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ROTEIRO DE AULA

Direito Civil - Contratos – Aula 02


Esp. Bel. Matheus Carvalho de Oliveira
Especialista em Adm. Pública Municipal

TEORIA GERAL DOS


CONTRATOS.

2. Princípios contratuais no Código Civil de 2002. Continuação.

2.4. Princípio da boa-fé objetiva

IV – Função de integração: conceitos parcelares da boa-fé objetiva:

c) “Tu quoque”
➢ “Até tu?”: grito de dor do Imperador Julio Cesar ao seu filho adotivo Brutus, que o traiu.
➢ Regra de ouro: não faça contra o outro o que você não faria contra si mesmo.
➢ Exemplo: uma parte contratual não pode criar uma situação para depois dela tirar proveito.

d) “Exceptio doli”
➢ É a defesa contra o dolo alheio.
➢ Exemplo: CC, art. 476: exceção de contrato não cumprido. Em um contrato bilateral, uma parte não pode exigir que
a outra cumpra com a sua obrigação se não cumprir com a própria.

e) “Venire contra factum proprium non potest”


➢ Vedação do comportamento contraditório. Fundamento: dever de confiança.

➢ Anderson Schreiber. Requisitos:


• 1º: comportamento anterior.

1
• 2º: comportamento posterior, em contradição com o primeiro.
• 3º: ausência de justa causa na contradição.
• 4º: dano ou receio de dano.
➢ Exemplo: REsp n. 95.539/SP (1996): marido vendeu imóvel sem outorga da esposa. A esposa, como testemunha em
uma ação, disse que concordava com a venda (conduta n. 1). Anos após, a esposa ingressou com a ação de invalidade
da venda (conduta n. 2). A ação de invalidade foi julgada improcedente.

“PROMESSA DE COMPRA E VENDA. CONSENTIMENTO DA MULHER. ATOS POSTERIORES. " VENIRE CONTRA FACTUM
PROPRIUM ". BOA-FE. PREPARO. FERIAS. 1. TENDO A PARTE PROTOCOLADO SEU RECURSO E, DEPOIS DISSO, RECOLHIDO
A IMPORTANCIA RELATIVA AO PREPARO, TUDO NO PERIODO DE FERIAS FORENSES, NÃO SE PODE DIZER QUE
DESCUMPRIU O DISPOSTO NO ARTIGO 511 DO CPC. VOTOS VENCIDOS. 2. A MULHER QUE DEIXA DE ASSINAR O CONTRATO
DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA JUNTAMENTE COM O MARIDO, MAS DEPOIS DISSO, EM JUIZO, EXPRESSAMENTE
ADMITE A EXISTENCIA E VALIDADE DO CONTRATO, FUNDAMENTO PARA A DENUNCIAÇÃO DE OUTRA LIDE, E NADA
IMPUGNA CONTRA A EXECUÇÃO DO CONTRATO DURANTE MAIS DE 17 ANOS, TEMPO EM QUE OS PROMISSARIOS
COMPRADORES EXERCERAM PACIFICAMENTE A POSSE SOBRE O IMOVEL, NÃO PODE DEPOIS SE OPOR AO PEDIDO DE
FORNECIMENTO DE ESCRITURA DEFINITIVA. DOUTRINA DOS ATOS PROPRIOS. ART. 132 DO CC. 3. RECURSO CONHECIDO
E PROVIDO” (REsp 95.539/SP, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 03/09/1996, DJ
14/10/1996, p. 39015).

f) “Duty to mitigate the loss”


➢ Artigo 77 da Convenção de Viena1 (CISG).
➢ Enunciado n. 169 – III Jornada de Direito Civil: a boa-fé objetiva impõe ao credor o dever de mitigar o próprio
prejuízo.
➢ Exemplo: REsp n. 758.518/PR (2010): redução de aluguéis fixados em compromisso de compra e venda pela demora
na propositura da ação.

