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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ

18ª CÂMARA CÍVEL - PROJUDI


RUA MAUÁ, 920 - ALTO DA GLORIA - Curitiba/PR - CEP: 80.030-901

Recurso: 0008881-23.2015.8.16.0194
Classe Processual: Apelação Cível
Assunto Principal: Perdas e Danos
Apelante(s): PDG LN 31 INCORPORACAO E EMPREENDIMENTOS
IMOBILIARIOS LTDA
EVANDRO CESAR DA ROCHA
Apelado(s): EVANDRO CESAR DA ROCHA
PDG LN 31 INCORPORACAO E EMPREENDIMENTOS
IMOBILIARIOS LTDA

AÇÃO DE REVISÃO CONTRATUAL C/C PERDAS E DANOS – ATRASO


ENTREGA DE IMÓVEL.

RECURSO DE APELAÇÃO 01 – PARTE AUTORA: RESTITUIÇÃO EM DOBRO.


NÃO CABIMENTO. CONGELAMENTO DO SALDO DEVEDOR DO CONTRATO
PARA O PERÍODO DE MORA DA INCORPORADORA. IMPOSSIBILIDADE.
RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.

1. A restituição em dobro requer a prova inequívoca da má-fé de quem


cobrou indevidamente, o que não demonstrou o consumidor nos autos, de
modo que a não aplicável a regra da repetição em dobro na hipótese.

2. Conforme a regra dos artigos 395 e 944 do Código Civil, as indenizações


decorrentes de inadimplência contratual devem guardar equivalência
econômica com o prejuízo suportado pela outra parte, sob pena de se
induzir o desequilíbrio econômico-financeiro do contrato e o
enriquecimento sem causa de uma das partes.

RECURSO DE APELAÇÃO 02 – PARTE RÉ: COMISSÃO DE CORRETAGEM.


APLICAÇÃO DE MULTA COMPENSATÓRIA E MORATÓRIA. CABIMENTO.
LUCROS CESSANTES. IMPOSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO. ÍNDICE DE
CORREÇÃO MONETÁRIA PARA O PERÍODO DE ATRASO NA ENTREGA DA
OBRA. INCC. INAPLICABILIDADE.DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO. MERO ABORRECIMENTO DECORRENTE DA
INOBSERVÂNCIA DE PRAZO CONTRATUAL. PRETENSÃO INDENIZATÓRIA
AFASTADA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

1. Nos termos da tese adotada pelo STJ para fins de aplicação do efeito
repetitivo no RESP 1.599.511/SP, é válido o contrato que transfere ao
comprador a responsabilidade pelo pagamento da comissão de
corretagem, desde que haja prévia informação deste ônus ao consumidor,
de forma que, não havendo previsão no contrato em análise, deve ser
reconhecida a sua ilegalidade.
2. Comprovada a inadimplência contratual, decorrida da conduta
negligente da apelada, a qual tinha como obrigação primar pelo
cumprimento do contrato, nos moldes entabulados entre as partes, cabível
a sua condenação ao pagamento de multa moratória.

3. Sendo patente o desequilíbrio de prestações entre as partes, necessário


o rebalanceamento de contraprestações manifestamente desproporcionais
como consectário lógico da boa-fé contratual, que estabelece como dever
lateral de conduta a busca constante de uma relação jurídica equânime,
sendo aplicável, dessa forma, a multa compensatória.

4. “Tema 971: No contrato de adesão firmado entre o comprador e a


construtora/incorporadora, havendo previsão de cláusula penal apenas
para o inadimplemento do adquirente, deverá ela ser considerada para a
fixação da indenização pelo inadimplemento do vendedor. As obrigações
heterogêneas (obrigações de fazer e de dar) serão convertidas em
dinheiro, por arbitramento judicial."

5. Conforme o informativo 540 do STJ, para o caso de inadimplemento é


possível a compensação da cláusula penal moratória com perdas e danos,
não sendo cabível, contudo, a cumulação das perdas e danos (aluguéis)
com a cláusula penal compensatória.

6. Consoante já decidiu o STJ, “não se aplica o INCC como índice de


correção após à entrega da obra” (AgRg no REsp 579.160/DF, 4ª Turma,
Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe de 25.10.2012. No mesmo sentido: AgRg
no Ag 1.349.113/PE, 3ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe de
19.08.2011).

