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Tales de Mileto
Tales nasceu no século VII a.C., em Mileto, uma cidade grega, e é considerado o primeiro
filósofo, porque foi o primeiro a propor uma explicação racional e naturalista para a origem
e funcionamento de todas as coisas. A questão que Tales colocou é “qual o princípio de
todas as coisas”.
Tales de Mileto
Antes de conhecermos o pensamento de Tales, é importante entender um aspecto
metodológico do estudo da filosofia. Muitas vezes encontramos palavras na filosofia, como
a palavra “princípio”, cujo significado já conhecemos. Porém, elas têm, na filosofia, um
significado um pouco diferente daquele encontrado na linguagem comum.
Na linguagem comum, princípio significa “o primeiro momento da existência (de algo), ou
de uma ação ou processo; começo, início”. No pensamento dos filósofos da natureza, essa
palavra, além disso, significa o fim último de todas as coisas e aquilo que as sustenta. É
aquilo que permanece sem mudança nas transformações pelas quais passa a natureza.
Para entender o conceito de princípio, é útil uma analogia. Imagine que um filósofo da
natureza perguntasse qual é o princípio de uma garrafa pet, por exemplo. Com essa
pergunta, ele estaria querendo saber o elemento básico a partir do qual ela é formada, que
sustenta sua existência e no que ela se transforma quando deixar de existir. Nesse caso, o
princípio é um elemento químico associado ao petróleo. É a partir dele que a garrafa é
gerada e, caso seja derretida, é nele que ela irá se transformar.
O que Tales pretendia, portanto, ao perguntar qual o princípio de todas as coisas era algo
análogo. Buscava um elemento fundamental do qual todas as coisas se originam e no qual
todas se tornam no momento que deixam de existir. E qual sua resposta? Para Tales, esse
elemento era a água. Ou seja, esse filósofo acreditava que todas as coisas eram geradas a
partir da água.
Não restou nenhum texto escrito por Tales, de modo que não sabemos ao certo porque ele
acreditava que a água era o princípio de todas as coisas. Alguns interpretes posteriores
fizeram algumas suposições para explicar essa concepção.
Uma delas é a versatilidade da água. Esse elemento pode passar por mudanças, como
evaporação e condensação, se tornar líquida, sólida ou gasosa e, apesar de todas essas
transformações de estado, ela permanece sempre a mesma substância. Ora, é justamente
isso que precisa um elemento básico: que permaneça inalterado mesmo com as
transformações pelas quais passa aquilo que compõe. Além disso, ela está presente nas
mais diferentes coisas da natureza, é essencial para as plantas e animais.
Lista de pré-socráticos
Tales foi o iniciador da escola de Mileto. Seus discípulos deram continuidade às suas
investigações, mas chegaram a conclusões diferentes. Anaximandro e Anxímenes,
defendiam que o elemento primordial da natureza era, respectivamente, o apeirom e o ar.
Mitos geralmente fazem parte da tradição oral de uma cultura, mas conhecemos muito da
mitologia Grega graças aos trabalhos de Homero e Hesíodo. O primeiro é autor da Ilíada e
da Odisseia. O segundo, escreveu Os trabalhos e os dias e Teogonia. No último, narra a
formação da terra e dos deuses.
Por não encontrar sua filha, Deméter ficou preocupada, irada e muito triste. Tais
sentimentos causaram uma seca prolongada, já que ela era a deusa da fertilidade do solo.
Para tentar acalmá-la, Zeus (deus dos deuses) resolveu intervir e fez um trato com seu irmão
Hades: Perséfone teria que passar seis meses do ano ao lado de Hades no mundo
subterrâneo, e os outros seis ela estaria “liberada” para passar ao lado da mãe.
Isso, para os gregos, explicaria a origem do inverno. Esse seria o período em que Perséfone
estaria ao lado de Hades e sua mãe muito triste. Por outro lado, os seis meses de fertilidade
e flores (primavera e verão) seria o tempo em que a moça passaria ao lado de sua mãe.
Observe que o mito recorre à fantasia e à imaginação para explicar como se dá uma
mudança nas estações do ano. Os primeiros filósofos, seguindo a tradição iniciada por
Tales, procuraram fazer uso da razão e da observação para explicar fenômenos como esse.
