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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS

SERVIÇO SOCIAL

FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA

Nathália Gomes de Jesus Martins

Servidão Moderna e História das Coisas – Questões

1. Você admite um grau relativamente elevado de servidão em você mesmo?


Sim, pois sou bastante influenciada pelo sistema do qual pertenço. Dessa
forma, o incentivo capitalista ao consumismo exaltado constantemente me
aguarda em inúmeros momentos, sob a desculpa de “eu mereço”,
habitualmente caio em tentação. Não posso me culpar totalmente, visto que
todos os meios de comunicação, já contaminados pela acumulação de
capital, incitam à compra frenética por simples status quo, uma vez que não
mais importa o valor de uso de uma mercadoria, e sim sua marca e seu
preço.

2. Politicamente, o que há de se fazer com a figura real de 1 bilhão e 300


milhões de existentes que estão abaixo da condição de servil ou numa
servilidade imediatamente destrutora?
É necessário que se erradique a raiz do problema, visto que políticas públicas
são apenas um método de tratar as sequelas da questão social, e não sua
razão causal em si. Na conjuntura sistêmica atual, essas políticas minimizam
a pauperização, mas não resolvem sua origem e, portanto, servem de
mecanismo para a manutenção do capital e consequentemente da
exploração e condição de servil. Desse modo, é primordial a busca pela
justiça social, através da ruptura com o sistema que se apropria dos meios de
produção que deveriam ser da classe que verdadeiramente produz riqueza: a
classe trabalhadora. Somente assim, mediante o poder popular, o Estado
será capaz de zelar pelos direitos inalienáveis de seu povo de forma eficiente.
3. Em que esferas da vida concreta a servidão é “exemplar” e contundente?
Com relação ao trabalho, a servidão é bastante exemplar considerando as
particularidades sistêmicas para a manutenção da hegemonia. Dessa
maneira, as pessoas vendem sua força de trabalho, por consequência do não
acesso às propriedades privadas dos meios de produção, por um salário
inferior ao custo de vida ideal para manter os direitos básicos de
sobrevivência, tendo sua mais-valia expropriada e sendo culpabilizados por
sua própria miséria através do mito da meritocracia. Ademais, a classe
trabalhadora abraça o proposital discurso dominante e constantemente se
envolvem em conflito entre si, visto que dessa forma se esquecem da razão
sistemática de seus problemas. Assim, passam a vida desempenhando
atividades exaustivas para proveito de outros.

4. O que a desvinculação com a “terra” tem a ver com a generalização da


servidão?
Com a tomada forçada dos meios de produção, ou seja, a terra, para torná-la
propriedade privada de apenas uma minúscula porcentagem da população
que detém o capital, ocorre a limitação de direitos dos trabalhadores, que
ficam à mercê dos mais ricos e são obrigados a vender a única coisa que
possuem, a sua força de trabalho. Dessa forma, se generaliza a servidão, a
partir do cerceamento da liberdade de verdadeira escolha dos trabalhadores,
visto que são “livres” mas não têm mais condição de usufruir da sua
liberdade, e do emparelhamento do Estado, que legitima a dominação e
garante a hegemonia da classe dominante.

5. Qual o lugar real da “seta dourada” em sua via e qual a sua contribuição
pessoal para que ela aumente?
A “seta dourada” é referente ao consumismo exacerbado da atual sociedade,
que trás vigor ao sistema produtivo que tanto almeja lucro. Sendo assim, o
que mantém a “seta dourada” e sua devida direção é a influência midiática,
visto que ela estimula constantemente o consumo, levando em conta que,
sem o frequente e planejado bombardeamento de propagandas não seria
possível a manutenção do consumo frenético e da ideia de compra sem
consciência.
6. Ao viver em comum e se conduzir diante dos outros(uma esfera da política),
qual a “educação” que você “passa” para os outros, sobretudo para quem é
“mais novo”?
Nas circunstâncias atuais o que mais busco incentivar é a consciência de
classe, pois a vejo com base para se entender na cena política. Em um país
elitizado, onde se confundem as definições de classes e o modo de se definir
de uma classe se embaralha através da mídia e das redes sociais,
particularmente acho imprescindível saber reconhecer a qual classe se é
pertencente, pois também define sua luta e a razão dos seus problemas e
contradições. Aos “mais novos”, encorajo a leitura acadêmica política, para o
conhecimento das contestações da sociedade, e visando a inserção na
militância por justiça social e seguridade.

7. Se sua maneira de se conduzir, escolher, decidir, sentir, desejar e fazer


(política pessoal com os outros) fosse universalizada, a “situação humana” no
planeta seria pior ou melhor?(no outro extremo, se você fosse o “presidente
do planeta”).
Creio que melhor, dado que particularmente sou a favor de decisões
compartilhadas em coletivo, para bem-estar comum. O meu “mandato” seria
focado no despertar da justiça social, com justa distribuição de renda e
visando romper com as causas sistemáticas da exploração dos
trabalhadores, erradicando as propriedades privadas dos meios de produção
e concedendo poder ao povo, que é quem deve governar sobre ele mesmo -
e não somente 1% da população sobre o restante.

