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Elementos de Direito das Obrigações
PONTO 0 (CP 0)
Contratos/responsabilidade civil/exclusão/CCGerais
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
- igualdade
- vinculação: fontes
- sede legal
2. A responsabilidade civil
- sede legal
- espécies de responsabilidade
CASO PRÁTICO nº 0
A socidedade Parque Expo tem uma tabuleta numa vedação de segurança que contorna a doca
do Pavilhão de Portugal dizendo: “Perigo de afogamento. A ParqueExpo não se responsabiliza
por acidentes”.
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Elementos de Direito das Obrigações
- sede legal
- espécies de responsabilidade
Resposta A)
- há um contrato?
Artigo 234º
(Dispensa da declaração de aceitação)
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Elementos de Direito das Obrigações
- Resposta:
- Forma
Artigo 5.º
Comunicação
1 - As cláusulas contratuais gerais devem ser comunicadas na íntegra aos aderentes
que se limitem a subscrevê-las ou a aceitá-las.
2 - A comunicação deve ser realizada de modo adequado e com a antecedência
necessária para que, tendo em conta a importância do contrato e a extensão e
complexidade das cláusulas, se torne possível o seu conhecimento completo e efectivo
por quem use de comum diligência.
3 - O ónus da prova da comunicação adequada e efectiva cabe ao contratante que
submeta a outrem as cláusulas contratuais gerais
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Elementos de Direito das Obrigações
Artigo 18.º
Cláusulas absolutamente proibidas
São em absoluto proibidas, designadamente, as cláusulas contratuais gerais que:
a) Excluam ou limitem, de modo directo ou indirecto, a responsabilidade por danos
causados à vida, à integridade moral ou física ou à saúde das pessoas;
b) Excluam ou limitem, de modo directo ou indirecto, a responsabilidade por danos
patrimoniais extracontratuais, causados na esfera da contraparte ou de terceiros;
c) Excluam ou limitem, de modo directo ou indirecto, a responsabilidade por não
cumprimento definitivo, mora ou cumprimento defeituoso, em caso de dolo ou de culpa
grave;
d) Excluam ou limitem, de modo directo ou indirecto, a responsabilidade por actos de
representantes ou auxiliares, em caso de dolo ou de culpa grave;
Artigo 12.º
(Cláusulas proibidas)
As cláusulas contratuais gerais proibidas por disposição deste diploma são nulas nos
termos nele previstos.
Artigo 20.º
Âmbito das proibições
Nas relações com os consumidores finais e, genericamente, em todas as não
abrangidas pelo artigo 17.º, aplicam-se as proibições das secções anteriores e as
constantes desta secção
Artigo24.º
Declaração de nulidade
As nulidades previstas neste diploma são invocáveis nos termos gerais.
Artigo25.º
Acção inibitória
As cláusulas contratuais gerais, elaboradas para utilização futura, quando contrariem o
disposto nos artigos 15.º, 16.º, 18.º, 19.º, 21.º e 22.º podem ser proibidas por decisão
judicial, independentemente da sua inclusão efectiva em contratos singulares.
Artigo32.º
Consequências da proibição definitiva
1 - As cláusulas contratuais gerais objecto de proibição definitiva por decisão transitada
em julgado, ou outras cláusulas que se lhes equiparem substancialmente, não podem
ser incluídas em contratos que o demandado venha a celebrar, nem continuar a ser
recomendadas.
2 - Aquele que seja parte, juntamente com o demandado vencido na acção inibitória, em
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Elementos de Direito das Obrigações
contratos onde se incluam cláusulas gerais proibidas, nos termos referidos no número
anterior, pode invocar a todo o tempo, em seu benefício, a declaração incidental de
nulidade contida na decisão inibitória
Resposta B)
- regime geral da responsabilidade
- contratual, se houver contrato; abrangendo ainda um sujeito menor (i.e.,
não sendo de o remeter para uma responsabilidade delitual) se fizermos
uso de uma tese de extensão da eficácia dos deveres contratuais
acessórios, fundados na boa fé (Menezes Leitão, DOb I, 361-362).
- delitual, se não houver contrato
- não pelo risco – cf. 483/2
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Elementos de Direito das Obrigações
PONTO nº 1
Direitos reais vs direitos de crédito / Contratos/oponibilidade a terceiros /
neminem laedere
CP nº 1
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
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Elementos de Direito das Obrigações
CASO PRÁTICO Nº 1
Sara obrigou-se a cantar no bar de Raquel na noite de fim de ano. No dia 31 à tarde, Lia propôs a
Sara ir cantar a sua casa nessa noite, mas esta objectou que já se vinculara perante Raquel. Lia
ofereceu-lhe um preço superior, e Sara lá aceitou. Sara informou Raquel, que, todavia, já não
arranjou substituto. A festa de Raquel foi um fracasso total, alguns clientes insultaram-na pela
ausência de música ao vivo — ao contrário do que dizia a publicidade — e, em consequência,
Raquel vendeu menos € 10.000 de bebidas do que no ano anterior. Raquel propôs uma acção de
indemnização contra Sara e Lia, sendo certo, no entanto, que Sara é insolvente. Quid juris?
Questões prévias
Resposta
- Lia é terceira:
- Pode ser responsabilizada?
o Nunca como parte
o Como terceiro que violasse um dever específico
- P1 – doutrina clássica (Cunha Gonçalves); irrelevância perante terceiros
(cf. 406/ 2 CC e a oposição 483 vs 798 CC)
- P2 – doutrina da eficácia externa (Gomes da Silva, Menezes Cordeiro,
Santos Júnior): neminem laedere (dever geral de respeito
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Elementos de Direito das Obrigações
JURISPRUDÊNCIA
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Elementos de Direito das Obrigações
ao lesado a possibilidade de optar por um ou outro regime e até de cumular regras de uma e outra
modalidade da responsabilidade, segundo a chamada "teoria da opção" .
II – Em ambos os casos impende sobre a Brisa uma presunção legal de culpa – artºs 493º, nº 1, e
799º, nº 1, do C. Civ. - , mas sem qualquer restrição no modo de ilisão .
III – Fazer depender a ilisão da presunção do modo concreto da intromissão do animal é tornar
impossível a prova, implicando na prática uma situação de responsabilidade objectiva, e a norma
nesta dimensão interpretativa seria materialmente inconstitucional por violação do princípio da
proporcionalidade .
IV – Não é suficiente para ilidir a presunção a mera alegação genérica de que “junto ao local do
acidente existe vedação que estava em bom estado de conservação”, impondo-se a concreta
alegação das características físicas da vedação, designadamente o tipo de vedação, a estrutura
material, a altura da mesma, para se aquilatar da efectiva condição de segurança .
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
PONTO nº 2
Patrimonialidade das obrigações. Obrigações naturais
CP nº 2
CP nºs 3 e 4
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
ML, DOb I, 90 ss
CASO PRÁTICO Nº 2
António tem uma frustração doentia por nunca ter conseguido aprender a tocar bem piano,
frustração que aumentou quando Benta, filha de um amigo seu, começou a aprendê-lo. Benta foi
evoluindo na sua arte até que, aos 18 anos, entrou no curso superior do Conservatório. António
ofereceu-lhe então € 25.000 para que nunca mais tocasse. Benta aceitou e António pagou-lhe.
Passado um ano, Benta arrependeu-se. Quid juris?
ARTIGO 398º
(Conteúdo da prestação)
1. As partes podem fixar livremente, dentro dos limites da lei, o conteúdo positivo ou
negativo da prestação.
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
Exemplo: A, doente, combinar com B que este não tocaria piano durante 2
horas; teria de haver uma cláusula penal que lhe desse uma patrimonialidade que ela
directamente não tem(2) um desmentido; (3) um pedido de desculpas
Exemplo: (1) A, surdo, combinar com B que este não faria barulho (maxime, não tocaria
piano durante 2 horas por dia).
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
Exemplo: A, surdo, combinar com B que este não faria barulho (maxime, não tocaria
piano durante 2 horas por dia), com uma cláusula penal (cf. art. 810º)
Outros INDÍCIOS haver/não haver acção directa, condenatória ou cautelar; haver/não
haver responsabilidade civil; haver/não haver direito a resolução por impossibilidade culposa
(art. 801/2)
Resposta
De duas uma:
- releva como mania (AV) pelo que não é uma obrigação digna de protecção
legal; há enriquecimento sem causa, com obrigação de restituição (472), sem
prejuizo de consideração de danos por violação da boa fé
- irreleva como mania (MC), mas importa apurar dos limites do 398/1 / 280 e
o ou se tem o acordo pode contrário aos princípios da ordem pública:
disposição inadmissível, porque desproporcionada no tempo, de um direito
de personalidade; logo, nulo, ab initio (cf. 81/1)
o ou se tem acordo por conforme aos princípios da ordem pública, mas pode
valer-se a parte passiva do 81/2
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
6. Obrigações naturais
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Elementos de Direito das Obrigações
Natureza jurídica (ML): não jurídica (relação de facto), para a qual o 403 não
vem dar juridicidade, mas uma causa jurídica à aquisição natural, em ordem a
proteger o credor natural. Não há na obrigação natural um direito primário à
prestação. Argumentos nesse sentido:
- a obrigação inclui um elemento de coercibilidade; não pode haver
crédito sem coercibilidade (donde a proibição do 809)
- sem esse elemento de coercibilidade o crédito natural não vale como
um activo no património do credor, nem como passivo no património
do devedor
- está, por isso, próximo, do regime das liberalidades, assim justificando
o art. 615/2
- o art. 476/1 mostra que o legislador reconhece que o cumprimento de
uma obrigação natural é juridicamente não devido, mas que esse
cumprimento espontaneo, por corresponder a um dever de justiça,
constitui uma causa jurídica para a recepção da prestação, que obsta
ao funcionamento do enriquecimento sem causa
CASO PRÁTICO nº 3
Por capricho, mas também por querer beneficiar Daniel, que estava desempregado, Célia
ofereceu-lhe € 50 pelo «serviço» de levar certa carrada de areia de construção do lugar onde
estava para outro lugar a 10 metros dali e trazê-la de volta ao ponto inicial. O trabalho devia ser
feito durante aquela tarde. Daniel aceitou e começou de imediato, mas Célia apareceu passado um
bocadinho dizendo-se arrependida. Quid juris?
* Caso da autoria de Dr. Pedro Ferreira Múrias
Resposta
Não há dúvidas de que se está perante obrigações com valor pecuniário,
por baixo que este seja. Além disso não se violam normas imperarivas. Portanto,
não se exclui que, em face do art. 398º, nº 2, não possamos estar perante uma
obrigação jurídica, seguindo MC.
Contudo, não será uma obrigação natural?
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
Solução A (Mcordeiro):
➢ As referências a deveres morais e de justiça são de desvalorizar
porque são pouco produtivos; só interessa a incoercibilidade
➢ constituiu-se usando os procedimentos/normas atinentes à
constituição das obrigações (cf. art. 404º) , i.e., teria juridicidade
(MC);
➢ mas importa ainda que não seja judicialmente exigível: ora a
incoercibilidade não se presume, só podendo suceder nos casos
tipificados na lei (v.g., 304/2, 495/3, 1245, 1895/2) (MC)
➢ seria uma obrigação civil
Solução B (doutrina maioritária, maxime AVarela): obrigação natural é admitida
genericamente em todos os caso em que o cumprimento de um dever moral,
corresponde ao cumprimento de um dever de justiça (Acosta, ML), desde que
específico entre pessoas determinadas (AVarela); nada disso surge aqui: a
fundamentação psicológica/moral de Célia é demasiado vaga para justificar uma
tutela específica.
CASO PRÁTICO Nº 4
A sociedade Empacota, S.A. celebrou com a sociedade Lacticínios, S.A. um contrato nos termos
do qual a primeira se obrigava a entregar à segunda 10.000 embalagens Tetra Pak mediante o
pagamento de um preço. Regularam pormenorizadamente, entre outros aspectos, as
características das embalagens, o fraccionamento da entrega, os prazos de cumprimento e uma
cláusula penal para o caso de atraso de qualquer um dos contraentes. Do texto constava ainda
uma cláusula onde se estabelecia o seguinte: «As obrigações emergentes do presente contrato não
são judicialmente exigíveis».
A sociedade Empacota não forneceu quaisquer embalagens nas datas acordadas. A Lacticínios
pretende saber se pode pedir a condenação judicial da Empacota a fazê-lo e, no caso de tal não ser
possível, que outros direitos lhe assistem. Que resposta lhe daria?
Resposta
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
Vale aqui a proibição de renúncia do credor aos seus direitos (cf. art.
809º), maxime, ao direito de exigir o cumprimento. A cláusula é nula, sem
prejuízo de um abuso de direito pela Lacticínios (que concordou com ela), em
casos eventuais. O meio judicial não está excluído.
Em todo o caso, o credor pode celebrar negócios jurídicos processuais
(cf. 293 ss CPC): unilaterais (desistência da instância/ processo e desistência do
pedido) e bilaterais (acordo de transacção judicial (1248), antes (1250) ou na
pendência de uma acção judicial (1248/1 in fine). Todos têm algo em comum: o
direito de crédito é inseparável do direito de acção. Efectivamente, o credor ou
renuncia total/parcialmente ao seu direito de crédito (assim, na desistência do
pedido ou na transacção) ou renuncia apenas àquele processo (assim, na
desistência da instância)
JURISPRUDÊNCIA
A entidade patronal pode pedir ao trabalhador a restituição do que lhe pagou a título de
vencimento e subsídio de gasolina, se se provar que o fez erradamente, visto não se tratar de
obrigação natural.
:
STJ 17/2/1994 (Guerra Pires), BMJ 434 (1994), 292
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
HOMICÍDIO QUALIFICADO
ARMA NÃO MANIFESTADA
AGRAVANTE QUALIFICATIVA
CONCURSO DE INFRACÇÕES
ESPECIAL CENSURABILIDADE DO AGENTE
OFENSAS CORPORAIS COM DOLO DE PERIGO
INSTRUMENTO PERIGOSO
RESPONSABILIDADE CIVIL CONEXA COM A CRIMINAL
INDEMNIZAÇÃO
UNIÃO DE FACTO
ALIMENTOS
OBRIGAÇÃO NATURAL
ALTERAÇÃO NÃO SUBSTANCIAL DOS FACTOS
FACTO NOVO
(...)
II - O homicídio, a tiro de pistola de calibre 6,35 mm não manifestada, tipifica o crime da alínea
f) do citado n. 2, quando o uso da arma revelar uma especial censurabilidade do agente (v.g. já
com a bala no cano, disparada a curta distância).
III - A existência de uma tal agravante qualificativa não obsta ao concurso real do dito homicídio
com o crime do artigo 260.
IV - Cabe no n. 2 do artigo 144 a agressão levada a cabo com uma vara de ferro maciço,
susceptível de causar lesões graves e, portanto, instrumento particularmente perigoso.
V - A mulher que, há anos, vivia em concubinato com o assassinado, tem direito à indemnização
correspondente à perda dos alimentos que aquele lhe prestava, como sua obrigação natural.
VI - Constitui nulidade alterar os factos alegados ou acrescentar-lhes outros, mas só se isso tiver
influido na decisão é que ela será declarada.
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
I - Emitido para pagamento de dívida de jogo, que o arguido contraíu no casino gerido pela
queixosa, e descriminalizada a emissão, por se tratar de cheque pré-datado, é de manter a
condenação do arguido no pedido cível ( montante do cheque e juros ) proferida no
prosseguimento do processo a requerimento da queixosa, visto do não pagamento de cheque ter
resultado prejuízo patrimonial, concebido o conceito de património como o conjunto de utilidades
económicas detidas pelo sujeito cuja fruição ou exercício a ordem jurídica não desaprova, sendo
certo que mesmo que a dívida de jogo origine apenas uma obrigação natural, se o devedor
cumprir espontaneamente, a prestação não pode ser repetida.
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
ALIMENTOS
OBRIGAÇÃO NATURAL
CCIV66 ART495 N3.
Têm direito a ser indemnizados, nos termos do artigo 495 do CC os pais que recebiam da filha, vítima
mortal de acidente de viação, uma prestação mensal, em cumprimento de um simples dever moral, e que,
segundo intenção firme dela, continuariam a receber enquanto vivos fossem.
Tendo os Réus excepcionado a prescrição de rendas vencidas há mais de um ano, antes de instaurada a
acção de despejo com base na falta de pagamento de rendas, e tendo, à cautela, efectuado o seu depósito
condicional para impedir o despejo, tal depósito não consubstancia o cumprimento de uma obrigação
natural que impeça a restituição de tais quantias aos Réus, se procedente a excepção peremptória em
causa.
