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23/04/2021
Número: 0715487-04.2017.8.07.0001
Classe: EMBARGOS DE DECLARAçãO CíVEL
Órgão julgador colegiado: 4ª Turma Cível
Órgão julgador: Gabinete do Des. James Eduardo Oliveira
Última distribuição : 10/07/2019
Valor da causa: R$ 91.000,00
Processo referência: 0715487-04.2017.8.07.0001
Assuntos: Rescisão do contrato e devolução do dinheiro
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
ALEXIUS GUALDI (EMBARGANTE)
ALEXIUS GUALDI (ADVOGADO)
DF VEICULOS LTDA (EMBARGANTE)
FRANCISCO ANTONIO SALMERON JUNIOR (ADVOGADO)
FERNANDO RUDGE LEITE NETO (ADVOGADO)
HONDA AUTOMOVEIS DO BRASIL LTDA (EMBARGANTE)
KALIANDRA ALVES FRANCHI (ADVOGADO)
ALEXIUS GUALDI (EMBARGADO)
ALEXIUS GUALDI (ADVOGADO)
DF VEICULOS LTDA (EMBARGADO)
FERNANDO RUDGE LEITE NETO (ADVOGADO)
FRANCISCO ANTONIO SALMERON JUNIOR (ADVOGADO)
HONDA AUTOMOVEIS DO BRASIL LTDA (EMBARGADO)
KALIANDRA ALVES FRANCHI (ADVOGADO)
Outros participantes
FRANKLIN DE SOUZA FERREIRA (TESTEMUNHA)
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Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
25026948 23/04/2021 Acórdão Acórdão
14:14
Poder Judiciário da União
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS
Acórdão Nº 1328253
EMENTA
I. Os embargos de declaração têm caráter integrativo e seu cabimento pressupõe a existência de algum dos
vícios contemplados no artigo 1.022 do Código de Processo Civil, não se coadunando com projeto recursal
de cunho modificativo.
II. O cabimento dos embargos declaratórios, mesmo quando interpostos com o propósito de
prequestionamento, está irrestritamente adstrito à presença de algum dos vícios previstos no artigo 1.022 do
Código de Processo Civil.
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 4ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios, JAMES EDUARDO OLIVEIRA - Relator, LUÍS GUSTAVO B. DE OLIVEIRA - 1º Vogal
e FERNANDO HABIBE - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador JAMES EDUARDO
OLIVEIRA, em proferir a seguinte decisão: NEGAR PROVIMENTO AOS RECURSOS, UNÂNIME, de
acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
RELATÓRIO
O Autor, ALEXIUS GUALDI, opõe EMBARGOS DE DECLARAÇÃO em face do acórdão de fls. 1/22 ID
18582565.
O Autor sustenta: (i) que o aresto padece de omissão quanto ao pedido de exercício das prerrogativas do
artigo 18, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor; (ii) que há erro material no acórdão porque
não foi analisada toda a prova produzida nos autos; (iii) que o julgado é omisso porquanto não se manifestou
se o veículo que lhe será entregue deve ser novo (zero km) ou não; (iv) que há contradição no acórdão
porque a condenação ao pagamento das despesas processuais, especialmente com os seus assistentes
técnicos, constitui pedido implícito.
Em contrarrazões, as Rés MOTO HONDA DA AMAZONIA LTDA e DF VEÍCULOS LTDA afirmam que
não estão presentes os requisitos do artigo 1.022 do Código de Processo Civil e que o Autor pretende o
reexame dos fatos e do conjunto probatório.
É o relatório.
Não se divisam os vícios apontados, uma vez que todas as questões que constituem o objeto dos recursos
foram expressamente examinadas.
O colegiado analisou as teses articuladas, apreciou os fatos, valorou as provas e solucionou a controvérsia à
luz do direito que os julgadores entenderam aplicável à espécie, consoante consta do seguinte trecho do
acórdão:
(...)
