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UNIDADE 2.

CONCEITOS
FUNDAMENTAIS EM
CIÊNCIAS SOCIAIS
2.1. Principais conceitos em sociologia: grupos e
instituições sociais, socialização, controle social,
papel social e status social, estratificação social e
mobilidade social, normas sociais e coerção social.

2.2. Principais conceitos em antropologia:


darwinismo social, evolucionismo cultural,
etnocentrismo e relativismo cultural

2.3. Natureza e cultura: determinismo geográfico,


determinismo biológico e endoculturação
Profª Ms Christianne Lara
2.1. Principais conceitos em sociologia
  Vamos apresentar alguns dos conceitos
fundamentais da sociologia e da antropologia e
procurar “descobri-los” no mundo real.

 Se estamos falando de ciências sociais e, como


vimos, as disciplinas que a compõem
(sociologia, antropologia e ciência política) têm
como ponto de partida as sociedades humanas,
nada mais natural que comecemos pelo
conceito de sociedade.
Responda
rapidamente: o que
caracteriza uma
sociedade?
 1- Um conjunto de indivíduos organizados. A característica de
organização é fundamental para que se defina o grupo como
social;
 2 - Conjunto ou rede de instituições sociais.

 1 DEFINIÇÃO: SOCIEDADE é um conjunto organizado de


indivíduos.

 Indivíduo é qualquer representante de uma espécie viva.


“Organismo único distinguível dos demais do grupo” .
(Houasis Eletrônico)
  
 2 DEFINIÇÃO: fala de conjunto ou rede de instituições sociais.

 A primeira definição não fala de características humanas mas


a segunda tem características exclusivamente humanas.
INSTITUIÇÃO SOCIAL:

 Então, podemos dizer que sociedade (humana) é um conjunto de


indivíduos organizados em grupos, formando as instituições
sociais.
 Para o antropólogo Malinowski (1978) – instituição social pode
ser compreendida como uma unidade multidimensional, com um
código, ou constituição, dos valores compartilhados pelos sujeitos
envolvidos, também pode ser concebida como um grupo humano
organizado em torno do desempenho de uma atividade regida
por normas e regras. Em outras palavras, podemos entender
instituição social como uma forma socialmente instituída
portadora de regras e valores que exercem influência sobre seus
membros.
 Exemplos clássicos de instituições sociais são: família, Estado e
escolas.
Grupo social:
 Vemos que a definição de grupo social permite pensar em
outros grupos além do humano. Entretanto, a capacidade
que o homem tem de ter consciência de pertencimento a
um grupo faz com que se diferencie das demais espécies.

 Os grupos sociais são classificados em:


  Primários (família, vizinhança), onde há forte vínculo
emocional;
 Secundários (trabalho, exército etc.), mais formais e
menos íntimos;
 De referência, que servem de modelo para ações
individuais (grupo modelo).
Socialização:

 A socialização é o processo pelo qual passamos para


aprendermos a ser um membro da sociedade (Berger,
1977), por meio da internalização de valores, regras de
conduta e comportamento, símbolos e signos para
apreendermos nossas experiências.

 Divide-se em socialização primária, onde a transmissão


dos valores e da cultura é feita pela família; e em
socialização secundária, onde a transmissão é assumida
por outros grupos, como a escola e os grupos de referência.
Interação social:
 O principal mecanismo da socialização é a interação
social e se inicia desde a nossa mais tenra infância. Por
isso a instituição família é tão importante, pois os
familiares são nossos primeiros socializadores, eles nos
ensinam a linguagem, os costumes e as formas de
interação social.

 Em antropologia, um conceito semelhante à


socialização é endoculturação. Por este conceito,
entende-se que o comportamento dos indivíduos
depende de um processo de aprendizagem. Assim, se
um menino e uma menina agem de forma distinta, isto
não acontece em função de seus hormônios, mas é
resultado de maneiras diversas de educação.
Socialização :

 O processo de socialização varia conforme a cultura, por exemplo,


nós somos socializados de maneira diferente dos indianos; mesmo no
Brasil podemos
encontrar diferenças no processo de socialização, considerando as
diferenças
culturais das regiões geográficas do país.
 Dessa forma, podemos entender a socialização como um processo em
constante construção, pois quando interagimos e convivemos com
grupos diferentes aos que estamos acostumados, inevitavelmente
passaremos por um processo de aprendizado para que consigamos
estabelecer um mínimo de comunicação e interação com esses
grupos.
Normas sociais:
 “São mecanismos que asseguram a regularidade da vida
social e a existência de suas instituições...” (COSTA, 2005,
p. 402). As normas sociais são aprendidas (introjetadas)
pelos indivíduos ao longo de seu processo de socialização.
Não é possível a existência de uma sociedade sem normas
sociais. A ausência de normas e regras sociais, ou o não
reconhecimento delas, chama-se anomia.

