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FACULDADE DE SÃO BERNARDO DO CAMPO

FAPAN

Curso de Direito

NATHÁLIA MELISSA DA SILVA FERMINIO

CRIME DE TORTURA

São Paulo
2022
NATHÁLIA MELISSA DA SILVA FERMINIO

CRIME DE TORTURA

Trabalho de Conclusão de curso apresentado


ao Colegiado de Curso com vistas à obtenção
do grau de Bacharel em Direito — 5º. Ano,
Noturno, do Curso de Direito da Faculdade
Fapan/Uniesp.

Orientador: Ana Paula Gragnano

São Paulo
2022
2
FOLHA DE APROVAÇÃO

Nome do aluno (a):

Título e subtítulo do trabalho:

A Banca Examinadora considera o trabalho:

E atribui a nota:

Professor (a):
Ana Paula Gragnano

Data:

3
DEDICATÓRIA

A minha mãe por todo apoio e carinho e a todas as


vítimas da tortura que ainda esperam por justiça.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pois sem ele nada seria possível, que fez com que
meus objetivos fossem alcançados
Agradeço a minha mãe por todo apoio nessa jornada acadêmica, foi quem me motivou
diariamente a não desistir.
Agradeço aos docentes por todos os conselhos e aprendizagem, pela ajuda e pela
paciência durante toda jornada
RESUMO

Tendo em vista o crime de tortura previsto na lei 9.455/1997, esta pesquisa tem como objetivo
analisar a extravagante legislação penal, pois em seu contexto, possui grande valor. Tornando o
crime de tortura um dos atos mais cruéis e bárbaros cometido pela vítima. Portanto, esclarece
os pontos mais importantes e contraditórios do próprio crime, bem como as formas como
inúmeras torturas foram cometidas e as contradições nas disposições legais, bem como analisar
o momento histórico da tortura, seu problema tendo como tema mais importante a proteção dos
direitos humanos, visando sempre proteger a dignidade humana desses danos brutais e cruéis

PLAVRA-CHAVE: Crime de Tortura. Lei 9.455/1997. Repercussão.

6
ABSTRACT

In view of the crime of torture provided for in law 9.455/1997, this research aims to
analyze the extravagant criminal legislation, because in its context, it has great value. Making
the crime of torture one of the cruelest and most barbaric acts committed by the victim.
Therefore, it clarifies the most important and contradictory points of the crime itself, as well
as the ways in which numerous tortures were committed and the contradictions in the legal
provisions, as well as to analyze the historical moment of torture, its problem having as its
most important theme the protection of human rights, always aiming to protect human dignity
from these brutal and cruel damages.

KEYWORDS: Crime of Torture. Law 9.455/1997. Repercussion


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................................9
CAPÍTULO 1 TORTURA..........................................................................................................11
1 CONCEITO.......................................................................................................................11
CAPÍTULO 2 TORTURA ATRAVÉS DOS TEMPOS.................................................................14
CAPÍTULO 3 O CÓDIGO PENAL E O CRIME DE TORTURA..................................................17
3.1 FORMA DE TORTURAS.............................................................................................23
CAPÍTULO 4 A CRIMINALIZAÇÃO DA TORTURA NO BRASIL.....................................26
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................29
REFERÊNCIAS..........................................................................................................................31
INTRODUÇÃO

Desde o nascimento da humanidade, a tortura sempre foi presente, ocasionando


demasiados sofrimentos ao longo dos anos, com suas inúmeras atrocidades, em diferentes
períodos.
Desta forma, acompanha a evolução da história, em cada período em que é considerada
a "Rainha das Provas", ocorreram inúmeros tipos de violência, tortura e julgamento, a ponto de
os condenados o admitirem, crime e condenação de terceiro, mesmo que não haja crime.
A tortura existe desde a antiguidade e passou pela Grécia, Roma, China, França, Itália,
Espanha, Alemanha, Grã-Bretanha, Áustria, Suécia e Portugal em inúmeras guerras. É um dos
principais iniciadores da Igreja Católica e governantes do Direito, foi utilizado em golpes
militares, levando a prisões ilegais, descumprimento de procedimentos legais, extermínio de
pessoas, práticas degradantes e desumanas e consequente supressão de valores.
Algumas medidas que suas diversas espécies se tornaram aparentes, ele começou a ser
negado no Iluminismo do classicismo desde os tempos antigos até o presente, e como um dos
principais lutadores contra essas formas terríveis, o filósofo "Beccaria" foi posteriormente
abolida sua forma jurídica constituindo ilegalidade.
Assim, o Brasil introduziu a Lei nº 9.455 / 97 em seu ordenamento jurídico (a famosa
“Lei da Tortura”), preenchendo assim uma lacuna que havia no ordenamento jurídico.
Dessa forma, é necessário estudar a estrutura do ordenamento jurídico do crime de
tortura, para que possa ser devidamente difundido e cooperado para impedir essa prática
terrível.
A metodologia utilizada na pesquisa para elaboração deste artigo fundamentou-se em
uma pesquisa exploratória, análise de cunho bibliográfico com a utilização de livros, artigos
científicos e sites eletrônicos e documental, sob método descritivo.
Além disso, importante lembrar que o objetivo desta pesquisa não é esgotar as questões
relacionadas aos direitos dos animais, visto que o assunto propõe uma riqueza de doutrinas.

9
CAPÍTULO 1

TORTURA

1 CONCEITO
A tortura, é um dos assuntos mais polêmicos da sociedade porque tem como objetivo
obter uma confissão, ou mesmo condenar outra pessoa, vem sendo utilizada desde a idade
média.
Existem vários conceitos de tortura, o mais importante dos quais é a lei da tortura
listada no artigo 1, e a lei da tortura citada por muitos grandes doutrinadores, no Brasil
Constituição enfoca a contradição da tortura, em 1824, de acordo com o Artigo 179, parágrafo
19.
Dessa forma, o crime de tortura foi abolido antes mesmo do artigo 5º da Constituição
de 1988.
Wolgran Ferreira (1991, p. 23), narra1:

“A tortura compreende fatos essenciais, os quais obrigam a ampliar a definição


tradicional: a) ocorre quando pelo menos duas pessoas se acham envolvidas no fato, o
torturador e sua vítima; b) a vítima se encontra sob o controle físico do torturador;
c) ainda que infligir a dor com o propósito básico, a definição deve incluir um aspecto
essencial, o componente mental e psicológico; d) existe interesse implícito por parte
do torturador de cercear a vontade da vítima e de destruir sua personalidade.”

