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Estudante:

Disciplina: Filosofia & Sociologia 1ª Série EM – Turma:

Data: ___/___/2020 Profº Alexandre Martins

Pré-Socráticos

Imagem que ilustra um pensador apontando para os quatro elementos da natureza. De um


modo geral, os filósofos pré-socráticos buscavam compreender a origem das coisas, sem
necessariamente recorrer ao pensamento religioso. Por isso, alguns deles consideravam que a
natureza poderia trazer repostas ao problema do ser, a partir de seus elementos, como o ar, o
fogo, a água e a terra.

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Pré Socráticos

Ao traduzir a palavra “conhecimento” do português para o


grego, encontram-se diferentes alternativas: gnósis, lógos, epistéme,
mátema, theoria, sophia. Todas elas referem-se a algum aspecto do
conhecimento intelectual. Para o conhecimento sensível, há somente a
palavra "áistesis", que deu origem ao termo “estética”.
Uma das razões para isso pode estar no fato de que, entre os
filósofos da Grécia Antiga, predominou a valorização do conhecimento
intelectual e a atenção à unidade que permite reconhecer os
elementos presentes no mundo, apesar da multiplicidade e das
mudanças que os caracterizam.
Os primeiros filósofos, conhecidos como pré-socráticos, já
refletiam sobre o Ser (realidade), o não ser (nada) e o devir ou vir a ser
(mudanças). Nessas reflexões, muitos buscaram identificar a arché, ou
seja, o princípio material responsável pela geração, pelas
transformações e pela destruição dos seres e de suas qualidades.
Chegaram a diferentes respostas, como a água, o ar, os quatro
elementos, o ilimitado, os átomos e outros, entendendo cada um
desses elementos como o princípio capaz de revelar uma unidade sob
a multiplicidade dos aspectos que compõem a realidade.
No texto anterior, refletimos sobre Tales de Mileto e como a
Filosofia nasceu a partir de suas reflexões. Agora, daremos sequência
ao nosso estudo, compreendendo, em linhas gerais, os principais
pensadores pré-socráticos, dividindo-os em escolas, isto é, em regiões
e estilos de filosofia.

Escola jônica: surgida na região da Jônia, atual Turquia, foi palco para
o primeiro filósofo, Tales de Mileto. Também a compuseram os
pensadores Anaximandro, Anaxímenes, ambos de Mileto, e o
filósofo Heráclito, da cidade de Éfeso. Todos esses pensadores
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formularam hipóteses parecidas para o surgimento do universo, sendo
que o arché (princípio ou origem) seria algum elemento específico ou
indeterminável. Para Tales, o arché seria a água; e, para Anaximandro,
o ápeiron – elemento infinito e indeterminado presente em tudo.
Anaxímenes indicava o ar como o princípio, e Heráclito, o fogo, que a
tudo deu origem e a tudo afetou com seu movimento e inconstância.
Sobre Heráclito, vamos nos aprofundar um pouco mais em suas
ideias, a partir do texto a seguir:

Heráclito

No século VI a.C., enquanto investigavam a physis, os filósofos


pré-socráticos já se mostravam preocupados em alcançar um
conhecimento seguro sobre ela. Sentiam-se desafiados a compreender
e explicar com clareza a realidade que percebiam. No entanto, sua
tarefa era dificultada pela multiplicidade e pela mudança constante
dos elementos dessa realidade.
Heráclito, da cidade de Éfeso, ficou conhecido como filósofo do
movimento, ou “mobilista”. Ele discordava da tese de que o Ser era
imóvel e eterno. Afirmava que a realidade era o devir constante e
ordenado, a mudança de todas as coisas, gerada pela tensão entre
contrários – por exemplo: o quente e o frio, o vivo e o morto, etc. Na
visão desse filósofo, “tudo é devir, tudo flui”, sendo ilusão supor a
unidade e a continuidade entre os seres. Seria um engano crer, por
exemplo, que o mesmo homem pudesse banhar-se duas vezes no
mesmo rio, pois ambos mudariam continuamente.
Heráclito afirmava que a multiplicidade, o movimento e a
contradição estavam presentes em todas as coisas. Para ele, não havia
o ser (uma realidade fixa e imutável), mas o devir (o constante vir a ser
das coisas, o seu eterno processo de oposição, mudança e fluidez).
Seria inútil buscar algo uno e fixo nesse constante fluir ou devir de
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coisas múltiplas e contrárias entre si. Por isso, jamais se poderia entrar
duas vezes no mesmo rio, por exemplo (na segunda tentativa, a pessoa
e o rio já teriam se modificado). Logo, a unidade não poderia ser
tomada como base para o conhecimento. Afinal, desse ponto de vista,
nada era (definitivamente), tudo estava (provisoriamente), mesmo
quando aparentava permanecer igual. Ainda assim, Heráclito valorizou
o aspecto racional do conhecimento, mostrando que caberia à razão
revelar a verdadeira natureza das coisas, corrigindo a falsa percepção
de imobilidade e estabilidade daquilo que era essencialmente móvel e
instável.