“DIREITO CIVIL. CONTRATOS. BOA-FÉ OBJETIVA. STANDARD ÉTICO-JURÍDICO. OBSERVÂNCIA PELAS PARTES
CONTRATANTES. DEVERES ANEXOS. DUTY TO MITIGATE THE LOSS. DEVER DE MITIGAR O PRÓPRIO PREJUÍZO. INÉRCIA DO
CREDOR. AGRAVAMENTO DO DANO. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. RECURSO IMPROVIDO. 1. Boa-fé objetiva.
Standard ético-jurídico. Observância pelos contratantes em todas as fases. Condutas pautadas pela probidade,
cooperação e lealdade. 2. Relações obrigacionais. Atuação das partes. Preservação dos direitos dos contratantes na
consecução dos fins. Impossibilidade de violação aos preceitos éticos insertos no ordenamento jurídico. 3. Preceito

1
“A parte que invocar o inadimplemento do contrato deverá tomar as medidas que forem razoáveis, de acordo com as
circunstâncias, para diminuir os prejuízos resultantes do descumprimento, inc1uídos os lucros cessantes. Caso não adote
estas medidas, a outra parte poderá pedir redução na indenização das perdas e danos, no montante da perda que deveria
ter sido mitigada”.

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decorrente da boa-fé objetiva. Duty to mitigate the loss: o dever de mitigar o próprio prejuízo. Os contratantes devem
tomar as medidas necessárias e possíveis para que o dano não seja agravado. A parte a que a perda aproveita não pode
permanecer deliberadamente inerte diante do dano. Agravamento do prejuízo, em razão da inércia do credor. Infringência
aos deveres de cooperação e lealdade. 4. Lição da doutrinadora Véra Maria Jacob de Fradera. Descuido com o dever de
mitigar o prejuízo sofrido. O fato de ter deixado o devedor na posse do imóvel por quase 7 (sete) anos, sem que este
cumprisse com o seu dever contratual (pagamento das prestações relativas ao contrato de compra e venda), evidencia a
ausência de zelo com o patrimônio do credor, com o consequente agravamento significativo das perdas, uma vez que a
realização mais célere dos atos de defesa possessória diminuiriam a extensão do dano. 5. Violação ao princípio da boa-fé
objetiva. Caracterização de inadimplemento contratual a justificar a penalidade imposta pela Corte originária, (exclusão
de um ano de ressarcimento). 6. Recurso improvido” (REsp 758.518/PR, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 17/06/2010, REPDJe 01/07/2010, DJe
28/06/2010).

g) “Nachfrist”

➢ Artigo 47 da Convenção de Viena2 (CISG).


➢ O comprador pode conceder ao vendedor prazo razoável (suplementar) para o cumprimento da obrigação. Nesse
prazo, em regra, não cabe ação fundada no inadimplemento.
➢ Exemplo: TJ/RS (2017): "Caso dos Pés de Galinha".

“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. CONTRATO DE COMPRA E
VENDA INTERNACIONAL DE MERCADORIAS. ILEGITIMIDADE PASSIVA. AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO DE CONSTITUIÇÃO E
DESENVOLVIMENTO VÁLIDO E REGULAR DO PROCESSO. CAUÇÃO PROCESSUAL ("CAUTIO JUDICATUM SOLVI"). RESCISÃO
DE CONTRATO. AUSÊNCIA DE ENTREGA DAS MERCADORIAS, PELA VENDEDORA. RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO PELA
COMPRADORA. PENALIDADE POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. MAJORAÇÃO DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS.
1- Preliminar de extinção do feito com base no art. 485, VI, do CPC que não se acolhe, com base na Teoria da Asserção,
da qual se tem valido esta Corte para, assim, analisar em abstrato o preenchimento das condições da ação, aqui em
princípio atendidas. 2- Preliminar de extinção do feito sem resolução de mérito por ausência de pressuposto de
constituição e desenvolvimento válido e regular do processo que tampouco prospera, porque a ausência da prestação da
caução processual a que alude o art. 83, "caput", do Novo CPC não conduz à extinção do feito, com base no art. 485, IV,
do CPC, tratando-se, se muito, de causa de conversão do feito em diligência. Pedido sucessivo nesse sentido que,

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“(1) O comprador poderá conceder ao vendedor prazo suplementar razoável para o cumprimento de suas obrigações;
(2) Salvo se tiver recebido a comunicação do vendedor de que não cumprirá suas obrigações no prazo fixado conforme o
parágrafo anterior, o comprador não poderá exercer qualquer ação por descumprimento do contrato, durante o prazo
suplementar. Todavia, o comprador não perderá, por este fato, o direito de exigir indenização das perdas e danos
decorrentes do atraso no cumprimento do contrato”.

