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Instituto sapientia de filosofia

Filosofia antiga ii - SÓCRATES

“Em quase todos os domínios só encontro


pessoas que acham que sabem, mas não sabem.
Nada é pior que a ilusão de saber” (E.M. Cioran).

A Filosofia Grega (e romana que pode ser derivada da Grega) ocupa um grande período
de aproximadamente 1° milênio: começa no séc. VI a.C. e termina no VI d.C.
O mais antigo: os pensadores estão em busca de uma matéria primordial, designada
como a filosofia natural mais antiga. Por um lado segue Pitágoras e por outro as escolas mais
recentes da filosofia da natureza (objetivo: buscar uma explicação para o mundo natural).
A filosofia dessa época e considerada pré-socrática. E o período mais antigo, vai de
cerca de 600 a.C. até o início do séc. IV. a.C.
Encontramos os sofistas gregos, que descobrem as condições do pensamento filósofo de
então.
Tales de Mileto foi o primeiro filosofo a surgir.
Com Sócrates, Patão e Aristóteles = o pensamento grego alcança uma leitura impar. São
formados no ramo da: lógica; metafísica, ética, filosofia da natureza e da sociedade, estética e
pedagogia.
Centro é Atenas e vai de meados do sec. V a.C até a morte de Aristóteles em 322 a.C.
Os Gregos atingiram sua máxima maturidade espiritual depois de haverem perdido a
liberdade, quando as sombras da ruína começaram a cair sobre o seu reino e só no crepúsculo
que as corujas de Minerva levantam vôo, como disse Hegel.
Caracteriza-se por uma regressão do sentido para a pesquisa da natureza.
Com o séc. VI d.C. a Filosofia Grega, como fenômeno independente, desapareceu na
história.
Com a Filosofia Antiga é possível explicar muitas coisas do mundo sem histórias e sim
com fatos reais. Há algum tempo atrás a filosofia foi motivo de crítica por ser matéria de escolas,
pois ela alertava as pessoas para a realidade da vida e muitos poderosos não queriam a população
esperta e com isso tiraram à matéria da grade curricular.
A filosofia antiga dava as pessoas muito conhecimento sobre todos os aspectos e isso
assustava muito algumas pessoas, principalmente na política. Entre os filósofos existentes
naquele tempo podemos citar Aristóteles, Sócrates e Platão. Pré-socráticos nesse período os
mitos foram quebrados. Nesse período a preocupação era com o belo universo e até mesmo com
a astronomia. No tempo pré-socrático existiram alguns filósofos e os que mais foram importantes
são: Demócrito, Heráclito, Pitágoras, Parmênides, Anaxímenes, Tales e Anaximandro.
Com Sócrates, a filosofia antiga começa a falar das relações humanas como a ética, as
técnicas e a política. É também conhecido esse período como antropológico. Destaca-se com
Sócrates nessa época Aristóteles e Platão. Nessa época ficaram marcados os diálogos de Platão e
as obras de Aristóteles. Com os métodos socráticos ficaram importantes estudos de ética, o mito
da caverna, a lógica, política, retórica, a noção da universidade e a teoria das formas. No período
sistemático a filosofia fala da cosmologia e também da antropologia voltadas para a ciência.
No período helenístico terminou por causa da queda do império romano e o grande
início da idade média. Nesta época a filosofia antiga ganha novos horizontes tomando entre eles
Alexandria e Roma. Começa a atingir também os padres, visando à ética com relação a natureza
e sua beleza e ao amor em Deus se preocupando assim com a cultura religiosa, bem como
trazendo mensagens de vida. Podemos citar também algumas escolas de filosofia do período
helenístico que são: Cinismo, Epicurismo, Estoicismo e Ceticismo.
Desde o início, o princípio único, fundamento (arché) e tirado da natureza. Pouco a
pouco o pensamento explicita sua peculiaridade e nasce a filosofia quando procura um
fundamento unitário, uma justificação, uma ordem e um fim para a realidade, assimilando a
multiplicidade dela as suas próprias leis e buscando no seu intimo a essência, a substância.
Aristóteles, no quarto livro da metafísica, define a filosofia como o estudo do ente
enquanto ente, isto é, o SER. Fazer filosofia, é portanto, pensar o SER, aquilo que permanece
para além do fluxo acidental dos fenômenos. A filosofia se refere ao pensar, ao refletir, ordenada
e coerentemente.
A História da Filosofia é a última busca da verdade. Abbagnano define a Filosofia como
uma necessidade do homem, enquanto tal. Trata-se de uma atividade imprescindível, não pode
ser rejeitada, pois até um ataque para destruí-la acaba demonstrando que ela e necessária. Se
nego a verdade, só posso fazê-lo em nome de outra verdade, de outra condição julgada
verdadeira por mim. São ilusórias as teses do relativismo e do ceticismo. Relativizar o relativo
ou duvidar da duvida nada mais é senão confirmar o Absoluto e a Verdade.
Duvidar da própria duvida, significa livrar-se dela. Mas se não há duvida sobre o
próprio duvidar, fica claro que existe igualmente a certeza e a verdade.
O Ceticismo e o Relativismo são importantes como meios de se chegar a verdade como
critério de averiguação, de pesquisa, de aprofundamento, como instrumento de purificação de
dados, eles não podem ser encarados como campo da opinião subjetiva e arbitrária.
Antes de Sócrates, as escolas filosóficas viam na natureza o seu objeto privilegiado, mas
com Sócrates, o Homem – sua interioridade misteriosa e seu mundo espiritual – se torna pela
primeira vez, o alvo permanente da pesquisa.
Costuma-se remontar as colônias Gregas da Ásia Menor mais precisamente a Mileto, a
primeira indagação filosófica que desencadeou a história do pensamento ocidental.
TALES DE MILETO (624 -546 a.C.)
Fundador da escola de Mileto. Para ele, a arché, e ainda um principio natural (a água).
Tenta explicar e justificar os diferentes fenômenos, fundamentando-os numa unidade.
ANAXIMENES (588 -524 a.C.)
Admitia que a origem das coisas é indeterminada. Acredita ser o AR o principio de
todas as coisas; enquanto sopro vital, respiração do mundo.
ANAXIMANDRO (610 -547 a.C.)
Mestre de Anaximenes. Denominou o APEIRON, termo grego que significa
indeterminado, infinito, massa geradora, de que tudo foi feito e que a tudo governa.
Além da Escola de Mileto, destaca-se HERACLITO (Éfeso 500 a.C.). Pensou o logos
como lei racional que regula o devir do mundo. Tudo flui, nada persiste, nem permanece o
mesmo. O ser não e mais que o vir-a-ser. “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio”. Na
segunda vez não somos os mesmos e o rio mudou.
Concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente transformação. E
pela luta das forças opostas que o mundo se modifica e evolui.
O logos representa a unidade que harmoniza os contrastes; sem anulá-los. Trata-se de
uma unidade embasada numa tensão, como sugere a imagem do fogo, que é vida e morte,
queima e destrói mas que regenera e purifica, numa unidade vital em transformação.
Para ele a linguagem reflete, portanto, nas palavras o que acontece na realidade.
O fogo e a mais perfeita simbologia do devir, da oposição entre os elementos que
compõem a realidade dos contrastes nela existentes.
O Logos, o pensamento, e que harmoniza os contrários, unifica as oposições, e torna
possível a presença simultânea de elementos divergentes.
ESCOLA PITAGÓRICA – fundada por PITÁGORA DE SAMOS.
PITÁGORAS (571 – 497 a. C.)
Além de tratar a matemática como ciência real e verdadeira, encontrou no numero a
substância das coisas, uma ordem mensurável do universo.
PARMÊNIDES (516 a. C.) – FUNDADOR DA ESCOLA ELEÁTICA.
Viu no ser a substância única. Para ele o ser e o absoluto pleno, o presente eterno,
imutável, uno e necessário. A verdade e o ser, ao passo que o devir, a mudança e só aparência e
ilusão.
Tese defendida posteriormente por Zenão de Eléia, através de um método que
Aristóteles definiu como dialética.
Sustentam que o homem e incapaz de pensar o movimento, obrigando-o de certa forma
a optar pelo ser imutável. O movimento não e pensável e só é percebido pela experiência. Só tem
significado o que permanece na realidade permanente, é a única realidade permanente é o
pensamento, o ser pensado. Portanto só posso pensar o ser, porque é imutável.
A Escola Pitagórica com o número e a Escola Eleática com o ser diferem-se dos
princípios naturais e de Tales de Mileto.
Com EMPÉDOCLES (490 a.C.) se deu novo acento naturalista. Para ele tudo tem 4
raízes: água, ar, terra e fogo, que se amam e se odeiam.
Não procuram mais o arché, mas como podem acontecer as mudanças, as
transformações.
ANAXÁGORAS (499 – 428 a.C.). A arché múltipla é constituída de partículas
materiais mínimas e indivisíveis, as sementes. A força motriz dessas sementes é a inteligência
divina que seleciona e ordena o caos. Aparece pela primeira vez uma alusão ao finalismo da
natureza, a concepção de que a realidade se oriente para um determinado fim.
DEMÓCRITO DE ABDERA (460 a.C.) Maior naturalista de seu tempo. Os átomos são
partículas mínimas da matéria das quais tudo se compõem. Com os atomistas surge a primeira
explicação mecanista do universo, leis necessárias e, previsíveis, isentas de qualquer inteligência
reguladora.

