 8.666/93, tornando imperativa a absolvição dos acusados.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 3ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal
e dos Territórios, JESUINO RISSATO - Relator, WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR - 1º Vogal e
SEBASTIÃO COELHO - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora NILSONI DE FREITAS
CUSTODIO, em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. IMPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a
ata do julgamento e notas taquigráficas.
RELATÓRIO
A denúncia que deu origem ao presente feito dividiu os fatos em 9 (nove) séries, os quais, após o
desmembramento dos autos, totalizaram 7 (sete) processos, sendo que este abarca a 6ª, 7ª e 8ª séries (ID
22007049, p. 09 e 31/48). Confira-se:
Neste Inquérito Policial constataram-se várias evidências materiais sobre um conluio existente
entre diversas pessoas/empresas para frustrar o caráter competitivo de procedimentos
licitatórios da área de engenharia civil promovidos pelos órgãos do Distrito Federal.
"(...) as obras do DF são divididas em duas metades: a primeira (50%) refere-se às indicações
que vem (sic) diretamente do Governo e a segunda (50%) refere-se à divisão que acontece na
mesa entre as empresas da área (...).
Nesse mesmo documento, ainda é possível conferir detalhes do funcionamento desse esquema:
(...) a segunda metade é uma divisão feita na associação de classe e leva em consideração o
porte da empresa e também, como em uma fila, a freqüência tem sido atendido pela mesa. (...).
Foi nesse contexto que os réus, unidos em conluio estável em algumas situações e esporádico
em outras, produziram propostas de preços combinadas para frustrar o caráter competitivo das
licitações em referência, com o fim de favorecer determinadas empresas, conforme a seguinte
dinâmica. (......)
SÉXTA SÉRIE
Pelo menos no final do ano de 2008, GUSTAVO e ADELSO mantiveram uma combinação
prévia destinada a frustrar o caráter competitivo de diversas licitações promovidas pelas
Administrações Regionais, ora para que fosse vendedora a empresa TEC, do primeiro, ora
para que fosse vencedora a empresa MENEZES, desse último.
Nessa empreitada, eles contaram com a atuação de JOSÉ EDILBERTO que, ciente da
combinação prévia, apresentava propostas de preços em nome das empresas SULINA e EDIL
previamente ajustadas junto ao esquema de direcionamentos vigente entre as empresas de
engenharia civil locais.
A seu turno, JOSÉ EDILBERTO apresentou proposta de preço em nome da empresa EDIL
previamente ajustada com ADELSO para frustrar o caráter competitivo desse certame. Nessa
mesma oportunidade, EDMUNDO apresentou uma proposta de preços combinada em nome da
ECC, com o propósito de favorecer ao esquema de direcionamentos.
Essas propostas foram levadas aos autos do referido processo administrativo, tendo sido
declarada vencedora a MENEZES, seguindo-se a expedição da Nota de Empenho, que
consolidou a contratação.
Contudo, grande parte dos documentos autuados não havia sido numerada, nem sequer
constava com as assinaturas dos servidores públicos quando da apreensão dos autos em
13/01/2009, revelando a existência de uma trama mais ampla, ainda não totalmente
esclarecida. Descoberta a fraude, a contratação foi posteriormente anulada, quando já
esgotados todos os atos executórios do crime.
Pelo menos no final do ano de 2008, GUSTAVO e ADELSO mantiveram uma combinação
prévia destinada a frustrar o caráter competitivo de diversas licitações promovidas pelas
Administrações Regionais, ora para que fosse vencedora a empresa TEC, do primeiro, ora
para que fosse vencedora a empresa MENEZES, desse último.
Nessa empreitada, eles contaram com JOSÉ ANSELMO que, ciente da combinação e
previamente ajustado com ADELSON, apresentava propostas de preços para sustentar a
escolha das empresas dos demais.