É verdade que a tentativa de Tales não foi muito bem-sucedida. Avaliando hoje a afirmação
de que “tudo é formado de água” certamente diremos: “isso não explica muita coisa”. Mas
não é sua resposta que faz com que seja o criador de uma nova maneira de pensar. Isso se
deve à maneira como abordou o problema.
Além de dar início a uma abordagem racional e naturalista para os problemas da natureza,
Tales também iniciou uma tradição de pensamento que incentiva a crítica e a modificação
de ideias antigas. Qualquer religião ou mitologia é em alguma medida conservadora, se
opõe à inovações, à mudanças em suas ideias. A filosofia, por outro lado, desde seu início
foi favorável a isso. Os integrantes da escola iniciada por Tales, Anaximandro e
Anaxímenes, propuseram respostas totalmente diferentes da do mestre. Algo que foi feito
também pelos demais pré-socráticos.
Tales de mileto
Tales é considerado o primeiro filósofo porque foi o primeiro a propor uma explicação racional e
naturalista para a origem e funcionamento de todas as coisas.
Índice do conteúdo
Tales de Mileto é um filósofo pré-socrático que nasceu na cidade de Mileto, na Grécia
Antiga, provavelmente em 624 a.C., e morreu em 546 a.C. Ele é considerado o pai da
filosofia por ser o primeiro a responder a questão sobre do que são feitas as coisas e explicar
uma série de fenômenos naturais utilizando o raciocínio e a observação ao invés de criar
mitos e histórias fantasiosas para isso.
Ele também é considerado um dos sete sábios da antiguidade. Sua reputação se deve ao fato
de ter uma grande variedade de interesses: filosofia, matemática, astronomia e engenharia.
Essa ampla gama de conhecimentos permitiu-lhe desenvolver ideias inovadoras e influentes
em cada uma dessas áreas, tornando-se um verdadeiro pioneiro do pensamento filosófico e
científico.
Astronomia
Tales fez contribuições significativas no campo da astronomia. Ele é famoso por ter
previsto um eclipse solar que ocorreu em 585 a.C., o que foi um marco na história da
ciência. Se supõe que ele chegou a essa conclusão através da observação dos ciclos da
natureza e do estudo das regularidades astronômicas. Ele teria analisado registros anteriores
de eclipses e, a partir deles, percebeu um padrão que lhe permitiu fazer a previsão.
Além disso, Tales foi capaz de determinar os solstícios, ou seja, os momentos em que o sol
atinge seu ponto mais alto (solstício de verão) ou mais baixo (solstício de inverno) no céu.
Ele conseguiu isso observando o movimento aparente do sol ao longo do ano e percebendo
que havia dois pontos em que o sol parecia “parar” antes de mudar de direção. Dessa forma,
ele estabeleceu uma base para a compreensão dos ciclos sazonais e da duração dos dias e
noites ao longo do ano.
Tales também propôs um método para medir o tamanho do sol e da lua. Ele acreditava que
a lua estava a uma distância fixa da Terra e que seu tamanho aparente era proporcional à sua
distância. Com base nessa suposição, utilizou a geometria e os ângulos formados durante
um eclipse lunar total para calcular a proporção entre o diâmetro do sol e da lua e suas
respectivas distâncias à Terra. Embora suas estimativas não fossem totalmente precisas, seu
método demonstrou a importância da observação e do raciocínio matemático na busca pelo
conhecimento científico.
Sua preocupação com a astronomia lhe rendeu não só conhecimento, mas também alguns
momentos de distração e embaraço. Conta-se que uma vez, enquanto caminhava absorto na
observação das estrelas, não percebeu um obstáculo em seu caminho e caiu em uma vala,
ficando preso e tendo que pedir socorro. Uma velha que o acompanhava, ao testemunhar o
incidente, zombou dele com sarcasmo e disse: “Como pretendes, Tales, tu, que não podes
sequer ver o que está à sua frente, conhecer tudo acerca do céu?”.
Ele acreditava que a Terra repousava sobre a água, uma ideia que ele explicou através da
analogia de que a Terra está em repouso porque é da natureza da madeira e de substâncias
semelhantes, que têm a capacidade de flutuar na água, embora não no ar. Tales
provavelmente chegou a essa conclusão observando os navios no porto de Mileto e
comparando sua flutuação com a de troncos de árvores. Ele pode ter imaginado que a Terra
possuía alguma qualidade semelhante que lhe permitia flutuar na água. Embora essa teoria
esteja em desacordo com o conhecimento atual, ela demonstra o pensamento racional e as
observações empíricas do filósofo.