Sócrates (470 – maio de 399 a.c)


A VIDA.
Originário de burgo de Alôpekê, em Atenas, é filho de Sofronisco e de Fenareta. Seu
pai teria sido escultor ou talhador de pedras. Quanto a sua mãe, duvida-se cada vez mais que seu
nome tenha sido Fenareta e que tenha exercido a profissão de parteira. No dia que se apresenta
diante dos juízes em 399 a. C. Sócrates tinha 70 anos o que insinua seu nascimento por volta do
ano 470-469 a.C.
Sobre a vida privada não se dispõe de muitas fontes confiáveis de informação, sem
contar que os dados são muitas vezes contraditórios, sobretudo no que se refere à sua situação
matrimonial. Segundo uma tradição que remonta a Platão e a Xenofonte, Sócrates era casado
com Xantipa que lhe teria dado três filhos. Segundo outra tradição confusa e suspeita, Sócrates
era bígamo, pois teria casado com Xantipa e com Mirto, a neta de Aristides o Justo. Xantipa foi
pintada por uma imagem de megera e de uma esposa rabugenta e quando Sócrates era
perguntado sobre escolher ou não casar, ele respondia: “Quer tenhas feito uma ou outra coisa te
arrependerás” (Cf. Diógenes Laércio).
Platão e Xenofonte não esboçam um retrato lisonjeiro do físico de Sócrates: ele tem um
nariz chato, olhos salientes, é beiçudo e barrigudo e com um físico pouco atraente. Sócrates
também não buscava camuflar sua feiúra sob requintes das vestes: passeava descalço e trazia
sempre, tanto no verão como no inverno, o mesmo manto. Mesmo com esta aparência era um
tremendo sedutor. Ele exercia tal influencia sobre os jovens que formavam o cortejo de seus
admiradores, que eles chegaram a adotar alguns de seus hábitos: passeavam descalços, deixavam
de banhar-se, etc. Para descrever esse comportamento digno de “grupos”, Aristófones até criou
um verbo a partir do nome Sócrates; de fato em Aves, ele ridicularizava aqueles que “usavam
cabelos compridos, passavam fome, viviam sujos, constituíam os Sócrates”.
A modéstia de suas vestes e o próprio fato de que não conhecia outra ocupação a que
ele se dedicasse, a não ser a filosofia, concordam com os testemunhos que comprovam a sua
pobreza.
No que se refere a sua formação uma tradição tardia lhe atribui como mestres
Anaxágoras e Arquelau. O certo é que Platão e Xenofonte foram seus discípulos e o que nos
sabemos provém deles.
O episodio da vida de Sócrates que dispõe de maiores informações, é o processo que é
acionado contra ele no ano de 399 a.C., cinco anos após a guerra de Poloponeso, que terminou
com um humilhante derrota de Atenas frente a Esparta. Sócrates foi acusado de não crer nos
deuses da cidade (não honrá-lo, não render-lhes culto. Acusação de ateísmo), de introduzir novas
divindades e corromper a juventude, incitando-o a não crer nos deuses da cidade e a honrar em
seu lugar novas divindades.
Com ele o homem torna-se objeto privilegiado da pesquisa filosófica. Há quem
considere que a filosofia propriamente dita só começou ou só chegou a maturidade com Sócrates.
As informações sobre ele nos vêm de seu maior discípulo Patão, que em sua totalidade
foram redigidas em forma de diálogo. Apresentam Sócrates como interlocutor e quase sempre
como condutor de uma conversação.
Para Sócrates a base da filosofia é o diálogo, porque sempre que alguém fala suscita no
outro uma resposta. Provoca no outro a superação de uma mera opinião subjetiva.
Ponto de partida Socrático está na convicção da ignorância própria e de todas as
pessoas. Por ai insinua à dúvida que no diálogo põe em discussão cada resposta (ironia), fazendo
surgir no seu íntimo e de próprio interlocutor a resposta verdadeira (maiêutica), com as marcas
do universal e do ideal, superior a toda opinião subjetiva (conceito). Para Sócrates, saber é uma
virtude. Quem sabe procura o bem, o mal e fruto da ignorância.
O mundo em que Sócrates apareceu era eticamente arbitrário, repleto de relativismo
moral e ausência de considerações pelas verdades eternas.
Sócrates era ansioso pelo debate filosófico em qualquer lugar.
Rejeitou a Escola de Empédocles e dos Pré-socráticos por não acreditar que a verdade
estava no mundo natural.
Sócrates sentia a pureza dos conceitos com o mesmo prazer que anima a um místico
exaltado que respira a união com a divindade.
Não seguiu a profissão do pai (escultor) mas dedicou-se pelo resto da vida à meditação
especulativa e filosófica.
A fama de Sócrates como guerreiro esforçado não passou do pequeno círculo de seus
companheiros de armas mais próximos já que não havia ocupado nenhum cargo de comando. Os
trinta tiranos o consideram no início como um partidário, devido as suas relações com seu
general Crítias, mas Sócrates negou sua cooperação.
Duas coisas podem ser aplicadas com razão a Sócrates, assim diz seu discípulo
intelectual Aristóteles: os discursos indutivos e a fixação dos conceitos gerais.
O que sabemos e dos 40 anos até sua morte. Foi capaz de viver a vida de cavalheiro do
ócio e de um filósofo artífice.

Duas fontes para conhecer Sócrates: Platão e Xenofontes.