I - Quem paga as despesas médicas e hospitalares de um irmão que permaneceu em estado de coma durante
mais de três anos, no convencimento de que esse irmão, se sobrevivesse, o reembolsaria do montante
despendido, não cumpre uma obrigação natural.
II - O fundamento jurídico para o reembolso dessas despesas é o enriquecimento sem causa.
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
: I – A intenção de matar deduz-se geralmente dos elementos materiais, conjugados ou não com a regras da
experiência comum, onde a presunção natural tem especial relevância.
II – Provado que o arguido agiu voluntária e conscientemente com a intenção de causar as lesões descritas,
sabendo que tais lesões causavam perigo para a vida da vítima e eram adequadas a causar-lhe a morte,
resultado que previu mas com o qual não se conformou, e dado como não provado que tivesse agido com o
propósito de produzir-lhe a morte (devido a outros elementos que abalaram a convicção da intenção de
matar), há que afastar a intenção de matar por subsistir no espírito do julgador dúvida séria sobre a
existência de tal intenção.
III – Provado que os arguidos, agindo de comum acordo, levaram a vítima, à força, para local diferente do
da sua residência (local para onde se dirigiam inicialmente) aí a mantendo, através do uso de violência, e
contra a sua vontade, tendo como finalidade obrigar os familiares da vítima a entregar-lhes determinada
quantia em dinheiro (que a vítima pretensamente lhes devia), a troco da sua libertação, tendo agido
voluntária e conscientemente, sabendo que tais condutas eram punidas por lei, mostra-se preenchido o tipo
de crime do artigo 160 ns.1 alínea d) e 2 alínea b) do Código Penal (crime de rapto agravado pelo resultado
morte), sendo indiferente que a vítima devesse ou não qualquer quantia aos arguidos.
(...)
VII – Provado que a demandante foi casada com a vítima, tendo-se separado judicialmente de pessoa e
bens por mútuo acordo, mas apesar dessa separação sempre viveram em comunhão de mesa, leito,
habitação e economia até ao momento da morte da vítima e que do rendimento mensal desta cerca de 100
contos era afecto à economia comum do casal, composto pela vítima e pela demandante, haverá lugar a
indemnização a favor desta que deixou de receber uma quantia que era prestada no cumprimento de uma
obrigação natural (artigo 495 n.3 do Código Civil), apesar de não se ter dado como provado que a
demandante dependesse apenas dos rendimentos da vítima, pois também não se deu como provado que
tivesse outros rendimentos, que não necessitasse desses rendimentos ou qual a sua contribuição para a
economia comum.
(...)
5. A repetição do indevido constitui um caso particular da figura do enriquecimento sem causa, revestindo,
por isso, natureza subsidiária, e dependendo a sua invocação da verificação dos pressupostos para este
exigidos pelo art. 473º do C.Civil.
6. O que for prestado com a intenção de cumprir uma obrigação pode ser repetido se esta não existia, salvo
se a prestação foi efectuada espontaneamente no cumprimento de uma obrigação natural.
7. Para que haja obrigação natural é necessário que exista, como fundamento da prestação, um dever
moral ou social específico entre pessoas determinadas, cujo cumprimento seja imposto por uma recta
composição de interesses (ditames da justiça), competindo, em cada caso, à jurisprudência, de harmonia
com as concepções predominantes e as circunstâncias concretas de cada situação, averiguar, primeiro, se
existe um dever moral ou social, e, seguidamente, se esse dever moral ou social é tão importante que o seu
cumprimento envolve um dever de justiça.
8. O cumprimento de obrigação inexistente confere, pura e simplesmente, ao seu autor, o direito à
repetição, não exigindo a lei o erro desculpável do solvens nem o conhecimento do erro pelo accipiens no
acto do cumprimento, nem tão pouco a ignorância da inexistência da obrigação para que aquele possa
actuar a repetição do indevido.
9. Não age com abuso de direito a seguradora que, por motivo a si próprio imputável, continuou a pagar a
um sinistrado em acidente de trabalho uma pensão que, entretanto, fora reduzida por decisão judicial, sendo
esta redução do conhecimento daquele sinistrado, vem requerer a repetição do indevido relativamente aos
montantes que pagou na parte em que excederam o quantum que estava obrigada a pagar.
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
OBRIGAÇÃO NATURAL
ALIMENTOS
Em caso de morte ocorrida em acidente de viação só existirá indemnização por danos cessantes se a vítima
estava obrigada a prestar alimentos ou se o fazia em cumprimento de uma obrigação natural, isto é,
obrigação fundada num mero dever de ordem moral ou social, não bastando ser seu cônjuge.
RP 11/4/2005
EXECUÇÃO
PRESCRIÇÃO
COMPENSAÇÃO
CRÉDITO
OBRIGAÇÃO NATURAL
CEMITÉRIO
CONTRATO DE CONCESSÃO
USUCAPIÃO
CADÁVER
OBRIGAÇÃO NATURAL
TRANSLADAÇÃO DE CÁDAVER
CONDENAÇÃO
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
1) Ninguém pode ser privado da possibilidade de prestar o culto aos seus mortos, de conviver
com a sua memória e com a sua saudade sendo que a exteriorização desse recolhimento varia com
os usos da comunidade, as tradições familiares ou de grupo, os ritos religiosos ou, enfim, a
personalidade de cada um.
2) A Constituição da República, o Código Civil e o direito mortuário - DL nºs 433/82, 422/98,
5/2000 e 138/2000 - não consagram expressamente o direito ao culto dos mortos.
3) São pressupostos das obrigações naturais o basear-se a obrigação num dever moral ou social e
o seu cumprimento corresponder a um dever de justiça. É requisito negativo a sua não
coercibilidade.
4) Privar os pais da proximidade possível do túmulo do filho é incumprir um dever social ou
moral, não permitindo que, no recolhimento intranquilo, chorem a sua perda.
5) O dever de consciência assume a natureza de dever de justiça quando não é um mero dever
social de cortesia ou uma liberalidade mas corresponde a uma situação tão socialmente relevante
que merece certa tutela do direito, embora não se transforme em dever jurídico gerador de
obrigação civil.
6) Cumpre aos tribunais decidir, após apreciação casuística, e com apelo ao sentir social e às
razoáveis concepções dominantes, se um determinado dever moral ou social tem ínsito um
principio jurídico de natureza geral e merece alguma tutela, por reconhecimento pelo direito
natural.
7) Da obrigação natural, que não se limita a obrigações pecuniárias, mas a qualquer tipo, ainda
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
que não remuneratório, estão arredadas as disposições das obrigações civis conectadas com a
realização coactiva da prestação.
Decisão Texto Integ
ral:
RC 22/5/2002 (Hélder Roque)
OBRIGAÇÃO NATURAL
MÚTUO
LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
PONTO nº 3
Modalidades das obrigações. Prestações instântaneas/duradouras.
Obrigações de juros. Cumprimento, benefício do prazo, arts. 781º e 934º,
direito à resolução
CP nº 5
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
8. Prestações instantâneas
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
Exemplos: entrega da coisa pelo vendedor (art. 882º) [ML]; realização da obra
pelo empreiteiro (art. 1208º) [ML]
9. Prestações duradouras
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
Art. 212º
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 561º
(Autonomia do crédito de juros)
ARTIGO 310º
(Prescrição de cinco anos)
ARTIGO 785º
(Dívidas de juros, despesas e indemnização)
Exemplo dessa autonomia (segundo PL/AV): a não sujeição ao art. 763, ou seja,
quando o devedor paga os juros não lhe podem estes ser recusados com a
alegação de que deve entregar o capital
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 763º
(Realização integral da prestação)
1. A prestação deve ser realizada integralmente e não por partes, excepto se outro for o
regime convencionado ou imposto por lei ou pelos usos.
ARTIGO 559º
(Taxa de juro)
2. A estipulação de juros a taxa superior à fixada nos termos do número anterior deve
ser feita por escrito, sob pena de serem apenas devidos na medida dos juros legais.
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 1142º
(Noção)
Mútuo é o contrato pelo qual uma das partes empresta à outra dinheiro ou outra coisa
fungível, ficando a segunda obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e
qualidade.
ARTIGO 1145º
(Gratuidade ou onerosidade do mútuo)
2. Ainda que o mútuo não verse sobre dinheiro, observar-se-á, relativamente a juros,
o disposto no artigo 559º e, havendo mora do mutuário, o disposto no artigo 806º.
ARTIGO 1146º
(Usura)
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
Ou seja:
— Derroga-se assim a regra geral do art. 292 (relevância da
vontade)
— Pode, em qualquer caso, o contrato ser anulado ou modificável
por ser usurário
ARTIGO 282º
(Negócios usurários)
ARTIGO 283º
(Modificação dos negócios usurários)
ARTIGO 284º
(Usura criminosa)
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
penal for proferida sentença que transite em julgado, aquele prazo conta-se da data da
extinção da responsabilidade criminal ou daquela em que a sentença transitar em
julgado, salvo se houver de contar-se a partir de momento posterior, por força do
disposto no nº 1 do artigo 287º.
ARTIGO 1145º
(Gratuidade ou onerosidade do mútuo)
ARTIGO 480º
(Agravamento da obrigação)
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Elementos de Direito das Obrigações
das quantias a que o empobrecido tiver direito, depois de se verificar algumas das
seguintes circunstâncias:
ARTIGO 1167º
(Enumeração)
O mandante é obrigado:
b) A pagar-lhe a retribuição que ao caso competir, e fazer-lhe provisão por conta dela
segundo os usos;
ARTIGO 806º
(Obrigações pecuniárias)
2. Os juros devidos são os juros legais, salvo se antes da mora for devido um juro mais
elevado ou as partes houverem estipulado um juro moratório diferente do legal.
3. Pode, no entanto, o credor provar que a mora lhe causou dano superior aos juros
referidos no número anterior e exigir a indemnização suplementar correspondente,
quando se trate de responsabilidade por facto ilícito ou pelo risco.
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Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 560º
(Anatocismo)
CASO PRÁTICO Nº 5
Maria emprestou €20.000,00 a Nuno em Outubro de 2005. Ficou acordado que os €20.000,00
seriam restituídos no início Outubro de 2007. Foi ainda convencionado que Nuno pagaria, no dia
um de cada mês, juros sobre a quantia mutuada, calculados à taxa anual de 6%, pelo que, durante
dois anos, deveria entregar mensalmente a Maria a quantia de €100,00.
1) Em Setembro de 2006, Nuno deixou de pagar os juros, alegando graves dificuldades
financeiras. Perante isto, Maria envi
ou-lhe uma carta exigindo:
1. A restituição imediata dos €20.000,00 mutuados;
2. O pagamento de €100,00, referentes aos juros devidos no mês de Outubro;
3. O pagamento de €1.100,00, referentes às prestações mensais de juros devidas até ao final do
contrato (Outubro de 2007), com fundamento no art. 781.º do CC.
Diga, fundamentadamente, se o terceiro pedido é procedente (pronuncie-se apenas sobre o
terceiro pedido).
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Elementos de Direito das Obrigações
2) Suponha agora que Maria e Nuno tinham acordado a seguinte cláusula: «A falta de pagamento
de uma das prestações mensais de juros, importa o vencimento das demais». A resposta à questão
anterior seria diferente?
3) Suponha que, em vez de um empréstimo em dinheiro, Maria tinha vendido a Nuno um carro,
tendo ambos convencionado que o preço seria pago em prestações mensais de €1.033,00,
repartidas por 24 meses. Nuno não pagou as prestações referentes aos meses de Setembro e
Outubro de 2006. Maria pretende exigir-lhe a totalidade das prestações ainda em dívida, com
fundamento no art. 781.º do CC. Pode fazê-lo?
Resposta
- tipo de contrato – mútuo oneroso
- real quoad effectum
- obrigações
▪ restituição de capital passados dois anos
▪ pagamento de juros mensalmente a 6%
- validade da taxa de juros estipulada
- pretensões:
▪ restituição da totalidade do capital mutuado, por vencimento
imediato > não: beneficio do prazo; inaplicabilidade do art. 781;
aplicabilidade do art. 1152º (resolução com restituição do capital
e pagamentos dos juros vencidos)
▪ pagamento dos juros em mora, já vencidos (sim: vencimento)
▪ pagamento dos juros futuros, porque vencidos ex vi art. 781º
(refª ao 934º) (não: são obrigações diferentes e não parcelas
de uma obrigação)
- análise da cláusula: admissibilidade positiva
- análise da Q 3: aqui vale o art. 934º e visto serem duas as prestações
em falta, já pode lançar mão do art. 781º
ARTIGO 781º
(Dívida liquidável em prestações)
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Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 934º
(Falta de pagamento de uma prestação)
JURISPRUDÊNCIA
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ANATOCISMO
ADMISSIBILIDADE
JUROS BANCÁRIOS
JUROS COMPENSATÓRIOS
CAPITALIZAÇÃO DE JUROS
PRAZO
: CCIV66 ART560.
DL 344/78 DE 1978/11/17 ART5 N4.
I - O anatocismo é admissível quando esteja de acordo com os usos e costumes existentes no comércio.
I - Na simples mora o credor conserva o direito a prestação originaria, mas tem alem disso o direito a ser
indemnizado dos danos resultantes de essa prestação não haver sido efectuada em tempo, e a indemnização
moratoria constituida pelos juros correspondentes ao tempo que a mora perdurar (artigos 798, 804, 405 e
806 do Codigo Civil).
II - A obrigação de juros e sempre uma obrigação acessoria de outra, principal, a de capitais. Aquela não
nasce sem esta, mas uma vez gerada ou constituida, tem vida propria e autonomia relativa.
III - Se o pedido de juros não for formulado na acção de condenação de prestação originaria, o tribunal não
pode condenar o reu no seu pagamento (artigo 661 do Codigo de Processo Civil), mas a partir da citação da
primitiva acção, eles começam a ser devidos, dado o seu caracter acessorio em relação principal.
IV - Por isso, nada obsta em principio, se por lapso não foram anteriormente pedidos juros, que estes
possam constituir objecto de uma acção autonoma.
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OBRIGAÇÃO ILÍQUIDA
JUROS DE MORA
OBRIGAÇÃO DE INDEMNIZAR
DANO EMERGENTE
LUCRO CESSANTE
JUROS COMPENSATÓRIOS
ARMA PROIBIDA
DANOS MORAIS
DANOS PATRIMONIAIS
DIREITO À VIDA
: I - Sendo a obrigação ilíquida, não vence juros de mora, mas sim juros compensatórios ou
indemnizatórios.
II - A obrigação de indemnização é uma obrigação de valor. Só com a liquidação se converte em
obrigação pecuniária. Daí decorrem três corolários: a) na obrigação de indemnizar compreendem-
se os danos emergentes e os lucros cessantes, de modo a reconstruir a situação que existiria se não
se tivesse verificado o evento danoso (artigos 562 e 564, do CC); b) os juros de mora, próprios da
obrigação pecuniária, só são devidos após a liquidação; c) como os juros compensatórios fazem
parte da indemnização, não são cumuláveis com a correcção monetária em função das taxas de
inflação, pois isso redundaria em um enriquecimento indevido.
III - Os juros de mora, porque têm o seu fundamento em facto ilícito e culposo da mora do
devedor, são cumuláveis com aquela actualização, havendo direito aos mesmos sobre os
montantes da indemnização atribuídos.
I- A fixação por escrito da taxa de juros comerciais só é necessária no caso de ser diferente da legal.
II- Não ofende a proibição de anatocismo o pedido de juros de mora sobre o montante de livrança
que foi entregue "em branco" e regularmente preenchida com inclusão de juros remuneratórios, à
taxa legal, vencidos até à data desse preenchimento.
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BOA-FÉ
DEVER DE INFORMAR
CRÉDITO AGRÍCOLA DE EMERGÊNCIA
RCM 31/84 DE 1984/05/25.
DL 56/77 DE 1977/02/18.
DL 251/75 DE 1975/05/25.
CCIV66 ART762 N2 ART798 ART799 ART813. Sumário :
I - O Conselho de Ministros, através da sua Resolução n. 31/83 de 25 de Maio, veio estabelecer um regime
especial de regularização de débitos contraídos ao abrigo do crédito agrícola de emergência instituído pelo
DL 251/75 de 25 de Maio, depois reformulado pelo DL 56/77 de 18 de Fevereiro e sucessivos diplomas
legais posteriores.