A seu turno, JOSÉ RAIMUNDO, atendendo aos interesses de JOSÉ ANSELMO, ciente da
combinação das empresas para frustração do caráter competitivo de licitações, apresentou
JOSÉ RAIMUNDO mantinha estreita ligação com JOSÉ ANSELMO, que constituíra a empresa
ANGLO e mantinha sua esposa como responsável técnica em engenharia dessa. Diversas
evidências materiais dessa interligação foram arrecadadas na busca e apreensão determinada
por este Juízo, conforme Relatório de Análise Criminal nº 187/2011-SI/DECAP.
A seu turno, ADELSO e JOSÉ ANSELMO mantinham uma histórica combinação envolvendo as
empresas MENEZES e IJ, respectivamente, com a finalidade de frustrar o caráter competitivo
de certames, conforme é possível conferir no Laudo Pericial Criminal nº 23.145/2010 do
Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito Federal, que analisou um dos
computadores apreendidos na sede da IJ:
(...)
Nesse contexto, ADELSO, pela MENEZES, GUSTAVO pela TEC e JOSÉ RAIMUNDO pela
ANGLO, combinado com JOSÉ ANSELMO, apresentaram as propostas de preços ajustadas
perante a Administração Regional de Santa Maria para favorecer a primeira empresa.
Contudo, grande parte dos documentos autuados não havia sido numerada, nem sequer
contava com as assinaturas dos servidores públicos quando da apreensão dos autos em
13/01/2009, revelando a existência de uma trama mais ampla, ainda não totalmente
esclarecida. Descoberta a fraude, a contratação foi posteriormente anulada, quando já
esgotados todos os atos executórios do crime.
SÉTIMA SÉRIE
Pelo menos no final do ano de 2008, GUSTAVO e ADELSO mantiveram uma combinação
prévia destinada a frustrar o caráter competitivo de diversas licitações promovidas pelas
Administrações Regionais, ora para que fosse vencedora a empresa TEC, do primeiro, ora
para que fosse vencedora a empresa MENEZES, desse último.
Nessa empreitada, eles contaram com JOSÉ ANSELMO que, ciente da combinação e
previamente ajustado com ADELSON, apresentava propostas de preços em nome da IJ e de
outra empresa sob sua influência para sustentar a escolha daquelas.
A seu turno, JOSÉ ANSELMO, previamente combinado com ADELSO, apresentou a proposta
de preços em nome da IJ, formatada para garantir a escolha preordenada da empresa TEC.
(...)
Valendo-se dessas interligações, GUSTAVO pela TEC, ADELSO pena MENEZES e JOSÉ
ANSELMO pela IJ promoveram a elaboração e apresentação de propostas de preços
combinadas perante a Administração Regional de Ceilândia, com o propósito de garantir à
TEC vantagem decorrente da adjudicação sem efetiva concorrência.
Essa contratação visava à seleção da proposta mais vantajosa para a execução de serviços de
"asfaltamento da via QNN 33".
Pelo menos no final do ano de 2008, GUSTAVO e ADELSO mantiveram uma combinação
prévia destinada a frustrar o caráter competitivo de diversas licitações promovidas pelas
Administrações Regionais, ora para que fosse vencedora a empresa TEC, do primeiro, ora
para que fosse vencedora a empresa MENEZES, desse último.
Nessa empreitada, eles contaram com JOSÉ ANSELMO que, ciente da combinação e
previamente ajustado com ADELSON, apresentava propostas de preços para sustentar a
escolha das empresas dos demais.
A seu turno, JOSÉ RAIMUNDO, atendendo aos interesses de JOSÉ ANSELMO, ciente da
combinação entre as empresas para frustração do caráter competitivo de licitações, apresentou
propostas de preço calçada em favor desse esquema.
JOSÉ RAIMUNDO, sócio da ANGLO, matinha estreita ligação com JOSÉ ANSELMO, que
constituíra a empresa e mantinha sua esposa como responsável técnica em engenharia dessa.
Diversas evidências materiais dessa interligação foram arrecadas na busca e apreensão
determinada por este Juízo, conforme Relatório de Análise Criminal n° 187/2011 -SI/DECAP.
Nesse contexto, ADELSO, pela MENEZES, GUSTAVO pela TEC e JOSE RAIMUNDO pela
ANGLO, combinado com JOSE ANSELMO, apresentaram as propostas de preços ajustadas
perante a Administração Regional de Santa Maria para favorecer a primeira empresa.
