posições políticas, os compromissos e as implicações sociais subjacentes e a visão de mundo. Instaura a ideia de indissociabilidade entre a teoria e a prática, enfatizando que o papel do pesquisador é o de agente político, responsável pela transformação da realidade e promotor da emancipação, voltando-se contra a reprodução da desigualdade e da opressão. Todo esse olhar é uma resposta teórico- epistemológica de intelectuais e pesquisadores que estavam envolvidos nos movimentos sociais e políticos dos anos 1960 e 1970.
Na América Latina, os psicólogos sociais
iniciaram um questionamento à Psicologia social psicológica norte-americana, requerendo uma versão mais contextualizada e voltada para os problemas políticos e sociais que vinham enfrentando. A Psicologia Social Crítica se constitui no questionamento e na reflexão sobre os lugares comuns e ideias dominantes propagadas pela chamada Psicologia Tradicional e/ou Hegemônica, visando assim construir outras formas de se estruturar o saber e prática psicológicos. Tendo como alicerce principal a ideia de que a crítica e o pensamento crítico indicam "[...] que todas as ações e todos os fenômenos possuem ao menos dois lados; em outras palavras, que nada é absoluto, tudo contém sua contradição; a realidade de um fato ou fenômeno não se resume a um ponto de vista apenas" (Guareschi, 2012) Os psicólogos envolvidos com Psicologia na comunidade passaram a atuar junto aos setores populares e as intervenções possíveis estavam no incitamento da racionalidade crítica, organização popular e participação política. A partir desse enfoque, foi criada a Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), em 1979, com o propósito de redefinir o campo da Psicologia social e de ser fonte de construção de referencial teórico direcionado para a ideia de que o ser humano é um produto sócio- histórico, e sujeito e sociedade se implicam mutuamente, o que contribui para a consolidação do movimento Principal fundamentação teórica da Psicologia social crítica está o materialismo histórico dialético, cuja base está na reflexão dialética para a busca de compreensão de fenômenos sociais tangíveis e multifatoriais, explicitados pela ação humana transformadora de realidades históricas. Na relação dialética um lado não pode anular o outro, ambos devem se complementar pelas oposições. O método dialético da Psicologia social crítica indica que, ao estudarmos os problemas, partimos do pressuposto que o indivíduo e a sociedade não apenas interagem como algo constituído separadamente, mas que se constroem mutuamente. E com isso, o indivíduo só pode existir a partir da existência da sociedade (e não individualmente, como proposto pela vertente tradicional) e, concomitantemente, a sociedade só pode existir por haver a existência de indivíduos. A identidade é concretizada a partir de um processo de significações estabelecidas com outros indivíduos e a forma como outro me reconhece. Portanto, é o resultado da dialética entre os modos como nós representamos e de como somos representados pelo outro. A identidade é uma construção dinâmica da unidade da consciência de si, através das relações subjetivas, das comunicações, da linguagem e das experiências sociais. A linguagem tem o papel fundamental em todo esse processo identificatório e de reconhecimento, visto que a partir dela, conseguimos constituir as categorias, as classificações, as nomeações, os conceitos e todos os aspectos que utilizamos cotidianamente na relação com nossos parceiros de interação. Falar sobre alguém significa criar referências em relação aos grupos dos quais faz parte, como familiares, religiosos, étnicos, profissionais Consequências dessas categorizações em discursos de dominação racial parece que adota um ponto de vista mais essencialista sobre a identidade humana, vem de uma necessidade de propor um ideal de como as coisas devem ser e de como determinados aspectos do humano deveriam ser. Aí temos a diferenciação da Psicologia social crítica, a vertente mais tradicional, pois a Psicologia crítica entende que as categorias definidoras de identidade adquirem sentido nas práticas sociais e nos diferentes reconhecimentos que validam essas práticas. Como vivemos em uma sociedade que não é estática, nem imutável, a instabilidade das práticas sociais conduz à instabilidade das categorias e, por conseguinte, à instabilidade das identidades.