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A área de estudo desses filósofos é chamada, dentro da filosofia, de cosmologia. Essa é uma
palavra formada por cosmos e logia, que significa estudo do cosmos. Cosmos é um conceito
grego para universo, o conjunto de todas as coisas. Remete à ideia de ordem, harmonia.
Observe como a natureza é ordenada, harmoniosa. A sequência das estações, movimentos de
migração de pássaros, as marés: todos esses são fenômenos que manifestam uma certa
organização. O resultado disso, para os gregos, era um universo harmonioso e belo. A palavra
“cosmético” tem relação com essa ideia inicial de cosmos, como algo que é belo.
Tales de Mileto
Tales nasceu no século VII a.C., em Mileto, uma cidade grega, e é considerado o primeiro
filósofo, porque foi o primeiro a propor uma explicação racional e naturalista para a origem e
funcionamento de todas as coisas. A questão que Tales colocou é “qual o princípio de todas
as coisas”.
Tales de Mileto
Antes de conhecermos o pensamento de Tales, é importante entender um aspecto
metodológico do estudo da filosofia. Muitas vezes encontramos palavras na filosofia, como a
palavra “princípio”, cujo significado já conhecemos. Porém, elas têm, na filosofia, um
significado um pouco diferente daquele encontrado na linguagem comum.
Para entender o conceito de princípio, é útil uma analogia. Imagine que um filósofo da natureza
perguntasse qual é o princípio de uma garrafa pet, por exemplo. Com essa pergunta, ele
estaria querendo saber o elemento básico a partir do qual ela é formada, que sustenta sua
existência e no que ela se transforma quando deixar de existir. Nesse caso, o princípio é um
elemento químico associado ao petróleo. É a partir dele que a garrafa é gerada e, caso seja
derretida, é nele que ela irá se transformar.
O que Tales pretendia, portanto, ao perguntar qual o princípio de todas as coisas era algo
análogo. Buscava um elemento fundamental do qual todas as coisas se originam e no qual
todas se tornam no momento que deixam de existir. E qual sua resposta? Para Tales, esse
elemento era a água. Ou seja, esse filósofo acreditava que todas as coisas eram geradas a
partir da água.
Não restou nenhum texto escrito por Tales, de modo que não sabemos ao certo porque ele
acreditava que a água era o princípio de todas as coisas. Alguns interpretes posteriores fizeram
algumas suposições para explicar essa concepção.
Uma delas é a versatilidade da água. Esse elemento pode passar por mudanças, como
evaporação e condensação, se tornar líquida, sólida ou gasosa e, apesar de todas essas
transformações de estado, ela permanece sempre a mesma substância. Ora, é justamente isso
que precisa um elemento básico: que permaneça inalterado mesmo com as transformações
pelas quais passa aquilo que compõe. Além disso, ela está presente nas mais diferentes
coisas da natureza, é essencial para as plantas e animais.
Lista de pré-socráticos
Tales foi o iniciador da escola de Mileto. Seus discípulos deram continuidade às suas
investigações, mas chegaram a conclusões diferentes. Anaximandro e Anxímenes, defendiam
que o elemento primordial da natureza era, respectivamente, o apeirom e o ar.
Os filósofos não foram os primeiros a se perguntar qual a origem das coisas e tentar
compreender os fenômenos da natureza. Antes de Tales e seus sucessores, esse papel cabia
ao pensamento mitológico. Mitos de diferentes tipos explicavam a origem do mundo, os
processos observados na natureza, o lugar ocupado pelo homem no conjunto do cosmos e
muitas outras questões.
Mitos geralmente fazem parte da tradição oral de uma cultura, mas conhecemos muito da
mitologia Grega graças aos trabalhos de Homero e Hesíodo. O primeiro é autor da Ilíada e da
Odisseia. O segundo, escreveu Os trabalhos e os dias e Teogonia. No último, narra a formação
da terra e dos deuses.
Exemplo de um mito
Por não encontrar sua filha, Deméter ficou preocupada, irada e muito triste. Tais sentimentos
causaram uma seca prolongada, já que ela era a deusa da fertilidade do solo. Para tentar
acalmá-la, Zeus (deus dos deuses) resolveu intervir e fez um trato com seu irmão Hades:
Perséfone teria que passar seis meses do ano ao lado de Hades no mundo subterrâneo, e os
outros seis ela estaria “liberada” para passar ao lado da mãe.