Aristóteles atribuiu a Tales o conhecimento da esfericidade da Terra. Se supõe que ele pode
ter chegado a essa conclusão observando fenômenos astronômicos, como eclipses solares, o
movimento das estrelas e a forma como objetos desaparecem no horizonte. Essas
observações teriam sido difíceis de explicar se a Terra fosse plana e, portanto, podem ter
levado Tale a propor a ideia de uma Terra esférica.
Consistente com sua hipótese de que a Terra flutua na água, Tales propôs que os terremotos
ocorriam quando a Terra oscilava devido à agitação das águas sobre as quais repousava.
Embora a teoria esteja incorreta, demonstra um avanço em relação à visão tradicional de
que os terremotos eram causados por Poseidon, um deus irritado que sacudia a Terra com
seus passos rápidos, pois fornece uma explicação que não envolve entidades ocultas, deuses
e mitos.
Matemática
Na história da geometria, Tales é conhecido por ter descoberto um teorema que leva seu
nome e é amplamente utilizado até hoje. Ele foi capaz de provar que, em um conjunto de
linhas paralelas cortadas por uma transversal, os segmentos interceptados na transversal são
proporcionais.
Além disso, ele foi um dos primeiros a medir a altura das pirâmides do Egito, o que foi uma
grande conquista na época. Para medir a altura das pirâmides, utilizou um método bastante
engenhoso: ele mediu a sombra da pirâmide em um determinado momento do dia, quando a
sua própria sombra tinha o mesmo comprimento que sua altura. Usando proporções, ele foi
capaz de calcular a altura da pirâmide com base no comprimento da sombra. Esse feito
demonstrou as habilidades matemáticas de Tales e sua capacidade de aplicar a geometria
em problemas do mundo real.
Com base em seu conhecimento sobre a natureza, Tales quis mostrar aos que duvidavam da
importância dos seus estudos em filosofia o quanto eles realmente valiam. Ele conseguiu
prever uma safra farta de azeitonas e, com essa informação, alugou todos os moinhos da
região que eram usados para produzir azeite. Com essa estratégia, ganhou um bom dinheiro
e provou que o estudo da filosofia pode ser bastante útil na vida prática.
O que ele pretendia ao perguntar qual o princípio ou arché de todas as coisas era encontrar
um elemento fundamental do qual todas as coisas se originam e no qual todas se tornam no
momento que deixam de existir. E qual sua resposta? Para ele, esse elemento era a água. Ou
seja, ele acreditava que todas as coisas eram geradas a partir da água e que voltavam a ser
água depois que deixassem de existir.
Não restou nenhum texto escrito por Tales, de modo que não sabemos ao certo porque ele
acreditava que a água era o princípio de todas as coisas. Alguns intérpretes posteriores
fizeram algumas suposições para explicar essa concepção.
Uma delas é a versatilidade da água. Esse elemento pode passar por mudanças, como
evaporação e condensação, se tornar líquida, sólida ou gasosa e, apesar de todas essas
transformações de estado, ela permanece sempre a mesma substância. Ora, é justamente
isso que precisa um elemento básico: que permaneça inalterado mesmo com as
transformações pelas quais passa aquilo que compõe. Além disso, está presente nas mais
diferentes coisas da natureza. Ela é essencial para as plantas e animais e está presente em
muitos fenômenos naturais.
O legado de Tales
Se olharmos para as contribuições de Tales, veremos que muita coisa já não faz mais
sentido. Sabemos que a substância básica da natureza não é a água, mas os átomos, sabemos
que a Terra não flutua sobre a água e que a causa dos terremotos não é a oscilação do
mares.
Anaximandro
Anaximandro foi um filósofo pré-socrático, que nasceu na cidade grega de Mileto no século
VII e estudou com Tales, o primeiro filósofo. Assim como o mestre, Anaximandro deu
contribuições para a filosofia, astronomia e engenharia, além da biologia e geografia.
Entre suas criações, dizem que inventou um relógio para marcar as horas e foi o primeiro a
desenhar um mapa com os contornos da terra e do mar, além de ter construído um globo.
Cosmologia de Anaximandro
Seus estudos em astronomia o levaram a novas ideias sobre o universo. Anaximandro
pensava que a terra era cilíndrica e permanecia suspensa no espaço por uma espécie de
equilíbrio de forças. Acreditava que a lua não possui luz própria, mas refletia a luz do sol e
que este era composto de fogo e tão grande quanto a terra.