Pelo menos no final do ano de 2008, GUSTAVO e ADELSO mantiveram uma combinação
prévia destinada a frustrar o caráter competitivo de diversas licitações promovidas pelas
Administrações Regionais, ora para que fosse vencedora a empresa TEC, do primeiro, ora
para que fosse vencedora a empresa MENEZES, desse último.
Nessa empreitada, eles contaram com a atuação de EDMUNDO que, ciente da combinação
prévia, apresentava propostas de preços em nome da ECC previamente ajustados junto ao
esquema de direcionamentos vigente entre as empresas de engenharia civil locais.
Nesse contexto GUSTAVO pela TEC, ADELSO pela MENEZES, e EDMUNDO pela ECC
apresentaram as propostas de preços ajustadas perante a Administração Regional de
Ceilândia, sendo as duas últimas como mesmo valor global.
Pelo menos no final do ano de 2008, GUSTAVO e ADELSO mantiveram uma combinação
prévia destinada a frustrar o caráter competitivo de diversas licitações promovidas pelas
Administrações Regionais, ora para que fosse vencedora a empresa TEC, do primeiro, ora
para que fosse vencedora a empresa MENEZES, desse último.
Nessa empreitada, eles contaram com a atuação de EDMUNDO que, ciente da combinação
prévia, apresentava propostas de preços em nome da ECC previamente ajustados junto ao
esquema de direcionamentos vigente entre as empresas de engenharia civil locais.
Nesse contexto ADELSO pela MENEZES, GUSTAVO pela TEC e EDMUNDO pela ECC
apresentaram as propostas de preços ajustadas perante a Administração Regional de
Ceilândia, sendo as duas últimas como mesmo valor global.
Pelo menos no final do ano de 2008, GUSTAVO e ADELSO mantiveram uma combinação
prévia destinada a frustrar o caráter competitivo de diversas licitações promovidas pelas
Administrações Regionais, ora para que fosse vencedora a empresa TEC, do primeiro, ora
para que fosse vencedora a empresa MENEZES, desse último.
Assim, por volta do dia 11/12/2008, GUSTAVO e ADELSO, previamente ajustados, frustraram
mediante ajuste e combinação o caráter competitivo do procedimento licitatório na modalidade
convite promovido nos autos n° 138.001.398/2008 pela Administração Regional de Ceilândia,
com o intuito de obter para a empresa TEC Construtora LTDA vantagem decorrente da
Nesses autos também foram juntados documentos de uma proposta em nome da empresa
PREDIGÁS, cuja autenticidade não foi reconhecida pelo seu representante legal, que ainda
esclareceu que DANIEL teve acesso a documentos timbrados dessa empresa. Não obstante isso,
foi encontrado gravado no computador da PREDIGÁS um documento que remete a DANIEL e
sua empresa (TEC).
Nesse contexto, GUSTAVO pela TEC e ADELSO pela MENEZES apresentaram as propostas de
preços ajustadas perante a Administração Regional de Ceilândia para favorecer a primeira.
Por volta do dia 11/12/2008, ADELSO e JOSÉ ANSELMO, previamente ajustados, frustraram
mediante ajuste e combinação o caráter competitivo do procedimento licitatório na modalidade
convite promovido nos autos n° 138.001.987/2008 pela Administração Regional de Ceilândia,
com o intuito de obter para a empresa MENEZES Engenharia e Construção Ltda vantagem
decorrente da adjudicação do objeto licitado, consistente na formalização do contrato
administrativo sem efetiva concorrência de preço.
(...)
Nesses autos também foram juntados documentos de uma proposta em nome da empresa
PREDIGÁS, cuja autenticidade não foi reconhecida pelo seu representante legal.
