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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

2ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS

Autos nº. 0014797-35.2019.8.16.0182

Recurso Inominado Cível n° 0014797-35.2019.8.16.0182


5º Juizado Especial Cível de Curitiba
Recorrente(s): IMOBILIÁRIA M5 ASSESSORIA IMOBILIÁRIA LTDA – PADRONE IMÓVEIS
Recorrido(s): MARIA CLARA KOCHANNY JARDEVESKI e JORGE ROBERTO JARDEVESKI
Relator: Irineu Stein Junior

RECURSO INOMINADO. MATÉRIA RESIDUAL. AÇÃO DE


RESTITUIÇÃO DE COMISSÃO IMOBILIÁRIA. COMPROMISSO DE
COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. INTERMEDIAÇÃO DA
IMOBILIÁRIA RÉ. PAGAMENTO DA COMISSÃO DE CORRETAGEM
NO PERCENTUAL DE 50% PELO VENDEDOR. COMPRA E VENDA
NÃO CONCRETIZADA POR DESCUMPRIMENTO DO PRAZO
CONTRATUAL PARA QUITAÇÃO DO IMÓVEL PELO COMPRADOR,
EM VIRTUDE DE ENTRAVES NO FINANCIAMENTO IMOBILIÁRIO.
RESCISÃO CONTRATUAL. FALHA NO DEVER DE INFORMAÇÃO NO
INSTRUMENTO DE DISTRATO. CDC, ARTIGOS 6o, INCISO III, 46.
ÔNUS DA PROVA. CPC, ART. 373, INCISO II. DIREITO À
RESTITUIÇÃO DA COMISSÃO DE CORRETAGEM. PRECEDENTE DO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. SENTENÇA MANTIDA POR
SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO.

1. Ação de restituição de comissão imobiliária.

2. Incidência das normas do Código de Defesa do Consumidor na relação


jurídica de direito material estabelecida entre as partes, por se enquadrar a
Requerente no conceito de consumidor (art. 2º, CDC) e a Requerida no
conceito de fornecedor (art. 3º, CDC)

3. Autores que, na condição de vendedores, firmaram compromisso de


compra e venda de imóvel com intermediação e formalizado pela imobiliária
ré, efetuando o pagamento de 50% da comissão de corretagem (seq. 1.7),
cujo saldo restante seria pago na data do financiamento bancário firmado
pelos compradores (cláusula 10 – seq. 1.5).
4. Conforme previsão contratual, os autores receberam R$ 20.000,00 como
sinal de negócio, remanescendo o saldo de R$ 295.000,00, que seria pago
pelos promitentes compradores por meio de financiamento imobiliário, no
prazo de 120 dias da assinatura do contrato (cláusula 7 – seq. 1.5).

5. Contexto dos autos que evidencia que a rescisão contratual foi motivada
pela inobservância do prazo contratual, pelos compradores, para quitação
do saldo devedor em virtude de entraves no financiamento imobiliário,
apesar de concedidas diversas prorrogações pelos autores (vendedores) -
(seq. 48.5, fls. 16, 20, 23, 31).

6. Pretensão da ré de reter o percentual de 50% recebido dos autores a título


de comissão de corretagem, sob o argumento de que houve arrependimento
imotivado da venda, que não encontra respaldo probatório nos autos. Ônus
da parte ré de comprovar fatos impeditivos, extintivos e modificativos do
direito do autor. Aplicação do disposto no artigo 373, inciso II, do CPC.
Ônus do qual não se desincumbiu.

7. Negócio jurídico de compra e venda que não restou concretizado em


decorrência da não obtenção do financiamento imobiliário pelo comprador
no prazo firmado. Atividade de intermediação que não resultou em efetiva
contratação. Comissão de corretagem indevida.

8. Nesse sentido, é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

“AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. COMISSÃO DE


CORRETAGEM. VENDA NÃO CONCRETIZADA. INTERPRETAÇÃO DO
ART. 725, DO CÓDIGO CIVIL. HONORÁRIOS DE CORRETAGEM
INDEVIDOS. PRECEDENTES. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1.
Ausência de violação ao princípio da não surpresa, visto que o fundamento do
tribunal de origem, dito pela parte recorrente como inovador para justificar a
não devolução da comissão de corretagem – contrato de compra e venda
rescindido por ausência de aprovação de financiamento -, foi apresentado pela
própria parte ora recorrente nas suas razões do recurso de apelação. 2.
Incabível comissão de corretagem no contrato de compra e venda de imóveis,
quando o negócio não foi concluído por desistência do comprador, não
atingindo assim o seu resultado útil. 3. Agravo interno não provido.” (AgInt no
REsp 1864660 / SP, rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, DJe 25/02/2022)

Confira-se trecho extraído do corpo do aludido acórdão: “Está em


consonância com o entendimento desta Corte no sentido de que o contrato de
corretagem não impõe simples obrigação de meio, mas de resultado, de
maneira que é exigível o pagamento da comissão quando a aproximação
resulta na efetiva contratação, sendo que até mesmo a desistência do negócio
por parte da compradora não permite a cobrança da comissão de corretagem.”