7. O atraso na entrega do imóvel não pode ser considerado fato gerador


de dano moral, pois não se comprovou a ocorrência de sentimento de dor
pessoal, mas apenas uma insatisfação cotidiana pelo inadimplemento de
obrigação contratual.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


0008881-23.2015.8.16.0194, da 21ª Vara Cível do Foro Central da Comarca da
Região Metropolitana de Curitiba, em que são Apelantes EVANDRO CESAR DA
ROCHA e PDG LN 31 INCORPORAÇÃO E EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA e
Apelados PDG LN 31 INCORPORAÇÃO E EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA e
EVANDRO CESAR DA ROCHA.

I – RELATÓRIO
Trata-se de Ação de Revisão Contratual cumulada com Perdas e
Danos proposta por EVANDRO CESAR DA ROCHA contra PDG LN 31 INCORPORAÇÃO
E EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA, através da qual pretende a condenação
da requerida às perdas e danos relativos à comissão de corretagem, aos acréscimos
contratuais em razão do atraso no financiamento, às multas contratuais e aos lucros
cessantes pelo atraso na entrega do imóvel, além de indenização por danos morais
(mov. 1.1).

Após as tramitações, o magistrado proferiu sentença (mov. 39.1),


julgando antecipadamente a lide nos seguintes termos:

Posto isso, JULGO PROCEDENTE os pedidos iniciais, reconhecendo o atraso


da obra indicada na inicial entre o período de 30/10/2013 a 01/11/2014,
condenando a parte ré ao pagamento: 1- de multa compensatória prevista
no item 7.4.2.i, de 2% sobre o valor pago pelo comprador até a data da
entrega das chaves, corrigido monetariamente pelo INPC desde a data
limite (30/10/2013) e acrescidos de juros de mora de 1% ao mês desde a
citação; 2- de multa moratória prevista no 7.4.2.ii, de 0,5% ao mês sobre o
valor pago até a entrega das chaves, corrigido monetariamente pelo INPC
desde a data limite (30/10/2013) e acrescidos de juros de mora de 1% ao
mês desde a citação; 3- na devolução da quantia de R$16.339,00, pago a
título de comissão de corretagem, corrigido monetariamente pelo INPC,
desde o dispêndio, e acrescido de juros de mora de 1% ao mês desde a
citação; 4- de lucro cessante, consistente no valor de aluguel que fixo em
0,7% do valor do imóvel ao mês, durante o período de 30/10/2013 a
01/11/2014, devendo incidir correção monetária mês a mês pelo INPC e
acrescidos de juros de mora de 1% ao mês desde a citação; 5- de dano
moral que fixo em R$20.000,00 corrigido monetariamente pelo INPC desde
a sentença, e acrescidos de juros de mora de 1% ao mês desde a citação.
Ainda determino que a partir da data de 30/10/2013 ao índice de correção
sobre o saldo devedor seja o INPC, até 01/11/2014, sem incidência de juros
de mora neste período. Por fim condeno a parte requerida ao pagamento
das custas processuais e honorários advocatícios do patrono da parte
autora, o quais fixo em 10% do valor da condenação, com fulcro no artigo
20, §3º do CPC, tendo em vista a simplicidade da causa e o tempo
necessário para o seu julgamento (56 dias).

Insatisfeita, a parte autora interpôs Recurso de Apelação (mov.


44.1), em cujas razões sustenta, em síntese:
a) cabível a devolução em dobro dos valores pagos a título de
comissão de corretagem;

b) a atualização do contrato no caso em tela pune o consumidor


de um lado, ao passo que majora o valor inicialmente previsto, enquanto que
beneficia a construtora em mora, posto que mesmo inadimplente em sua obrigação,
ela continuará a receber pela valorização do bem;

c) se houve atraso no habite-se e na entrega do imóvel que


acabou por postergar o pagamento do saldo remanescente, não há que se imputar
ao consumidor o ônus da mora do próprio fornecedor, ainda que se trata de mera
correção monetária;

d) deve a sentença ser reformada a fim de determinar que após a


data limite de entrega do imóvel, ou seja, em 30/10/2013, haja o congelamento do
saldo devedor do contrato, devendo todo os valores excedentes desembolsados
pelo autor/recorrente nesse período sejam restituídos, acrescidos de correção
monetária e juros.

Pugnou pelo conhecimento e provimento do recurso para o fim de


reformar a sentença.