Fragmentos

Parte do que se conhece sobre os escritos de filósofos pré-


socráticos chegou aos dias atuais em forma de fragmentos. A seguir,
você conhecerá alguns, cuja autoria se atribui a Heráclito de Éfeso e
que revelam a visão desse filósofo sobre a realidade como devir, ou
seja, como transformação constante de todas as coisas em seus
contrários.

Fragmento 8:
Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela
harmonia.
Fragmento 88:
Em nós manifesta-se sempre uma e a mesma coisa: vida e morte,
vigília e sono, juventude e velhice. Pois a mudança de um dá o outro e
reciprocamente.
Fragmento 126:
O frio torna-se quente, o quente frio, o úmido seco e o seco úmido.
BORHEIN, Gerd A. (Org.). Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1998.
p. 36, 41, 43.

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Escola pitagórica: surgida na região da Magna Grécia, hoje sul da Itália,
foi fundada por Pitágoras de Samos. Pitágoras, importante
matemático e filósofo grego, atribuiu aos números, mais
especificamente ao algarismo um e ao ponto na geometria, a origem
de todo o universo. Os pitagóricos fundaram uma espécie de mística
universal que atribuía a origem, a ordenação da matéria e das almas e
organização universal à matemática.

Escola eleata: surgida na cidade grega de Eleia, onde hoje também se


situa parte do sul da Itália, teve como principais
representantes Parmênides e seu discípulo, Zenão de Eleia. Esses dois
filósofos se esforçaram por apresentar que o mundo não seria
composto por movimento, como queria Heráclito, mas por uma
imutabilidade que constitui as essências.
A matéria, segundo Parmênides, enganava ao aparentar
mudanças, e as essências dos objetos materiais permaneceriam
idênticas, conforme nos explica melhor o texto a seguir:

Parmênides

Nesse contexto, Parmênides falou sobre a existência de duas


vias que poderiam ser percorridas na busca pelo conhecimento
verdadeiro:
 a dóxa, cujos significados são aparência e opinião.
 a epistéme, que significa conhecimento, ciência.

Uma das traduções possíveis para a palavra "epistéme" é ciência. Porém, não
se trata da conceituação atual de ciência, que decorre, principalmente, dos
séculos XVII e XVIII, quando se desenvolveu o método experimental, com a
aplicação da matemática e de instrumentos tecnológicos aos experimentos

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científicos. Durante a Antiguidade não havia a distinção atual entre o
conhecimento científico e o filosófico.

