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REDAÇÃO

DISCURSIVA
Redação Discursiva – Parte I

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
REDAÇÃO DISCURSIVA
Redação Discursiva – Parte I
Bruno Pilastre

Redação Discursiva – Parte 1...........................................................................................3


1. Apresentação e Estrutura Textual................................................................................3
1.1. Legibilidade. ...............................................................................................................3
1.2. Respeito às Margens.................................................................................................9
1.3. Indicação de Parágrafos. ...........................................................................................9
2. Aspectos da Produção Textual................................................................................... 11
2.1. Tipologia Textual..................................................................................................... 12
2.2. Argumentação....................................................................................................... 16
2.3. Coerência e Coesão Textuais................................................................................... 21
2.4. Intertextualidade. ...................................................................................................22
2.5. O Parágrafo...........................................................................................................23
2.6. Organização Tópica................................................................................................29
2.7. Como Criar Ideias...................................................................................................32
3. Recursos Gramaticais para a Produção Textual......................................................... 37
3.1. Frase, Período e Oração. ......................................................................................... 37
3.2. A Ordem dos Termos.............................................................................................38
3.3. Voz Ativa e Voz Passiva..........................................................................................38
3.4. O Sujeito................................................................................................................39
3.5. A Pontuação. ......................................................................................................... 40
3.6. O Vocabulário – Denotação e Conotação................................................................ 41
Resumo.........................................................................................................................44
Mapa Mental..................................................................................................................45
Referências...................................................................................................................46

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Redação Discursiva – Parte I
Bruno Pilastre

REDAÇÃO DISCURSIVA – PARTE 1


1. Apresentação e Estrutura Textual

Nesta primeira parte, discutirei um ponto pouco observado por candidato(a)s que estão
se preparando para a prova de Redação Discursiva: Apresentação e Estrutura Textual. Sabe
aquela letra ilegível, aquele acento agudo que se misturou com a letra t, a letra a que se parece
com a letra o – pois é, esses erros bobos custam caro no resultado final do processo seletivo.
E eu fui testemunha, em diversos concursos, de casos em que estudantes perderam pontos
importantes por conta dessas inadequações na apresentação e na estrutura textual.
Começaremos pelo conceito de Legibilidade. Seguiremos com o conceito de Respeito às
margens e finalizaremos apresentando a noção de Indicação de parágrafos. Adoto, para esse
assunto, os critérios da banca CESPE, por julgá-los mais adequados e coerentes nesse as-
pecto. Essa escolha não restringe, é claro, a validade do que será ensinado. Todas as bancas
procedem de modo semelhante em relação à Apresentação e Estrutura Textual.

1.1. Legibilidade

Antes de tratarmos do assunto Legibilidade, vamos ler o texto a seguir, de Umberto Eco:
A arte perdida da caligrafia.

A arte perdida da caligrafia


Recentemente, dois jornalistas italianos escreveram um artigo de jornal de três páginas (em letras
de imprensa – ai de mim!) sobre o declínio da caligrafia.
Agora já é fato conhecido: a maioria das crianças – devido aos computadores (quando elas os
usam) e às mensagens de texto – não consegue mais escrever a mão, exceto em suadas letras
maiúsculas.
Em uma entrevista, um professor disse que os alunos também cometem muitos erros de ortografia,
o que me parece um problema em separado: médicos sabem escrever e, mesmo assim, suas es-
critas são sofríveis; e você pode ser um especialista em caligrafia, mas escrever “conserto”, e não
“concerto”.
Eu conheço crianças cuja caligrafia é bastante boa. Mas o artigo fala em 50 por cento de italiani-
nhos – e eu suponho que seja graças a um destino indulgente que eu frequente os outros 50 por
cento (algo que me acontece também na arena política). A tragédia começou bem antes do com-
putador e do telefone celular.

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A caligrafia de meus pais era ligeiramente inclinada, porque eles posicionavam o papel em ângulo
e suas letras eram, pelo menos para os padrões atuais, pequenas obras de arte.
Na época, alguns – provavelmente aqueles com letra feia – diziam que a caligrafia elegante era a
arte dos tolos. É óbvio que caligrafia bonita não significa, necessariamente, inteligência refinada.
Mas era prazeroso ler notas ou documentos escritos de maneira mais correta.
Minha geração foi treinada para ter boa caligrafia e nós passávamos os primeiros meses da es-
cola primária aprendendo a traçar as letras. Posteriormente, o exercício foi tido como obtuso e
repressivo, mas ele nos ensinou a manter o pulso firme ao usarmos a caneta para formar letras
arredondadas e delicadamente desenhadas. Bem, nem sempre – porque as canetas tinteiro, com
as quais sujávamos carteiras, livros, cadernos, dedos e roupas, costumavam produzir uma borra
desagradável que grudava na caneta e obrigava a dez minutos de lambança para limpar.
A crise começou com o advento da caneta esferográfica. As primeiras esferográficas também fa-
ziam sujeira – se, imediatamente após escrever, você passasse o dedo sobre as últimas palavras,
era inevitável aparecer um borrão. E as pessoas já não tinham muito interesse em escrever bem,
já que a caligrafia feita com uma esferográfica, mesmo que limpa, não tinha mais alma, estilo ou
personalidade.
Por que deveríamos lamentar o passamento da boa caligrafia? A capacidade de escrever bem e ve-
lozmente em um teclado estimula o pensamento rápido e, com frequência (não sempre), o corretor
ortográfico irá sublinhar um erro de grafia.
Embora o celular tenha ensinado a geração mais jovem a escrever “Kd vc?” no lugar de “Cadê
você?”, não nos esqueçamos de que nossos antepassados ficariam chocados ao ver que escreve-
mos “farmácia” e não “pharmacia”, ou “xícara” em vez de “chicara”. Teólogos medievais escreviam
“respondeo dicendum quod,” coisa que teria feito Cícero se revirar no túmulo.
A arte da caligrafia nos ensina a controlar nossas mãos e encoraja a coordenação mão-olho.
O artigo de três páginas apontava que a escrita a mão nos obriga a compor a frase mentalmente
antes de escrevê-la. Graças à resistência da caneta e do papel, somos forçados a parar para pen-
sar. Muitos escritores, embora acostumados a escrever no computador, algumas vezes até prefe-
rem imprimir letras em uma placa de argila, porque assim podem pensar com mais calma.
É verdade que as crianças escreverão cada vez mais em computadores e celulares. Apesar de tudo,
a humanidade aprendeu a redescobrir muitas coisas que a civilização eliminara como desneces-
sárias, como nos esportes e prazeres estéticos.
As pessoas não viajam mais a cavalo, mas algumas fazem aulas de equitação; existem iates mo-
torizados, mas muita gente é tão devotada à arte de velejar quanto os fenícios de três mil anos
atrás; há túneis e ferrovias, mas muitos ainda apreciam caminhar a pé por passagens alpinas; há
pessoas que colecionam selos na era do e-mail; e exércitos vão à guerra com rifles Kalashnikovs,
mas também organizamos pacíficos torneios de esgrima.
Seria bom se os pais enviassem os filhos a escolas de caligrafia, para que eles pudessem participar
de competições e torneios – não só para adquirir base em algo que é belo, mas também para seu
bem-estar psicomotor. Tais escolas já existem, basta procurar “escola de caligrafia” na internet. E,
talvez para aqueles com mão firme e sem emprego estável, ensinar essa arte possa se tornar um
bom negócio.

Destaco a seguinte passagem do artigo de Umberto Eco:

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O artigo de três páginas apontava que a escrita a mão nos obriga a compor a frase mentalmente
antes de escrevê-la. Graças à resistência da caneta e do papel, somos forçados a parar para pensar.

Acredito que a escrita manual nos força a refletirmos mais antes de registrar a frase no
papel. Além disso, a escrita manual requer outras habilidades, como controle do espaço a ser
utilizado (limites da margem, dimensão da letra).
Observe, então, o quanto esse aspecto é importante. Não podemos desconsiderar a práti-
ca de caligrafia. Para isso, voltaremos ao básico: às letras do alfabeto. Mostro, a seguir, qua-
tro sequências de letras: (i) minúsculas cursivas; (ii) maiúsculas cursivas; (iii) letra de fôrma
caixa-baixa; e (iv) letra de forma caixa alta.

Imagem (i). Minúsculas cursivas

Imagem (ii). Maiúsculas cursivas

Imagem (iii). Letra de fôrma – caixa-baixa

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Imagem (iv). Letra de fôrma – caixa-alta

As imagens possuem, para nós, duas funções: (i) referência a um padrão gráfico e (ii) mo-
delo para prática de caligrafia. No primeiro caso, você, estudante, pode observar a sua letra
(seja ela cursiva ou letra de fôrma) e refletir se está bem delineada ou não. Caso você sinta
que a sua letra não está adequada, a segunda função (modelo para prática de caligrafia) se
aplica. Sugiro que você adquira aqueles cadernos de caligrafia e produza ao menos duas pá-
ginas duas vezes na semana. Isso será muito importante para a correção de alguns desvios.
Duas considerações são importantes em relação às letras cursivas e de fôrma. Quando
se produz a letra cursiva, é importante que haja uma continuidade entre as letras no interior
da palavra. Não pode haver interrupções, pois os espaços vazios no decorrer da linha indi-
cam fronteiras de palavras! Outra consideração importante é a distinção entre maiúsculas e
minúsculas (veja o guia para uso de maiúscula e minúscula a seguir). Em relação à letra de
fôrma, por não haver continuidade entre as letras, é importante que as letras sejam produzi-
das com uma proximidade suficiente para não haver fusão de letras e para não se interpretar
fronteira de palavra. A distinção entre maiúsculas e minúsculas, no caso da letra de fôrma, é
também muito importante. Por haver semelhança de forma entre minúscula e maiúscula, a
dimensão vertical da letra é o que trará a distinção maiúscula-minúscula.
Destaco que as bancas examinadoras consideram, além de falha de Apresentação e Es-
trutura Textual, erro de ortografia a não distinção entre maiúscula e minúscula.
Apresento, a seguir, um guia para uso de minúsculas e maiúsculas.