II - Para tanto criou-se uma linha de crédito a conceder às entidades beneficiárias desse regime, ficando o
mutuário, em caso de incumprimento de qualquer prestação sujeito ao imediato vencimento e à cobrança
coerciva das prestações em dívida.
III - Se uma dada cooperativa mutuante não informou a respectiva mutuária, na observância das regras da
boa fé contratual e demais deveres conexos, de que sobre o montante da dívida e dos juros capitalizados
incidiam novos juros (anatocismo) - incidência que a mutuante não poderia ter operado - e do qual o
correcto montante da dívida, o que impossibilitou a mutuária de "aderir à supra-citada linha de crédito, há
que entender que a mutuante agiu com culpa (artigo 799 do C.Civil) assim se constituindo na obrigação de
indemnizar a mutuária pelo prejuízo sofrido (artigo 798 do mesmo diploma).
IV - Tal prejuízo consistirá na diferença entre o juro do regime do crédito agrícola de emergência e o juro
do regime especial da Resolução n 31/84 acima mencionados.
STJ 12-09-2006
SEBASTIÃO PÓVOAS
JUROS COMPENSATÓRIOS
MÚTUO
do Acordão:
: 1) Sendo o mútuo liquidável por forma dividida, fraccionada ou repartida, a falta de pagamento
de uma prestação têm as consequências do artigo 781º do Código Civil;
2) Os juros remuneratórios, que exprimem o rendimento financeiro do capital mutuado, não
podem ser incluídos nas prestações do capital cujo vencimento é antecipado, mas apenas nas
prestações vencidas;
3) As dívidas de capital e de juros são distintas, embora com forte conexão, valendo o princípio
da autonomia do artigo 561º do Código Civil.o Texto Integral:
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Elementos de Direito das Obrigações
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Elementos de Direito das Obrigações
quotas, não tem apoio legal a invocação pela outra da excepção de não cumprimento da obrigação de
pagamento do respectivo preço.
3. A afirmação por uma das partes da celebração do contrato de cessão de quotas sob erro acerca da
situação económica e financeira da sociedade de referência é insusceptível de se enquadrar no instituto da
modificação do contrato por alteração das circunstâncias.
4. As afirmações imprecisas - declaração de promessa de assunção pessoal do pagamento do que restava do
financiamento efectuado por identificada instituição bancária – por não revelarem a concreta estrutura
objectiva e subjectiva das obrigações de aval a que alude determinada cláusula contratual, são
insusceptíveis de constituir causa de pedir justificativa da condenação de uma das partes na assunção de
determinados avales constituídos pela outra.
5. Não constitui cláusula penal a prestação remuneratória convencionada pelas partes como contrapartida
do diferimento do pagamento do preço contratualizado, antes devendo, pela respectiva similitude,
equiparar-se aos juros compensatórios, porque eles se traduzem na contraprestação da cedência do capital
correspondente ao seu rendimento em função do tempo em que dele o credor estiver privado.
6. Não infringe o princípio do anatocismo a solução de a mora do devedor no pagamento dos juros
compensatórios implicar a sua obrigação indemnizatória por referência ao montante dos juros de mora.
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Elementos de Direito das Obrigações
PONTO nº 4
Obrigações genéricas
CP nº 6
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
ARTIGO 280º
(Requisitos do objecto negocial)
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Exemplo: A vende a B todo o seu milho; B poderá pesar este para saber
quanto é que tem.
ARTIGO 539º
(Determinação do objecto)
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ARTIGO 540º
(Não perecimento do género)
Enquanto a prestação for possível com coisas do género estipulado, não fica o
devedor exonerado pelo facto de perecerem aquelas com que se dispunha a cumprir.
ARTIGO 797º
(Promessa de envio)
Quando se trate de coisa que, por força da convenção, o alienante deva enviar para
local diferente do lugar do cumprimento, a transferência do risco opera-se com a
entrega ao transportador ou expedidor da coisa ou à pessoa indicada para a execução
do envio.
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ARTIGO 542º
(Concentração por facto do credor ou de terceiro)
ARTIGO 400º
(Determinação da prestação)
Por isso, não se pode escolher o pior objecto (art. 239º + boa fé [MC], art.
400º [PL/AV + ML)
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Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 400º
(Determinação da prestação)
(...)
2. Se a determinação não puder ser feita ou não tiver sido feita no tempo devido,
sê-lo-á pelo tribunal, sem prejuízo do disposto acerca das obrigações genéricas e
alternativas.
ARTIGO 408º
(Contratos com eficácia real)
ARTIGO 796º
(Risco)
1. Nos contratos que importem a transferência do domínio sobre certa coisa ou que
constituam ou transfiram um direito real sobre ela, o perecimento ou deterioração da
coisa por causa não imputável ao alienante corre por conta do adquirente.
ARTIGO 408º
(Contratos com eficácia real)
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Elementos de Direito das Obrigações
(...)
CASO PRÁTICO Nº 6
António vendeu a Bernardo uns tantos metros cúbicos de cortiça, que o adquirente viria carregar a
certo montado de António «o mais tardar daqui a três dias». Durante esse tempo e nos dias
seguintes, António teve sempre cortiça disponível em quantidade suficiente para satisfazer
Bernardo, embora a cortiça fosse mudando, à medida que outros compradores levavam os seus
carregamentos e mais cortiça ia sendo cortada.
1) Ao sexto dia, e sem que Bernardo aparecesse, todo aquele montado e toda a cortiça aí
armazenada foram destruídos num incêndio fortuito. Dias depois, sabendo do sucedido, Bernardo
diz a António que, não obstante, este tem de lhe entregar cortiça vendida. António contrapõe que
nada tem de entregar e exige que lhe seja pago o preço acordado. Quem tem razão?
2) Suponha que o incêndio ocorreu no dia seguinte ao da celebração do contrato. A resposta seria
a mesma?
Pergunta nº 1
- obrigação genérica de quantidade
- mas houve uma condição (art. 790/2)
- aplica-se o art. 539 (devedor)
- aplica-se o art. 540 ( a concentração só se dá com o
cumprimento e não antes)
- mora do credor: (arts. 813º ss): concentração anterior ao
momento do cumprimento (art. 541) em ordem a o risco de
perecimento passar para o credor (cf. art. 815/1)
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Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 815º
(Risco)
ARTIGO 815º
(Risco)
Pergunta nº 2
- Não havia ainda mora do credor pelo que, em vez da excepção
do art. 541, valeria a regra do art. 540 ( a concentração só se dá
com o cumprimento )
- Por isso ainda não se tinha transferido nem a propriedade, nem
o risco
- não houve cumprimento, por impossibilidade absoluta não
culposa > extinção da obrigação (art. 790/1)
- vale o art. 795º/1
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Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 795º
(Contratos bilaterais)
1. Quando no contrato bilateral uma das prestações se torne impossível, fica o credor
desobrigado da contraprestação e tem o direito, se já a tiver realizado, de exigir a sua
restituição nos termos prescritos para o enriquecimento sem causa.
JURISPRUDÊNCIA
I - Uma das classificações das obrigações quanto ao seu objecto, é aquela que distingue entre obrigações
genéricas e obrigações específicas, reportando-se às primeiras os artigos 539 e seguintes do Código Civil.
Genérica, é a obrigação cujo objecto está apenas determinado pelo seu género e pela quantidade.
II - A extensão do género, há-de ser fixada pelas partes com maior ou menor amplitude, mas há-de ser
suficientemente definida para que seja determinável.
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Elementos de Direito das Obrigações
VENDA DE CORTIÇA
OBRIGAÇÃO GENÉRICA
AMPLIAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO
CCOM888 ART472.
CCIV66 ART236 N1 ART428 N1 ART770 ART879 A.
CPC67 ART650 N2 F ART712 N4 ART722 N2 N3 ART729 N2 N3.
DL 260/77 DE 1977/07/21.
ASS STJ DE 1997/04/22 IN DR IS-A DE 1997/06/21.
I - A fiança pode ser prestada para garantia de obrigações futuras desde que no momento em que é
prestada seja determinado o título de que a obrigação poderá ou deverá resultar.
II - Se a fiança se reporta a importâncias que o afiançado deva ou venha a dever, bem como de
qualquer responsabilidade que tenha ou venha a ter, seja porque origem for, designadamente as
provenientes do desconto de letras, extractos de facturas, livranças ou aceites bancários, vindo a
aludida responsabilidade a consumar-se 17 anos depois da data do termo de fiança, esta é nula por
o seu objecto ser indeterminável.
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Elementos de Direito das Obrigações
V - Sendo nula a fiança e tendo essa nulidade efeito retroactivo (nº 1 do artº 289º CC, é, também,
inválida, por falta de causa jurídica ou justificativa, a operação de compensação efectuada pelo
Banco sobre a conta de depósitos à ordem do fiador.
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Elementos de Direito das Obrigações
PONTO nº 5
Obrigações alternativas e com faculdade alternativa
CP nº 7
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
ARTIGO 543º
(Noção)
CASO PRÁTICO Nº 7
Zoroastro contratou Xenofonte para lhe decorar a casa de campo, um solar na região do Douro.
Acordouse a retribuição de € 1.500. Xenofonte, porém, anteviu dificuldades para a realização do
trabalho, porque talvez tivesse outras ocupações na altura acordada. Assim, ficou acordado que
Xenofonte, em vez de realizar aquele trabalho por aquele valor, podia simplesmente desincumbir
se pagando a Zoroastro € 250, desde que o fizesse com certa antecedência. Antes de tudo isso,
porém, o solar de Zoroastro foi destruído num incêndio fortuito. Quid juris?
* Autoria de Dr. Pedro Ferreira Múrias
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Elementos de Direito das Obrigações
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Elementos de Direito das Obrigações
ART1270 N1.
DL 236/80 DE 1980/07/18.
I - E alternativa a obrigação que compreende duas ou mais prestações, sendo certo que, para que haja
obrigação alternativa não basta que haja duas ou mais formas possiveis de cumprir a mesma prestação; e
necessario que haja duas ou mais distintas prestações em disfunção.
II - Salvo estipulação em contrario, não ha lugar, pelo não cumprimento do contrato-promessa, a qualquer
outra indemnização nos casos de perda de sinal ou de pagamento do dobro deste ou do valor da coisa ao
tempo do incumprimento.
III - Nada obsta, portanto, a que as partes estipulem uma indemnização superior ou inferior ao montante do
sinal.
IV - Os particulares, na area dos contratos, podem agir por sua propria e autonoma vontade, constituindo
excepção aos limites impostos por lei.
V - A resolução tem, por regra, efeito retroactivo e, quanto ao efeito da resolução, a lei não distingue entre
os casos em que ela se funda numa circunstancia imputavel ao contraente contra quem e proferida e aqueles
em que tal circunstancia lhe não e imputavel.
VI - O enriquecimento sem causa pressupõe a falta de uma causa justificativa.
I - Para obter a denúncia do arrendado para habitação própria a lei apenas exige que o senhorio
não possua casa própria ou arrendada, e não que a não tenha emprestada ou cedida por tolerância.
II - O facto de o senhorio ter aceite, durante algum tempo, a situação precária de viver, por favor,
em casa de outrém, não pode converter-se num dever de perpétua sujeição a tal estado de coisas.
III - A doação, embora sujeita a colação, desde logo tem como consequência a transmissão da
propriedade da coisa ou da titularidade do direito e a obrigação de a entregar.
IV - Não obstante a unidade do prédio arrendado, se a necessidade habitacional do senhorio se
bastar com a ocupação de uma parte do prédio, designadamente um ou dois pisos, não pode este
pedir o despejo de todo o prédio.
V - Nesta situação, e por aplicação analógica do preceituado no artigo 468 do Código de Processo
Civil, quanto às obrigações alternativas, pertencerá ao senhorio a escolha da parte que pretende
ocupar, mas não tendo ele feito essa escolha, a mesma será devolvida ao arrendatário.
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Elementos de Direito das Obrigações
Havendo uma obrigação principal - dever de abstenção de actos que impeçam o exercício de uma
servidão de passagem - e prevendo-se para o caso de não quererem os obrigados cumpri-la, uma
outra alternativa- pagamento de uma indemnização de 500.000$00 - não estamos perante
obrigações alternativas, já que elas não se equivalem, mas antes se substitui a segunda
à primeira verificado certo pressuposto.
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
CPC95 ART468.
CCIV66 ART442 N2 N3 ART830 ART801 ART808
AC STJ DE 1981/05/26 IN BMJ N307 PAG257.
AC STJ DE 1998/05/26 IN CJSTJ T2 ANOVI PAG100.
I - Nas obrigações alternativas, em que o direito de escolha pertença ao credor, este, se tiver de
recorrer ao tribunal, não precisa de formular pedido alternativo pois pode pedir apenas a prestação
que lhe convier.
II - O pedido de execução específica do contrato prometido não pode ser formulado em alternativa
com o pedido dos restantes direitos conferidos ao promitente-comprador; formulado esse pedido em
alternativa, trata-se de pedido irregular, que não deve por isso ser atendido.
III - Para a aplicação das sanções previstas no n.2 do artigo 442 do Código Civil, não basta a simples
mora do promitente, exigindo-se o incumprimento definitivo do contrato-promessa.
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Elementos de Direito das Obrigações
I - É manifesto que a versão do n. 2 do artigo 442 do Código Civil introduzida pelo Decreto-Lei
236/80, de 18 de Junho, não referiu no seu contexto, apesar da faculdade alternativa da exigência
do dobro do sinal ou do valor de coisa que era objecto de contrato prometido, a restituição da
importância do sinal e da parte do preço pago que depois veio a constar da versão do Decreto-Lei
379/86, de 11 de Novembro.
II - A norma do n. 2 do artigo 442 do Código Civil, na versão do Decreto-Lei 379/86, nesta parte,
é interpretativa de anterior versão introduzida pelo Decreto-Lei 236/80.
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Elementos de Direito das Obrigações
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de transacção no inventário nº 267/99) é uma Cláusula Penal de Garantia com função penal,
sendo, por isso, uma cláusula mista, já que pretendeu assegurar um resultado (cumprimento dos
prazos acordados para a entrega das fracções), bem como uma função sancionatória para o caso
de incumprimento, fixando, desde logo, o montante indemnizatório por cada dia de atraso.
A cláusula de garantia, ou mista, funciona independentemente da culpa do devedor.
“In casu” está demonstrado – o que até é confessado – o incumprimento dos prazos na entrega
das fracções: a fracção C deveria ser facultada até ao dia 7 de Maio e só foi facultado ao
embargado em 18 de Maio de 2001 e a fracção ”B” deveria ser facultada ao embargado-
arrendatário em 15 de Agosto de 2001 e só o foi em Dezembro de 2002 ou 31 de Maio de 2003
( o que se virá a apurar no incidente para fixação de exigibilidade que corre por apenso a este
processo).
Se o devedor, no caso da cláusula ser uma cláusula mista (de garantia com função penal)
responde independentemente de culpa, então os embargos deduzidos deveriam ter sido julgados
totalmente improcedentes).
Sem prescindir, mesmo na hipótese de se entender que a cláusula 14º do contrato de
arrendamento e que vinculou embargante e embargado é uma verdadeira cláusula penal e que só
esta poderia funcionar havendo culpa do devedor, entendemos que, face à matéria dada como
provada, o embargante não elidiu a culpa que sobre si impendia (e se presumia).
O que resulta da matéria de facto é exactamente o contrário do que foi decidido pelo Mmº Juiz “ a
quo”, isto é, que o embargante foi culpado pelo incumprimento verificado, pelo menos a título
negligente.
Ainda assim, sempre o embargante seria responsável, mesmo não havendo culpa sua, nos termos
do consagrado no artº 800º nº1 do Cód. Civil.
O Mmº Juiz a quo não cuidou de analisar devidamente o tipo de cláusula estabelecida entre as
partes, como que lhes vedando a liberdade contratual estabelecida no artº 405º do CC, que, por
isso, foi violado.
O Mmº Juiz a quo não interpretou/apreciou correctamente, os factos dados como provados,
violando, além do mais os artºs 799º e 342º do CC, pois se o fizesse teria concluído existir culpa
por parte do embargante.
As presentes alegações têm sustentação na Jurisprudência e na Doutrina mais conceituada, como
é o caso do Senhor Professor Doutor António Pinto Monteiro, que gentilmente acedeu a emitir o
seu parecer que ora se junta.
