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“Nós somos Mestres do nosso destino”

(Churchill, 1941)
CÂNDIDO FERREIRA

GRAMÁTICA DA COMUNICAÇÃO - DISCURSO POLÍTICO

CIÊNCIA POLÍTICA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA

05 janeiro 2022
“NÓS SOMOS MESTRES DO NOSSO DESTINO” (Churchill, 1941)

RESUMO

Como trabalho final do 1º semestre do 1º Ano da disciplina de Gramática da


Comunicação - Discurso Político, do curso de Ciência Política e Relações Internacionais,
não podia deixar de utilizar como referência um dos mais importantes e ricos discursos
da história. O discurso “Nós somos mestres de nosso destino” proferido por Winston
Churchill em plena Segunda Guerra Mundial, na sessão Conjunta (Membros do Senado
e da Câmara dos Representantes) do Congresso dos Estados Unidos no dia 26 de
dezembro de 1941, apenas alguns dias após o ataque japonês à base americana Pearl
Harbor no Havai e à base britânica de Hong Kong (cuja batalha durou até 25 de dezembro
de 1941, culminado na rendição britânica).

No dia 07 de dezembro de 1941, o Império do Japão lançou uma ofensiva


surpresa a vários domínios britânicos e norte-americanos no sudeste da Ásia e o Pacífico
Central. Numa dessas ofensivas, foi feito o primeiro ataque em território dos Estados
Unidos da América (EUA) à base de Pearl Harbor no Havai, no qual resultou a morte de
2.403 americanos e 1.143 feridos. No mesmo dia, na mesma ofensiva foram atacados os
territórios da Tailândia, Malásia e Hong Kong. Até este ponto, os EUA e o seu presidente
Franklin D. Roosevelt que sempre assumiram uma neutralidade, apesar do suporte ao
Reino Unido, a União Soviética e a China com suprimentos e materiais bélicos a título de
empréstimo, o chamado Lend-Lease (Kimball, 2019). Mas a partir deste ataque de Pearl
Harbour, no dia 08 de dezembro de 1941, a pedido do presidente Franklin D. Roosevelt
através da famosa frase “Este é um dia que viverá na infâmia” (Jenkins, 2012) e após
aprovação do congresso, os EUA declaram guerra ao Japão e entram oficialmente na
Segunda Guerra Mundial. Foi nesse momento que Winston Churchill identificou uma
grande oportunidade para convencer os americanos para uma presença mais efetiva na
guerra e na ajuda dos aliados europeus que viviam um momento muito frágil no conflito
em território europeu, decorrente de oito meses de bombardeamentos (Blitz1) Nazis à
Grã-Bretanha (de 7 de setembro de 1940 e 10 de maio de 1941) e da ocupação Nazista da

Blitz, a palavra alemã para "relâmpago", foi aplicada pela imprensa britânica à
tempestade de bombardeamentos pesados e frequentes realizados sobre a Grã-Bretanha em
1940 e 1941. Este bombardeamento concentrado e direto de alvos industriais e centros civis
começou com ataques pesados a Londres, a 7 de Setembro de 1940, durante o que ficou
conhecido como a Batalha da Grã-Bretanha. (BBC, 2011)

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“NÓS SOMOS MESTRES DO NOSSO DESTINO” (Churchill, 1941)

França, Bélgica, Luxemburgo e Holanda em 10 de maio de 1941. Winston Churchill


contacta Franklin D. Roosevelt assim que toma conhecimento do ataque a Pearl Harbour,
ainda antes da declaração de guerra dos EUA ao Japão (referido em várias fontes como
tendo a decisão sido influenciada por Churchill), para saber mais detalhes da notícia, e é
neste contacto que acontece a famosa conversa entre ambos:

Churchill perguntou: ‘Sr. Presidente, o que é isso sobre o Japão?’


‘É bem verdade’, respondeu Roosevelt. ‘Eles atacaram-nos em Pearl Harbor. Estamos todos
no mesmo barco agora.’
Churchill disse a Roosevelt: ‘Isso certamente simplifica as coisas. Deus esteja com você.’
(Kimball, Churchill & Roosevelt: The Complete Correspondence, 1984, p.
281).

É neste preciso momento que Churchill começa a conseguir convencer


Roosevelt a participar na guerra ao lado dos Aliados em solo europeu. Mas a tarefa não é
fácil, porque até aquela altura os americanos encaravam esta guerra, como uma “Guerra
europeia”, e não encaravam positivamente a possibilidade de enviar “os seus filhos” para
morrer numa guerra que não era a sua. Então, após mais uma série de conversas nos dias
seguintes e a Declaração de Guerra da Alemanha Nazista aos EUA, no dia 11 de
dezembro de 1941, acordam a participação de Churchill na sessão Conjunta (Membros
do Senado e da Câmara dos Representantes) do Congresso dos Estados Unidos no dia 26
de dezembro de 1941. É nesta sessão que Churchill profere o discurso “Nós somos
mestres de nosso destino” e que para muitos foi o ponto de viragem na Segunda Grande
Guerra e que levou à vitória dos Aliados.

