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Os Filósofos Naturalistas

Esta aula discute os primeiros filósofos pré-socráticos gregos que viveram antes de Sócrates: Tales
de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes, todos da região de Mileto, antiga cidade grega, localizada na
região da Anatólia, que corresponde em grande parte à atual Turquia.
Eles buscavam encontrar um princípio unificador (arché) para explicar o mundo natural, marcando,
assim, o início da filosofia ocidental.

Thales de Mileto

Thales de Mileto, que viveu na transição entre os séculos VII e VI a.C., propôs que a água era o
princípio fundamental que compunha todas as coisas na natureza. Ele a escolheu devido à sua
presença comum na composição dos seres vivos e à sua importância para a vida e onde não se
encontra a água, há carência de vida. Thales consegue ver que a água pode estar em três estados. A
água compõe grande marte do mundo material, o mundo grego é cercado por água e as atividades
econômicas são ligadas à água.
Foi engenheiro, conselheiro de políticos, importante sacerdote e um grande líder. Era conhecido por
suas habilidades em várias áreas do conhecimento. Entre outras coisas, chegou a desviar o curso de
um rio, fez projeções astronômicas e ficou rico ao melhorar a tecnologia de colheita de olivas. Suas
ideias representaram um grande avanço na identificação do mundo natural.
Thales abraçava uma visão panteísta ao reconhecer a presença divina na natureza e ao identificar um
elemento material, como a água, como sendo a manifestação desse princípio divino. A partir dele há
uma busca na filosofia para encontrar um princípio unificador por trás das coisas.

Anaximandro

Anaximandro, aluno de Thales leva adiante essa discussão, mas, diferentemente do mestre, fala que
o princípio da natureza, a arché, na verdade é o ápeiron - o indefinido, não seria a água ou outro
princípio específico. Ele via o ápeiron como um princípio cósmico indeterminado que não era
limitado a uma única substância.
Anaximandro foi um astrônomo e geógrafo com contribuições notáveis nessas áreas. Ele tinha uma
espécie de mapa mundi. Falava que o sol era composto por fogo. Acreditava que os animais se
originavam da água e que havia uma transição gradual dos seres aquáticos para os terrestres que
herdam características que foram tiradas dessa transição aquática. Esse pensamento poderia ser
herança de Thales de Mileto, para quem a água seria origem dos seres vivos.
O mérito de Anaximandro foi ver a matéria como uma indefinição maior. Ele também é panteísta e
estabeleceu uma identidade entre o princípio divino e a matéria. Mas é definitivamente com Sócrates
que se vai entender o mundo espiritual e o material de forma distinta.

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Na fase de Anaximandro, os filósofos tendem a enxergar as divisões, uniões e transformações como
aspectos fundamentais. Anaximandro fala que existe uma inteligência em relação ao cosmo, o que
implica em uma sequência nas divisões e uniões. Não haveria uma separação clara entre o que é
inteligência e natureza.

Anaxímenes

Anaxímenes fala que o princípio de todas as coisas é o ar. Por causa disso, muitos pensadores acham
que o pensamento dele é uma regressão ao de Thales, mas agora com o ar como princípio no lugar
da água. Ele entende que o ar explica as divisões da matéria. O ar poderia se condensar e rarefazer
para formar as diferentes substâncias observadas na natureza.
A filosofia natural é a base da observação desses filósofos. Um dos cumes da divisão é a discussão
do átomo, que vai ser fundamental para o entendimento da filosofia de Aristóteles. Sua visão é de
que a pura matéria é a pura possibilidade; ela não tende ao indivisível, mas tem uma possibilidade
indefinida.
Quando se pensa a vida em átomo, pensa-se ao modo dos filósofos de Mileto. O átomo é uma
unidade elementar menor do que os compostos que se enxerga nas coisas. Então vê-se uma unidade
material quando se fala em átomo.

Implicações nos pensamentos que viriam depois


Toda essa discussão tem implicações nos pensamentos que surgiriam posteriormente.
Aristóteles questiona esse ponto do átomo argumentando que ele não pode ser considerado
indivisível. Ele aponta para a possibilidade real de divisão da matéria. Quanto maior a divisão, a
matéria se torna mais potencial e menos atual.
Quando Aristóteles se propões a encontrar um princípio subjacente à physis (natureza), ele transcende
o simples princípio puramente material, uma abordagem comum entre os filósofos de Mileto. No
entanto, ele também busca um princípio material subjacente a essa explicação. A concepção da
matéria, na verdade, se baseia em parte na interpretação medieval da obra de Aristóteles.
Em Aristóteles, Deus é distinto da matéria, ao contrário dos filósofos de Mileto. Aristóteles
considera o princípio unificador material como o próprio conceito de matéria, que pode ser
indefinidamente dividido e tende a se tornar pura potência.
É importante compreender que toda nossa concepção do mundo unificado material está
intrinsecamente ligada a essa reflexão. Ou seja, afirmar que tudo é feito de água, por mais simplista
que possa parecer, está longe de ser desprezível. Um dos maiores desafios filosóficos reside no dilema
da divisão e da unidade. Na filosofia moderna, o pensamento de Hegel se fundamenta na ideia de
que existe uma briga entre opostos e isso gera uma síntese. O marxismo, uma ideologia que, embora
muito criticada, também se inspirou nessa perspectiva hegeliana.

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Em Hegel a distinção entre a dialética espiritual e o que acontece no mundo concreto não é tão
grande – como se ele trouxesse o céu à terra. Os filósofos de Mileto não estão preocupados com
isso; percebem a unidade no mundo material e a isso chamam de Deus.

Resumindo: Thales, Anaximandro e Anaxímenes começam a discussão da physis e a busca pela arché
(princípio) que dá ordem ao cosmos.

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Segundo o antigo historiador e biógrafo grego Diógenes Laércio Tales teria origem Fenícia, região
ao norte do que hoje é Israel. Diógenes, início do séc. III d.C., era conhecido por sua obra "Vidas e
Doutrinas dos Filósofos Ilustres"

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