 Obs.: O uso de minúsculas e maiúsculas deve seguir os seguintes critérios:


 A letra minúscula inicial é usada:
 (i) ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes;

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 (ii) nos nomes dos dias, meses, estações do ano (por exemplo, segunda-feira, outu-
bro, primavera);
 (iii) nos bibliônimos (após o primeiro elemento, que é com maiúscula, os demais vocá-
bulos podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos,
tudo em grifo): O senhor do Paço de Ninães ou O senhor do paço de Ninães, Menino
de Engenho ou Menino de engenho;
 (iv) nos usos de fulano, sicrano, beltrano;
 (v) nos pontos cardeais (mas não nas suas abreviaturas): norte, sul (mas SW = sudoeste);
 (vi) nos axiônimos1 e hagiônimos2 (opcionalmente, nesse caso, também com maiús-
cula): senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o cardeal Bembo;
santa Filomena (ou Santa Filomena);
 (vii) nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas (opcionalmen-
te, também com maiúscula): português (ou Português).
 A letra maiúscula inicial é usada:
 (i) nos antropônimos, reais ou fictícios: Pedro Marques, Branca de Neve;
 (ii) nos topônimos, reais ou fictícios: Lisboa, Atlântida;
 (iii) nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor, Netuno;
 (iv) nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias da
Previdência Social;
 (v) nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão;
 (vi) nos títulos de periódicos, que retêm o itálico: O Estado de São Paulo;
 (vii) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas
com maiúsculas, iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúscula: FAO, ONU, Sr.,
V. Exª.

Para encerrar esta seção, é preciso considerar a noção de rasura.


A minha orientação é simples: ao errar uma palavra (ou sinal gráfico: pontuação e acen-
tuação), passe um traço simples sobre a palavra registrada incorretamente e escreva a forma
correta em seguida:
1
Nome ou locução com que se presta reverência a determinada pessoa do discurso.
2
Designação comum às palavras ligadas a religião.

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razura rasura

O governo, aprovou o projeto.

Caso você perceba o erro após ter concluído a frase, registre a forma correta acima da palavra.

concluído

Caso você perceba o erro após ter comcluído a frase, registre a forma correta acima da palavra.

Evite danificar muito o seu texto, para torná-lo mais limpo. Veja um exemplo de texto sujo:

Outro aspecto a ser lembrado é o uso indevido do sinal de parênteses para isolar palavra

escrita incorretamente (ou que não se quer mais utilizar):

O sinal de parênteses é um sinal de pontuação (indica um isolamento sintático e semân-


tico mais completo dentro do enunciado). Assim, é importante evitá-lo nesse contexto.

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1.2. Respeito às Margens


Por margem entende-se o espaço em branco em volta das páginas de um material im-
presso. É o limite horizontal de sua folha de produção (lados esquerdo e direito):

Sei que essa seção sobre Respeito às margens parece desnecessária. Porém, há alguns
erros que devem ser considerados.
O primeiro dele diz respeito à translineação, que nada mais é do que o ato de passar de
uma linha para a outra, na escrita ou na impressão, ficando parte da palavra na linha superior
e o restante na seguinte. Na translineação faz-se o uso do hífen (-) e respeitam-se as regras
de separação silábica. Nesse sentido, é importante que você, estudante, evite separar pala-
vras como mais, pois etc., pois a banca registra tal desvio como erro ortográfico (haja vista
ser erro de separação silábica). Também é importante não ultrapassar a margem (bem como
deixar espaço muito grande entre a última palavra da linha e o limite à direita da margem).
Aquela habilidade (citada na introdução deste Capítulo) de calcular o espaço que cada pala-
vra ocupa na página é exigida aqui. Parece preciosismo, mas a margem é um aspecto a ser
considerado no quesito Apresentação e Estrutura Textual.

1.3. Indicação de Parágrafos


O parágrafo é a divisão do texto escrito, indicada pela mudança de linha, cuja função é
mostrar que as frases aí contidas mantêm maior relação entre si do que com o restante do
texto. Em textos jurídicos, o parágrafo é indicado pelo sinal (§), o qual é a junção de duas
letras esse (ss), cada esse equivalendo às iniciais da expressão Signum sectionis, cujo signi-
ficado é sinal de seção.

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Uma forma conhecida de se marcar o parágrafo é a de utilizar o polegar (esquerdo ou


direito) como referência. Posiciona-se o polegar no início da margem esquerda da folha de
produção e, a partir da extremidade à direita do polegar inicia-se o parágrafo. Os demais pa-
rágrafos do texto seguem o mesmo padrão (em termos métricos, +/- 2,5 centímetros).
Essa é apenas uma forma simples de fazer a marcação. Como referência visual, ilustro, na
imagem a seguir, a indicação do parágrafo.

Reforço, mais uma vez, que não estou subestimando a sua inteligência, estudante! Algu-
mas informações podem parecer básicas à primeira vista, mas muitos estudantes possuem
muita dificuldade em situar visualmente a organização espacial da folha de redação. E, é im-
portante lembrar, este é um curso para todos!
Para concluir a primeira parte, comento as orientações sobre os aspectos gráficos da pro-
va discursiva reguladas nos editais. Observe como as bancas são intransigentes em diversos
pontos (como a não substituição da folha de texto definitivo em caso de erro de preenchimen-
to do candidato).

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Primeiramente, afirma-se, nos editais, que será computado o número total de linhas efe-
tivamente escritas pelo candidato e que será desconsiderado, para efeito de avaliação, qual-
quer fragmento de texto que for escrito fora do local apropriado e/ou que ultrapassar 30 (trin-
ta) linhas (ou outro número, a depender do processo seletivo).
É explícita a orientação de que a prova discursiva deverá ser manuscrita, em letra legí-
vel, com caneta esferográfica de tinta preta, fabricada em material transparente, não sendo
permitida a interferência ou a participação de outras pessoas, salvo em caso de candidato a
quem tenha sido deferido atendimento especial para a realização das provas. Nesse caso, o
candidato será acompanhado por um fiscal devidamente treinado pela banca examinadora,
para o qual deverá ditar os textos, especificando oralmente a grafia das palavras e os sinais
gráficos de pontuação.
Os editais também afirmam que a folha de texto definitivo da prova discursiva não poderá
ser assinada, rubricada nem conter, em outro local que não o apropriado, qualquer palavra ou
marca que a identifique, sob pena de anulação da prova discursiva. Assim, a detecção de qual-
quer marca identificadora no espaço destinado à transcrição dos textos definitivos acarretará
a anulação da prova discursiva. Já presenciei, estudante, alguns casos em que o título produ-
zido pelo candidato anulou a produção, já que havia, no comando da prova discursiva, a orien-
tação expressão da não produção de título. Um descuido e meses de estudo vão embora...
É muito importante destacar, por fim, duas informações: (i) a folha de texto definitivo será
o único documento válido para avaliação da prova discursiva. Perceba que a folha para ras-
cunho no caderno de provas é de preenchimento facultativo e não valerá para tal finalidade
(avaliação da prova discursiva); e (ii) a folha de texto definitivo não será substituída por erro
de preenchimento do candidato.
Acredito que agora tenha ficado mais claro o porquê de tanta atenção ao aspecto Apre-
sentação e Estrutura Textual. Os prejuízos vão além da perda de pontuação. Os erros podem
causar a invalidação de sua prova.

2. Aspectos da Produção Textual

Esta parte da aula é o núcleo de conteúdo teórico de nosso curso. Com ela, quero fornecer
a você o material necessário para produzir um texto com eficiência e qualidade. Iniciaremos

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os trabalhos com a caracterização e a distinção das tipologias textuais. Seguiremos com o


aprofundamento do conteúdo argumentação, passando, em seguida, pelas noções de coe-
são e coerência textuais. Um conteúdo destaca-se nem nosso curso: O parágrafo. Ele será
o núcleo da produção textual. Em sequência, mostramos os principais tipos de organização
tópica, recurso muito eficiente de ordenar os argumentos de sua produção. Por fim, apresen-
tamos técnicas para criar ideias. Vamos adiante, então!

2.1. Tipologia Textual

Por tipologia textual (ou tipo textual) entende-se uma espécie de construção teórica de-
finida pela natureza linguística de sua composição (ou seja, os aspectos lexicais, sintáticos,
tempos verbais, relações lógicas, estilo).
Apresento, a título de caracterização e distinção, quatro tipologias importantes para a
produção textual: narração, descrição, dissertação e argumentação.
Para nossa aula, seguirei a classificação de Othon M. Garcia, o qual distingue a disser-
tação da argumentação. Para o autor, como veremos, uma e outra possuem características
próprias.
Por fim, resta dizer que, em sede de concurso público, a dissertação e a argumentação são
as tipologias predominantes (talvez exclusivas).

2.1.1. Narração

A narração é o ato de contar, relatar fatos, histórias. Neste ato, involuntariamente, respon-
demos às perguntas: o quê, onde, quem, como, quando, por quê. Nas histórias, há a presença
de personagens que praticam e/ou sofrem ações, ocorridas em um tempo e espaço físico. A
ação é obrigatória. Isso significa que não existe narração sem ação. O núcleo da narração é o
incidente, o episódio, e o que a distingue da descrição é a presença de personagens atuantes.
Veja-se o trecho abaixo, em que Sahrazad narra uma história ao rei:

Disse Sahrazad: conta-se, ó rei venturoso, de parecer bem orientado, que certo mercador vivia em
próspera condição, com abundantes cabedais, dadivosos, proprietário de escravos e servos, de vá-
rias mulheres e filhos; em muitas terras ele investira, fazendo empréstimos ou contrariando dívidas. Em

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dada manhã, ele viajou para um desses países: montou um de seus animais, no qual pendurara um
alforje com bolinhos e tâmaras que lhe serviriam como farnel, e partiu em viagem por dias e noites,
e Deus já escrevera que ele chegaria bem e incólume à terra para onde rumava; [...].
(Livro das mil e uma noites – volume I – ramo sírio)

2.1.2. Descrição

A descrição é o ato de enumerar, sequenciar, listar características de seres, objetos ou


espaços com o objetivo de formar uma imagem mental no leitor/ouvinte. As características
podem ser físicas e/ou psicológicas (no caso de seres ou elementos antropomórficos).
Descrever é representar verbalmente um objeto, uma pessoa, um lugar, mediante a indi-
cação de aspectos característicos, de pormenores individualizantes. Requer observação cui-
dadosa, para tornar aquilo que vai ser descrito um modelo inconfundível. Não se trata de enu-
merar uma série de elementos, mas de captar os traços capazes de transmitir uma impressão
autêntica. Descrever é mais que apontar, é muito mais que fotografar. É pintar, é criar. Por isso,
impõe-se o uso de palavras específicas.
Veja-se a descrição a seguir, em que Tchekhov descreve uma paisagem:

Depois das propriedades dos camponeses, começava um barranco abrupto e escarpado, que ter-
minava no rio; aqui e ali, no meio da argila, afloravam pedras enormes. Pelo declive, perto das
pedras e das valas escavadas pelos ceramistas, corriam trilhas sinuosas, entre verdadeiras monta-
nhas de cacos de louça, ora pardos, ora vermelhos, e lá embaixo se estendia um prado vasto, plano,
verde-claro, já ceifado, onde agora vagava o rebanho de camponeses.
(Anton Tchekhov. O assassinato e outras histórias)

2.1.3. Dissertação

A dissertação tem por objetivo principal expor ou explanar, explicitar ou interpretar ideias,
fatos, fenômenos. Na dissertação, apresentamos o que sabemos ou acreditamos saber a res-
peito de determinado assunto. Nessa exposição, podemos apresentar, sem combater (argu-
mentar), ideias de que discordamos ou que nos são indiferentes. Ou seja, eu posso discorrer
(dissertar) sobre partidos políticos com absoluta isenção, apresentado os diversos partidos
políticos em totalidade, dando deles a ideia exata, fiel, sem tentar convencer o meu leitor das
qualidades ou falhas de partido A ou B. Não procuro, nesse caso, formar a opinião de meu lei-
tor; ao contrário, deixo-o em inteira liberdade de se decidir por se filiar a determinado partido.

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No excerto a seguir, de Gilberto Amado, observamos que o autor apenas mostra certas
características do Brasil. Não há, em nenhuma parte do texto, recursos argumentativos que
visam ao convencimento do leitor (característica da argumentação). Observe:

No seu aspecto exterior, na sua constituição geográfica, o Brasil é um todo único. Não o separa
nenhum lago interior, nenhum mar mediterrâneo. As montanhas que se erguem dentro dele, em
vez de divisão, são fatores de unidade. Os seus rios prendem e aproximam as populações entre si,
assim os que correm dentro do país como os que marcam fronteiras.
Por sua produção e por seu comércio, é o Brasil um dos raros países que se bastam em si mesmos,
que podem prover ao sustento e assegurar a existência de seus filhos. De norte a sul e de leste a
oeste, os brasileiros falam a mesma língua quase sem variações dialetais. Nenhuma memória de
outros idiomas subjacentes na sua formação perturba a unidade íntima da consciência do brasilei-
ro na enunciação e na comunicação do seu pensamento e do seu sentimento.
(Gilberto Amado. Três livros)

2.1.4. Argumentação

Na argumentação, procuramos formar a opinião do leitor ou ouvinte, objetivando conven-


cê-lo de que a razão (o discernimento, o bom senso, o juízo) está conosco, de que nós é que
estamos de posse da verdade.
Caso eu seja filiado a determinado partido político e produza um texto em que objetivo
demonstrar, comprovar as vantagens, a conveniência, a coerência, a qualidade, a verdade de
meu partido (em oposição aos demais), estou argumentando. Em suma, argumentar é con-
vencer ou tentar convencer mediante a apresentação de razões, em face da evidência de pro-
vas e à luz de um raciocínio coerente e consistente.
O texto a seguir, de autoria de Sérgio Buarque de Holanda, é um exemplar de texto ar-
gumentativo. Perceba que o autor se posiciona em relação aos fatos e defende uma tese. O
autor claramente procura convencer o leitor.

O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agru-
pamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo. Não existe,
entre o círculo familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade e até uma opo-
sição. A indistinção fundamental entre as duas formas é prejuízo romântico que teve os seus adep-
tos mais entusiastas durante o século décimo nono. De acordo com esses doutrinadores, o Estado
e as suas instituições descenderiam em linha reta, e por simples evolução da Família. A verdade,
bem outra, é que pertencem a ordens diferentes em essência. Só pela transgressão da ordem do-
méstica e familiar é que nasce o Estado e que o simples indivíduo se faz cidadão, contribuinte,

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eleitor, elegível, recrutável e responsável, ante as leis da Cidade. Há nesse fato um triunfo do geral
sobre o particular, do intelectual sobre o material, do abstrato sobre o corpóreo e não uma depura-
ção sucessiva, uma espiritualização de formas mais naturais e rudimentares, uma procissão das
hipóstases, para falar como na filosofia alexandrina. A ordem familiar, em sua forma pura, é abolida
por uma transcendência.
(Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil)

Para finalizar esta seção, diferencio, de maneira simplória, Prosa e Poema.

2.1.5. Distinção entre Prosa e Poema

Por Prosa entende-se a expressão natural da linguagem escrita ou falada, sem metrifi-
cação intencional e não sujeita a ritmos regulares. No texto escrito, observamos o texto em
Prosa quando há organização em linha corrida, ocupando toda a extensão da página. Há,
também, organização em parágrafos, os quais apresentam certa unidade de sentido. Esta
obra é organizada, por exemplo, em prosa.
Já o poema é uma composição literária em que há características poéticas cuja temática
é diversificada. O poema apresenta-se sob a forma de versos. O verso é cada uma das linhas
de um poema e caracteriza-se por possuir certa linha melódica ou efeitos sonoros, além de
apresentar unidade de sentido. O conjunto de versos equivale a uma estrofe. Há diversas
maneiras de se dispor graficamente as estrofes (e os versos) – e isso dependerá do período
literário a que a obra se filia e à criatividade do autor. Veja dois exemplos:

(Azeredo)
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
(Ricardo Reis)

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O objetivo deste tópico foi o de apresentar, a título de caracterização e distinção, as qua-


tro tipologias mais importantes para a produção textual: narração, descrição, dissertação e
argumentação. É importante, portanto, que você saiba as características de cada uma, para
não incorrer em inadequações de tipologia textual em sua prova.
Na continuação da aula, veremos com mais detalhes os elementos do texto argumentati-
vo (também baseado no trabalho de Othon M. Garcia).

2.2. Argumentação

2.2.1. Condições da argumentação

A argumentação deve ser construtiva, cooperativa e útil. Deve basear-se, antes de tudo,
nos princípios da lógica. A argumentação deve lidar com ideias, princípios ou fatos.

2.2.2. Consistência dos argumentos – evidências

A argumentação é fundamentada em dois elementos principais: a consistência do racio-


cínio e a evidência das provas. Tratamos, nesta seção, do segundo aspecto: a evidência das
provas.
Há cinco tipos mais comuns de evidência das provas: os fatos, os exemplos, as ilustra-
ções, os dados estatísticos e o testemunho. Vamos conhecer cada um em síntese:

 Obs.: Os fatos
 Os fatos constituem o elemento mais importante da argumentação (bem como da
dissertação).
 É possível afirmar que só os fatos provam, convencem. Porém, é importante lembrar
que nem todos os fatos são irrefutáveis. O valor de prova de certos fatos está sujeito
à evolução da ciência, da técnica e dos próprios conceitos utilizados.
 É claro que há fatos que são evidentes ou notórios. Esses são os que mais provam.
Afirmar que no Brasil há desigualdade social é um fato, por exemplo.
 Os exemplos

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 Os exemplos são caracterizados por revelar fatos típicos ou representativos de deter-


minada situação. O fato de o motorista Fulano de Tal ter uma jornada de trabalho de
12 horas diárias é um exemplo típico dos sacrifícios a que estão sujeitos esses pro-
fissionais, revelando uma das falhas do setor de transporte público.
 As ilustrações
 A ilustração ocorre quando o exemplo se alonga em narrativa detalhada e entremeada
de descrições. Observe que a ilustração é um recurso utilizado pela argumentação.
Não deve, portanto, ser o centro da produção.
 Imagine um texto argumentativo que procura comprovar, por evidência, a falta de pla-
nejamento habitacional em algumas cidades serranas. Nessas cidades, há constru-
ções irregulares próximas a encostas. Essas encostas ficam frágeis em épocas chu-
vosas. É possível, assim, ilustrar essa situação com um caso hipotético ou real. No
caso da ilustração hipotética, é necessário que haja verossimilhança e consistência
no relato. Registro que o valor de prova da ilustração hipotético é muito relativo.
 Um caso real, o qual pode ser citado no texto-exemplo, é o da família do lavrador
Francisco Edézio Lopes, de 46 anos. Edézio e seus familiares, moradores do distrito
de Jamapará, em Sapucaia, no centro sul-fluminense, procuraram abrigo no carro
durante o temporal e acabaram arrastados pela enxurrada. Todos morreram.
 Observe, mais uma vez, que a ilustração tem a função de ilustrar a tese e deve ser
clara, objetiva, sintomática e obviamente relacionada com a proposição.
 Os dados estatísticos
 Os dados estatísticos também são fatos, mas possuem uma natureza mais especí-
fica e possuem grande valor de convicção, constituindo quase sempre prova ou evi-
dência incontestável. Quanto mais específico e completo for o dado, melhor.
 Ademais, é importante que haja fonte, pois os dados não surgem naturalmente. Assim,
afirmar que o índice de analfabetismo por raça no Brasil é de 14% para os negros e
6,1% para os brancos é diferente de afirmar que a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
em 2007, revela que índice de analfabetismo por raça no Brasil é de 14% para os
negros e 6,1% para os brancos. A segunda proposição é mais convincente, pois há
referência explícita à fonte.

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 O testemunho
 A evidência por testemunho é composta por uma afirmação fundamentada, por um
depoimento, uma comprovação. É um fato trazido à composição por intermédio de
terceiros. O testemunho por autoridade é um recurso que possui alto valor de prova.
Se, em minha produção, defendo que o sistema de transporte público no Brasil pre-
cisa de planejamento estratégico (longo prazo), posso trazer a voz (realizações, pro-
postas, ideias) de uma autoridade no assunto. No caso do tema proposto (transporte
público), posso citar as propostas de Jaime Lerner, arquiteto e urbanista brasileiro
que propôs a abertura de vias exclusivas para os ônibus urbanos na cidade de Curiti-
ba-PR, na década de 70.