Anaximandro também defendia que o universo é infinito, tanto no tempo quanto no espaço.
Nos é familiar a ideia de um universo finito. De acordo com a mitologia cristã, Deus criou a
terra, o sol e os planetas que observamos e nada além disso. Esse nosso universo teve um
início e terá um fim. Antes desse início não havia nada e depois desse fim haverá a
eternidade ao lado de Deus.
O universo pensado pelo filósofo era completamente diferente desse. Em primeiro lugar,
pensava, nosso mundo não é único, pois nesse exato momento existem uma infinidade de
outros planetas. Em segundo lugar, existe um processo infinito de nascimento e morte de
mundos. Ou seja, exatamente nesse momento mundos estão morrendo e outros estão
nascendo. Esse processo não teve um início e não terá um fim, é eterno.
Anaximandro também propõe uma explicação para como se deu o processo de criação do
nosso mundo e dos seres que vivem nele. Segundo o filósofo, inicialmente surgem dois
elementos fundamentais: o frio e o calor. O frio teria sido em parte transformado pelo calor
e isso gerou o ar. Por um processo contínuo de transformação mútua, isso teria gerado a
terra, a água, o sol.
A explicação para a origem de nosso sistema solar pode parecer ingênua hoje em dia.
Porém, é importante destacar a tentativa de oferecer uma explicação com base em processos
naturais que podem ser conhecidos através da investigação. Há nas ideias de Anaximandro
uma tentativa de usar o raciocínio para lançar luz nas grandes questões da humanidade
sobre a origem do universo. Embora problemáticas, suas ideias representam um avanço em
relação às explicações míticas disponíveis no momento em que vivia.
A filosofia de Anaximandro
Embora tenha estudado com Tales, Anaximandro se reservou o direito de discordar o
mestre. Tales afirmava que o princípio básico de todas as coisas é a água. Ou seja, que tudo
que existe, inclusive a terra, o ar, os animais etc. é formado por água.
Para Anaximandro, esse princípio é o a-peirom, uma palavra grega que se refere a algo
infinito, indeterminado. Para o filósofo, o que está por trás de todas as coisas não é uma
coisa em particular, como a água de Tales, mas algo mais abstrato, que não pode ser
observado mas apenas inferido através do raciocínio.
Anaxímenes
Anaxímenes é um filósofo pré-socrático que viveu no século VII a. C. na cidade grega de
Mileto. Ele estudou filosofia com Anaximandro e como esse se interessou por uma série de
áreas do conhecimento, como astronomia. Ele é o terceiro integrante da escola Jônica de
filosofia, ao lado de Tales e Anaximandro.
Anaxímenes também pensava que toda a natureza era composta por um princípio ou
elemento único. Se para Tales esse princípio era a água e Anaximandro o ilimitado, para seu
sucessor esse elemento era o ar. Para o filósofo todas as coisas são formadas de ar através
de um processo de condensação e distensão.
Uma série de processos naturais também recebe explicação: o relâmpago e o trovão surgem
do vento saindo das nuvens; terremotos são causados quando a terra seca muito depois de
ter sido umedecida pelas chuvas; o granizo é formado pela água congelada.
Talvez muitas das ideias e explicações oferecidas por Anaxímenes nos pareçam ingênuas.
Hoje temos um conhecimento muito avançado sobre o mundo comparado ao que estava
disponível na época em que viveu o filósofo. Mas ao fazer esse tipo de avaliação, é
necessário não perder de vista o contexto.
Anaxímenes está dando os primeiros passos na tentativa de buscar uma compreensão para a
natureza que não recorra a deuses para explicar seu funcionamento. Está tentando usar a
observação e o raciocínio para desvendar seus mistérios. E nisso foi bastante engenhoso.
Pitágoras
Pitágoras é um filósofo pré-socrático que nasceu na ilha de Samos, onde hoje fica a
Turquia, em 570 a. C., mas passou boa parte de sua vida em Crotona, na Itália, onde
desenvolveu sua filosofia e criou um grupo de seguidores chamados pitagóricos. Morreu no
início do século V a. C.
Sua vida está completamente envolta em mistérios. A escola fundada por Pitágoras era uma
espécie de ordem religiosa e sociedade secreta e o filósofo era cultuado quase como um
semideus entre os discípulos.