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contudo, é rejeitado, porque as circunstâncias do caso concreto tornam dispensável a exigência "cautio judicatum solvi".
3- Contato de compra e venda internacional de mercadorias cuja rescisão vai declarada, por força da aplicação conjunta
das normas do art. 47(1), do art. 49(1)(b) e do art. 81(2), todos da Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de
Compra e Venda Internacional de Mercadorias ("Convenção de Viena de 1980"), a cujo marco normativo se recorre
simultaneamente ao teor dos Princípios Unidroit relativos aos Contratos Comerciais Internacionais. 4- Indeferido o pedido
contrarrecursal de aplicação de penalidade por litigância de má-fé porque não constatada a incursão, pela ré, em qualquer
uma das condutas vedadas pelos arts. 77 e 80 do Novo CPC. 5- Honorários de sucumbência majorados para 15% sobre o
valor atualizado da condenação, com amparo na regra do art. 85, §11, do Novo CPC. Preliminares rejeitadas. Apelação
cível desprovida” (Apelação Cível Nº 70072362940, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 14/02/2017).

2.5. Princípio da relatividade dos efeitos contratuais (“res inter alios”)

I – O contrato, em regra, gera efeitos entre as partes contratantes, pois é instituto de direito pessoal. Porém, há
exceções (3).
II – 1ª exceção: estipulação em favor de terceiro (CC, arts. 436 a 438).
➢ O contrato beneficia um terceiro que não é parte, mas que pode exigir o seu cumprimento. Os efeitos contratuais
são de dentro para fora do contrato (efeitos exógenos).
➢ Exemplo: seguro de vida.

III – 2ª exceção: promessa de fato de terceiro (CC, arts. 439 e 440).


➢ Um contratante promete ao outro uma conduta alheia que, se não praticada, gera o seu inadimplemento. Os efeitos
são de fora para dentro do contrato (efeitos endógenos).
➢ Exemplo: promessa de um “show” de um cantor que não comparece.

IV – 3ª exceção: princípio da função social do contrato na sua eficácia externa (Enunciado n. 21 – I Jornada de Direito
Civil - Tutela externa de crédito.
Exemplo: CC, art. 608: “Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a
este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos”.

3. Formação do contrato no Código Civil de 2002 (4 fases - Darcy Bessone e Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona)
4

• Fase de negociações preliminares ou puntuação.
• Fase de proposta ou policitação. Efeitos jurídicos crescentes
• Fase de contrato preliminar. (força vinculativa).

• Fase de contrato definitivo.

3.1. Fase de negociações preliminares, fase das tratativas ou de pontuação

I – Nesta fase ocorrem os debates prévios para a celebração do contrato definitivo.


Exemplo: carta de intenções ou de um acordo de cavalheiros.
II – Observação n. 1:
• Não tem tratamento no Código Civil de 2002.
• Não tem força vinculativa.
III – Porém, se houver quebra da boa-fé objetiva nesta fase surgirá uma responsabilidade civil pré-contratual (culpa “in
contrahendo”). Fundamento: CC, art. 422 e Enunciados n. 25 (I Jornada) e n. 170 (III Jornada).

Questão n. 1: qual a natureza jurídica? Duas posições:

• Responsabilidade contratual: Mengoni, De Cupis, Galgano e Pablo Stolze e Pamplona.


• Responsabilidade extracontratual (majoritária): Saleilles, Maria Helena Diniz, Junqueira, Caio Mario, Carlos
Alberto Bittar e Cristiano Zanetti.

3.2. Fase de proposta, policitação ou oblação (CC, arts. 427 a 435)

I – Trata-se da fase de proposta formalizada que, em regra, vincula as partes (CC, art. 4273).
II – Partes:
• Proponente, solicitante ou policitante: aquele que faz a proposta estando a ela vinculado.
• Oblato, solicitado ou policitado: aquele que recebe a proposta. Se aceitá-la, torna-se aceitante, estando o
contrato aperfeiçoado pelo encontro das vontades.
➢ Se houver uma contraproposta os papéis se invertem (CC, art. 4314).