Pode haver uma definição mais precisa de tortura listada em sua própria lei no artigo 1
(Lei nº 9455/97):

Art. 1º Constitui crime de tortura2:

1
Wolgran FERREIRA. A tortura: sua história e seus aspectos jurídicos na constituição. São Paulo: Julex
Livros, 1991;

10
I - Constranger alguém com emprego de violência ou grave
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da
vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
II - Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de
violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de
aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de
segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto
em lei ou não resultante de medida legal.
§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las
ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.
§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de
quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

Desta forma, a tortura é incluída no rol das violações dos direitos humanos.

No que diz respeito ao princípio da dignidade humana, é também um ato que viola a
constituição, pois afeta diretamente a integridade física e psicológica das pessoas, na maioria
dos casos, a discriminação racial é perpetrada por pessoas com as mesmas características
biológicas (raça, sociedade e religião).
A tortura corporal é um dos exemplos importantes do horror que deixa marcas no corpo
ou na mente, sejam elas físicas ou psicológicas. A definição de tortura pode ser encontrada na
ratificada "Convenção Internacional contra a Tortura" e outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes foi ratificada em 1991:

o termo “tortura” designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos
ou mentais, que são infligidos intencionalmente a uma pessoa, a fim de obter, dela ou
de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato cometido; de
intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em
discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimento são infligidos
por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por
sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência.

O texto da mesma convenção também inclui conteúdo que não é considerado tortura:

2
Lei nº 9.455, de 7 de abril de 1997
11
Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos consequência unicamente de
sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram.
A Constituição Federal também estipula em seu Artigo 5º, Artigo XLIII, que a lei
considerará crimes inafiançáveis e insustentáveis, incluindo tortura, tráfico ilegal de
entorpecentes e drogas afins, terrorismo definidos como ato criminoso hediondo.

12
CAPÍTULO 2

TORTURA ATRAVÉS DOS TEMPOS

Ao longo da história, existem vários métodos de utilização dos métodos de torturas,


cada um deles com características próprias e uma determinada forma de direito penal,
execução e punição, podendo servir de modelo para a sociedade.
A fim de prevenir e punir aqueles que praticam esses costumes, muitas pessoas
adotaram a proibição da tortura e outros métodos cruéis, de modo que o sujeito ativo muitas
vezes é a pessoa que é ordenada ou que é criminalmente reprimida. Existem contradições no
sistema prisional e despertam cada vez mais a resistência das pessoas em buscar segurança e
um julgamento justo.
Em todo o mundo, um dos métodos para reprimir a tortura é a Resolução das Nações
Unidas nº 39/46 de 10 de dezembro de 1984, que foi implementada em 1991 a partir do Brasil
por meio do Decreto nº 40 de 15 de fevereiro do ano correspondente. O outro diploma
importante é a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 10 de dezembro de 1948.
Outro grande diploma de um tratado internacional é a declaração da “Convenção
Americana” à famosa Organização dos Estados Americanos, que visa prevenir e punir a
tortura. O Brasil implementou o decreto em 9 de novembro de 1989, o decreto nº 98.386.
Um dos mais importantes conteúdos em face desta temática é a Declaração Francesa
dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1973, o objetivo maior dessa declaração é proteger a
dignidade humana e se tornar o principal objeto das convenções internacionais.
Quanto à parte histórica, na antiguidade, era legalmente utilizada para obtenção de
provas como meio de confissão, pois ao longo da história, com as grandes mudanças e
evolução da própria sociedade, esses atos bárbaros podem ser usados para determinar o curso
desse processo.
Também foi dito que em parte da história, a tortura inicial foi realizada por trabalhadores
da estrada, que usaram a estrada para confessar as vítimas e disseram às vítimas onde
guardavam seus bens.
Mas na Grécia era usado como meio de torturar escravos e estrangeiros. Basicamente,
pessoas sem liberdade eram torturadas, assim só eram torturados aqueles que cometeram

13
crimes contra o país.
Como Wolgran Ferreira (1991, p.39) relatou3: “A aplicação da tortura baseava-se no
“louvável costume” porque se acreditava que ela é para o bem das almas e maior glória de
Deus, permitindo-se, então, o castigo de quem o ofendia gravemente e colocavam, a outros,
em perigo de condenação eterna.”
No entanto, o sistema de investigação é eficaz para todos os crimes, especialmente
todos os tipos de hereges, e nada mais do que aqueles que afirmam ser hereges, não dogmas
católicos. Mais tarde, no século XV, foi realmente criado o tribunal do Sagrado Ofício, que
aplicou medidas punitivas tanto em Portugal como em Espanha.
Nos tempos modernos, a tortura tornou-se um meio de segurança nacional,
enfraquecendo os direitos dos cidadãos. No século XIV, os direitos dos cidadãos eram a
famosa "fonte de provas". Neste novo momento dos tempos modernos, a tortura é plena
balanço. Ao longo dos séculos, no que diz respeito às instruções do julgamento, restringiu
ainda mais essas garantias pessoais, e agora o julgamento é confidencial.
Valéria Diez (2002, p. 29), narra:

A confissão era a rainha das provas (confessio regina probationum), autorizava a


condenação e dispensava outros elementos. Além disso, tinha dupla finalidade: fazia
crer aos julgadores que a verdade fora desvendada e a condenação era merecida;
justificava o emprego das graves penas corporais perante a população local.