2.2.3. A proposição

Por proposição entende-se a expressão linguística de uma operação mental (o juízo) com-
posta de sujeito, verbo (sempre redutível ao verbo ser) e atributo. Toda proposição é passível
de ser verdadeira ou falsa. A frase a seguir é uma proposição:

O sistema educacional no Brasil é ineficiente.

Segundo os critérios de produção textual, a proposição deve ser clara, definida, inconfun-
dível quanto ao que se afirma ou nega. Outro fator indispensável é o fato de que toda propo-
sição tem de ser argumentável. Isso quer dizer que frases como

Todo homem é mortal.

não são argumentáveis, pois essa afirmação é uma verdade universal, indiscutível, in-
contestável.
É indicado, também, que a proposição seja afirmativa e suficientemente específica para
permitir uma tomada de posição contra ou a favor. Não é possível argumentar sobre genera-
lidades como:

A maioridade penal
O SUS

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Proposições vagas ou inespecíficas não permitem tomada de posição. Assim, apenas a


dissertação (isto é, explanação ou interpretação) cabe a esses temas. Caso se queira realizar
uma argumentação, faz-se necessário delimitá-las e apresentá-las em termos de tomada de
posição, como em:

Deficiências do SUS na promoção de ações de preventivas à população

Assim, a proposição acima é passível de argumentação, pois admite divergência de opi-


niões (O Ministro da Saúde – José Padilha – terá uma opinião diferente da apresentada por
um paciente, o qual escreveu o texto com o título Deficiências do SUS na promoção de ações
de preventivas à população).
Observe, por fim, a importância de o autor do texto definir, logo de início, a sua posição de
maneira inequívoca (isto é, de modo que o leitor saiba exatamente o que se pretende provar).
No caso do título sobre o SUS, sabe-se que o autor procurará demonstrar as deficiências do
SUS no que concerne à promoção de ações preventivas da população.

2.2.4. A formulação dos argumentos

Agora chegou a hora de elaborar os argumentos. Esse é aquele estágio em que o autor
apresenta as provas ou as razões, a fundamentação (suporte) das suas ideias. Nesse ponto,
é importante que o autor se lembre de que só os fatos provam. Estamos tratando, aqui, de fa-
tos em um sentido mais amplo: exemplos, estatísticas, ilustrações, comparações, descrições,
narrações etc. E, claro, os fatos devem apresentar condições de fidedignidade, autenticidade,
relevância e adequação.

2.2.5. A conclusão

A conclusão da argumentação “surge” naturalmente das provas apresentadas, dos argu-


mentos utilizados. A conclusão é caracterizada por ser um arremate (isto é, o último detalhe
para finalizar ou concluir algo) – por isso, não é uma simples recapitulação ou mero resumo.
A conclusão consiste, desse modo, em pôr em termos claros a essência da proposição e a sua
comprovação, realizada por meio dos argumentos.

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2.2.6. A estrutura (ou Plano-padrão) da argumentação

Em nossa segunda aula, discutiremos as estratégias para o planejamento da Produção


Textual. Por ora, apresento uma estrutura simples da argumentação. Esse esquema é o “es-
queleto” da sua produção.

 Obs.: 1. Proposição
 Orientações sobre a proposição:
 (i) deve ser afirmativa, suficientemente definida e limitada;
 (ii) não deve conter em si mesma nenhum argumento (isto é, prova ou razão).
 2. Formulação dos argumentos (evidência)
 As evidências das provas podem ser:
 (i) fatos;
 (ii) exemplos;
 (iii) ilustrações;
 (iv) dados estatísticos;
 (v) testemunho.
 3. Conclusão
 A conclusão deve:
 (i) ser um arremate;
 (ii) pôr em termos claros a essência da proposição e a sua comprovação, realizada
por meio dos argumentos.

Para concluir este momento da aula, reproduzo o conhecido Sermão da Sexagésima, de


padre Antônio Vieira (1655). O autor expõe o caminho a se conduzir para se produzir uma
argumentação eficaz:

Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que se conheça, há de dividi-la para
que se distinga, há de prová-la com a Escritura3, há de declará-la com razão, há de confirmá-la com
o exemplo, há de amplificá-la com as causas, os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências
3
Padre Antônio Vieira refere-se ao sermão, que é, em essência, argumentação. Por isso a referência às Escrituras (conjunto
de livros da Bíblia).

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que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar; há de responder às dúvidas, há
de satisfazer as dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argu-
mentos contrários, e depois disso há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de
acabar.
(Padre Antônio Vieira, Sermão da Sexagésima)

2.3. Coerência e Coesão Textuais


Quando falamos em Coerência textual devemos ter em mente a noção de Integração:

Integração é o conjunto de procedimentos necessários à articulação significativa das unidades de


informação do texto em função de seu significado global.
(Azeredo, 2008)

É a partir da integração que as frases que compõem o texto se distribuem e se concate-


nam a fim de realizar uma combinação aceitável (possível, plausível) de conteúdos. Quando a
articulação significativa depende de algum conhecimento externo (por exemplo, a cultura dos
interlocutores e a situação comunicativa), a integração recebe o nome de Coerência.
Isso quer dizer que, em um nível intratextual (nível interno ao texto), as partes do texto
(frases, períodos, parágrafos etc.) devem ser solidárias entre si (isto é, estar integradas), para
assim se chegar ao significado global do texto.
Em um nível externo ao texto (cuja construção de sentido está relacionada aos conheci-
mentos de mundo do produtor e receptor do texto), a articulação significativa depende da “nor-
malidade” consensual do funcionamento das coisas do mundo (isto é, devem ser coerentes).
Parece-nos claro que as noções de integração e de coerência estão diretamente interliga-
das: não se atinge a coerência sem haver a integração das partes do texto.
Todas as informações contidas em um texto são distribuídas e organizadas em seu in-
terior graças ao emprego de certos recursos léxicos e gramaticais (conjunções, preposições,
pronomes, pontuação etc.). Esses recursos são utilizados em benefício da expressão do sen-
tido e de sua compreensão. Vejamos um exemplo:

Contratei quatro pedreiros; eles vieram esta manhã para orçar o serviço.

Nessa frase, verificamos o uso da forma pronominal eles (terceira pessoal do plural) e
a flexão verbal vieram. A forma eles vieram faz referência a outro elemento, presente na primeira

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oração (Contratei quatro pedreiros). Sabemos que a forma pronominal eles refere-se ao sin-
tagma nominal quatro pedreiros.
A esse processo de sequencialização que assegura (ou torna recuperável) uma ligação
linguística significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual damos o nome
de Coesão textual.
Ambos os processos (coerência e coesão) são muito, mas muito importantes mesmo!
Veremos, em outro momento do curso, como o processo de coesão textual será aplicado em
sua produção textual.
Antes desses tópicos, gostaria de abordar, brevemente, a noção de Intertextualidade.

2.4. Intertextualidade
Segundo o Dicionário de análise do discurso, Intertextualidade é uma propriedade consti-
tutiva de qualquer texto e o conjunto das relações explícitas ou implícitas que um texto ou um
grupo de textos determinado mantém com outros textos.
Podemos afirmar que hoje há um consenso quanto ao fato de se admitir que todos os
textos comungam (dialogam) com outros textos; quer dizer, não existem textos que não man-
tenham algum aspecto intertextual, pois nenhum texto se acha isolado e solitário.
Quando produzimos um texto, sempre faremos referência a alguma outra forma de texto
(um discurso, um documentário, uma reportagem, uma obra literária, uma notícia etc.). Em
nossa produção ocorre, portanto, a relação de um texto com outros textos previamente exis-
tentes, isto é, efetivamente produzidos.
Vejamos, em síntese, dois tipos de Intertextualidade (Koch, 1991):

 Obs.: (i) intertextualidade explícita: como no caso de citações, discursos diretos, referên-
cias documentadas com a fonte, resumos, resenhas. Esse tipo de intertextualidade é
utilizado em textos acadêmicos e não ocorre com frequência em textos dissertativos/
argumentativos (em sede de concurso público). Não é comum, por exemplo, decorar
toda uma passagem de um texto teórico e reproduzi-la em sua redação, citando a
referência bibliográfica com o número da página da obra-fonte;
 (ii) intertextualidade com textos próprios, alheios ou genéricos: alguém pode muito
bem situar-se numa relação consigo mesmo e aludir a seus textos, bem como citar
textos sem autoria específica como os provérbios.

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O mais comum, em concurso público, é uma espécie de intertextualidade discursiva, a


qual é implícita. Quando lemos as coletâneas de textos que antecedem o tema, procura-se
evocar alguns conhecimentos do candidato. Esses conhecimentos evocados são as referên-
cias intertextuais, pois houve uma diversidade de leitura realizada pelo candidato anterior-
mente ao momento da realização da prova de concurso.
A banca examinadora é explícita quanto ao uso da coletânea: não pode haver reprodução
dos textos da coletânea (ou seja, deve-se evitar a intertextualidade explícita). O exame de se-
leção procura identificar, no candidato, as referências culturais, econômicas, políticas, sociais
adquiridas ao longo de sua formação como cidadão, como profissional. A intertextualidade
implícita é aquela que dialoga, discursivamente, com o que foi produzido sobre o assunto.
Assim, fica claro que o candidato deve lançar mão de muita leitura. (Isso é muito importante:
leia muito! E leia de tudo: literatura, reportagens, artigos, notícias, leis etc.).

2.5. O Parágrafo
Agora apresentaremos o parágrafo, o qual será tratado como unidade básica de compo-
sição de sua redação discursiva. Isso significa que podemos estruturar (organizar) a nossa
produção (composição) a partir da medida do parágrafo.

2.5.1. Conceito

Segundo Othon M. Garcia, em sua obra Comunicação em Prosa Moderna, o parágrafo é


uma unidade de composição constituída por um ou mais de um período, em que se desenvol-
ve determinada ideia central, nuclear, à qual se agregam outras, denominadas secundárias, as
quais são intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes delas. Vejamos
essa lição em uma ilustração:

O parágrafo como unidade de composição

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Esse conceito de parágrafo aplica-se à produção textual dita padrão, regular. Pode haver,
a depender do gênero textual, da natureza da produção e sua complexidade, diferentes for-
mas de organização do parágrafo. Para os nossos objetivos – a produção de uma redação
discursiva em contexto de concurso público – a organização do parágrafo aqui apresentada
é, sem dúvida, a mais eficaz.

