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Considerações Iniciais
Segundo Góis (1993) a psicologia comunitária se define como uma área da
psicologia social que estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do
lugar/comunidade; estuda o sistema de relações e representações, identidade, níveis de
consciência, identificação e pertinência dos indivíduos ao lugar/comunidade e aos
grupos comunitários.
Esse termo se define a partir de uma ampla conceituação, visto que é um conceito
novo e depende do arcabouço teórico e da práxis do psicólogo que o define. Pode ser
nomeada como psicologia comunitária, psicologia na comunidade, psicologia do
desenvolvimento comunitário, dentre outros.
A origem dessa área de conhecimento da psicologia remonta a uma psiquiatria
social e preventiva, bem como a dinâmicas e psicoterapias grupais. O desenvolvimento
de movimentos que se manifestaram contra a falta de atenção social, no que diz respeito
à participação coletiva no processo de tomada de decisões se tornou expressivo para o
surgimento da psicologia comunitária.
A psicologia comunitária tem a finalidade de desenvolver uma consciência crítica
nos sujeitos, através de um modelo interdisciplinar. É um trabalho realizado em grupos,
e na comunidade, a fim de transformar o indivíduo em sujeito. No que concerne à
psicologia comunitária, pode-se referenciar como uma área de atuação com a finalidade
de aplicar as teorias e métodos da psicologia social no contexto de uma comunidade.
Percorrendo um Caminho
Sabe-se que desde a década de 60 no Brasil foram desenvolvidos alguns
trabalhados em comunidades de baixa renda, com o intuito de despertar consciência
crítica no sujeito e possibilitar melhores condições de vida na população. Sendo que se
caracterizou um modelo de atuação pautado no espaço teórico e prático da psicologia
social. Desse modo, foram realizados trabalhos com a educação popular, como a
alfabetização de adultos, como um instrumento para a conscientização, método que aos
poucos foi sendo denominado de psicologia comunitária ou psicologia na comunidade.
Uma revisão da psicologia comunitária no Brasil não pode ser feita fora do
contexto econômico e político do Brasil e da América Latina. Sem dúvida, o golpe
militar de 1964 tem muito a ver como seu surgimento, pois se num primeiro momento,
vivemos um período de extrema repressão e violência, quando uma reunião de cinco
pessoas já era considerada subversão, ele fez com que, individualmente, os profissionais
de psicologia se questionassem sobre a atuação junto à maioria da população, e de qual
maneira seria o seu papel na sua conscientização e organização. (CAMPOS, 2009).
Nessa mesma época surgia nos Estados Unidos e em outros países da América
Latina a expressão “psicologia comunitária” que se referia à atuação do profissional de
psicologia juntamente as comunidades carentes. A propósito, se constituía um trabalho
de cunho assistencial e manipulativo.
Bonfim (1994) faz uma retrospectiva da história da psicologia social no Brasil, nas
décadas de oitenta e noventa. Nos anos oitenta, surgiram os primeiros cursos de pós-
graduação na área da Psicologia Social e foi criada a ABRAPSO–Associação Brasileira
de Psicologia Social. Novas práticas emergiram como, por exemplo, os trabalhos em
favelas, com meninos de rua, com os sem-terra e com pessoas da terceira idade, além de
práticas em comunidades, organizações e instituições. A partir dos anos noventa, em
uma sociedade ainda mais pobre, foi constatado um aumento significativo da população.
Ao mesmo tempo, ocorria o fortalecimento da democracia e a criação de instituições em
defesa dos direitos humanos; por exemplo, as que foram criadas com base no Estatuto
da Criança e do Adolescente, que entrou em vigor em 1990. Decorrentes desse contexto
surgiram demandas de novas formas de trabalho do psicólogo, voltadas para práticas
psicossociais. Por conta dessas demandas, o quadro conceitual precisou também ser
revisto e ampliado.
No início dos anos 90, a nível nacional, presencia-se a expansão dos trabalhos dos
psicólogos junto aos diversos segmentos da população. Entretanto, cabe salientar que
essa expansão acontece dentro de um quadro variado de práticas, envolvendo diferentes
pressupostos filosóficos e referenciais teóricos. (CAMPOS, 2009).
Nesse caso, começam a se desenvolver práticas nos diferentes setores públicos da
sociedade, bem como em postos de saúde, secretaria do bem-estar social, ou em algum
órgão ligado à família e aos menores. Essa atuação tem o objetivo de expandir e
democratizar os serviços psicológicos em diversas áreas para a população em geral, esse
trabalho tem continuidade e perpassa os dias atuais.
Entendendo o Conceito de Comunidade
Sanchez e Wiesenfeld apud Gomes (1999) estabelece alguns critérios significativos
para uma melhor definição de comunidade que estejam relacionados com a Psicologia
Social, por contemplarem os principais aspectos da interação humana: “Podemos dizer
que uma comunidade se caracteriza por:a) ser um grupo de pessoas, não um agregado
social, com determinado grau de interação social;b) repartir interesses, sentimentos,
crenças, atitudes; c) residir em um território específico; e d) possuir um determinado
grau de organização”.
Comunidade é conceito ausente na história das ideias psicológicas. Aparece como
referencial analítico apenas nos anos 70, quando um ramo da psicologia social se
autoqualificou de comunitária. Assim fazendo, definiu intencionalidades e destinatários
para apresentar-se como ciência comprometida com a realidade estudada, especialmente
com os excluídos da cidadania. (SAWAIA,1994).
Assim, o conceito de comunidade não é mérito exclusivo da psicologia social. Esse
conceito introduziu a incorporação de um corpo técnico e epistemológico da psicologia
social, pois, representou a criação de um campo teórico que visa transformar o homem
no contexto em que vive, levando em consideração a sua subjetividade.
De acordo com Pierson (1974) as comunidades surgem do simples fato de
vivermos em simbiose, isto é, de viverem juntos num mesmo habitat indivíduos tanto
semelhantes quanto diferentes e da ‘competição cooperativa’ em que se empenham. As
comunidades são estudadas como partes organizadas funcionalmente mutável,
enfatizando a divisão de trabalho, a especialização de atividades e a concentração dos
indivíduos em instituições.
As relações comunitárias que constituem uma verdadeira comunidade são relações
igualitárias, que se dão entre pessoas que possuem iguais direitos e deveres. Essas
relações implicam que todos possam ter vez e voz, que todos sejam reconhecidos em
sua singularidade, onde as diferenças sejam respeitadas. E mais: as relações
comunitárias implicam, também, a existência de uma dimensão afetiva, implicam que as
pessoas sejam amadas, estimadas e benquistas. (CAMPOS 2009).
Considerações Finais
Conclui-se através dessa literatura que a psicologia social comunitária teve sua
construção a partir de um desejo de proporcionar autonomia para uma sociedade, e foi
realizada a partir de movimentos políticos e sociais que foram desenvolvidos ao longo
de quatro décadas. Desse modo, fica claro a expressão “conscientização” como mola
propulsora do movimento na comunidade, visto que essa motivação é diretamente
relacionada com a formação da individualidade crítica, da consciência de si e de uma
nova realidade social que é esperada que o sujeito alcance em seu grupo social.