2. VÍCIO DO PRODUTO
Registro ser incontroversa a existência da relação jurídica consumerista havida entre as partes, considerando
que a nota fiscal de fl. 36 comprova que o autor adquiriu veículo novo junto à primeira ré, fabricado pela
terceira ré, e levado para conserto junto à segunda requerida.
Destaco que, no âmbito da responsabilidade por vícios de produtos ou serviços, o art. 18, caput, do CDC,
estipula que os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente
pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se
destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações
constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. E, no inciso I,
do parágrafo primeiro do referido dispositivo, referido código prevê que, caso o defeito deixe de ser sanado
no prazo de trinta dias, o consumidor poderá exigir, dentre outras opções, a substituição do produto por
outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso.
Nesse contexto, necessário averiguar se houve a demonstração de vício de produto que não foi sanado
dentro do prazo de trinta dias, nos termos do art. 18 do CDC.
“A perícia foi essencial para alcançar as conclusões necessárias, a fim de embasar este laudo.
As evidências apontam que o proprietário é muito cuidadoso na direção e sensível à observação dos
supostos ruídos. Durante o teste de rodagem, afirmou acreditar que ruídos possam aumentar com o passar
do tempo.
A maioria das queixas apontadas não foram verificados, salvo a vibração no painel que, embora seja difícil
de identificar a peça que o gera, é passível de reparo.
Verificou-se que as concessionárias usaram várias alternativas para eliminar os barulhos, com a aplicação
de material antirruído em diversas peças e acabamentos no painel e na tampa traseira.
A perícia não encontrou nenhum abono em relação ao uso do veículo, tanto na sua condução, quanto na
manutenção.” (ID n. 22129072).
Ainda, no laudo complementar ID n. 25646724, o perito afirmou que a maioria das queixas apontadas pelo
autor não foram verificadas na perícia, sendo a única verificada a vibração na região central do painel.
Assim, constata-se que o laudo foi categórico ao afirmar que não há defeito de fabricação no veículo, e que
o veículo encontra-se tecnicamente em perfeitas condições de uso, existindo apenas a vibração na região
central do painel, a qual constitui vício sanável.
Nesse contexto, não houve a demonstração de vício de fabricação do automóvel, nada obstante o referido
bem tenha apresentado alguns problemas, restando apenas o ruído identificado na região central do painel, o
qual constitui vício sanável.
Ocorre que ressoa incontroverso nos autos que houve a extrapolação do prazo de 30 dias para o saneamento
dos vícios pelas requeridas, visto que foram realizados mais de 8 consertos (ID n. 10825105, 10825117,
10825126, 10825131, 10825139, 10825148, 10825157, 10825165), os quais ultrapassam o prazo citado.
Assim, nada obstante a ausência de defeito de fabricação constatada pela perícia, houve a extrapolação do
prazo para conserto do bem.
O artigo 18 do CDC cuida da responsabilidade pelo vício do produto ou serviço (vício de qualidade por
inadequação), visando garantir a incolumidade econômica do consumidor quando o produto se revela
inadequado, isto é, em desconformidade com o fim a que ele se destina ou tenha seu valor econômico
diminuído.
Na hipótese dos autos, necessário apontar que não há qualquer elemento nos autos a evidenciar que o autor
teve atendimento negado pela revendedora do veículo. Contudo, é certo que o bem apresentou diversos
ruídos, em desconformidade com o que o consumidor legitimamente esperava ao adquirir veiculo novo.
Nesse rumo, ao constatar que os defeitos não foram integralmente reparados no prazo legal de 30 dias,
tempo máximo previsto no art. 18, § 1º, do CDC, por força de lei, o consumidor poderia exigir,
alternativamente, a substituição do produto por outro livre de vícios, o abatimento do preço ou ainda a
restituição imediata da quantia desembolsada, devidamente atualizada.
Segundo as disposições consumeristas, sobre os fornecedores de produtos e serviços recai o dever anexo
qualidade-adequação, consubstanciado na necessidade de se garantir a integridade do bem comercializado.