Portanto, durante este período, muitas torturas ocorreram em muitos países, incluindo
Itália, França, Espanha, Grã-Bretanha, Áustria, Suécia, Alemanha e até mesmo Portugal.
Tem aplicabilidade extraordinária, porque esse processo é realizado em conjunto com
a promotoria, tem o mesmo sistema estrito e sempre confidencial, e determina o cargo e o
nome do juiz. país que sofre com esses tormentos tem suas peculiaridades processuais.
A forma mais utilizada é também a vigília noturna, utilizada na coluna vertebral para
suportar o peso de todo o corpo e causar inúmeros sofrimentos entre os torturados, sendo
assim, Espanha e Itália são os países com mais relatos de tortura.
Michel Foucault (2007, p. 13), narra4:

3
Wolgran FERREIRA. A tortura: sua história e seus aspectos jurídicos na constituição. São Paulo: Julex
Livros, 1991

14
A punição vai-se torando, pois, a parte mais velada do processo penal, provocando
várias consequências: deixa o campo da percepção quase diária e entra no da
consciência abstrata; sua eficácia é atribuída à sua fatalidade não sua intensidade
visível; a certeza de ser punido é que deve desviar o homem do crime e não mais o
abominável teatro; a mecânica exemplar da punição muda as engrenagens. Por essa
razão, a justiça não mais assume publicamente a parte de violência que está ligada a
seu exercício. [...] é a própria condenação que marcará o delinquente com sinal
negativo e unívoco: publicidade, portanto, dos debates e da sentença; quanto à
execução, ela é como uma vergonha suplementar que a justiça tem vergonha de impor
ao condenado

Cabette, afirma:

Apenas a título ilustrativo, é possível mencionar o fato recente de que a forçosa


"necessidade da elucidação da autoria dos ilícitos penais" levou o Tribunal Superior
do Estado de Israel a admitir "uma legítima pressão sobre os corpos dos suspeitos
para compeli-los à admissão da culpa!”. Chegou ainda o mesmo Tribunal a
reconhecer a "oportunidade" de castigar os "renitentes prisioneiros!". Com o golpe
militar de 1964 no Brasil, houve o preterimento do direito à violência, com atos de
guerrilha, práticas terroristas, prisões ilegais, condenações sem o devido processo
legal, sem o direito a defesa, o aniquilamento de seres humanos, sem nenhuma
motivação, situação que estava gerando o conformismo social. Houve uma supressão
de valores, em que as práticas corriqueiras deturpavam a consciência, a ética e a
moral. Contudo, estas práticas desumanas não foram exclusividade do Brasil, mas
teve uma participação na história de toda a humanidade. Na China, a tortura na época
da inquisição era a forma mais utilizada na obtenção da confissão, chegando a
integrar a pena.

15
CAPÍTULO 3

O CÓDIGO PENAL E O CRIME DE


TORTURA

Em primeiro lugar, o código penal que trata do agravamento geral está estipulado no
Artigo 61 II, d. Portanto, uma vez que tortura é o mesmo que este agravamento, os
procedimentos para a aplicação das disposições para vários crimes hediondos vão desde abuso
de poder até causado por crimes tais como lesões corporais, que podem então ser usadas para
usar métodos cruéis e degradantes por meio de tortura.
No mesmo entendimento da “Lei da Tortura”, o artigo 121, parágrafo 2º, inciso III da
“Lei Penal” também trata do crime de homicídio qualificado pela tortura.
Com isso, cumpre narrar sobre um dos doutrinadores que “participaram” da fase dos
crimes de tortura no passar dos anos.
Beccaria sugeriu que, idealmente, deveria haver uma distribuição justa dos benefícios
entre os membros da sociedade. No entanto, os privilégios estavam realmente concentrados no
poder de algumas pessoas. Portanto, somente a lei em si poderia prevenir ou impedir esses
abusos.
No decorrer de um século, ficou demonstrado que o nascimento da lei é uma ferramenta
para a paixão de poucas pessoas. Eles não são descritos como convenções estabelecidas entre
homens livres. O autor ficou indignado com o comportamento bárbaro das sentenças proferidas
nos tribunais da época, carecendo de críticas a esta situação e aos erros acumulados ao longo
dos séculos.
Beccaria sugeriu apontar os princípios gerais do crime e apontou uma série de
questões relacionadas ao propósito, eficácia e influência dos costumes sobre a lei. Com a
chegada da obra de Beccaria, iniciou-se a luta pelos direitos humanos, portanto, as ideias
desse jurista invadiram a Constituição brasileira.
Embora a Constituição se baseie na Carta Magna, foi somente após o surgimento da
obra de Cesaria Bonasena que surgiram as ideias sobre os direitos humanos e o respeito aos
criminosos.
Na monarquia constitucional de 1824 de autoria de Dom Pedro I, é possível observar o
desempenho marcante da obra de Beccaria, pois o texto constitucional imprimiu a primeira
norma da lei penitenciária. Na Constituição, a pena de morte, o exílio e a punição ainda eram
16
permitidos, mas já eram descritos os princípios da legalidade e do devido processo.
Neste sentido, com a influência de Beccaria, foram incluídos os princípios delimitados
pelo mesmo na Constituição;

Anterioridade “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal”

Legalidade; “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em
virtude de lei”

Responsabilidade Pessoal; “nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo


a obrigação de reparar o dano e a decretação de perdimento de bens ser, nos termos
da lei, estendidos aos sucessores e contra eles executados, até o limite do valor do
patrimônio transferido”

Irretroatividade da Lei Penal, “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”

Proporcionalidade da Pena; a pena a que o infrator deve obedecer deve ser


proporcional aos fatos.

Publicidade; “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a


defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”

Presunção de Inocência; “ninguém será considerado culpado senão após o trânsito


em julgado da sentença penal condenatória”.

Neste sentido, demonstra-se que Beccaria aplicou esses princípios em sua obra,
enquadrando-se na Carta Magna do Brasil.
Será feita uma análise em face dos artigos 121 do CP ao artigo 129 do CP, ao estudo do
entendimento do autor, os artigos em questão retratam alguns dos piores crimes cometidos,
neste sentido, em comparado com o entendimento de Beccaria, visa-se fazer uma análise dos
crimes atribuindo a ideologia do mesmo.
Beccaria possuía o entendimento de que as penas deveriam ser proporcionais aos delitos,
assim ligando este entendimento com os artigos em questão se busca analisar que os meios
utilizados pela legislação para prevenir o crime devem ser mais fortes, quanto mais prejudicial
ao interesse público, procurando uma relação entre crime e punição, se não houver essa
proporção, os criminosos não serão tratados de forma diferente na mente das pessoas. É
necessário estabelecer uma pena a cada delito, importante analisar todo o “grau” do crime
cometido.
No caso dos crimes ora mencionados, deve fazer uma “divisão”, exemplo entre roubo
com violência e não violência fornece uma base para a distinção entre agressão e roubo. Neste
sentido deve se ponderado evidentemente o crime ocorrido com a legislação pertinente, dando
ao criminoso a pena correta com a junção do delito, dos fatos e do grau do crime cometido.

