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SÍNTESE CRÍTICO-REFLEXIVA
Teoria das Representações Sociais
A Teoria das Representações Sociais, formulada por Serge Moscovici, se caracteriza como
uma vertente teórica da Psicologia Social que dialoga com as demais correntes da Filosofia, da
História, da Sociologia e da Psicologia Cognitiva que também discutem sobre a questão do
conhecimento. Para Moscovici, as representações sociais são formas de conhecimento que se
manifestam como elementos cognitivos (imagens, conceitos, categorias e teorias) e contribuem para a
criação de uma realidade comum entre indivíduos, através de algum meio de comunicação.
Essas representações são moldadas de acordo com a cultura, contexto histórico e social de
determinado grupo, sendo norteadas por valores, crenças e práticas da sociedade em que este grupo
vive. Assim, essa forma de conhecimento é mutável e reflete as mudanças políticas, econômicas e
sociais as quais o mundo está exposto, de forma que os grupos se apropriem de elementos e discursos
alterando seus significados e influência. Um exemplo claro dessas mudanças de elementos de acordo
com períodos históricos e grupos é a bandeira do Brasil, que deixou de simbolizar a unidade brasileira
e passou a representar a extrema direita do país após as eleições de Jair Bolsonaro em 2018.
Estes exemplos mostram como a construção de um conhecimento compartilhado não tem sua
origem, necessariamente, em estudos bem estruturados ou evidências científicas, mas sim por meio de
crenças que se fortalecem através do “boca a boca”, da mídia e da persuasão. Posteriormente,
pesquisas são e devem ser realizadas para embasar essas crenças, movimentos e valores
cientificamente. Contudo, não se deve subestimar o poder que a soma dos saberes do cotidiano tem
em construir ideologias, militâncias e movimentos sociais.
Além disso, a teoria considera que para atingir a função cognitiva existem dois processos, a
ancoragem e a objetivação. A ancoragem seria “a inserção orgânica do que é estranho no pensamento
já constituído” (Spink, 1993) e a objetivação, quando “noções abstratas são transformadas em algo
concreto” (Spink, 1993). Com isso, os ideais apresentados se tornam mais facilmente aceitos e
apreendidos pelos indivíduos, de modo que se torne cada vez mais intrínseco ao grupo.
A objetivação das representações sociais ocorre por conta das mudanças contínuas que
ocorrem, principalmente no mundo moderno. Com novos estímulos e novidades, é preciso que ocorra
nova objetivação e referências para as novas ações. Assim, no cotidiano surgem conversas
argumentativas e negociação de significados das novas expressões compartilhadas. Esse conjunto de
expressões objetivadas leva a construção de um núcleo figurativo, que seria a estrutura de imagem que
guarda a essência de um conceito ou objeto construído socialmente.
A Teoria das Representações Sociais também pode ser usada para explicar o crescimento e
fortalecimento de grupos da extrema direita. Com discursos preconceituosos e violentos, esses grupos
encontram espaço e legitimidade de seus ideais quando atingem números significativos de apoiadores,
que creem fielmente em sua pregação. Majoritariamente fundamentados por preconceitos,
conservadorismo e extremismo, esses grupos perpetuam discursos de ódio e intolerância.
Segundo Tajfel (1978) como citado por Moscovici, 2009, o preconceito é um processo de
categorização social como um mecanismo adaptativo que simplifica e organiza os estímulos sociais, e
essa simplificação pode levar a distorções cognitivas. Assim, sua verdadeira finalidade seria a
perseguição, fruto do contexto histórico da sociedade, no qual grupos minoritários sempre foram
marginalizados e exterminados através da justificativa de purificação da população e por serem
considerados inferiores. Esse preconceito é fortalecido por meio dos estereótipos, que são formas de
conhecimento utilizadas para distinguir e opor grupos e refletem crenças profundamente enraizadas na
vida coletiva. Assim, cada vez mais grupos são segregados e constrói-se um muro entre as pessoas,
desvalorizando as diversidades.
Com isso, não é difícil perceber que as representações sociais são um campo multidisciplinar,
com uma contribuição específica na Psicologia Social. Elas contribuem para a construção de uma
realidade comum, que possibilita a comunicação. Deste modo, as representações são, essencialmente,
fenômenos sociais que, mesmo acessados a partir do seu conteúdo cognitivo, têm de ser entendidos a
partir do seu contexto de produção.
A Psicologia Social visualiza o indivíduo e suas produções mentais como produtos de sua
socialização em um determinado segmento social. Considerando, então, as representações sociais, é
possível dizer que estas formas de pensamento são, ao mesmo tempo, campos socialmente
estruturados que só podem ser compreendidos quando considerada a sua produção e os núcleos
estruturantes da realidade social, tendo em vista seu papel na criação desta realidade.
Com isso, a Teoria das Representações Sociais se mostra como extremamente importante para
a compreensão da sociedade e dos movimentos políticos e sociais de cada época. O ser humano se
organiza em grupos e depende da propagação de suas crenças para garantir sua sobrevivência dentro
deles. Assim, é essencial que a Psicologia Social continue contribuindo para o estudo dessa
característica humana, visando a perpetuação de grupos que beneficiem o bem-estar, igualdade e
justiça social no planeta.
REFERÊNCIAS
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