Acaso seja constado algum vício na mercadoria, sem que seja ele sanado no prazo legal, não há como o
fornecedor se eximir das consequências legais de sua postura comercial.
Ressalto que a conclusão pericial de que o automóvel não apresentava defeitos no momento da realização
da perícia não influencia no exame da presente lide. Isso porque o desate da lide perpassa pela análise do
prazo demandado para a reparação do bem, e não pela aferição da eficácia do conserto promovido
pelas rés. De fato, é desinfluente a demonstração do pleno funcionamento do automóvel no momento da
realização da prova pericial, visto que as requeridas deveriam ter comprovado o saneamento dos vícios no
automóvel dentro do prazo de 30 dias, o que não foi realizado.
Ainda, não prospera a alegação das requeridas de que os alegados vícios decorreram da má utilização do
automóvel pelo autor. Ora, trata-se de veículo novo, além de se tratar de bem durável. Portanto, não é
Assim, é de rigor o acolhimento da pretensão autoral para substituição do produto por outra da mesma
espécie, em perfeitas condições de uso.
Nesse ponto, ressalto não prosperar o pleito autoral de condenação das rés a ressarcir ao autor o ônus do
IPVA, seguro pago quanto à cobertura do veículo, taxa de licenciamento e demais encargos relativos ao
veículo, vencidos e que venham a vencer no decorrer da lide, à exceção de multas de trânsito caso existam.
Isso porque, a despeito dos vícios identificados no bem, estes não impediram o uso do veículo, tendo o
autor efetivamente utilizado o bem, motivo pelo qual cabe ao requerente arcar com as despesas do bem.
Ainda, ressalto que não houve pleito, quando da petição inicial, referente a ressarcimento de valores gastos
com Uber, tampouco com perito particular, razão pela qual não serão analisados, nos termos do art. 492 do
CPC.
Todos os fornecedores que integram a cadeia de fornecimento respondem objetivamente por vícios de
qualidade do produto, consoante prescreve o artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor, que tem a
seguinte dicção:
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos
vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam
ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações
constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente
e à sua escolha:
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e
danos;
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não
podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo
deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da
extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do
produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a
substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante
complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III
do § 1° deste artigo.
A decisão de fl. 1 ID9803538 inverteu o ônus da prova, porém as Rés não obtiveram êxito na tarefa de
demonstrar a inexistência de todos os vícios de qualidade alegados na petição inicial.
O histórico dos serviços de manutenção e, especialmente, a prova pericial, demonstram vícios de qualidade
que, a despeito das intervenções das Rés, não foram satisfatoriamente sanados dentro do prazo legal. Consta
do laudo pericial:
O veículo periciado, adquirido em 24/10/2016, retornou por diversas vezes às concessionárias da marca
pelas reclamações de ruído nas seguintes regiões: lado direito do painel, porta dianteira esquerda, ar-
condicionado, porta-malas e na suspensão dianteira esquerda.
Este laudo apresenta a perícia realizada no veículo, com o objetivo de verificar se as reclamações procedem
e responder os quesitos do autor e das partes requeridas.
(...)
A quilometragem registrada no hodômetro do veículo no dia da perícia foi de 32.176 km, conforme mostra
a foto 3.
(...)
Ao realizar a inspeção visual, verificou-se a aplicação de espumas antirruídos em várias regiões do veículo,
como tentativas de resolução dos problemas relatados.
(...)
b. Teste de rodagem: o teste de rodagem foi realizado nas avenidas W4 e W5, até a altura da quadra 915
norte, tendo como objetivo chegar às imediações da igreja Nossa Senhora da Consolata, localizada na
quadra 913, em Brasília/DF. O lugar do teste foi solicitado pelo autor do processo, no documento ID
15985077. O motorista do veículo foi o seu proprietário.
Outros ruídos foram apontados pelo motorista, porém não foram ouvidos pelos outros passageiros do
veículo: Sr. Fernando (representante Honda), Sr. Thiago (representante da DF veículos) e Sr. José (auxiliar
do autor), além do perito.