2.5.2. Estrutura

O parágrafo é materialmente indicado na página pelo pequeno afastamento da margem


esquerda da folha. Essa distinção gráfica do parágrafo é significativa, pois facilita ao escritor
a tarefa de isolar e depois ajustar convenientemente as ideias principais de sua composição,
permitindo ao leitor acompanhar-lhes o desenvolvimento nos seus diferentes estágios. Caso
queira saber um pouco mais sobre as propriedades gráficas da indicação do parágrafo, retor-
ne ao início da aula (Indicação de parágrafos).
Uma dúvida que surge quando estudamos a composição do parágrafo é a sua extensão.
Muitos estudantes perguntam aos seus professores a extensão correta do parágrafo. Nós,
professores, gostaríamos de apresentar uma resposta pronta, do tipo: de 4 a 7 linhas. Mas
isso não é possível, pois a extensão do parágrafo depende de outro fator: a natureza de sua
ideia central.
Se a produção textual trata de um assunto cuja complexidade exige que o desenvolvimen-
to de determinada ideia central seja desdobrado em mais de um parágrafo, isso é justificado.
Do mesmo modo, essa mesma ideia central (de grande complexidade) pode ser desenvolvida
em um único parágrafo, o qual terá uma extensão maior em relação à composição com pará-
grafos desdobrados (divididos). Percebemos, então, que a extensão do parágrafo dependerá
da natureza de sua ideia central (se complexa ou simples) e do tratamento do escritor em
relação à sua divisão.

2.5.3. O Tópico Frasal

Na segunda aula de nosso curso (Recursos gramaticais para a produção textual), apre-
sentaremos algumas noções gramaticais que retomarão a noção de tópico frasal, explicitando a

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sua natureza gramatical. Vejamos, agora, o que caracteriza o tópico frasal e como o domínio
de sua estrutura facilita a composição do parágrafo – e, consequentemente, do texto.
O parágrafo, à semelhança da redação dissertativa, organiza-se em introdução, desenvol-
vimento e conclusão:
• a introdução é composta, na maioria dos casos, por dois períodos curtos iniciais. Nes-
ses períodos, há a expressão, de maneira sumária e sucinta, da ideia núcleo – é o que
chamamos de tópico frasal. Na obra Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda nos
apresenta o seguinte tópico frasal:

O Estado não é uma ampliação do círculo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agru-
pamentos, de certas vontades particularistas, de que a família é o melhor exemplo.

Nele, observamos a declaração sobre o que (não) caracteriza o Estado. Ao enunciar logo de
saída a ideia-núcleo, o autor garante, por meio do tópico frasal explícito, a objetividade, a coe-
rência e a unidade do parágrafo, definindo-lhe o propósito e evitando digressões impertinentes;
• no desenvolvimento há a explanação mesma da ideia-núcleo. Não se pode omitir, no
desenvolvimento, algo que foi apresentado no tópico frasal. Também é pertinente não
desenvolver novas ideias (secundárias) sem haver correlação direta com a ideia-núcleo;
• a conclusão, dentro do parágrafo, é mais rara, principalmente nos parágrafos mais cur-
tos e naqueles em que a ideia central não apresenta maior complexidade.

Após apresentar a estrutura básica do parágrafo, vejamos esquematicamente as diferen-


tes maneiras de se produzir o tópico frasal:

Forma de produzir o tópico frasal Exemplo


Declaração inicial: o autor afirma ou nega O Estado não é uma ampliação do círculo familiar
alguma coisa logo de início. Em seguida e, ainda menos, uma integração de certos agrupa-
(no desenvolvimento), apresenta argu- mentos, de certas vontades particularistas, de que a
mentos para fundamentar a asserção. família é o melhor exemplo.
Definição: é método preferentemente Estilo é a expressão literária de ideias ou sentimen-
didático e faz uso da linguagem denota- tos.
tiva.
Divisão: também é processo didático. O silogismo divide-se em silogismo simples e silo-
Apresenta o tópico frasal sob a forma gismo composto.
de divisão ou discriminação das ideias a
serem desenvolvidas.

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Em sua redação discursiva, recomendo o uso da declaração inicial, a qual deve ser de-
senvolvida, preferencialmente, em voz ativa, na ordem direta, na modalidade afirmativa e em
períodos curtos (conferir a segunda aula).

2.5.4. Formas de Desenvolvimento do Parágrafo

No desenvolvimento do parágrafo explanamos a ideia principal, apresentada no tópico


frasal. Devemos, no desenvolvimento do parágrafo, fundamentar de maneira clara e convin-
cente as ideias que defendemos ou expomos. Apresentamos, a seguir, seis formas de desen-
volver o parágrafo. É bom que você, estudante, conheça cada uma, pois isso proporcionará
mais autonomia em sua produção.

Forma de desenvolver o parágrafo Características


Enumeração ou descrição de detalhes Ocorre quando há a especificação da ideia-
-núcleo por meio da apresentação de porme-
nores, detalhes.
Confronto O confronto é caracterizado quando há o con-
traste (baseado nas dessemelhanças) e o
paralelo (baseado nas semelhanças).
Há, ainda, a antítese (oposição de ideias isola-
das) e a analogia (semelhança entre ideias ou
cosias, procurando explicar o desconhecido
pelo conhecido, o estranho pelo familiar).
Analogia e comparação A analogia caracteriza-se por ser uma seme-
lhança parcial que sugere uma semelhança
oculta, mais completa.
Na comparação, as semelhanças são reais,
sensíveis.
Citação de exemplos Pode ser didática, em que a citação de exem-
plos assume uma forma de comprovação ou
elucidação.
Causação e motivação Pode-se apresentar sob a forma de razões e
consequências ou causa e efeito.
Definição Como já dissemos, é um método preferente-
mente didático e faz uso da linguagem deno-
tativa. A definição é feita de acordo com o
tópico frasal, havendo a natural ampliação que
é típica do desenvolvimento.

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2.5.5. Coesão entre as Ideias do Parágrafo e entre Parágrafos

Precisamos, agora, juntar as peças, ou seja, reunir os períodos dentro do parágrafo (in-
traparagrafal) e os parágrafos dentro do texto (interparagrafal). Não podemos apenas lançar
uma frase após a outra e um parágrafo após o outro; precisamos cuidar da transição entre as
ideias, da conexão entre elas. Para interligá-las, temos de fazer uso das partículas de tran-
sição e palavras de referência. Adotaremos o quadro proposto por Othon M. Garcia, em sua
obra Comunicação em Prosa Moderna.

Itens de transição e palavras de referência Exemplo


(i) Prioridade, relevância: Em primeiro lugar, é preciso deixar bem claro que
em primeiro lugar, antes de mais nada, primeira- esta série de exemplos não é completa, principal-
mente, acima de tudo, precipuamente, mormente, mente no que diz respeito às locuções adverbiais.
principalmente, primordialmente, sobretudo;
(ii) Tempo (frequência, duração, ordem, sucessão, Finalmente, é preciso acrescentar que alguns
anterioridade, posterioridade, simultaneidade, even- desses exemplos se revelam por vezes um pouco
tualidade): ingênuos. A princípio, nossa intenção era omiti-
então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo -los para não alongar este tópico: mas, por fim,
após, a princípio, pouco antes, pouco depois, ante- nos convencemos de que as ilustrações são fre-
riormente, posteriormente, em seguida, afinal, por quentemente mais úteis do que as regrinhas.
fim, finalmente, agora, atualmente, hoje, frequente-
mente, constantemente, às vezes, eventualmente,
por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não
raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse
ínterim, nesse meio tempo, enquanto isso – e as
conjunções temporais;
(iii) Semelhança, comparação, conformidade: No exemplo anterior (valor anafórico), o pronome
igualmente, da mesma forma, assim também, do demonstrativo “desses” serve igualmente como
mesmo modo, similarmente, semelhantemente, partícula de transição: é uma palavra de referên-
analogamente, por analogia, de maneira idêntica, de cia à ideia anteriormente expressa. Da mesma
conformidade com, de acordo com, segundo, con- forma, a repetição de “exemplos” ajuda a interli-
forme, sob o mesmo ponto de vista – e as conjun- gar os dois trechos. Também o adjetivo “anterior”
ções comparativas; funciona como palavra de referência. “Também”
expressa aqui semelhança. No exemplo seguinte
(valor catafórico), indica adição.
(iv) Adição, continuação: Além das locuções adverbiais indicadas na coluna
além disso, (a)demais, outrossim, ainda mais, ainda à esquerda, também as conjunções aditivas, como
por cima, por outro lado, também – e as conjunções o nome indica, “ligam, ajuntando”.
aditivas (e, nem, não só... mas também etc.)

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(v) Dúvida: O leitor ao chegar até aqui – se é que chegou –


talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem talvez já tenha adquirido uma ideia da relevância
sabe? é provável, não é certo, se é que; das partículas de transição.
(vi) Certeza, ênfase: Certamente, o autor destas linhas confia demais
de certo, por certo, certamente, indubitavelmente, na paciência do leitor ou duvida demais do seu
inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, senso crítico.
com toda a certeza;
(vii) Ilustração, esclarecimento: Essas partículas, ditas “explicativas”, vêm sempre
por exemplo, isto é, quer dizer, em outras palavras, entre vírgulas, ou entre uma vírgula e dois-pontos.
ou por outra, a saber;
(viii) Propósito, intenção, finalidade:
com o fim de, a fim de, com o propósito de, proposi-
talmente, de propósito, intencionalmente – e as con-
junções finais;
(ix) Resumo, recapitulação, conclusão: Em suma, leitor: as partículas de transição são
em suma, em síntese, em conclusão, enfim, em indispensáveis à coerência entre as ideias e, por-
resumo, portanto; tanto, à unidade do texto.
(x) Causa e consequência:
daí, por consequência, por conseguinte, como resul-
tado, por isso, por causa de, em virtude de, assim, de
fato, com efeito – e as conjunções causais, conclu-
sivas e explicativas;
(xi) Contraste, oposição, restrição, ressalva:
pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto,
menos – e as conjunções adversativas e concessi-
vas;
(xii) Referência em geral: Este caso exige ainda esclarecimentos. Com refe-
os pronomes demonstrativos “este” (o pais próximo), rência a tempo passado (ano, mês, dia, hora) não
“aquele” (o mais distante), “esse” (posição interme- se deve empregar este, mas “esse” ou “aquele”.
diária; o que está perto da pessoa com quem se “Este ano choveu muito. Dizem os jornais que as
fala); os pronomes pessoais; repetições da mesma tempestades e inundações foram muito violentas
palavra, de um sinônimo, perífrase ou variante sua; em certas regiões do Brasil.” (A transição neste
os pronomes adjetivos último, penúltimo, antepe- último exemplo se faz pelo emprego de sinôni-
núltimo, anterior, posterior; os numerais ordinais mos ou equivalentes de palavras anteriormente
(primeiro, segundo etc.). expressas (choveu): tempestades e inundações.)