O recurso foi recebido em seu duplo efeito legal (mov. 46.1) e


contrarrazões foram apresentadas no mov. 59.1.

Recurso de Apelação foi interposto pela parte ré (mov. 51.1), em


cujas razões sustenta, em síntese, que:

a) não é indevida a cobrança de comissão de corretagem por


parte da empresa de vendas de imóveis e/ou consultores imobiliários autônomos e
independentes;

b) uma vez que o habite-se foi expedido em 31/03/2014, este deve


ser considerado o termo final da mora e não a entrega das chaves;

c) não existem motivos para que sejam aplicadas as multas


compensatória e moratória;

d) não pode a Apelante ser obrigada a indenizar o Apelado por


valor de alugueres, quando não existe conduta praticada pela mesma a fim de
caracterizar a responsabilidade por tal dano;

e) caso ainda se entenda pela obrigação de pagamentos de lucros


cessantes, o percentual de aluguel justo deve ser fixado em 0,5% (zero vírgula cinco
por cento) sobre o valor do contrato e, não o de 0,7%, conforme determina a
sentença;

f) não há qualquer abusividade na adoção do INCC como índice de


atualização monetária, já que, além de não vedado em lei, reflete a variação dos
preços dos insumos e materiais aplicados na construção civil;

g) inexistem danos morais indenizáveis no caso;

h) a indenização fixada em favor do Apelado à título de reparação


por danos morais é totalmente desarrazoada e abusiva, representando,
evidentemente, um enriquecimento ilícito às custas da Apelante, devendo ocorrer
uma redução do quantum indenizatório.

Pugnou pelo conhecimento e provimento do recurso para o fim de


reformar a sentença.

O recurso foi recebido em seu duplo efeito legal (mov. 53.1) e


contrarrazões foram apresentadas no mov. 62.1.

Os autos vieram conclusos e este relator determinou a suspensão


do recurso nos termos do REsp 1.614.721/DF (mov. 1.1).

Considerando o julgamento do REsp. 1614721/DF, referente a


validade e extensão da cláusula penal unilateral que privilegie apenas a
construtora, bem como do REsp. 1498484/DF, acerca da possibilidade ou não de
cumulação de indenização com cláusula penal, as partes foram intimadas a se
manifestar (mov. 6.1 e 17.1), nos termos do artigo 10 do CPC, sendo que apenas a
parte EVANDRO se manifestado no mov. 13.1.

É a breve exposição.
II - VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO:

RECURSO DE APELAÇÃO 01 – PARTE AUTORA

O recurso é tempestivo e preenche os demais requisitos de


admissibilidade, razão pela qual deve ser conhecido.

1 – Da Devolução em Dobro

Sustenta o apelante ser cabível a repetição do indébito em dobro.

Sem razão.

A repetição é oportuna em caso de pagamento indevido, que pode


se dar no plano objetivo ou subjetivo, sob o fundamento essencial da ausência de
causa para pagamento, evitando o enriquecimento sem causa do credor e
empobrecimento excessivo do devedor.

Todavia, a restituição em dobro requer a prova inequívoca da


má-fé de quem cobrou indevidamente, o que não demonstrou o consumidor nos
autos, de modo que a não aplicável a regra da repetição em dobro na hipótese,
conforme já decidido pelo Superior Tribunal de Justiça (AgRg no AREsp 460.383/RJ,
Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/04/2014,
DJe 11/04/2014).

Portanto, não demonstrada à má-fé da incorporadora, não há que


se falar em repetição do indébito em dobro, razão pela qual, deve ser mantida a
sentença neste ponto.

2 – Do Congelamento do Saldo Devedor


Aduz o apelante que a atualização do contrato no caso em tela
pune o consumidor de um lado, ao passo que majora o valor inicialmente previsto,
enquanto que beneficia a construtora em mora, posto que mesmo inadimplente em
sua obrigação, ela continuará a receber pela valorização do bem.

Advoga que, se houve atraso no habite-se e na entrega do imóvel


que acabou por postergar o pagamento do saldo remanescente, não há que se
imputar ao consumidor o ônus da mora do próprio fornecedor, ainda que se trata de
mera correção monetária.