 Para que as normas sociais possam ser introjetadas e a


socialização ocorra, é necessária certa “pressão” da
sociedade sobre os indivíduos. Esta pressão é exercida por
diversos dispositivos sociais e resume-se no conceito de
coerção social.
Coerção social:
 É importante notar que a coerção social não é, a
princípio, algo ruim ou negativo, como
poderíamos pensar, mas a possibilidade de
existência e manutenção da sociedade.
 Através dos vários sistemas coercitivos, a
sociedade se mantém coesa, isto é, unida e
funcionando adequadamente.
 Já pensou se cada indivíduo resolvesse fazer o
que bem lhe viesse à cabeça, sem qualquer
regulação ou controle externo (ou interno).
Papel social:
 "Conjunto de normas, direitos, deveres e expectativas que
envolvem uma pessoa no desempenho de uma função junto a um
grupo ou dentro de uma instituição” (COSTA, 2005, p. 403).

 Assim que aprendemos a ser um membro da sociedade, podemos


nos deparar com a ideia de “papel social”, isto é, uma posição
social que abarca determinadas características que o sujeito deve
desempenhar.

 Por exemplo: o papel do professor, o papel de mãe, o papel do


enfermeiro, etc. são concepções delimitadas que estabelecem as
características dos comportamentos relacionados
a cada papel (cf. Coulson, Riddell, 1977).
Status social

 Dependendo da posição social que o sujeito ou


um grupo ocupa, esse posicionamento
conferirá um determinado “status social”, que
pode mudar conforme a
época e o contexto social. O status compreende
tanto direitos como deveres relacionados à
posição em questão, podendo conferir prestígio
ou estigma aos sujeitos.
Estratificação social
 O termo estratificação social é usado, no campo da sociologia,
para a classificação que envolve indivíduos em grupos de
acordo com suas condições socioeconômicas. Quando uma
pessoa ou um grupo social leva vantagem e tem privilégios em
detrimentos de outros, dá-se o nome de estratificação social.

 Trata-se de uma característica histórica da sociedade e pode


ser observada desde o início das civilizações. Não envolve
apenas critérios econômicos, mas leva em consideração
também as crenças e as práticas culturais. Comumente, na
cultura ocidental capitalista, as divisões acontecem em três
níveis principais: classe baixa, classe média e classe
alta.
Mobilidade Social

 Mobilidade social significa o fenômeno em que um indivíduo (ou um


grupo) que pertence a determinada posição social transita para outra,
de acordo com o sistema de estratificação social.

 Existem dois tipos de mobilidade social: 


 Mobilidade social horizontal: há uma alteração de posição
provocado por fatores geracionais ou profissionais, mas não implica
uma mudança de classe social. A mobilidade acontece dentro da
mesma classe. Por exemplo, o caso de um trabalhador que migra do
interior para a capital. A sua posição social pode se alterar mas o nível
de renda não sofre grandes alterações e, por isso, permanece na
mesma classe social.
 Mobilidade social vertical: há uma alteração de classe social que
pode acontecer de forma ascendente (de uma classe baixa para outra
superior) ou descendente (de uma classe alta para outra inferior).
Valores sociais:
 Na aprendizagem e exercício dos diversos papéis
sociais que desempenhamos na sociedade, vamos
construindo e desenvolvendo valores.

 Os valores sociais se traduzem na conduta humana por


preferências, gostos e atitudes pelos quais os agentes
sociais manifestam uma apreciação da realidade. São
elementos dos mais importantes no processo de
socialização pelo qual um indivíduo é assimilado a uma
cultura” (COSTA, 2005, p. 407-408).
Conceito de cultura:

 Hoje, pensa-se que a cultura como “um conjunto de


interpretações da realidade” (Clifford Geertz apud
COSTA, 2005, p. 391). De tudo isto, devemos ter claro
que a cultura é fruto do pensamento humano e que todos
os grupos humanos são produtores de cultura, nenhuma
sendo melhor ou superior a outra.

 O etnógrafo Edward Tylor (1832-1917) define cultura


como “(...) todo complexo que inclui conhecimentos,
crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como
membro de uma sociedade” (apud LARAIA, 2003, p. 25).
Etnocentrismo

 Quando entramos em contato com grupos ou pessoas diferentes de


nós, tendemos a avaliá-los de acordo com nossa perspectiva cultural.
Assim, o etnocentrismo pode ser definido como uma “visão de
mundo na qual o centro de tudo é o próprio grupo a que o indivíduo
pertence; tomando-o por base, são escalonados e avaliados todos os
outros grupos” (SUMMER, 1906, p. 13, apud Dicionário de Ciências
Sociais, 1987. p. 437).