Isso, para os gregos, explicaria a origem do inverno. Esse seria o período em que Perséfone
estaria ao lado de Hades e sua mãe muito triste. Por outro lado, os seis meses de fertilidade e
flores (primavera e verão) seria o tempo em que a moça passaria ao lado de sua mãe.
Observe que o mito recorre à fantasia e à imaginação para explicar como se dá uma mudança
nas estações do ano. Os primeiros filósofos, seguindo a tradição iniciada por Tales, procuraram
fazer uso da razão e da observação para explicar fenômenos como esse. É verdade que a
tentativa de Tales não foi muito bem-sucedida. Avaliando hoje a afirmação de que “tudo é
formado de água” certamente diremos: “isso não explica muita coisa”. Mas não é sua resposta
que faz com que seja o criador de uma nova maneira de pensar. Isso se deve à maneira como
abordou o problema.
Além de dar início a uma abordagem racional e naturalista para os problemas da natureza,
Tales também iniciou uma tradição de pensamento que incentiva a crítica e a modificação de
ideias antigas. Qualquer religião ou mitologia é em alguma medida conservadora, se opõe à
inovações, à mudanças em suas ideias. A filosofia, por outro lado, desde seu início foi favorável
a isso. Os integrantes da escola iniciada por Tales, Anaximandro e Anaxímenes, propuseram
respostas totalmente diferentes da do mestre. Algo que foi feito também pelos demais pré-
socráticos.
Tales
Anaximandro
Anaxímenes
Pitágoras
Heráclito
Parmênides
Empédocles
Demócrito
Tales de Mileto
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Tales é considerado o primeiro filósofo porque foi o primeiro a propor uma explicação racional e
naturalista para a origem e funcionamento de todas as coisas.
Índice do conteúdo
Tales de Mileto é um filósofo pré-socrático que nasceu na cidade de Mileto, na Grécia Antiga,
provavelmente em 624 a.C., e morreu em 546 a.C. Ele é considerado o pai da filosofia por ser
o primeiro a responder a questão sobre do que são feitas as coisas e explicar uma série de
fenômenos naturais utilizando o raciocínio e a observação ao invés de criar mitos e histórias
fantasiosas para isso.
Ele também é considerado um dos sete sábios da antiguidade. Sua reputação se deve ao fato
de ter uma grande variedade de interesses: filosofia, matemática, astronomia e engenharia.
Essa ampla gama de conhecimentos permitiu-lhe desenvolver ideias inovadoras e influentes
em cada uma dessas áreas, tornando-se um verdadeiro pioneiro do pensamento filosófico e
científico.
Astronomia
Tales fez contribuições significativas no campo da astronomia. Ele é famoso por ter previsto um
eclipse solar que ocorreu em 585 a.C., o que foi um marco na história da ciência. Se supõe que
ele chegou a essa conclusão através da observação dos ciclos da natureza e do estudo das
regularidades astronômicas. Ele teria analisado registros anteriores de eclipses e, a partir
deles, percebeu um padrão que lhe permitiu fazer a previsão.
Além disso, Tales foi capaz de determinar os solstícios, ou seja, os momentos em que o sol
atinge seu ponto mais alto (solstício de verão) ou mais baixo (solstício de inverno) no céu. Ele
conseguiu isso observando o movimento aparente do sol ao longo do ano e percebendo que
havia dois pontos em que o sol parecia “parar” antes de mudar de direção. Dessa forma, ele
estabeleceu uma base para a compreensão dos ciclos sazonais e da duração dos dias e noites
ao longo do ano.
Tales também propôs um método para medir o tamanho do sol e da lua. Ele acreditava que a
lua estava a uma distância fixa da Terra e que seu tamanho aparente era proporcional à sua
distância. Com base nessa suposição, utilizou a geometria e os ângulos formados durante um
eclipse lunar total para calcular a proporção entre o diâmetro do sol e da lua e suas respectivas
distâncias à Terra. Embora suas estimativas não fossem totalmente precisas, seu método
demonstrou a importância da observação e do raciocínio matemático na busca pelo
conhecimento científico.