O ar-condicionado esteve ligado na máxima potência durante todo o trajeto, mas o “estalo” apontado em
algumas ordens de serviço não ocorreu.
(...)
d. Revisões periódicas obrigatórias: todas as revisões foram feitas nas concessionárias autorizadas pela
montadora e dentro da quilometragem prevista, conforme as fotos do manual.
e. Uso do veículo: o veículo apresenta-se em excelente estado de conservação. O protetor do cárter, quadro
de suspensão e assoalho têm poucos arranhões, fato que reforça o comportamento apontado pelo condutor
na entrevista, de que o uso veículo é urbano.
f. Ruído na tampa traseira: o ruído apresentado pelos vídeos anexados ao processo (ID 20482139 e
20482136) apresentam estalos oriundos da parte traseira do veículo. Na perícia, tais estalos não apareceram.
No entanto, foi possível verificar que o acabamento da tampa traseira estava trincado, conforme mostra a
foto 13.
(...)
(...)
5, Conclusões
(...)
As evidências apontam que o proprietário é muito cuidadoso na direção e sensível à observação de supostos
ruídos. Durante o teste de rodagem, afirmou acreditar que ruídos possam aumentar com o passar do tempo.
A maioria das queixas apontadas não foram verificadas, salvo a vibração no painel que, embora seja difícil
de identificar a peça que o gera, é passível de reparo. Acredita-se que os estalos na tampa traseira foram
originados na trinca encontrada, pois o autor não entrou mais em contato com o perito.
Verificou-se que as concessionárias usaram várias alternativas para eliminar os barulhos, com a aplicação
de material antirruído em diversas peças e acabamentos no painel e na tampa traseira.
A perícia não encontrou nenhum abono em relação ao uso do veículo, tanto na sua condução, quanto na
manutenção.
(...)
(...)
4. O veículo passou por todas as revisões recomendadas pelo fabricante, respeitando inclusive todas as
trocas de óleo? Para que serve o referido plano de manutenção?
Resposta: Sim, passou por todas as revisões recomendadas, como aponta o item d, do tópico 4. O plano de
manutenção tem a função de prever as falhas de componentes e substitui-los antes da sua falência.
(...)
6. Reclama o autor na inicial do processo que seu veículo passou a apresentar vários problemas provocando
a emissão de ruídos, assim sendo, é possível o nobre perito fazer uma análise direta do veículo, e utilizando
a fundamentação técnica apropriada, demonstrando os elementos técnicos de constatação, dizer o que
exatamente ocorreu, onde se localiza e de que maneira se manifesta cada problema reclamado.
Resposta: Como apresentado no relatório, apenas um ruído, oriundo do painel de instrumentos, foi
detectado. Trata-se de uma vibração na parte central do painel que aparece ao transitar em solo irregular,
como o coberto por brita.
(...)
8. Caso seja encontrado algum problema ele é passível de reparação? Qual é o reparo necessário?
Resposta: Como descrito na pergunta 6, um ruído no painel de instrumentos foi verificado. Presume-se que
a desmontagem da região central do painel, onde se localiza o aparelho de áudio, possa esclarecer a fonte do
ruído. A partir daí, sugere-se montar o painel de modo a evitar que haja atrito direto entre as peças que
tenham movimento relativo. Um agravante para a solução do problema é que o ruído apareceu apenas em
solo irregular. Assim, o veículo deve ser testado em pavimento do mesmo tipo.
9. O local do ruído, caso seja passível sua localização, sofreu algum tipo de desgaste decorrente da
utilização normal do veículo?
Resposta: Como não se sabe exatamente a origem do ruído, não é possível saber se houve desgaste. Porém,
se houve, não tem relação com a forma de condução ou manutenção do veículo. Constata-se que o veículo é
bem cuidado e circula em perímetro urbano, conforme as fotos apresentadas neste laudo.