Sócrates não deixou nada escrito. Conhecemos sua vida e seu pensamento através de
testemunhos.
O Sócrates que exerceu maior influência, tanto para a Filosofia grega ulterior como a
tradição filosófica ocidental é o Sócrates de Platão. O personagem figura em mais de vinte
diálogos.
Eis algumas diferenças entre os dois Sócrates (o de Platão e o de Xenofontes):
1) Sócrates (X) não se declara ignorante de um tema que depende da moral e está em
condições de definir as virtudes, já o de Platão, pretende-se ignorante dos temas mais
importantes e busca em vão definir as virtudes. O Sócrates (P) está pois engajado numa busca
sempre recomeçada, enquanto o de Xenofontes jamais da a impressão de estar à busca de uma
resposta ou de uma solução a um problema que dispõe.
2) Sócrates (X) reconhece abertamente que ele ensina e que é um expert em
educação. O Sócrates (P) pretende ao contrário que não foi o mestre de ninguém, e se apresenta
muitas vezes como o aluno de seu interlocutor.
3) Sócrates (X) reconhece que não faz política, mas admite sem rodeiros que forma
jovens para a política, enquanto o Sócrates (P), que jamais reconhece que dá esta formação, acha
que ele é o único a fazer política, no sentido de ser o único que se preocupa em tonar melhor seus
concidadãos.
4) Para Sócrates (X) a política é uma técnica. Para Sócrates de Platão, a política é um
verdadeiro saber moral.
5) O Sócrates (X) atribui muita importância a economia em geral e as condições da
prosperidade material, enquanto o Sócrates (P) é completamente indiferente a isso. Considera
que a única tarefa do bom cidadão é tornar melhor seus concidadãos, isto é, virtuosos. Para
Sócrates (X) a tarefa do bom cidadão é enriquecer a cidade.
6) Sócrates (P) é muito crítico a respeito dos grandes dirigentes atenienses de seu
tempo. Sócrates (X), ao contrário, consagra-lhes seu maior respeito.
7) Sócrates (X) incentiva aqueles que aspiram às honras, já Sócrates (P) é estranho à
busca das honras e prega a renuncia a esta forma de ambição.
8) Sócrates (X) considera que a virtude é fruto do exercício e que pode perdê-la logo
que se deixar de treinar, enquanto o Sócrates (P) que identifica a virtude como um conhecimento,
não parece reconhecer que se possa perdê-la.
9) O Sócrates (X) dá muita importância ao cuidado do corpo, o Sócrates (P) se
interessa com o cuidado da alma.
10) Sócrates (X) considera que a virtude de um homem consiste em fazer bem a seus
amigos e mal a seus inimigos. Sócrates (P) afirma o contrário, que jamais se deve fazer mal a
alguém, nem mesmo para revidar o mal que alguém nos tenha feito.
11) Sócrates (P) é celebre em sua natureza desconcertante, que tem por efeito
confundir e desorientar seus interlocutores. Sócrates (X) jamais faz seus interlocutores cair em
embaraços.
12) Sócrates (P) se considera investido de uma missão pelo deus de Delfos, a missão
de viver filosofando. Sócrates (X), não se vê investido de nenhuma missão desta natureza,
também não vê no exercício da filosofia, concebida como o exame de si mesmo e do outro, um
ato de piedade e um engajamento a serviço da divindade.
13) Em Platão jamais o sinal divino intervém em favor dos amigos de Sócrates e
nunca indica a este último o que ele deve fazer. Enquanto que para Xenofonte vê no modo divino
um modo de adivinhação como qualquer outro.
14) Sócrates (X) reconhece que os deuses têm o poder de falar mal aos homens.
Sócrates(P) se recusa a considerar que os deuses possam ser a causa de um mal.

A origem da vida filosófica de Sócrates: o oráculo de Delfos.


De todos os diálogos da juventude, é sem duvida a Apologia de Sócrates que oferece a
exposição mais rica dos principais temas da filosofia de Sócrates. Seria um erro acreditar que a
Apologia não passa de um escrito circunstancial, no qual Platão buscava unicamente relatar à
defesa pronunciada por Sócrates, por ocasião de seu processo, sem expor na mesma ocasião as
linhas mestras de sua Filosofia. A Apologia é, ao contrário, um manifesto filosófico: nela, a
defesa de Sócrates é concebida como ilustração da vida que ele levou, vida que se confunde com
o exercício da filosofia. Para justificar seu gênero de vida e explicar as sólidas inimizades que
este gênero de vida suscitou. Sócrates acha necessário contar o oráculo que a Pitia proferiu a seu
respeito, quando seu amigo Querofonte tinha ido consultá-la em delfos. Quando Querofonte lhe
perguntou se existia alguém mais sábio do que Sócrates, a Pitia respondeu que não havia
ninguém mais sábio. Ao tomar conhecimento deste oráculo, Sócrates primeiro não quis acreditar,
pois não se achava nenhum sábio, mas não pôde duvidar da veracidade do oráculo, uma vez que
não é permitido ao deus mentir.
Sócrates ocupa uma posição intermediária entre os homens e os deuses que são os
únicos detentores do verdadeiro saber. Esta posição corresponde de fato à do filósofo, tal como
Platão a descreve no Lisis, e no Banquete. Como seu nome indica, o filósofo é aquele que aspira
ao saber, que é o apanágio da divindade. Mas esta aspiração supõe que se reconheça previamente
a própria ignorância, pois aquele que se crê sábio jamais se dedicará a buscar o conhecimento do
qual está de fato desprovido.
A superioridade de Sócrates sobre os outros homens não é absoluta nem definitiva. Ela
está ao alcance de todos os homens, pois segundo a interpretação que Sócrates dá do oráculo, o
deus não se contenta com proclamá-lo o mais sábio, pois convida os outros homens a também se
tornarem sábios como ele. Todos os homens podem ter acesso a mesma sabedoria que é a dele e
da qual ele mesmo tomou consciência graças ao oráculo, Sócrates considera que a divindade lhe
confiou uma missão, a de fazer com que os homens reconheçam a ignorância que abrigam dentro
de si, sem o saber, e que os impede de tornar-se melhores.
Os paradoxos socráticos, são posições éticas defendidas por Sócrates que vão contra o
opinião comum. Os paradoxos socráticos são: 1) a virtude é um conhecimento: vai contra as
opiniões mais difundidas sobre a natureza da virtude e sobre seus métodos de transmissão. Os
gregos consideravam que a virtude era um dom divino, era pelo menos incomum considerar que
ela é um conhecimento que basta adquirir para tornar-se virtuoso; 2) ninguém faz o mal
voluntariamente; 3) as virtudes constituem uma unidade: O homem piedoso tem necessidade de
todas as virtudes. A unidade das virtudes vem do fato de que o saber que serve de fundamento a
cada uma delas é essencialmente o mesmo: o conhecimento do bem e do mal. O conhecimento
do bem e do mal resume por si só o conhecimento indispensável a virtude. 4) é preferível sofrer
uma injustiça do que cometê-la; 5) jamais se deve responder a injustiça pela injustiça, nem fazer
mal a outrem, nem mesmo aquele que nos fez mal.

Seu comportamento.
Nunca aceitou nada pela sabedoria que compartilhava, buscava a verdade e não a
riqueza.
O Oráculo de Delfos, prematuramente anunciou que Sócrates era o homem mais sábio
do mundo. Ele reagiu dizendo que se fosse era porque os indivíduos afirmavam e o sábio não
sabe absolutamente nada. Sócrates, na versão apresentada por Platão, situa o início da sua
atividade intelectual na fase madura (40 anos), quando teria recebido sua missão. Essa missão
origina-se numa consulta que seu amigo Querefonte faz aos deuses ao santuário de Delfos, para
saber se havia um homem mais sábio do que Sócrates. A resposta e negativa. Sócrates prossegue
buscando alguém mais sábio, acreditando estar assim a serviço dos deuses. Manteve-se fiel a
seus princípios ate o fim.

