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2. A assimilação deste facto pela população torna-se cada vez maior. Agora o
trabalhador perde a sua autonomia profissional que o tornava membro de uma
classe contra o sistema. A produtividade passa a ser determinada pelas máquinas
e não pelo desempenho pessoal (automação). Há quem relacione este facto com
o próprio conceito de industrialização, que se baseia na medição possível do
trabalho.
Prospects of Containment
Há alguma probabilidade de quebrar este ciclo?
Assumindo que não há nenhuma guerra nuclear vindoura, o comunismo e o capitalismo
continuam a coexistir. O capitalismo continuaria a conseguir manter o nível de vida
elevado, assim como intensificaria a produção elevada dos meios de destruição e gasto
metódico dos recursos. Isto já foi comprovado nas 2 guerras mundiais que aconteceram
por causa de regimes fascistas.
Isto seria possível graças ao crescente progresso técnico, ao aumento da natalidade na
população desfavorecida, na permanente economia defensiva e na integração político-
económica dos países capitalistas entre si e com as áreas subdesenvolvidas.
Relembrando que a crescente automação é não só prova do crescimento quantitativo da
mecanização, mas também uma alteração no comportamento das forças produtivas,
Marx sugere que a automação levada ao extremo é incompatível com a sociedade
baseada na exploração privada do trabalho humano.
À medida que as indústrias avançam, a criação de capital passa a depender mais
do poder dos instrumentos e da sua eficácia. O homem deixa de ser o agente
principal do processo produtivo. Utiliza mais o seu conhecimento e desenvolve a
sua existência societal, diminuindo o tempo de trabalho necessário.
Assim que isso acontecer, a apropriação dos lucros do trabalho em massa deixa
de ser a principal fonte de riqueza, findando também o modo de produção
correspondente.
A automação total abriria a dimensão do tempo livre, originando uma transcendência
histórica em direção a uma nova civilização.
No estado capitalista em que se escrevia, insistia-se no trabalho humano, opondo-se ao
progresso técnico, ou seja, à utilização eficaz do capital. Assim, pode enfraquecer-se a
competitividade nacional e internacional da posição do capital.
Esta é uma hipótese cada vez mais provável se o conflito entre comunismo e
capitalismo deixar de ser militar e passar a ser socioeconómico. Automação seria mais
rápida na URSS, o que obrigaria o Ocidente a acelerar a racionalização do processo
produtivo.
O declínio da proporção de poder de trabalho humano corresponderia a um declínio do
poder político da oposição. A radicalização política precisaria de acontecer através de
uma nova consciência também nos grupos “white-collar” (suit-and-tie jobs), o que seria
bastante improvável na sociedade em que vivemos. Se fosse bem sucedido, a
radicalização política podia não resultar e surgir em vez disso uma consciência
sindicalista destes grupos.
Contudo, se isso acontecer, os interesses coletivos do trabalho seriam vistos mais como
na comunidade num todo, devido ao privilégio destes grupos no mundo laboral.
Assim, a projeção de contenção destas forças repressivas depende da capacidade dos
interesses se ajustarem aos requerimentos do Estado-Providência (gastos e obras
públicas, ajuda ao estrangeiro, segurança social e até eventualmente nacionalização
parcial).
Marcuse pensa que os poderes dominantes vão eventualmente ceder e adaptar-se a estes.
Quanto às projeções para o “containment of social change” na URSS, a discussão é
incomparável, visto que esta potência está num estado mais atrasado de industrialização
e as suas estruturas político-económicas são diferentes (nacionalização total e ditadura).
Será este atraso temporário, só até ser atingido um certo nível de desenvolvimento, ou
será que vai forçar o controlo de todos os recursos por um regime ditatorial?
Este argumento:
Está no seio do Marxismo Soviético e serve para reconhecer as condições
materiais e intelectuais que previnem a determinação individual;
Desmistifica a ideologia repressiva da liberdade (esta seria possível na pobreza).