Por volta do dia 11/12/2008, DANIEL e ADELSO, previamente ajustados, frustraram mediante
ajuste e combinação o caráter competitivo do procedimento licitatório na modalidade convite
promovido nos autos n° 138.002.242/2008 pela Administração Regional de Ceilândia, com o
intuito de obter para a empresa TEC Construtora LTDA vantagem decorrente da adjudicação
Nessa empreitada, ADELSO contou com a atuação de JOSÉ ANSELMO, que, ciente da
combinação, apresentou proposta de preço em nome da IJ para sustentar a escolha
preordenada da empresa de DANIEL (TEC).
Eles ainda contaram com o auxílio de EDMUNDO nessa empreitada, que, ciente da
combinação prévia e do esquema de acertos existentes entre as empresas de engenharia locais,
apresentou propostas de preços em nome da empresa ECC para frustrar o caráter competitivo
deste e de outros certames.
Pelo menos no final do ano de 2008, GUSTAVO e ADELSO mantiveram uma combinação
prévia destinada a frustrar o caráter competitivo de diversas licitações promovidas pelas
Administrações Regionais, ora para que fosse vencedora a empresa TEC, do primeiro, ora
para que fosse vencedora a empresa MENEZES, desse último.
A seu turno, ADELSO e JOSÉ ANSELMO mantinham uma histórica combinação envolvendo as
empresas MENEZES e IJ, respectivamente, com a finalidade de frustrar o caráter competitivo
de certames, conforme é possível conferir no Laudo Pericial Criminal n° 23.145/2010 do
Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito Federal, que analisou um dos
computadores apreendidos na seda da IJ.
Valendo-se dessas relações, GUSTAVO pela TEC, EDMUNDO pela ECC e JOSÉ ANSELMO
pela IJ, contando com a atuação de ADELSO, apresentaram as propostas de preços ajustadas
perante a Administração Regional de Ceilândia, sendo as duas últimas como mesmo valor
global.
A contratação visava à seleção da proposta mais vantajosa para a execução de obras de "obras
de urbanização de Becos nas EQNP 24, 28/32, 32/36 e 30/34", orçadas em R$ 147.647,27
(cento e quarenta e sete mil seiscentos e quarenta e sete reais e vinte e sete centavos).
Ainda foi constatado que a planta baixa do projeto básico desta contratação teria sido
elaborada por DANIEL, não obstante a natureza pública desse tipo de documento.
OITAVA SÉRIE
Pelo menos no final do ano de 2008, GUSTAVO e ADELSO mantiveram uma combinação
prévia destinada a frustrar o caráter competitivo de diversas licitações promovidas pelas
Administrações Regionais, ora para que fosse vencedora a empresa TEC, do primeiro, ora
para que fosse vencedora a empresa MENEZES, desse último.
Assim, por volta do dia 19/12/2008, GUSTAVO e ADELSO, previamente ajustados, frustraram
mediante ajuste e combinação o caráter competitivo do procedimento licitatório na modalidade
convite promovido nos autos n° 143.000.852/2008 pela Administração Regional de Santa
Maria, com o intuito de obter para a empresa TEC Construtora LTDA vantagem decorrente da
adjudicação do objeto licitado, consistente na formalização do contrato administrativo sem
efetiva concorrência de preço.
A seu turno, JOSÉ EDILBERTO apresentou proposta de preço em nome da empresa SULINA
previamente ajustada com ADELSO para frustrar o caráter competitivo desse certame.
Previamente ajustados, GUSTAVO pela TEC, ADELSO pela MENEZES e JOSÉ EDILBERTO
pela SULINA apresentaram as propostas cominadas para favorecer a TEC na contratação
destinada à "manutenção e limpeza de boca de lobo e recolocação de meios-fios", orçada em
R$ 149.790,62 (cento e quarenta e nove mil setecentos e noventa reais e sessenta e dois
centavos). As propostas da MENEZES e da SULINA ainda ostentaram o mesmo valor global.
Pelo menos no final do ano de 2008, GUSTAVO e ADELSO mantiveram uma combinação
prévia destinada a frustrar o caráter competitivo de diversas licitações promovidas pelas
Administrações Regionais, ora para que fosse vencedora a empresa TEC, do primeiro, ora
para que fosse vencedora a empresa MENEZES, desse último.