Sua preocupação com a astronomia lhe rendeu não só conhecimento, mas também alguns
momentos de distração e embaraço. Conta-se que uma vez, enquanto caminhava absorto na
observação das estrelas, não percebeu um obstáculo em seu caminho e caiu em uma vala,
ficando preso e tendo que pedir socorro. Uma velha que o acompanhava, ao testemunhar o
incidente, zombou dele com sarcasmo e disse: “Como pretendes, Tales, tu, que não podes
sequer ver o que está à sua frente, conhecer tudo acerca do céu?”.
Também são atribuídas a Tales várias teorias sobre o planeta Terra, seu formato e as causas
de alguns fenômenos como os terremotos.
Ele acreditava que a Terra repousava sobre a água, uma ideia que ele explicou através da
analogia de que a Terra está em repouso porque é da natureza da madeira e de substâncias
semelhantes, que têm a capacidade de flutuar na água, embora não no ar. Tales
provavelmente chegou a essa conclusão observando os navios no porto de Mileto e
comparando sua flutuação com a de troncos de árvores. Ele pode ter imaginado que a Terra
possuía alguma qualidade semelhante que lhe permitia flutuar na água. Embora essa teoria
esteja em desacordo com o conhecimento atual, ela demonstra o pensamento racional e as
observações empíricas do filósofo.
Aristóteles atribuiu a Tales o conhecimento da esfericidade da Terra. Se supõe que ele pode ter
chegado a essa conclusão observando fenômenos astronômicos, como eclipses solares, o
movimento das estrelas e a forma como objetos desaparecem no horizonte. Essas
observações teriam sido difíceis de explicar se a Terra fosse plana e, portanto, podem ter
levado Tale a propor a ideia de uma Terra esférica.
Consistente com sua hipótese de que a Terra flutua na água, Tales propôs que os terremotos
ocorriam quando a Terra oscilava devido à agitação das águas sobre as quais repousava.
Embora a teoria esteja incorreta, demonstra um avanço em relação à visão tradicional de que
os terremotos eram causados por Poseidon, um deus irritado que sacudia a Terra com seus
passos rápidos, pois fornece uma explicação que não envolve entidades ocultas, deuses e
mitos.
Matemática
Na história da geometria, Tales é conhecido por ter descoberto um teorema que leva seu nome
e é amplamente utilizado até hoje. Ele foi capaz de provar que, em um conjunto de linhas
paralelas cortadas por uma transversal, os segmentos interceptados na transversal são
proporcionais.
Além disso, ele foi um dos primeiros a medir a altura das pirâmides do Egito, o que foi uma
grande conquista na época. Para medir a altura das pirâmides, utilizou um método bastante
engenhoso: ele mediu a sombra da pirâmide em um determinado momento do dia, quando a
sua própria sombra tinha o mesmo comprimento que sua altura. Usando proporções, ele foi
capaz de calcular a altura da pirâmide com base no comprimento da sombra. Esse feito
demonstrou as habilidades matemáticas de Tales e sua capacidade de aplicar a geometria em
problemas do mundo real.
Com base em seu conhecimento sobre a natureza, Tales quis mostrar aos que duvidavam da
importância dos seus estudos em filosofia o quanto eles realmente valiam. Ele conseguiu
prever uma safra farta de azeitonas e, com essa informação, alugou todos os moinhos da
região que eram usados para produzir azeite. Com essa estratégia, ganhou um bom dinheiro e
provou que o estudo da filosofia pode ser bastante útil na vida prática.
Tales foi o primeiro a buscar uma explicação racional para a questão “do que são feitas todas
as coisas?” Entre os filósofos pré-socráticos que vieram depois dele, essa se tornou uma
questão importante. Todos eles buscaram um princípio a partir do qual todo que existe à nossa
volta foi criado. Em grego isso se chama de arché.
O que ele pretendia ao perguntar qual o princípio ou arché de todas as coisas era encontrar um
elemento fundamental do qual todas as coisas se originam e no qual todas se tornam no
momento que deixam de existir. E qual sua resposta? Para ele, esse elemento era a água. Ou
seja, ele acreditava que todas as coisas eram geradas a partir da água e que voltavam a ser
água depois que deixassem de existir.
Não restou nenhum texto escrito por Tales, de modo que não sabemos ao certo porque ele
acreditava que a água era o princípio de todas as coisas. Alguns intérpretes posteriores fizeram
algumas suposições para explicar essa concepção.
