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COLÉGIO ESTADUAL DA POLÍCIA MILITAR DE GOIÁS – HUGO DE CARVALHO RAMOS

MATERIAL
ANO LETIVO 2023 1º BIMESTRE COMPLEMENTO
Série Turma (s) Turno
1º Ano do Ensino Médio ABCDEFGHI MATUTINO

Professor: ALEXANDRE R. BERNARDES Disciplina: FILOSOFIA


Aluno (a): Nº da chamada:
Atividade
Data: / / 2023 - MATERIAL DE ESTUDO

Escola de Civismo e Cidadania

MATERIAL PARA ESTUDO: OS PRÉ-SOCRÁTICOS

O INíCIO DA FILOSOFIA: A EXPLICAçãO RACIONAL DA NATUREZA


Os primeiros filósofos viveram entre o final do século VII a.C. e meados do século V a.C.,
em colônias gregas, principalmente na Ásia Menor. Eles são conhecidos como filósofos pré-
socráticos, porque são anteriores ao filósofo Sócrates (c. 470-399 a.C.), ou naturalistas, porque
se dedicaram a investigar a natureza ( phýsis, natureza em grego). Esses filósofos buscavam
explicar os fenômenos naturais, como a chuva, as estações do ano e o ciclo da vida.
As explicações filosóficas eram diferentes das narrativas míticas. Os filósofos não
tentavam encontrar nos deuses as respostas para as dúvidas ou para as perguntas que faziam
a respeito do mundo. Eles não diziam simplesmente "Isso é assim porque tal deus quer". Em
vez disso, buscavam na própria natureza as explicações para os fenômenos naturais.
Assim, esses filósofos estudavam a natureza para encontrar os princípios mais gerais de
sua organização. Quer dizer, para eles, existiam regras naturais, independentes da vontade
dos homens e dos desejos dos deuses, e o ser humano era capaz de investigá- las.
Para os pré-socráticos ou naturalistas, apesar de essas regras serem independentes
da vontade humana, o homem conseguiria compreendê-las. E como o ser humano poderia
investigá-las e entendê-las? Por meio da razão. Para eles, o ser humano só poderia
compreender a essência da natureza e entender as suas leis se a observasse racionalmente e
refletisse sobre ela.
Assim, para os naturalistas, as reflexões e observações racionais levariam a um
conhecimento mais próximo da verdade, isto é, com base nessas explicações, os homens
poderiam enxergar melhor a realidade.

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CONHEÇA UM POUCO MAIS

A phýsis grega
A expressão phýsis tem origem grega e foi traduzida como "natureza". Ela era entendida
como uma força criadora, responsável pelo nascimento e o desenvolvimento de todos os
seres. A expressão phýsis também indicava a disposição natural de todo ser em desenvolver
plenamente suas características.
Assim, um filhote de tigre, por exemplo, tem a disposição natural para se tornar um tigre
adulto, reproduzindo as características da espécie. O mesmo acontece com o ser humano.
Para os gregos antigos, tudo surgia da phýsis e a ela retornava.
Mãe e filhotes de tigre de bengala. De acordo com a phýsis, os filhotes têm disposição natural para atingir a forma "adulta" da
mãe.

Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique mondial. Paris: Larousse, 2003. p. 14.

A DESCOBERTA DA NATUREZA
Pode-se dizer que a partir dos pré-socráticos a natureza começou a ser entendida de
maneira diferente. Como se ela tivesse sido descoberta. Isto é, esses filósofos perceberam
que a natureza tem uma existência própria, independente dos deuses e dos homens. A
natureza tem as suas regras e leis, que podem ser compreendidas e estudadas pelo ser
humano.
Além disso, houve outra mudança importante. Antes dos filósofos naturalistas, o universo
era compreendido como algo em parte natural e em parte sobrenatural e mágico. Nas
narrativas míticas, poderes invisíveis estavam presentes em todas as partes. No
pensamento filosófico e científico, o sobrenatural desaparece, tudo o que nos cerca passa a
ser natural e pode ser investigado racionalmente.

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"A ciência tem início quando se compreende que o universo é um todo natural, com comportamentos
imutáveis e próprios - comportamentos que podem ser determinados pela razão humana, mas que estão
além do controle da ação humana. Chegar a esse ponto de vista foi uma grande conquista."
CORNFORD, F. M. Antes e depois de Sócrates. Tradução de Valter Lellis Siqueira. São Paulo: Martins Fontes,
2005. p. 9.

FERNANDO FAVORETTO/CRIAR IMAGEM

A filosofia contribuiu para desvendar os fenômenos naturais e explicá-los racionalmente, retirando deles qualquer caráter
mágico.