Nessa empreitada, eles contaram com a atuação de JOSÉ EDILBERTO que, ciente da
combinação prévia, apresentava propostas de preços em nome das empresas SULINA e EDIL
previamente ajustadas junto ao esquema de direcionamentos vigente entre as empresas de
engenharia civil locais.
ADELSO ainda combinou com JOSÉ RAIMUNDO da empresa ANGLO, que agia sob
determinação de JOSÉ ANSELMO para apresentar proposta destinada a calçar a oferta da
TEC.
Assim, por volta do dia 19/12/2008, GUSTAVO e ADELSO, previamente ajustados, frustraram
mediante ajuste e combinação o caráter competitivo do procedimento licitatório na modalidade
convite promovido nos autos n° 143.000.938/2008 pela Administração Regional de Santa
Maria, com o intuito de obter para a empresa TEC Construtora Ltda vantagem decorrente da
adjudicação do objeto licitado, consistente na formalização do contrato administrativo sem
efetiva concorrência de preço.
Eles voltaram a contar com a atuação de JOSÉ EDILBERTO que, por meio de outra empresa,
a EDIL, apresentou proposta de preço previamente ajustado junto ao esquema de
direcionamentos vigente entre as empresas de engenharia civil locais.
(...)
Por sua vez, JOSÉ ANSELMO mantinha estreito vínculo com a empresa ANGLO, de JOSÉ
RAIMUNDO, tanto por ter constituído a empresa quanto porque sua esposa era a responsável
técnica em engenharia da empresa.
Nesse contexto, GUSTAVO pela TEC, JOSÉ EDILBERTO pela EDIL e JOSÉ RAIMUNDO pela
ANGLO, combinados com JOSÉ ANSELMO e ADELSO, apresentaram as propostas de preços
ajustados perante a Administração Regional de Santa Maria para favorecer a primeira.
Assim, os réus GUSTAVO, ADELSO e JOSÉ ANSELMO unidos em conluio, JOSÉ RAIMUNDO
e JOSÉ EDILBERTO, aderindo de forma consciente, produziram propostas de preços
combinadas para frustrar o caráter competitivo da licitação em referência, com o intuito de
favorecer a empresa TEC.
Nessa empreitada, eles contaram com a atuação de EDMUNDO que, na condução dos
interesses da empresa ECC, apresentou proposta de preço previamente ajustada junto ao
esquema de direcionamentos vigente entre as empresas de engenharia civil locais.
Pelo menos no final do ano de 2008, GUSTAVO e ADELSO mantiveram uma combinação
prévia destinada a frustrar o caráter competitivo de diversas licitações promovidas pelas
Administrações Regionais, ora para que fosse vencedora a empresa TEC, do primeiro, ora
para que fosse vencedora a empresa MENEZES, desse último.
Nessa empreitada, eles contaram com o auxílio de EDMUNDO, que, ciente da combinação
prévia, apresentou propostas de preços em nome da empresa ECC para frustrar o caráter
competitivo deste e de outros certames.
(...)
Em suas razões recursais, o Ministério Público pugna pela condenação dos réus nos termos da denúncia.
Sustenta a existência de provas suficientes para a condenação dos recorridos (ID 22007598).
Contrarrazões dos acusados Gustavo (ID 22007654), José Anselmo e Adelso Theodoro (ID 22007655),
Edmundo (ID 22007657), José Edilberto (ID 22007717) e José Raimundo (ID 22007726), pelo
desprovimento do recurso ministerial.
A d. Procuradoria de Justiça opinou pelo conhecimento e provimento do apelo ministerial (ID 22505902).
É o relatório.
VOTOS
O Parquet apresentou, por ocasião da inicial, vários indícios que levaram ao recebimento da denúncia. No
entanto, conforme consignou o juiz sentenciante, a acusação não se desincumbiu do ônus de apresentar
provas que demonstrem o alegado. Embora existam elementos de informação graves e preocupantes, não se
comprovaram a materialidade e a autoria de modo conclusivo.
O tipo do art. 90, da Lei de Licitações prevê como crime o ato de “frustrar ou fraudar, mediante ajuste,
combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito
de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação”.