Uma delas é a versatilidade da água. Esse elemento pode passar por mudanças, como
evaporação e condensação, se tornar líquida, sólida ou gasosa e, apesar de todas essas
transformações de estado, ela permanece sempre a mesma substância. Ora, é justamente isso
que precisa um elemento básico: que permaneça inalterado mesmo com as transformações
pelas quais passa aquilo que compõe. Além disso, está presente nas mais diferentes coisas da
natureza. Ela é essencial para as plantas e animais e está presente em muitos fenômenos
naturais.
O legado de Tales
Se olharmos para as contribuições de Tales, veremos que muita coisa já não faz mais sentido.
Sabemos que a substância básica da natureza não é a água, mas os átomos, sabemos que a
Terra não flutua sobre a água e que a causa dos terremotos não é a oscilação do mares.
01. (UFPR) De acordo com Tales de Mileto, a água é origem e matriz de todas as coisas.
Essa maneira de reduzir a multiplicidade das coisas a um único elemento foi considerada uma
02. (Enem 2020) Aquilo que é quente necessita de umidade para viver, e o que é morto seca, e
todos os germes são úmidos, e todo alimento é cheio de suco; ora, é natural que cada coisa se
ao apresentar uma
A. Abordagem epistemológica sobre o lógos e a fundamentação da metafísica.
B. Teoria crítica sobre a essência e o método do conhecimento científico.
C. Justificação religiosa sobre a existência e as contradições humanas.
D. Elaboração poética sobre os mitos e as narrativas cosmogônicas.
E. Explicação racional sobre a origem e a transformação da physis.
03. (UEG) A filosofia, para muitos filósofos e comentadores, tem data e local de nascimento –
séc. VII a. C. – e o primeiro filósofo teria sido Tales de Mileto (640-550 a.C.). Esse nascimento
da filosofia marcou toda história do Ocidente, deixando um vasto legado de conquistas que
ainda hoje influenciam nosso modo de ser. Dentre esses legados, destaca-se
A. A desconfiança nas decisões puramente racionais, exigindo que os sentimentos e as
paixões tivessem prioridade sobre a razão.
B. A visão fatalista da realidade, já que os gregos acreditavam que a vontade humana era
condicionada por determinismos sociais e históricos.
C. O nascimento da filosofia enquanto fato histórico-social, circunscrito à realidade grega,
exercendo pouca influência no desenvolvimento posterior do Ocidente.
D. O pensamento operando conforme leis e princípios que permitem distinguir o verdadeiro
do falso, além de postular que as práticas humanas eram resultado da deliberação da
vontade.
culturalmente. Essa cultura mitológica fundamentava-se em dogmas que, por sua vez,
fazendo acreditar nas mesmas coisas de maneira comum. Nesse contexto, a primeira
natureza a partir da sua origem. Desse modo, entre os séculos VII e VI a.C, defendiam a
05. (Unioeste) “A proposição de Tales de que a água é o absoluto ou, como diziam os antigos,
o princípio, é filosófica: com ela, a filosofia começa porque, através dela, chega à consciência
distanciar-se daquilo que é em nossa percepção sensível; um afastar-se deste ente imediato -
um recuar diante dele. Os gregos consideraram o sol, as montanhas, os rios, etc., como forças
autônomas, honrando-os como deuses, elevados pela fantasia a seres ativos, móveis,
conscientes, dotados de vontade. Isto gera em nós a representação da pura criação pela
fantasia — animação infinita e universal, figuração, sem unidade simples. Com essa proposição
infinidade de princípios, toda esta representação de que um objeto singular é algo que
verdadeiramente subsiste para si, que é uma força para si, autônoma e acima das outras, é
sobressumida e assim está posto que só há um universal, o universal ser em si e para si, a
intuição simples e sem fantasia, o pensamento de que apenas um é. Este universal está, ao
mesmo tempo, em relação com o singular, com a aparição, com a existência do mundo.”
Hegel
“Não se trata de contrapor os gregos aos outros povos, como se fossem destituídos de
racionalidade. Mas diante do real, os gregos não se limitaram a uma atividade prática ou a um
filosófico: a pergunta filosófica exige uma postura mais puramente intelectual.” Gerd A.
Bornheim