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Anaxágoras avançou ao afirmar que essas partes, de dimensões tão diminutas, escapavam
à métrica e à quantificação humanas, inaugurando assim uma perspectiva científica que
postulava a existência de uma matéria fundamental, minúscula e inapreensível pelos métodos
convencionais de mensuração. Essa abordagem representou um passo significativo em direção
à compreensão científica moderna, antecipando a ideia de uma matéria fundamental subjacente
às diversas manifestações do mundo físico.
Embora Anaxágoras não forneça uma explicação clara sobre a natureza dessa
inteligência, ele afirma que ela direciona e governa as coisas, conferindo a elas um propósito.
Essa ideia ecoa, de certa forma, as futuras provas da existência de Deus desenvolvidas por
Aristóteles. A noção de inteligência não é completamente elaborada por Anaxágoras, mas
representa um passo nessa direção.
A vida humana, nessa perspectiva, é instigada a buscar a ordem e a inteligência. Ao
contrário de Empédocles, cujo enfoque está no culto da natureza e dos elementos, Anaxágoras
propõe que a verdadeira natureza do universo é regida por uma inteligência. Assim, ao exercer
a inteligência e descobrir a ordem da razão e da verdade, o ser humano se aproxima dessa
inteligência e da verdadeira essência do universo.
O filósofo também levanta a possibilidade de vida fora da Terra, sugerindo que o Nous
pode disseminar a vida pelo vasto universo. Ele associa profundamente a noção de vida à
inteligência, indicando que a própria distinção dos seres vivos resulta da ordem governada por
essa inteligência.
Dessa forma, Anaxágoras inclina-se à ideia de que existe apenas uma entidade divina, a
inteligência, rejeitando a concepção pagã tradicional com múltiplos deuses. Essa abordagem
mais monoteísta e questionadora do paganismo estabelecido resulta em perseguições contra
Anaxágoras, pois desafia as crenças convencionais.
Seu discípulo notável, Péricles, emerge como uma figura de excelência e destaque em
Atenas. Péricles, além de suas características marcantes de inteligência e carisma, torna-se um
líder durante a Guerra do Peloponeso, destacando-se como uma das principais figuras na
história de Atenas.
Durante esse período, Atenas enfrenta desafios significativos, com a democracia muitas
vezes levando ao caos nas assembleias. Péricles, no entanto, representa o ápice da democracia
ateniense ao guiar o estado de maneira aristocrática, utilizando a retórica para persuadir as
pessoas a seguir uma direção determinada. Anaxágoras, por sua vez, desempenha um papel
fundamental como mentor de Péricles, influenciando-o a adotar uma abordagem virtuosa e a
usar a retórica para liderar responsavelmente.
Tudo indica que Anaxágoras não compartilhava a crença nos deuses gregos, assim como
Sócrates. Ele os via como metáforas, desafiando a concepção convencional e introduzindo uma
perspectiva mais abstrata e racional sobre a divindade, ao negar a existência de múltiplos
deuses, propõe um único princípio de ordem no mundo, a inteligência. A vida humana,
portanto, é instigada a buscar a virtude para se alinhar a essa inteligência cósmica. A liberdade
irrestrita é vista como propensa ao caos e à desordem, destacando a necessidade de uma cultura
de responsabilidade liderada por indivíduos notáveis, como Péricles.
Péricles emerge como o campeão dessa abordagem virtuosa, um exemplo vivo, liderando
Atenas durante a Guerra do Peloponeso. Seu comprometimento com a virtude e a
responsabilidade, influenciado por Anaxágoras, é admirado. No entanto, a história registra que,
apesar da grandeza de Péricles, sua liderança não impediu que Atenas enfrentasse desafios,
incluindo a crítica de Tucídides à cultura de irresponsabilidade na democracia.