17
Além disso a duração do processo é importante, “Cabe tão-somente às leis determinar o
espaço de tempo que se deve utilizar para a investigação das provas do crime, e o que se deve
conceder ao acusado para que se defenda.”
Em face dos crimes hediondos por exemplo, não se deve haver qualquer prescrição em
favor do culpado.
Uma vez que a gravidade do crime deve ser investigada, o tempo gasto na investigação
de evidências e na determinação de prescrições não deve ser aumentado.
Valéria Diez (2002, p. 48), narra5:

Ante a ausência de um tipo penal específico, que somente passou a existir com a Lei
nº 9.455/97, a punição da tortura dava-se pela adequação do fato a outros tipos penais
do ordenamento jurídico, normalmente de pouca gravidade. Dessa forma, era muito
comum o enquadramento da tortura nos crimes de lesão corporal dolosa e abuso de
autoridade, salvo quando praticado como meio de execução de outro delito, hipótese
em que caracterizava agravante ou qualificadora de homicídio (artigos 61, II, d e 121,
§ 2º, III, do Código Penal). Nesse caso, justificava-se a elevação da pena em razão do
grande sofrimento causado à vítima durante a prática do crime. [...]. Na maioria das
vezes, o fato não era punido com rigor. Embora a tortura tivesse sido equiparada aos
crimes hediondos pela Constituição, seu enquadramento em outros tipos, não
considerados/equiparados aos hediondos, livrava o agente dos rigores da Lei nº
8.072/90. Assim, se o agente tivesse torturado a vítima, resultando apenas lesão leves,
não seria acusado de crime hediondo e teria direito até a transação penal (Lei nº
9.099/95).

Temos outro artigo sobre tortura, mas enfoca o tratamento de prisioneiros no Artigo 38
do Código Penal: “O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade,
impondo-se a todas as autoridades o respeito à sua integridade física e moral.”
Portanto, vemos que este artigo é totalmente desrespeitado, porque nas prisões
acontecem mais inúmeras rebeliões. Isso porque há muitos presos, o que ultrapassa o número
mínimo de presos em cada cela, de modo que os direitos dos presos não são obtidos.
Respeitar, ser humilhado e descumprir a ética do criminoso correspondente, e tratar os
criminosos de maneira tão cruel e degradante, porque a prisão não tem nem assistência
médica adequada, melhores condições, e até falta de serviços básicos.
Observou um entendimento do doutrinador Júlio Fabbrini Mirabete (2000; p. 272)6:

A prisão não deve impor restrições que não sejam inerentes à própria natureza da
pena privativa de liberdade e, por essa razão, impõe-se a todas as autoridades o
respeito à integridade física e moral do detento ou presidiário (art. 5º, XLIX da CF e
art. 40 da LEP).

18
5
GOULART, Valéria Diez Scarance Fernandes. Tortura e prova no processo penal. São Paulo: Atlas, 2002.

19
A Resolução nº 7, de 11/07/94, do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária, reitera o ‘princípio fundamental de que qualquer pessoa presa ou sujeita à
medida de segurança tem direito à preservação de sua integridade física e moral, não devendo
ser submetida a tortura, a tratamento desumano ou degradante, nem ficar exposta à execração
pública’(art.6º).
Neste sentido, verifica-se jurisprudência do Tribunal de Justiça7:

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL. AÇÃO


INDENIZATÓRIA. MORTE DE DETENTO EM PRESÍDIO.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO. DEVER DE ZELO PELA
INTEGRIDADE FÍSICA DO APENADO. DANO MORAL CONFIGURADO.
QUANTUM REDUZIDO. Responsabilidade Extracontratual do Estado A
Administração Pública responde objetivamente pelos danos advindos dos atos
comissivos realizados pelos agentes públicos, nesta condição, nos termos do artigo
37, § 6º da CF. Caso em que o detento foi morto no interior do estabelecimento
prisional. Comprovado nos autos a responsabilidade do Estado pelos prejuízos...37§
6ºCF. (70047451026 RS, Relator: Leonel Pires Ohlweiler, Data de Julgamento:
25/04/2012, Nona Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
21/05/2012)

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. MORTE DE DETENTO EM


ESTABELECIMENTO PRISIONAL. FALHA DO ESTADO. OMISSÃO
ESPECÍFICA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. DANO MORAL IN RE IPSA
CONFIGURADO. A responsabilidade civil do Estado em caso de omissão é
subjetiva, fugindo à previsão do art. 37, § 6º, da CF. Contudo, deve ser analisado se
a omissão foi específica ou genérica. Em caso de omissão específica, ou seja,
quando há o dever de agir, vale a regra constitucional. Hipótese dos autos em que o
Estado falhou com o dever de garantir a vida e integridade física de seus detentos na
medida em que deixou de prestar um serviço de proteção e vigilância constante e
eficiente a garantir a integridade daqueles recolhidos sob sua custódia, culminando
com a morte do familiar dos autores recolhido ao estabelecimento prisional.Dano
moral in ré ipsa. Valor da condenação fixado de acordo com as peculiaridades do
caso concreto, bem como observados os princípios da proporcionalidade e
razoabilidade, além da natureza jurídica da indenização. Dano material. Pensão
mensal aos filhos menores. Fixada a condenação ao pagamento de pensão mensal
aos filhos menores, sendo presumida sua dependência econômica em relação ao pai
falecido. Precedentes jurisprudenciais. À UNANIMIDADE. DERAM
PROVIMENTO AOS APELOS DOS AUTORES ANDERSON, ADRIANO E
JOSÉ, E PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO DA AUTORA
GARIBALDINA. (70047934237 RS, Relator: Tasso Caubi Soares Delabary, Data
de Julgamento: 30/05/2012, Nona Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da
Justiça do dia 05/06/2012)8

Já o entendimento STJ e STF9:

6
MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado. São Paulo: Jurídica Atlas, 2000.
7
TJ-RS, 70047451026, Rel. Leonel Pires Ohlweiler