O meu conselho é que você, estudante, consulte este quadro constantemente quando
praticar a sua escrita. Troque os itens de transição e palavras de referência para conhecê-los
melhor. A prática trará mais riqueza vocabular.

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2.5.6. Síntese sobre a Produção do Parágrafo

Apresentamos, a seguir, uma síntese sobre a produção do parágrafo:

 Obs.: (i) use, sempre que possível, o tópico frasal (ideia-núcleo) explícito;
 (ii) evite pormenores impertinentes, acumulações e redundâncias;
 (iii) frases entrecortadas frequentemente prejudicam a unidade do parágrafo; selecio-
ne as mais importantes e transforme-as em orações principais de períodos curtos;
 (iv) o desenvolvimento da mesma ideia-núcleo não deve fragmentar-se em vários
parágrafos;
 (v) em sua redação discursiva, recomendo o uso da declaração inicial, a qual deve ser
desenvolvida, preferencialmente, em voz ativa, na ordem direta, na modalidade afir-
mativa e em períodos curtos.

2.6. Organização Tópica


Vejamos as formas de se organizar o tópico discursivo (apoiados no trabalho do profes-
sor Marcuschi).
No texto escrito, é necessário um processo enunciativo mais calculado, na base de supo-
sições sociocognitivas e planejamento de maior alcance. Assim, deve haver uma distribuição
calculada (planejada) da informação na frase. Vejamos, então, quais são os componentes
informacionais da frase:

 Obs.: - tema: traz a informação sobre a qual é falado, ou seja, a informação dada;
 - rema: traz o que se diz sobre o tema, conhecida como informação nova.

O tema (também chamado tópico ou dado) traz a informação dada ou relativamente co-
nhecida e o rema traz a informação relativamente nova ou desconhecida, tendo em vista o
caráter informacional do fluxo comunicativo.
Apresentaremos cinco estruturas básicas de progressão (ou seja, a relação entre o tema e
o rema na construção textual mediante o fluxo da informação). O domínio desses esquemas
(estruturas) por parte do escritor é fundamental para a articulação eficaz das ideias no texto.

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Por fim, lembramos que não há predomínio absoluto de uma forma de progressão (se-
quenciação) em um texto. No geral, as formas de progressão aparecem misturadas com o
predomínio (não absoluto) de uma dessas formas.
Em síntese, devemos ter em mente que, em relação ao assunto Organização tópica, os
textos progridem em suas subunidades de maneira ordenada e não caótica; e conhecer esses
recursos é importante para a produção textual eficaz.

2.6.1. Progressão Linear Simples

Exemplo de 2.6.1. (Progressão linear simples):


A fonologia estuda os fonemas de uma língua. Os fonemas são as unidades componenciais
mínimas de qualquer sistema linguístico. Todo sistema linguístico tem pelo menos entre vinte
e sessenta sons. Estes sons...

2.6.2. Progressão com um Tema Contínuo

Exemplo de 2.6.2. (Progressão com um tema contínuo):


Os seres vivos habitam a Terra há milhares de anos. Seres vivos ainda não foram encontrados
em outros planetas. Eles são uma forma superior de seres na natureza, mas estão ameaçados
de desaparecer com o aumento da poluição humana.

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2.6.3. Progressão com Tema Derivado (Temas que são Derivados por Hi-
pertema)

Exemplo de 2.6.3. (Progressão com tema derivado):


Os animais dividem-se em várias classes. Os animais vertebrados são em geral os maiores
fora d’água. Os animais marinhos são os maiores de todos. Já os insetos são os menores
animais que a natureza tem.

2.6.4. Progressão com um Rema Dividido (Desenvolvimento com um Duplo


Tema ou Múltiplo)

Exemplo de 2.6.4. (Progressão com um rema dividido):


O corpo humano divide-se em cabeça, tronco e membros. A cabeça é uma parte muito espe-
cial por abrigar o cérebro. O tronco abriga a maioria dos órgãos vitais. Os membros servem
para nosso contato com as coisas e manipulação direta dos objetos à nossa volta.

2.6.5. Progressão com Salto Temático

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Exemplo de 2.6.5 (Progressão com salto temático):


A polícia militar nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo foram mostradas em sua ver-
dadeira face nos últimos dias de junho deste ano. Nesta época, viu-se algo profundamente
deprimente. Conta-se que há muitos anos atrás, quando ainda havia escravidão, qualquer
coisa que desagradasse ao senhor era tratada com violência e espancamento.

2.7. Como Criar Ideias

Esta seção apresentará uma forma de condução do planejamento textual (e, consequen-
temente, da produção textual). Acredito que esta seção será útil para aquele momento em que
olhamos para a folha de produção e não nos vem nada... Nenhuma ideia, nenhum argumen-
to... Para não haver desespero, devemos proceder de uma maneira segura nessa situação.
Primeiramente, veremos como a experiência e a observação nos auxiliam a criar ideias. Em
seguida, conheceremos outros artifícios para criar ideias. Por fim, apresentaremos a noção de
Plano-padrão (ou plano-piloto) e o seu uso.

2.7.1. A Experiência e a Observação

Há duas fontes principais de nossas ideias: a experiência e a leitura. Tratemos, primeira-


mente, da primeira, a experiência.
Adquirir experiência é observar. Temos acesso às coisas do mundo via experiência. E
devemos saber que as impressões colhidas por meio da observação dos fatos, por meio da
experiência, consubstanciam-se em ideias ou representações que, por sua vez, graças à ima-
ginação e à reflexão, se associam, se entrecruzam, se multiplicam, se desdobram em outras.
Podemos considerar a nossa mente um prisma criativo que, a partir dessas impressões colhi-
das por meio da experiência (a luz), decompõe a luz branca em um espectro de cores, as quais
são associadas, entrecruzadas, multiplicadas.
Desse modo, parece-nos claro que não será capaz de escrever quem não dispuser de
uma capacidade mínima de refletir, quer dizer, de selecionar, ordenar e associar impressões
e ideias advindas da observação dos fatos (quem, por exemplo, tem o prisma fosco, pálido, o
qual não permite decompor a luz em um espectro de cores vivas e claras, as quais podem ser

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manipuladas com consciência e criatividade). É um fato a relação entre observação e acervo


de ideias: quanto mais observamos, quanto maior for a acuidade de nossa observação, tanto
será maior o acervo de nossas ideias.
Porém, também nos parece claro que não é apenas por meio do contato com a realidade
(contato interativo, físico, epidérmico) que adquirimos ideias. O intercâmbio de experiências
também é fonte para as nossas ideias. E uma das formas mais notáveis de se entrar em con-
tato com a experiência alheia (adventícia) é a leitura.
Não é objetivo de nosso Guia detalhar a importância da leitura e o seu funcionamento. An-
tes, procuramos evidenciar que ela é importante e que você, estudante, deve ler muito. Como
síntese, apresentamos os quatro níveis de leitura4 (propostos por Adler & Doren):
• Leitura elementar: leitura básica ou inicial. Ao leitor cabe reconhecer cada palavra de uma
página. Leitor que dispõe de treinamento básico e adquiriu rudimentos da arte de ler;
• Leitura inspecional: caracteriza-se pelo tempo estabelecido para a leitura. Arte de fo-
lhear sistematicamente;
• Leitura analítica: é minuciosa, completa, a melhor que o leitor é capaz de fazer. É ativa
em grau elevado. Tem em vista principalmente o entendimento;
• Leitura sinóptica/sintópica: leitura comparativa de quem lê muitos livros, correlacio-
nando-os entre si. Nível ativo e laborioso de leitura.

Em sede de concurso público, você, estudante, pode convergir as suas leituras para a sua
área de preparação (Judiciária, Fiscal, Policial etc.). É uma atitude coerente e até aconselhá-
vel, devido ao tempo disponível e ao volume de conteúdo a ser estudado. O que não pode
ocorrer, no entanto, é o abandono do contato com outras leituras, as quais podem até servir
de entretenimento (leitura literária e de revistas cujo tema seja de seu interesse), aliviando o
estresse dos estudos intensos.

2.7.2. Outros Artifícios para Criar Ideias

Imagine que o tema a desenvolver em sua redação seja vago, que não depende da pes-
quisa, mas apenas da experiência e das vivências (caso muito comum em provas discursivas de
4
Os quatro níveis de leitura são cumulativos.