8. Politicamente, antropologicamente e eticamente, qual a diferença essencial


entre “habitar numa jaula” e “morar num lar”?
Morar numa jaula é não usufruir de sua verdadeira liberdade, visto que é
explorado e condicionado a viver em situação de miséria para apenas servir
aos que moram em lares. Ser morador de uma jaula inclui estar à mercê da
alienação constante, servir de massa de manobra para a classe dominante e
perpetuar o discurso deles,,muitas vezes até incentivando ações que vão tirar
seus próprios direitos, pois está constantemente afundado em ideologia.
Enquanto isso, os moradores dos lares perpetuam sua condição através da
exploração do trabalho alheio, apenas visando a acumulação da riqueza que
não produzem.

9. Dado que ele existe mundialmente e é um problema geral, portanto,


“problema político”, o que é “lixo”?
Atualmente, o discurso dominante influi que o problema ambiental é de
responsabilidade individual, como se fechar a torneira ao escovar os dentes
fosse capaz de salvar o mundo da crise climática, enquanto apenas a
agropecuária é responsável por gastar 70% de toda água destinada a seres
humanos, sem mencionar outras empresas industriais. Os mesmos
capitalistas que são os maiores poluidores do meio ambiente, hoje se
apresentam como salvação, criando foguetes e culpando a própria população
pelas consequências das suas responsabilidades ambientais. O “lixo” é
resultado de um sistema que só visa a acumulação, produzindo de forma
excessiva e imprudente, incentivando o consumo frenético apenas em função
do lucro pessoal.

10. Politicamente, o que são “doenças de civilização”?


Em uma sociedade cada vez mais competitiva e individualizada, tornam-se
cada vez mais comuns as doenças consequentes do sistema atual. Existem
doenças literais, como a síndrome de burnout, que acarreta dificuldades para
a saúde do indivíduo, e que só é ocasionada em razão do modo de produção
existente. Mas também existem doenças que são sintomas sistêmicos, como
o desemprego, a induzida, a exploração imperialista, a pauperização, dentre
outras. São epidemias do sistema, podendo ser emocionais ou sociais, mas
que de fato afetam bilhões de pessoas, enquanto 1% da população usufrui e
lucra em cima desse sofrimento.

11. Concretamente, o que a política real tem a ver com a felicidade/infelicidade


real?
A política real estimula o consumismo e incentiva a circulação constante de
capital, apenas em função econômica e como método de perpetuação do
atual sistema. Consequentemente, a pauperização, o exército industrial de
reserva, o desmonte educacional e da saúde, a elitização do direito à
moradia e à segurança tornam-se alvo para manter a sustentação da classe
dominante. Assim, a felicidade e infelicidade real estão diretamente
relacionadas ao discurso burguês que afeta diretamente a vida da classe
trabalhadora.

12. A partir de onde distinguir os níveis da experienciação da realização humana:


prazer, alegria, felicidade, contentamento e auto-realização?
Na realidade capitalista, somos ensinados, por meio da alienação, a
depender do consumo sob a visão de alcançar o contentamento e a
auto-realização. Como se os objetos, criados através da exploração da
mais-valia de um trabalhador comum para enriquecer uma única pessoa ou
instituição, fosse capaz de garantir a verdadeira felicidade a quem o compra.
O que é felicidade torna-se tão deturpado sob os olhos do capital que, muitas
vezes, direitos básicos tornam-se privilégios e são vistos como meta de
contentamento para grande parte da população, como a moradia por
exemplo. Dessa forma, . O "ter" na servidão moderna possui mais valor do
que o "ser".

13. Proceda a uma avaliação crítica(fundamentada) das “saídas” apontadas nos


dois documentários.
No documentário de Jean-François Brient, Da Servidão Moderna, é enfatizado
que a consciência da profundidade do processo de alienação e das
consequências sistêmicas é fundamental para entender a sociedade atual, e
possivelmente gerar uma revolta contra o sistema causador dos males. Ele
também alerta que tais sequelas não afetam apenas a espécie humana, mas
também todo o planeta, sendo questão de sobrevivência mundial interromper
esses impactos e agir de forma responsável com o coletivo e sobre a questão
climática e ambiental.
Já no documentário “ A história das coisas”, de Annie Leonard, há uma crítica ao
consumismo exacerbado e a produção generalizada de lixo, além da exploração
inapropriada do meio ambiente para gerar matéria-prima, alertando para a
urgência da situação. Ele também complementa sobre como a mídia, usada
como instrumento ideológico, incentiva constantemente o consumo frenético e,
de certa forma, é responsável pela exploração ambiental e na produção de lixo.
Dessa forma, a apresentadora cita a ecologia industrial como nova abordagem
para relação industrial com o meio ambiente, destacando a importância da
adoção de políticas sociais de controle ao consumismo e à exploração
ambiental.

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