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Título: O Universo e a origem da vida na visão dos filósofos pré-socráticos

Dentre os objetivos dos filósofos gregos antigos, que ficaram conhecidos como pré-
socráticos (isto é, anterior a Sócrates ou a sua filosofia) e que viveram entre os
séculos VII a.C. e IV a.C, destaca-se a construção de uma cosmologia – explicação
racional e sistemática das características do Universo – que foi substituindo, aos
poucos, a antiga
cosmogonia – explicação sobre a origem do Universo com base em mitos.
Assim, com base na razão e não na mitologia, os primeiros filósofos gregos tentaram
encontrar o princípio substancial ou substância primordial (a arché, em grego) de
todos
os seres, a matéria-prima de que seriam feitas todas as coisas.
Tales de Mileto (c. 623-546 a.C.) é tido como o pensador que deu início à indagação
racional sobre o Universo. Por meio da observação dos fenômenos naturais, ele
concluiu
que a água seria a arché (substância primordial, a origem única de todas as
coisas), pois
permanece basicamente a mesma em todas as transformações dos corpos, apesar de
assumir diferentes estados (sólido, líquido e gasoso). É nesse sentido que Tales
afirmava:
“Tudo é água”.
Nos dias atuais, com os avanços da ciência, a resposta encontrada por Tales para a
questão da origem de tudo pode parecer ingênua. Apesar disso, ele buscou um
princípio
racional explicativo da realidade (a arché) por meio da observação da natureza.
Com base nas concepções de Tales, um de seus discípulos, Anaximandro (c. 610-
-547 a.C.), chegou a outra conclusão. Ele defendia que a arché era algo que
transcendia os
limites do observável, ou seja, não se situava em uma realidade ao alcance dos
sentidos,
como a água. Por isso, denominou-a ápeiron, termo grego que significa o
indeterminado,
o infinito no tempo.
Já um discípulo de Anaximandro chamado Anaxímenes (c. 588-524 a.C.) considerou que
a arché seria o
ar, quase inobservável, mais sutil que a água, mas que
ao mesmo tempo nos anima, nos dá vida, como testemunha nossa respiração. Infinito e
ilimitado, penetrando
todos os vazios do Universo, o ar parecia ser menos indeterminado que o ápeiron.
Também seria um princípio
ativo, gerador de movimento, como nos ventos.
O filósofo Empédocles (c. 490-430 a.C.) defendeu
a existência de quatro elementos primordiais, que constituiriam as raízes de todas
as coisas percebidas: o fogo,
a terra, a água e o ar. Esses elementos seriam movidos
e misturados de diferentes maneiras em função de dois
princípios universais opostos: o amor (philia, em grego)
– responsável pela força de atração e união e pelo movimento de crescente
harmonização das coisas; e o ódio
(neikos, em grego) – responsável pela força de repulsão
e desagregação e pelo movimento de decadência, dissolução e separação das coisas.
Para Empédocles, todas
as coisas existentes, na realidade, estão submetidas às
forças cíclicas desses dois princípios. Finalmente, destacou-se na busca pela arché
a resposta concebida por Demócrito
(c. 460-370 a.C.), um contemporâneo de Sócrates. Apesar de ser mais novo que
Sócrates,
sua reflexão filosófica inscreveu-se principalmente na tradição pré-socrática. Ele
foi o responsável – junto com seu mestre, Leucipo (cerca de 500-370 a.C) – pelo
desenvolvimento
de uma doutrina que ficou conhecida pelo nome de atomismo. Para ele, a experiência
do
movimento era justamente a prova da existência de um não ser, que em sua concepção
seria, o vazio. Aproximando-se da concepção físico-química e moderna da realidade,
em
sua doutrina afirmava que todas as coisas são constituídas por partículas
invisíveis (por
serem muito minúsculas) e indivisíveis. Demócrito denominou-as, portanto, átomos
– palavra de origem grega que significa não divisível (a, negação; tomo, parte,
divisão).
Portanto, o átomo, para Demócrito, seria uno, pleno e eterno. Leia o texto a seguir
sobre
a teoria atomística dos filósofos gregos antigos.