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vestibulares). Imagine, ainda, que haja certa especificidade, certa delimitação – mas ainda
assim o tema foge ao nosso domínio. Como começar a produção? Qual é o caminho a per-
correr? Nesta seção procuraremos apresentar um caminho para conseguir sucesso nesse
momento difícil.
Reproduzimos, para isso, o trecho da obra de Othon M. Garcia, Comunicação em Prosa
Moderna, na qual o autor faz uso da sábia lição de Júlio Nogueira, reproduzida a seguir:

Eis-nos face a face com o assunto sobre que temos de discorrer, produzindo uma composição de
trinta ou quarenta linhas, no mínimo. O assunto é um desses temas abstratos, que nos parecem
áridos, avaros de ideias. Seja: a amizade, por exemplo.
Que dizer sobre a amizade? Como encher tantas linhas, formulando períodos sobre períodos, se as
ideias nos escapam, se a imaginação está inerte, se nada encontramos no cérebro que nos pareça
digno de ser expresso de forma agradável e, sobretudo, correta? Qual a orientação que devemos
seguir versando tal assunto até a conclusão, de maneira que nos desempenhemos dessa tarefa
superior às nossas forças?
Agora a resposta, o remédio. Antes de tudo: se o nosso estado de espírito é de perplexidade, se
nos domina essa preocupação pungente, esse desânimo de chegar a um resultado satisfatório, o
que temos de fazer é – não começar a tarefa imediatamente. Em vez de lançar a esmo algumas
exclamações, algumas frases inexpressivas sobre o papel, reflitamos; concentremo-nos. Empre-
guemos uma quarta parte do tempo de que dispomos em pensar, em metodizar o assunto, em
dividi-lo nos pontos que ele comporta e em submetê-lo aos coeficientes amigos que aqui vamos
enumerar e que nos darão mais que a matéria necessária. Esses coeficientes protetores não serão
sempre os mesmos nem no mesmo grau para todos os assuntos, mas há-os para tudo. Chamam-
-se definição, distinção, considerações gerais, antecedentes, tempo, lugar, comentários, narrações
a propósito do tema (fato conhecido, anedota, fábula), consequências, discurso direto e outros que
o engenho de cada um poderá estremar. Vamos colher aqui o que nos pode servir para o assunto
dado: a amizade.
A definição nos dirá ser a amizade um sentimento que consiste em estimar a outrem, quer a sua
presença, desejar-lhe todo o bem possível; sentimento que traz grande encanto à vida. A distinção
nos sugere que a amizade pode ser verdadeira ou apenas aparente. Nesta segunda classe estamos
a ver os interesseiros, os que se dizem nossos amigos, pensando em obter vantagens e favores,
e que, passada essa possibilidade, nos voltam as costas, nem nos reconhecem nos dias difíceis
para nós. Por esse caminho virão também outras ideias. As considerações gerais serão no sentido
de cada um semear amizade por toda parte, fazer-se estimar por todos, desarmar prevenções que,
às vezes, sentimos contra certas pessoas em quem depois só reconhecemos bons predicados e a
quem estendemos francamente a mão de amigo. Citemos a propósito o provérbio que diz: “Mais
vale um amigo na praça que dinheiro na caixa”. O tempo nos poderia servir. É justo considerá-lo
o cadinho da verdadeira amizade, a qual se perpetua, resistindo aos embates da vida. O lugar nos
dirá que a distância não é nociva à verdadeira amizade. Os amigos, ainda separados, continuam a
interessar-se pela sorte recíproca: correspondem-se, trocam notícias de caráter pessoal. Podemos
recorrer a fatos históricos ou lendários que se apliquem à matéria. Aludamos ao caso de Dâmon e

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Pítias, que nos dará muitos pares de linhas. Se não o conhecermos, contemos um fato da vida real
e, se não nos ocorre nenhum: inventemo-lo! Imaginemos alguém que chega de uma longa viagem,
a quem dizem que um amigo está morrendo à míngua num casebre dos subúrbios, porque os ne-
gócios lhe correram mal e uma moléstia cruel o salteou, quebrando-lhe toda a atividade. Descreva-
mos o encontro dos dois; as medidas que o recém-chegado toma, transferindo para o conforto de
sua residência o amigo enfermo: a chamada do médico, a compra de remédios e dieta necessária,
e, por fim, o restabelecimento do amigo, que volta à atividade da vida e, ainda apoiado pelo outro,
faz bons negócios e satisfaz os seus compromissos. Imaginemos agora o que aconteceria se não
fosse esse ato de amizade.
Procedendo com este método, ainda parecerá difícil a tarefa? Decerto que não! A dificuldade pri-
macial estava na produção das ideias, mas os coeficientes amigos nos salvaram. Pensando nele,
investigando a melhor maneira por que se podem aplicar ao assunto, facílimo será organizar o
nosso plano, isto é, o arcabouço, as linhas gerais da nossa composição, antes do que não deve-
mos absolutamente iniciar a tarefa. Falamos ou escrevemos quando temos alguma coisa a dizer.
A ideia surge no cérebro e exterioriza-se pela palavra. No colóquio o apoio ou a contestação dos
nossos ouvintes vai despertando novas ideias. O nosso cérebro por si só é que não há de fazer o
trabalho. Por isso devemos separar todas as peças da nossa composição e procurar materiais por
esses processos, uma vez que não tenhamos o dom de escrever de improviso, o que só é dado a
raros indivíduos.
(Júlio Nogueira, A linguagem usual e a composição)

2.7.3. Plano-padrão

Agora podemos elaborar, a partir dos ensinamentos do Professor Nogueira, uma espécie
de Plano-padrão (ou plano-piloto) para o desenvolvimento de ideias similares à que se viu
no texto do Professor Nogueira (a amizade). Procurarei comentar cada uma das partes do
Plano-padrão.
Antes de começarmos, cabe lembrar que o uso desta técnica pode ter mais validade em
determinadas produções, a depender do tema. Lembre-se, estudante: esta é uma técnica tra-
dicionalmente utilizada em casos em que o tema a desenvolver em sua redação é vago, que
não depende da pesquisa, mas apenas da experiência e das vivências (temas como amizade,
ambição, vingança etc.). Caso a sua redação seja específica e o tema exija pesquisa e co-
nhecimento especializado sobre o tema (o que, em sede de concurso público, é muito mais
provável que ocorra), esta técnica servirá como recuso mnemônico (isto é, para trazer à me-
mória conhecimentos que não estão presentes no momento da produção). Assim, além do
conhecimento sólido sobre a temática, o Plano-padrão nos auxilia a trazer à memória fatos

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que poderiam passar despercebidos (e cuja importância é indiscutível para o desenvolvimen-


to do tema).
Vejamos, então, como o Plano-padrão pode ser organizado:

 Obs.: Definição
 É o primeiro passo. A definição pode ser denotativa ou conotativa. Tradicionalmente,
a definição é caracterizada pela fórmula:
 A amizade é...
 ou
 A amizade caracteriza-se por ...
 Considerações gerais
 Pode ser uma opinião, uma observação (feitas após um exame ou reflexão).
 Distinção
 Quais são os tipos de amizade? Pode ser de curiosidade, de vaidade, desinteressada
etc.
 Ou as várias espécies de mentira: social, patológica, criminosa etc.
 Comparação ou analogia
 A comparação ou analogia pode vir isolada no plano-padrão ou estar incluído no
anterior (Distinção) ou no seguinte (Contraste).
 Pense, nesse tópico, como os fatos ou ideias podem ser comparados entre si.
 Contraste
 Quais são os opostos do tema? O que contrasta com a amizade (ódio, inimizade...)? O
que se opõe à curiosidade (a indiferença, a apatia...)?
 Em um caso mais concreto, quais são os contrastes entre países desenvolvidos e
subdesenvolvidos? Ou entre o sistema de transporte público de Brasília e de Curitiba?
 Circunstâncias
 Quais são as circunstâncias em que o tema que é objeto de reflexão se enquadra? Ou
seja, quais são as:
 (i) as causas, a origem, os efeitos;
 (ii) os motivos, as consequências;

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 (iii) o tempo, o lugar?


 Ilustração real ou hipotética
 Pode ser um caso histórico ou fictício que se ajuste ao tema como ilustração.
 Conclusão
 Há algo mais a dizer? Não, então estamos na conclusão. Aqui ainda é possível retor-
nar às etapas (I – VII) e verificar se ainda falta algo ou se nos vêm à memória outras
informações importantes.
 Pode-se fazer, aqui, a síntese de tudo o que expomos anteriormente, de modo a ver o
panorama do tema por nós desenvolvido.

3. Recursos Gramaticais para a Produção Textual

Ao longo dessa aula, fiz uso de termos como “voz ativa”, “período”, “ordem direta”. Mas o
que significam essas nomenclaturas? Na sequência da aula, apresentaremos, de forma intro-
dutória, as principais noções gramaticais necessárias à produção textual. São, efetivamente,
recursos gramaticais para a produção textual. Caso você sinta necessidade de aprofundar
algum conceito, consulte uma gramática escolar (de Evanildo Bechara, por exemplo).

3.1. Frase, Período e Oração

Frase é a construção que encerra um sentido completo, podendo ser formada por uma ou
mais palavras, com ou sem verbo, ou por uma ou mais orações; pode ser afirmativa, negativa,
interrogativa, exclamativa ou imperativa.
Vejamos alguns exemplos:

Pare!
Fogo!
Parada de ônibus.
Vendem-se casas.
A Maria disse que o João voltará amanhã.

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O governo não dará continuidade à política de saneamento básico.


Os dirigentes chegaram?
Isso é um absurdo!
Adicione duas xícaras de leite.

Oração é uma frase, ou membro de frase, que contém um verbo (ou locução verbal). A
oração pode ser coordenada ou subordinada:

O João chegou e já se sentou.


O governo afirmou que as políticas públicas serão mais eficazes.

 Obs.: Uma locução verbal é o conjunto de palavras que equivalem a um só vocábulo, por
terem significado, conjunto próprio e função gramatical única. O João vai chegar cedo.

O período é uma frase que contém uma ou mais orações. Inicia-se por letra maiúscula e
encerra-se por ponto final (ou equivalente).

3.2. A Ordem dos Termos

Quando falamos sobre a construção do parágrafo (Capítulo 2), fizemos referência à ordem
direta da sentença. Em português, as sentenças são organizadas na ordem Sujeito – Verbo –
Objeto (complemento) – Adjuntos.

O governo investiu R$ 100 milhões em educação no ano passado. [ordem direta]

3.3. Voz Ativa e Voz Passiva

Voz é categoria do verbo definida pela relação que estabelece entre o sujeito gramatical
(aquele com o qual o verbo concorda) e o papel de agente ou de paciente da ação verbal.

O advogado acionou o Ministério Público. [voz ativa]


O Ministério Público foi acionado pelo advogado. [voz passiva analítica]

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Observe que, na voz passiva, o agente, expresso como complemento de preposição, pode
ser omitido:

O Ministério Público foi acionado.

Há, também, a passiva pronominal, em que se junta ao verbo na forma ativa o pronome
átono se (pronome apassivador):

Viu-se o erro da última parcela.


Acionou-se o Ministério Público.

3.4. O Sujeito

Sujeito é termo da oração sobre o qual recai a predicação da oração e com o qual o verbo
concorda. Pode ser:
• Indeterminado: Pedro, disseram-me que você falou mal de mim. Precisa-se de empre-
gados (índice de indeterminação do sujeito). Vive-se bem aqui (índice de indetermina-
ção do sujeito).
• Impessoal: Há bons livros na livraria. Faz frio. Chove.
• Explicitado lexicalmente: O sol é um astro luminoso.
• Explicitado pronominalmente: Eu estudo no colégio Dom Pedro II.
• Desinencial: Brincamos todos os dias na praça.

