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Disciplina: Direito Civil V (Responsabilidade Civil)


Professor: Victor Lucas Gama Correia

Responsabilidade Civil Contratual


Definição: Pode ser tratado como o descumprimento do
contrato, resultando na manifestação de um ato ilícito,
resultando ou não na extinção do vínculo obrigacional original,
deve ser sancionado, na forma adequada, com a reparação dos
danos daí decorrentes. (DEVER DE INDENIZAR). Trata de
violação de uma norma jurídica preexistente desencadeando na
necessidade de reparar os danos.
Parte da ideia de não cumprimento de prestação pactuada,
conforme estabelecido na relação jurídica obrigacional.
OBS:
Contratual: inadimplemento da obrigação prevista no contrato
(violação de norma contratual anteriormente fixada pelas
partes); Culpa presumida – cabe a vítima apenas provar que não
houve o cumprimento;
Extracontratual ou Aquiliana: violação direta de uma norma legal
– não contratual. Culpa deve ser provada pela vítima.

OBS:
Para configurar a responsabilidade civil contratual, deve-se
observar se o não adimplemento ocorreu de forma voluntária ou
não.

- involuntária: caso fortuito ou força maior. Cabe ao


devedor comprovar a ocorrência de tal fato.
Art. 393 CC/2002
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos
resultantes de caso fortuito ou força maior, se
expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-
se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar
ou impedir.
Ex: Obrigação contratual requerendo a presença de um artista
famoso para apresentação. Não compareceu em razão da
Pandemia de Covid-19, e exigências de não aglomeração.
Configura-se caso fortuito não gerando responsabilidade civil.

- voluntária: aplica-se o artigo 389 do CC/02:


Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor
por perdas e danos, mais juros e atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e
honorários de advogado.

Responsabilidade Civil Pré-contratual


Pode haver a comprovação da responsabilidade civil pré-
contratual de duas formas: recusa de contratar; quebra de
negociações preliminares;
Recusa de contratar
Pode alguém recusar-se a contratar?
Havendo recusa a contratação ela deve ser fundamentada,
para não caracterizar conduta discriminatória.
Ex: Pedido de cartão de crédito negado, mas fundamentado
com base da inserção do solicitante no cadastro de
inadimplentes, pode ser negado sem gerar responsabilidade.
OBS: Sílvio Venosa “Não se trata exatamente de uma
responsabilidade pré-contratual, porque contrato ainda inexiste,
mas de um aspecto da responsabilidade aquiliana que tem a ver
com o universo contratual.”
Carlyle Popp “responsabilidade pré-negocial, de qualquer
espécie, tem natureza contratual e, portanto, submeter-se-á a
idêntico disciplinamento jurídico.”

