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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

Curso de Graduação em Psicologia


Disciplina: Psicologia Social 1: Fundamentos Históricos e Epistemológicos
Ano letivo: 2023-2o
Docente responsável: Luciana Fioroni

Laura Guerrelhas Gonçalves - RA: 813159

SÍNTESE CRÍTICO-REFLEXIVA
Teoria das Representações Sociais
A Teoria das Representações Sociais, formulada por Serge Moscovici, se caracteriza como
uma vertente teórica da Psicologia Social que dialoga com as demais correntes da Filosofia, da
História, da Sociologia e da Psicologia Cognitiva que também discutem sobre a questão do
conhecimento. Para Moscovici, as representações sociais são formas de conhecimento que se
manifestam como elementos cognitivos (imagens, conceitos, categorias e teorias) e contribuem para a
criação de uma realidade comum entre indivíduos, através de algum meio de comunicação.

Essas representações são moldadas de acordo com a cultura, contexto histórico e social de
determinado grupo, sendo norteadas por valores, crenças e práticas da sociedade em que este grupo
vive. Assim, essa forma de conhecimento é mutável e reflete as mudanças políticas, econômicas e
sociais as quais o mundo está exposto, de forma que os grupos se apropriem de elementos e discursos
alterando seus significados e influência. Um exemplo claro dessas mudanças de elementos de acordo
com períodos históricos e grupos é a bandeira do Brasil, que deixou de simbolizar a unidade brasileira
e passou a representar a extrema direita do país após as eleições de Jair Bolsonaro em 2018.

O senso comum é um dos principais fatores que interferem na construção de uma


representação social. Esse conceito implica, segundo Spink (1993), na base do conhecimento da
sociedade, sendo composto por diversas ideias e sendo um conhecimento compartilhado. Segundo o
autor, o senso comum deveria ser considerado o impulsionador de mudanças sociais, e não um
conhecimento de segunda classe. Como exemplo disso, pode-se citar o movimento feminista, que se
caracteriza inicialmente como uma ideia do senso comum. Este movimento não surgiu a partir de
evidências científicas ou estudos que comprovem os benefícios da luta por direitos, mas sim de um
compartilhamento de valores que levaram grande parte da população a acreditar que se deve lutar para
garantir a igualdade de direito entre os sexos.

O movimento feminista se enquadra hoje como um dos maiores movimentos de militância do


mundo, garantindo direitos básicos para muitas mulheres prejudicadas pela sociedade contemporânea
pautada no machismo e no patriarcado. Esse é um exemplo de como o senso comum levou a
conquistas e evoluções benéficas para um grupo específico, mas o oposto também pode se tornar
verdadeiro. Como exemplo disso, temos movimentos nazistas, que dizimaram a população judia por
conta da propagação de pensamentos eugenistas, sem embasamento científico, e que fizeram com que
um grupo específico se considerasse superior a outro, levando a episódios aterrorizantes da história da
humanidade.

Estes exemplos mostram como a construção de um conhecimento compartilhado não tem sua
origem, necessariamente, em estudos bem estruturados ou evidências científicas, mas sim por meio de
crenças que se fortalecem através do “boca a boca”, da mídia e da persuasão. Posteriormente,
pesquisas são e devem ser realizadas para embasar essas crenças, movimentos e valores
cientificamente. Contudo, não se deve subestimar o poder que a soma dos saberes do cotidiano tem
em construir ideologias, militâncias e movimentos sociais.

O sujeito de uma representação social pode ser um indivíduo ou um grupo. As representações


estão sempre inseridas em um contexto social, com sujeitos sociais. Assim, possuem três principais
funções dentro de um contexto específico, que são a social, afetiva e cognitiva. A primeira, seria a
função de orientar condutas e comunicações, norteando o comportamento daqueles que seguem
aquela ideia e garantindo que todos os indivíduos se compreendam e “falem a mesma língua”. Já a
função afetiva garante que as identidades sociais dos participantes de um grupo sejam legitimadas e
garantidas, de modo que acreditem pertencer àquela comunidade por conta de suas crenças em
comum, de modo que se sintam confortáveis em seguí-las. Por fim, a função cognitiva seria a de
familiarizar o indivíduo com a novidade, transformando o estranho e ameaçador em algo familiar, que
ele gostaria de manter por perto.

