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A identidade em psicologia social: dos processos indenitários às representações sociais

Capítulo 8 – Representações sociais


DESCHAMPS, Jean Claude; MOLINER, Pascal. A identidade em psicologia social: dos processos indenitários
às representações sociais. Tradução de Lúcia M. Endlich Orth. Petrópolis: Vozes, 2009

No capítulo 8, “As representações sociais”, são elucidadas a noção e conceito


das representações sociais proposta por Serge Moscovici (1961), o que ele chama
de “universo de opiniões. São apresentados os três grandes modelos teóricos das
representações sociais: a abordagem sociogenética, que se interessa pelas
representações em formação; a abordagem estrutural, que se concentra nas
representações estabilizadas e descreve a sua estruturação interna, com destaque
para os estudos realizados por Abric (1987, 1994); e, por último, a abordagem
sociodinâmica, ou teoria dos ‘princípios organizadores’, postulada por Doise (1990,
1992), que se concentra nas inserções sociais dos indivíduos.
Os autores tratam ainda de dois processos cognitivos intrínsecos à
representação social, dentro da abordagem sociogenética, chamados de ancoragem
e objetivação. A ancoragem se refere ao processo pelo qual as pessoas buscam
associar um novo objeto, ideia ou evento a algo que já conhecem e que lhes é
familiar. Por exemplo, se uma pessoa ouve falar sobre um novo produto que ainda
não conhece, ela pode tentar relacioná-lo a produtos similares que já conhece e que
são familiares a ela. Essa associação pode ajudar a pessoa a entender melhor o
novo objeto e a se sentir mais confortável com ele. Já a objetivação, por sua vez, é o
processo pelo qual as pessoas transformam conceitos abstratos e complexos em
algo mais concreto e tangível. Por exemplo, a ideia de justiça pode ser objetivada na
forma de um tribunal ou de um juiz que aplica a lei de forma imparcial. A objetivação
ajuda a tornar os conceitos mais acessíveis e compreensíveis para as pessoas,
tornando-os mais fáceis de serem transmitidos e compartilhados entre os indivíduos
e grupos sociais.
Deschamps e Moliner buscam caracterizar as representações sociais têm
uma função indenitária, afirmando que os grupos sociais, partindo do conhecimento
de sua identidade, se aproximam dentro do mesmo grupo (endogrupo) por afinidade
das representações dos objetos compartilhados e esse fenômeno é chamado de
assimilação. Quando dois grupos distintos, cada um com sua identidade se

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comparam por vezes existem divergências que se chama de contrates e quando o
indivíduo abandona, temporariamente, suas crenças e busca afinidade com a
representação de outros grupos é chamado de dissimilação.
Os grupos sociais possuem representações de si mesmos e de sua posição
em relação a outros grupos. Essas representações têm um papel crucial na
formação do sentimento de identidade, uma vez que são responsáveis por ajudar os
indivíduos a compreender suas semelhanças e diferenças em relação aos outros.
No entanto, o papel das representações sociais não se limita a isso, a forma como
os indivíduos se percebem, percebem os outros e mantêm suas representações
sobre suas posições sociais também influencia a forma como representam certos
objetos sociais.
As representações sociais instrumentalizadas referem-se às formas como as
representações sociais são utilizadas pelos indivíduos e grupos para atingir objetivos
práticos e concretos, tais como justificar comportamentos, construir identidades e
orientar a ação em determinadas situações. Elas envolvem a seleção de elementos
das representações sociais que sejam mais úteis para a consecução desses
objetivos e a sua articulação com outras informações relevantes. Por exemplo, um
grupo social pode utilizar uma representação social negativa de outro grupo como
forma de justificar a sua própria superioridade e reforçar a sua coesão interna. As
representações sociais instrumentalizadas podem ser influenciadas por fatores como
a posição social, a identidade grupal, as necessidades e interesses específicos dos
indivíduos e grupos envolvidos.
As representações sociais têm um papel importante na regulação indenitária
dos indivíduos, uma vez que são usadas para compreender e interpretar o mundo
social e as relações que estabelecem com os outros. Elas funcionam como um
quadro de referência que orienta as percepções, julgamentos e comportamentos dos
indivíduos, contribuindo para a construção da identidade social e individual. As
representações sociais podem ser entendidas como um processo dinâmico e
contínuo de construção e reconstrução da identidade, uma vez que são
influenciadas por experiências, interações e contextos sociais diversos. Em síntese,
as representações sociais são reguladoras indenitários porque fornecem uma base
cognitiva para a compreensão e interpretação da realidade social, assim como para
a construção e reconstrução da identidade social e individual.

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As representações sociais justificadoras são um tipo de representação social
que servem para legitimar ou justificar ações, comportamentos, valores ou normas
sociais em uma determinada sociedade ou grupo. Essas representações são
construídas a partir de argumentos, discursos e narrativas que buscam fundamentar
e explicar as crenças e comportamentos de um grupo. No entanto, é importante
destacar que as representações sociais justificadoras não são universais ou
imutáveis. Elas podem mudar ao longo do tempo, de acordo com mudanças sociais
e históricas, e podem ser contestadas por outros grupos que não compartilham das
mesmas crenças e valores.

Perguntas

01. Entendendo que as representações sociais participam do processo de


construção identitária dos grupos, como acontecem os processos de assimilação,
contraste e dissimilação?

02. De que forma as representações instrumentalizadas explicam as diversas


formas de preconceitos sociais, como o racismo?

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