20
SEGUNDO AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.
DANOS MORAIS E MATERIAIS. ACIDENTE DE MENOR SOB GUARDA.
FALTA DO NECESSÁRIO PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282 DO STF.
MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. OFENSA REFLEXA. 1. O requisito
do
prequestionamento é indispensável, por isso que inviável a apreciação, em sede de
recurso extraordinário, de matéria sobre a qual não se pronunciou o Tribunal de
origem, incidindo o óbice da súmula 282 do Supremo Tribunal Federal, verbis: é
inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada na decisão recorrida, a
questão federal suscitada. 2. A simples oposição dos embargos de declaração, sem
o efetivo debate acerca da matéria versada pelo dispositivo constitucional apontado
como malferido, não supre a falta do requisito do prequestionamento, viabilizador
da abertura da instância extraordinária. 3. O estado responde objetivamente por
danos sofridos por detentos, no caso, menores sob sua guarda. Teoria do risco
administrativo. Configuração do nexo de causalidade em função do dever
constitucional de guarda (art. 5º, XLX). (RE n. 481.110-AgR). 4. In casu, o
acórdão recorrido assentou: RESPONSABILIDADE CIVIL - danos morais e
materiais- Dano causado a menor detido em instituição Estadual -
Responsabilidade do Poder Público -Estando o autor interno em reformatório para
menores infratores, com óbvia custódia e proteção direta do Poder Público, este é
responsável por sua integridade física - Artigo 5º, XLIX da CF -Redução dos danos
morais-13º salário- Exclusão - Recursos parcialmente providos. 5. Agravo
regimental desprovido. (AI 782903 AgR-segundo, Relator(a): Min. LUIZ FUX,
Primeira Turma, julgado em 13/03/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-066
DIVULG 30-03-2012 PUBLIC
02-04-2012)
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO PODER PÚBLICO -
ELEMENTOS ESTRUTURAIS – PRESSUPOSTOS LEGITIMADORES DA
INCIDÊNCIA DO ART. 37, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA -
TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO - INFECÇÃO POR
CITOMEGALOVÍRUS - FATO DANOSO PARA O OFENDIDO (MENOR
IMPÚBERE) RESULTANTE DA EXPOSIÇÃO DE SUA MÃE, QUANDO
GESTANTE, A AGENTES INFECCIOSOS, POR EFEITO DO DESEMPENHO,
POR ELA, DE ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM HOSPITAL PÚBLICO, A
SERVIÇO DA ADMINISTRAÇÃO ESTATAL - PRESTAÇÃO DEFICIENTE,
PELO DISTRITO FEDERAL, DE ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL -
PARTO TARDIO - SÍNDROME DE WEST - DANOS MORAIS E MATERIAIS -
RESSARCIBILIDADE - DOUTRINA - JURISPRUDÊNCIA - RECURSO
DE
AGRAVO IMPROVIDO. - Os elementos que compõem a estrutura e delineiam o
perfil da responsabilidade civil objetiva do Poder Público compreendem (a)
a alteridade do dano, (b) a causalidade material entre o "eventus damni" e o
comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão) do agente público, (c) a
oficialidade da atividade causal e lesiva imputável a agente do Poder Público que
tenha, nessa específica condição, incidido em conduta comissiva ou omissiva,
independentemente da licitude, ou não, do comportamento funcional e (d) a
ausência de causa excludente da responsabilidade estatal. Precedentes. A omissão
do Poder Público, quando lesiva aos direitos de qualquer pessoa, induz à
responsabilidade civil objetiva do Estado, desde que presentes os pressupostos
primários que lhe determinam a obrigação de indenizar os prejuízos que os seus
agentes, nessa condição, hajam causado a terceiros. Doutrina. Precedentes.

8
TJ-RS, 70047934237, Rel. Tasso Caubi Soares Delabary
21
9
STF, AI 782903 AgR-segundo, Rel. Min. LUIZ FUX
STF, RE 495740 AgR, Rel. Min. CELSO DE MELLO
STJ, REsp 936.342/ES, Rel. Ministro LUIZ FUX

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A jurisprudência dos Tribunais em geral tem reconhecido a responsabilidade civil
objetiva do Poder Público nas hipóteses em que o "eventus damni" ocorra em
hospitais públicos (ou mantidos pelo Estado), ou derive de tratamento médico
inadequado, ministrado por funcionário público, ou, então, resulte de conduta
positiva (ação) ou negativa (omissão) imputável a servidor público com atuação na
área médica. - Servidora pública gestante, que, no desempenho de suas atividades
laborais, foi exposta à contaminação pelo citomegalovírus, em decorrência de suas
funções, que consistiam, essencialmente, no transporte de material potencialmente
infectocontagioso (sangue e urina de recém-nascidos). - Filho recém-nascido
acometido da "Síndrome de West", apresentando um quadro de paralisia cerebral,
cegueira, tetraplegia, epilepsia e malformação encefálica, decorrente de infecção
por citomegalovírus contraída por sua mãe, durante o período de gestação, no
exercício de suas atribuições no berçário de hospital público. - Configuração de
todos os pressupostos primários determinadores do reconhecimento da
responsabilidade civil objetiva do Poder Público, o que faz emergir o dever de
indenização pelo dano pessoal e/ou patrimonial sofrido. (RE 495740 AgR,
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 15/04/2008,
DJe-152 DIVULG 13-08-2009 PUBLIC 14-08-2009 EMENT VOL- 02369-07
PP01432 RTJ VOL-00214- PP- 00516)