Requer, por tais razões, a reforma da sentença para o fim de


determinar que após a data limite de entrega do imóvel, ou seja, em 30/10/2013,
haja o congelamento do saldo devedor do contrato, devendo todo os valores
excedentes desembolsados pelo autor/recorrente nesse período sejam restituídos,
acrescidos de correção monetária e juros.

Sem razão.

E isso porque, conforme a regra dos artigos 395 e 944 do Código


Civil, as indenizações decorrentes de inadimplência contratual devem guardar
equivalência econômica com o prejuízo suportado pela outra parte, sob pena de se
induzir o desequilíbrio econômico-financeiro do contrato e o enriquecimento sem
causa de uma das partes, conforme vem decidindo o STJ:

CIVIL. CONTRATOS. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. MORA NA ENTREGA DAS


CHAVES. CORREÇÃO MONETÁRIA DO SALDO DEVEDOR. SUSPENSÃO.
IMPOSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE EQUIVALÊNCIA ECONÔMICA DAS
OBRIGAÇÕES. DISPOSITIVOS LEGAIS ANALISADOS: ARTS. 395, 884 E 944 DO
CC/02; 1º DA LEI Nº 4.864/65; E 46 DA LEI Nº 10.931/04.

2. Recurso especial em que se discute a legalidade da decisão judicial que,


diante da mora do vendedor na entrega do imóvel ao comprador, suspende
a correção do saldo devedor.

3. A correção monetária nada acrescenta ao valor da moeda, servindo


apenas para recompor o seu poder aquisitivo, corroído pelos efeitos da
inflação, constituindo fator de reajuste intrínseco às dívidas de valor.

4. Nos termos dos arts. 395 e 944 do CC/02, as indenizações decorrentes de


inadimplência contratual devem guardar equivalência econômica com o
prejuízo suportado pela outra parte, sob pena de se induzir o desequilíbrio
econômico-financeiro do contrato e o enriquecimento sem causa de uma
das partes.

5. Hipótese de aquisição de imóvel na planta em que, diante do atraso na


entrega das chaves, determinou-se fosse suspensa a correção monetária do
saldo devedor. Ausente equivalência econômica entre as duas
obrigações/direitos, o melhor é que se restabeleça a correção do saldo
devedor, sem prejuízo da fixação de outras medidas, que tenham
equivalência econômica com os danos decorrentes do atraso na entrega das
chaves e, por conseguinte, restaurem o equilíbrio contratual comprometido
pela inadimplência da vendedora.

6. Considerando, de um lado, que o mutuário não pode ser prejudicado por


descumprimento contratual imputável exclusivamente à construtora e, de
outro, que a correção monetária visa apenas a recompor o valor da moeda,
a solução que melhor reequilibra a relação contratual nos casos em que,
ausente má-fé da construtora, há atraso na entrega da obra, é a
substituição, como indexador do saldo devedor, do Índice Nacional de Custo
de Construção (INCC, que afere os custos dos insumos empregados em
construções habitacionais, sendo certo que sua variação em geral supera a
variação do custo de vida médio da população) pelo Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, indexador oficial calculado pelo IBGE e
que reflete a variação do custo de vida de famílias com renda mensal entre
01 e 40 salários mínimos), salvo se o INCC for menor. Essa substituição se
dará com o transcurso da data limite estipulada no contrato para a entrega
da obra, incluindo-se eventual prazo de tolerância previsto no instrumento.
7. Recurso especial provido.” (REsp 1454139 / RJ; Ministra NANCY
ANDRIGHI; julgado em 03/06/2014, grifei)

Ademais, a devolução dos valores pagos está condicionada à


rescisão contratual, o que não foi requerido pela autora, ora apelante, e a
atualização monetária é devida em todo o período (inclusive no de atraso da
entrega da obra), justamente por ser apenas uma forma de preservação do valor da
moeda, sem representação de ganho para qualquer das partes, estando correta a
sentença ao substituir o índice ajustado no contrato para cumprir tal finalidade.

Do exposto, voto pelo conhecimento e desprovimento do Recurso


de Apelação 01, interposto pela parte autora.
RECURSO DE APELAÇÃO 02 – PARTE RÉ

O recurso é tempestivo e preenche os demais requisitos de


admissibilidade, razão pela qual deve ser conhecido.

1 - Da comissão de corretagem

Nos termos da tese adotada pelo STJ para fins de aplicação do


efeito repetitivo no RESP 1.599.511/SP, é válido o contrato que transfere ao
comprador a responsabilidade pelo pagamento da comissão de corretagem, desde
que haja prévia informação deste ônus ao consumidor:

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR.