(...)
14. O autor foi prontamente atendido em todas as ocasiões que formulou reclamações na rede de serviço
autorizado do fabricante? Resposta: Há indícios de que o autor voltou à concessionária uma semana após
levar seu carro para reparo (O.S.: 230360). Foi atendido, mas seu problema não foi resolvido.
15. Todos os serviços cobertos pela garantia foram realizados dentro do prazo de 30 dias?
Resposta: Não, pois foi encontrado um ruído no painel que encontra relação com a queixa da inicial. Não há
evidências de quando o ruído começou. Porém, o autor confirmou que o ruído encontrado ocorre desde que
comprou o veículo.
(...)
18. Todos os reparos foram suficientes para solucionar os problemas sem trazer qualquer tipo de prejuízo
funcional para o veículo? Caso o perito julgue que o reparo executado tenha trazido algum tipo de prejuízo
queira demonstrar os motivos apresentado a fundamentação técnica pertinente.
(..)
6. Levando-se em consideração as ordens de serviço anexadas aos autos e as citadas no quesito anterior, é
possível afirmar que todos os problemas reclamados pelo Autor em relação ao veículo periciado foram
resolvidos em até 30 dias? Caso negativo, considerando as estruturas das concessionárias da Requerida
HONDA DO BRASIL, os reparos necessários poderiam ter sido efetuados em menos de 30 dias? Justificar.
Resposta: A vibração encontrada no teste de rodagem aparenta ter relação com a reclamação original do
cliente, registrada na O.S.: 2251550, em 30/01/2017, descrita como: “ruído no painel L/D”. Portanto o
problema não foi resolvido até a data atual. Cabe ressaltar, que o ruído apresentou-se apenas em solo
irregular e em baixa velocidade, fato que dificulta reproduzi-lo em um teste de rodagem convencional.
Presume-se um tempo menor que 30 dias para a reparação do veículo.
(...)
9. Sabendo que o veículo foi adquirido pelo Autor em 24/10/2016 e, em 29/03/2017 foi substituído o
amortecedor e, em 25/04/2017 foi substituído o eixo traseiro, conforme a contestação da Honda id nº
10825094, ainda dentro do período de garantia que é de 3 anos, pergunta-se:
Resposta: Diante das repetidas queixas de ruído do autor, presume-se que as substituições foram feitas com
o objetivo de eliminar qualquer possibilidade de defeito dos componentes da suspensão. A contestação
citada afirma que foi constatado ruído na parte traseira e substituído o amortecedor.
(ii) Considerando que os itens substituídos são referentes a componentes relacionados a itens de segurança
de um veículo, possuem previsão de substituição para mais de 100.000 km e que foi realizada com menos
de 6 meses de uso. Pergunta-se: este procedimento pode considerado uma manutenção dentro dos padrões
normais para um veículo com pouquíssimo tempo de uso? Justificar.
Resposta: Não é normal a substituição de amortecedores e eixo traseiro em veículo de baixa quilometragem.
Porém, trata-se de um veículo com reiteradas queixas de ruído. Percebe-se que os técnicos utilizaram todas
as possibilidades para resolver o problema, pois outros procedimentos menos custosos poderiam ser
tentados antes da substituição dos amortecedores e eixo.
(...)
5. Quais foram os serviços realizados pela concessionária quando do recebimento do mesmo em oficina
para verificação dos alegados “defeitos”?
Resposta: Não é possível descrever todos os serviços realizados, mas pode-se afirmar que houve
substituição dos amortecedores e eixo traseiro, além de instalação de fita e espumas antirruídos em vários
acabamentos nas regiões onde são apontadas queixas de ruído.
(...)
6. Queira o Sr. Perito descrever se os serviços realizados pela concessionária Ré foram corretos;
Resposta: Tudo indica que vários procedimentos resolveram as queixas de ruído. Apenas o barulho no
painel não foi sanado. Provavelmente, pela dificuldade em reproduzi-lo.