Finaliza, pedindo, a revogação da decisão recorrida, substituindo-a por outra que julgue os
embargos totalmente improcedentes.
Juntou parecer do Senhor Professor Doutor António Pinto Monteiro.
Não foram apresentadas contra-alegações.
Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir.
Fundamentação de facto
São os seguintes os factos dados como provados na 1ª instância:
Da matéria assente:
1- Por escrito particular datado de 19 de Fevereiro de 2001, com cópia a fls. 6 a 8 dos autos
principais, cujo teor aqui se dá por reproduzido, os embargantes e um sócio gerente de "D",
emitiram e exararam por escrito as declarações aí constantes nomeadamente:
a. “(…) Artigo 11.° - A segunda contraente ("D") deverá desocupar, totalmente de bens e pessoas
a fracção objecto deste contrato que vem ocupando, até ao dia sete de Maio de 2001, por forma a
viabilizar as obras descritas naquele citado inventário. Desde já declara a Primeira contraente
que tem conhecimento de todos os termos da conferência de interessados concluída naquele
inventário judicial.
b. Artigo 12.° - A partir dessa data os Primeiros contraentes (os embargantes) obrigam-se a
facultar o uso da fracção C do mesmo prédio para que a Segunda contraente instale aí o seu
comércio enquanto durarem as obras que inviabilizam a ocupação da fracção B.
c. Artigo 13.° - O uso da fracção B, para início das obras necessárias para reabertura do
comércio nesta fracção, deverá ser facultado pelos Primeiros contraentes à Segunda, até ao dia
15 de Agosto de 2001. A partir dessa data a Segunda contraente, iniciará as obras para abertura
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c. N.° 3 – A execução de tais obras carece de desocupação dos actuais ocupantes das lojas de
rés-do-chão. As obras terão início, com a construção das lajes de cobertura de ou tecto todo os
rés-do-chão, lajes essas que vão servirão correspondente piso do 1° andar.
d. N.°4-A dita execução dessa laje irá obedecer aos prazos e datas e execução seguintes:
i. Primeira fase: - Com início a 12/3/2001 e conclusão em 16/4/2001, incidirá na atrás
identificada fracção “C” e consistirá na construção da correspondente laje de tecto.
ii. Segunda fase: - Com início em 7/05/2001 e conclusão em 4/06/2001 incidirá na atrás
identificada fracção “B” e consistirá na correspondente construção da laje do tecto.
iii. Terceira fase: - Com início em 25/06/2001 e conclusão em 23/07/2001, incidirá na acima
identificada fracção “A” e consistirá na construção da referida laje de tecto.
iv. Entre 16/04 e 7/05 a fracção “C” ficará disponível para acabamentos e nesse mesmo prazo o
actual ocupante da fracção “B” instalar-se-á com todo o seu comércio na fracção “C” deixando
totalmente livre e disponível a fracção “B” para início execução das correspondentes obras.
v. Entre 4/06 e 25/06 a fracção “B” ficará disponível para acabamentos e nesse mesmo prazo o
actual ocupante da fracção “A” instalar-se-á com todo o seu comércio na fracção “B” deixando
totalmente livre e disponível a fracção “A” para início de execução de execução das
correspondentes obras.
vi. Entre 23/07/2001 a 15/08/2001 o herdeiro João M... deixará a fracção “B” livre e disponível
para ocupação.
e. N° 5 – Com o início das obras os herdeiros "B" e João M... entregarão os dois, conjuntamente,
à herdeira Laura M... a quantia de 2.000.000$00. Na data de conclusão da dita laje de cobertura
de todo o r/c entregarão outra quantia igual, conjuntamente, de 2.000.000$00 fixando-se, assim,
a comparticipação única de ambos do custo total das obras da importância de 4.000.000$00. Os
pagamentos serão efectuados por intermediação dos mandatários Judiciais.
f. N.° 6 – O pé direito e as áreas de r/c não poderão sofrer alterações. O não cumprimento de
todos os prazos atrás definidos, quer os que vinculam a herdeira Laura M..., quer os que
vinculam os herdeiros João M... e "B" determinará que quem tiver entrado em incumprimento
indemnizará a parte prejudicada com uma quantia que se fixa em 50.000$00 por dia. Entre o
início das obras atrás mencionadas, isto é a execução da laje de tecto e r/c os respectivos
espaços só poderão ser ocupados por aqueles que actualmente os ocupam. Os herdeiros João
M... e "B" não poderão opor-se de forma alguma à execução das obras do projecto atrás
mencionado. Durante a execução das obras o acesso às fracções ocupadas nos moldes atrás
definidos será garantida e dentro do possível a visão da rua para as montras.”
*
O Direito
Como é sabido, o âmbito do recurso é delimitado pelo teor das conclusões dos recorrentes – artºs
684º, nº3 e 690º, nº1 do Cód. Proc. Civil.
Das conclusões do apelante se vê que o objecto do recurso se prende essencialmente com a
qualificação da cláusula 14ª estipulada pelas partes, de acordo com a qual ”O incumprimento por
parte de qualquer dos contraentes dos prazos atrás estipulados determinará a obrigação de o
contraente faltoso indemnizar o outro com a quantia de cinquenta mil escudos por cada dia de
mora no cumprimento. (…)”.
Como resulta da matéria de facto assente, entre "B" e a sociedade "D", foi celebrado um contrato
de arrendamento urbano para comércio, tendo por objecto a fracção autónoma designada pela
letra B, a que corresponde uma loja de rés do chão, do prédio devidamente identificado nos autos.
Está ainda assente que:
Por escrito particular datado de 19 de Fevereiro de 2001, com cópia a fls. 6 a 8 dos autos
principais, cujo teor aqui se dá por reproduzido, os embargantes e um sócio gerente de "D",
emitiram e exararam por escrito as declarações aí constantes nomeadamente:
g. “(…) Artigo 11.° - A segunda contraente ("D") deverá desocupar, totalmente de bens e pessoas
a fracção objecto deste contrato que vem ocupando, até ao dia sete de Maio de 2001, por forma a
viabilizar as obras descritas naquele citado inventário. Desde já declara a Primeira contraente
que tem conhecimento de todos os termos da conferência de interessados concluída naquele
inventário judicial.
h. Artigo 12.° - A partir dessa data os Primeiros contraentes (os embargantes) obrigam-se a
facultar o uso da fracção C do mesmo prédio para que a Segunda contraente instale aí o seu
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cumprimento, de reforço das obrigações, ao mesmo tempo que oferece ao credor uma forma
alternativa – em relação à obrigação de indemnização – de satisfazer o seu interesse, caso a
ameaça não haja resultado. Por isso a consideramos como cláusula penal em sentido estrito, ou
cláusula penal propriamente dita. Quando se recorre a esta figura, é para pressionar o devedor a
cumprir, ao mesmo tempo que o credor se previne contra as consequências de um eventual
inadimplemento» (Cláusula Penal e Indemnização, pág. 618).
Salienta o mesmo autor que a cláusula penal «se destina a compelir o devedor, ao mesmo tempo
que a pena substitui a indemnização» e que «ao ser celebrado o acordo, a fim de pressionar o
devedor a cumprir, o credor estipula uma sanção, que o primeiro aceita, nos termos da qual fica
legitimado a exigir uma prestação mais gravosa, em alternativa à prestação inicial, uma vez não
satisfeita esta. Trata-se, portanto, de uma ameaça exercida através de uma forma de satisfação
alternativa do interesse do credor, sem que a mesma passe pela via indemnizatória, uma vez que
ela é prosseguida por uma outra prestação – que nem tem que ser pecuniária, embora
normalmente revista esta índole – ao lado da que é inicialmente devida. (...) Compreender a
cláusula penal no quadro de uma obrigação com faculdade alternativa a parte creditoris, não é
novidade: trata-se de uma posição de há muito subscrita na doutrina. (...) concebendo a pena
como prestação que o credor poderá exigir, em alternativa àquela que era inicialmente devida,
isso permite compreender a razão por que a cláusula penal funciona como meio de pressão ao
cumprimento e, simultaneamente, como forma de o credor, através dessa outra prestação – isto é,
repete-se, da pena – satisfazer o interesse que o levara a contratar (op. cit., pág. 613 e segs.).
Mas a cláusula penal, como é sabido, oferece esta desvantagem: provando o devedor que não teve
culpa, afasta o direito do credor à pena.
Então, quando as partes pretendem assegurar um certo resultado, fazem-no através de uma
cláusula de garantia, que actua independentemente de culpa do devedor.
Através da cláusula de garantia, o devedor assegura ao credor determinado resultado, assumindo
o risco da não verificação do mesmo, qualquer que seja, em princípio, a sua causa. Tendo em
vista o seu confronto com a cláusula penal, A. Pinto Monteiro refere «a cláusula de garantia
enquanto convenção destinada a onerar o devedor com o risco da prestação, isto é, a fazê-lo
responder – pelos danos provados ou segundo o montante previamente estabelecido –
independentemente de culpa sua ou de qualquer circunstância de força maior que tenha
impossibilitado o cumprimento ou a obtenção do resultado garantido. Trata-se, pois, mais do que
de uma prestação dirigida a um certo resultado, de uma garantia, quer dizer, “de uma promessa de
indemnização caso o resultado não seja obtido”.
A particularidade da obrigação de garantia, estipulada pelos contraentes, reside na circunstância
de o credor ficar, por seu intermédio, plenamente assegurado, no que concerne ao facto de o
devedor não poder alegar a sua falta de culpa ou a ocorrência de circunstâncias de força maior
que tenham impossibilitado o cumprimento. Uma vez que o resultado garantido não haja sido
alcançado, o credor, sejam quais forem, em princípio, as razões por que o mesmo não foi obtido,
pode exigir do devedor, consoante o conteúdo da respectiva cláusula, a importância acordada ou a
indemnização dos prejuízos sofridos. A cláusula de garantia acaba por representar, assim, um
desvio, de ordem convencional, em relação às condições ou pressupostos da obrigação de
indemnização, na medida em que o credor, mercê daquela cláusula, poderá vir a exigir, no caso
concreto, independentemente de culpa do devedor, a reparação do dano sofrido» (Op. cit., pág.
265,ss).
Escreve ainda o mesmo autor, a respeito da cláusula de garantia “Ao lado da garantia, cujo efeito
consiste em fazer responder o devedor independentemente de culpa sua, surge, igualmente, deste
modo, uma função penal, na medida em que se fixa antecipadamente a indemnização devida.
Quando isto acontece, a soma acordada abstrai não só da culpa do devedor, como, igualmente, da
extensão do dano efectivo.
Reúnem-se, assim, na mesma cláusula ou convenção, características de duas figuras, mais
precisamente, da cláusula penal e da cláusula de garantia.
Daí que, a nosso ver, a cláusula de garantia coenvolva, neste caso, igualmente uma função penal,
pelo que na disciplina da mesma, ter-se-á de ter em devida conta estes dois aspectos. Assim, a não
obtenção do resultado prometido, implicará, de imediato, a exigibilidade da soma convencionada,
independentemente de qualquer consideração acerca da culpa do devedor – dado que se estipulou
uma garantia.
É nesta situação, que dizemos estar-se perante uma figura híbrida ou mista (cfr. Op. cit., pp.268 e
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qual, dentro dos limites da lei, as partes têm a faculdade de fixar livremente o conteúdo dos
contratos e de incluir neles as cláusulas que lhes aprouver.
O Tribunal a quo ponderou, a nosso ver, bem, que “Conforme resulta dos factos provados o uso
da fracção «C» deveria ter sido facultado ao exequente em 7.05.2001 e tal só veio a ocorrer em
18.05.2001. E o uso da fracção «B» deveria ter sido facultado até ao dia 15.08.2001 e em
10.12.2002 tal ainda não tinha ocorrido”, pelo que “Constatamos, pois, existir uma situação de
incumprimento (mora) da prestação que cabia aos embargantes por força do citado acordo”.
Mas, acabou, surpreendentemente, por concluir que “entendemos ser de concluir que a «culpa»
pela demora no atraso das fracções deve-se não aos embargantes, mas sim a terceiros,
responsáveis pelas obras no passeio, no caso da fracção “C” e à irmã do embargante, no caso da
fracção “B. Assim, não havendo culpa dos embargantes, a cláusula penal não pode funcionar”.
Quando foi estabelecida a cláusula 14ª do contrato de arrendamento, ambos embargante e
embargado, sabiam que as obras em causa ficariam a cargo de Laura M..., irmã do embargante, e
que a haver atrasos eles seriam provavelmente consequência das obras. Por que se teria, então, o
embargante obrigado a cumprir aqueles prazos, se as obras eram incumbência da irmã? Por que
razão o embargante estabeleceu cláusula idêntica no acordo de transacção celebrado no processo
de inventário?
Ora, todos os interessados sabiam que, em princípio, não seria o embargante a provocar os
atrasos.
Destas circunstâncias que vêm de ser expostas, resulta com segurança que as partes contraentes,
suposto serem pessoas razoáveis, normalmente instruídas e diligentes, ao estipularem a cláusula
14ª do contrato, quiseram assegurar um resultado, qual seja, o de garantir a entrega das fracções
em determinado prazo, e sem a fazer depender de culpa ou não do devedor. As partes ao
estabelecerem obrigações recíprocas de ocupação/desocupação quiseram obrigar-se a cumprir os
prazos fixados. Cientes que estavam de que qualquer incumprimento dos prazos por uma das
partes iria repercutir-se de imediato na outra.
A esta luz, somos levados a concluir que as partes não poderiam deixar de atribuir à cláusula 14ª
do contrato aquele sentido – de cláusula de garantia com função penal – em que a indemnização
predeterminada é devida logo que se verifique a situação prevista, o incumprimento dos prazos,
independentemente de culpa do devedor ("B"). Cremos ser com esse sentido e alcance que se
manifestou a vontade das partes.
Tendo em conta todo o circunstancialismo negocial e os objectivos pretendidos, afigura-se-nos
que outro sentido não poderia ser atribuído à cláusula 14ª do contrato.
Mas, se porventura, admitíssemos como exacta a qualificação de cláusula penal moratória,
atribuída pelo Tribunal a quo à cláusula 14ª, afigura-se-nos que mesmo assim, a solução
encontrada na 1ª instância não poderá ser sufragada.
A cláusula penal pressupõe a culpa do devedor.
Estabelecendo a lei uma presunção de culpa de devedor (artº 799º, nº1), incumbe ao devedor
provar que a falta de cumprimento ou o cumprimento defeituoso não procede de culpa sua.
A culpa é apreciada, na falta de outro critério legal, pela diligência de um bom pai de família, em
face das circunstâncias de cada caso – cf. artigos 799º, n.º 2 e 487º, n.º 2, ambos do Código Civil.
Relembremos a matéria de facto apurada, com relevo para a dilucidação desta questão:
O uso da mencionada fracção “C” foi facultado ao embargado em 18 de Maio de 2001.
O uso da mencionada fracção “B” ainda não fora facultado ao embargado em 10 de Dezembro de
2002.
Entre 30 de Abril de 2001 e 21 de Maio de 2001 manteve-se em frente às fracções “B” e “C” um
grande buraco na rua e no passeio, e a rua manteve-se fechada ao trânsito, o que inviabilizou a
transferência de mercadorias entre as fracções “B” e “C”.
Desde Novembro e Dezembro de 2001, o embargante fez inúmeras diligências junto da sua irmã
Laura M... para que esta realizasse as obras necessárias à correcção do referido em «5», factos de
que o embargado teve conhecimento.
Quanto ao primeiro atraso – 7 de Maio de 2001 – afigura-se-nos que a materialidade provada não
é suficiente para afastar a presunção de culpa do embargante.
Não se mostra que o embargante tenha alegado factos que demonstrem a indispensabilidade dos
trabalhos realizados entre 30 de Abril de 2001 e 21 de Maio de 2001 ou que os mesmos não
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pudessem ser realizados em menos tempo ou que não pudessem ser realizados noutra data, ou de
outra forma e que não houvesse outra solução capaz de acautelar o cumprimento do prazo em
causa.
Por outro lado, tendo-se provado que se manteve aberto um buraco na rua e no passeio, em frente
às lojas, até 21 de Maio e que a fracção foi facultada ao embargado em 18 de Maio, impõe-se
perguntar porque não foi facultada antes.
A presunção de culpa estabelecida no artº 799º, nº1, é também aplicável à culpa na
impossibilidade de cumprimento, a que se reporta o artº 801º (Galvão Telles, Obrigações, 3ª,
313).