Com efeito, os acusados negaram a prática dos crimes. Vejamos trechos de seus depoimentos transcritos na
sentença (ID 22007597, p. 36/43):
(...) JOSE EDILBERTO LOUREIRO DE OLIVEIRA que participou de duas das licitações em
questão; que uma foi com sua empresa EDIL; que na outra foi com a empresa "Sulina"; que
nunca houve acordos de maneira a decidir quem seria o ganhador de cada licitação; que não
se sabe quem participa de cada licitação; que participou da licitação de recuperação de
alambrado em Águas Claras; que entregou sua proposta com a documentação necessária,
duas horas antes do fechamento; que não participou do momento de abertura dos envelopes;
que soube dessa licitação por meio de mural; que participou da licitação de recuperação de
bocas de lobo em Santa Maria; que colocou um preço final altíssimo no intuito de não ganhar,
pois, o risco de levar prejuízo nesta obra seria muito grande; que a terceira licitação a qual a
EDIL participou também não queria ganhar pelo mesmo motivo da passada; que não tem
conhecimento de que alguém pegaria o papel timbrado de sua empresa; que não deu papel
timbrado em nome de sua empresa para alguém; que pode conhecer um ou outro acusado de
vista devido a natureza de como são os processos licitatórios; que participou de uma licitação
que foi cancelada, no caso, a reforma da Feira do setor P, na Ceilândia, a qual ganhou; que o
administrador dessa feira começou a dificultar a execução desta obra; que após ter iniciado a
obra, foi na administração para falar dessas dificuldades e descobriu que a licitação havia
sido cancelada; que não recuperou o dinheiro gasto até aquele momento; que as mudanças
possíveis nos editais enviados são ínfimas; que somente o administrador conhece quem
participa das licitações; que ninguém o pediu para "encarecidamente" participar da licitação
da recuperação de bocas de lobo em Santa Maria; que, nessa obra em questão, retrata-se no
que disse em relação a ter tomado conhecimento dela pelo mural, que na verdade, teria sido
convidado pelo administrador a participar; que só descobre se uma obra vale a pena, ou não,
quando, chega em casa e começa a analisar o edital, mas, consequentemente já foi assinado
o documento que representaria seu interesse em apresentar uma proposta para aquela obra;
que foi convidado por membros da administração a participar das licitações, mas que esses
membros nunca tentaram convencê-lo a participar de qualquer maneira. (...).
JOSE RAIMUNDO VIEIRA DE SOUZA afirmou que não são verdadeiras as acusações; que
nunca participou de nenhum acordo de licitação fraudulenta; que nunca trabalhou na
empresa "Menezes"; que não foi fundador da empresa "Anglo"; que seu filho e sua esposa são
os sócios desta empresa; que foi sócio de Jose Anselmo e posteriormente comprou a sua parte
da empresa; que comprou a parte de Jose Anselmo em 2008; que Jose Anselmo não assinou
nenhum contrato após ter deixado a empresa; que já participou de negócio na condição de
subempreitado para a empresa "IJ"; que não foi empreiteiro da empresa "IJ"; que trabalhou
previamente nas empreiteiras "Contral" "eliacom"; que ele é o responsável por receber e
analisar os editais; que nunca notou nada de errado nestes editais; que sabe quem é José
Adelson; que sabe quem é Adelson também; que não sabe se Adelson e José Anselmo possuíam
algum laço de amizade; que a esposa de José Anselmo já foi "Responsável Técnica" de sua
empresa; que não calçou ou ajudou a empresa de José Anselmo após ter comprado sua parte
da empresa de maneira alguma; que nunca deixou de prestar o serviço de forma completa;
que não conhece a pessoa de José Edilberto; que não era mais sócio de Anselmo na época dos
fatos. (...)