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. INDENIZAÇÃO POR MORTE DE


PRESO EM CADEIA PÚBLICA.DEVER DE VIGILÂNCIA DO ESTADO (ART.
5º, XLIX, CF/88). INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS.
RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. ART. 37, § 6º DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. CULPA E NEXO DE CAUSALIDADE COMPROVADOS.
SÚMULA
07/STJ. 1. O dever de ressarcir danos, inclusive morais, efetivamente causados por
ato dos agentes estatais ou pela inadequação dos serviços públicos decorre
diretamente do art. 37 § 6º da Constituição, dispositivo autoaplicável, não sujeito a
intermediação legislativa ou administrativa para assegurar o correspondente direito
subjetivo à indenização. Não cabe invocar, para afastar tal responsabilidade, o
princípio da reserva do possível ou a insuficiência de recursos. Ocorrendo o dano e
estabelecido o seu nexo causal com a atuação da Administração ou dos seus
agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado, caso em que os recursos
financeiros para a satisfação do dever de indenizar, objeto da condenação, serão
providos na forma do art. 100 da Constituição. 2. A aferição acerca da ocorrência
do nexo causal entre o dano e a conduta do agente público demanda a análise do
conjunto fático-probatório carreado aos autos, interditada em sede de recurso
especial por força da Súmula 07/STJ. Precedentes desta Corte: RESP 756437/AP,
desta relatoria, DJ de 19.09.2006; RESP 439506/RS, Relatora Ministra Denise
Arruda, DJ de 01.06.2006 e RESP 278324/SC, Relator Ministro João Otávio de
Noronha, DJ de 13.03.2006. 3. In casu, o Juiz Singular e Tribunal local, com ampla
cognição fático-probatória, concluíram pela obrigação de indenizar do Estado, ao
argumento de que o ordenamento constitucional vigente assegura ao preso a
integridade física (CF, art. 5º, XLIX) sendo dever do Estado garantir a vida de seus
detentos, mantendo, para isso, vigilância constante e eficiente. 4. Recurso especial
desprovido. (REsp 936.342/ES, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, Rel. p/
Acórdão Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 11/11/2008, DJe
20/05/2009)

Desse modo, fica comprovado que há incubação no País. Trata-se da obrigação de


zelar pela saúde física e mental dos condenados prevista no art. 37, § 6º da Constituição
Federal, e, portanto, estabelecer nexo causal e indenizatório para danos que devem ser
comprovados no momento da ocorrência do evento, gerando indenização perante o Estado,
pois o que se vê na prisão é totalmente contrário ao Manter a integridade moral e pessoal do
condenado, desrespeitando a Resolução 7: “Conselho Nacional de Política Criminal

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Penitenciária.”

A última parte da "Lei de Proibição da Tortura" contém os artigos 3º e 4º, sendo o art.
3º: “Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”. Esta é uma cláusula na data de
entrada em vigor desta cláusula, pelo que é de extrema importância o combate a estas
terríveis torturas: “Revogasse o art. 233 da Lei nº 8.089, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da
Criança e do Adolescente.”

3.1 FORMA DE TORTURAS

Existem diferentes formas, métodos e técnicas de tortura, entre os quais meios


terríveis são usados para causar dor, sofrimento e danos irreversíveis, muitas vezes
praticada em ditaduras, infligindo humilhação e tortura. Problemas psicológicos e outras
torturas.
Desta forma, tem se desenvolvido de forma focada ao longo dos anos, buscando a
perfeição na tortura de prisioneiros de forma lenta e bárbara, por isso tem recebido grande
atenção com o auxílio da medicina e da ciência, e por isso tem sido utilizada para a ditadura.
permanecer no poder, de forma que confesse ao acusado do crime, ou denuncie o suspeito.
Goulart (2002, p. 72 e 73), narra:

A tortura é um crime peculiar, principalmente porque praticada em locais ocultos e,


muitas vezes, por autoridades públicas. Assim, sua comprovação exige técnica e
conhecimentos específicos por parte dos juristas, entre os quais se destaca o estudo
dos métodos de tortura e dos vestígios resultantes de sua prática. Conhecer os
métodos de tortura é ter em mãos uma poderosa arma contra os torturadores. Em
geral, os agentes amparam-se em técnicas avançadas que lhes permitem infligir dores
horrendas sem que resultem evidências físicas, o que quase sempre importa em
impunidade. Contudo, ao estudar determinadas técnicas e verificar que elas não
deixam marcas, ou que os vestígios são insignificantes, é possível punir os
torturadores, mesmo nesses casos. Além disso, pode-se verificar se o relato do
ofendido é compatível com os métodos de tortura alegados e com os vestígios
encontrados. Há vários casos no quotidiano forense de réus que alegam ter sido
vítimas de tortura, mas os ferimentos não correspondem ao conteúdo de seus
interrogatórios, como, por exemplo, os réus que dizem ter sofrido agressões na face e
apresentem hematomas nas pernas. Dessa forma, o confronto do relato do ofendido
com os métodos de tortura e vestígios encontrados serve para conferir maior ou
menor credibilidade ao relato.

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Portanto, a tortura deve ter uma conexão entre os vestígios e os meios de denúncia das
vítimas de tal tortura para ter forma e resultado, causando lesões graves e lesões graves.
Muito sérios e podem até levar à morte ou resultados ainda menos graves, como ferimentos
leves.
Alguns deles são mais graves do que outros e nunca podem ser reparados em caso de
sofrimento psíquico ou sequelas irreparáveis (que ficarão gravadas na vítima física e
mentalmente). Portanto, após vários anos de etapas, cada etapa tem seus próprios métodos e
formas.
Wolgran Junqueira Ferreira (1991, p. 50):

A mente humana é fértil para criação de instrumentos destinados ao progresso


científico, ao bem do ser humano, mas também é usado para criação de instrumentos
de suplícios. A evolução neste sentido também não deixa nada a desejar. Os tipos
são mais requintados, hoje, do que aqueles aplicados na antiguidade e na Idade
Média, e mesmo no século atual sua evolução foi grande. Há também que se
considerar que na antiguidade e na Idade Média a tortura era aplicada publicamente
para servir de exemplo. Hoje não mais. É aplicada de forma disfarçada, a solapa,
para que o povo não tenha conhecimento. Torna-se claro que hoje a dosagem de
covardia do torturador é muito grande. Ele sabe que está fazendo o que é proibido e
então o faz de forma solerte. O torturador da antiguidade e o medievo não eram
covardes perante a sociedade, perante o torturado sim; hoje não, ele é covarde tanto
perante o torturado como perante a sociedade.

