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AULA 6

TEORIA DA COMUNICAÇÃO
E COMUNICAÇÃO
NÃO VIOLENTA

Profª Valéria Navarro


CONVERSA INICIAL

Em seu livro O poder da comunicação, o sociólogo espanhol Manuel


Castells (2015), que estuda a atual sociedade em redes digitais de comunicação
e identidade, une os conceitos de comunicação e informação aos conceitos de
poder e política. Isso porque, para ele, o poder está fundamentado no próprio
controle da informação e da comunicação; seja no macro – Estado e mídia – seja
no micro – organizações e movimentos sociais. Para ele, as relações de poder
podem ser mudadas por atores que objetivam mudanças sociais por meio do
enfrentamento às instituições e normas.
Quando os atores sociais se dispõem ao enfrentamento, uma dinâmica de
contrapoder contra o poder estabelecido se impõe e é capaz de alavancar as
mudanças. Os desafiantes, que não estão vendo seus interesses representados
pelo Estado, sempre foram os motores propulsores das mudanças.
Quando Castells (2015) define a atual sociedade como uma “sociedade em
rede”, ele aponta essas redes como estruturas programadas justamente pelos
atores sociais. O autor diz que uma sociedade em rede é aquela cuja estrutura é
construída em torno de redes ativadas por tecnologias de comunicação e de
informação processadas digitalmente. Segundo ele, essa sociedade em rede se
torna global devido a sua capacidade de ultrapassar fronteiras geográficas e
institucionais, ainda que tenha sido construída por uma experiência humana local
e específica.
Para o jurista e economista alemão Max Weber o poder social consiste na
probabilidade que o ator social tenha de realizar sua própria vontade apesar da
resistência que a ela possa se impor. Baseado nessa premissa, poderíamos
acreditar que o poder não está em uma esfera ou instituição específica, mas em
todas as ações humanas, ainda que Weber complemente dizendo que há
expressões concentradas de poder em certas estruturas sociais, reforçando a
dominação de uma estrutura sobre outra, fazendo com que o poder seja relativo,
mas a dominação essencialmente institucional, na reunião de forças. Para
Castells (2015), o poder é o processo fundamental da sociedade, definida essa
que está justamente em torno de valores e instituições. Dessa forma, o poder atua
na mente humana utilizando a informação: as mensagens, codificadas ou não,
tem o poder de intervir na forma em que construímos a realidade que acreditamos
que vemos, em um incansável processo de manipulação.

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TEMA 1 – EXPRESSO, LOGO EXISTO

Como vimos nos Axiomas de Paul Watzlawick, todo e qualquer


comportamento é uma mensagem, mesmo a total inércia. O comportamento é a
própria unidade da comunicação, é ele que determinará a mensagem. O primeiro
dos cinco axiomas afirma que não é possível para o homem a não comunicação.
Se como disse Descartes: “penso, logo existo”, então, ao nos
comunicarmos de forma ativa ou passiva, passamos a existir para o outro também.
E vamos além: Weber conceituou “ação social” dizendo que essa ação só existe
quando estabelecemos canais de comunicação uns com os outros. Portanto, a
comunicação é simplesmente essencial para que se estabeleçam as relações
humanas e sociais, assim como as formas de poder e as lutas para as mudanças
almejadas por grupos e movimentos sociais.
Ao escrevermos uma mensagem estamos em plena ação social, pois
pretendemos que essa mensagem seja lida por alguém em específico ou por um
grupo de pessoas. E essa ação só terá de fato valor quando for lida por alguém,
pois só então gerará uma resposta.
Atualmente o ciberespaço é a instituição humana mais transversal criada.
Segundo o sociólogo e filósofo Pierre Lévy (2000), grande pesquisador dos efeitos
da internet na sociedade, o ciberespaço maximiza todas as possibilidades de
cooperação competitivas. Se, por um lado, a internet também está nas mãos de
grandes organizações, por outro, as redes sociais permanecem livres e com uma
autonomia importante aos usuários em relação aos donos e reguladores. Ou seja,
pessoas comuns e pequenas organizações ou movimentos podem gerar seus
próprios conteúdos e podem até romper as cadeias de controle comercial e do
Estado.
Agora vamos refletir: se a autoridade nos é imposta ao longo da história da
vida em sociedade moderna por meio do controle da informação e da
comunicação, como poderemos imaginar que os governos se sintam nesta nova
era diante de um novo mundo que se abre ao homem comum quando está diante
da tela de um computador? Como controlar as fontes? Como impedir o
conhecimento se o cidadão resolver pesquisá-lo? Como impedir que informações
alternativas se contraponham e questionem as versões oficiais?
Estamos sendo testemunhas de governos que vivem nas redes sociais
justificando ações de seus governos: ou no sentido de responder críticas