Quebra de negociações preliminares


Atos prévios ou preparatórios à celebração do contrato pode
gerar quebra injustificada da expectativa de contratar,
responsabilidade civil do infrator, por força da violação à boa-fé
objetiva pré-contratual.
Ex: Ante o fechamento de um contrato de compra e
venda de um imóvel, o comprador contrai empréstimo e
no momento de fechar o negócio, o vendedor desiste da
venda;
O rompimento dessa legítima expectativa de contratar, em
prejuízo da parte que efetivou gastos na certeza da celebração
do negócio, poderá ocasionar, a depender das circunstâncias do
caso, responsabilidade civil, por aplicação da denominada teoria
da culpa in contrahendo.
Culpa in contrahendo criada por Jhering (jurista alemão):
dever de confiança advindo do contato social. Ao ser
frustrada esta confiança de forma injustificada, surge a
responsabilidade pré-negocial ou pré-contratual.
Caso verídico (Pré-contratual):
Em 09 de novembro de 2017 foi publicada sentença condenando
empresa de call center (telemarketing) do Município de Montes
Claros (MG) a indenizar ex-empregado no valor de R$ 5.000,00
(cinco mil reais) por responsabilidade civil pré-contratual.
Em 2016, participou de novo processo seletivo no
estabelecimento, dividido em quatro fases eliminatórias: 1) teste
no computador, para avaliar a capacidade e o comportamento
dos candidatos; 2) entrevista e simulação de vendas; 3)
apresentação de documentação para contratação; e 4)
treinamento.
Após aprovação em todas as etapas, foi encaminhado para o
exame admissional. Em seguida, no momento da assinatura do
contrato, a empresa negou-se a efetivar a contratação por
motivos não especificados.
A frustração gerada pela expectativa de contratação não
efetivada, ferindo os princípios contratuais da probidade e boa-
fé, foi fixada em R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
PROCESSO SELETIVO. APROVAÇÃO EM TODAS AS
FASES. RECUSA INJUSTIFICADA DA CONTRATAÇÃO.
FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA. DANO MORAL . A
faculdade de sujeitar os candidatos a processo seletivo prévio,
composto por entrevistas e dinâmicas de grupo, é uma faculdade
do empregador que deve ser exercida com observância dos
direitos subjetivos dos trabalhadores. Aceita a forma de seleção
pelos postulantes, cabe ao empregador, após a aprovação dos
candidatos em todas as fases, implementar a contratação. Salvo
a limitação de vagas, que deve ser comunicada de início, a
recusa em admitir o postulante ao emprego, sem motivo
justificado, importa subjetivismos que infligem danos imateriais
aos lesados. A reparação deve levar em consideração, menos
os aspectos subjetivos, e mais a penalização da empresa que
não cumpriu com sua função social.” (TRT, 2ª Região, Ac. N.
20060494187, Recurso Ordinário, Processo n.
00500200406402001, Relator Rovirso Aparecido Boldo,
Recorrentes: Venicios Valverde Mortess e Lojas Colombo S.A.).

Responsabilidade Civil Pós-contratual


Compreende-se que pelos mesmos fundamentos que se
reconhece a responsabilidade pré-negocial, há que se
reconhecer uma responsabilidade civil pós-contratual.
Manutenção da imposição do princípio da boa-fé objetiva.
Ex: Fim do contrato de prestação de serviços advocatícios –
segredos e confidências devem ser mantidas em sigilo.
DANOS MORAIS. INFORMAÇÕES DESABONADORAS
SOBRE EX-EMPREGADO. RESPONSABILIDADE PÓS-
CONTRATUAL. INDENIZAÇÃO.
Os deveres anexos de conduta, pautados na cláusula geral de
boa-fé objetiva que normatiza e vincula todo o sistema jurídico,
especialmente o obrigacional, persistem na fase pós-contratual
e obrigam as partes envolvidas no contrato. A conduta das
partes deve se fundar em valores como confiança, colaboração,
honestidade, lealdade e legalidade. Se depois de encerrado o
contrato de trabalho o ex-empregador presta informações
desabonadoras sobre ex-empregado, ao ser questionado sobre
a sua conduta por potencial empregador, atenta contra a honra,
dignidade e boa fama do trabalhador, além de dificultar a sua
reinserção no mercado de trabalho. A conduta tem o potencial
de acarretar danos morais e materiais, o que autoriza a
responsabilização civil do causador dos danos e a fixação de
indenização capaz de compensar pela ofensa, além de imprimir
caráter pedagógico á indenização. Recurso do autor a que se dá
provimento parcial para majorar o valor da indenização por
danos morais.
“Aduz o autor ter mantido contrato com a ré de
09/07/2007 a 13/10/2009, quando foi dispensado sem
justa causa. Argumenta que, em 27/11/2012, tomou
conhecimento de que não conseguia ser contratado
por outras empresas em razão de a ré, quando
consultada pelos empregadores em potencial,
repassar informações desabonadoras. Postula o
pagamento de indenização por dano moral e material
(lucros cessantes).
O relato da testemunha Eduardo Luiz Tirolle
comprova, integralmente, a narrativa da inicial.”
Bibliografia: Gagliano, Pablo Stolze Novo curso de direito civil,
v. 3 : responsabilidade civil / Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo
Pamplona Filho. – 17. ed. – São Paulo : Saraiva Educação,
2019. 1. Direito civil - Brasil. 2. Responsabilidade Civil. I.
Pamplona Filho, Rodolfo. II. Título. 18-1102

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