JOSE ANSELMO DE SOUSA afirmou que não são verdadeiras as acusações; que não sabe se
nenhum dos outros acusados participou nas práticas destes crimes; que é sabido que há
fraude de licitações no DF; que não trabalhava com carta-consulta; que só trabalhava com
obras grandes; que passava a maior parte do tempo nas obras; que montou a empresa
juntamente com José Raimundo; que a Anglo já existia e estava parada há aproximadamente,
dezesseis anos; que só era proprietário de duas empresas; que uma era para grandes obras e a
outra pequenas obras; que achou uma boa ideia a proposta de negócio de Jose Raimundo,
pois, o mesmo administraria as pequenas obras e isso seria uma nova fonte de renda; que
depois de "racharem" da empresa não teve mais nenhum envolvimento com a Anglo e Jose
Raimundo; que sua esposa continuou como "RT" da Anglo por mais dois ou três anos; que foi
feito um acordo entre Anselmo e José Raimundo, dada a irresignação de Jose Raimundo em
ter sido deixado por Anselmo na Anglo, o qual consistia na "reempreitada de algumas obras
na parte Sul do Distrito Federal, para Jose Raimundo não ficar com tanto prejuízo; que o
acordo só valia de Anselmo para Raimundo, mas não o contrário; que houve uma mistura de
documentos que transitaram por equívoco entre as empresas; que conhece "Rivail", o qual é,
zelador de sua empresa; que conhece o dono da "EBCC"; que se trata de um ex-sócio da "IJ"
mas faz muito tempo que não tem contato; que conhece a "M e N" engenharia, mas apenas
conhecimento profissional; que conhece estas empresas somente de licitações; que já foi sócio
da "Elmo"; que conhece Adelson, mas não tinha contato profissional e que o mesmo era muito
amigo da engenheira Débora, que trabalha para o acusado; que seu ex-sócio, Ramiro, já
trabalhou na "engepol"; que não conhece José de Matos Ribeiro Junior; que quem fazia a
análise do edital quando era recebido em sua empresa era a Débora Aparecida; que nunca foi
notado na época dos fatos nada de estranho com os editais; que os editais são padronizados;
que tanto recebia convites como os buscava nas administrações; que era necessário fazer
registro de que estaria recebendo o edital e também dar um recibo; que tem certo problema
psicológico e isso o afasta do serviço ocasionalmente; que estava afastado na época dos fatos
e só assinava os documentos em casa; que já aconteceu, várias vezes, de a administração
entrar em contato e "implorar" para a sua empresa participar da licitação, e que imagina ser
algo comum; que nunca mais participou de nenhum negócio com Jose Raimundo; que são
concorrentes. (...)
A testemunha Ângelo Melo Cardoso, arrolada pelo Ministério Público e ouvida durante a instrução, prestou
declarações apenas acerca da 7ª série de fatos descrita na denúncia e, apesar de ter declarado na fase
inquisitorial que o acusado Gustavo lhe solicitou papel timbrado de sua empresa, não confirmou tal
declaração em juízo. Ao contrário, afirmou que Gustavo nunca lhe pediu o papel timbrado.
Nesse contexto, não há sequer um depoimento em juízo, que confirme o conluio entre os recorridos com o
intuito de obter para as suas empresas vantagem decorrente da adjudicação dos objetos licitados, consistente
na formalização de contrato administrativo sem efetiva concorrência de preço.
De igual modo, os Relatórios e Laudos constantes do processo não permitem concluir, com a certeza
necessária, o dolo dos acusados nos fatos a eles imputados.
Como bem registrou o magistrado de primeiro grau, o fato de os acusados manterem relacionamentos
estreitos em razão de anterior sociedade não é motivo, por si só, para se concluir que se encontravam em
conluio para frustrar o caráter competitivo do procedimento licitatório sob comento.
Em que pese existirem fortes indícios de fraude nos procedimentos licitatórios sob análise realizados pelas
Administrações de Águas Claras, Ceilândia e Santa Maria, os quais teriam sido previamente acordados
entre as empresas convidadas e os agentes públicos envolvidos, em favor das empresas que deveriam sair-se
vencedoras do certame, não é possível concluir, com a certeza necessária, intenção dos recorrentes em
fraudar os procedimentos licitatórios.
Ademais, a similitude entre as propostas pode ser justificada em razão dos modelos que a Administração
Pública oferece para a propositura dos procedimentos licitatórios e do limite de preço fixado pelo órgão.