Não restaram escritos de Pitágoras. Aliás, provavelmente não escreveu nenhum livro. A
filosofia de Pitágoras era uma espécie de sabedoria que somente os iniciados deveriam ter
acesso. Ninguém que fazia parte da escola deveria falar sobre a doutrina para os que não
faziam parte. E essa exigência parece ter sido observada durante um longo tempo.
O primeiro pitagórico a romper o silêncio e publicar um livro foi Filolau, já nos tempos
de Sócrates, porque se viu em dificuldades financeiras e queria resolver o problema
vendendo livros.
Assim, já desde Aristóteles se fala não da filosofia de Pitágoras, mas dos pitagóricos, já que
é impossível diferenciar entre o pensamento do mestre e dos inúmeros discípulos que se
vieram depois.
Ideias de Pitágoras
Philosophia
A palavra “filosofia” é formada por duas palavras gregas “philo” + “sophia” que significa,
literalmente, amor ou amizade à sabedoria. O filósofo segundo essa definição não é o sábio,
que já conhece a verdade, mas aquele que está a sua procura.
Segundo uma versão, Pitágoras foi o responsável por criar e usar a palavra “filosofia” nesse
sentido. Porém, há dúvidas sobre a verdade dessa história. A concepção do filósofo não
como um sábio, mas como um amante do saber, é bastante platônica.
Tudo é número
Essa admiração pela matemática levou o filósofo a afirmar que o princípio de todas as
coisas são os números.
O que o levou a essa conclusão provavelmente foi uma série de observações. Em primeiro
lugar, os pitagóricos usavam bastante a música como meio de purificação e catarse. E a
música pode ser traduzida em determinações numéricas. Os sons diferentes das cordas de
um instrumento é determinado por fatores quantitativos, como espessura, comprimento etc.
Eles também descobriram as relações harmônicas de oitava, quinta e quarta e suas leis
numéricas.
Além disso, existem números por toda a natureza: as estações do ano são quatro, dos dias
têm vinte quatro horas, os seres humanos levam nove meses para nascer etc.
Observando isso tudo, Pitágoras conclui que os números são a origem de todas as coisas.
Contudo, é importante entender que os números têm um sentido diferente hoje. Pensamos
neles como abstrações mentais que existem na cabeça das pessoas como instrumentos de
cálculo apenas. Para o filósofo, eles eram reais, e na verdade até mais reais que uma pedra
ou árvore, por exemplo, já que era a partir deles que toda a natureza era formada.
Reencarnação
Os pitagóricos acreditavam em reencarnação. De acordo com sua teoria, a alma possui uma
culpa inicial que deve expiar através de sucessivas reencarnações, não só em corpos de
seres humanos, mas em animais também. Pitágoras dizia ouvir no uivo de um cachorro a
voz de uma amigo morto e pensava ser capaz de se lembrar de suas vidas passadas.
Assim, o objetivo de uma vida pitagórica é purificar a alma e libertá-la do corpo, para que
não precise mais reencarnar. É esse o sentido da filosofia para os pitagóricos: se dedicar ao
conhecimento, à pesquisa, à ciência é a forma de purificar a alma de seus pecados.
Ao final desse processo, a alma seria capaz de voltar a viver entre os deuses, o que deveria
ser o objetivo final da existência humana.
Heráclito
Heráclito é um filósofo pré-socrático que nasceu na cidade de Éfeso, na Grécia Antiga,
aproximadamente no ano de 535 a.C. e morreu em 475 a.C. Essa cidade fica perto de
Mileto, onde nasceu a filosofia. Como os demais pré-socráticos, se dedicou à investigação
da natureza, mas também foi além, explorando outros domínios, como a política e a ética. É
lembrado sobretudo por sua afirmação de que, na natureza, “tudo flui”.
Heráclito não era uma pessoa muito sociável. Pelo contrário, era desdenhoso e
aparentemente desprezava as pessoas. Tanto que não quis participar da política – algo
bastante valorizado entre os gregos – e mesmo quando foi convidado a redigir leis para a
cidade, recusou.
Escreveu um livro cujo título é “Sobre a Natureza” do qual restaram alguns fragmentos.
Pelo estilo empregado na escrita, Heráclito ficou conhecido como “o obscuro”. Quando
perguntado por que escrevia de maneira difícil, respondeu que o fazia para evitar a ilusão
daqueles que leem coisas aparentemente fáceis e pensam entender o que de fato não
entendem.