No caso ocorrente, o embargante não logrou provar que a falta de cumprimento não procede de
culpa sua.
Quanto ao segundo atraso, relativo à fracção “B” – 15 de Agosto de 2001 – escreve-se na
sentença recorrida que “em relação à fracção “B”, resultou provado que em finais de Novembro
de 2001, quando a fracção “B” deixou de ter escoras dentro e o embargante pretendia realizar a
sua entrega ao embargado, se constatou que esta apresentava infiltrações de água na sua parede
norte, o que tornava impossível a sua ocupação para exercício do comércio e que desde
Novembro e Dezembro de 2001, o embargante fez inúmeras diligências junto da sua irmã Laura
M... para que esta realizasse as obras necessárias à eliminação das infiltrações, provocadas pelas
obras realizadas no edifício por conta e determinação desta, não tendo esta até à data realizado
aquelas solicitadas obras”.
Nada vem alegado pelo embargante em relação ao facto de não ter sido cumprido o prazo de 15
de Agosto de 2001.
O devedor terá de provar – perante o disposto no nº1 do artº 799º - que foi diligente, que se
esforçou por cumprir, que usou daquelas cautelas e zelo que em face das circunstâncias do caso
empregaria um bom pai de família. Ou pelo menos que não foi negligente, que não se absteve de
tais cautelas e zelo, que não omitiu os esforços exigíveis, os que também não omitiria uma pessoa
normalmente diligente (Galvão Telles, Obrigações, 3ª, 310).
Ora, neste capítulo, o embargante nada alegou.
Mal andou, pois, o Tribunal a quo ao decidir que o embargante conseguiu provar que os atrasos
são da culpa de terceiros.
Importa ainda destacar um aspecto importante atinente à responsabilidade do embargante.
Mesmo que não houvesse culpa própria do embargante, pelas razões expostas, nem assim estaria
afastada a sua responsabilidade.
A responsabilidade lançada sobre o devedor abrange ainda os actos dos seus auxiliares, contanto
que o sejam no cumprimento da obrigação.
Em princípio, a impossibilidade da prestação, sendo imputável a terceiros, exonera o devedor de
responsabilidade. Mas a solução não seria justa, quando a impossibilidade provenha não de
estranhos ao processamento da relação obrigacional, mas de pessoas que legalmente representam
o devedor ou que o devedor utiliza no cumprimento, como seus auxiliares.
De contrário, o credor ficaria injustificadamente sujeito a que terceiros, estranhos à relação, em
cuja designação ele não teve nenhuma interferência, se substituíssem ao devedor originário em
grande parte da responsabilidade deste (cfr. Antunes Varela, Das Obrigações, vol.II, 98 e ss).
E estaria encontrada a fórmula para um devedor se eximir da responsabilidade: bastar-lhe-ia
recorrer a outrem para afastar a sua responsabilidade e depois argumentar que não tinha culpa,
que a culpa era de terceiro.
Precisamente para acudir a essas hipóteses prescreve o artº 800º, nº1, que “o devedor é
responsável perante o credor pelos actos dos seus representantes legais ou das pessoas que utilize
para o cumprimento da obrigação, como se tais actos fossem praticados pelo próprio devedor”.
Face a este normativo, o devedor é responsável, independentemente de qualquer culpa sua, pelos
actos de terceiros que utilize para o cumprimento da obrigação.
A lei portuguesa faculta de um modo geral ao devedor a utilização de auxiliares no cumprimento
da obrigação, seja qual for a natureza desta. Porém, e segundo a interpretação a dar ao artº 800º,
nº1, o devedor que confiou ao auxiliar a realização da prestação responde pela falta de
cumprimento ou pelo cumprimento defeituoso da obrigação nos mesmos termos em que
responderia se, em vez do auxiliar, fosse ele devedor, quem deixou de cumprir ou cumpriu
defeituosamente (A.Varela, RLJ, 119º-125).
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Elementos de Direito das Obrigações
Como destaca Almeida Costa: “A responsabilidade prevista no nº1 do artigo 800º refere-se aos
actos praticados no cumprimento da obrigação, excluindo-se os que lhe sejam estranhos, embora
praticados por ocasião dele. Não se torna necessária uma relação de dependência ou subordinação
entre o devedor e o auxiliar, ao contrário do que sucede no artigo 500º” ( Obrigações, 4ª, 732,
nota 2).
No caso concreto, não foi convencionada entre as partes cláusula de irresponsabilidade nos
termos do nº2 do artº 800º.
Em face do disposto no artº 800º, nº1 o embargante "B" é responsável perante o embargado
Carlos V... pelos actos e omissões de terceiros – no caso, da irmã Laura – que utilizou para o
cumprimento da obrigação.
Nenhum dos prazos acordados foi respeitado e nisso se traduziu o incumprimento da obrigação.
O facto de o cumprimento da obrigação estar a cargo da irmã, não isenta o devedor de
responsabilidade, conforme dispõe o artº 800º, nº1.
Ainda neste particular, ensina o Professor A. Pinto Monteiro, com a profundidade habitual:
“Mas se o devedor se servir de auxiliares no cumprimento, haja a pena sido estipulada a título
indemnizatório ou como sanção compulsória, o facto de ele não ser pessoalmente culpado (nem
sequer por culpa “in eligendo”, “in instruendo” ou “in vigilando”) não o isenta da pena, desde que
o incumprimento seja imputável a qualquer dos seus auxiliares: qui facit per alium, facit per se,
the servant´s act is the master´s act, doutrina que subjaz à solução consagrada no artº 800º.
nº1” (Cláusula Penal e indemnização, p. 684, nota 1549).
De todo o exposto, resulta, sem margem para dúvidas, que o embargante "B" deve ao embargado
Carlos V... a quantia indemnizatória prevista na cláusula 14ª do contrato, mesmo que esta seja
uma cláusula penal e ainda que não haja culpa do devedor, pois sendo ele responsável por força
do artº 800º, nº1, a pena é devida.
Procedem, assim, as conclusões da alegação do recurso.
Decisão
Face ao anteriormente exposto, acorda-se em julgar procedente a apelação e, revogando-se a
sentença recorrida, julgam-se os embargos improcedentes, devendo a execução apensa prosseguir
os seus regulares trâmites.
Custas a cargo do recorrido.
Guimarães, 7 de Dezembro de 2005
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PONTO nº 6
Obrigações parciárias e obrigações solidárias. Obrigações indivisíveis
CP nº 8
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
CASO PRÁTICO Nº 8
b) Suponha, pelo contrário, que Luísa recebeu 1/3 de Manuela, mas que Noémia, agora,
não paga a sua parte, tendo desaparecido para local incerto. Quid juris?
* Autoria de Dr. Pedro Ferreira Múrias
Pergunta nº 1
- qualificação do contrato: empreitada
- credores da prestação do serviço: L, M, N
- devedor da prestação do serviço: J
- credor do pagamento: J
- devedores solidários do pagamento: L, M, N
- cada uma comparticipa em um terço
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Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 516º
(Participação nas dívidas e nos créditos)
- a solidariedade é excepcional
ARTIGO 513º
(Fontes da solidariedade)
ARTIGO 512º
(Noção)
ARTIGO 524º
(Direito de regresso)
O devedor que satisfizer o direito do credor além da parte que lhe competir tem direito
de regresso contra cada um dos condevedores, na parte que a estes compete.
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Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 514º
(Meios de defesa)
ARTIGO 851º
(Reciprocidade dos créditos)
ARTIGO 847º
(Requisitos)
1. Quando duas pessoas sejam reciprocamente credor e devedor, qualquer delas pode
livrar-se da sua obrigação por meio de compensação com a obrigação do seu credor,
verificados os seguintes requisitos:
a) Ser o seu crédito exigível judicialmente e não proceder contra ele excepção,
peremptória ou dilatória, de direito material;
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Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 848º
(Como se torna efectiva)
ARTIGO 523º
(Satisfação do direito do credor)
ARTIGO 524º
(Direito de regresso)
O devedor que satisfizer o direito do credor além da parte que lhe competir tem direito
de regresso contra cada um dos condevedores, na parte que a estes compete.
Artigo 525º
(Meios de defesa oponíveis pelos condevedores)
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obrigação, bem como qualquer outro meio de defesa, quer este seja comum,
quer respeite pessoalmente ao demandado.
Pergunta nº 2
- L terá de colocar uma acção judicial contra N para esta lhe pagar
- Apenas uma situação de insolvência ou de impossibilidade de
cumprimento por parte de N é que funcionaria o art. 526º
ARTIGO 526º
(Insolvência dos devedores ou
impossibilidade de cumprimento)
1. Se um dos devedores estiver insolvente ou não puder por outro motivo cumprir a
prestação a que está adstrito, é a sua quota-parte repartida proporcionalmente entre
todos os demais, incluíndo o credor de regresso e os devedores que pelo credor hajam
sido exonerados da obrigação ou apenas do vínculo da solidariedade.
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ARTIGO 538º
(Pluralidade de credores)
Yehudi e Stéphane, violinistas, obrigaramse a tocar uma série de duetos por ocasião do
aniversário de Niccolò. Acordouse ainda que, «havendo motivo grave para isso»,
poderiam os artistas fazerse substituir, um deles ou ambos, por intérpretes de igual valor
(por assim dizer). Niccolò pagaria € 200.000 pelo serviço. Stéphane, sentindose
preguiçoso, solicitou ao credor que o libertasse da obrigação, o que foi concedido. Quid
juris? Qual a solução se o contrato inicial fosse gratuito?
Resposta
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ARTIGO 535º
(Obrigações indivisíveis com pluralidade de devedores)
ARTIGO 863º
(Natureza contratual da remissão)
ARTIGO 865º
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(Obrigações indivisíveis)
ARTIGO 536º
(Extinção relativamente a um dos devedores)
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PONTO nº 7
Obrigações pecuniárias
CP nº 9
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
CASO PRÁTICO Nº 9
Górgias obrigouse fazer certa investigação históricofilosófica para Heródoto, pelo preço de
€ 20.000. Para o bom sucesso da empresa, era necessário consultar várias bibliotecas espalhadas
pelo mundo e obter a colaboração de diversas entidades. Devido a dificuldades inesperadas e
alheias a qualquer das partes, as consultas e a colaboração só ocorreram um ano depois do
esperado. E só praticamente um ano depois do previsto, portanto, pôde o trabalho ser entregue.
Górgias exige agora € 20.599, dada a inflação de 3% nesse ano. Quid juris?
ARTIGO 550º
(Princípio nominalista)
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O cumprimento das obrigações pecuniárias faz-se em moeda que tenha curso legal
no País à data em que for efectuado e pelo valor nominal que a moeda nesse
momento tiver, salvo estipulação em contrário.
ARTIGO 551º
(Actualização das obrigações pecuniárias)
Quando a lei permitir a actualização das prestações pecuniárias, por virtude das
flutuações do valor da moeda, atender-se-á, na falta de outro critério legal, aos índices
dos preços, de modo a restabelecer, entre a prestação e a quantidade de mercadorias a
que ela equivale, a relação existente na data em que a obrigação se constituiu.
ARTIGO 558º
(Termos do cumprimento)
2. Se, porém, o credor estiver em mora, pode o devedor cumprir de acordo com o
câmbio da data em que a mora se deu.
ARTIGO 555º
(Falta da moeda estipulada)
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Elementos de Direito das Obrigações
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MÓDULO 2: CONTRATO-PROMESSA
PONTO nº 8
Contrato-promessa (documento particular, licença de utilização)
CP nº 10
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
CASO PRÁTICO Nº 10
Perpétua e Rita assinaram um guardanapo de papel em que se escrevera que Perpétua se obrigava
a vender a Rita certo apartamento em certo edifício por € 200.000. Do contrato consta uma cláu-
sula do seguinte teor: «A contraente Rita leu a licença de utilização do apartamento, declarando
prescindir do reconhecimento notarial do contrato.»
* Autoria de Dr. Pedro Ferreira Múrias
Resposta
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JURISPRUDÊNCIA
STJ 03/14/2002
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PONTO nº 9
Contrato-promessa (legitimidade)
CP nº 11
CASO PRÁTICO Nº 11
Esopo prometeu vender a Anaximandro, que prometeu comprar, certa dona-elvira que tinha no
seu quintal. Anaximandro ignorava, no entanto, que o carro pertencia a Nabuco, que o emprestara
a Esopo. O contrato é válido? Acha sensata a celebração deste contratopromessa em vez de uma
simples compra e venda (suponha agora que o carro é de Esopo)?
* Autoria de Dr. Pedro Ferreira Múrias
Resposta
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PONTO nº 10
Contrato-promessa (bilateral, assinado por uma parte)
CP nº 12
CASO PRÁTICO Nº 12
Noutro guardanapo de papel, escrito a meias, Joana prometeu vender e Luís prometeu
comprar certo terreno em que este espera vir a construir um arranhacéus. Só Joana
assinou o guardanapo, porém. Farto da demora de Joana, que nunca mais se dispunha a
celebrar a escritura, Luís intenta uma acção destinada a «forçar Joana a cumprir». Esta
invoca a nulidade do contrato e, de qualquer maneira, requer ao tribunal que determine
um prazo para Luís depositar o preço da compra. Quid juris?
Imagine que Luís havia entregue 10% do preço a Joana e exige agora a sua restituição em
dobro ou, subsidiariamente, a «condenação de Joana a cumprir».
* Autoria de Dr. Pedro Ferreira Múrias
Resposta 1
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- Obrigações puras: não se fixou prazo (cf. art. 777/1), pelo que
o contrato deve ser realizado mal L interpele J
- A acção destinada a forçar o cumprimento de J é a de
execução específica (art. 443)
- J defende-se, invocando nulidade: seria por falta de assinatura
de L (art. 410/29;
▪ Sobre o ponto há 4 teses
• Tese nº 1: Conversão AUTOMÁTICA em contrato-
promessa unilateral
• Tese nº 2: Nulidade: a assinatura é essencial para
todo o contrato; a promessa bilateral é
sinalagmática; por isso, a invalidade de uma
obrigação (aquela cuja assinatura está omissa)
afecta a outra: o sinalagma genético não pode ser
válido apenas para uma das partes: não pode
haver redução, nem conversão
• Tese nº 3: Conversão (AV, GTelles): concorda-se
que há uma invalidade, mas que se deve
aproveitar o negócio; essa invalidade não é
parcial (art. 292º) (pelo que o negócio não pode
ser reduzido), mas total pois o vício formal é de
todo o negócio, além do já referido aspecto do
sinalagma; por isso todo o negócio é nulo e
apenas pode ser convertido noutro negócio (art.
293º); cabe à parte interessada na manutenção
invocar a vontade presumível a que se refere o
art. 293º, in fine
• Tese nº 4: Redução (AC, RibFaria, Calvão da Silva,
MLeitão): concorda-se que há uma invalidade,
parcial (art. 292); cabe à parte interessada na
nulidade invocar a ressalva do art. 292º, in fine; o
contrato passa a unilateral vinculando a parte que
assinou, salvo se a vontade hipotética das partes
iria em sentido contrário; a redução tutela melhor
os interesses da parte que assinou; maxime, o
sinal; há cindibilidade de posições: o 410/2
mostra que um contrato pode dar direito a outrém
(aquele não se obriga a firmar o contrato futuro)
sem se assinar; donde pode haver invalidade
parcial
• Tese nº 5: Intermédia (MC): o contrato bilateral,
não é a mesma coisa que uma duplicação de um
contrato unilateral; não há, por isso, uma
nulidade parcial e o contrato nulo deveria, por
isso, ser convertido; contudo, a tutela dos
interesses do signatário aconselha o uso
conjunto dos preceitos dos arts. 292 e 293,
devendo os princípios da boa fé ajudarem a
apurar a solução mais justa
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STJ 25/4/1972, BMJ 216 (1972), 144-146 = RLJ 106 (1973), 123-125
STJ 2/7/1974, BMJ 239 (1974), 168-177 = RLJ 108 (1976), 280-286
STJ 3/1/1975, BMJ 243 (1975), 235-239 = RLJ 109, 68-71
STJ 18/11/1975, BMJ 251 (1975), 144-147
STJ 2/6//1977, BMJ 268 (1977), 211-217
Assento STJ 29/11/1989, BMJ 391 (1986), 101-106 = RLJ 125 (1992), 214-218, refuta uma
conversão automática e para alguns defende a conversão (AV, GTelles), para outros a
redução (AC)
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Resposta 2
PONTO nº 11
Contrato-promessa (sinal (art. 442/3))
CP nº 13
CASO PRÁTICO Nº 13
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António prometeu vender a Bento certa quota numa sociedade.1 Bento pagou a totalidade do
preço. O absolutamente único elemento relevante do património dessa sociedade é a propriedade
de certo terreno, que foi desde logo entregue a Bento, tal como lhe foram entregues os arquivos
de documentos da sociedade.