AS ESCOLAS PRÉ-SOCRáTICAS
Na história da filosofia, costuma-se estudar as seguintes escolas pré-socráticas:
• a escola jônica, que leva esse nome por causa da região onde surgiu, a Jônia, na atual
Turquia. Faziam parte dessa escola os pensadores Tales, Anaximandro, Anaxímenes e
Heráclito;
• a escola pitagórica, que leva o nome de Pitágoras, o seu principal representante;
• a escola eleata, criada na colônia grega de Eleia, no sul da Itália. Faziam parte dessa
escola os filósofos Parmênides e Zenão; e
• os pluralistas, que defendiam a existência de vários princípios, e não de apenas um;
por isso, "pluralistas". Entre eles estavam Empédocles, Anaxágoras, Leucipo e Demócrito,
esses dois últimos são chamados também de atomistas.
Neste capítulo, veremos Tales, Anaximandro e Anaxímenes e, por último, Pitágoras.
Na próxima unidade, estudaremos Heráclito, Parmênides e os filósofos pluralistas.

TALES: O UNIVERSO É FEITO DE áGUA


Tales é considerado o primeiro filósofo. Ele acreditava que a arché da natureza era a água.
Isto é, para ele todas as coisas existentes na natureza seriam compostas de água e teriam
surgido a partir dela. Por que Tales elegeu a água como o princípio gerador de tudo? Não se
tem certeza sobre o que motivou essa escolha, mas esse elemento da natureza tem
características que devem ter levado Tales a fazer essa opção.

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A água pode ser encontrada nos estados líquido, sólido e gasoso. É uma substância
essencial para a vida animal e vegetal e, portanto, para o ser humano. Ela está presente na
seiva das plantas e no sangue dos animais. Além disso, o ciclo natural da evaporação
(transformação da água do estado líquido para o estado gasoso) e das chuvas possibilita que
ela esteja presente na terra, nos rios, nos mares e no céu (nas nuvens). Todas essas
características mostram a grande importância da água para o nosso planeta.
Assim, Tales concluiu que a água é a origem de todas as coisas, que tudo é feito dela. Mas,
se tudo é água, como as coisas se diferenciam? Ela está presente em tudo, mas não está
presente na mesma proporção. Há coisas com pouca umidade, como uma rocha, e coisas com
muita umidade, como uma gota de mel. Dessa maneira, os seres da natureza são diferentes
entre si, mas fazem parte de uma mesma unidade: a água.
Você pode estar pensando que Tales estava enganado, pois nós sabemos que o universo
não é composto apenas de água. Não esqueça, no entanto, que Tales estava apenas iniciando
o caminho do pensamento racional, há mais de vinte e seis séculos. A importância de seu
pensamento está no fato de ele ter inaugurado uma nova forma de pensar e de explicar o
mundo. Tales não recorreu a um mito ou a alguma narrativa mágica. Ele elegeu um
elemento primordial, a água, e, por meio desse elemento, procurou explicar
racionalmente tanto a unidade como a diversidade do universo.

PERSONAGEM

Tales provavelmente nasceu na cidade grega de Mileto, na Ásia


Menor, onde hoje é a Turquia, no final do século VII a.C., e morreu em
546 a.C. Desenvolveu estudos em várias áreas do
conhecimento. Na astronomia, supõe-se que previu um eclipse solar que teria acontecido
em 585 a.C. Na matemática, ele teria introduzido o estudo da geometria e feito inúmeras
descobertas.

ANAXIMANDRO: O INFINITO ESTÁ NA ORIGEM DO MUNDO


Anaximandro possivelmente foi discípulo de Tales. Segundo alguns estudiosos, esse filósofo
teria elaborado o tratado filosófico Sobre a natureza, que se perdeu.
Para Anaximandro, a água não era o princípio de
todas as coisas. A água, assim como tudo o que existe
no universo, derivava de um princípio mais geral , o
qual o filósofo chamou de ápeiron, que significa em
grego "aquilo que não tem limites", ou seja, "aquilo que
é infinito e indeterminado". Isto é, para esse filósofo, a
arché não podia ser a água, a terra, o ar, o fogo ou
qualquer outro elemento determinado. Tinha de ser
algo sem forma e sem

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distinção (indeterminado), a partir do qual poderiam surgir as coisas individuais. A partir do
infinito e do indeterminado teriam surgido, por exemplo, a água, a terra, o ar, o fogo, os planetas,
a vegetação etc.
Anaximandro dizia que o ápeiron, ou infinito, era eterno, que existia antes do surgimento
do universo e nunca deixaria de existir. Assim os seres nasceriam, gerados do ápeiron,
cresceriam, desenvolveriam-se e morreriam, retornando para ele. Para o filósofo, as coisas
e os seres eram mortais, mas o ápeiron era imortal.

PERSONAGEM

Anaximandro nasceu em Mileto, em 610 a.C., e morreu em 547 a.C.