Ideias de Heráclito
Tudo flui
Dos fragmentos que restaram do livro de Heráclito certamente o mais conhecido é o
seguinte:
“Não se pode descer duas vezes o mesmo rio, e não se pode tocar duas vezes uma
substância mortal no mesmo estado, pois por causa da impetuosidade e da velocidade da
mudança, ela se dispersa e se reúne, vem e vai. (…) Nós descemos e não descemos pelo
mesmo rio, nós próprios somos e não somos.”
Também é em razão dessa mudança constante que Heráclito diz que “somos e não somos”.
Nós somos algo num instante e não somos mais aquilo que éramos antes de ser o que somos
agora. Se somos uma pessoa molhada em um rio, não somos mais a pessoa que estava com
calor e gostaria de se refrescar.
O filósofo pensa que o fluir constante não é apenas uma característica da vida de seres
humanos e de rios, mas da realidade como um todo. Isso vale para as rochas, os planetas, as
plantas, animais, estações e até mesmo para materiais quase indestrutíveis como diamantes.
Tudo flui.
A harmonia dos contrários
Outra característica fundamental da natureza para Heráclito é o fato de que tudo é formado
de contrários: o quente e o frio, o dia e a noite, o inverno e o verão, a vida e a morte. A
mudança, o “tudo flui” é sempre a passagem de um contrário ao outro. A criança que se
torna velho, o seco que se torna úmido e assim sucessivamente.
O filósofo descreve esse processo como uma “guerra” e entende que é a guerra a força por
trás do movimento constante da natureza. E o resultado final dessa guerra não é a desunião,
mas uma “harmonia dos contrários”, porque no fundo “tudo é um”. O jovem e o velho são a
mesma coisa, porque esse será aquele quando mudar e aquele será esse. O mesmo ocorre
com o calor e o frio e os demais contrários.
“a doença torna doce a saúde, a fome torna doce a saciedade, o cansaço torna doce o
repouso. Não se conheceria sequer o nome da justiça se ela não fosse ofendida.”
Ou seja, se não existissem doenças, não teria valor a saúde, se não existissem injustiças,
sequer saberíamos o que é a justiça. Se não houvesse a morte, o que pensaríamos da vida?
Política
Em um dos fragmentos que restaram do livro Sobre a Natureza, Heráclito recomenda que
seus concidadãos se enforquem por terem banido seu líder mais destacado. Provavelmente,
era totalmente contrário ao governo democrático, por pensar que o povo não passa de um
bando de ignorantes. Defendia que o melhor era um governo aristocrático de sábios, onde
os mais capacitados tomam as decisões.
Parmênides
Parmênides foi um filósofo pré-socrático que nasceu na cidade de Eléia em 515 a. C. e
morreu em 450 a. C. É o fundador da escola eleática, que valorizava extremamente o uso da
razão e da lógica como meio para obter conhecimento ao mesmo tempo que não aceita as
experiências sensoriais como válidas.
Principais ideias de Parmênides
O ser e o não-ser
Parmênides escreveu um poema apresentando sua filosofia. Esse poema parte de algumas
premissas fundamentais e a partir delas chega a uma série de conclusões lógicas. Além
disso, também possui uma aura um tanto mística, já que Parmênides escreve como se a
verdade lhe fosse revelada por uma deusa, que o conduz pelo caminho do conhecimento.
A primeira consequência lógica dessa afirmação é de que o ser é eterno, sempre existiu e
sempre irá existir, é imutável. A razão para isso é a seguinte: para o ser ter sido criado,
deveria ter sido criado do nada. Ora, o ser não pode surgir do não-ser. Da mesma forma, o
ser não pode deixar de existir, pois desse modo teria que se transformar em não-ser. Mas foi
justamente isso que Parmênides disse ser impossível no início de seu poema: o ser não pode
se tornar não-ser. Portanto, só resta uma possibilidade: o ser sempre existiu e sempre irá
existir, não tem início nem fim.
A segunda consequência é de que a única coisa sobre a qual podemos pensar e falar é
o ser. O não-ser não pode ser dito nem pensado. Pensar o nada significa pensar em nada,
ou não pensar, e dizer o nada é não afirmar coisa alguma. Portanto, o pensamento e o ser
andam juntos. O ser é uma condição para que seja possível pensar.