Passou algum tempo. Mercê do anúncio público da construção de um centro comercial perto do
terreno em causa, o valor de mercado deste triplicou. António, aproveitandoo, vendeu a quota a
Carlos, que não sabia de nada. Como é tutelada a posição de Bento?
* Autoria de Dr. Pedro Ferreira Múrias
Resposta
1
Nos termos do art. 228.º, n.º 1, CSC, a transmissão de quotas deve constar de escritura pública.
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PONTO nº 12
Contrato-promessa (mora e incumprimento)
CP nº 14
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
CASO PRÁTICO nº 14
Resposta 1
2. Se quem constitui o sinal deixar de cumprir a obrigação por causa que lhe seja
imputável, tem o outro contraente a faculdade de fazer sua a coisa entregue; se o não
cumprimento do contrato for devido a este último, tem aquele a faculdade de exigir
o dobro do que prestou, ou, se houve tradição da coisa a que se refere o contrato
prometido, o seu valor, ou o do direito a transmitir ou a constituir sobre ela, determinado
objectivamente, à data do não cumprimento da promessa, com dedução do preço
convencionado, devendo ainda ser-lhe restituído o sinal e a parte do preço que tenha
pago.
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ARTIGO 808º
(Perda do interesse do credor ou recusa do cumprimento)
CASO PRÁTICO nº 15
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Resposta
JUSRISPRUDÊNCIA
CASO PRÁTICO nº 16
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Resposta
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PONTO nº 13
Cláusula de reserva de propriedade
CP nºs 17 e 18
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
AV, Ob I, 313
GT, DOb, 462 ss
ML, DOb I, 198 ss e DOb II, 122 ss
PL/AV, CCAnot I, 356-357 e II, 52-53
CASO PRÁTICO nº 17
Antonino vendeu e entregou a sua quadriga a Benedito, devendo o preço ser pago em 48 suaves
prestações, cada uma até às calendas. Acordouse que Antonino ficaria proprietário até ao fim dos
pagamentos. Pouco depois, porém, uma alcateia de lobos maus comeu as quatro bestas. Deve
Benedito pagar o preço restante? Ou pode reaver o já pago?
* Autoria de Dr. Pedro Ferreira Múrias
Resposta
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ARTIGO 409º
(Reserva da propriedade)
ARTIGO 408º
(Contratos com eficácia real)
ARTIGO 886º
(Falta de pagamento do preço)
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conserva, em contrapartida, as
desvantagens)
o perecimento da coisa = certeza da não
verificação da condição
•
▪ Tese nº 2 (Cgonçalves): condição resolutiva
▪ Tese nº 3: não se trata de uma condição suspensiva,
mas de uma cláusula inversão da ordem de produção de
efeito real (ML), com a função de constituir uma garantia
do pagamento; o comprador tem uma expectativa real
de aquisição do bem; o o risco deve ser distribuído de
acordo com o proveito efectivo
• Vendedor-reservatário: conserva o bem apenas
como garantia pelo que apenas sofre o risco da
perda
• Comprador-reservatário: goza já do bem pelo que
o risco deve correr contra ele,
CASO PRÁTICO nº 18
Antonino alugou a sua quadriga a Benedito por quatro anos, e entregoua. Os alugueres seriam
pagos até às calendas de cada mês. Pouco depois, porém, uma alcateia de lobos maus comeu as
quatro bestas. O que é que acontece aos alugueres vencidos e vincendos?
* Autoria de Dr. Pedro Ferreira Múrias
Resposta
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ARTIGO 1051º
(Casos de caducidade)
1. O contrato de locação caduca:
(...)
e) Pela perda da coisa locada;
ARTIGO 1031º
(Enumeração)
(...)
ARTIGO 790º
(Impossibilidade objectiva)
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(Contratos bilaterais)
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PONTO nº 14
Pacto de preferência
CP nº 19
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
ARTIGO 414º
(Noção)
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ARTIGO 423º
(Extensão das disposições anteriores a outros contratos)
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Varia:
a. Contrato preparatório
a. formal/consensual;
b. exclusivamente pessoal (intuitu personae)/não exclusivamente
pessoal;
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Mas há também preferências legais (v.g., no art. 1409º, nº 1), que são
sempre com eficácia real, cuja ratio é eliminar as situações de pluralidade de
direitos sobre uma mesma coisa (v.g., compriedade, propriedade/arrendamento,
propriedade/superfície)
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ARTIGO 415º
(Forma)
ARTIGO 421º
(Eficácia real)
1. O direito de preferência pode, por convenção das partes, gozar de eficácia real se,
respeitando a bens imóveis, ou a móveis sujeitos a registo, forem observados os
requisitos de forma e de publicidade exigidos no artigo 413º.
ARTIGO 413º
(Eficácia real da promessa)
2. Deve constar de escritura pública a promessa a que as partes atribuam eficácia real;
porém, quando a lei não exija essa forma para o contrato prometido, é bastante
documento particular com reconhecimento da assinatura da parte que se vincula ou de
ambas, consoante se trate de contrato-promessa unilateral ou bilateral.
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ARTIGO 413º
(Eficácia real da promessa)
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Supletivamente, não:
ARTIGO 420º
(Transmissão do direito e da obrigação de preferência)
O direito e a obrigação de preferência não são transmissíveis em vida nem por morte,
salvo estipulação em contrário.
ARTIGO 416º
(Conhecimento do preferente)
2. Recebida a comunicação, deve o titular exercer o seu direito dentro do prazo de oito
dias, sob pena de caducidade, salvo se estiver vinculado a prazo mais curto ou o
obrigado lhe assinar prazo mais longo.
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CASO PRÁTICO nº 19
António é proprietário de certa quinta e titular de uma servidão legal de passagem sobre uma
quinta vizinha. Decidido a vender a quinta, mandou uma carta a Bento, o dono do terreno
onerado, perguntandolhe «se pretendia exercer por € 100.000 o seu direito de preferência». Carlos
tinhalhe oferecido esse valor pela quinta. Bento nada disse, de modo que, passados 15 dias,
António a vendeu de facto a Carlos, por € 100.000, declarandose na escritura o preço de € 60.000.
Carlos pagou ainda a sisa e os emolumentos notariais e registais. Bento propõe uma acção contra
Carlos em que exige a propriedade sobre a quinta, depositando € 60.000. Quid juris?
Resposta
ARTIGO 241º
(Simulação relativa)
1. Quando sob o negócio simulado exista um outro que as partes quiseram realizar, é
aplicável a este o regime que lhe corresponderia se fosse concluído sem dissimulação,
não sendo a sua validade prejudicada pela nulidade do negócio simulado.
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2. Se, porém, o negócio dissimulado for de natureza formal, só é válido se tiver sido
observada a forma exigida por lei.
ARTIGO 286º
(Nulidade)
ARTIGO 243º
(Inoponibilidade da simulação a terceiros de boa fé)
1. A nulidade proveniente da simulação não pode ser arguida pelo simulador contra
terceiro de boa fé.
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PONTO nº 15
Contrato a favor de terceiro
CP nº 20
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
CASO PRÁTICO nº 20
Abelardo comprou 3.918 rosas a Anselmo, florista, combinandose que as ditas seriam entregues
em casa de Heloísa oito dias depois. Entretanto, Abelardo, a conselho de familiares de Heloísa,
desinteressouse do assunto. Heloísa, informada por uma amiga, pretende haver as rosas de
Anselmo, mas este reenvioua para o convento. Quid juris?
Resposta
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ARTIGO 443º
(Noção)
1. Por meio de contrato, pode uma das partes assumir perante outra, que tenha
na promessa um interesse digno de protecção legal, a obrigação de efectuar
uma prestação a favor de terceiro, estranho ao negócio; diz-se promitente a
parte que assume a obrigação e promissário o contraente a quem a promessa
é feita.
- Há dois credores
▪ Abelardo tem direito a que a entrega seja feita a H
▪ H tem direito à entrega, independentemente de aceitar
( teoria do incremento)
ARTIGO 444º
(Direitos do terceiro e do promissário)
ARTIGO 448º
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PONTO nº 16
Contrato para pessoa a nomear
CP nº 21
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
CASO PRÁTICO nº 21
Perpétua e Rui assinaram um guardanapo de papel em que se escrevera que Perpétua se obrigava
a vender certo apartamento a Sílvia por € 200.000. Rui tinha sido mandatado por Sílvia, a troco
de € 1.000, para lhe obter o direito de aquisição de um apartamento nessa zona.
Três semanas depois, Sílvia mandou uma cartinha a Perpétua mostrandose satisfeita com o
contrato celebrado. Pouco depois, Rui veio exigir os € 1.000 a Sílvia, mas esta pretende pagar
apenas € 500, usando desculpas de mau pagador e informando Rui da carta enviada. Rui escreve
então a Perpétua dizendo que «revoga o contrato». Perpétua ficou toda contente e está pronta para
vender o apartamento a Teresa. Quid juris?
Resposta
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ARTIGO 452º
(Noção)
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PONTO nº 17
Responsabilidade civil
CP nº 22 a 26
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
CASO PRÁTICO nº 22
A, que iniciou recentemente uma carreira política, com funções governamentais, pretende ser
ressarcido de diversos danos, sofridos em consequência de várias circunstância:
1ª Hipótese: No Verão passado e sem o seu consentimento, A foi fotografado por C numa praia
onde se pratica nudismo. A fotografia foi publicada na 1ª página do jornal D, para onde C a
enviara. A pretende a condenação de C e de D pelo danos que alega ter sofrido, bem como,
agindo em nome dos seus filhos menores, pelos danos suportados por estes. Quid juris?
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2ª Hipótese:
Na sequência de uma reunião com o seu advogado B e das indicações por este fornecidas, A
ultimou determinado negócio privado, o qual viria a ser desastroso para os seus interesses. A
descobriu, depois, que B ignorava totalmente a legislação em vigor sobre a matéria em causa.
Quid juris?
Resposta 1: danos de A
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2.3. CULPA
A. aferida pelo critério do art. 487/2
B. deve ser provada (art. 487/1)
C. não há inimputabilidade (cf. arts. 488/489)
D. não há uma causa de exclusão da cupla (erro desculpável, medo
invencível, desculpabilidade)
E. dolo? Negligência? A questão releva tanto em sede de art. 494º,
como de art. 496/3 3 497/2
2.4. DANO
A. real/patrimonial
B. presente/futuro
C. patrimonial/não patriimonial
2.5. NEXO de causalidade
A. a quem é imputável o facto “publicação de fotografia”?
2. OBRIGAÇÃO DE INDEMNIZAR
2.1. a prestação, dada a não patrimonialidade do dano, faz-se por
entrega de uma quantia pecuniária (566º/1)
2.2. vale o art. 566º/2 (teoria da diferença)? Não: ela vale para danos
patrimoniais e que sejam presentes; não sendo o caso, vale o
art. 496º, nº 3 + 494
2.3. é solidária (497/1)
2.4. o direito de regresso entre C e D mede-se pela medida da culpa,
que se presume igual (497/2)
2.5. prescreve ao fim de 3 anos a contar da data do conhecimento do
direito (i.e., sabe que está lesado) mas nunca depois de ter
ocorrido o prazo de prescrição ordinária (498/1)
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2. OBRIGAÇÃO DE INDEMNIZAR
2.6. dada a patrimonialidade do dano, faz-se por reparação in natura
(562) ou entrega de uma quantia pecuniária (566º/1)
2.7. vale o art. 566º/2 (teoria da diferença)? Sim, por serem danos
patrimoniais e desde que sejam presentes
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CASO PRÁTICO nº 23
A, empregado de B, circulava com o carro deste quando perdeu o controlo do veículo e embateu
contra o snack-bar de C, tendo causado a morte de D, empregada de C, que se encontrava no
interior do estabelecimento e ainda de E, cliente habitual do mesmo.
1ª Hipótese: A conduzia sob o efeito de uma droga poderosíssima que lhe tinha sido colocada no
café por F, sua antiga namorada.
4ª Hipótese: a mesma do caso anterior, com a diferença de que o acidente foi provocado por
distracção de A, mais atento ao relato de um jogo de futebol do que à estrada.
5ª Hipótese: no automóvel conduzido por A seguia, também, à boleia, G. Este, não obstante
viajar sem cinto de segurança, apenas sofreu ferimentos ligeiros num braço, embora o seu valioso
relógio de pulso ficasse totalmente destruído.
INTRODUÇÃO
ARTIGO 503º
(Acidentes causados por veículos)
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3. Aquele que conduzir o veículo por conta de outrem responde pelos danos que
causar, salvo se provar que não houve culpa da sua parte; se, porém, o conduzir
fora do exercício das suas funções de comissário, responde nos termos do nº 1.
ARTIGO 505º
(Exclusão da responsabilidade)
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3.2.
ou não há FACTO voluntário de A
3.2.1. v.g., haveria mecânica
3.2.2. ILICITUDE
3.2.3. CULPA
3.2.4. NEXO DE CAUSALIDADE
3.2.5. então responderia apenas o B, já que mesmo uma avaria
mecânica não é estranha ao funcionamento do veículo
4. DANOS
ARTIGO 564º
(Cálculo da indemnização)
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A não responderia
➢ A droga torna o A inimputável pelo que ele não responde por
falta de culpa (cf. 488/1).
➢ Não se aplica o 503/2? Aplica-se: se, por um lado, ninguém
tem obrigação de o vigiar, dada a natureza transitória da
inimputabilidade, mas, contudo, o o art. 489º aplica-se mesmo
quando não haja vigilante legal
B não responderia
➢ nem como detentor, graças ao art. 505º, se a administração da
droga for causa adequada para imputação do acidente.
➢ Nem como comitente, graças pois falta o 3º requisito,
constante do art. 500º
A não responderia
➢ A falta de visibilidade torna o acto não censurável se foram
tomados todos os cuidados exigidos a um bom pai de família
(cf. art. 487/2) ou se houve um medo invencível/
comportamento automático
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JURISPRUDÊNCIA
ACIDENTE DE TRABALHO
NEXO DE CAUSALIDADE
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LOCAL DE TRABALHO
TEMPO DE TRABALHO
: I - Local de trabalho É toda a zona de laboração e exploração da enpresa que se relacione necessariamente
com a actividade laboral; tempo de trabalho é não sé o que se confina no periodo de trabalho, mas ainda nas
suas interrupções forçadas, e os actos que precedem ou sucedem aquele periodo.
II - Toda a actividade do trabalhador causadora do evento (introdução de uma mangueira de alta pressão no
(...) da vitima) foi completamente alheia ao trabalho em que o sinistrado se ocupava.
III - Não existindo o nexo de causalidade entre o acidente e o trabalho, não existe acidente de trabalho
indemnizavel.
I - Provando-se, unicamente, que antes do acidente dos autos houve um outro acidente causado por uma
panela de escape abandonada na via , cujos interveniemtes reclamaram junto da portagem da auto-estrada,
não é possível inferir que tenha havido negligência por parte da Brisa, uma vez que não se sabe quanto
tempo mediou entre essa reclamação e o acidente em causa.
II - A projecção de uma panela de escape pela circulação de um veículo, embora peça caída de um outro
veículo, não poderá ser tida por estranha aos meios de circulação terrestre, da mesma forma que o não seria
a projecção de outro qualquer objecto ou de uma pedra caída de uma carrada mal acondicionada doutro
qualquer veículo, ou o acidente provocado por uma mancha de óleo de outra viatura, devendo, por isso,
considerar-se como um perigo ou um risco inerente à estrada e, como tal, próprio do veículo, para efeitos
do disposto no artº 503º nº1 do C.Civil.
III - Assim, o condutor do veículo não pode deixar de ser responsabilizado, com fundamento no risco, pelos
danos causados ao autor em consequência do acidente e, consequentemente, a seguradora, até ao limite
fixado no nº1 do artº 508º do C.Civil.
A derrapagem é um dos riscos próprios do veículo, por se tratar de fenómeno intimamente ligado às
características específicas de alguns veículos de circulação terrestre, entre eles os automóveis,
cabendo na vasta área do risco definido pelo art. 503.º/1 do CCivil.
