Você está na página 1de 6

DIREITO CIVIL

CP I A
1º PERÍODO 2021
TEMA 10

Tema 10:
Negócio Jurídico III: Dos defeitos do negócio jurídico. Erro-vício: conceito,
requisitos e espécie. Transmissão errônea de vontade. Falso motivo no erro.
Distinção entre erro substancial e vício redibitório. Convalescimento do erro. Dolo:
conceito, requisitos e espécies. Coação: conceitos, requisitos e espécies.

1ª QUESTÃO:
Caio, interessado em adquirir apartamento em cobertura para acréscimo da construção,
dadas as necessidades de sua família, adquire de Tício imóvel situado no último andar de
prédio, com direito ao uso da laje. O negócio foi celebrado pelas partes com a assistência
de advogados. Pouco antes do fechamento do negócio, em reunião, Caio, que até então
não havia tido contato com Tício, vez que as conversas se deram através de corretor, disse
a este que necessitava muito de imóvel de cobertura no qual pudesse proceder à
ampliação, por conta de sua família numerosa, estando muito feliz em encontrar o imóvel
certo. Tício anteriormente havia tentado construir na laje de seu imóvel, tendo tido ciência
de que tal não era possível, em razão de norma edilícia que impedia acréscimo de
construção no bairro. Celebrado o negócio, Caio não obtém da municipalidade
autorização para as obras. Procurando desconstituir o negócio, Caio ingressa com ação
anulatória, asseverando que a possibilidade de acréscimo era elemento fundamental para
a compra. Tício se defende alegando a publicidade das normas edilícias, a assessoria por
advogados, bem como o fato de em nenhum momento a proposta do negócio ter envolvido
referido aspecto. Indaga-se: há vício do negócio jurídico? Quais as normas que podem
ser aplicadas? Como deve ser resolvida a situação? Qual a teoria agasalhada pelo CC
quanto à declaração de vontade do negócio jurídico?

RESPOSTA:
Vê-se que Caio incorreu em erro substancial, vício que autoriza a anulação do negócio
jurídico. A situação também pode ser caracterizada como omissão dolosa de Tício, cuja
consequência é a mesma: o desfazimento do negócio. Observe-se que, não obstante Tício
não tenha tocado no assunto relativo ao acréscimo da construção, percebeu, antes da
conclusão do contrato, que tal aspecto era de suma importância para Caio, e, mesmo
sabendo sobre a impossibilidade da pretensão deste, omitiu-se em dizer a verdade e
celebrou o ajuste. Aplica-se à hipótese o art. 138 do Código Civil, ou o seu art. 147. São
desinfluentes a assistência de advogados e a publicidade das normas municipais, pois é
inequívoco que o erro ocorreu. A teoria agasalhada pelo Código Civil é a denominada
teoria da confiança, quer leva em conta o comportamento de quem recebe a declaração
de vontade viciada. Entende-se que não basta analisar o dissídio entre vontade e
declaração apenas sob o ângulo de quem a emite. É preciso indagar se o declaratário
estava de boa-fé ou se de alguma forma concorreu com culpa no evento. É a teoria mais
perfeita, pois, sem deixar de relevar a vontade real, protege os interesses do contratante
de boa-fé. Se no sistema do Código Civil/1916 o regramento do erro estava mais próximo
da teoria da responsabilidade, no atual Código Civil a opção do legislador foi clara no
sentido de se acolher a moderna teoria da confiança. A lei expressamente estabelece que
o erro, para viciar o negócio, deve ser daqueles que poderiam ser percebidos por pessoa
de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio (art. 138, CC).