 No etnocentrismo, temos a identificação pelo indivíduo com a


cultura do seu grupo e a suposição de que os padrões por ele
exibidos são os melhores e os mais corretos. Embora possa ser
entendido com uma atitude “natural” dos sujeitos no processo de
relacionamento com o outro, pelo menos em uma primeira
aproximação, traz consequências negativas importantes, quando não
permitem que o outro seja positivamente reconhecido.
Evolucionismo cultural
Darwinismo social
 O etnocentrismo tem um “primo” muito próximo: o evolucionismo
cultural. Consequência de uma concepção típica do século XIX, o
evolucionismo cultural, também chamado de darwinismo social,
utiliza-se da lógica das ciências naturais, particularmente da
biologia, para fazer entender a diversidade social e cultural. Como
entender as evidentes diferenças entre sociedades e culturas
espalhadas pelo mundo?

 A lógica evolucionista (cultural) supõe que existam grupos humanos


mais evoluídos, social e culturalmente, que outros, “justificando” a
intervenção nas culturas e sociedades julgadas inferiores. Desde
muito sabemos que não existem culturas superiores ou inferiores.
Cada grupo humano apresenta padrões que lhes são próprios e que
estão em função de sua história e interesses.
Evolucionismo cultural
Darwinismo social
 Os pensadores pró-darwinismo social alegavam que as
populações europeias, por exemplo, tinham capacidades
de evolução superiores ao povo da África, por causa da
revolução tecnológica e científica que estava ocorrendo
na Europa. Assim, os demais povos estariam
condicionados à "seres primitivos", não possuindo
capacidade para o progresso da humanidade.
 Este conceito foi bastante utilizado para tentar explicar a
pobreza durante o período pós-Revolução Industrial. Os
que permaneceram ou ficaram pobres seriam os menos
aptos na linha evolutiva, de acordo com o darwinismo
social.
Relativismo cultural:

 O relativismo cultural “designa a ideia de que qualquer parte do


comportamento deve ser julgada primeiramente em relação ao
lugar por ela ocupado na estrutura da cultura em que ocorre e em
termos do sistema de valor específico daquela cultura. Encerra,
deste modo, um princípio de contextualismo” (Dicionário de
Ciências Sociais, 1987, p. 1057).

 Diferentemente dos conceitos de etnocentrismo e evolucionismo


cultural, a perspectiva relativista procura compreender os eventos
socioculturais presentes nos diversos grupos e sociedades a partir
do próprio grupo.
Dito de outra maneira, um olhar relativista
permite que se compreenda a realidade social
de um grupo “como se fosse” alguém do próprio
grupo. Ao nos colocarmos no lugar do outro,
buscamos ver o mundo como o grupo vê.

Esse descentramento que devemos fazer


permite que a diferença (social, cultural, étnica,
de gênero etc.) não seja valorada
negativamente.

Ao contrário, podemos reconhecer, apesar das


diferenças, que o outro é possível e coerente,
como nós.
2.3. Natureza e cultura: determinismo geográfico, determinismo biológico e endoculturação

 Ainda no século XIX veremos a emergência de outra


perspectiva influenciada pelas ideias darwinistas: a
antropogeografia. Seus estudiosos viam uma relação
entre
as condições ambientais e as diversidades dos povos e
procuravam entender como
as características ambientais interferiam na evolução
das sociedades.
 Esse posicionamento levou alguns teóricos a
classificarem a antropogeografia como
“determinismo geográfico” (cf. Moraes, 1990).
Determinismo biológico
 O Determinismo Biológico atribui as capacidades físicas e
psicológicas do ser humano à sua etnia, nacionalidade ou o
grupo ao qual pertence. Julga-se que um português é burro
apenas por ter nascido em Portugal, que um japonês é
inteligente e bom em matemática apenas por ter Nascido no
Japão e ser de origem oriental.

 Os antropólogos acreditam que a influencia das características


de cada ser humano vem de sua cultura. Uma criança
Japonesa que for criada no Brasil, dentro da cultura brasileira,
irá acabar tendo os mesmos costumes, todas as crianças tem a
mesma capacidade, independente de raça, nacionalidade, sexo
ou classe social, desde que tenham as mesmas oportunidades.
 No livro “Cultura,Um Conceito Antropológico” o autor Roque de
Barros Laraia afirma :

 “A espécie humana se diferencia anatômica e fisiologicamente


através do dimorfismo sexual, mas é falso que as diferenças de
comportamento existentes entre pessoas de sexos diferentes sejam
determinadas biologicamente” .