Sócrates em Atenas.
Atenas foi tomada por Esparta e houve um governo chamado “trinta tiranos”. A
hegemonia de Atenas faz crescer as rivalidades com Esparta, que vão culminar, em 431 a.C., na
Guerra do Peloponeso. O conflito estende-se ate 404 a.C.
Sócrates vive o apogeu e a crise da democracia ateniense. Atenas após a vitória sobre os
persas, torna-se uma grande potência, estendendo sua influência por quase toda a Grécia.
Com a derrota, o regime democrático, que já encontrava enfraquecido por intrigas,
conspirações e corrupção, cede lugar ao governo dos Trinta Tiranos. Embora restaurada em 403
a.C., a democracia ateniense jamais será a mesma. A crise de valores políticos e morais é intensa
e a condenação de Sócrates, em 399 a.C., é uma triste metáfora da decadência da democracia de
da própria Atenas. Foi acusado com rumores difamatórios, mas negou a acusação.
Distanciou-se dos Sofistas (mestres na arte de argumentar) e apresenta as certezas com
bons argumentos.
De Sócrates, ficaram varias imagens. Filho de um escultor e de uma parteira, talvez em
Atenas já reconhecido como “sábio”.
Sócrates também não se distingue pelo que fala, pois seu assunto e o que esta
diariamente na boca de todos. A diferença está no modo como ele conversa, mostrando que no
plano das opiniões todos tem razão e, por isso, ninguém a tem. Não lhe interessam palavras belas
e sedutoras; ele quer conhecer a essência das coisas.
Sócrates simplesmente pergunta. Não ensina; quer aprender. Ele mostra que o
pensamento deve ser mais prudente. Se as respostas saem fáceis e porque a pergunta foi mal
formulada, e apenas contorna o problema.
Discutem-se os meios para atingir determinados fins, em vez de examinar os próprios
fins. O que Sócrates propõe é formular perguntas adequadas, isto é, um método de investigação
que encaminhe o pensamento em direção a essência das coisas, sem desvios. Nunca vai
diretamente a questão “o que e?”. Sempre primeiro ouve e apresenta objeções aos argumentos
dos outros. O diálogo cumpre essa função de “experimentação”. O pensamento precisa de um
interlocutor, como quem possa sempre discutir. O verdadeiro conhecimento nasce deste dialogo.
A pergunta “o que e?” remonta aos tempos dos primeiros filósofos de Jônia.
À Sócrates interessa o homem e suas ações, exatamente aquelas tidas como virtuosas,
numa época em que ser virtuoso é quase sinônimo de ser cidadão e tudo se justifica em nome da
virtude.
Conhecê-la torna-se, assim, o principal objetivo do verdadeiro conhecimento. Quem
pratica o mal ignora o que seja virtude. E quem tem o verdadeiro conhecimento só pode agir
bem. Desse modo, conhecimento e virtude tornam-se sinônimos. Com Sócrates as questões
morais deixam de ser tratadas como convenções baseadas nos costumes, as quais se modificam
conforme as circunstâncias e os interesses, para se tornar problemas que exigem do pensamento
uma elucidação racional. Nesse sentido, ele é o fundador da Ética.
Sócrates põe o dedo na ferida da própria Atenas. Os poderosos decidem condená-lo. O
pretexto é o de ofender os deuses da cidade e corromper a juventude. Baseia-se, esta última
acusação, no fato de Sócrates não esconder seus hábitos homossexuais.
Sócrates também abandonou as preocupações que dominavam os filósofos pré-
socráticos em buscar o princípio primeiro de tudo que existe e voltou sua preocupação
filosófica para a questão do homem. A filosofia socrática foi determinada pela convicção de que
o homem traz em si a capacidade de conseguir a verdade. Deste modo, as verdades que o homem
poderia conhecer não seriam aquelas que dizem respeito à natureza física do mundo, mas as de
ordem metafísica, ou seja, aqueles conhecimentos que estão além da realidade sensível (o bem,
as virtudes, os valores, etc...).
Nesse sentido, Sócrates preconizava a existência de verdades universais que são
possíveis de serem descobertas e conhecidas se o ser humano se dispuser a fazê-lo sem
arrogância.
A humildade é o pressuposto fundamental de acesso à verdade, utilizando-se o método
do diálogo. Sócrates preferia a palavra oral à escrita. Não escreveu nada que tenha chegado até
nós. Filosofava nos ambientes das ruas e praças atenienses.
Defendia que existem verdades absolutas e que havia um mundo puramente espiritual
onde vivem tanto as almas dos humanos quanto as verdades absolutas.
A questão fundamental do pensamento socrático é: o que é o homem? A isso ele
respondia que “o homem é a sua alma”. A alma para ele, seria a sede da atividade racional, ética
e do conhecer.

MÉTODO DE SÓCRATES.
Diálogo Socrático = fazia com que o indivíduo pensasse por conta própria até chegar a
resposta.
Era interessado pela verdade em benefício da verdade. Às vezes passava por tolo
mostrando suas ideias pois causava desconforto nos seus diálogos.
Imaginava-se como uma “parteira de ideias” (analogia a sua mãe que era parteira). Ele
arrancava do indivíduo que estava conversando. Dizia seguir a profissão da mãe, parteira, auxilia
os homens a trazer a tona um conhecimento que já se encontra latente em cada um.
O método socrático de ensino, segundo ele mesmo, seria semelhante ao processo de um
parto. Sócrates via a sua missão como a de uma parteira que, ao invés de fazer nascer um bebê,
parteja ideias que já estão em gestação na consciência do ser humano.

