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ACÓRDÃO
MAURO DICKSTEIN
Desembargador Relator
RELATÓRIO
É o relatório.
VOTO
Há, na hipótese, evidente relação de consumo, nos termos dispostos no artigo 3º,
§2º, da Lei nº 8.078/90, além do que, o ajuste entabulado entre as partes apresenta cláusulas
de adesão previamente estipuladas pela incorporadora.
“Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade
competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o
consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.
(...)
A redação em caracteres legíveis possibilita diminuir o âmbito do controle das cláusulas contratuais
gerais, qualitativa e quantitativamente, além de consistir em instrumento de segurança das relações
jurídicas e de liberdade contratual. 241
A contratação em massa, exigência das economias de escala, deve ser exercida de forma
compatível com os princípios fundamentais da ordem econômica, dentre os quais está a defesa do
consumidor (art. 170, nº V, CCF). A rapidez que deve informar esse tipo de contratação, que implica
necessariamente a conclusão do negócio com base em cláusulas gerais preestabelecidas, não deve
servir de pretexto para que se incluam, no bojo de um longo formulário de futuro contrato de adesão.
Cláusulas draconianas consideradas pelo CDC como abusivas. Além desse perigo, está a inevitável
imposição, na prática, das cláusulas pelo estipulante, porque o consumidor aderente geralmente não
lê os termos do formulário, quer seja por pressa, preguiça, indolência, ignorância ou irresignação, em
face da dificuldade trazida pelas ‘letras miúdas’.
Um mínimo de formalismo deve ocorrer nas relações de consumo, devendo-se ter o cuidado de
evitar o excesso para não prejudicar ou retardar a conclusão do negócio. Interessante observar que,
quanto ao formalismo, o fornecedor nunca reclama da demora na conclusão de contrato de
consumo, pela pesquisa de informações e cadastro do consumidor que pretende comprar a prazo. À
perda de dois ou três dias para se colherem informações sobre o consumidor deve corresponder o
tempo despendido pelo fornecedor para esclarecê-lo sobre o conteúdo do contrato e permitir-lhe
leitura do formulário, agora escrito em letras legíveis.
As ‘letras miúdas’, quase sempre ilegíveis por pessoa com razoável nível de visão, não mais são
admitidas pelo sistema do Código, pois os formulários deverão ser impressos com caracteres
legíveis.
(...).”
O quadro de custos deveria ter sido redigido com destaque, integrado ao contrato
firmado entre os demandantes, discriminando, de maneira inequívoca, a obrigação e o valor
da aludida remuneração, como constam as demais verbas integrantes do documento de fls. 89,
concernentes a outros valores a serem pagos pelos adquirentes, sendo certo que, a ausência da
aludida especificação no contrato, viola o dever de informação, vez que, não traz, explicitada,
a quantia que o consumidor terá de suportar a este título, tampouco a obrigação do comprador
no pagamento de comissão de corretagem.
Sob este aspecto, na inicial, a autora afirmou que “... celebrou a apontada
escritura e efetuou o pagamento do montante correspondente à comissão de corretagem, sem
que, no entanto, lhe fosse facultada a possibilidade de negociar o respectivo valor, uma vez
que o preço da comissão foi pré-determinado, conjuntamente, pela promitente vendedora e
pela corretora, que, naquela ocasião, apenas apresentou a Autora, no próprio stand de
vendas, o preço e as condições do negócio impostos pela construtora”. (grifo no original).
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data certa e determinada para a entrega do imóvel e demonstrado não ter sido cumprido o referido
pacto, tem-se por caracterizada a mora do promitente vendedor, independentemente da interpelação
por parte dos promitentes compradores, sendo certo que a mora da construtora se dá ex re e
independe de prévia notificação. Incumbia à ré a prova de ter ocorrido circunstância de força maior,
a justificar o atraso, não se podendo aceitar as vagas alegações quanto ao abandono de uma das
principais empreiteiras do empreendimento, além do aquecimento do mercado imobiliário, sendo
certo que tudo isso, ao contrário, é matéria rigorosamente previsível e que se inclui no risco do
empreendimento, a ser suportado exclusivamente pela construtora. No que tange ao pedido de
restituição da mencionada taxa de corretagem, também correta a sentença. É que a exegese do art.
724 do Código Civil determina que a remuneração dos corretores é responsabilidade dos
vendedores, se não houver disposição legal em contrário ou acordo diverso entre as partes. Não há
nos autos qualquer comprovação de que as partes acordaram que o pagamento da comissão de
corretagem seria suportado pelos compradores do imóvel. A imposição da responsabilidade pelo
pagamento de tal verba aos compradores, sem prévia e clara comunicação, configura desrespeito ao
dever de informação, cabendo salientar que o fato de terem os compradores honrado o pagamento
da comissão, não caracteriza concordância com tal obrigação. Assim, deve a construtora restituir
aos compradores do imóvel a referida taxa de corretagem. Em relação aos danos extrapatrimoniais,
tenho que o montante de R$ 3.000,00 para cada autor, a título de dano moral, é compatível com a
repercussão dos fatos narrados nestes autos, considerando que o atraso na entrega do imóvel
perdurou por dois meses, além do período de carência, estando tal valor em harmonia com os
princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Melhor sorte não assiste à agravante no que tange
aos ônus de sucumbência. No caso em análise, não houve sucumbência recíproca, tendo a
construtora saído vencida na demanda, razão pela qual deverá suportar o pagamento das custas
processuais e dos honorários advocatícios, que devem ser fixados em 10% sobre o valor da
condenação. Recurso ao qual se nega provimento. (grifo nosso).
MAURO DICKSTEIN
MB
Desembargador Relator