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recebidas ou procurando manipular eleitores. Fica, de qualquer forma, evidente
que a internet abriu um novo mundo de possibilidades.
Se analisarmos inúmeros exemplos na história veremos que o “pensar”
sempre incomodou aqueles que pretendem manter a hegemonia e o poder.
Grandes pensadores sempre foram ameaças, pois possuem capacidade de
questionar estruturas e propor novos modelos.
Sempre que um regime totalitário se instala em um governo as primeiras
providências estão justamente voltadas para acabar com as possibilidades de que
pensadores se manifestem e novos pensadores possam surgir. Assim, se cortam
investimentos em pesquisa e educação e se criam aparatos para a perseguição
dos focos de pensamento já instalados.
Para Manuel Castells (2015), em uma sociedade em rede como a nossa, a
política é a própria política da mídia: as organizações e lideranças que não têm
presença na mídia simplesmente não existem no imaginário popular. Por isso,
aqueles que logram burlar os meios de comunicação tradicionais e, por meio das
tecnologias disponíveis criam canais, passem a ter oportunidade de influência. O
autor afirma que os movimentos sociais e outros agentes de transformação social
estão atuando em nossa sociedade utilizando a reprogramação das redes de
comunicação, transmitindo mensagens que introduzem novos valores no
imaginário popular e criando uma esperança de mudança.
O processo acontece hoje na relação construída entre uma pessoa que,
conectada em comunidade, busca por outras com pensamentos e ideais
semelhantes aos seus; fazendo com que a internet seja uma ferramenta tão
fundamental no cenário político, social e de construção do pensamento quanto a
própria televisão.
A comunicação em rede aumenta as possibilidades de mudança social,
mas isso dependerá, obviamente, da cultura, da organização e do conhecimento
de cada pessoa. Para os que desenvolveram um senso crítico e capacidade de
análise, a comunicação na web pode ser o fator chave para o empoderamento de
grupos até então considerados minoritários.
Segundo Castells (2015), um dos gatilhos para a mobilização social é a
raiva, aumentada pela percepção de injustiça. Justamente por meio da ação de
compartilhar a indignação com outras pessoas e descobrir em algumas o mesmo
sentimento, então a ação comunicativa conduzirá a proposição de ações coletivas
no sentido de se sanar a questão que gera a raiva ou indignação.

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Qualquer sentimento legitimo expressado de alguma forma a outro ser
humano poderá gerar empatia. Isso porque todo pensamento faz com que
existamos diante do mundo que nos rodeia, visto que, se mais uma vez
recordarmos os axiomas da comunicação, ao se comunicar, o ser humano não
está apenas passando uma informação, mas expressando uma conduta.