O Método de Sócrates e sua finalidade


O método e a dialética de Sócrates também estão ligados a sua descoberta da essência
do homem como psyché, porque tendem de modo consciente a despojar a alma da ilusão do
saber, curando-a dessa maneira a fim de torna-la idônea a acolher a verdade. Assim, as
finalidades do método socrático são fundamentalmente de natureza ética e educativa, e apenas
secundária e mediatamente de natureza lógica e gnosiológica.
Em suma: dialogar com Sócrates levava a um "exame da alma" e a uma prestação de
contas da própria vida, ou seja, a um "exame moral", como bem destacavam seus
contemporâneos. Podemos ler em um testemunho platônico: "Quem quer que esteja próximo de
Sócrates e em contato com ele para raciocinar, qualquer que seja o assunto tratado, é arrastado
pelas espirais do discurso e inevitavelmente forçado a seguir adiante, ate ver-se prestando contas
de si mesmo, dizendo inclusive de que modo vive e de que modo viveu. E, uma vez que se viu
assim, Sócrates não mais o deixa".
E precisamente a esse "prestar contas da própria vida", que era o fim específico do
método dialético, é que Sócrates atribui a verdadeira razão que lhe custou a vida: para muitos,
calar Sócrates pela morte significava libertar-se de ter que "desnudar a própria alma". Mas o
processo posto em movimento por Sócrates já se tornara irreversível. A supressão física de sua
pessoa não podia mais, de modo algum, deter esse processo.
E agora que estabelecemos a finalidade do "método” socrático, devemos identificar sua
estrutura.
A dialética de Sócrates coincide com o seu próprio dialogar (dia-logos), que consta de
dois momentos essenciais: a "refutação" e a "maiêutica". Ao fazê-lo, Sócrates valia-se da
máscara do "não saber" e da temida arma da "ironia". Cada um desses pontos deve ser
adequadamente compreendido.
O método socrático, então, divide-se em dois grandes momentos:
1.    IRONIA (interrogação) – diferentemente do sentido que essa palavra tem hoje, a
ironia socrática consistia numa forma de dialogar onde a arrogância inicial do interlocutor que
julgava já conhecer certo assunto suficientemente, era demolida. Através de perguntas sutis e
logicamente encadeadas, ele levava o interlocutor à contradição. Assim, destruía a arrogância
dos preconceitos e da falsa ciência. Para começar a caminhar rumo à verdade, era necessário
antes que o discípulo assumisse uma postura de humildade reconhecendo a própria ignorância,
até chegar a perceber com o próprio Sócrates que “só sei que nada sei”.
2.    MAIÊUTICA (partejar) – tendo removido as resistências do discípulo pela ironia,
este poderia a seguir, iniciar o caminho para descobrir o conhecimento das verdades que já
possui dentro de si mesmo. Sócrates não ensinava verdades acabadas, mas através do diálogo, e
utilizando uma série de perguntas, levava o seu interlocutor a trazer à luz (parto) as ideias já
existentes em seu espírito.
Para Sócrates, algumas concepções são inatas a todos os homens. Por isso, acreditava na
universalidade de certas ideias. A maiêutica constitui, assim, na arte de partejar, ou “dar à luz”
ideias já existentes na alma, através do diálogo induzido pelo mestre ao discípulo.
Como fim desse processo, ocorre o conceito, quando o discípulo consegue aflorar na
consciência as verdades antes observadas apenas no mundo inteligível das ideias. O discípulo,
por assim dizer, recorda o que já viveu no mundo das ideias, adquirindo o conhecimento
verdadeiro. Por isso, para Sócrates, conhecer é recordar.
No sentido de buscar alcançar definições claras a respeito das coisas, sobretudo no que
concerne às virtudes. O método consiste em um exercício dialógico com o interlocutor, que tem
como característica básica um intercâmbio de perguntas e respostas a partir de uma proposição
inicial posta pelo seu interlocutor, que deverá sustentar sua posição diante dos questionamentos
contínuos de Sócrates, o que normalmente não ocorre. O método apresenta três momentos: a
ironia, a refutação, e a maiêutica. O primeiro momento, a ironia, resulta de uma dissimulação da
parte de Sócrates, que reconheceria seu não saber, o sei que nada sei, onde ele se traveste de
alguém que ignora o que está sendo sustentado pelo interlocutor, e se utiliza de desdém e
zombaria que desagrada o oponente. Quanto a refutação, este também tem uma conotação
negativa, ou seja, é o momento em que há uma desconstrução das teses do interlocutor,
indicando os paradoxos, as contradições, desarmando completamente seu oponente, que acaba
por reconhecer as limitações de seus argumentos, sua falta de consistência e rigor, bem como sua
própria limitação e recém descoberta ignorância. Por fim, temos a maiêutica, quando Sócrates se
apresenta como um parteiro da verdade que se encontra na alma. Esses são, em linhas gerais, os
aspectos principais do pensamento socrático.
Os três escalões do método socrático são então: a indução, a conceituação e a
definição.

O julgamento.
Pelo seu método questionou os acusadores. A defesa que Sócrates faz de si próprio,
relatada por Platão, e um libelo contra os que o julgam.
No julgamento explicou o centro do seu sistema de credo: a coisa mais importante e
viver uma vida virtuosa. Fazer a coisa certa e evitar a transgressão era em que consistia a vida.
Tanto Sócrates, como Platão, eram desconfiados das democracias. Pensavam que um
certo tipo de cidadão treinado e esclarecido deveria estar no controle (conceito de Platão
“Filosofo-Rei”).
Enfrentou a corte sem se importar com as conseqüências. Não apelou para a
misericórdia. Foi sentenciado à morte. Estava pronto para morrer. É melhor morrer do que trair a
si mesmo.
Pronuncia as palavras: “uma vida sem questionamentos não vale a pena ser vivida”.
Também e conhecido pelo “conhece-te a ti mesmo”.
Condenado a morte, foi dito a ele que tentasse fugir e que o governo não o caçaria.
Espera-se que ele fuja, mas como cidadão ateniense, acha que a lei e soberana. Ignorou e tomou
cicuta (veneno extraído de uma pequena planta que crescia em pântanos nos arredores da
cidade).
Platão descreve a cena de forma comovente. Despede-se dos amigos e um dos homens
presentes dá a Sócrates a cicuta (suicídio assistido). Ameniza a dor do grupo dizendo que só o
corpo morrerá. Seus filhos são trazidos até ele. Pede as mulheres para sair. Toma o banho
conversando com o guarda. Se amigo Crito pede que espere até o pôr do sol, mas ele quer acabar
logo com tudo aquilo. Shakespeare disse, “quebra-se um coração nobre”.

Seu legado.
Depois da morte alcançou proporções fabulosas. Muitas escolas afirmavam possuir o
monopólio do pensamento socrático. Na verdade eram pedaços do pensamento socrático
(megarianos focavam na lógica, Escola de Liz a dialética). Somente Platão manteve a tradição
Socrática viva e estabeleceu-se como uma das grandes mentes da antiguidade.
Sócrates, nada escreveu. As fontes que nos permitiram mais fortemente reconstruir sua
filosofia são Platão, Xenofonte, Aristófanes e Aristóteles. Sócrates morreu condenado por
impiedade, ou seja, por não cultuar os deuses oficiais; por introduzir novas divindades; e por ser
considerado um corruptor da juventude, por incutir novos valores, contrários à tradição. A
filosofia socrática parte da necessidade de o indivíduo cuidar de sua alma, daí a alusão à
inscrição encontrada no templo em Delfos, o famoso conhece-te a ti mesmo, que significa que
devemos cuidar de nossa alma, cultivá-la, o que é indubitavelmente mais importante do que bens
materiais ou preocupações com a honra ou coisas semelhantes, pois é através de um processo de
melhoria da alma, do conhecimento, que poderemos atingir a virtude, e a sabedoria, que são as
condições de possibilidade de todos os outros bens: A arte que permite melhorar a si mesmo,
poderíamos conhecê-la sem saber que nem nós somos? Pois este é o único modo de aceder ao
cuidado de si, ou seja, o conhecimento de quem sou realmente permite cuidar adequadamente de
minha alma. É por tal razão que a alma, se quiser conhecer a si mesma deve observar uma alma,
especialmente onde pode ser encontrada a excelência da mesma, o saber, na medida em que esse
conhecimento é imprescindível para que saibamos o que é bom e o que é mau, o que é justo ou
não. Em outras palavras, o aperfeiçoamento da alma leva a que o indivíduo adquira a virtude. O
que é, para Sócrates, a virtude?

Virtude é conhecimento (ciência, sabedoria). Xenofonte afirma: Não fazia qualquer