De acordo com o filósofo, confiar nas percepções dos sentidos


conduziria o indivíduo à dóxa, uma via duvidosa e incerta que o
afastaria da verdade, condenando-o ao engano. Porém, confiar na
razão conduziria o indivíduo à epistéme, uma via, rigorosa e segura,
capaz de levá-lo ao ser, revelando-lhe como é a realidade.
Enquanto isso, Parmênides, da cidade de Eleia, expressava a
crença de que a realidade era imutável e una, afirmando: “o Ser é, o
não ser não é”. Para esse filósofo, o Ser era imóvel e eterno, isto é, não
foi gerado, nem seria corrompido, pois ser gerado significaria vir do
não ser, e corromper-se significaria retornar a ele. Porém, isso
dependeria da existência do não ser, algo contraditório, pois o nada é
o que não existe (o que não é).
Parmênides entendia o ser como uno, imóvel e não-criado.
Nessa perspectiva, o ser é o que permanece sempre idêntico a si
mesmo e nunca pode ser oposto. É o princípio da não-contradição:
elementos contraditórios jamais poderão coexistir simultaneamente. A
oposição implicaria a anulação do ser anterior, o que é impossível uma
vez que o ser não pode deixar de ser. Assim, o rio jamais deixa de ser
rio, pois é na sua essência que reside sua mobilidade. Toda mudança é
mera opinião (doxa), impressão ou ilusão dos sentidos.

Fragmentos

Agora você conhecerá fragmentos de um poema atribuído a


Parmênides, que se contrapõe à visão de Heráclito sobre o devir e
defende a alétheia, o caminho da verdade, que deveria ser seguido na
busca do conhecimento. Afinal, Parmênides acreditava que, somente

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por essa via, o pensamento poderia compreender que o devir é uma
ilusão, pois “o Ser é” e “o não ser não é” .
Fragmento 6:
Necessário é dizer e pensar que só o ser é; pois o ser é, e o nada, ao
contrário, nada é: afirmação que bem deves considerar. [...]
Fragmento 8:
Resta-nos assim um único caminho: o ser é. [...] não sendo gerado, é
também imperecível; possui, com efeito, uma estrutura inteira,
inabalável [...] é, no instante presente, todo inteiro, uno, contínuo.
Que geração se lhe poderia encontrar? Como, de onde cresceria? Não
te permitirei dizer nem pensar o seu crescer do não-ser. Pois não é
possível dizer nem pensar que o não-ser é. Se viesse do nada, qual
necessidade teria provocado o seu surgimento mais cedo ou mais
tarde? Assim, pois, é necessário ser absolutamente ou não ser. E
jamais a força de convicção concederá que do não-ser possa surgir
outra coisa. [...]
Por outro lado, imóvel [...] é sem começo e sem fim; pois geração e
destruição foram afastadas para longe, repudiadas pela verdadeira
convicção. Permanecendo idêntico e em um mesmo estado, descansa
em si próprio, sempre imutavelmente fixo e no mesmo lugar [...]
BORHEIN, Gerd A. (Org.). Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1998.
p. 55-56.

Conceito
A palavra dóxa pode ser traduzida por opinião e aparência. Ela
constitui a raiz do termo doxografia, utilizado para nomear textos em
que determinados autores emitem suas opiniões sobre as ideias de
outros pensadores. Boa parte do que se conhece a respeito da obra
dos pré-socráticos, por exemplo, decorre de textos dessa natureza,
escritos por filósofos de diferentes épocas e lugares.

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Já a palavra epistéme, que significa conhecimento ou ciência,
constitui a raiz do termo “Epistemologia”, que designa a área de
estudos filosóficos a que você está se dedicando nessa unidade.

 Filósofos pluralistas: defendiam que o universo foi originado


pela composição de diversos princípios. São considerados pluralistas:
 Empédocles: para quem a origem de tudo estaria nos quatro
elementos primordiais (terra, fogo, água e ar);
 Anaxágoras: para quem a origem estaria em um agregado de
partes infinitas, distribuídas de maneiras diferentes em cada ser. A
esse processo ele chamou de nous;
 Leucipo e Demócrito: os fundadores da teoria atomista, a qual
atribuía a origem à junção de partículas invisíveis e indivisíveis,
chamadas de átomos.
Todas as escolas pré-socráticas apresentadas compartilharam e
condensaram o início da filosofia grega e da busca por um pensamento
racional no ocidente.
Entretanto, este jeito de pensar a Filosofia, característico dos
pré-socráticos, sofreu uma drástica mudança com o surgimento de um
pensador que revolucionou a história do pensamento Ocidental. Este
filósofo tão importante é Sócrates e, logo em seguida, começaremos a
aprender algumas de suas principais ideias.

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