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TEORIA DA COMUNICAÇÃO
E COMUNICAÇÃO
NÃO VIOLENTA
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TEMA 1 – EXPRESSO, LOGO EXISTO
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recebidas ou procurando manipular eleitores. Fica, de qualquer forma, evidente
que a internet abriu um novo mundo de possibilidades.
Se analisarmos inúmeros exemplos na história veremos que o “pensar”
sempre incomodou aqueles que pretendem manter a hegemonia e o poder.
Grandes pensadores sempre foram ameaças, pois possuem capacidade de
questionar estruturas e propor novos modelos.
Sempre que um regime totalitário se instala em um governo as primeiras
providências estão justamente voltadas para acabar com as possibilidades de que
pensadores se manifestem e novos pensadores possam surgir. Assim, se cortam
investimentos em pesquisa e educação e se criam aparatos para a perseguição
dos focos de pensamento já instalados.
Para Manuel Castells (2015), em uma sociedade em rede como a nossa, a
política é a própria política da mídia: as organizações e lideranças que não têm
presença na mídia simplesmente não existem no imaginário popular. Por isso,
aqueles que logram burlar os meios de comunicação tradicionais e, por meio das
tecnologias disponíveis criam canais, passem a ter oportunidade de influência. O
autor afirma que os movimentos sociais e outros agentes de transformação social
estão atuando em nossa sociedade utilizando a reprogramação das redes de
comunicação, transmitindo mensagens que introduzem novos valores no
imaginário popular e criando uma esperança de mudança.
O processo acontece hoje na relação construída entre uma pessoa que,
conectada em comunidade, busca por outras com pensamentos e ideais
semelhantes aos seus; fazendo com que a internet seja uma ferramenta tão
fundamental no cenário político, social e de construção do pensamento quanto a
própria televisão.
A comunicação em rede aumenta as possibilidades de mudança social,
mas isso dependerá, obviamente, da cultura, da organização e do conhecimento
de cada pessoa. Para os que desenvolveram um senso crítico e capacidade de
análise, a comunicação na web pode ser o fator chave para o empoderamento de
grupos até então considerados minoritários.
Segundo Castells (2015), um dos gatilhos para a mobilização social é a
raiva, aumentada pela percepção de injustiça. Justamente por meio da ação de
compartilhar a indignação com outras pessoas e descobrir em algumas o mesmo
sentimento, então a ação comunicativa conduzirá a proposição de ações coletivas
no sentido de se sanar a questão que gera a raiva ou indignação.
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Qualquer sentimento legitimo expressado de alguma forma a outro ser
humano poderá gerar empatia. Isso porque todo pensamento faz com que
existamos diante do mundo que nos rodeia, visto que, se mais uma vez
recordarmos os axiomas da comunicação, ao se comunicar, o ser humano não
está apenas passando uma informação, mas expressando uma conduta.
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seja individual, seja coletiva. E, em assim sendo, elas expressarão também toda
contradição entre o discurso e a prática, entre o que se diz e o que é a realidade.
Quais são nossas contradições? Quais as contradições de nossa
sociedade brasileira? Qual discurso está mais próximo ou mais distante da
realidade e das questões práticas?
Se os meios de comunicação, como bem vimos até aqui, utilizam as
palavras e todas as formas de linguagem e comunicação para servir ao capital e
aos donos dos meios de produção, enganando e induzindo ao erro, então como
podemos nós utilizar o poder da palavra para propósitos mais dignos e humanos?
Os conflitos e os interesses das classes estão ocultos no poder simbólico
das palavras, nas lindas propagandas de carros e bebidas, na meritocracia que
os empobrecidos captam passivamente como algo aceitável e “normal”, assistindo
passivamente o aumento da concentração de renda nas mãos de alguns em
detrimento de tantos outros.
Inúmeras vezes somos levados pelo poder da palavra a acreditar em um
sistema de valores que em nada nos beneficia ou que nada agrega à vida de
milhões de pessoas. É o desenvolvimento do pensamento crítico que nos livra da
hipnose dos meios e nos liberta para o livre pensar e expressar.
Somente após o momento em que nos damos conta de que a neutralidade
é uma falácia é que percebemos o imenso poder de transformação que temos em
nossas mãos por meio da palavra, da construção da comunicação e de novos
meios que rompam com a hegemonia dos meios tradicionais.
A palavra faz sentido quando se torna realmente um dos componentes do
processo de humanização de cada um de nós. É mediante a linguagem que
construímos as pontes que nos ligam ao outro. Citando Bakhtin:
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No prefácio do livro Educação como prática da liberdade, de Paulo Freire
(1967), há um parágrafo escrito pelo educador Pierre Furter que fala a respeito do
poder da palavra. Diz ele:
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“Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de quatro à
sua procura”.
Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de mulher…
Se você for homem, colocou a vírgula depois de tem…
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semânticos (palavras mal interpretadas que dificultam a compreensão) e pessoais
(valores, nível de conhecimento de cada participante etc.).
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e podemos ensinar em nossos atos comunicativos. Estejamos atentos e sempre
em busca do saber.
Além do mais, o filosofo Confúcio já dizia que “o homem superior é afligido
pelas limitações de sua capacidade; ele não está angustiado pelo fato de que os
homens não reconhecem a capacidade que ele tem". Ou seja: nos preocupemos
menos com o que os outros pensam de nós e mais com aquilo que temos
consciência a respeito de nossas limitações, para que possamos estar sempre em
constante evolução. Nos inspiremos nos grandes pensadores ao longo da história!
É claro que quanto maior nosso conhecimento, maior nossa
responsabilidade diante da realidade que nos cerca e até maior nosso sofrimento
na caminhada, pois saímos da “ilha da fantasia” das falácias impostas pela
indústria cultural e pelos meios de comunicação oficiais e entramos no infinito
mundo do saber. É a vida fora da Matrix, como já vimos. E não é nada fácil perder
o senso de pertencimento quando a grande maioria pensa diferente de você, pois
estão massificados e dominados. Mas, como disse o filósofo Tucídides:
"Os mais corajosos são certamente aqueles que têm a visão mais clara do que
está diante deles, tanto a glória quanto o perigo, e, mesmo assim, vão ao seu
encontro".
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na relação. No entanto, se não trabalhados com a necessária habilidade, podem
gerar sentimentos de revolta, incompreensão e mágoas.
Os conflitos surgem nos diferentes tipos de conteúdo: por diferentes pontos
de vista a respeito de um mesmo tema; por diferentes métodos ou formas de agir
diante de uma mesma tarefa; por incompatibilidade de objetivos finais; por
possuírem valores e crenças absolutamente contrários; e até por sentimentos
distintos em relação a um mesmo ponto (mesmo porque os sentimentos são
oriundos do próprio conhecer).
Se não podemos evitar as situações de conflito, saibamos quando e em
que situação levar a cabo sua solução: nem sempre propor soluções quando o
problema ainda está muito recente e os ânimos muito acirrados é a melhor
escolha. Uma vez visualizado o momento oportuno, então devemos conduzir a
discussão de forma a dar voz e vez a cada um dos envolvidos. Aqui podemos
relembrar as propostas de Marshall Rosenberg na Comunicação não violenta
(2006):
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REFERÊNCIAS
CAMPANHA 100 anos da vírgula da ABI. Recanto das Letras. Disponível em:
<https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/2844000>. Acesso em: 18 set.
2019.
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