Segundo alguns estudiosos, o filósofo teria elaborado um mapa da
Terra e desenvolvido estudos astronômicos sobre as distâncias entre as
estrelas

ANAXÍMENES: O AR DÁ VIDA A TUDO


Anaxímenes foi discípulo de Anaximandro e, como seu mestre, defendia que o princípio
gerador de todas as coisas era infinito, mas discordava de que ele fosse indefinido.
Anaxímenes dizia que o ar infinito, e não a água, era a origem de todas as coisas. Pelo
movimento do ar, as coisas foram geradas e se diferenciaram pela quantidade maior
(condensação) ou menor (rarefação) desse elemento. Assim, foram surgindo as nuvens, o
vento, a água, a terra, os seres vivos e tudo o que existe.
O que levou Anaxímenes a escolher o ar como o princípio de tudo? Esse filósofo entendia
o universo como um grande ser vivo; e, como o ar é importante para a respiração de
qualquer ser vivo e está presente na Terra e em todo o universo, elegeu -o como a arché de
todas as coisas.
"Anaxímenes de Mileto [...] declarou que o ar é o princípio das coisas que existem; pois é dele
que provêm todas as coisas e é nele que de novo se dissolvem.
Tal como a nossa alma [...] que é ar, nos mantém unidos e
nos governa, assim também o vento (ou sopro) e o ar
cercam o mundo inteiro."
ÉCIO. In: KIRK, G. S.; RAVEN, J. E.; SCHOFIELD, M. Os filósofos pré-
socráticos. 4. ed. Tradução de Carlos Alberto Louro Fonseca. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1994. p. 161.
PERSONAGEM

Anaxímenes nasceu em Mileto, aproximadamente em


585 a.C., e morreu em 528 a.C. Pouco se sabe a respeito da sua vida.
Provavelmente escreveu um livro sobre a natureza. Algumas de suas ideias influenciaram
os estudos em astronomia. Foi o primeiro a afirmar que a luz da Lua provém do Sol.
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PITÁGORAS: TUDO É NÚMERO
O filósofo Pitágoras nasceu na ilha de Samos, próximo à cidade de Mileto.
Provavelmente teve contato com Tales, Anaximandro e Anaxímenes. Por volta de 530
a.C., Pitágoras foi para as cidades gregas de Crotona e de Metaponto, localizadas no sul
da Itália, região conhecida na época como Magna Grécia. Lá o filósofo conquistou muitos
discípulos e fundou uma seita religiosa. Todos os participantes da seita de Pitágoras
tinham de seguir uma vida de disciplina, estudo, oração e de jejuns frequentes. Eles
tinham de evitar relações sexuais, não deviam comer carne de nenhuma espécie animal
nem consumir bebidas fortes.
Pitágoras e seus discípulos misturavam ideias religiosas, místicas e filosóficas para
explicar a realidade.

PURIFICAÇÃO DA ALMA
Do ponto de vista religioso, Pitágoras acreditava que a alma, após a morte,
reencarnava em outro corpo, por diversas vezes, até se purificar. Os corpos morriam,
mas a alma era imortal. Assim, o ser humano deveria se dedicar à purificação da alma,
para que tivesse fim o ciclo de reencarnação constante, para que a alma não precisasse
mais migrar para diversos corpos humanos ou de animais.
Mas como o ser humano poderia purificar sua alma? Para Pitágoras, a alma só se
libertaria quando adquirisse a verdade divina; e isso só aconteceria pelo conhecimento e
pela contemplação ou pelo pensamento. Por esse motivo, todos os pitagóricos levavam
uma vida de estudo e de orações. Todos buscavam a sabedoria e a amavam. Pitágoras
teria sido a primeira pessoa a usar o termo "filósofo", palavra grega que significa
"aquele que ama ou é amigo da sabedoria" ( philo tem o sentido de "aquele que ama ou é
amigo" e sophía significa "sabedoria").

A ARCHÉ É O UM
Os pitagóricos foram muito além das descobertas na música, pois defenderam que os
números e a harmonia estão presentes em todas as coisas. Eles estão na arquitetura, por meio
das noções de proporção, e no espaço, por meio das relações de distância e de posicionamento
entre os planetas. Assim, os números, e não uma matéria primordial, explicam e revelam a
essência da natureza e de tudo o que existe. Os números organizam harmonicamente o
mundo e a realidade.
Para Pitágoras, os números surgiram de uma totalidade, de um princípio geral: o Um. Dessa
totalidade, por meio de divisão, surgiu o número dois, depois o número três e da mesma
maneira os demais números. Assim o Um é a arché da natureza e os números estão
presentes em tudo.

PERSONAGEM
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Pitágoras foi um matemático e filósofo grego. Nasceu
aproximadamente em 570 a.C., na ilha de Samos, e morreu em cerca
de 496 a.C. Atribui-se a ele a elaboração do famoso Teorema de
Pitágoras. Esse filósofo contribuiu para o desenvolvimento de
diversas áreas de estudo, como a matemática, a geometria e a
astronomia. Na filosofia, suas ideias
influenciaram os três grandes filósofos da Grécia antiga: Sócrates, Platão e Aristóteles.

Referências Bibliográficas:

MELANI, Ricardo. ENCONTRO COM A FILOSOFIA; editora executiva Maria Raquel Apolinário – 1º. ed.
São Paulo: Moderna, 2014.

ARRUDA, Maria Lucia. MARTINS, Maria Helena Pires. FILOSOFANDO INTRODUÇÃO À FILOSOFIA;
2º ed. São Paulo: Moderna, 2018.

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