➢ Questão n. 2: o oblato pode ser determinável? Sim, pois o Código Civil de 2002 admite a oferta ao público (CC, art.
4295) – exemplos: internet e jornal.
3
CC, art. 427: “A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do
negócio, ou das circunstâncias do caso”.
4
CC, art. 431: “A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta”.
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O CDC tem um capítulo sobre oferta aplicável às relações de consumo (CDC, arts. 30 a 38).

III – O artigo 428 do Código Civil6 prevê as hipóteses em que a proposta deixa de ser obrigatória.

➢ Inc. I: se feita sem prazo a pessoa presente não foi imediatamente aceita (contrato com declaração consecutiva).
Considera presente quem contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante.

➢ Inc. II: se feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao
conhecimento do proponente (contrato com declarações intervaladas).

➢ Inc. III: se feita a pessoa ausente não tiver sido expedida a resposta no prazo dado.
➢ Inc. IV: se antes da resposta (ou proposta) ou simultaneamente a ela chegar ao conhecimento do oblato a
retratação do proponente.

IV – O contrato pode ser formado:


• Entre presentes (“inter praesentes”).
• Entre ausentes (“inter absentes”) - exemplo: contrato epistolar (por carta).

➢ Verificar:
• Mesmo ambiente (virtual).
• Distância.
• Tempo (pergunta e resposta).

➢ Contrato entre presentes: formado quando o oblato aceita a proposta.

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CC, art. 429: “A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o
contrário resultar das circunstâncias ou dos usos.
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na
oferta realizada”.
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CC, art. 428: “Deixa de ser obrigatória a proposta:
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que
contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do
proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente”.

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➢ Contrato entre ausentes: duas teorias:

• 1ª teoria (regra): teoria da agnição na subteoria da expedição: quando a aceitação é expedida (CC, art. 434,
“caput”7).
• 2ª teoria (exceção): teoria da agnição na subteoria da recepção: quando a aceitação é recebida pelo proponente
(CC, art. 434, I, II e III8). Exemplo: quando a teoria for convencionada entre as partes.
➢ Questão n. 3: para os contratos eletrônicos entre ausentes qual a teoria aplicada? Teoria da recepção (Enunciado n.
173 – III Jornada de Direito Civil9).

V – CC, art. 435 (contratos nacionais): local do contrato: local da proposta.


Observação n. 2: LINDB, art. 9º, § 2º10: contratos internacionais: local do contrato é o local da residência do proponente.

3.3. Fase de contrato preliminar (CC, art. 462 a 466)

I – Há um contrato preparatório, documentado , com efeitos jurídicos próprios, visando ao contrato definitivo.

Exemplo de efeitos jurídicos próprios: arras ou sinal (CC, arts. 417 a 420).

II – CC, art. 46211: o contrato preliminar, exceto quanto à forma (solenidade), deve ter os mínimos requisitos de validade
do contrato definitivo.
O contrato preliminar não exige escritura pública.

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CC, art. 434, “caput”: “Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto:”.
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CC, art. 434: “Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto:
I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado”.
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“A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a recepção da
aceitação pelo proponente”.
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LINDB, art. 9º, § 2º: “A obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugar em que residir o proponente”.
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CC, art. 462: “O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a
ser celebrado”.

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III – Como aponta Maria Helena Diniz, duas são as modalidades básicas de contrato preliminar (compromisso de
contrato).
a) Compromisso unilateral de contrato (contrato de opção) (CC, art. 46612): as duas partes compõem o instrumento,
mas apenas uma delas assume o compromisso de celebrar o contrato definitivo. A outra tem mera opção.
Exemplo: promessa de doação.

b) Compromisso bilateral de contrato: as duas partes compõem o instrumento assumindo o compromisso de celebrar o
contrato definitivo.
➢ Exemplo: compromisso de compra e venda (móvel ou imóvel):
• Promitente vendedor.
• Promitente (compromissário) comprador.
➢ Em relação ao compromisso de compra e venda de imóvel existem duas figuras possíveis, o que depende do registro
ou não do contrato preliminar na matrícula do imóvel (CRI, RGI, RI).

➢ CC, art. 463, parágrafo único: “deverá ser levado ao registro” : “poderá”: o registro do contrato preliminar é apenas
um fator de eficácia perante terceiros (Enunciado n. 30 – I Jornada de Direito Civil13). Não é requisito de validade.
➢ O registro cria um direito real de aquisição (CC, art. 1.225, VII14). Por isso são possíveis as seguintes figuras jurídicas:

b.1) Compromisso de compra e venda de imóvel não registrado na matrícula:

• Há um contrato preliminar propriamente dito.


