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Juízo: Vara Adjunta do JEC - Santa Vitória do Palmar

Processo: 5003899-32.2021.8.21.0063
Tipo de Ação: Obrigações: Inadimplemento
Autor: JOSÉ ANTUNES
Réu: VITOR PEREIRA VIQUE
Local e Data: Santa Vitória do Palmar, 12 de agosto de 2023

PROPOSTA DE SENTENÇA

Vistos.

Embora seja dispensado o relatório, consoante dispõe o artigo 38 da Lei


9.099/95, passo a tecer breve resumo dos fatos para melhor elucidação do
caso.

Compulsando os autos, foi possível analisar que com a presente demanda o


autor postula a rescisão contratual pelo inadimplemento do réu, condenação
deste ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de danos morais e
de R$9.000,00 (nove mil reais), a título de danos materiais, pelo pedido de
devolução do valor pago.

Alega que em 30/07/2023 firmou com o réu contrato de compra e venda de


casa pré-fabricada, consistindo na aquisição de uma casa de moradia, com
medidas e materiais pré-determinados. Que o valor do negócio foi fixado em
R$18.000,00 (dezoito mil reais), com uma entrada de 50% do valor, ou seja,
R$9.000,00 (nove mil reais). Aduz que o réu nunca cumpriu o contrato e parou
de atender mensagens e ligações do autor.

Foi juntado o contrato e o recibo de pagamento.

Embora devidamente citado/intimado, o réu não compareceu à audiência de


conciliação, nem mesmo apresentou defesa ou impugnou os documentos
acostados pelo autor, sendo decretada a sua revelia (Evento 2, DESP10,
Página 1).

Análise do mérito da presente proposta de sentença:


O art. 475 do Código Civil dispõe que a parte lesada pelo inadimplemento pode
pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento,
cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.

O autor fez prova da contratação com o réu, através do contrato juntado ao


Evento 2, COMP4; contrato este devidamente assinado pelo réu e com
reconhecimento de sua assinatura por autenticidade em tabelionato de notas,
com o valor total e os vencimentos das parcelas (50% do valor na assinatura
do contrato, 30% quando da estrutura da casa e o restante com a entrega das
chaves), o que demonstra a contratação.

Também apresenta recibo do pagamento da entrada, com a assinatura do


contratado.

Por outro lado, o réu teve sua revelia decretada, não compareceu à audiência e
tampouco se manifestou no presente processo.

Conforme art. 20 da Lei 9.099, não comparecendo o demandado à sessão de


conciliação ou à audiência de instrução e julgamento, reputar-se-ão
verdadeiros os fatos alegados no pedido inicial, salvo se o contrário resultar da
convicção do Juiz.

Logo, medida que se impõe é a procedência quanto à rescisão contratual pelo


inadimplemento, com a condenação do réu aos danos materiais (restituição do
valor pago).

No que se refere ao pedido de danos morais, ainda que o entendimento


majoritário seja no sentido de que o mero inadimplemento contratual não
ocasiona danos morais, tal entendimento, todavia, deve ser excepcionado nas
hipóteses em que da própria descrição das circunstâncias que perfazem o
ilícito material é possível extrair consequências bastante sérias de cunho
psicológico, que são resultado direto do inadimplemento culposo.

Sabe-se que a casa própria é o bem material mais importante na vida de uma
família e, no caso dos autos, o autor viu o seu sonho ruir, o que era para ser a
realização do sonho transformou-se no pesadelo, desaguando a solução no
Poder Judiciário.

Evidentes os sentimentos de frustração e de angústia mediante a não entrega


da casa pré-fabricada adquirida, mormente quando objetivava a sua própria
moradia, atingindo a sua dignidade.

Logo, tenho que os transtornos vivenciados, no caso concreto, ultrapassem o


mero dissabor cotidiano e configurem dano moral.
Ademais, embora o autor tenha cumprido integralmente com a obrigação que
lhe cabia no momento, isto é, o pagamento da entrada, o réu, além de não
entregar a casa pré-fabricada, não deu qualquer satisfação, inclusive, não
compareceu a audiência, tendo sido decretada sua revelia.

Ou seja, configurada a má-fé do réu, que recebeu o valor pactuado, sem que,
em momento algum, demonstrasse querer cumprir a sua obrigação contratual.

Portanto, medida que se impõe é a procedência dos pedidos formulados na


exordial, com ressalvas, em razão do quantum a título de danos morais a ser
fixado.

A fixação deve atentar para a condição econômica da vítima e a do ofensor, o


grau de culpa, a extensão do dano e a finalidade da sanção reparatória. Assim,
fixo-a em R$ 3.000,00 (três mil reais), valor que se coaduna às diretrizes
extraídas dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade; sinaliza para
a ré a inadequação de sua conduta e necessidade de revisão de seus
procedimentos, sem reverter em enriquecimento sem causa da parte.

Ante o exposto, opino pela PROCEDÊNCIA PARCIAL DOS PEDIDOS, com


resolução de mérito, aduzidos por JOSÉ ANTUNES afim de condenar o réu
VITOR PEREIRA VIQUE ao pagamento de R$ 9.000,00 (nove mil reais), a
título de danos materiais e R$3.000,00 (três mil reais), a título de danos morais.

O valor, a título de danos materiais, deverá ser corrigido pelo índice IGP-M e
acrescido de juros legais de 1% ao mês, ambos a contar da data de
vencimento do contrato, isto é, 30/09/2021.

O valor a título de danos morais, deverá ser corrigido pelo índice IGP-M e
acrescido de juros legais de 1% ao mês, ambos a contar da data desta
sentença.

Sem custas e honorários advocatícios, de acordo com o artigo 55 da Lei nº.


9.099/95.

Submete-se a presente proposta de sentença à consideração da Exma. Sra.


Dra. Juíza de Direito Presidente deste Juizado Especial Cível.

Santa Vitória do Palmar, 12 de agosto de 2023.

Bruna Pagel Hinz – Juíza Leiga

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