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5ª HIPÓTESE (boleia de G)
A responde
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ARTIGO 570º
(Culpa do lesado)
A não responde
ARTIGO 570º
(Culpa do lesado)
2. Se a responsabilidade se basear numa simples presunção de culpa, a culpa
do lesado, na falta de disposição em contrário, exclui o dever de indemnizar
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Elementos de Direito das Obrigações
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Elementos de Direito das Obrigações
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Elementos de Direito das Obrigações
CASO PRÁTICO nº 24
[Rui Pinto
Imagine que, depois do atropelamento, A travou a fundo o que levou a que o veículo que o
antecedia, conduzido por F, o abalroasse por trás. Em consequência, A foi embater na mota de G,
que estava estacionada em cima do passeio.
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Elementos de Direito das Obrigações
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Elementos de Direito das Obrigações
JURISPRUDÊNCIA 1
Não se tendo provado que a condutora de um veículo automóvel, dentro de uma localidade, circulasse
excessivamente próximo do passeio destinado aos peões, provando-se antes que a vítima (peão), circulando
no passeio, pretendeu atravessar a via sem se ter assegurado de que o podia fazer sem perigo, é no
comportamento desta que radica o nexo de causalidade do acidente que o vitimou, sendo a culpa
exclusivamente sua.
JURISPRUDÊNCIA 2
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
I - Tem a direcção efectiva do veiculo e como tal é responsavel civilmente pelo acidente que aquele cause,
o comodatario a quem aquele é emprestado, se o comodante da ao comodatário grande amplitude na sua
utilização e lhe exige as correspondentes responsabilidades na sua conservação e reparação.
II - Não constitui causa de força maior estranha ao funcionamento do veiculo, a derrapagem devida a oleo
derramado na estrada.
III - O Decreto-Lei n. 408/79, na falta de norma expressa nesse sentido, não e aplicavel aos acidentes
ocorridos antes da sua entrada em vigor.
I - A direcção efectiva do veiculo a que alude o n. 1 do artigo 503 do Codigo Civil consiste no poder real
( de facto) sobre ele, tendo-a quem, de facto, goza ou usufrui das vantagens dele e a quem, por tal razão,
especialmente cabe controlar o seu funcionamento.
II - O interesse proprio na utilização do veiculo a que a mesma disposição se refere abrange o interesse
meramente espiritual ou moral.
III - Emprestado certo veiculo, é ao comodante, reu na acção, que incumbe a prova da transferencia para o
comodatario da respectiva direcção efectiva.
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
I - A direcção efectiva do veículo, nos termos e para efeitos do artigo 503, n. 1, do Código Civil, consiste
no poder real (de facto) sobre ele e tem-na, em regra, quem, gozando ou usufruindo das vantagens dele, tem
o encargo de cuidar do seu bom funcionamento.
II - Emprestado um veículo automóvel é de presumir, por ser o normal, que o comodante continua a ter a
sua direcção efectiva, pelo que demandado por acidente por ele causado, lhe incumbe a prova, como facto
impeditivo do direito contra ele invocado, de que, emprestando-o, transferiu essa direcção efectiva para o
comodatário.
III - A apreciação e a decisão do recurso são restringidas pelas conclusões das alegações do recorrente.
ACIDENTE DE VIAÇÃO
CAUSA DE PEDIR
RESPONSABILIDADE CIVIL
COMODATO
INDEMNIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS
II - O comodatario, como detentor do veiculo, embora temporariamente, tem a direcção efectiva dele, dai a
sua responsabilidade, quer a cedencia tenha sido feita - o que por via de regra so sucede em cedencias de
longa duração - ou não com o encargo de cuidar da conservação e do bom funcionamento do veiculo.
III - O comodatario que usufrui das vantagens da utilização do veiculo, conduzido por outrem por conta e
no interesse daquele, responde como comitente pelos danos causados pelo veiculo com culpa do condutor
comissario, nos termos do artigo 500 do Codigo Civil.
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Elementos de Direito das Obrigações
ACIDENTE DE VIAÇÃO
NEXO DE CAUSALIDADE
CULPA
MATERIA DE FACTO
COMPETENCIA DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
RESPONSABILIDADE PELO RISCO
DIRECÇÃO EFECTIVA DE VIATURA
UTILIZAÇÃO DE AUTOMOVEL
RESPONSABILIDADE OBJECTIVA
ESPECIFICAÇÃO
ASSENTO
COLISÃO DE VEICULOS
RETROACTIVIDADE
RESPONSABILIDADE CIVIL DO COMISSARIO
CULPA PRESUMIDA DO CONDUTOR
INDEMNIZAÇÃO
REDUÇÃO
PRESSUPOSTOS
AC STJ DE 1979/05/22 IN BMJ N287 PAG296. AC STJ DE 1979/10/09 IN BMJ N290 PAG352. AC
STJ DE 1979/10/23 IN BMJ N290 PAG390. AC STJ DE 1980/03/06 IN BMJ N295 PAG369. AC STJ
DE 1985/02/13 IN BMJ N344 PAG377. AC STJ DE 1971/05/07 IN BMJ N207 PAG149. AC STJ DE
1972/01/11 IN BMJ N213 PAG203. AC STJ DE 1974/02/19 IN BMJ N234 PAG229. AC STJ DE
1980/03/06 IN BMJ N254 PAG125. AC STJ DE 1981/05/19 IN BMJ N307 PAG242. ASS STJ DE
1983/04/14 IN DR IS 1983/06/28. AC STJ DE 1983/07/07 IN BMJ N329 PAG535.
III - Pelos danos provenientes do risco proprio de qualquer veiculo, responde aquele que tiver a sua
direcção efectiva e o utilize no seu proprio interesse.
IV - Em regra, o responsavel sera o dono do veiculo, bem como, designadamente, o usufrutuario, o
locatario, o comodatario, o adquirente com reserva de propriedade, o autor de furto de veiculo, a pessoa que
abusivamente o utilize.
V - A direcção efectiva do veiculo traduz-se na sua posse real.
VI - A expressão "no seu proprio interesse" visa afastar a responsabilidade objectiva daqueles que utilizam
o veiculo, não no seu proprio interesse, mas a ordem de outrem.
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Danos patrimoniais
CASO PRÁTICO nº 25
1ª Hipótese: A tinha ido passear de barco com o seu amigo D que, numa manobra mal executada
e perigosa, fez embater a embarcação contra uma rocha, na sequência do que A caíu à água,
morrendo de indigestão.
3ª Hipótese: A nadava esforçadamente quando se sentiu mal; não obstante ter insistentemente
pedido socorro, nenhum dos presentes na praia se predispôs a socorrê-lo, nem tão pouco a chamar
o banheiro que, mais afastado, dormia profundamente.
4ª Hipótese: Tudo começou quando F, de oito anos de idade, encontrou um prego a espreitar na
areia. F deslocara-se à praia na companhia do vizinho G, a quem os pais haviam confiado a
vigilância da criança naquele dia. Enquanto G discutia animadamente com o vendedor de gelados
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Elementos de Direito das Obrigações
as últimas do futebol, F, vendo que A adormecera a boiar sobre o colchão, espetou o prego no
colchão. Afastado pela corrente, A acabou por se afogar, visto não saber nadar.
1ª HIPÓTESE
1. Pressupostos
a. Facto voluntário
b. Ilícito: violação do direito à vida
c. Culposo: negligente
i. Regime especial do art. 493º/1 ou nº 2
ii. Não: vale a resp. risco prevista no art. 41º DL 124/2004,
de 26 de Maio, para proprietário e comandante da ER,
desde que caiba na classificação do art. 2º
d. causal? Discussão
JURISPRUDÊNCIA
ACIDENTE DE TRABALHO
NEXO DE CAUSALIDADE
PENSÃO POR MORTE
ÓNUS DA PROVA
PRESUNÇÃO
LESÃO
DOENÇA
V - Não é normal que a fractura de uma perna tenha como consequência a morte passados mais de três
meses sobre essa fractura.
ACIDENTE DE TRABALHO
NEXO DE CAUSALIDADE
LOCAL DE TRABALHO
TEMPO DE TRABALHO
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Elementos de Direito das Obrigações
: I - Local de trabalho É toda a zona de laboração e exploração da enpresa que se relacione necessariamente
com a actividade laboral; tempo de trabalho é não sé o que se confina no periodo de trabalho, mas ainda nas
suas interrupções forçadas, e os actos que precedem ou sucedem aquele periodo.
II - Toda a actividade do trabalhador causadora do evento (introdução de uma mangueira de alta pressão no
(...) da vitima) foi completamente alheia ao trabalho em que o sinistrado se ocupava.
III - Não existindo o nexo de causalidade entre o acidente e o trabalho, não existe acidente de trabalho
indemnizavel.
CPC67 ART514.
CCIV66 ART342 N1 ART562 ART563 ART566 N3.
I - No plano da causalidade, nos danos resultantes de acidente de viação, a primeira operação destina-se a
averiguar no puro plano naturalístico ou físico, se os danos resultam de um acto ou omissão da pessoa em
relação à qual se formula a pretensão indemnizatória; implica ou envolve unicamente uma questão de facto.
II - E tem de apurar-se, num segundo momento, se o facto, apreciado em abstracto, era apropriado
(adequado) para produzir os danos; esta segunda operação envolve uma questão de direito pois implica um
juízo normativo ou de valor que tem de ser emitido em conformidade com um critério - o critério da
causalidade adequada - fixado pelo legislador.
III - O ónus da prova da causalidade incumbe ao lesado.
IV - O nexo de causalidade desempenha a dupla função de pressuposto da responsabilidade civil e da
medida da obrigação de indemnizar em cujo cálculo prepondera a teoria da diferença com recurso, se
necessário, aos critérios da equidade.
V - É da exclusiva competência das instâncias apreciar se certo facto é ou não notório.
ELEMENTO CONSTITUTIVO
FACTO ILÍCITO
DANO
NEXO DE CAUSALIDADE
CULPA
PRESUNÇÃO DE CULPA
VEÍCULO
ILUMINAÇÃO
ACTUALIZAÇÃO DA INDEMNIZAÇÃO
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JUROS DE MORA
DESVALORIZAÇÃO DA MOEDA
CAUSALIDADE NORMATIVA
RESPONSABILIDADE EXTRA CONTRATUAL
I - A responsabilidade civil extra contratual pressupõe, fora dos casos em que se funda no risco, uma
conduta ilícita (porque ofende direitos alheios ou uma norma legal destinada a acautelá-los), a produção de
danos, um nexo de causalidade adequada entre aquela e estes e a culpa do agente.
II - Decorrendo a ilicitude da violação de um preceito de lei, pode até afirmar-se que há uma causalidade
normativa - ao formular o preceito, o legislador já partiu da idoneidade da sua inobservânica para ofender
interesses alheios.
A culpa na produção dos danos presume-se, então.
III - A circulação nocturna, mesmo em locais iluminados, obriga
à sinalização luminosa dos veículos, quer através de luz própria, quer pela instalação de reflectores.
NEXO DE CAUSALIDADE
MATÉRIA DE FACTO
MATÉRIA DE DIREITO
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Elementos de Direito das Obrigações
I - Constitui questão de facto a averiguação do nexo de causalidade naturalística entre o tipo de embalagem
utilizada no transporte e o rompimento das mesmas embalagens e danos subsequentes.
II - Constitui, já, matéria de direito a questão de saber se, uma vez provada a dita causalidade naturalística,
ela releva como causa adequada, segundo os valores legais, daqueles danos.
STJ 18-05-99 NORONHA DO NASCIMENTO
NEXO DE CAUSALIDADE
CAUSALIDADE NORMATIVA
CCIV66 ART563.
I - A causalidade naturalística não pode ser valorada pelo Supremo, já que se reconduz à apreciação dos
factos; mas a causalidade jurídica, essa pode-o ser porque do que se trata é de saber se um conjunto de
factos pode e deve ser considerado causa adequada do evento danoso.
II - Se o condutor de um veículo pesado resolve circular numa estrada proíbida ao trânsito de pesados e
colide com um motociclista numa ponte onde só meia-faixa estava disponível ao trânsito e onde, por força
da largura do camião, não restava ao motociclista espaço para passar, uma tal conduta, do condutor do
pesado, é juridicamente causal do acidente.
III - No direito civil português, está consagrada a modalidade negativa da teoria da causalidade adequada,
que se encontra paredes-meias com a teoria da equivalência das condições.
2. Consequências
a. A questão da indemnização do dano-morte
2ª HIPÓTESE
3. Pressupostos
a. Facto voluntário
b. Ilícito: violação do direito à vida
c. Culposo: negligente
i. Regime especial do art. 492º/1 (para quem tem o dever
de vigilância – seja proprietário, seja detentor onerado
com esse mesmo dever) de coisas e animais
perigosos)? Não: explosivos, combustíveis, máquinas,
auto-estradas, elevadores, balizas, armas, venenos);
animais de companhia
ii. Regime especial do art. 493º, nº 2 (prática de actividades
perigosas pela sua natureza)?
É duvidoso : PL/AV, 469 (navegação marítima/aérea); tal
como a construção de barragens,, comércio de
substancias perigosas, fabrico de foguetes, lançamento
de foguetes, corridas automóveis
iii. Se sim, presume-se a culpa, ilidível, mas em termos
mais exigentes do que, v.g., a do art. 503/2 ou mesmo do
nº 1 do art. 493º, pois
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
d. causal?
4. Consequências
a. A questão da indemnização do dano-morte
JURISPRUDÊNCIA
CORRIDA DE AUTOMÓVEIS
ACTIVIDADES PERIGOSAS
PRESUNÇÃO DE CULPA
INVERSÃO DO ÓNUS DA PROVA
CE94 ART134.
DL 522/85 DE 1985/12/31 ART9.
CCIV66 ART493 N2.
AC STJ DE 1989/02/10 IN BMJ N384 PAG515.
AC RP DE 1991/11/05 IN BMJ N411 PAG647.
AC RP DE 1986/02/20 IN BMJ N361 PAG597.
I- É de considerar como "actividade perigosa" nos termos e para os efeitos do n. 2 do art. 493 do
C.Civil a realização, na via pública, de uma prova desportiva de "karting".
II- A organização de um tal tipo de provas desportivas com veículos terrestres motorizados só pode
ser efectuada mediante a realização de um seguro específico, extensivo aos proprietários desses
veículos e aos respectivos participantes.
III- A entidade organizadora responderá pelos danos causados pelo atropelamento de um intruso
peão entrado na pista para assistir a um concorrente seu filho acidentado se não provar ter usado
de todas as providências exigidas pelas circunstâncias para prevenir o sinistro.
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
3ª HIPÓTESE
1. Pressupostos
a. Facto voluntário omissivo
i. Art. 486
ii. A omissão não pode gerar fisicamente o dano sofrido,
mas entende-se que é causa jurídica do dano sempre
que haja o dever jurídico especial de praticar um acto
que seguramente, ou muito provavelmente, teria
impedido a consumação
b. Ilícito: violação do dever de auxílio
i. Banheiro: tem um dever legal
ii. E as pessoas, em geral?
c. Culposo: negligente
d. causal
4ª HIPÓTESE
CASO PRÁTICO nº 26
A, acossado por uma fortíssima dor de dentes, foi ao odontologista que tinha consultório
junto à sua residência (B) tendo obtido claras melhoras depois de uma série de tratamentos
sofisticados à raiz de um dente cujo custo o forçou a vender a garagem.
Cinco anos depois, A teve de ser transportado de urgência para o hospital, na sequência de
fortíssimas dores no dente que fora objecto de intervenção, tendo sido diagnosticada uma
infecção gravíssima em consequência de um produto cancerígeno que fora introduzido na raiz do
dente. Apurou-se que, à data do tratamento, o produto já tinha sido retirado do mercado, dada a
sua perigosidade.
Dada a gravidade do caso, e perante a incapacidade dos médicos para resolverem a
situação, A decidiu ir para Hong-Kong, onde, depois de três meses de estadia, conseguiu curar-se
com recurso a um complexo e caro processo de medicina oriental.
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
A teve de vender a casa para acudir às despesas e agora exige a B uma indemnização
correspondente aos danos patrimoniais e não patrimoniais sofridos nos últimos cinco anos.
B refere que não tem culpa no acontecido, já que o produto fora ministrado, contra as
suas instruções, por uma enfermeira que, entretanto fora já despedida por crueldade para com os
pacientes; de qualquer modo, acrescenta, a sua responsabilidade, a existir, teria prescrito havia já
dois anos.
Quid juris?
