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TEORIA DO INDIVÍDUO

Qual a maior autoridade que existe socialmente?


Presumo que a autoridade da massa, que se unifica em
uma grande consciência seja uma autoridade
formidável. A força dos números e da quantidade é
sempre autoritária e expansiva, até que chega o
momento em que a atividade social se torna
padronizada e uniforme. É assim que funciona a
sociedade, em qualquer país ou continente: a massa
decide a lei, o costume e a tradição, e ai de quem lhe
fizer oposição. O maior erro dos pensadores e eruditos
é isentar a massa de culpa, alegando que o caos social
é produto de uma força metafísica, que se encontra fora
dos limites de nossa imaginação. Mas a realidade dos
fatos nos mostra que a força metafísica é criada pelo
próprio anseio da massa na busca por verdades
absolutas e por dogmas arcaicos. É necessário ter isso
em mente para entender o funcionamento político e até
mesmo psicológico do mundo atual.

O que a massa cria? A massa cria um Estado, sólido e


impenetrável, a não ser pela razão do indivíduo
emancipado. Um Estado representa todos os problemas
de caráter social, porque é nele que o sistema toma
forma e se materializa. Ele nasce da atividade pouco
produtiva e intelectualmente nula da massa, levando em
sua própria estrutura genética a vontade e o desejo da
maioria. O resultado da atividade humana é o Estado,
portanto, não existe outro lugar para se observar o
fenômeno de Estado senão na estrutura do pensamento
humano. Mas uma análise puramente psicológica não é
suficiente para determinar o fenômeno do Estado,
porque ele assume proporções muito maiores e mais
complexas do que a psicologia pode abraçar. É
necessário entender que o Estado é uma criação social,
portanto, a melhor forma de estudar o seu
funcionamento e também de propor possíveis soluções
para o problema social é observando a sociedade, e
mais precisamente o pensamento a nível coletivo.

É a sociedade, ou melhor, os indivíduos que formam a


sociedade que criam o ambiente no qual as instituições
nascem e morrem... A instituição da escola, por
exemplo, é uma criação humana, e carrega em si as
características e anseios da sociedade que a elaborou e
construiu. Em qualquer sociedade, tanto a tradição
quanto a instituição se formam por uma atividade em
conjunto de indivíduos, independentemente da classe
ou grupo a qual pertençam. A sociedade é sempre
construção da maioria, não podendo ser creditada a
nenhum grupo minoritário específico.

Qualquer indivíduo um pouco mais atento que se vê


inserido em uma nação é capaz de ver o processo no
qual se forma a consciência e o costume nacionais.
Basta um rápido olhar sobre a mídia e as redes sociais
para que se perceba uma uniformidade de pensamento,
no qual a opinião e o gosto popular são sempre
reproduzidos fielmente em cada canto, sofrendo poucas
ou quase nenhuma alteração. Logo o indivíduo
descobre que o universo do qual faz parte e que
vivencia todos os dias quando sai à rua ou vai ao
trabalho é produto exclusivo da atividade coletiva. É a
maioria, e mais precisamente a massa, quem cria o
ambiente no qual a nação cresce e prospera, seja
positivamente ou negativamente... Afinal, nem todo
crescimento significa um crescimento positivo, e nem
toda prosperidade é a prosperidade da razão.

O indivíduo observa que a atividade coletiva resulta em


um padrão comportamental, que levado à esfera
política, representa a lei e a cidadania. O que se
conhece por valores e virtudes não passa de uma
criação do coletivo, e nem sempre representam valores
e virtudes realmente nascidos da razão e da
observação. O padrão comportamental é até certo
ponto arbitrário, porque dita as normas de convivência e
a tendência social a fazer o bem, que na realidade
representa o bem na ótica coletiva, não na ótica
individual. Portanto, além de criar o padrão, a sociedade
acaba exigindo que os seus membros cumpram o
padrão e contribuam enquanto cidadãos para a causa
social, e é a isto o que comumente se chama de
cidadania.​ Mas o indivíduo tem o direito de concordar
ou discordar do padrão, certo? Então, porque ele é
levado a concordar quase sempre e ainda obrigado a se
adaptar ao costume social para que possa sobreviver e
levar uma vida relativamente digna? A força que o
condiciona é a força de ​inclusão social,​ que pode ser
totalitária e absoluta dependendo da política adotada
pela nação.

Será que não houve uma inversão de valores? Não é o


indivíduo quem deveria escolher qual rumo seguir, ao
invés de curvar-se perante a grandeza social? Qual o
direito da maioria em impor o seu regime ao indivíduo?
Vamos supor que o intelecto da massa seja comparado
ao intelecto de um único erudito. Ainda que a massa
tenha o maior número de cabeças e uma vantagem
absoluta na questão numérica, é bem provável que o
seu intelecto se reduza a um denominador comum,
porque o pensamento massificado acaba resultando em
uma única opinião universal e aceita por todos. Ainda
que a massa tenha o maior número de cabeças, nada
garante que as cabeças são beneficiadas por um
cérebro... Mil cabeças podem ser mil cabeças vazias,
onde o cérebro deu lugar ao vazio. O erudito, por sua
vez, apresenta um leque de opções e de opiniões
diversificadas, resultado de anos de estudo e de
aprimoramento intelectual. Qual dos dois partidos devo
tomar? O partido da massa acéfala ou o partido do
erudito? As mil cabeças vazias podem ditar o rumo
social, ou será que um pensamento mais qualificado,
representado no erudito, não é mais desejável na
tomada de decisões?

É aí que mora o problema social. É sempre a massa


alienada e desqualificada que decide pelo indivíduo,
enquanto que ele é obrigado a abandonar o seu desejo
natural para que possa sobreviver socialmente.

Libertadores de Mentes, 25/06/2020

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