distinção entre ciência e sabedoria, e desde que alguém conhecesse o belo e o bom e os
praticasse e soubesse o que era mau e o evitasse, esse tinha-o por doutor e por sábio. E quando
lhe perguntavam, com insistência, se achava que aqueles que, sabendo o que deviam fazer,
faziam o contrário, eram sábios e controlados, ele respondia: De modo nenhum, esses são
ignorantes e descontrolados. Acho que todos os homens, escolhendo entre o leque de
possibilidades de que dispõem, fazem o que acham que lhes é mais vantajoso. Por isso creio que
aqueles que não agem corretamente não são nem sapientes nem sábios. Dizia também que a
justiça e todas as outras virtudes são sabedoria, pois as ações justas e tudo quanto se faz de modo
virtuoso é bom e belo, e nem aqueles que conhecem estas qualidades poderiam cometer ações
contrárias, nem os que não as conhecem poderiam realizá-las, porque, mesmo que tentassem,
errariam. Assim, os homens sábios praticam ações belas e boas, e os que não são sábios não só
não o fazem, como, mesmo que o tentassem, não conseguiriam. De modo que, se todas as ações
justas e também as belas e as boas se praticam por causa da virtude, é óbvio que quer a justiça
quer qualquer outra dessas qualidades [virtudes] é sabedoria. Logo, a virtude é identificada com
conhecimento (ciência, sabedoria), o que nos traz o denominado intelectualismo socrático, que
entende cada uma das virtudes como formas de conhecimento que levam o indivíduo a entender
de que modo devem agir nas diferentes circunstâncias, não qualquer conhecimento, mas um
conhecimento enraizado na alma, ou seja, que faz da alma o que ela é. Só podemos saber que
tipo de ações são virtuosas, isto é, justas ou moderadas, por exemplo, se podemos conhecer,
definir racionalmente o que cada uma das virtudes é, conhecê-las. Daí a importância que adquire
a compreensão socrática acerca das definições, seu objetivo primordial nos primeiros diálogos
platônicos, os que tratam da figura histórica de Sócrates, como bem percebeu Aristóteles, ao
relatar que Sócrates tinha preocupações não com o universo físico, mas sim com questões éticas,
e tratava estas questões, como no caso da definição das virtudes, a partir de uma preocupação
com o universal, e não com o particular, com a definição do universal e com os raciocínios
indutivos. Ao contrário, ele buscava o que era comum às diversas definições sobre x, tentando
determinar a essência de x por indução, o que define x em si mesmo, pois é o único modo de
realçar a verdadeira natureza de x, de conhecê-la, deixando de lado as propriedades acidentais
que não o definem verdadeiramente. Bem, se as virtudes são formas de conhecimento, podemos
inferir que elas são condições suficientes para que atinjamos a felicidade (eudaimonia)?
A resposta de Sócrates é positiva, pois a sabedoria leva necessariamente à felicidade.
No Eutidemo, em uma discussão com Clínias, em que ambos reconhecem que os homens
aspiram a vida feliz, Sócrates lista as coisas que em geral são consideradas bens (riqueza, saúde,
beleza, nascimento nobre, poder e honra). Seu passo seguinte é inquirir Clínias se ser sábio, justo
ou corajoso contam entre os bens, e recebe a aquiescência de seu interlocutor. Obviamente, o
saber se encontra entre os bens, e o identifica com o sucesso, com o fato de ser bem sucedido,
lembrando que os flautistas, os escritores e os médicos bem sucedidos são os que conhecem sua
arte respectiva. Desse modo, onde existe o sucesso existe, de modo necessário, o conhecimento
ou saber, devido ao fato de que cada um deles seria feliz por poderem realizar bem aquilo que
lhes é próprio. Não basta apenas possuir, pois é necessário se servir de suas capacidades
específicas para ser feliz: não adianta possuir riquezas se não as utilizo. Devemos, então, fazer
um uso correto dos bens que dispomos, dentre os quais as virtudes. Por conseguinte, é
imprescindível a posse de uma ciência (de um saber, de um conhecimento) que guie a ação e a
torne correta. Não é então somente o sucesso, mas igualmente, parece, o fato de agir com
felicidade que a ciência proporciona em todo tipo de aquisição e atividade. Assim, no que
concerne aos bens, devemos fugir da ignorância, que impede o uso adequado dos mesmos, e
buscar utilizá-los pelo saber, pela razão, já que o saber é um bem, e a ignorância é um mal, isto
faz com que sejamos felizes, que usemos corretamente os bens, pelo fato de possuir a ciência ou
conhecimento, ou sabedoria, que nos proporciona isso. Uma indagação suplementar importante
que é feita sobre a virtude é se ela pode ser ensinada. Dois diálogos tratam mais detidamente a
questão, o Protágoras e o Górgias.
O primeiro trata a partir de uma discussão acerca da unidade das virtudes. No Mênon,
para descobrir qual a resposta que Sócrates dá a este problema. Sócrates argumenta, salientando
a dificuldade de discutir a questão de se a virtude pode ser ensinada sem desvelar, antes, o que é
a virtude, o que o faz discutir hipoteticamente o caso. Desse modo, ele elimina que a virtude
ocorra por natureza, ou que possa ser adquirida por exercício. Resta saber, eliminadas as duas
possibilidades, se ela pode ser ensinada, como defende, por exemplo, o sofista Protágoras no
diálogo que leva seu nome.
De acordo com Sócrates, em temas como este não existe consenso, não permitindo que
existam mestres capazes de ensinar a virtude. Por conseguinte, se nem os sofistas nem os homens
bons são mestres nesse assunto, não haverá nem mestres nem discípulos, e isto também não é
passível de ensino. Assim, os mestres da virtude não podem ser encontrados em parte alguma,
bem como os seus discípulos, o que torna a possibilidade de ensino da virtude irrealizável. Bem,
a virtude, para Sócrates, não pode ser ensinada. Como poderíamos adquiri-la? A sugestão,
aparentemente bizarra, é de que nos teríamos acesso à mesma por uma espécie de sorte divina.
Mas isso, segundo ele, é algo que somente será precisado quando se tivermos uma concepção
clara da natureza da virtude, ou seja, do que é verdadeiramente a virtude. Logo, (a) a virtude é
conhecimento, (b) proporciona a felicidade, e (c) não pode ser ensinada. Agora, de que modo as
virtudes investigadas por Sócrates (sabedoria, justiça, temperança, coragem, piedade) se
relacionam entre elas?

A unidade das virtudes - Para Protágoras, a virtude é uma, e a justiça, a temperança e a


piedade, assim como a sabedoria e a coragem, são partes dela; não necessariamente o indivíduo
que possua uma tenha de possuir todas as outras ao mesmo tempo, já que um homem corajoso
pode ser injusto, o justo pode não ser sábio etc., especificando que cada uma das virtudes é
diferente das demais, pois cada uma tem uma potencialidade própria, como o olho não é como os
ouvidos, nem sua potencialidade é a mesma, não havendo semelhança de qualquer parte da
virtude com outra parte. Obviamente, Sócrates discorda dessa tese: Então, Protágoras, qual das
afirmações vamos deixar? A que dizia que uma coisa é contrária somente a outra, ou aquela na
que se dizia que a sabedoria é diferente da prudência, que ambas são parte da virtude, e que elas
mesmas e suas potencialidades são uma diferente da outra, e dissimiles, como as partes do rosto?
Qual das duas deixaremos? Pois os discursos não possuem consonância alguma; não estão de
acordo, nem se harmonizam ente si. Em rigor, como poderia estar de acordo, se por força uma
coisa é contrária somente a outra e não a várias, mas a sabedoria, e também a prudência, parecem
contrárias à impudência, que é uma; é assim Protágoras lhe perguntei, ou de que outra maneira?
Ora, parece que a prudência e a sabedoria são uma só coisa, como pareceu o caso da justiça e da
piedade, e se as virtudes são uma só coisa, então elas não podem ser diferenciadas, o que tem
como conseqüência a tese segundo a qual quem possui uma virtude possui todas as demais,
deixando transparecer que o que liga todas as virtudes é o conhecimento, por serem, cada uma
delas, formas de conhecimento, o conhecimento do que é bom ou mau para o homem. Portanto, a
justiça, a prudência e a coragem, e toda a virtude, são conhecimento. Desse modo, Sócrates
afirma que há uma unidade das virtudes: possuindo uma delas, possuímos todas.