• Efeitos obrigacionais “inter partes”.
• Gera uma obrigação de fazer o contrato definitivo.
• Pode haver cláusula de arrependimento ou não.

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CC, art. 466: “Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá
manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor”.
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“A disposição do parágrafo único do art. 463 do novo Código Civil deve ser interpretada como fator de eficácia
perante terceiros”.
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CC, art. 1.225: “São direitos reais:
(...)
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
(...)”.

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Se não constar cláusula de arrependimento, e o promitente vendedor não celebrar o contrato definitivo, o
compromissário comprador que tiver pago o preço terá as seguintes opções:
• 1ª: CC, art. 46315: ação de obrigação de fazer. O juiz fixa um prazo para a outorga do contrato definitivo.
• 2ª: CC, art. 46416: esgotado esse prazo, o juiz pode suprir a vontade do réu (promitente vendedor) (adjudicação
compulsória “inter partes” – S. 239 STJ17 e Enunciado n. 95 – I Jornada de Direito Civil18).
• 3º: CC, art. 46519: resolução mais perdas e danos.

b.2) Compromisso de compra e venda de imóvel registrado na matrícula (CC, arts. 1.225, VII, 1.41720 e 1.41821, Dec.-Lei
n. 58/37 e Lei n. 6.766/79)
• Direito real de aquisição.
• Efeitos reais “erga omnes”.
• Obrigação de dar (Orlando Gomes, Maria Helena Diniz e José Osório).
• É nula a cláusula de arrependimento (Súmula n. 166 STF22).

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CC, art. 463: “Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele
não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando
prazo à outra para que o efetive”.
16
CC, art. 464: “Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente,
conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação”.
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“O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de
imóveis”.
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“O direito à adjudicação compulsória (art. 1.418 do novo Código Civil), quando exercido em face do promitente
vendedor, não se condiciona ao registro da promessa de compra e venda no cartório de registro imobiliário (Súmula n.
239 do STJ)”.
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CC, art. 465: “Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e
pedir perdas e danos”.
20
CC, art. 1.417: “Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por
instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador
direito real à aquisição do imóvel”.
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CC, art. 1.418: “O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a
quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no
instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel”.
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“É inadmissível o arrependimento no compromisso de compra e venda sujeito ao regime do Decreto-Lei 58, de
10.12.1937”.

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Observações:
• Diante da impossibilidade de cláusula de arrependimento o instituto é também denominado “compromisso
irretratável de compra e venda”.
• Se o promitente vendedor não celebra o contrato definitivo, o compromissário comprador que pagar o preço
terá ação de adjudicação compulsória contra ele ou contra terceiros (efeitos “erga omnes”).

IV – Contrato com pessoa a declarar (CC, arts. 467 a 471) (cláusula “pro amico eligendo”).
➢ No momento da conclusão do contrato uma parte pode indicar que um terceiro assumirá a sua posição contratual.
Prazo de antecedência: cinco dias antes do contrato definitivo (em regra) (pode constar prazo maior para a indicação
– CC, art. 46823).
➢ Exemplo:
• Contrato preliminar: “A” e “B”.
• Contrato definitivo: “C” (indicado por “A”) e “B”.

Trata-se de mais uma exceção ao princípio da relatividade dos efeitos contratuais.

3.4. Fase de contrato definitivo

Aperfeiçoado o contrato pelo “encontro das vontades”, os seus efeitos contratuais são plenos.
Observações:

• Não há mais pré-contratualidade.


• Se houver inadimplemento, aplicam-se os artigos sobre o tema (CC, art. 389 a 416).

4. Revisão judicial dos contratos no Código Civil de 2002


I – Por fato superveniente (CC, art. 31724 a 478) ou fato novo. Problema no sinalagma funcional: ficou desequilibrado
depois.
Observação n. 3: diferente de problema no sinalagma genético: já nasceu desequilibrado (CC, art. 156 e 157).
II – Requisitos clássicos para revisão dos contratos civis. Veremos na próxima aula.

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CC, art. 468: “Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se
outro não tiver sido estipulado”.
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CC, art. 317: “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida
e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o
valor real da prestação”.

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