TEMA 2 – O PODER DA PALAVRA

A palavra tem poder, as estratégias de persuasão, indução e


convencimento estão aí para provar, bem antes dos tempos em que Platão
escreveu sua obra O Sofista. Para os sofistas só há validade naquilo que é útil e
cada pessoa constrói sua realidade por meio daquilo que pode lhe servir,
valorizando a relatividade e a subjetividade de tudo.
A comunicação está construída, conforme os estudos de estudiosos da
linguagem como o russo Mikhail Bakhtin (1988), em teses que garantem que a
palavra é um fenômeno ideológico e está presente em todos os atos de
compreensão e interpretação. Eis a razão de grupos políticos e econômicos, bem
como pessoas ligadas a áreas de destaque em específico, sempre possuírem
assessorias que regulem, treinem e utilizem a palavra como meio de conquista e
dominação.
Da mesma forma, como bem evidenciou nosso Paulo Freire em todas suas
obras, é também a palavra o grande instrumento de libertação! O uso das palavras
é evidente tanto no processo educativo, desde a mais tenra idade, como em todos
os processos decisórios. Como ferramenta do ato comunicativo, a palavra pode
adquirir diferentes significados, de acordo com a ideologia para a qual seja
utilizada. Palavra dita ou não dita, é ela o motor que faz do homem o autor de sua
própria história. É ela, também, a construtora da consciência, aquela que fascina
quando combinada em uma letra de música ou repele, quando utilizada de forma
incorreta ou com intuito de agressão.
Impregnada de intenções implícitas e explícitas, a palavra está presente
nos discursos, nos textos, nas aulas, nos diálogos, nas propagandas, nos
impressos, na televisão, nos produtos, enfim, em absolutamente tudo que nos
rodeia. Bakhtin (1988) afirmou que cada pensamento, com seu respectivo
conteúdo, é um ato singular de cada um, de nossa responsabilidade, pois é
também, simultaneamente, um ato que compõe nosso agir. Isso porque, é
impossível separar a palavra e o pensamento da existência material e ideológica,

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seja individual, seja coletiva. E, em assim sendo, elas expressarão também toda
contradição entre o discurso e a prática, entre o que se diz e o que é a realidade.
Quais são nossas contradições? Quais as contradições de nossa
sociedade brasileira? Qual discurso está mais próximo ou mais distante da
realidade e das questões práticas?
Se os meios de comunicação, como bem vimos até aqui, utilizam as
palavras e todas as formas de linguagem e comunicação para servir ao capital e
aos donos dos meios de produção, enganando e induzindo ao erro, então como
podemos nós utilizar o poder da palavra para propósitos mais dignos e humanos?
Os conflitos e os interesses das classes estão ocultos no poder simbólico
das palavras, nas lindas propagandas de carros e bebidas, na meritocracia que
os empobrecidos captam passivamente como algo aceitável e “normal”, assistindo
passivamente o aumento da concentração de renda nas mãos de alguns em
detrimento de tantos outros.
Inúmeras vezes somos levados pelo poder da palavra a acreditar em um
sistema de valores que em nada nos beneficia ou que nada agrega à vida de
milhões de pessoas. É o desenvolvimento do pensamento crítico que nos livra da
hipnose dos meios e nos liberta para o livre pensar e expressar.
Somente após o momento em que nos damos conta de que a neutralidade
é uma falácia é que percebemos o imenso poder de transformação que temos em
nossas mãos por meio da palavra, da construção da comunicação e de novos
meios que rompam com a hegemonia dos meios tradicionais.
A palavra faz sentido quando se torna realmente um dos componentes do
processo de humanização de cada um de nós. É mediante a linguagem que
construímos as pontes que nos ligam ao outro. Citando Bakhtin:

a palavra penetra literalmente em todas as relações entre indivíduos, nas


relações de colaboração, nas de base ideológica, nos encontros fortuitos
da vida cotidiana, nas relações de poder político. As palavras são tecidas
a partir de uma multidão de fios ideológicos e servem de trama a todas
as relações sociais em todos os domínios. É, portanto, claro que a
palavra será sempre um indicador mais sensível de todas as
transformações sociais. (Bakhtin, 1988, p. 41)

Todo ser humano, de qualquer área de atuação, deveria ter o compromisso


de assumir o poder de suas palavras em sua própria realidade e na realidade de
todos aqueles com os quais convive. A palavra constrói e destrói. Portanto,
tenhamos a responsabilidade de não mais ignorar o poder das palavras que
emitimos e, também, das que recebemos. Questionemos sempre!