Ninguém erra (peca) voluntariamente – Essas três palavras encerram o essencial da


filosofia socrática. Essa pequena frase forma a expressão final da convicção de que toda a
infração moral provém do intelecto e reside em um erro do entendimento. Dito de outra maneira:
quem conhece a justiça, cumpre-a; a falta de compreensão é a única fonte de toda falta moral.
Nessa sentença encerram-se, pois, duas coisas distintas. Em primeiro lugar a convicção
de que inúmeras faltas que se cometem positivamente resultam somente do desenvolvimento
totalmente insuficiente do entendimento. E, em segundo lugar, outra convicção que serve de base
a primeira e a condiciona: que a falta de unanimidade entre os homens afeta somente os meios, e
de modo alguns os fins da ação. Todos sem exceção querem o bem. Nisso não divergem entre si,
mas única e exclusivamente na medida em que são capazes de realizar esse objetivo universal de
suas aspirações, diferença que depende totalmente do grau de formação intelectual de cada um.
Se a virtude é conhecimento, o vício, seu oposto, é ignorância. Nesse sentido, quem
possui conhecimento age necessariamente bem, estando imune à pressão da paixão ou do desejo,
ou seja, seu conhecimento do bem não será sobrepujado por inclinações sensuais: ela sempre
agirá com retitude, com correção, enfim, não será um acrático, aquele que se deixa levar pelas
paixões em função da fraqueza de sua vontade. Mas este indivíduo, o acrático, não pode ser
responsabilizado, pois tal comportamento é levado a cabo pela ignorância do bem, pois se o
conhecesse bem, agiria bem: Da mesma maneira, o homem bom jamais poderá tornar-se mau em
função do momento, do cansaço, da enfermidade ou de alguma outra desgraça. Posto que a má
ação é somente isto, a saber, estar privado de conhecimento. Nenhum dos homens sábios crê que
algum homem se equivoca voluntariamente, nem realiza algo desonrado ou mau
voluntariamente; ao contrário, sabem que todos os que fazem coisas desonrosas e más o fazem
involuntariamente. Ninguém faz o mal, ou erra, voluntariamente, ninguém aceita o mal de bom
grado, pois a natureza do homem não é tal que permita que este busque o que é mal: ele só o faz
por ignorância do bem.
Sócrates se dirigia à virtude pela ciência. O resultado de sua investigação científica gera
conceitos e definições dos objetos. Mas qual a relação entre os objetos com a virtude? A resposta
está no intelectualismo da ética socrática. Para ele o sábio é o virtuoso. Conhecer uma virtude é
já possuí-la. O conhecimento não é só um meio para a virtude, mas sim a própria virtude.
Sócrates parte do postulado eudemonístico (Eudemonismo – doutrina que considera a busca de
uma vida feliz, seja no âmbito individual seja coletivo, o princípio e fundamento dos valores
morais, julgando eticamente positivas todas as ações que conduzam o homem à felicidade) que o
bem moral se identifica com o útil. Por outro lado, a motivação da obra humana é para Sócrates
a própria utilidade. Neste princípio a conduta viciada, ou moralmente má, não pode atribuir-se à
vontade na medida que esta busca sempre o útil que se identifica com o bom, então
somente pode vir de um defeito intelectual : a ignorância do que é útil ou o erro de crer útil o
que não é. Por isso, o sábio que já superou o erro e a ignorância e possui um verdadeiro conceito
das virtudes é necessariamente um virtuoso.

Doutrina socrática:
Sócrates é o mais alto expoente do intelectualismo grego que crê, reagindo aos sofistas,
no valor da razão humana. Sua investigação filosófica parte da idéia-postulado que a ciência
ainda não existe até o momento, mas que é possível construí-la empregando um método
adequado. Aristóteles assim expõe a questão: “Sócrates se encerrou na especulação das virtudes
morais e foi o primeiro que indagou as definições universais dos objetos”.
Ressalta-se da resenha aristotélica:
1º – A ideia da investigação lógica de Sócrates que o conduziu aos universais e as
investigações das coisas.
2º – O ideal ético que orienta toda sua especulação causava o conhecimento das virtudes
morais.
O pensamento socrático inclui os estados lógicos e moral intimamente entrelaçados
entre si. Na mentalidade de Sócrates “a ciência é o caminho da virtude”
Sócrates, ao dirigir-se à virtude pela ciência necessita antes de tudo conhecer essa
última. O método até então empregado lhe parece inadequado. A filosofia até então era
fundamentada nos problemas cosmológicos e antológicos, mas a seu juízo os mistérios do
mundo e do ser não seriam descobertos até que se penetrasse no conhecimento profundo da
natureza humana. O método para esse conhecimento próprio era a introspecção estimulada pelo
diálogo.
As críticas sobre a ética socrática são: 1ª a estima exagerada da ciência para a vida
moral prática (intelectualismo ético), 2ª a identificação do bem moral com o útil (utilitarismo
ético) e 3ª a doutrina que o homem é naturalmente bom (otimismo ético).

O objeto da filosofia socrática é o homem como ser moral.


Desta maneira Sócrates dá início ao período antropológico da filosofia grega de forma
magnífica. A consideração do mundo e de Deus não é inteiramente descuidada, mas é somente
empregada quando necessária e subordinada ao objeto primário, como dito, o homem como ser
moral.
Assim Sócrates, da ordem e da finalidade do mundo, deduz a existência de Deus como
um ser uno, com suprema inteligência, sábio, onipotente, bom e generoso provedor, mas não se
preocupa em dar uma definição mais além de Deus, pois basta-lhe o conhecimento de Deus que
faz o homem trabalhar moralmente.
Sócrates, apoiado neste conhecimento de um Deus bom e provedor, não só fazia um
certo otimismo antropológico, mas também um otimismo cosmológico: este mundo é o melhor
e não traz nada de mau em si mesmo.
Ainda que Sócrates não tenha desenvolvido um sistema completo de filosofia,
contribuiu muito com seu progresso, mais ainda, desenvolveu o período sistemático, por que:
1º – Procurando dar conceitos e definições claras o direto e exato método
científico/filosófico que Platão e Aristóteles aperfeiçoaram mais tarde e cultivaram em todas as
áreas da filosofia.
2º – Iniciou o período antropológico que, antes tudo, considera o homem e planta os
fundamentos da filosofia ética. Além dessa consideração ética e antropológica, ampliar muitas
outras áreas de filosofia.
3º – Com esta consideração ética aponta o íntimo vínculo entre a filosofia teórica e a
vida prática, apesar de alguns exageros nessa linha.
4º – Merece elogios também pelo combate ao ascetismo teórico e a perniciosa licença
política e moral de sua época.