INCORPORAÇÃO IMOBILIÁRIA. VENDA DE UNIDADES AUTÔNOMAS EM
ESTANDE DE VENDAS. CORRETAGEM. CLÁUSULA DE TRANSFERÊNCIA DA
OBRIGAÇÃO AO CONSUMIDOR. VALIDADE. PREÇO TOTAL. DEVER DE
INFORMAÇÃO. SERVIÇO DE ASSESSORIA TÉCNICO-IMOBILIÁRIA (SATI).
ABUSIVIDADE DA COBRANÇA.

I - TESE PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015:

1.1. Validade da cláusula contratual que transfere ao


promitente-comprador a obrigação de pagar a comissão de corretagem nos
contratos de promessa de compra e venda de unidade autônoma em
regime de incorporação imobiliária, desde que previamente informado o
preço total da aquisição da unidade autônoma, com o destaque do valor da
comissão de corretagem.

1.2. Abusividade da cobrança pelo promitente-vendedor do serviço de


assessoria técnico-imobiliária (SATI), ou atividade congênere, vinculado à
celebração de promessa de compra e venda de imóvel.” (REsp 1599511 /
SP; Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, julgado em 24/08/2016)

Extrai-se do julgado que a validade da cobrança da comissão de


corretagem depende de sua prévia informação, o que, todavia, não se observa no
presente caso, eis que ausente cláusula no contrato de mov. 1.3/1.10 acerca de sua
cobrança.
Desta forma, ausente a previsão contratual, escorreita a sentença
ao reconhecer a sua ilegalidade.

2 – Do termo final da mora

Sustenta o apelante que, uma vez que o habite-se foi expedido em


31/03/2014, este deve ser considerado o termo final da mora e não a entrega das
chaves.

Sem razão.

E isso porque, extrai-se dos documentos juntados aos autos pela


parte autora, em especial os inúmeros e-mails e o recibo de entrega das chaves,
que o imóvel foi entregue somente em 01/11/2014, ainda que o habite-se tenha
sido expedido em data anterior.

Dessa forma, levando-se em consideração que o consumidor não


tem o imóvel a sua disposição com o fornecimento do habite-se, deve ser
considerado como termo final da mora a data da entrega do imóvel.

3 – Da Aplicação de Multa Compensatória e Moratória

Em suas razões recursais, alega a ré/apelante que inexistem


motivos para que sejam aplicadas as multas compensatória e moratória.

Sem razão.

Isso porque, é patente o desequilíbrio de prestações entre as


partes.
Enquanto uma das partes se submete a uma multa equivalente a
2% (dois por cento) do valor dos imóveis em caso de inadimplemento, a outra
permaneceria incólume no caso de impossibilidade de cumprimento das obrigações.
Evidente que a desproporção entre as contraprestações deste “pacto secundário e
acessório em que se estipula pena ou multa para a parte que se subtrair ao
cumprimento da obrigação” não pode ser tutelada pelo Direito (MONTEIRO,
Washington de Barros. Curso de Direito Civil, Vol. 4, 31ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 390).

O rebalanceamento de contraprestações manifestamente


desproporcionais mostra-se, inclusive, como consectário lógico da boa-fé contratual,
que estabelece como dever lateral de conduta a busca constante de uma relação
jurídica equânime. Inclusive, a questão em apreço atualmente já está pacificada, e
inclusive com orientação fixada pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme a tese
apresentada para fins repetitivos noREsp 1.614.721/DF:

"Tema 971: No contrato de adesão firmado entre o comprador e a


construtora/incorporadora, havendo previsão de cláusula penal apenas para
o inadimplemento do adquirente, deverá ela ser considerada para a fixação
da indenização pelo inadimplemento do vendedor. As obrigações
heterogêneas (obrigações de fazer e de dar) serão convertidas em dinheiro,
por arbitramento judicial."

Portanto, tendo incorrido a empresa apelante em inadimplemento


das suas obrigações, deve ser ela condenada ao pagamento da multa
compensatória de 2% sobre o valor pago pela parte compradora.