Assim, pretende-se com este artigo dissecar este discurso de Churchill à luz do
conhecimento adquirido de forma transversal em todas as disciplinas do Curso de Ciência
Política e Relações Internacionais, mas, naturalmente com especial enfoque na disciplina
de Gramática da Comunicação - Discurso Político, nomeadamente: a retórica e oratória
de Aristóteles.

Neste trabalho podemos ainda constatar que os discursos políticos são


importantes acervos históricos, sendo fundamentais para interpretar os eventos históricos,
desde que devidamente enquadrados no período temporal e no contexto em que estão
inseridos.

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Neste caso específico de Churchill os seus discursos e a sua capacidade de


Retórica e Oratória foram fundamentais para a vitória dos aliados na Segunda Grande
Guerra. Churchill nunca desistiu de lutar, como qualquer outro soldado, tendo usado
sempre a sua principal arma, e a que melhor manuseava e talvez a pessoa que melhor
conhecesse o seu poder: A PALAVRA.

Não tivesse sido ele o autor da seguinte frase com apenas 22 anos:
"De todos os talentos concedidos aos homens, nenhum é tão precioso como a graça da
oratória. Quem dela desfruta possui um poder mais duradouro do que o de um grande rei".
(CHURCHILL, 1897)

PALAVRAS-CHAVE

Winston Churchill; Segunda Grande Guerra; discurso político; retórica; ciência política;
teoria das relações internacionais.

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I ─ “Nós somos Mestres do nosso destino” O Discurso

Membros do Senado e da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos:


Sinto-me muito honrado por você ter me convidado para entrar na Câmara do Senado dos
Estados Unidos e falar aos representantes de ambos os ramos do Congresso.
O fato de meus antepassados americanos terem, por tantas gerações, desempenhado seu papel
na vida dos Estados Unidos, e de que aqui estou eu, um inglês, acolhido no vosso meio, torna
esta experiência uma das mais comoventes e emocionantes da minha vida, que já é longa e
não tem sido totalmente monótona. Eu desejaria - eu realmente desejaria que minha mãe,
cuja memória eu guardo através do vale dos anos, pudesse estar aqui para ver.
E, a propósito, não posso deixar de refletir que, se meu pai fosse americano e minha mãe
britânica, em vez do contrário, eu poderia ter chegado por conta própria. (…)
Estou certo que neste dia - agora nós somos os mestres de nosso destino; que a tarefa que nos
foi fixada não está acima de nossas forças; que suas dores e labutas não estão além de nossa
resistência. Enquanto tivermos fé na nossa causa e uma força de vontade invencível, a
salvação não nos será negada. Nas palavras do salmista: "Ele não deve temer as más notícias;
o seu coração está firme, confiando no Senhor."
Nem todas as notícias serão más. Pelo contrário, poderosos golpes de guerra já foram dados
contra o inimigo: A gloriosa defesa de seu solo nativo pelo exército russo e pelo seu povo-
as feridas foram infligidas à tirania nazista e ao sistema que tem reprimido profundamente,
irá apodrecer e arder; não apenas no corpo nazi, mas na mente nazista. O prepotente
Mussolini já se desmoronou. Ele agora é apenas um lacaio e um servo, o mero utensílio da
vontade de seu senhor. (…) Muitas pessoas ficaram surpresas com o fato de o Japão ter, num
único dia, entrado em guerra contra os Estados Unidos e o Império Britânico. (…) Que tipo
de pessoas eles pensam que somos? É possível que não percebam que nunca cessaremos de
perseverar contra eles, até que tenham aprendido uma lição que eles e o mundo jamais
esquecerão? (…) Aqui estamos nós juntos, enfrentando um grupo de poderosos inimigos que
procuram nossa ruína. Aqui estamos nós juntos, defendendo tudo o que é prezado pelo
homem livre. Duas vezes em uma única geração, a catástrofe da guerra mundial caiu sobre
nós. Duas vezes em nossa vida o longo braço do destino se estendeu através dos oceanos para
colocar os Estados Unidos na linha de frente da batalha. Se tivéssemos nos mantido juntos
após a última guerra, se tivéssemos tomado medidas comuns para nossa segurança, essa
renovação da maldição nunca teria caído sobre nós. Não devemos isso a nós mesmos, aos
nossos filhos, à atormentada humanidade, para termos a certeza de que essas catástrofes não
nos engulam pela terceira vez? (…) Não é fácil para nós prever os mistérios do futuro. Ainda
assim, confesso minha esperança e fé, confiante e inviolável, de que nos dias que estão para
vir, os povos britânicos e americanos irão para sua própria segurança e para o bem de todos,
caminhar juntos em majestade, justiça e paz. (Churchill, 1941)

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