As formas pronominais retas (as quais ocupam a posição de sujeito) são as seguintes:
• 1ª pessoa (singular ou plural): eu – nós.
• 2ª pessoa (singular ou plural): tu – vós.
• 3ª pessoa (singular ou plural): ele(a) – ele(a)s.

Dessas formas pronominais (do caso reto), qual é a mais impessoal? Em uma escala de
(im)pessoalidade, quais formas estariam nas extremidades (em oposição)?
Em uma redação discursiva, a linguagem deve ser formal, clara, objetiva e impessoal. Isso
quer dizer que o produtor do texto (1ª pessoa, o eu) não deve se apresentar como indivíduo;

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deve, antes, dialogar com todo o universo de ideias, de autores, de referências. O autor será,
portanto, alguém que reflete sobre determinado tema – e essa reflexão deve ter uma validade
geral, um valor de verdade mais amplo, não apenas limitado ao universo de um indivíduo. Por
isso o texto tem de ser impessoal.
Como pudemos observar, as formas mais “impessoais” do sujeito são as seguintes:
• 3ª pessoa do plural, por meio da desinência verbal;
• voz passiva (analítica e sintética), em que o agente pode ser omitido;
• índice de indeterminação do sujeito; e
• verbos impessoais (haver e ser em orações sinônimas às construídas com existir).

3.5. A Pontuação

Dominar a arte de pontuar é habilidade que exige leitura e prática. Aqui, apresento o sig-
nificado dos principais sinais de pontuação. Desse modo, você poderá observar, em suas
leituras e práticas de escrita, quais são os principais usos desses sinais.

Ponto parágrafo (§)


O ponto parágrafo indica a divisão de um texto escrito. Essa divisão é verificada pela
mudança de linha, cuja função é mostrar que as frases aí contidas mantêm maior relação
entre si do que com o restante do texto.
Ponto final (.)
O ponto final é o sinal de pontuação com que se encerra uma frase ou um período.
Ponto de interrogação (?)
O ponto de interrogação é utilizado no fim da oração, a qual é enunciada com entonação
interrogativa ou de incerteza.
Ponto de exclamação (!)
O ponto de exclamação é utilizado no fim da oração enunciada com entonação exclama-
tiva. Também se usa o ponto de exclamação depois de interjeição.
Reticências (...)
As reticências denotam interrupção ou incompletude do pensamento ou hesitação em
enunciá-lo.
Vírgula (,)
A vírgula indica pausa ligeira e é usada para separar frases encadeadas entre si ou ele-
mentos dentro de uma frase.

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Dois-pontos (:)
O sinal de pontuação dois-pontos correspondente, na escrita, a uma pausa breve da lin-
guagem oral e a uma entoação geralmente descendente. A sua função é preceder uma
fala direta, uma citação, uma enumeração, um esclarecimento ou uma síntese do que foi
dito antes.
Ponto e vírgula (;)
O sinal de pontuação ponto e vírgula assinala pausa mais forte que a da vírgula e menos
acentuada que a do ponto. Emprega-se, por exemplo, em enumerações, para distinguir
frases ou sintagmas de mesma função sintática, na separação entre orações coordena-
das não unidas por conjunção – coordenativa e para indicar suspensão maior que a da
vírgula no interior de uma oração.
Travessão (–)
É importante não confundir o travessão com o traço de união ou hífen. O travessão é
um sinal constituído de traço horizontal maior que o hífen. O travessão pode substituir
vírgulas, parênteses, colchetes e serve, entre outras coisas, para indicar mudança de
interlocutores num diálogo, separar título e subtítulo em uma mesma linha e assinalar
expressão intercalada.
Aspas (“aspas”)
É o sinal gráfico, geralmente alceado (colocado no alto), que delimita uma citação, título
etc. Também é usado para realçar certas palavras ou expressões.
Parênteses ((parênteses))
Os parênteses indicam um isolamento sintático e semântico mais completo dentro do
enunciado.
Colchetes ([colchetes])
Os colchetes são utilizados para isolar, quando necessário, palavras ou sequência de
palavras elucidativas dentro de uma sequência de unidades entre parênteses. Também é
conhecido como parênteses retos.
Chave ({chave})
A chave é usada em obras de caráter científico. Indica, usualmente, a reunião de itens rela-
cionados entre si formando um grupo.

3.6. O Vocabulário – Denotação e Conotação

Em uma produção textual fazemos uso de palavras, de um vocabulário. Mas qual é a im-
portância do vocabulário? A pergunta parece sem sentido, não é? Mas em diversos momentos
nos esquecemos de algumas noções importantes em nossa produção.
Discutiremos, nesta seção, um aspecto relevante: a distinção entre denotação e conotação.

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Antes de diferenciarmos denotação e conotação, citemos, com nossas próprias palavras,


a definição do linguista F. Saussure para signo linguístico:

 Obs.: Signo linguístico é unidade linguística constituída pela união de um significante e um


significado. Essa relação ocorre geralmente por meio de uma relação arbitrária.

Quando ouvimos ou lemos a palavra cachorro, reunimos, em um nível mental, o significan-


te (o som ou a grafia da palavra) ao significado (a noção “mamífero carnívoro da família dos
canídeos”):

Cachorro
(som ou grafia)
Significante

Significado

Nessa relação entre significante e significado, percebemos que a semântica da palavra


cachorro corresponde aos semas específicos e genéricos, isto é, aos traços semânticos mais
constantes e estáveis. Estamos diante da denotação:

 Obs.: Denotação é a relação significativa objetiva entre marca, ícone, sinal, símbolo etc., e o
conceito que eles representam. A denotação é o elemento estável da significação da
palavra, elemento não subjetivo e analisável fora do discurso (contexto).

Quando há semas virtuais, isto é, só atualizados em determinado contexto, estamos dian-


te da conotação. Por exemplo, podemos afirmar que o namorado de Fulana é muito cachorro.
É claro que não caracterizaremos este homem como um “mamífero carnívoro da família dos
canídeos”. Na verdade, nesse contexto, em que há elementos subjetivos, queremos dizer que
o namorado de Fulana se comporta como um cachorro, que desconsidera os sentimentos de
sua parceira (ou das mulheres) e age por instinto. Percebemos, então, que há inserções de
informações semânticas à palavra cachorro, a qual está situada em um contexto discursivo.

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A distinção ficou clara? Espero que sim. A pergunta que surge agora é a seguinte: o que a
distinção denotação e conotação nos ajuda na produção textual? Como já dissemos, a reda-
ção discursiva deve ser clara, formal, impessoal e objetiva. O texto será mais objetivo, formal,
impessoal e claro se fizer uso das palavras em sentido denotativo. Dessa forma, procure as
palavras em sua forma estável, não subjetiva e analisável fora do discurso (contexto).
E então, como estamos de fôlego? Consegue seguir para a próxima aula? Antes, vamos
para o Resumo e o Mapa Mental. As Questões de Concurso estarão concentradas em uma
aula específica de nosso curso (Aula 3 - Banco de Questões de Redação Discursiva), beleza?
Isso porque é apenas ao final de todo o estudo teórico que será possível começar a produzir.
Não perca o foco, hein?!

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RESUMO
O primeiro ponto discutido foi sobre a apresentação e a estrutura textual. Eu destaquei
que é necessário produzir um texto manuscrito legível. Também destaquei que é preciso res-
peitar as margens (observando as translineações) e as indicações paragrafais.
Como segundo ponto, trabalhamos os aspectos iniciais da produção textual. Apresentei
as principais tipologias textuais (narração, descrição, dissertação e argumentação) e mostrei
as diferenças entre um texto em prosa e um texto poético (versificado).
Como nosso objetivo é aprender a desenvolver uma redação discursiva, focamos o traba-
lho na tipologia argumentativa. Na argumentação, a construção da defesa deve ser baseada
nas evidências das provas, ancoradas nos fatos, nos exemplos, nas ilustrações, em dados
estatísticos e em testemunhos.
Na produção textual, a correta organização paragrafal também é muito relevante. Por isso,
abordamos a definição dessa unidade de composição: nela, se desenvolve determinada ideia
central, nuclear, à qual se agregam outras, denominadas secundárias. Internamente ao pará-
grafo (e entre os parágrafos), é necessário dar coesão à sequência textual (por conjunções,
por referenciações, por sinonímias etc.).
Outro aspecto trabalhado ao longo da aula foi a técnica para auxiliar na criação de ideias.
Em sequência, abordei a construção do plano-padrão, fundamental para organizar bem as
ideias na etapa de planejamento da produção textual.
Na parte final da aula, retomei os principais conceitos gramaticais aplicados à produ-
ção textual.

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS

ANDRADE, M. & MEDEIROS, J. Comunicação em língua portuguesa. 2009.

AZEREDO, J. Escrevendo pela nova ortografia: como usar as regras do novo acordo ortográ-
fico da

CEGALLA, D. Dicionário de dificuldades da língua portuguesa. 2007.

ECO, U. A arte perdida da caligrafia. Artigo do New York Times. Revista da Cultura, n. 28.

FERREIRA, A. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 2009.

GARCIA, O. Comunicação em prosa moderna. 2007.

HOUAISS, A. Dicionário Houaiss: sinônimos e antônimos. 2008.

KOCH, I. & TRAVAGLIA, L. A coerência textual. 2009.

KOCH, I. A coesão textual. 2008.

KOCH, I. O texto e a construção dos sentidos. 2008.

língua portuguesa. 2008.

LUFT, C. Dicionário prático de regência nominal. 2010.

LUFT, C. Dicionário prático de regência verbal. 2008.

MARCUSCHI, L. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 2008.

MARTINS, D. & ZILBERKNOP, L. Português Instrumental. 2009.

MEDEIROS, J. Redação científica. 2009.

SAVIOLI, F. & FIORIN, J. Para entender o texto: leitura e redação. 2009.

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Bruno Pilastre
Doutor em Linguística pela Universidade de Brasília. É autor de obras didáticas de Língua Portuguesa
(Gramática, Texto, Redação Oficial e Redação Discursiva). Pela Editora Gran Cursos, publicou o “Guia
Prático de Língua Portuguesa” e o “Guia de Redação Discursiva para Concursos”. No Gran Cursos Online,
atua na área de desenvolvimento de materiais didáticos (educação e popularização de C&T/CNPq: http://
lattes.cnpq.br/1396654209681297).

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