Ademais, entendo que deve ser aplicado a multa moratória,


conforme disposta na sentença, haja vista o atraso na entrega do imóvel, não
havendo que se falar em redução do percentual em face da previsão contratual, eis
que comprovada a inadimplência da recorrente, decorrida da conduta negligente, a
qual tinha como obrigação primar pelo cumprimento do contrato, nos moldes
entabulados entre as partes, deve esta ser penalizada, de maneira a reequilibrar a
relação jurídica, sendo cabível, portanto, a aplicação de multa moratória de 0,5% ao
mês até a efetiva entrega do imóvel.

Portanto, mantenho a sentença neste ponto.


4 – Dos Lucros Cessantes (Aluguéis)

Requer o apelante a exclusão da sua condenação ao pagamento


de aluguéis ou, sucessivamente, caso ainda se entenda pela obrigação de
pagamentos de lucros cessantes, o percentual de aluguel justo deve ser fixado em
0,5% (zero vírgula cinco por cento) sobre o valor do contrato e, não o de 0,7%,
conforme determina a sentença.

Com razão.

E isso porque, conforme o informativo 540 do STJ, para o caso de


inadimplemento é possível a compensação da cláusula penal moratória com perdas
e danos, não sendo cabível, contudo, a cumulação das perdas e danos (aluguéis)
com a cláusula penal compensatória. Veja-se:

DIREITO CIVIL. PENA CONVENCIONAL E INDENIZAÇÃO POR PERDAS E


DANOS. Não se pode cumular multa compensatória prevista em cláusula
penal com indenização por perdas e danos decorrentes do inadimplemento
da obrigação. Enquanto a cláusula penal moratória manifesta com mais
evidência a característica de reforço do vínculo obrigacional, a cláusula
penal compensatória prevê indenização que serve não apenas como
punição pelo inadimplemento, mas também como prefixação de perdas e
danos. A finalidade da cláusula penal compensatória é recompor a parte
pelos prejuízos que eventualmente decorram do inadimplemento total ou
parcial da obrigação. Tanto assim que, eventualmente, sua execução
poderá até mesmo substituir a execução do próprio contrato. Não é
possível, pois, cumular cláusula penal compensatória com perdas e danos
decorrentes de inadimplemento contratual. Com efeito, se as próprias
partes já acordaram previamente o valor que entendem suficiente para
recompor os prejuízos experimentados em caso de inadimplemento, não se
pode admitir que, além desse valor, ainda seja acrescido outro, com
fundamento na mesma justificativa - a recomposição de prejuízos. Ademais,
nessas situações sobressaem direitos e interesses eminentemente
disponíveis, de modo a não ter cabimento, em princípio, a majoração
oblíqua da indenização prefixada pela condenação cumulativa em perdas e
danos. REsp 1.335.617-SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 27/3/2014.
Conclui-se, portanto, pela possibilidade da condenação da
apelante ao pagamento de multa compensatória de 2% (dois por cento), cumulada
com a moratória de 0,5% (meio por cento) ao mês (ou fração, calculados dia a dia),
conforme previsto pela cláusula 7.4.2 (mov. 1.7), não sendo cabível a cobrança de
alugueis arbitrados em favor da parte autora.

5 – Do Índice de Correção Monetária

A sentença recorrida alterou o índice de correção monetária a


partir de 30/10/2013, data em que a apelante incorreu em mora, a fim de que o
saldo remanescente passasse a ser corrigido pelo INPC.

Sustenta o apelante que não há qualquer abusividade na adoção


do INCC como índice de atualização monetária, já que, além de não vedado em lei,
reflete a variação dos preços dos insumos e materiais aplicados na construção civil.

Sem razão.

E isso porque, a atualização monetária é apenas uma forma de


preservação do valor da moeda, sem representação de ganho para qualquer das
partes e o índice ajustado no contrato para cumprir tal finalidade (INCC) possui
percentuais superiores a outros índices, não sendo plausível que a empresa ré
tenha, mesmo com seu atraso, algum ganho com a aplicação de índice mais
favorável a ela.

Por tais razões, o índice de correção monetária deve ser


substituído em virtude do reconhecido atraso da construtora na entrega da obra.

É o entendimento do Egrégio Superior Tribunal de Justiça:

“20. Estabelecida a necessidade de restabelecimento da correção do saldo


devedor, cumpre apreciar a alegação trazida em sede de contrarrazões ao
recurso especial, de que a aplicação do Índice Nacional de Custo de
Construção – INCC “deixa de ser legítima a partir do momento em que a
construtora atrasa a entrega do empreedimento sem qualquer justificativa
plausível” (fl. 335, e-STJ).

