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UFPR 2020 – Sociologia
A adolescência em Samoa: Cultura e personalidade
Na década de 20 nos Estados Unidos, alguns fatores como a
presença de diferentes grupos de imigrantes, de diferentes seitas
religiosas e mudanças sociais contribuíram para que aumentassem as
diferenças entre a vida dos adolescentes americanos e as tradições da
família americana.
Nesse contexto, a psicologia cresceu bastante e a partir dessa
ciência houve a tentativa de explicação dos problemas vividos pelos
adolescentes. Partindo desse contexto, Margaret Mead, criticando o
biologismo e o fisiologismo da explicação oriunda da psicologia e
criticando também as concepções de que o critério de ‘raça’ explicaria o
comportamento dos adolescentes, teve a ideia que resultou em seu livro:
Adolescência em Samoa.
A hipótese inicial foi a de que em outras culturas a vivência e a
conceituação da adolescência seriam diferentes de como ocorria nos
Estados Unidos (ou em sociedades semelhantes). Mead queria responder
a seguinte pergunta: os problemas que afligem os adolescentes
americanos são resultado da natureza da adolescência (e, logo, são
universais, necessários) ou da cultura à qual pertencem esses
adolescentes (e, logo, são particulares, contingentes)?
Adotando essa abordagem comparativa, Mead partiu para a ilha
de Tau, integrante das Ilhas Samoa, e realizou seu trabalho de campo
numa vila com 600 habitantes, na qual ela direcionou seu estudo ao
conhecimento, convívio, observação e entrevista com 68 garotas, com
idades entre nove e 20 anos.
O que motivou Mead a esta pesquisa foi o fato de que as
condições americanas desafiavam o psicólogo, o educador, o filósofo
social, na medida em que estes buscavam explicações aceitáveis para os
problemas da criança em desenvolvimento. “A adolescência foi
caracterizada como a fase em que o idealismo florescia e a rebelião
contra a autoridade ganhava força, um espaço em que as dificuldades e
conflitos eram absolutamente inevitáveis” p.18.
Para entender se os problemas que assolavam os adolescentes
americanos eram-lhes naturais ou culturais, Mead partiu para Samoa
para fazer um estudo de seres humanos sob condições culturais
diferentes (p.23). Os problemas vivenciados na adolescência são mentais,
emocionais exclusivamente, ou resultantes do nosso modo de civilização?
O ambiente samoano torna o desenvolvimento uma questão fácil
e simples, ninguém aposta muito alto, ninguém paga preços elevados,
ninguém sofre em razão de suas convicções nem luta até a morte por fins
específicos, não há pobreza a ponto de passarem fome e, por isso, não há
temor pela morte. Segunda a autora, ninguém se apressa e nem é punido
para adentrar a vida adulta. Samoa também não enfrenta nenhum
dilema relacionado a sexualidade, é entendida como algo natural do ser
humano e, portanto, não é rodeada de tabus. Além disso, as crianças
mais velhas ajudam nos cuidados das mais novas – isto lhes traz
responsabilidade, no entanto, ainda lhes mantém próximas do ambiente
infantil.
Assim, em quase todas as comparações entre Samoa e a cultura
norte americana, fica evidente que os problemas vivenciados na
adolescência ocidental são decorrentes da cultura e da história
turbulentas pelas quais todos precisam se adaptar, o que reforça o fato
de que não há fases cujos comportamentos são “naturais” do ser
humano, já que toda forma de se comportar dos homens e mulheres é
ditado pela cultura e pelo espaço que habitam. O que se entende por
homem, mulher, criança, todos os conceitos bem como todos os padrões
de comportamento são culturais.