Ao final do século IV a.C, o filósofo grego Epicuro formulou
uma variante da teoria atomística proposta por Leucipo e Demócrito. Também para
Epicuro a realidade material seria constituída
de unidades indivisíveis, permanentes, que se movem através do
vazio e cujos agrupamentos formam a diversidade dos corpos que
conhecemos. Entretanto, se para os primeiros atomistas os átomos
eram dotados apenas de forma e tamanho, Epicuro atribuiu-lhes
outra propriedade essencial: o peso. A introdução do peso como
elemento essencial e irredutível da matéria permitia, segundo Epicuro, a explicação
do movimento incessante a que estão submetidos
os átomos, a saber, em razão de seu peso eles sempre tendem a se
movimentar para “baixo”.
No entanto, essa dinâmica proposta por Epicuro introduzia
elementos aristotélicos contraditórios com a essência da concepção atomística de
Demócrito e Leucipo. De fato, de acordo com o
atomismo original, os átomos movimentavam-se em um universo
infinito, sem qualquer tipo de direcionamento que não aqueles
conferidos pelas colisões e outras ações mecânicas impostas
pelos demais. Em um universo infinito como esse, o conceito de
“embaixo” e “em cima”, dos quais a cosmologia finitista aristotélica se serviu
tão coerentemente, torna-se imediatamente problemático. Epicuro insistiu na
manutenção desse elemento contraditório, definindo o embaixo como a direção
que se estende diretamente abaixo de nossos pés, definição [...] muito mais do
que geocêntrica, antropocêntrica.Finalmente, destacou-se na busca pela arché a
resposta concebida por Demócrito
(c. 460-370 a.C.), um contemporâneo de Sócrates. Apesar de ser mais novo que
Sócrates,
sua reflexão filosófica inscreveu-se principalmente na tradição pré-socrática. Ele
foi o responsável – junto com seu mestre, Leucipo (cerca de 500-370 a.C) – pelo
desenvolvimento
de uma doutrina que ficou conhecida pelo nome de atomismo. Para ele, a experiência
do
movimento era justamente a prova da existência de um não ser, que em sua concepção
seria, o vazio. Aproximando-se da concepção físico-química e moderna da realidade,
em
sua doutrina afirmava que todas as coisas são constituídas por partículas
invisíveis (por
serem muito minúsculas) e indivisíveis. Demócrito denominou-as, portanto, átomos
– palavra de origem grega que significa não divisível (a, negação; tomo, parte,
divisão).
Portanto, o átomo, para Demócrito, seria uno, pleno e eterno. Leia o texto a seguir
sobre
a teoria atomística dos filósofos gregos antigos.
Ao final do século IV a.C, o filósofo grego Epicuro formulou
uma variante da teoria atomística proposta por Leucipo e Demócrito. Também para
Epicuro a realidade material seria constituída
de unidades indivisíveis, permanentes, que se movem através do
vazio e cujos agrupamentos formam a diversidade dos corpos que
conhecemos. Entretanto, se para os primeiros atomistas os átomos
eram dotados apenas de forma e tamanho, Epicuro atribuiu-lhes
outra propriedade essencial: o peso. A introdução do peso como
elemento essencial e irredutível da matéria permitia, segundo Epicuro, a explicação
do movimento incessante a que estão submetidos
os átomos, a saber, em razão de seu peso eles sempre tendem a se
movimentar para “baixo”.
No entanto, essa dinâmica proposta por Epicuro introduzia
elementos aristotélicos contraditórios com a essência da concepção atomística de
Demócrito e Leucipo. De fato, de acordo com o
atomismo original, os átomos movimentavam-se em um universo
infinito, sem qualquer tipo de direcionamento que não aqueles
conferidos pelas colisões e outras ações mecânicas impostas
pelos demais. Em um universo infinito como esse, o conceito de
“embaixo” e “em cima”, dos quais a cosmologia finitista aristotélica se serviu
tão coerentemente, torna-se imediatamente problemático. Epicuro insistiu na
manutenção desse elemento contraditório, definindo o embaixo como a direção
que se estende diretamente abaixo de nossos pés, definição [...] muito mais do
que geocêntrica, antropocêntrica.

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