21. O INCC é um dos 03 componentes do Índice Geral de Preços – IGP-M,


com um peso de 10%. Os outros são o Índice de Preços ao Consumidor – IPC
(com peso de 30%) o Índice de Preços no Atacado – IPA (com peso de 60%).
É elaborado pela Fundação Getúlio Vargas e afere, mês a mês, os custos
dos insumos empregados em construções habitacionais, sendo certo que
sua variação em geral supera a variação do custo de vida médio da
população.

22. Diante disso, consoante já decidiu o STJ, “não se aplica o INCC como
índice de correção após à entrega da obra” (AgRg no REsp 579.160/DF, 4ª
Turma, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe de 25.10.2012. No mesmo
sentido: AgRg no Ag 1.349.113/PE, 3ª Turma, Rel. Min. Massami Uyeda, DJe
de 19.08.2011).

23. Seguindo nessa mesma linha de raciocínio e considerando que o


mutuário não pode ser prejudicado por descumprimento contratual
imputável exclusivamente à construtora, afigura-se igualmente inaplicável o
INCC para correção do saldo devedor após o transcurso da data limite para
entrega da obra.

24. Por outro lado, partindo da premissa fixada adrede – de que a correção
monetária visa apenas a recompor o valor da moeda – também não se
mostra razoável deixar o saldo devedor sem nenhuma correção, salvo nas
hipóteses em que o mencionado atraso derivar de comprovada má-fé da
construtora.” (RESP 1454139)

Portanto, não merece reforma a sentença neste ponto.

6 – Dos Danos Morais

Pugna o apelante pela exclusão da sua condenação ao pagamento


de danos morais ou, sucessivamente, pela minoração do quantum arbitrado.

Como já delineado, a pretensão do autor/apelado de indenização


por danos morais tem como causa de pedir justamente o atraso da entrega do
imóvel pela construtora apelante.
Para o caso, não entendo ser caso de condenação ao pagamento
de indenização por danos morais.

É que o aborrecimento decorrente do atraso na entrega da obra


não pode ser elevado ao patamar de dano moral, pois este presume o sentimento
de dor e sofrimento profundos e não meramente uma insatisfação cotidiana.
Ademais, o dano moral precisa ser comprovado e não simplesmente alegado.

Sobre o assunto:

“RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 535 DO CÓDIGO DE PROCESSO


CIVIL. INOCORRÊNCIA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. COMPRA DE VEÍCULO 'ZERO'
DEFEITUOSO. DANOS MORAIS. INEXISTÊNCIA. MERO DISSABOR.

(...)

II. Os danos morais surgem em decorrência de uma conduta ilícita ou


injusta, que venha a causar forte sentimento negativo em qualquer pessoa
de senso comum, como vexame, constrangimento, humilhação, dor. Isso,
entretanto, não se vislumbra no caso dos autos, uma vez que os
aborrecimentos ficaram limitados à indignação da pessoa, sem qualquer
repercussão no mundo exterior. Recurso especial parcialmente provido" (STJ
- REsp 628854 / ES, rel. Ministro Castro Filho, 3ª Turma, j. 03/05/2007, DJ
18/06/2007).

“CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO


C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ATRASO NA ENTREGA DE IMÓVEL.
ABORRECIMENTO E DISSADOR. EXAME DAS PREMISSAS FÁTICAS DO
ACÓRDÃO RECORRIDO. ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA DO STJ. NÃO
INCIDÊNCIA.

1. O simples descumprimento contratual, por si, não é capaz de gerar danos


morais, sendo necessária a existência de uma consequência fática capaz de
acarretar dor e sofrimento indenizável pela sua gravidade. 2. A Corte local,
para reformar a sentença e julgar procedente o pedido de indenização por
danos morais, concluiu que o atraso na entrega do imóvel, de
aproximadamente 9 (nove) meses, por si, frustrou a expectativa do casal de
ter um lar, causando, consequentemente, transtornos por não ter domicílio
próprio. Com efeito, o Tribunal de origem apenas superestimou o
desconforto, o aborrecimento e a frustração da autora, sem apontar,
concretamente, situação excepcional específica, desvinculada dos normais
aborrecimentos do contratante que não recebe o imóvel no prazo contratual
. (...).” (AgRg no REsp 1408540/MA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, DJe
19/02/15).

