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Frantz Fanon nasceu na Martinica, em 1925 e morreu aos 36 anos, de pneumonia, em

1961. Foi um psiquiatra, filósofo e ensaísta marxista. Seu pensamento filosófico, de origem
basicamente humanista, inspirou outros estudiosos e pensadores da diáspora africana,
teoria política e social, teoria da literatura, estudos culturais e, principalmente, estudos
sobre o colonialismo e o pós-colonialismo. Ao todo, escreveu quatro livros, sendo os dois
mais importantes lançados em português: Os condenados da terra e Pele Negra,
Máscaras Brancas. E tais livros foram de grande influência no pensamento político e
social, na literatura e na filosofia. Um grande exemplo influenciado pelas ideias de Fanon,
é Paulo Freire; podemos perceber isso em sua obra “Pedagogia do Oprimido”.

1) INTRODUÇÃO:
Em “Pele negra, máscaras brancas”, Frantz Fanon faz fortes críticas à violência colonial,
mostrando a colonização como um processo econômico, social e psíquico. Nas primeiras
páginas do livro, o autor diz sobre a necessidade de uma mudança, de uma libertação do
negro desse local em que a colonização o colocou, no entanto, deixando claro que isso
não pode ser feito de qualquer forma e sim que tal desalienação se daria de forma
planejada e menos explosiva.
A colonização não se da apenas na economia mas também no psicológico, na destruição
da identidade e do espírito do povo oprimido, que limita tal povo à falta de ser. Então
podemos perceber que a sociedade colonial existe de forma maniqueísta, onde para os
brancos foi privilegiado a zona do ser e ao indivíduo negro, restou a zona do não ser.
Sem uma identidade o negro tenta se fazer branco negando a si mesmo em busca do
privilegio da existência social, da individualização e da fala.

Antes de começar a resenha desta obra, é importante dizer que Fanon limita sua pesquisa
aos negros colonizados das Antilhas, podendo haver semelhanças e diferenças com os
negros colonizados de outros lugares do mundo.
No primeiro capítulo, o autor traça um paralelo entre o homem negro e a linguagem, isto é,
tendo em vista que quando se domina uma língua, se domina todo o universo que esta
linguagem representa, incluindo sua cultura. E quando se fala em um povo colonizado,
onde houve um sepultamento de sua originalidade e, consequentemente, um complexo de
inferioridade, a linguagem da nação civilizadora se torna um degrau a ser galgado por tal
povo. A língua crioula nasceu desse processo de aculturamento. Um negro que quer ser
respeitado deve falar o francês e abolir expressões crioulas ou sotaques que reverberem a
língua. Assim, também, a língua torna-se um importante mecanismo de manutenção de
opressões, pois uma pessoa branca para se referir a uma pessoa negra antilhana usa a
língua crioula, em que o negro se encontra numa posição abaixo, não podendo falar como
sendo um igual.
“Nas Antilhas não há nada igual. A língua oficialmente falada é o francês. Os professores
vigiam de perto as crianças para que a língua crioula não seja utilizada. Deixemos de lado
as razões evocadas. Aparentemente o problema poderia ser o seguinte: nas Antilhas como
na Bretanha há um dialeto e há a língua francesa. Mas a situação não é a mesma pois os
bretões não se consideram inferiores aos franceses. Os bretões não foram civilizados pelo
branco.” (p.42)

No segundo capítulo, Fanon fala da relação entre a mulher negra e o homem branco, em
como o sentimento de inferioridade do negro influencia nessas relações. O autor descreve
como a mulher negra idealiza o homem branco, e enxerga nele a possibilidade de
embranquecer-se, como também a seus descendentes. A mulher negra se sente inferior,
por isso aspira ser admitida no mundo branco.
“O problema é saber se é possível ao negro superar seu sentimento de inferioridade,
expulsar de sua vida o caráter compulsivo, tão semelhante ao comportamento fóbico. No
negro existe uma exacerbação afetiva, uma raiva em se sentir pequeno, uma incapacidade
de qualquer comunhão que o confina em um isolamento intolerável.” (p.59)