No entanto, a sociedade tem primeiro de criar condições propícias a que os seus
membros consigam libertar-se. Tem de criar riqueza para a poder distribuir. Tem de
deixar os escravos ver e aprender para eles mesmo pensarem no que podem fazer para
alterar a sua condição.
Se estiverem alienados da sua condição, a sua liberdade deve ser forçada e incentivada,
mostrando-lhes o caminho certo.
Mas quem tem o poder de dizer o que é certo? Normalmente são representantes eleitos
sob o efeito da doutrinação, mas na verdade têm de ser os próprios subjugados a decidir
o que fazer para a sua libertação. A revolução socialista começa com uma consciência
coletiva que tem de estar intrínseca já nos que a tornam possível.
1º fase do socialismo:
Nova sociedade ainda tem marcas do capitalismo, mas a mudança qualitativa
começou quando o novo modo de produção se iniciou;
A transição de trabalho para necessidades seria conseguida através do controlo
do aparelho produtivo pelos produtores imediatos.
Contudo, nas atuais sociedade comunistas, esta mudança qualitativa é adiada
para a 2º fase do socialismo, fazendo que o homem continue a ser escravizado de
forma racionalizada e eficiente.
A industrialização estalinista terrorista perpetua o progresso técnico como uma forma de
dominação, mantendo o nível de vida. A nacionalização da economia explora também a
produtividade de trabalho e capital sem resistência estrutural.
Não há razões para assumir que estes dois fatores originam libertação automática. Pelo
contrário, a contradição entre as forças produtivas e a sua organização escravizadora só
pioram o cenário.
No entanto, para além de parecerem bastante parecidos, o socialismo tem uma diferença
significativa do capitalismo: no sistema soviético, os produtores imediatos são
separados do controlo sob os meios de produção, ou seja, são substituíveis sem ser
necessário explodir com as instituições básicas da sociedade.
A mudança quantitativa ainda teria de se tornar qualitativa, o que só poderia acontecer
através de uma revolução política.
As condições para a determinação individual seriam a distribuição das necessidades
vitais independentemente do trabalho, redução para o horário mínimo de trabalho,
educação universal. A criação destas condições pode ser ainda fruto da administração, a
sua imposição marcaria o fim da mesma.
A sociedade industrial livre e madura continuaria a depender da divisão do trabalho,
envolvendo desigualdade de funções, mas estas teriam em conta as diferenças físicas e
intelectuais dos indivíduos. As funções executivas e de supervisão já não teriam o poder
de mandar nos noutros com interesses particulares em mente. Seria um ato
revolucionário.
Podemos assumir que o sistema comunista ia desenvolver as condições para essa
transição? Muitos acreditam que não, pois ou a competição contra o capitalismo
ofereceria resistência ou os humanos quereriam sempre poder. A questão, no entanto,
não é se os burocratas comunistas abdicariam deste poder, mas se conseguiriam sequer
controlá-lo num ponto onde a dominação ainda é racional e lucrativa.
O ponto decisivo é a situação global de coexistência destes sistemas, que têm ambos de
manter o seu nível de vida para poderem competir.
Outra questão: diz-se que uma 3º força poderia emergir se os países subdesenvolvidos
adotassem outro tipo de sistema, mas não há evidência de que estes não vão seguir o
mesmo caminho que os mais avançados. Assim, a transformação destes países, de modo
a que não se tenha de explorar população e acelerar drasticamente a produção, seria
apostar na satisfação das necessidades básicas de vida sem a destruição de valores e
tradições desses países, ao ritmo adequado a cada um.
Teria de se passar por uma revolução agrária, revolução social e diminuição da
população em excesso para poder executar uma política planeada que respeitasse a
cultura de cada povo, eliminando as forças opressoras que os impediram de evoluir.
Originaria trabalho não por necessidade, mas por gratificação.
Contudo, a determinação individual nem sempre é uma ação espontânea. Teria de se
assistir a uma mudança nas duas grandes potências mundiais atuais para eliminar o
neocolonialismo em todas as suas formas.