A verdade e o erro
Na segunda parte do poema, a deusa que conduz Parmênides lhe apresenta os caminhos que
pode trilhar para conhecer a verdade. O primeiro é o caminho da verdade, o segundo, da
falsidade e do erro e o último, o caminho da opinião.
O caminho da verdade é o caminho da razão. Isso quer dizer que através do raciocínio
lógico é possível chegar a um conhecimento verdadeiro sobre as coisas.
Os sentidos, ou seja, tudo aquilo que podemos conhecer através da observação, da escuta
etc, representa o caminho do erro. Eles são vistos como enganosos, ao fazerem os homens
acreditar em coisas que são falsas. E o maior erro que a confiança nos sentidos como fonte
de conhecimento leva é a crença de que o ser é e não é. Vamos ver o que isso quer dizer.
Se pararmos para observar (ao invés de raciocinar) sobre a realidade, notaremos, como
fez Heráclito, que “tudo flui”. Ou seja, a natureza está em constante transformação. Os
dinossauros um dia foram animais que habitaram o planeta terra, hoje não existem mais; da
mesma forma, um dia fomos crianças, agora não somos mais.
Hora, o que os sentidos parecem mostrar é justamente que o ser é e não é, que algo que não
existe (uma criança que ainda não foi concebida) passa a existir (o nascimento da criança) e
deixa de existir novamente (a criança se tornou adulto). O que ocorreu foi justamente aquilo
que a lógica de Parmênides dizia ser impossível, ou seja, a passagem do não-ser ao ser e
deste novamente ao não-ser.
Como seria absurdo acreditar que o ser pode surgir do nada ou se transformar em nada,
devemos, segundo Parmênides, desconfiar da observação. A deusa que o conduz diz para
que evite cometer esse erro.
O filósofo, assim, faz uma crítica aos pré-socráticos que o precederam, por não
reconhecerem uma verdade tão elementar e terem chegado a conclusões duvidosas, como a
alegação de Heráclito de que tudo flui.
O desafio de Parmênides
Empédocles
Empédocles é um filósofo pré-socrático que nasceu na cidade de Agrigento, na Sicília, em
492 a. C. e morreu em 435 a. C. Além de filósofo, era poeta, médico, participava da política
e se atribuía poderes mágicos, como o de ressuscitar os mortos e controlar o vento e a
chuva. Há uma lenda segundo a qual teria se suicidado se jogando na cratera de um vulcão
para provar que era um deus imortal.
As quatro raízes
Empédocles era um admirador de Parmênides e aceitou como verdadeira sua conclusão
fundamental: o ser é e o não-ser não é, de modo que é impossível o não-ser se tornar ser e o
ser se tornar não-ser. Numa linguagem aproximada e menos abstrata, o ponto é que o
universo existe e não pode ter surgido do nada, assim como esse mesmo universo que existe
não pode se tornar nada.
Parmênides havia concluído disso que qualquer transformação na natureza era totalmente
ilusória e, na verdade, tudo permanece imutável. Empédocles procurou desenvolver uma
explicação para as transformações naturais que não implique um vir do nada e um ir para o
nada.
Para o filósofo, assim como outros pré-socráticos como Tales, Anaxímenes e Heráclito, a
natureza é formada por substâncias simples e básicas. Para Tales essa substância era a água,
para Anaxímenes o ar, para Heráclito o fogo e Empédocles acreditava que tudo é
constituído por água, terra, ar e fogo. Para ele, tais elementos são as “raízes de todas as
coisas”, no sentido de que da combinação desses elementos surgem os planetas, as plantas,
as rochas, os seres humanos.
Assim, na verdade, não existe nascimento nem morte, no sentido de uma coisa vir do nada e
retornar para o nada. O que existe é um misturar-se e um separar-se de quatro elementos
que sempre existiram e sempre existirão, pois são eternos e não se transformam. Quando do
nascimento de um animal, por exemplo, uma série de elementos foram reunidos numa
determinada ordem. Esse animal não surgiu do nada. Quando de sua morte, os mesmos
elementos irão se separar. Portanto, nada deixa de existir realmente, tudo se transforma.
No entanto, seria incorreto pensar que o universo como conhecemos surgiu do amor. O
filósofo pensava que se o amor prevalecesse totalmente, todos os elementos seriam
comprimidos num objeto esférico. Assim, não teríamos o nosso universo, mas um grande
bola compacta. Por outro lado, se o ódio prevalecesse totalmente, teríamos um universo
formado por uma infinidade de elementos afastados uns dos outros.