(...)
Resposta: Não foi encontrada nenhuma evidência de defeito causado por manutenção inadequada na
suspensão do veículo.
Ressai patente, pois, que o automóvel adquirido pelo Apelado apresentou vícios de qualidade e que pelo
menos um deles não foi sanado no prazo legal, de sorte a legitimar a opção pelo desfazimento do negócio e
consequente substituição por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso, nos termos do artigo
18, § 1º, inciso I, da Lei 8.078/1990. Sobre o tema, vale colacionar o seguinte julgado do Superior Tribunal
de Justiça:
A prova pericial não deixa dúvida de que as várias queixas de ruído no veículo motivaram diversas
intervenções, inclusive na sua suspensão, porém ainda assim persistiu um barulho que não foi eliminado.
Portanto, os vários reparos feitos não se revelaram suficientes para sanar inteiramente os vícios no prazo
legal e, o que é especialmente relevante, um deles simplesmente não foi corrigido, fato suficiente para
amparar a pretensão deduzida na petição inicial. Sobre a matéria, decidiu o Superior Tribunal de Justiça:
Na mesma diretriz é o entendimento desta Corte de Justiça como se colhe dos seguintes julgados:
Conclui-se, assim, que o Autor faz jus a substituição do produto por outro da mesma espécie, tal como
autoriza o artigo 18, § 1º, inciso I, da Lei 8.078/1990.
(...)
(...)
2. INOVAÇÃO RECURSAL
Não consta da petição inicial pleito de ressarcimento de gastos com UBER e perito particular, de maneira
que o recurso não respeita, quanto a esse ponto, o requisito de admissibilidade disposto no artigo 1.013,
caput, do Código de Processo Civil. No abalizado ensinamento de José Carlos Barbosa Moreira:
Como o apelante, à evidência, não pode impugnar senão aquilo que se decidiu (na sentença: não em
qualquer outro pronunciamento do juiz, anda que emitido pouco antes – v.g., no curso da mesma audiência),
conclui-se desde logo que a apelação, em princípio, não devolve ao tribunal o conhecimento de matéria
estranha ao âmbito do julgamento do órgão a quo. (Comentários ao Código de Processo Civil, Volume V,
17ª ed., Forense, p. 429).
Trata-se de inovação petitória em sede recursal que atenta contra a sistemática processual vigente, na
medida em que compromete o duplo grau de jurisdição e o devido processo legal. Acerca do tema, vale
colacionar elucidativo julgado desta Corte de Justiça:
A veiculação no recurso de matéria que não integrara o objeto da ação, qualificando-se como nítida
inovação processual, é repugnada pelo estatuto processual vigente, elidindo a possibilidade de ser conhecida
como forma de serem preservados os princípios do duplo grau de jurisdição e da estabilidade das relações
jurídicas, prevenida a ocorrência de supressão de instância e resguardado o efeito devolutivo da apelação,
V- b) Requer seja a primeira ré compelida a receber o veículo do autor em suas dependências até o final do
litígio sem que o autor seja obrigado a desembolsar diárias de permanência do veículo na concessionária
nem ser compelido a realizar qualquer pagamento a título de manutenção no veículo enquanto estiver na
concessionária;
V-c) Considerando que o autor não mais permanecerá na posse do veículo objeto do litígio, requer que a
partir da concessão da liminar, a parte ré seja responsável pelas despesas do veículo tais como IPVA, taxas
de licenciamento, seguro obrigatório, etc........tendo em vista o princípio da causalidade, isto é, que a parte
ré deu causa ao ajuizamento da presente ação;
V-d) Que, caso seja deferida substituição do veículo ao autor, o ônus recaia sobre a parte ré no que tange ao
i emplacamento, licenciamento, seguro, taxas com despachante, etc enfim todas as despesas relacionadas à
transferência de propriedade do veículo ao autor.
