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SOCIAL
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar os grupos como lugar de produção de
ideologia, compreendendo como eles contribuem para a constituição
e para o desenvolvimento da ideologia. Assim, primeiramente, você
acompanhará como o conceito de ideologia se constituiu a partir de
uma perspectiva histórica, com a qual diversos autores fizeram suas
contribuições para a compreensão do conceito.
Em seguida, você analisará como os grupos podem produzir ideologia
a partir de sua interação e, por fim, relacionará o conceito de ideologia
e de relações de poder nos grupos e com os grupos, analisando como
essas relações se desenvolvem de maneira transversalmente mútua.
Ideologia
Os primeiros registros do termo ideologia foram realizados pelo filósofo
e pensador sensista Antoine Destutt de Tracy (1754-1836) em 1796. Este
filósofo usou a palavra ideologia para designar o que chamava de “ciência
das ideias”, almejando conceber uma nova ciência com o objetivo de analisar
sistematicamente as ideias e sensações. Destrutt de Tracy, prisioneiro por lutar
na revolução francesa e atuante no movimento da burguesia revolucionária,
utilizou o tempo na prisão para delinear a ideologia como uma ciência que
2 Os grupos como lugar de produção da ideologia
Os modos como um sujeito pensa, deseja, sonha e crê são fundidas por sua condição
material de produção e existência, ou seja, pelo seu contexto e por sua realidade, por
meio da experiência material, simbólica e cultural na qual está inserido. Tais percepções
marcam um modo de olhar e pertencer no mundo. Assim, uma pessoa nascida e
crescida em um contexto grupal pertencente a uma comunidade na periferia ou
com poucas condições econômicas, sociais e culturais terá uma visão da realidade
consideravelmente diferente de outra pessoa pertencente a uma classe social mais
avantajada ou residente de uma região com maiores recursos econômicos, sociais
e culturais. A interação dos grupos na produção de ideologia passa por esse olhar
sensível ao contexto e pelas demandas específicas de cada realidade.
interesses das relações de poder, de ser utilizada para apontar para uma de
versão unilateral da realidade apologética de interesses que, embora apareçam
por meio dos grupos, possam clamar por prioridades individuais (ZIZEK,
1996).
Assim, diante da complexidade apresentada por variações de sentidos,
noções, conceitos e definições pertinentes à ideologia e elaboradas no decorrer
da história, é necessário reconhecer que essas diversas concepções, muitas
vezes contraditórias, resultam de contextos econômicos, políticos e sociocul-
turais historicamente divergentes. As ações dos grupos são coordenadas numa
perspectiva coletiva, como proposta de superação de ideologias instituídas,
buscando implicar em constantes alterações na estrutura produtiva e na com-
pleta transformação das relações sociais (DURKHEIM, 1970).
A ideologia como conceito construtivo pretende adquirir formas transver-
sais à existência de signos criados nos grupos no percurso de suas relações
sociais em meio às relações de poder. O poder exercido nas relações, tal
como Lane (1985) referencia, é difuso, tecido como uma teia de forças pe-
netrantes e invisíveis, encontrado em todo e qualquer tipo de relação entre
os sujeitos.
Dessa maneira, os grupos instrumentalizam suas relações de poder no
delineamento da ideologia. Portanto, conforme Bion (1970), a soma da cons-
ciência sobre a realidade deriva da junção de pensamentos e percepções
diferentes que caracterizam o processo grupal na constante composição das
relações de poder.
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BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 16. ed. São Paulo: Hucitec, 2009.
BION, W. R. Experiências com grupos: os fundamentos da psicoterapia de grupo. Rio
de Janeiro: Imago, 1970.
CHAUÍ, M. O que é ideologia. São Paulo: Brasiliense, 1980.
DURKHEIM. É. Educação e sociologia. 11. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
DURKHEIM, E. Sociologia e filosofia. Rio de Janeiro: Forense. 1970EAGLETON, T. Ideologia.
São Paulo: Boitempo, 1997.
LANE, S. T. M. O processo grupal. In: LANE, S. T. M.; CODO, W. (Org.). Psicologia social:
o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 78-98.
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.
MAZZARI, M. V. Ideologia: uma breve história do conceito. Estudos avançados, v.
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em: 3 jun. 2018.
MORIN, E. Ciência com consciência. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
MOSCOVICI, S. A representação social da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
8 Os grupos como lugar de produção da ideologia
Leituras recomendadas
BOURDIEU, P. O poder simbólico. 14. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
LUKÁCS, G. Marxismo e teoria da literatura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.
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da Instituição, você encontra a obra na íntegra.