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No prefácio do livro Educação como prática da liberdade, de Paulo Freire
(1967), há um parágrafo escrito pelo educador Pierre Furter que fala a respeito do
poder da palavra. Diz ele:

Que não se esconda com o verbalismo, o vazio do pensamento; com o


formalismo, a mentira da incompetência; e com o beletrismo, o cinismo
da descrença tão característicos das elites no poder. A autenticidade na
fala implica a crítica radical de uma situação. [...] só então a palavra em
vez de ser o veículo das ideologias alienantes e/ou de uma cultura ociosa
tornar-se-á geradora, sito é, o instrumento de uma transformação global
do homem e da sociedade. (Furter, citado por Freire, 1967)

TEMA 3 – UMA VÍRGULA FORA DO LUGAR...

Em 2008, a Associação Brasileira de Imprensa divulgou uma interessante


campanha sobre a importância da vírgula. Mostravam exemplos práticos, vejam:

 “Vírgula pode ser uma pausa… ou não


 Não, espere.
 Não espere.
 Ela pode sumir com seu dinheiro
 23,4.
 2,34
 Pode criar heróis
 Isso só, ele resolve.
 Isso só ele resolve.
 Ela pode ser a solução
 Vamos perder, nada foi resolvido.
 Vamos perder nada, foi resolvido.
 A vírgula muda uma opinião
 Não queremos saber.
 Não, queremos saber.
 A vírgula pode condenar ou salvar
 Não tenha clemência!
 Não, tenha clemência!
 Uma vírgula muda tudo.
 (ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua
informação).
 Detalhes Adicionais

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 “Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de quatro à
sua procura”.
 Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de mulher…
 Se você for homem, colocou a vírgula depois de tem…

Brincadeiras e campanhas à parte e sem questionar o papel da Associação


Brasileira de Imprensa (ABI) diante da realidade brasileira, sabemos que dominar
o idioma que se fala é o primeiro passo para se comunicar bem.
Muitos ruídos de comunicação acontecem justamente porque os
interlocutores não sabem expressar corretamente em bom português (em nosso
caso) aquilo que deseja comunicar.
Seja na vida pessoal ou profissional devemos considerar aspectos técnicos
e de comportamento para bem comunicar. Portanto, planeje sempre antes de
simplesmente falar e, sobretudo, conheça o assunto que abordará de forma
profunda, buscando diferentes fontes de informação. Quando falar, tenha
segurança e emita suas opiniões de maneira firme e adequada aos seus
interlocutores, transmitindo confiança e sempre usando de respeito. A arrogância
é dispensável em qualquer momento de nossas vidas. O equilíbrio é tudo: mostrar
suas qualidades e competências não é o mesmo que ser soberbo, assim como
ser simpático não significa virar o “bobo da corte”.
Ao utilizar o meio escrito como forma de comunicação saiba, inicialmente,
reconhecer o nível de intimidade que mantem com seu interlocutor: excesso de
formalidade é tão chato quanto um linguajar inadequado à situação em que se
insere o ato comunicativo. A objetividade e o conhecimento da língua são quase
sempre meio caminho andado para o sucesso da comunicação interpessoal.
Assim como dominar o assunto e saber como deve ser explicado em uma
sequência lógica de informações.
Muito cuidado com os vícios e falhas na comunicação. Fique atento a
ambiguidade, a redundância, a incoerência, às obscuridades, ao eco, ao
vulgarismo, ao preciosismo e a todas os ruídos que já citamos nas aulas anteriores
e que podem fazer com que sua mensagem se transforme em um pesadelo da
comunicação.
Lembrando, ainda, que esses ruídos na comunicação tanto podem ser
físicos (calor, frio, sons altos ou baixos, iluminação inadequada etc.), fisiológicos
(fome, sede, odores etc.), psicológicos (preocupações, desatenção etc.),

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semânticos (palavras mal interpretadas que dificultam a compreensão) e pessoais
(valores, nível de conhecimento de cada participante etc.).