Além disso, a teoria considera que para atingir a função cognitiva existem dois processos, a
ancoragem e a objetivação. A ancoragem seria “a inserção orgânica do que é estranho no pensamento
já constituído” (Spink, 1993) e a objetivação, quando “noções abstratas são transformadas em algo
concreto” (Spink, 1993). Com isso, os ideais apresentados se tornam mais facilmente aceitos e
apreendidos pelos indivíduos, de modo que se torne cada vez mais intrínseco ao grupo.

A objetivação das representações sociais ocorre por conta das mudanças contínuas que
ocorrem, principalmente no mundo moderno. Com novos estímulos e novidades, é preciso que ocorra
nova objetivação e referências para as novas ações. Assim, no cotidiano surgem conversas
argumentativas e negociação de significados das novas expressões compartilhadas. Esse conjunto de
expressões objetivadas leva a construção de um núcleo figurativo, que seria a estrutura de imagem que
guarda a essência de um conceito ou objeto construído socialmente.

A Teoria das Representações Sociais também pode ser usada para explicar o crescimento e
fortalecimento de grupos da extrema direita. Com discursos preconceituosos e violentos, esses grupos
encontram espaço e legitimidade de seus ideais quando atingem números significativos de apoiadores,
que creem fielmente em sua pregação. Majoritariamente fundamentados por preconceitos,
conservadorismo e extremismo, esses grupos perpetuam discursos de ódio e intolerância.

Segundo Tajfel (1978) como citado por Moscovici, 2009, o preconceito é um processo de
categorização social como um mecanismo adaptativo que simplifica e organiza os estímulos sociais, e
essa simplificação pode levar a distorções cognitivas. Assim, sua verdadeira finalidade seria a
perseguição, fruto do contexto histórico da sociedade, no qual grupos minoritários sempre foram
marginalizados e exterminados através da justificativa de purificação da população e por serem
considerados inferiores. Esse preconceito é fortalecido por meio dos estereótipos, que são formas de
conhecimento utilizadas para distinguir e opor grupos e refletem crenças profundamente enraizadas na
vida coletiva. Assim, cada vez mais grupos são segregados e constrói-se um muro entre as pessoas,
desvalorizando as diversidades.

Com isso, não é difícil perceber que as representações sociais são um campo multidisciplinar,
com uma contribuição específica na Psicologia Social. Elas contribuem para a construção de uma
realidade comum, que possibilita a comunicação. Deste modo, as representações são, essencialmente,
fenômenos sociais que, mesmo acessados a partir do seu conteúdo cognitivo, têm de ser entendidos a
partir do seu contexto de produção.

A Psicologia Social visualiza o indivíduo e suas produções mentais como produtos de sua
socialização em um determinado segmento social. Considerando, então, as representações sociais, é
possível dizer que estas formas de pensamento são, ao mesmo tempo, campos socialmente
estruturados que só podem ser compreendidos quando considerada a sua produção e os núcleos
estruturantes da realidade social, tendo em vista seu papel na criação desta realidade.

Com isso, a Teoria das Representações Sociais se mostra como extremamente importante para
a compreensão da sociedade e dos movimentos políticos e sociais de cada época. O ser humano se
organiza em grupos e depende da propagação de suas crenças para garantir sua sobrevivência dentro
deles. Assim, é essencial que a Psicologia Social continue contribuindo para o estudo dessa
característica humana, visando a perpetuação de grupos que beneficiem o bem-estar, igualdade e
justiça social no planeta.

REFERÊNCIAS

MOSCOVICI, S. OS CIGANOS ENTRE PERSEGUIÇÃO E EMANCIPAÇÃO.


Sociedade e Estado, Brasília, v. 24, n. 3, p. 653-678, set./dez. 2009.

SPINK, M.J. O Conceito de Representação Social na Abordagem Psicossocial. Cadernos de Saúde


Pública, Rio de Janeiro, 9 (3): 300-308, jul/sep, 1993.

Slides de sala

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