2ª QUESTÃO:
C invade a casa de B, e, tendo sob a mira de um revólver o filho do morador, obriga este
assinar confissão de dívida em favor de A, que havia contratado C para a prática do crime.
A confissão de dívida foi firmada em 30.01.08, sendo que a B foi dito que ele se
arrependeria caso levasse a situação ao conhecimento da autoridade policial. B pagou
uma parte do débito, sendo a outra parte quitada através de execução extrajudicial contra
si movida, na qual houve a expropriação de bem imóvel de sua propriedade. B, após o
falecimento de A, se sente mais seguro para a propositura de ação com o objetivo de
desfazer a confissão de dívida e recuperar o valor pago, ingressando com a demanda em
30.01.13. Em contestação, o espólio de A nega os fatos ocorridos, suscitando a ocorrência
de decadência, argumentando ainda que o autor reconheceu a validade da confissão de
dívida ao pagar voluntariamente parte de seu valor, razão pela qual, mesmo se os fatos
tivessem se passado tal como afirmado por B, teria havido a convalidação tácita do
negócio jurídico. Supondo que no processo tenha ocorrido a confissão de C a respeito do
crime praticado, como o aluno resolveria a questão? Resposta conclusiva, com menção
aos dispositivos legais aplicáveis.

RESPOSTA:
Devem ser distinguidos os dois tipos de coação, conforme a intensidade da violência. Na
chamada coação absoluta (vis absoluta), hipótese da questão, há total tolhimento da
manifestação da vontade. Melhor dizendo, não há vontade, elemento essencial do negócio
jurídico. Daí porque se entende que no caso de coação absoluta não há de se falar em
negócio anulável, mas sim de nulidade ou mesmo de inexistência.
Estando a situação no terreno da nulidade, não há possibilidade de suprimento do vício,
ainda que os interessados com isso concordem, havendo disposição expressa que veda ao
Juiz supri-lo (art. 168, parágrafo único). O art. 170, por sua vez, estabelece que o negócio
nulo não é suscetível de confirmação.

Quanto à prescritibilidade do negócio nulo, o art. 169 do Código Civil, segunda parte,
preceitua que o negócio nulo não convalesce pelo decurso do tempo, razão pela qual não
faz sentido a alegação de decadência, que se refere aos negócios jurídicos meramente
anuláveis.

Dessa forma, constatada a nulidade da confissão de dívida, cabe o seu desfazimento, com
o ressarcimento dos valores pagos por B.
DIREITO CIVIL
CP I A
1º PERÍODO 2021
TEMA 11

Tema 11:
Negócio Jurídico IV: Estado de Perigo: conceito, requisitos e efeitos. Abordagem do
estado de perigo perante a lesão e a coação. Lesão: conceito, requisitos, espécies,
elementos subjetivos e elementos objetivos.

1ª QUESTÃO:
Informe se estão corretas as seguintes afirmações e explique de forma fundamentada.

a) A doutrina não estabelece de antemão especificidades objetivas e nem subjetivas para


a ocorrência do instituto da lesão, por isso é indubitável, em certos casos, a possibilidade
de sua existência tanto em contratos comutativos quanto em contratos aleatórios.

b) A lesão pode decorrer de fatos posteriores à celebração do contrato.

c) A incidência de lesão terá como resultado a extinção do ato jurídico.

RESPOSTA:
A) "[...] somente os contratos bilaterais onerosos admitem a sua invocação. No entanto,
conquanto a doutrina velha, prevalecentemente, limitando a sua alegação nos contratos
onerosos comutativos, afastando sua incidência nos pactos aleatórios (por ser de essência
o desconhecimento das vantagens a serem auferidas), não é a melhor solução, sendo
mister tecer algumas considerações. Na verdade, o negócio aleatório é aquele em que há
risco de ganho e perda para ambos os contratantes, havendo incerteza quanto às vantagens
a serem auferidas, No entanto a lesão deve ser averiguada no instante da celebração do
negócio, quando se dá a manifestação de vontade. Logo, o contrato aleatório pode estar
inquinado de lesão, quando da celebração, quando, e. g., os riscos consideráveis do
negócio são imputados a uma das partes, sendo inexpressivos para a outra, explorando-
se situação de inferioridade. (Rosenvald, Nelson. Curso de Direito Civil - Parte Geral e
LINDB. 2019. P. 704).