A Ética na literatura grega dos trágicos e na filosofia socrático-platônica


O texto quer buscar uma certa compreensão da educação ética do homem grego no
período anterior a Sócrates, para, então, começar a análise de alguns elementos componentes de
um novo modelo ético, o socrático-platônico, no qual a razão terá papel preponderante para a
determinação das ações moralmente boas.
A Ética na literatura grega anterior a Sócrates
Tornou-se comum, no meio filosófico, a distinção entre moral e ética, no sentido (em
linhas gerais) que a moral diria respeito ao corpo de regras que funciona como paradigma para a
determinação das ações moralmente boas ou más em um grupo social, e a ética seria a disciplina
teórica que teria como objeto de estudo crítico a moral. A palavra “moral” é derivada de mos,
mores, termo latino para verter o termo grego ethos, de onde deriva a palavra ética. Visto que é
anacrônico empregar o termo “moral” quando se trata da ética grega do período dos trágicos, de
Sócrates, de Platão, de Aristóteles, e considerando que, quando o termo é empregado pelos
latinos, não recebe a distinção supramencionada, quando utilizarmos a palavra “moral” em
expressões como “moralmente boa”, não estaremos fazendo qualquer distinção entre “moral” e
“ética”, mas estaremos tomando ambos os termos como sinônimos. A ética tem então o seu
nome (assim como vários outros tantos conceitos da Filosofia) derivado do grego, derivado de
ethos, que comumente é vertido para o português como hábito, costume. Daí não se segue que a
ética tem como grande propósito mapear os costumes de um grupo social para, então, elaborar
um corpo de regras a partir de tal mapeamento. A ética não tem como propósito examinar como
as coisas são, como são os hábitos e costumes de uma comunidade, como os indivíduos dessa
comunidade agem normalmente nas inter-relações pessoais, mas antes se propõe a examinar
como os indivíduos, enquanto agentes morais, deveriam agir. A Ética, à semelhança de outras
disciplinas, tem como uma das suas funções propiciar uma boa organização nas diversas
sociedades para que os seus indivíduos possam nela viver bem. Para isso, não basta constatar
como são as ações dos indivíduos, mas tratar de como eles deveriam agir para que a sociedade
venha a se manter organizada e, com isso, possa promover uma boa vida para os indivíduos.
A literatura da Grécia antiga apresenta, desde os seus relatos mais antigos, importantes
problemas éticos, ainda que não fossem explicitados como objetos de estudo. Entre os poetas
trágicos, questões éticas de extrema relevância foram apresentadas, por exemplo, sobre a
possibilidade de imputar ao agente moral a responsabilidade da sua ação, se ela foi realizada sem
consciência das circunstâncias em que ocorreu, como no célebre caso de Édipo, que mata o pai
sem saber que era o seu pai. Atentemos que, ainda hoje, saber se o agente tem consciência das
suas ações pode ser crucial para poder responsabilizar alguém tanto do ponto de vista moral
como, inclusive, do ponto de vista jurídico.
Vale observar que, tendo tratado de questões relevantes, a Ética grega não consiste em
conjuntos de regras ou teorizações que ficaram na totalidade ou em sua maior parte circunscritas
a um momento embrionário das investigações éticas e que, enquanto tal, permaneceram
guardadas em uma redoma que apenas pode ser aberta para uma certa erudição pouco profícua.
Muito mais do que isso, a Ética grega antiga auxilia, em muito, a análise ética de uma
perspectiva histórica, uma vez que autores como Platão e Aristóteles tiveram profunda influência
na posteridade. Mesmo de uma perspectiva contemporânea, a Ética grega também guarda
importância por suscitar problemas ainda atuais e por apresentar alternativas a eles. Vale
observar que a ética aristotélica tem sido consultada até mesmo para trazer para o debate ético
elementos que ajudam a fazer contraponto com o modelo ético universalista kantiano. Dito isto,
faz-se necessário examinar o que os gregos antigos nos apresentaram acerca da Ética não apenas
para pensar a história da filosofia, mas também para ajudar a pensar questões éticas
independentemente de qual autor ou escola as teriam apresentado.
Ainda que haja uma variada gama de questionamentos éticos na literatura anterior a
Aristóteles, talvez seja exagerado querer encontrar, em tais textos, uma Ética tal como nós a
conhecemos nesse autor, em cujos textos éticos encontramos um objeto de estudo bem
determinado, com modelo investigativo próprio a tal objeto e com características específicas de
tal análise (nesse sentido, o modelo investigativo na Ética se distingue radicalmente do modelo
investigativo metafísico ou das matemáticas). Os textos de Hesíodo e, sobretudo, os textos
atribuídos a Homero faziam parte da educação do homem grego, inclusive em relação a sua
formação ética. Obviamente, não por trazerem pormenorizadas discussões éticas, mas por
apresentarem modelos de comportamento, de como o homem grego no geral deveria se portar
em diversas situações. Nesse sentido, os deuses e os heróis da Ilíada e da Odisseia eram, de certo
modo, apresentados como modelos de comportamento. As ações dos deuses e de heróis eram
tomadas como paradigmas para as ações humanas. Há, portanto, nos textos dos trágicos – de
Hesíodo e, sobretudo, os atribuídos a Homero – certas determinações de como deve o indivíduo
agir para tornar-se moralmente bom. Para percebermos a importância da educação do homem
grego a partir dos textos atribuídos a Homero, lembremos, por exemplo, que na República (sob
diversos aspectos, um dos diálogos mais importantes de Platão), quando Sócrates pensa a
educação na cidade ideal, ele o faz, em grande medida, a partir dos textos atribuídos a Homero.
Em um rápido exame geral da Ética grega, observa-se que os filósofos pré-socráticos,
não tiveram como objeto de investigação questões éticas. Os pré-socráticos se notabilizaram
especialmente pelas suas investigações acerca da natureza, do mundo, da possibilidade ou não de
ter acesso ao mundo para, a partir daí, poder falar sobre ele. Parece-nos conveniente, também,
não nos determos nos sofistas (hábeis professores de retórica que ganharam fama e muito
dinheiro por trabalharem a forma do discurso de modo tal a fazê-lo forte; por trabalharem a
forma do discurso com tal destreza a ponto de fazer parecer que é o que não é, a ponto de
discorrerem sobre falsidades dando a elas aparência de verdades). Ainda que os sofistas tivessem
grande preocupação com a elaboração astuciosa (podendo ser falsa) do discurso com o intuito,
em grande medida, de favorecer politicamente aqueles que participavam dos debates que
determinavam os destinos da polis na ágora da Atenas democrática, essa preocupação, com
grandes reflexos na política, não fez com que tomassem a ética como objeto investigativo.
Santo Agostinho conclui: “Em razão desta vida e desta morte tão insignes e famosas,
Sócrates deixou atrás de si muitos seguidores de sua filosofia, revitalizando no debate das
questões morais, em que se trata do problema do bem supremo capaz de tornar o homem feliz”.
(Cidade de Deus, VIII 3).
Os retratos de Sócrates legados pela Antiguidade representam uma fonte inesgotável, e
constantemente renovada, na qual o próprio pensamento filosófico se abastece para seu maior
proveito.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS.
DORION, Louis-André. Compreender Sócrates. Vozes, Petrópolis. 2006.
REALE, Giovani; ANTISERI, Dário. História da Filosofia: Filosofia Pagã antiga. São Paulo:
Paulus, 2003.
HUISMAN, Denis. Dicionário dos Filósofos. Martins Fontes, São Paulo. 2001.
GOMPERZ, Theodor. Os pensadores da Grécia. História da Filosofia Antiga. Tomo II. Ícone
Editora, São Paulo. 2013.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia. Zahar, Rio de Janeiro. 2010. 13ª Ed.
MANNION, James. O Livro completo da Filosofia. MADRAS, 2004.

Nos poemas homéricos nos mostram apenas o começo da vida urbana. Cidades
numerosas, aglomeração de pessoas, divisão mais profunda do trabalho. Os sentimentos de
família vão alem dos vínculos sanguíneos.
Moral social adquire uma força maior.
A divisão é tamanha que no poema do próprio Teógnis, os adjetivos bons e maus não
são mais usados com cunho moral, mas sim para designar as classes superiores e inferiores.
Sócrates sentia a pureza dos conceitos com o mesmo fervor que anima a um místico
exaltado que aspira a união com a divindade.
Sócrates (Atenas 469 – maio 399 a.C. = 70 anos), não seguiu a profissão do pai escultor,
mas dedicou-se pelo resto da vida à meditação especulativa e filosófica.
A fama de Sócrates como guerreiro esforçado não passou do pequeno circulo de seus
companheiros de armas mais próximos já que não havia ocupado nenhum cargo de comando.
Os trinta tiranos o consideravam no inicio partidário, devido duas relações com seu
general Critias, mas Sócrates negou sua cooperação.
Duas coisas podem ser aplicadas com razão à Sócrates assim diz seu discípulo
intelectual: os discursos indutivos e a fixação de conceitos gerais.

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