Pensamento e percepção
Hoje acreditamos que o órgão responsável pelo pensamento é o cérebro. Empédocles tinha
uma teoria bem diferente, defendia que era o coração o responsável pelo pensamento e que
esses eram conduzidos através do sangue. De modo que o pensamento não é uma
exclusividade dos seres humanos.
Nossos órgãos sensoriais, o nariz, os olhos, o tato, a audição, assim como os objetos são
formados pelos mesmos elementos: terra, ar fogo e água. Assim, a percepção é alcançada
pela atração de semelhantes: percebemos cores pelo fogo e cores escuras pela água.
Empédocles: o imortal
Empédocles, por influência dos pitagóricos, tinha uma série de crenças místicas. Acreditava
ter sido um deus imortal, mas que por cometer o pecado de assassinato e comer carne, foi
condenado a pagar sua culpa se tornando uma infinidade de outros seres: árvore, pássaro,
peixe etc.
Esse processo durou milhares de anos, mas enfim havia expirado a culpa e se tornado
novamente um ser imortal. De modo que não precisaria mais reencarnar em formas de vida
inferiores.
Não está claro se a imortalidade e o processo de reencarnação descrito por Empédocles era
algo que acontecia com todos os seres humanos ou com apenas alguns seletos. O fato é que
o filósofo se considerava um ser imoral.
Demócrito
Demócrito é um filósofo grego que viveu em Abdera, nasceu em 460 a. C. e morreu em 371
a. C. É conhecido sobretudo por ser um dos criadores da ideia de que tudo é formado
por átomos. Porém, sua filosofia é muito mais que isso.
Há uma anedota sobre o momento de sua morte. Já muito velho, sentiu a morte se
aproximar. Sua irmã ficou triste porque o período coincidia com a festa das Tesmofórias, de
modo que não iria poder prestar o culto adequado à deusa. Vendo isso, Demócrito a animou
e pediu para que trouxessem diariamente pães quentes e aproximando-os das narinas,
conseguiu sobreviver o tempo necessário. Morreu em seguida, sem qualquer sofrimento.
O filósofo era um grande sábio, conhecedor de uma infinidade de temas. Quando ainda
jovem recebeu uma herança e usou para viajar por várias cidades do mediterrâneo. Aí toma
conhecimento de várias ideias. Terminada a herança, retorna para casa e passa a
desenvolver suas próprias ideias.
Demócrito foi o criador de uma obra extensa. Segundo fonte antiga, Platão teria planejado
reunir e queimar seus livros, porém, dois pitagóricos o convenceram de que seria impossível
juntar todos os exemplares de sua obra, de tão numerosos. Embora não tenham sobrevivido,
a lista de livros de Demócrito chega a setenta, sobre física, ética, geometria, geografia,
matemática e outros assuntos.
Se pegarmos qualquer coisa, como uma pedra, é possível dividi-la em partes menores, pois
ela é constituída por um conjunto de elementos. Porém, chegará um momento em que não
será mais possível continuar com essa divisão, porque teremos chegado a partículas que
“não podem ser cortadas”, ou seja, teremos chegado aos átomos que constituem a pedra.
Além de átomos, também existe o vazio, um espaço entre esses que permite seu movimento,
que permite que se agreguem e se separem. Caso não existisse vazio, os átomos não
poderiam se mover e assim formar tudo o que observamos.
Como é possível que algo tão organizado venha a existir? Algumas pessoas explicam esse
fato, assim como tudo o que acontece, como o resultado de uma inteligência que tem um
determinado propósito. Ela é a responsável por ordenar tudo.
Demócrito era um materialista que acreditava que a realidade era constituída apenas de
átomos. Portanto, não existe uma alma humana imaterial que seja capaz de viver
eternamente. Tudo o que há de eterno no cosmos são os átomos. As combinações de átomos
que forma tudo o que percebemos é passageira e está condenada a se desfazer para dar lugar
a novas combinações. O ser humano e seus pensamento também. Com a morte, é o fim do
indivíduo.
Citações
Quem jamais foi tão sábio? Quem produziu uma obra tão vasta quanto a dos onisciente
Demócrito? A morte esteve presente em sua casa durante três dias, e ele a tratou como
hóspede amiga com o cálido odor dos pães fumegantes.
Demócrito