Ressalta Magna Meire de Oliveira, sobre as modalidades:

a) Arrastamento em viatura: causava esfolamento e escoriações generalizadas no


corpo da vítima. Também forçavam a vítima a respirar o gás que saía pelo
escapamento do veículo;

b) Escalpo: consiste na retirada da pele da vítima;

c) Churrasquinho: introdução de material inflamável no ânus e na vagina;

d) Cama cirúrgica: a vítima é amarrada e esticada em uma cama. Causava o


rompimento de nervos e, sobre a cama, também praticavam torturas como o
arranchamento das unhas;

e) Maçarico: espécie de “churrasquinho” que causa queimaduras de primeiro grau;

f) Coroa-de-cristo ou capacete: consistia no esmagamento do


crânio por meio de um anel metálico e um mecanismo que o estreitava;

g) Tortura aos familiares e a amigos: consistia em torturar amigos e parentes em


frente ao perseguido político;

h) Cadeira-do-dragão: espécie de cadeira elétrica;

i) Tamponamento por éter: aplicação nas partes sensíveis e feridas do corpo,


provocando queimaduras e dores;

j) Tortura sexual: prática de estupros, introdução de cassetete no


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ânus, compressão e choques nos testículos;

k) Palmatória: espécie de raquete de madeira que é aplicada às mãos, pés,


nádegas e costas da vítima;

l) Capuz: causa tortura física inesperada e tortura psicológica (o torturado fica


incapacitado de ver de onde vêm os golpes);

m) Formas de imobilização: utilizada nos intervalos de outras formas de tortura


com o objetivo de causar esgotamento físico (segurar pesos nos braços, equilibrar
a sola dos pés em latas cortantes);

n) Espancamento: murros e pontapés aplicados em regiões como rins, estômago


e diafragma;

o) Corredor polonês: filas paralelas de torturadores formando um caminho


obrigatório para a vítima passar;

p) Telefone: aplicação de tapas com ambas as mãos nos ouvidos da vítima


(provoca rompimento dos tímpanos e labirintite);

Por fim, neste caso, é importante a elaboração de laudo pericial que comprove a
existência de tortura por meio dos vestígios físicos do abuso cometido pela vítima, por isso
é muito importante como prova desse processo.
No caso das investigações criminais, visto que na maioria dos casos é difícil de
provar, porque os vestígios desapareceram, é porque o detido não pode contactar o médico
para realizar tais investigações, pelo que a fiscalização do sujeito penal é determinada de
acordo com o disposto no artigo 158 do CPP o crime de tortura foi cometido: “Quando a
infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto,
não podendo supri-lo a confissão do acusado.”

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CAPÍTULO 4

A CRIMINALIZAÇÃO DA TORTURA NO BRASIL

O movimento pela constituinte foi um importante momento histórico do país. A


população e os movimentos sociais, animados pela abertura política e pela possibilidade da
elaboração de uma Constituição cidadã, participaram ativamente da formulação de propostas
de emendas constitucionais populares.
As entidades e os defensores de direitos humanos encaminharam propostas para que o
Brasil incorporasse, além dos tratados internacionais de proteção e defesa dos direitos
humanos, emendas que visassem criminalizar a tortura (Pinheiro; Braun,1986).
A temática da tortura suscitou mais de 150 propostas de emenda aos projetos de texto
constitucional, apresentadas em várias fases entre os anos de 1987 e 1988.
Algumas seguiam os preceitos das convenções e dos tratados internacionais de direitos
humanos acerca da tortura, considerando-a crime de lesa humanidade, outras formulações
procuravam criar obstáculos à introdução do tema na Constituição. Ao final, o texto
constitucional acolheu a versão mais genérica e difusa de proibição da tortura, sem a
preocupação de delimitar conceitos (Maia, 2006).
Em 1988, a Constituição Federal brasileira foi promulgada contendo diversas propostas
populares, dentre elas o artigo 5°, inserido no Título II “Dos direitos e garantias fundamentais”,

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e que criminalizou a prática da tortura no inciso III do artigo 5º, em que estabelece que
“ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”.
A prática da tortura tornou-se, com a Constituição de 1988, crime inafiançável e
insuscetível de graça ou anistia (art. 5º, inciso XLIII). Além disso, ela também reconheceu
como integrante dos direitos constitucionalmente consagrados os tratados internacionais de
proteção internacional de direitos humanos, que, assim sendo, passam a ser direta e
imediatamente exigível no plano do ordenamento jurídico interno (art. 5º, § 2º).

Importante destacar que o Brasil é signatário da Declaração Universal dos Direitos


Humanos; da Convenção Contra Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos e
Degradantes, ratificada pelo Brasil em 28/09/89; do Pacto de Direitos Civis e Políticos, ratificado
em 16/01/1992; da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, ratificada em 25/09/92; e da
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, ratificada em 20/07/89 (Códigos de
Direito Internacional dos Direitos Humanos Anotado, 2008). Nesse sentido, esses tratados e
convenções fazem parte do escopo constitucional brasileiro.
Apesar de vislumbrada na Constituição, a criminalização efetiva da tortura, com Lei
específica acerca do tema, foi tipificada somente em 1997. Até então os casos de tortura
denunciados eram julgados com base na Lei de abuso de autoridade (4.898/65), ou como crime
de lesão corporal e maus tratos, artigos 129º e 136, respectivamente, do Código Penal.
A tortura somente era citada como agravante de crimes no Código Penal, como
qualificadora de crime de homicídio, cujo meio tenha sido a tortura, ou crime de seqüestro, que
tinha como agravante a tortura (Maia, 2006).
Segundo Dário José Kist (2002), um dos primeiros projetos de Lei para a tipificação da
tortura foi apresentado no Senado pelo senador Jamil Haddad (PSB), em 1987.
Em 1989, já com Constituição Federal, o senador Nelson Carneiro (PMDB) apresentou
outro projeto, o mesmo ocorrendo na Câmara dos Deputados, onde tramitavam projetos de
iniciativa dos deputados Vivaldo Barbosa (PDT) e Hélio Bicudo (PT). Até mesmo o executivo
encaminhou um projeto no mesmo sentido (Kist, 2002, p.77).

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Em 1990, o Estatuto da Criança e Adolescente (Lei nº 8.069/90) apresentou um artigo
que versava acerca do crime de tortura contra criança e adolescente. Este artigo era o 233º, que
estabelecia pena para aqueles que submetessem criança ou adolescente, sob sua autoridade,
guarda ou vigilância a tortura.