B) Faz-se imprescindível que a desproporcionalidade das prestações tenha incidência no


momento da declaração da vontade, nos termos do art. 157, §1º, do Código Civil. Sendo
assim, caso a desproporção ocorra em momento posterior, isto é, durante a execução do
contrato, a revisão contratual poderá acontecer com base em outros fundamentos, como
a teoria da onerosidade excessiva, prevista a partir do art. 478 da mesma legislação.

C) Nos termos do art. 157, § 2º, do Código Civil, em observância ao princípio da


conservação dos atos jurídicos celebrados, não necessariamente haverá a anulação. É
possível a manutenção em caso de suplemento suficiente ou se a parte favorecida
concordar com a redução do proveito.

É importante mencionar, dessa forma, o Enunciado nº 149, da III Jornada de Direito Civil:
"Em atenção ao princípio da conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá
conduzir, sempre que possível, à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação,
sendo dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do
Código Civil de 2002."

Também deve ser trazido à baila o Enunciado nº 291, da IV Jornada de Direito Civil:
"Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código Civil, pode o lesionado optar por
não pleitear a anulação do negócio jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista
à revisão judicial do negócio por meio da redução do proveito do lesionador ou do
complemento do preço."

2ª QUESTÃO:
Maria, com o objetivo de efetuar o pagamento da cirurgia cardíaca de seu pai, celebra
com José contrato de permuta de seus respectivos imóveis, sendo que José pagou ainda a
Maria a importância de R$ 20.000,00, quantia esta que foi utilizada por Maria para o
pagamento da cirurgia de seu pai. O imóvel de Maria, localizado no bairro Cidade Jardim,
foi avaliado em R$ 100.000,00, ao passo que o imóvel de José, localizado no bairro
Jardim das Acácias, foi avaliado em R$ 80.000,00. As avaliações foram realizadas por
corretores de imóveis antes da celebração do negócio jurídico. Ano e meio após a
realização do negócio, os imóveis do bairro Cidade Jardim experimentaram excelente
valorização, em razão de obras urbanísticas realizadas, ao passo em que os imóveis
localizados no bairro Jardim das Acácias sofreram acentuada desvalorização, pelo fato de
no local ter sido construído pela prefeitura um aterro sanitário. O imóvel que foi de José
continuou a valer os mesmos R$ 80.000,00, sendo que aquele que foi de Maria passou a
valer R$ 230.000,00. Maria, dessa forma, ingressou com ação anulatória em face de José,
pretendendo o retorno da situação ao estado anterior, argumentando que celebrou o
contrato sob premente necessidade, eis que precisava de dinheiro para a cirurgia de seu
pai, sendo que não foi observada a proporcionalidade das prestações, já que era esperada
a valorização de seu antigo imóvel, conforme notícias da época, resultando o negócio em
um imenso prejuízo para si e sua família. Defina o aluno a hipótese de anulabilidade
suscitada por Maria, resolvendo a questão, fazendo referência aos dispositivos legais
aplicáveis.

RESPOSTA:
De acordo com o disposto no art. 157 do Código Civil, que inovou a legislação nacional
ao trazer para o campo das anulabilidades o instituto da lesão, esta ocorre quando uma
pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Ocorre, entretanto, que
esta desproporcionalidade deve ser aferida no momento da celebração do negócio
jurídico, segundo os valores então vigentes, conforme determinado pelo § 1º do
dispositivo. No caso em apreço, no momento da permuta não houve
desproporcionalidade, já que os imóveis foram avaliados por corretores habilitados, tendo
sido paga por José a diferença do preço então verificada. Dessa forma, a valorização do
imóvel que foi de Maria não pode representar lesão, sendo incabível, portanto, a
anulabilidade por esta pretendida.

Você também pode gostar