A mesma linha de entendimento vem sendo seguida neste


Tribunal de Justiça, consoante precedentes destacados abaixo:

“AÇÃO REVISIONAL C/C INDENIZAÇÃO. ATRASO NA ENTREGA DE OBRA.


COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA QUE PREVÊ UMA DATA ESTIMATIVA DE
ENTREGA, MAS DISPÕE QUE PREVALECERÁ, PARA TAL FIM, O PRAZO DE 24
MESES APÓS A ASSINATURA DO FINANCIAMENTO. ESTIPULAÇÃO LÍCITA.
REDAÇÃO CLARA. CLÁUSULA QUE PREVÊ CARÊNCIA DE 180 DIAS. AUSÊNCIA
DE ILEGALIDADE. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL QUE, POR SI SÓ, NÃO
CONFIGURA DANO MORAL. MERO TRANSTORNO NÃO INDENIZÁVEL.
SENTENÇA MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. APELO
DESPROVIDO.” (TJPR – Apelação Cível n° 1.330.540-5 - 18ª CC. – Relator:
Des. Vitor Roberto Silva – Julg. em 19/08/2015)

“PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. APELAÇÕES CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.


RECURSO DA AUTORA (1). ATRASO NA ENTREGA DA OBRA.
INADIMPLEMENTO CONTRATUAL CONFIGURADO. (...). DANO MORAL NÃO
CONFIGURADO. DISSABOR NÃO INDENIZÁVEL. AMBOS OS RECURSOS
PARCIALMENTE PROVIDOS.” (AC 1258176-1, 12ª C.Cível, Rel. Des. Mário
Helton Jorge, e-DJ 09/02/15)

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E LUCROS


CESSANTES. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL NA PLANTA. (...).
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. NÃO CABIMENTO. MERO DISSABOR
CONTRATUAL. EXCLUSÃO DA CONDENAÇÃO. REDISTRIBUIÇÃO DAS VERBAS
DE SUCUMBÊNCIA. RECURSO PARCIALMENTE CONHECIDO E PARCIALMENTE
PROVIDO. Não é qualquer abalo que tem o condão de gerar o direito a
indenização ao dano moral, mas sim somente aquele que provoque um
desconforto considerável, além do aborrecimento médio normal, o que não
restou configurado.” (AC 1241819-0, 6ª C.Cível, Rel. Des. Prestes Mattar,
e-DJ 18/12/14)

No caso, a parte autora alegou genericamente na inicial que


sofreu abalo moral, deixando de descrever pormenorizadamente as razões pelas
quais entende que o desconforto sofrido transcende a esfera do mero dissabor.
Assim, inexistindo alegação e comprovação de que a conduta da
parte requerida ré gerou abalo psicológico além do aceitável, não há que se falar
em indenização por danos morais.

Do exposto, voto no sentido de conhecer e dar parcial provimento


ao Recurso de Apelação 02 interposto pela parte requerida para o fim de afastar sua
condenação ao pagamento de lucros cessantes (aluguel) e indenização por danos
morais.

Conclusão

Ex positis, voto no sentido de:

a) conhecer e negar provimento ao Recurso de Apelação 01


interposto pela parte autora;

b) conhecer e dar parcial provimento ao Recurso de Apelação 02


interposto pela parte requerida, para o fim afastar sua condenação ao pagamento
de lucros cessantes (aluguel) e indenização por danos morais.

Após a análise dos presentes recursos e levando-se em


consideração a sucumbência recíproca das partes, cabível a redistribuição do ônus
da sucumbência, para que cada parte arque com 50% das custas, despesas
processuais e honorários advocatícios de sucumbência, nos termos do artigo 86 do
Código de Processo Civil.

III - DECISÃO:

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 18ª Câmara


Cível do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar
CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E PROVIDO EM PARTE o recurso de PDG LN 31
INCORPORACAO E EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA, por unanimidade de
votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de
EVANDRO CESAR DA ROCHA.
O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargadora Denise
Kruger Pereira, com voto, e dele participaram Desembargador Marcelo Gobbo Dalla
Dea (relator) e Juiz Subst. 2ºgrau Carlos Henrique Licheski Klein.

Curitiba, 15 de maio de 2020.

Des. MARCELO GOBBO DALLA DEA

Relator

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