O texto não detalhou o que consistia o crime de tortura, deixando em aberta a


caracterização desse crime para os juristas. De acordo com Eduardo Luiz Santos Cabette
(2006) o legislador não descreveu com detalhamento o que é a tortura, assim como deixou de
fazer no texto da Constituição.
Somente em 1997, quase dez anos após a promulgação da Constituição, é que a Lei
9.455/97 contra a tortura vai ser promulgada. Entretanto, a Lei não partiu da iniciativa da
Câmara ou do Senado, apesar de diversas propostas tramitarem por anos nessas casas.
Essa lei foi promulgada a toque de caixa, enredada pela comoção popular após a
divulgação de imagens de policiais militares torturando moradores da região de Diadema,
conhecida como Favela Naval. De acordo com Sérgio Salomão Shecaira (1997), a tramitação
da Lei foi precipitada pelos trágicos acontecimentos de Diadema, no dia 7 de abril de 1997.
A Lei aprovada às pressas acabou trazendo consigo uma série de elementos que a
tornam ambígua, pouco definindo o que vem a ser efetivamente crime de tortura. Não se sabe
se o legislador optou por fazer uma lei mais genérica, cuja responsabilidade de definições
ficasse a critério do intérprete da lei, ou se ela foi realizada sem muitos cuidados, apenas como
resposta imediata do Estado à comoção provocada pelas cenas fortes das torturas policiais de
Diadema.
Enfim, essa reflexão demandaria uma pesquisa mais minuciosa o que, neste momento,
não temos como avançar. O que podemos fazer aqui é refletir quais são as conseqüências dessa
formulação genérica acerca do julgamento dos crimes de tortura, com base na Lei 9.455/97,
para a responsabilização de torturadores, principalmente os agentes de Estado.
Neste capítulo não tivemos a intenção de fazer uma análise jurídica a respeito da Lei da
tortura, mas apenas apresentar algumas críticas acerca da sua aplicabilidade e
efetividade e que, de fato, atingem a forma como o legislador a formulou. Nossa tarefa é
perceber quais os impactos da Lei com relação à responsabilização dos crimes de tortura, visto
que sua aplicação depende muito mais da interpretação dos atores responsáveis pela Justiça, do
que da própria Lei.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa trouxe um enorme desenvolvimento de crimes de tortura desde a


antiguidade até os tempos modernos de uma forma esclarecedora e atribui grande importância
à sua prática desumana com os seres humanos.
Até agora, houve muitos relatos sobre o crime de tortura, mas poucos meios de
comunicação forneceram provas porque a maioria das provas é difícil de provar.
A evidência do crime deteriorou-se rapidamente porque o prisioneiro não contatou
imediatamente o médico legista para provar com precisão o ferimento e a tortura causados, por
isso é muito difícil para a pessoa que cometeu o crime.
A própria lei é eficaz, mas devido ao sistema prisional imperfeito, a lei carece de mais
aplicabilidade, pois o Brasil tense pela superlotação de presídios, devendo de fato ter uma
mudança neste sentido e propor melhores políticas de segurança pública para evitar essa
tortura.
Conforme explicado, Beccaria descreveu a crueldade da violência urbana, demostrando
a necessidade de reformar a partir da perspectiva dos crimes e criminosos existentes para
mudar as percepções.
Portanto, é necessário analisar a aplicabilidade da lei em um caso específico com muita
precisão, de forma a buscar punições mais rigorosas e eficazes para todos os casos que foram
implementados, porque na maioria das vezes, o sujeito ativo busca o uso dessas torturas ou
outros métodos irreparáveis.

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REFERÊNCIAS

Análise dos artigo 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127 e 128, do Código Penal, , disponível
em: https://beatrizpbarbosa.jusbrasil.com.br/artigos/406736418/analise-dos-artigo-121-122-
123-124-125-126-127-e-128-do-codigo-penal

Artigo 1 da Lei nº 9.455 de 07 de Abril de 1997, , disponível em:


https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11277889/artigo-1-da-lei-n-9455-de-07-de-abril-de- 1997

Artigo 121 - Código Penal Comentado - Estrutura do Crime de Homicídio, disponível


em: https://www.gabarite.com.br/dica-concurso/285-artigo-121-codigo-penal-comentado-
estrutura-do-crime-de- homicidio#:~:text=121.,de%20seis%20a%20vinte
%20anos.&text=1%C2%BA%20Se%20o% 20agente%20comete,um%20sexto%20a%20um
%20ter%C3%A7o.

CABETTE, Eduardo Luiz Santos. A definição do crime de tortura no ordenamento


jurídico penal brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 1789, 25 maio 2008.
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/11304/a-definicao-do-crime-de-tortura-no-
ordenamento-juridico- penal-brasileiro

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: legislação penal especial. 5 ed. São Paulo:
Saraiva, 2010;
Convenção contra tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes,
disponível em: https://jus.com.br/artigos/47454/convencao-contra-tortura-e-outros-
tratamentos-ou-penas-crueis-desumanos-ou-degradantes

Dos delitos e das Penas, Cesare Beccaria, disponível em:


http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17502/material/BECCA
RIA,%20C.%20Dos%20delitos%20e%20das%20penas.pdf

Dos Delitos e das Penas: a Análise de Cesare Beccaria Que Resolveria Grande Parte da Crise
no Direito Penal Brasileiro, disponível em: https://www.megajuridico.com/dos-delitos-e-das-
penas-a-analise-de-cesare-beccaria-que-resolveria-grande-parte-da-crise-no-direito-penal-
31
brasileiro/#:~:text=A%20obra%20Dos%20Delitos%20e,por%20parte%20da%20sociedade%2
0atual

FERREIRA, Wolgran Junqueira. A tortura: sua história e seus aspectos jurídicos na


constituição. São Paulo: Julex Livros, 1991

FERREIRA, Wolgran Junqueira. A tortura: sua história e seus aspectos jurídicos na


constituição. São Paulo: Julex Livros, 1991;

GOULART, Valéria Diez Scarance Fernandes. Tortura e prova no processo penal. São Paulo:
Atlas, 2002.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado. São Paulo: Jurídica Atlas, 2000.
SILVA, Magna Meire de Oliveira. Tortura. Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 06 abr. 2012.
Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.36374&seo=1

SILVA, Magna Meire de Oliveira. Tortura. Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 06 abr. 2012.
Disponível em: http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.36374&seo=1

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