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A partir das teses fornecidas pelos filósofos de Mileto, percebe-se que há um princípio
originário que justifica e confere sentido à natureza. Esse caráter unificador do arché,
obviamente, já pressupõe a existência de uma inteligência que conduz o movimento que dá
origem a todas as coisas. Não obstante, será apenas com Heráclito em sua doutrina do Logos
que esse elemento implícito assumirá uma condição determinante. Tradicionalmente, Heráclito
teria defendido o fogo como o elemento originário de todas as coisas. Este entendimento do
filósofo de Éfeso estaria de acordo com sua doutrina do “fluxo contínuo” (panta rhei), uma vez
que o fogo expressa de modo exemplar a característica da mudança contínua. Além disso, o
fogo, em seu movimento marcado ao mesmo tempo pela destruição e pela criação, expressa de
modo adequado a famosa doutrina heracleana da “harmonia dos contrários”. Mas qual seria o
papel do Logos no pensamento de Heráclito? Como inteligência inifinita, o Logos confere
racionalidade ao movimento. Isso significa que o fogo primordial não atua de modo caótico e
desordenado, mas orientado teleologicamente. Noutros termos, o Logos infinito é a garantia do
devir, que a harmonia, de fato, possa surgir dos contrários. Em Heráclito, contudo, o Logos
possui uma atuação não apenas em relação ao movimento do universo físico, mas no que tange
às ações corretas dos indivíduos, o que representa uma antecipação de questões éticas e
antropológicas já no contexto da cosmologia pré-socrática.