VI – NO MÉRITO, requer
a) A citação das rés nos endereços acima mencionados para responder à presente ação sob pena de sujeitar-
se aos efeitos da revelia quanto à matéria de fato;
b) A inversão do ônus da prova, nos termos do artigo 6º, inciso VIII do CDC pois o consumidor é
hipossuficiente e, mesmo tendo entrado em contato diversas vezes com os fornecedores estes não
solucionaram os problemas adequadamente sendo cabível o disposto no mencionado artigo;
c) A confirmação da antecipação dos efeitos da tutela requerida no item V desta petição, uma vez que
restará comprovada a ofensa ao artigo 18, parágrafo primeiro e incisos do CDC, mediante sentença, de
modo que o autor possa exercer as prerrogativas inerentes que o referido artigo e parágrafos possibilita;
d) A condenação da parte ré, de forma solidária, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de danos
e) Que as rés sejam compelidas a ressarcir ao autor o ônus do IPVA, Seguro pago pelo autor quanto à
cobertura do veículo, taxa de licenciamento paga e demais encargos relativos ao veículo, vencidos e que
venham a vencer no decorrer da lide, à exceção de multas de trânsito caso existam;
f) A condenação, por sentença, em custas e honorários advocatícios e demais consectários legais à razão de
20 (vinte) por cento sobre o valor da condenação e
Protesta provar o alegado por todas as formas em Direito Permitidas, especialmente pela prova documental
e pericial e testemunhal (este último será apresentado o rol oportunamente)
Resulta claro da petição inicial que o Autor optou, dentre as possibilidades contempladas no § 1º do artigo
18 da Lei 8.078/1990, pela substituição do veículo, tanto que pleiteou tutela de urgência com esse objetivo.
O pedido anterior exclui o posterior, mas este pode ser conhecido no caso de aquele ser desprezado.
(Código de Processo Civil Comentado, Tomo II, José Konfino Editor, 1974, p. 133).
Pode-se até considerar que o Autor deduziu cumulação alternativa de pedidos, tendo em vista que
mencionou as demais opções do § 1º do artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor sem qualquer
preferência ou hierarquia. E, nesse caso, segundo o parágrafo único do artigo 326 do Código de Processo
Civil, cabe ao juiz definir o pedido que pode ser acolhido. Discorrendo sobre essa hipótese de cumulação,
anota Fredie Didier Jr.:
Consiste na formulação, pelo autor, de mais de uma pretensão, para que uma ou outra seja acolhida, sem
expressar, com isso, qualquer preferência. É cumulação imprópria, pois somente um dos pedidos
formulados poderá ser atendido. Está prevista no parágrafo único do art. 326 do CPC. (Curso de Direito
Processual Civil, Vol. 1, 17ª ed., 2015, Editora Jus Podivm, p. 571).
A r. sentença acolheu o pedido deduzido de modo prioritário (substituição do veículo) e assim não pode ser
atendida a postulação recursal que inverte a cumulação petitória formulada na petição inicial.
(...)
ISTO POSTO, conheço e nego provimento aos recursos das Rés e do Autor.
Ausentes os vícios enumerados, é de se salientar que o cabimento dos embargos declaratórios, mesmo
quando interpostos com o propósito de prequestionamento, está irrestritamente adstrito à presença de algum
dos vícios previstos no artigo 1.022 do Código de Processo Civil. Na lúcida ponderação de Nelson Nery
Junior:
Os EDcl fundados na omissão só serão admissíveis, com caráter prequestionador, quanto à matéria a
respeito da qual o tribunal tinha o dever de se pronunciar – quer porque foi argüida, quer porque é de ordem
pública –, mas não o fez. (Ainda sobre o prequestionamento – os Embargos de Declaração
prequestionadores, in LEITURAS COMPLEMENTARES DE PROCESSO CIVIL, 5ª ed., Podivm, p. 67).
Partindo da premissa de que o acórdão não se ressente dos vícios alegados, o pretexto do prequestionamento
não dá respaldo à interposição dos presentes embargos declaratórios.
DECISÃO