 Sendo assim homens e mulheres são capazes de exercer as mesma


funções, o que vai definir o que devem ser tarefas exercidas pelo
sexo masculino e o que devem ser tarefas exercidas pelo sexo
feminino vai ser a cultura da sociedade na qual vivem.Meninos e
meninas agem de formas diferentes por causa da educação que
recebem e da cultura que os influencia, não por causa de sua
genética hormonal.
DETERMINISMO GEOGRÁFICO
 O determinismo geográfico considera que as diferenças entre as tribos
não podem ser explicadas pela limitação do seu meio ambiente. Eles
consideram o clima como fator importante no determinismo geográfico.

 A natureza dos homens é mesma, são seus hábitos que os mantêm


separados. Muito influencia na fisionomia do ser humano, ou seja, na
formação de caráter do homem.

 Não é difícil de enxergarmos isso, pelo contrario é uma coisa nítida!


Uma pessoa que nasce na Itália, por exemplo, se levada quando criança
para qualquer outro pais, obviamente não terá os costumes, sotaque,
jeito de um italiano ! Fatalmente, ela será atingida com a cultura do
determinado lugar ou região, com a educação provinda daquele lugar.
Podendo ter nascido um nobre e morrer como um simples trabalhador
rural ou vice-versa.
Endoculturação

 O processo cultural denominado pela Antropologia como


endoculturação ou enculturação é aquele por meio do qual
os indivíduos aprendem o modo de vida da sociedade na
qual nascem, adquirem e internalizam um sistema de
valores, normas, símbolos, crenças e conhecimentos.
 São, por assim dizer, condicionados a um padrão cultural.
 Endoculturação significa interiorização, assimilação,
apropriação, absorção, aprendizagem. É um processo
social que se inicia na infância mediado pela família, pelos
amigos, posteriormente, a partir da escola, da religião, do
clube, do trabalho, do partido político e de tantos outros
grupos sociais.
Aculturação
 Um conceito caro aos funcionalistas é o de “aculturação”: “processo
através do qual sociedades diferentes, entrando em contato, tendem a
manter troca de elementos culturais” (Costa, 1987: 94) .

 A aculturação é o processo de troca e/ou fusão entre culturas. Através


do contato prolongado ou permanente, duas ou mais culturas
permutam entre si seus valores, conhecimentos, normas, hábitos,
costumes, símbolos, enfim, seus traços culturais.

 Nesse processo, uma cultura se caracteriza como doadora e a outra


como receptora, o que não significa dizer que este seja um processo de
via única, ou seja, quando em contato, todas as culturas podem sofrer
mudanças, pois ocorre aí um processo de influxo recíproco
(ULLMANN, 1991).
O que isto
tem a ver
com a
saúde?
CONT..
 Sendo parte das produções
sociais, as idéias de saúde e
doença devem ser
compreendidas a partir dos
significados próprios que cada
grupo lhes atribui.
O que isto quer dizer?

 Que saúde e doença não estão apenas referidas


a uma dimensão orgânica ou fisiológica. Mais
do que isso, estão intimamente relacionadas
com a forma como os grupos humanos e a
sociedade significam suas vivências.

 Podemos ver com clareza que o que é


considerado doença (ou sinal de saúde) em
uma sociedade, pode não ser em outra.
 Uma criança
gordinha pode
representar, para um
grupo, sinal de bons
cuidados e boa
nutrição, ao passo
que, para outro,
pode indicar
descontrole ou
alimentação
inadequada.
Outro exemplo poderá esclarecer melhor este pensamento: até muito
pouco tempo atrás, o que hoje é chamado de “síndrome de tensão
pré-menstrual” (TPM)

 As mulheres que tinham seu humor alterado no


período que antecedia a menstruação eram vistas
como “nervosinhas”, e suas queixas sobre
sintomas somáticos e psicológicos avaliados como
“frescura”. 

 Em dado momento, por conta de um novo olhar


sobre este evento, o que não passava de simples
queixa injustificada passa a ser considerado
motivo de atenção em saúde, justificando, por
exemplo, dispensa médica.
Natureza e cultura:

 Nosso estudo até agora permite que se chegue a uma


importante conclusão: não existe uma oposição entre
Natureza e cultura. Os determinantes orgânicos, inatos
ou hereditários não são os únicos a organizar o
desenvolvimento humano e os eventos de saúde e
doença. As disposições fisiológicas, necessariamente,
se relacionam com os elementos sociais e culturais,
dando significação e sentido às experiências humanas.

 Sobre uma primeira natureza – orgânica, fisiológica –


o homem constrói uma segunda natureza, que é social
e cultural.
Referências bibliográficas

 MIWA. M. Fundamentos Socioantropológicos


da Saúde. 1ª edição SESES Rio de Janeiro 2015 .

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