1. B, responde em concurso
- contratualmente (arts. 762º, 483º, 798º, 799º): violação de
deveres de cuidado decorrentes da boa fé
- extracontratualmente (art. 500/1 e 2), enquanto comitente
[e até extracontratualmente enquanto violação de deveres
gerais de cuidado
- discussão das situações de concurso entre Rccontratual e
extracontratual (cf. ALMEIDA COSTA); PPESSOAL: prevalece o
regime contratual por ser especial e mais favorável ao lesado
-
2. E (enfermeira) responde por culpa, nos termos do art. 483º
3. Prescrições:
a. contra o B: art. 498º (como comitente) e art. 309º ( como
prestador de serviços; discussão quanto à não aplicação do
art. 498 na res. contratual)
b. contra o E: art. 498
4. Danos: patrimoniais> apenas o valor do tratamento
5. Danos não patrimoniais> responde B por danos não patrimoniais,
enquanto prestador de serviços? Discussão (cf. MLEITÃO> sim).
JURISPRUDÊNCIA
RESPONSABILIDADE MÉDICA
CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL
RESPONSABILIDADE EXTRA CONTRATUAL
OBRIGAÇÕES DE MEIOS E DE RESULTADO
OBRIGAÇÃO DE INDEMNIZAR
DANOS NÃO PATRIMONIAIS
ACTUALIZAÇÃO DA INDEMNIZAÇÃO
JUROS
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
Sumário :
I - Tendo o Autor solicitado ao Réu, enquanto médico anatomopatologista, a realização de um exame
médico da sua especialidade, mediante pagamento de um preço, estamos perante um contrato de
prestação de serviços médicos - art. 1154.º do Código Civil.
II - A execução de um contrato de prestação de serviços médicos pode implicar para o médico uma
obrigação de meios ou uma obrigação de resultado, importando ponderar a natureza e objectivo do
acto médico para não o catalogar a prioristicamente naquela dicotómica perspectiva.
III - Deve atentar-se, casuisticamente, ao objecto da prestação solicitada ao médico ou ao laboratório,
para saber se, neste ou naqueloutro caso, estamos perante uma obrigação de meios – a demandar
apenas uma actuação prudente e diligente segundo as regras da arte – ou perante uma obrigação de
resultado com o que implica de afirmação de uma resposta peremptória, indúbia.
IV - No caso de intervenções cirúrgicas, em que o estado da ciência não permite, sequer, a cura mas
atenuar o sofrimento do doente, é evidente que ao médico cirurgião está cometida uma obrigação de
meios, mas se o acto médico não comporta, no estado actual da ciência, senão uma ínfima margem de
risco, não podemos considerar que apenas está vinculado a actuar segundo as legis artes; aí, até por
razões de justiça distributiva, haveremos de considerar que assumiu um compromisso que implica a
obtenção de um resultado, aquele resultado que foi prometido ao paciente.
V - Face ao avançado grau de especialização técnica dos exames laboratoriais, estando em causa a
realização de um exame, de uma análise, a obrigação assumida pelo analista é uma obrigação de
resultado, isto porque a margem de incerteza é praticamente nenhuma.
VI - Na actividade médica, na prática do acto médico, tenha ele natureza contratual ou
extracontratual, um denominador comum é insofismável – a exigência [quer a prestação tenha
natureza contratual ou não] de actuação que observe os deveres gerais de cuidado.
VII - Se se vier a confirmar a posteriori que o médico analista forneceu ao seu cliente um resultado
cientificamente errado, então, temos de concluir que actuou culposamente, porquanto o resultado
transmitido apenas se deve a erro na análise.
VIII - No caso dos autos é manifesto que se acha feita a prova de erro médico por parte do Réu, - a
realização da análise e a elaboração do pertinente relatório apontando para resultado desconforme
com o real estado de saúde do doente.
IX - Por causa da actuação do Réu, o Autor, ao tempo com quase 59 anos, sofreu uma mudança
radical na sua vida social, familiar e pessoal, já que se acha impotente sexualmente e incontinente,
jamais podendo fazer a vida que até então fazia, e é hoje uma pessoa cujo modo de vida, física e
psicologicamente é penoso, sofrendo consequências irreversíveis, não sendo ousado afirmar que a sua
auto-estima sofreu um abalo fortíssimo.
X - Os Tribunais Superiores têm vindo a aumentar as compensações por danos não patrimoniais, mas
a diversidade das situações e, sobretudo, não sendo comparáveis a intensidade dos danos e o grau de
culpa dos lesantes, que só casuisticamente podem ser avaliados, não é legítimo invocar as
compensações que são arbitradas, por exemplo, em caso de lesão mortal, com aqueloutras que
afectam distintos direitos de personalidade.
XI - Atendendo aos factos e ponderando os valores indemnizatórios que os Tribunais Superiores vêm
praticando, a compensação ao Autor pelos danos não patrimoniais sofridos deve ser, equitativamente,
fixada em € 224.459,05.
XII - No caso dos autos, não tendo havido actualização da indemnização, e radicando, em última
análise, o pedido indemnizatório, num facto ilícito cometido pelo Réu, tem pertinência a aplicação do
regime constante da 2.ª parte do n.º 3 do art. 805 º do Código Civil.
RESPONSABILIDADE MÉDICA
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL
RESPONSABILIDADE EXTRA CONTRATUAL
CUMPRIMENTO DEFEITUOSO
DEVER DE DILIGÊNCIA
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Elementos de Direito das Obrigações
OMISSÃO
OBRIGAÇÃO DE INDEMNIZAR
Sumário :
I - A responsabilidade civil médica pode apresentar - e será, porventura, a situação mais frequente -
natureza contratual, assentando na existência de um contrato de prestação de serviço, tipificado no
art. 1154.º do CC, celebrado entre o médico e o paciente, e advindo a mesma do incumprimento ou
cumprimento defeituoso do serviço médico. Mas também pode apresentar natureza extracontratual,
prima facie quando não há contrato e houve violação de um direito subjectivo, podendo ainda a
actuação do médico ser causa simultânea das duas apontadas modalidades de responsabilidade civil.
II - São os mesmos os elementos constitutivos da responsabilidade civil, provenha ela de um facto
ilícito ou de um contrato, a saber: o facto (controlável pela vontade do homem); a ilicitude; a culpa; o
dano; e o nexo de causalidade entre o facto e o dano.
III - Provado que, no dia 27 de Junho de 2001, o A. sofreu rotura traumática (parcial) da coifa dos
rotadores, ao nível do ombro esquerdo, em consequência de um acidente abrangido por um contrato
de seguro de acidentes de trabalho, tendo, por indicação da respectiva seguradora, o A., em 3 de
Agosto de 2001, sido submetido a intervenção cirúrgica no Hospital ...., efectuada pelo R. ora
recorrente, que é médico, na especialidade de ortopedia, in casu a responsabilidade médica é de
natureza contratual e o A. logrou provar, como lhe competia - cfr. n.º 1 do art. 342.º do CC -, o
cumprimento defeituoso, a saber, ter o R. na intervenção cirúrgica que efectuou deixado uma
compressa no interior do corpo do A..
IV - Apesar de se ter provado que a enfermeira instrumentista procedeu ao controlo, por contagem,
dos ferros, das compressas, das agulhas, das lâminas de bisturi e dos fios de sutura utilizados e que,
nem durante a realização da cirurgia, nem no final, foi verificada qualquer anomalia nas diversas
contagens que tiveram lugar, o médico tinha o dever de não suturar o A. sem previamente se
certificar que na zona da intervenção cirúrgica não deixava qualquer corpo estranho,
nomeadamente, uma compressa.
V - O esquecimento de compressas ou de instrumentos utilizados na cirurgia dentro do corpo do
doente tem sido considerado como a omissão de um dever de diligência.
VI - Não tendo o médico logrado ilidir a presunção legal de culpa no defeito verificado, impende
sobre si a obrigação de indemnizar.
de Justiça
Processo:
STJ: 05-06-85 Vot ALVES CORTES
RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL
ENERGIA ELECTRICA
NEXO DE CAUSALIDADE
I - Incluem-se entre os deveres de conservação das redes de distribuição de energia electrica o de prever a
acção do vento sobre os respectivos cabos, e o de, consequentemente, providenciar por que estes se não
tenham a entrechocar por efeito daquela acção.
II - A acção da força de ventos fortes não ciclonicos concorrentes para o entrechoque dos cabos da
mencionada rede não constitui força maior excludente da responsabilidade civil da empresa distribuidora
pelos danos provocados por esse entrechoque.
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Elementos de Direito das Obrigações
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Elementos de Direito das Obrigações
PONTO nº 18
Enriquecimento sem causa
CP nº 27 a 29
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
CASO PRÁTICO nº 27
A pretende intentar uma acção, com fundamento em enriquecimento sem causa com vista
a ser reembolsado de
1ª Hipótese: 100 000 euros que entregou a B, como pagamento de um apartamento que lhe
comprou por escrito particular
2ª Hipótese: 2 500 euros que emprestou há 24 anos a C, cuja devolução ainda não conseguiu
obter
Quid juris?
1ª HIPÓTESE
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 474º
(Natureza subsidiária da obrigação)
CASO PRÁTICO nº 28
Quid juris?
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Elementos de Direito das Obrigações
1. Enriquecido> G
2. Empobrecido> E (A é um seu comissário), não chegando a haver um
enriquecimento mediato, sequer
3. Não há aqui um regime de enriquecimento sem causa (474)
4. Parece tratar-se de
4.1. uma acessão industrial imobiliária de boa fé> deve o
enriquecido indemnizar o empobrecido
4.2. e não de benfeitorias de boa fé (pois não há uma relação entre G
e F)
ARTIGO 1340º
(Obras, sementeiras ou plantações
feitas de boa fé em terreno alheio)
1. Se alguém, de boa fé, construir obra em terreno alheio, ou nele fizer sementeira ou
plantação, e o valor que as obras, sementeiras ou plantações tiverem trazido à
totalidade do prédio for maior do que o valor que este tinha antes, o autor da
incorporação adquire a propriedade dele, pagando o valor que o prédio tinha antes das
obras, sementeiras ou plantações.
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RP – 2007/2008 (v. 1.0)
Elementos de Direito das Obrigações
2. Se o valor acrescentado for igual, haverá licitação entre o antigo dono e o autor da
incorporação, pela forma estabelecida no nº 2 do artigo 1333º.
ARTIGO 1273º
(Benfeitorias necessárias e úteis)
2. Quando, para evitar o detrimento da coisa, não haja lugar ao levantamento das
benfeitorias, satisfará o titular do direito ao possuidor o valor delas, calculado segundo
as regras do enriquecimento sem causa.
1. Pressupostos
1.1. Enriquecimento> poupança de despesas (2000), mais
valorização (1750) = 3750
1.1.1. tese da diferença se tivesse feito as obras tinha agora 9750
(a partir de uma base de 10 000); como não as fez tem agora
11750)> logo enriqueceu em 2000
1.2. Empobrecimento> 1500
2. Obrigação de restituir (art. 479)
2.1. Tese do duplo limite> deve restituir 1500
2.2. Tese de ML> deve restituir apenas
2.2.1. Tese de REUTER/MARTINEK: o enriquecimento consistiu na
poupança de despesas (2000 euros)?
2.2.2. Não: segue a tese de KOPPENSTEINER / KRAMER> o
enriquecimento consistiu em tudo o que se adquiriu por
virtude do direito obtido> 3750 euros ?
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Elementos de Direito das Obrigações
CASO PRÁTICO nº 29
Por outro lado, sem o consentimento de A, O tirou-lhe algumas fotografias conduzindo o seu
carro de marca Ferrari, que depois
▪ veio a utilizar numa campanha publicitária de refrigerantes, produzidos
pela empresa de que é titular
▪ revendeu a uma revista cor-de-rosa de mexericos e eventos sociais
Finalmente, A foi pescar para as Berlengas no seu iate. L, seu melhor amigo, queria fazer o
mesmo mas, como não tinha iate, nem A lhe dava boleia, seguiu escondido no iate de A, sendo
apenas descoberto na viagem de regresso. L pescou 20 Kg de peixe.Pode A exigir-lhe esse peixe?
Quid juris?
1. Pressupostos
1.1. Enriquecimento> poupança de despesas (2000), mais
valorização (1750) = 3750
1.2. Empobrecimento> 1500
2. Obrigação de restituir (art. 479)
2.1. Tese do duplo limite> deve restituir 1500
2.2. Tese de ML> deve restituir apenas
2.2.1. Tese de REUTER/MARTINEK: o enriquecimento consistiu na
poupança de despesas (2000 euros)?
2.2.2. Não: segue a tese de KOPPENSTEINER / KRAMER> o
enriquecimento consistiu nas benfeitorias adquiridas> 1500
euros ?
2.3. Momento do cálculo: 479/2 > enriquecimento actual
2.4. Agravamento> 480
2.5. Prescrição> 482
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Elementos de Direito das Obrigações
2ª HIPÓTESE: imagem
3ª HIPÓTESE: pescado
1. Obrigação de restituit
1.1. ACOSTA: Aqui não há empobrecimento> deve-se usar a ideia de
dano real, i.e., o valor objectivo do uso do barco
1.2. = ML; apenas o valor da exploração e não de todo o ganho
obtido: o valor locativo
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PONTO nº 19
Gestão de negócios
CP nº 30
ENQUADRAMENTO DOGMÁTICO
ARTIGO 464º
(Noção)
Portanto:
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Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 465º
(Deveres do gestor)
O gestor deve:
b) Avisar o dono do negócio, logo que seja possível, de que assumiu a gestão;
ARTIGO 467º
(Solidariedade dos gestores)
Havendo dois ou mais gestores que tenham agido conjuntamente, são solidárias
as obrigações deles para com o dono do negócio.
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Elementos de Direito das Obrigações
Sim:
ARTIGO 466º
(Responsabilidade do gestor)
1. O gestor responde perante o dono do negócio, tanto pelos danos a que der
causa, por culpa sua, no exercício da gestão, como por aqueles que causar com
a injustificada interrupção dela.
ARTIGO 468º
(Obrigações do dono do negócio)
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Elementos de Direito das Obrigações
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Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 469º
(Aprovação da gestão)
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Elementos de Direito das Obrigações
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Elementos de Direito das Obrigações
2. Depois de duas:
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Elementos de Direito das Obrigações
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Elementos de Direito das Obrigações
ARTIGO 1180º
(Mandatário que age em nome próprio)
ARTIGO 1181º
(Direitos adquiridos em execução do mandato)
ARTIGO 1182º
(Obrigações contraídas em execução do mandato)
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Elementos de Direito das Obrigações
Mas se esta ingerência foi culposa (i,e., negligente), manda o art. 472º, nº 2
que “ são aplicáveis ao caso as regras da responsabilidade civil”.
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Elementos de Direito das Obrigações
1. É quando o sujeito gestor actuou por conta própria, mas sabendo que
que o negócio não é seu; i.e., ele acha que pode fazer melhor que o dominus.
Conhece.-se a alienidade, mas move-se por um animu depraedandi.
CASO PRÁTICO nº 30
A, colega de B, deparou, numa galeria de arte, com uma tela de Vieira da Silva que há
muito B, em gozo de férias no estrangeiro, tentava adquirir.
Convencido de que assim seria agradável a B, A convencionou com C, dono da galeria, e em
nome próprio, o seguinte:
a) C venderia o quadro dois dias depois, pelo preço de 5 000 euros, a pagar em 5 prestações
mensais iguais, vencendo-se a primeira no momento da entrega do quadro;
b) O pagamento do preço ficaria, pessoalmente, garantido por D, irmão de B;
Ficou também acordado que na data da venda C entregaria a A uma cópia de um quadro
de Salvador Dali, que este adquiriu em nome de B, por 500 euros, tendo pago metade do preço.
Dois dias depois, A deslocou-se à galeria, onde pagou a C 1 000 euros e recebeu os dois
quadros que, com a ajuda de D, colocou na parede do “hall” da vivenda de B.
Regressado do estrangeiro, B manifesta a sua discordância em relação ao comportamento
de A. Acrescenta, referindo-se a Dali, que A sabia perfeitamente que só se interessava por
originais. No entanto, ratifica a aquisição da cópia, a qual vende de imediato a E, por 750 euros.
A, magoado com B, deixa de pagar a 2ª prestação a C, exigindo a B o pagamento das
despesas efectuadas, o reembolso das quantias entregues a C com juros legais e o lucro obtido por
B na venda do Dali. C, por sua vez, exige o pagamento dos 4 000 euros em falta a D.
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