TEMA 4 – A VERDADE LIBERTA

A Bíblia diz, em João, capítulo 8, versículo 32: “Conhecereis a verdade e a


verdade vos libertará!”. Pois bem: o que isso quer dizer? Para os religiosos quer
dizer que quem conhecer a Cristo será libertado da escravidão e da miséria dos
homens, uma vez que Jesus disse ser o caminho, a verdade e a vida.
Mas vamos analisar tal passagem fora do contexto religioso e dogmático,
pois a verdade também é científica. Como vimos no tema anterior, dominar o
assunto que se pretende comunicar é algo fundamental para o sucesso de
qualquer ato comunicativo. O conhecimento sempre foi e sempre será o único
alicerce para o uso de palavras bem fundamentadas e capaz de transformar
realidades. A ignorância, por sua vez, agirá sempre em sentido contrário, trazendo
tudo que há de mais lamentável para que os ruídos de comunicação se
estabeleçam e para que a sociedade sofra terríveis regressões e o homem possa
ser escravizado. Sim, porque se a verdade liberta, a ignorância, por sua vez,
escraviza.
E compreendamos que ignorante não é aquele que não teve acesso ao
estudo formal, mas cada um de nós. Sim, sempre somos ignorantes em alguma
área do saber: podemos conhecer absolutamente tudo da Sociologia, da
Psicologia, da Filosofia, da Comunicação, das Ciências Políticas e, no entanto, ao
mesmo tempo, ignoramos os teoremas que servem de base aos conhecimentos
matemáticos ou as teorias e descobertas mais recentes da medicina e das
ciências. Ou seja, somos ignorantes toda vez que desconhecemos determinado
tema a ponto de a respeito dele podermos estabelecer conceitos e raciocínios
embasados e pertinentes. Como bem pontuou Sócrates: “a verdadeira sabedoria
consiste em saber que você não sabe de nada”.
Esta é nossa primeira verdade libertadora: reconhecer que, por mais que
estudemos e nos interessemos pelos mais diversos temas e áreas, sempre
seremos eternos aprendizes. Alguém que reconhece sua ignorância é, também,
alguém apto a cada vez buscar mais conhecimentos ao invés de se conformar
com sua condição de ignorante. E mais: é alguém capaz de praticar a humildade
diante de suas próprias ignorâncias e da ignorância do outro; podemos aprender

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e podemos ensinar em nossos atos comunicativos. Estejamos atentos e sempre
em busca do saber.
Além do mais, o filosofo Confúcio já dizia que “o homem superior é afligido
pelas limitações de sua capacidade; ele não está angustiado pelo fato de que os
homens não reconhecem a capacidade que ele tem". Ou seja: nos preocupemos
menos com o que os outros pensam de nós e mais com aquilo que temos
consciência a respeito de nossas limitações, para que possamos estar sempre em
constante evolução. Nos inspiremos nos grandes pensadores ao longo da história!
É claro que quanto maior nosso conhecimento, maior nossa
responsabilidade diante da realidade que nos cerca e até maior nosso sofrimento
na caminhada, pois saímos da “ilha da fantasia” das falácias impostas pela
indústria cultural e pelos meios de comunicação oficiais e entramos no infinito
mundo do saber. É a vida fora da Matrix, como já vimos. E não é nada fácil perder
o senso de pertencimento quando a grande maioria pensa diferente de você, pois
estão massificados e dominados. Mas, como disse o filósofo Tucídides:
"Os mais corajosos são certamente aqueles que têm a visão mais clara do que
está diante deles, tanto a glória quanto o perigo, e, mesmo assim, vão ao seu
encontro".