No terceiro capítulo, Fanon inverte a situação do capítulo anterior, ou seja, discute a


relação entre o homem negro e a mulher branca, que não difere, segundo o autor, da
relação da branca com o negro. Tendo o homem negro a mesma necessidade de se
autoafirmar procura se relacionar com mulheres brancas: “Solicitado, o branco consente
em lhe dar a mão da irmã, mas protegido por um pressuposto: você não tem nada a ver
com os verdadeiros pretos. Você não é negro, ‘é excessivamente moreno’”. (p.73). Além
disso, percebe-se que ser negro tornou-se um adjetivo de características negativas, “pois
de preto você só tem a aparência” (p.73). Ainda no terceiro capítulo, que serve também
para o segundo capítulo: “é preciso que este mito sexual – a procura da carne branca –
veiculado por consciências alienadas, não venha mais atrapalhar uma compreensão ativa.”
(p.82)
No capítulo quarto Fanon aborda o pretenso complexo de dependência do colonizado e
afirma, categoricamente, que a civilização europeia, ou seja, o homem branco, é
responsável pelo racismo colonial, sendo a inferiorização do negro correlacionada com a
supervalorização do branco: “Como se vê, o branco obedece a um complexo de
autoridade, a um complexo de chefe, enquanto que o malgaxe obedece a um complexo de
dependência. E todos ficam satisfeitos”. (p.94) E acrescenta que a sociedade depende da
manutenção do complexo de inferioridade do povo negro, na medida que afirma a
existência de uma superioridade de raças corrobora para que o negro deseje se tornar
branco, para assim, desfrutar dos privilégios que englobam este sistema. E finaliza do
capítulo explicando que o negro não deve procurar embranquecer, e sim tomar
consciência de uma nova possibilidade de existir; esclarecer as causas desse complexo de
inferioridade e tornar-se capaz de escolher entre a ação ou a passividade para lidar diante
desse conflito, isto é, as estruturas sociais racistas.
No quinto capítulo, Fanon disserta sobre a experiência vivida do negro, em outras palavras
o que é ser negro numa sociedade branca, numa civilização que lhes foi imposta: “O
mundo branco, o único honesto, rejeitava minha participação. De um homem exige-se uma
conduta de um homem; de mim, uma conduta de homem negro – ou pelo menos uma
conduta de preto” (p.107). Aborda também da diferença entre um judeu e um negro. O
primeiro passa despercebido e só sofre antissemitismo a partir do momento em que é
reconhecido; o segundo já é determinado pelo exterior. Fanon frisa, também que a cor da
pele determina tudo, pois quando um negro é amado, reconhecido, lhes dizem isto apesar
da sua cor, e o contrário também acontece, que não os respeita apesar de sua cor. Fanon
citou como exemplo se um médico negro cometesse um erro, seria o seu fim e os de
outros que o seguiriam. Para o negro não existe outra saída senão acertar, errar jamais.
No sexto e mais extenso capítulo do livro, Fanon disserta sobre a relação entre o negro e a
psicopatologia. Neste capítulo, Fanon aborda, principalmente, o negro como objeto sexual,
animalizado.
No sétimo e último capítulo do livro, intitulado “O preto e o reconhecimento”, Fanon expõe
duas teorias psicanalíticas sobre o negro. Primeiramente, sobre Adler e em seguida sobre
Hegel. De acordo com a escola adleriana, o negro tenta protestar contra a inferioridade
que historicamente sente, tentando assim, reagir por intermédio de um complexo de
superioridade. No paroxismo da dor, o negro tenta provar sua brancura aos outros e a si
mesmo. O complexo de dependência diante do branco. Na visão de Hegel, o valor do
negro está atrelado ao reconhecimento do outro, ou seja, do branco. O negro condiciona
seu valor e sua realidade humana através do reconhecimento do outro.

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