9. Caso dos autos em que restou evidenciado que a atividade de


intermediação se aperfeiçoaria com a assinatura do contrato de
financiamento bancário, tanto é que previsto expressamente no compromisso
de compra e venda que a quitação da comissão de corretagem se daria na
referida data (cláusula 10 – seq. 1.5).

10. Instrumento de rescisão contratual confeccionado pela imobiliária ré que


nada consignou acerca da retenção do valor pago a título de comissão de
corretagem, estabelecendo genericamente que “as partes nada têm a
reclamar em relação à intermediação realizada pela ré” (cláusula 3.6, seq.
48.3). Previsão que não tem o condão de respaldar a retenção de valores,
quando não demonstrado pela ré, diante da inversão do ônus da prova
prevista no artigo 6o, inciso VIII, do CDC e da regra do artigo 373, II, do
CPC, que cumpriu suficientemente o dever de informação quando da
rescisão contratual, a fim de validar a retenção ora questionada, de cujo
ônus, no entanto, não se desincumbiu satisfatoriamente.

11. Nos termos do artigo 6º, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor é
direito básico do consumidor a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade e preço, bem como, sobre os riscos
que apresentem.

12. O descumprimento do dever de informação configura descaso para com o


consumidor, afrontando os princípios da boa fé, igualdade, transparência,
equidade e equilíbrio que norteiam o Código de Defesa do Consumidor.

13. Nos termos do artigo 46, do Código de Defesa do Consumidor, "Os


contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores,
se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu
conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a
dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.”.

14. Retenção do valor a título de comissão de corretagem indevida. Direito à


restituição.

15. Pleito de aplicação da pena de litigância de má-fé à autora rejeitada.

16. Ausente razões para a reforma da decisão guerreada, deve ela ser
integralmente mantida em seus próprios termos.
17. Recurso conhecido e não provido.

Trata-se de Recurso Inominado apresentado por IMOBILIÁRIA M5 ASSESSORIA


IMOBILIÁRIA LTDA em face da sentença que julgou procedente o pedido formulado nos autos de
AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE COMISSÃO IMOBILIÁRIA ajuizada por JORGE ROBERTO
JARDEVESKI e MARIA CLARA KOCHANNY JARDEVESKI, condenando a parte ré ao
ressarcimento do valor de R$ 7.500,00 (sete mil e quinhentos reais) em favor dos autores.

Pretende a reforma.

Contrarrazões apresentadas.

Relatório dispensado, como autorizado pelo artigo 46 da Lei 9.099/95 e Enunciado 92 do


FONAJE.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Da análise dos autos, não obstante as razões apresentadas pela parte recorrente, a sentença
deve ser mantida por seus próprios fundamentos, com base no permissivo do artigo 46, da Lei nº 9.099
/95, por não haver razões para a sua alteração.

“Art. 46. O julgamento em segunda instância constará apenas da ata, com a indicação
suficiente do processo, fundamentação sucinta e parte dispositiva. Se a sentença for confirmada pelos
próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acórdão.”.

Isso posto, voto por conhecer do recurso e no mérito negar provimento para manter a
sentença por seus próprios fundamentos (art. 46 da Lei 9.099/95).

A parte recorrente arcará com o pagamento de honorários advocatícios arbitrados em 10%


(dez por cento) sobre o valor da condenação (art. 55, da Lei 9.099/95), em virtude da sucumbência
recursal.

Custas devidas (Lei Estadual 18.413/14, arts. 2º, inc. II e 4º, e Instrução Normativa -
CSJEs, art. 18).

Ante o exposto, esta 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais resolve,


por unanimidade dos votos, em relação ao recurso de IMOBILIÁRIA M5 ASSESSORIA IMOBILIÁRIA
LTDA PADRONE IMÓVEIS, julgar pelo(a) Com Resolução do Mérito - Não-Provimento nos exatos
termos do voto.

O julgamento foi presidido pelo (a) Juiz(a) Irineu Stein Junior (relator),
com voto, e dele participaram os Juízes Alvaro Rodrigues Junior e Marcel Luis Hoffmann.

24 de junho de 2022
Irineu Stein Junior

Juiz (a) relator (a)

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