Também o fato de grande parte dos documentos não ter sido numerada, nem assinada pelos servidores
públicos no momento da sua apreensão, bem como a ausência de informações exigidas pela administração,
não pode ser imputada aos acusados, uma vez que competia aos servidores e membros da comissão de
licitação zelar pela regularidade dessa documentação.
Nesse contexto, a acusação não comprovou a existência de liame subjetivo entre os réus, no sentido de se
unirem para fraudar os processos licitatórios, possibilitando a adjudicação do objeto da licitação às
empresas dos apelados.
Muito embora a grande coincidência entre as propostas possa permitir ilações desfavoráveis aos acusados,
tais conjecturas não chegaram a ganhar, nos autos, qualquer prova que permitisse que as mesmas fossem
tomadas como certeza absoluta de uma pactuação ilícita.
A doutrina é muito clara em estabelecer e conceituar os elementos caracterizadores do delito descrito no art.
90, da Lei de Licitações. E ela nos mostra que é indispensável um começo de prova seguro para que se
desenhe a motivação subjetiva que permite uma condenação criminal. Vejamos alguns estudiosos:
(...) As condutas definidas pela lei como crimes se resumem na prática dos atos em desacordo
com a legislação ou, então, na daqueles que visam frustrar os objetivos da licitação. (...)
frustrar ou fraudar a competição mediante ajuste ou qualquer outro expediente, visando a
obtenção de vantagem, para si ou para outrem. (...) (Curso Prático de Direito Administrativo -
Coordenador Carlos Pinto Coelho Motta - Autora do capítulo: CLÁUDIA FERNANDES
MANTOVANI, Ed. Del Rey, 2ª ed., 2004, p. 419).
APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA A LEI DE LICITAÇÕES. ART. 96, INCISO II, DA
LEI 8666/93. ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. AUSÊNCIA DE PROVA
DO DOLO DE FRAUDAR. MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
1. A ré asseverou que, após sagrar-se vencedora em certame licitatório para venda de toners
de impressora, contou com a intermediação de uma empresa parceira, que realizou a compra
dos produtos junto a terceira sociedade empresária, a qual, por sua vez, procedeu à entrega
dos toners diretamente ao órgão comprador, sem que a ré os conferisse para verificar se eram
falsos.
2. A versão da acusada foi corroborada: pelo depoimento do seu companheiro (que atua junto
com ela nas atividades empresárias); do representante da empresa parceira que efetivamente
adquiriu os toners (posteriormente identificados como falsos); e do representante comercial
(que admitiu ter feito a intermediação da compra dos toners entre as empresas da ré e a
empresa compradora dos produtos, indicando terceira pessoa jurídica como sendo a
vendedora de menor preço e que findou por vender os toners falsos e entregá-los diretamente
junto à Administração Pública).
4. A diferença de valores constantes das notas fiscais de aquisição dos toners e a emitida pela
empresa ré não evidencia o dolo da acusada, mesmo porque, não foi devidamente
demonstrando nos autos qual seria o valor de mercado dos cartuchos, para que se pudesse
aferir eventual desproporção.
Assim, aplicando-se tais orientações e conceitos no exame dos autos, observa-se bastante temerária a
condenação dos acusados simplesmente por conclusões sobre o resultado do processo licitatório. Está
visível que, por mais que possamos estranhar a coincidência das propostas, não há prova alguma de que o
preço dos apelados seria absurdo ou que acarretaria qualquer prejuízo para o erário público.
Ressalte-se que nenhuma prova produzida, quais sejam, documental e testemunhal, foi capaz de confirmar o
cometimento dos delitos. E, salvo melhor juízo, até pelo contrário, as provas colhidas trazem elementos
suficientes para a absolvição dos acusados.
Ausente, portanto, comprovação da conduta específica de frustrar ou fraudar a competição mediante ajuste
ou qualquer outro expediente, bem como inexistente vantagem pela adjudicação do objeto da licitação, não
se configura a hipótese do art. 90, da Lei 8.666/93, sendo a absolvição dos acusados medida impositiva.
É como voto.
DECISÃO