TEMA 5 – SOLUCIONANDO CONFLITOS

Possuir os conhecimentos adequados, sobretudo em nossas respectivas


áreas de atuação profissional, com certeza nos auxiliará no bom desempenho de
nosso trabalho, bem como nas boas relações interpessoais e nos processos
comunicativos. Ao nos libertarmos por meio do saber, como já vimos, assumimos
uma maior responsabilidade diante da “realidade”. Obviamente que teremos
várias situações, nas quais, por mais que dominemos o tema e tenhamos empatia
com o outro, nos depararemos com situações de conflito, decorrentes tanto da
ignorância, quanto dos ruídos da comunicação e dos próprios empasses oriundos
dos diferentes interesses nas classes de nossa sociedade. Saber como agir diante
desses conflitos é, sem dúvida, uma ferramenta fundamental para nossa evolução
pessoal, profissional e humana.
Todas as relações implicam a interação entre duas (ou mais) pessoas
distintas e únicas. Por isso, opiniões e pontos de vista diferentes são sempre
evidentes. Essas visões diferentes podem ou não levar a situações de conflitos.
Esses conflitos, se resolvidos de forma salutar, geram um progresso significativo

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na relação. No entanto, se não trabalhados com a necessária habilidade, podem
gerar sentimentos de revolta, incompreensão e mágoas.
Os conflitos surgem nos diferentes tipos de conteúdo: por diferentes pontos
de vista a respeito de um mesmo tema; por diferentes métodos ou formas de agir
diante de uma mesma tarefa; por incompatibilidade de objetivos finais; por
possuírem valores e crenças absolutamente contrários; e até por sentimentos
distintos em relação a um mesmo ponto (mesmo porque os sentimentos são
oriundos do próprio conhecer).
Se não podemos evitar as situações de conflito, saibamos quando e em
que situação levar a cabo sua solução: nem sempre propor soluções quando o
problema ainda está muito recente e os ânimos muito acirrados é a melhor
escolha. Uma vez visualizado o momento oportuno, então devemos conduzir a
discussão de forma a dar voz e vez a cada um dos envolvidos. Aqui podemos
relembrar as propostas de Marshall Rosenberg na Comunicação não violenta
(2006):

a. Observação: o que está fazendo ou dizendo o outro que é enriquecedor


para mim? Sem julgamentos dizer o que agrada ou não, sem tentar
enquadrar em certo ou errado.
b. Sentimento: como estou me sentindo? Avaliar como aquela ação ou
palavras causaram mágoa, alegria, tristeza, irritação...
c. Necessidade: quais de nossas necessidades estão ligadas aos
sentimentos identificados?
d. Pedido: o que é preciso para que minha vida fique melhor?

Ao recebermos esses mesmos quatro elementos do outro devemos fazer


com que observem suas ações, que sentimentos elas causam, quais as
necessidades pessoais ligadas a esses sentimentos e o que poderia ser feito para
enriquecer suas vidas. A comunicação compassiva nos livra da culpa, dos
insultos, da depreciação, da rotulação, de comparações e de todas as formas de
julgamento; fazendo com que tenhamos empatia com o outro e sejamos capazes
de construir novas realidades.
Encerro a disciplina com a seguinte reflexão de Carl Jung: “Conheça todas
as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja
apenas outra alma humana”.
Sucesso!

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REFERÊNCIAS

ADORNO, T. W. Educação e emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.

ALVARO, M. Pensar com os sentimentos: razão, escuta, diálogo, corpo e


liberdade. Nova Petrópolis: Nova Harmonia, 2014.

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: HUCITEC, 1988.

BOURDIEU, P. O poder simbólico. São Caetano do Sul: Difusão Editorial, 1989.

CABRAL, J. F. P. A definição de ação social de Max Weber. Brasil Escola.


Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/a-definicao-acao-social-
max-weber.htm>. Acesso em: 18 set. 2019.

CAMPANHA 100 anos da vírgula da ABI. Recanto das Letras. Disponível em:
<https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/2844000>. Acesso em: 18 set.
2019.

CASTELLS, M. O poder da comunicação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 1967.

LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São


Paulo: Loyola, 2000.

ROSENBERG, M. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar


relacionamentos pessoais. São Paulo: Ágora , 2006.

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