1) O documento discute a Revolução Científica dos séculos XVI e XVII, iniciada por Copérnico e Galileu, que mudou os paradigmas científicos vigentes na época;
2) Copérnico propôs que o Sol, e não a Terra, era o centro do universo, enquanto Galileu realizou experimentos que refutaram teorias aristotélicas;
3) A Revolução Científica inaugurou um novo método científico baseado na observação experimental e nos fatos, em contraposição
1) O documento discute a Revolução Científica dos séculos XVI e XVII, iniciada por Copérnico e Galileu, que mudou os paradigmas científicos vigentes na época;
2) Copérnico propôs que o Sol, e não a Terra, era o centro do universo, enquanto Galileu realizou experimentos que refutaram teorias aristotélicas;
3) A Revolução Científica inaugurou um novo método científico baseado na observação experimental e nos fatos, em contraposição
1) O documento discute a Revolução Científica dos séculos XVI e XVII, iniciada por Copérnico e Galileu, que mudou os paradigmas científicos vigentes na época;
2) Copérnico propôs que o Sol, e não a Terra, era o centro do universo, enquanto Galileu realizou experimentos que refutaram teorias aristotélicas;
3) A Revolução Científica inaugurou um novo método científico baseado na observação experimental e nos fatos, em contraposição
A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA DOS SÉCULOS XVI E XVII (1543 - 1687)
“A experiência, que é madre de todas as coisas, nos desengana e de toda a dúvida
nos tira”. (Duarte de Pacheco) O que é uma Revolução Científica? (Thomas Khun)
A. Conceito de Revolução Científica: o físico e
historiador Thomas Khun, no clássico da década de 1960, A Estrutura das Revoluções Científicas, pensa uma Revolução Científica como essencialmente uma mudança total ou parcial de paradigmas. Um paradigma, em suas palavras, é uma realização científica universalmente reconhecida que, durante algum tempo, fornece problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência – o paradigma, embora não precise ser absolutamente unânime e perfeitamente claro, orienta as pesquisas, com conceitos, teorias, metodologias, crenças, valores e instrumentais comuns aos cientistas. A partir de um paradigma, a ciência busca resolver seus quebra-cabeças; a dificuldade de entendimento que o publico médio tem em relação ao conhecimento científico, a propósito, é um sinal de um amadurecimento de uma abordagem paradigmática, que deve ser entendida pelo aspirante a cientista. B. Exemplos de Paradigmas: por exemplo, de acordo com Khun, a Lei de Boyle, que relaciona a pressão do gás ao volume (PV=P’V’), só é possível depois de o ar ser reconhecido como um fluido elétrico ao qual podiam ser aplicados os conceitos da hidrostática – quando acreditava-se que o ar não tinha volume, que seria equivalente ao vazio, tal noção seria impossível. É necessário, portanto, uma mudança de paradigma. Outro exemplo: pensemos no campo da ótica. Epicuro considerava a luz como partículas que emanam de corpos materiais. Aristóteles como uma modificação entre o corpo e o olho. Platão explicava a luz como interação do mundo sensível com aquilo que emana do olho. Cada um usava, para construir essas interpretações, conceitos, interpretações básicas sobre a natureza. Eram diferentes paradigmas. A física moderna criará um novo Todos direitos reservados www.seliganessahistoria.com.br Página 1 paradigma: a luz pode se comportar como onda ou como partícula. Há também paradigmas sobre o espaço. Atualmente, o espaço cada vez menos é visto pelos físicos como um substrato inerte e homogêneo, como está na física de Newton e Maxwel, de modo que a física de Einstein, por exemplo, problematizou a maneira como vemos o espaço, o tempo, a matéria, a força, etc. As teorias evolucionistas pré-darwinianas, como Lamarck, Chambers, Spencer e os naturalphilosophen alemães consideravam a evolução um processo orientado para um objetivo; Darwin aboliu essa visão teleológica e mostrou como órgãos tão maravilhosamente adaptados, como a mão e olhos humanos – órgãos que no passado forneceram argumentos em favor da existência de um artífice supremo – eram produtos de um processo que alcançava com regularidade desde um início primitivo, sem contudo dirigir-se a nenhum objetivo – um novo paradigma na biologia. Numa Revolução Política, a mudança de paradigma pode ser, por exemplo, a substituição de um governo voltado ao direito divino do rei por outro baseado no paradigma da soberania popular. C. Quando ocorre uma Revolução Científica? A mudança de paradigma ocorre quando os membros da profissão não podem mais esquivar-se das anomalias que subvertem a tradição existente da prática científica, quando se viola as expectativas paradigmáticas que governam a ciência– em suma, uma crise. Tais anomalias são uma condição necessária para que haja uma Revolução Científica. Uma Revolução Científica, portanto, não consiste apenas em descobertas (embora seja inconcebível sem elas), mas demanda uma mudança na visão da realidade e de seus problemas, um deslocamento da rede conceitual por meio da qual os cientistas veem o mundo, uma reeducação perceptiva. Os novos paradigmas, por sua vez, possibilitam resolver novos quebra-cabeças e criam novas percepções científicas. Por exemplo, Aristóteles não pode ver a gravidade da mesma maneira que Newton porque, para o grego, a queda de uma pedra não é um processo, mas uma mudança de estado. Aristarco, no século III a.C., havia proposto que o sol , e não a terra, era o centro do universo. Quando a sugestão de Aristarco foi feita, o sistema geocêntrico não apresentava qualquer problema que pudesse ser solucionado por esse último – não havia crise, portanto não houve quebra de paradigma e revolução. No século XVI, entretanto, o sistema geocêntrico não mais se sustentava.
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www.seliganessahistoria.com.br Página 2 Paradigmas diferentes nos fazem enxergar a realidade de maneiras muito distintas. Parte 2 – A Revolução Científica dos Séculos XVI e XVII A chamada Revolução Científica teve esse nome porque, na elaboração de um novo conceito de razão, de experiência, de natureza e de lei natural, construiu “um novo quadro do mundo no qual se tornam problemáticas ou privadas de sentido muitas verdades que tinham sido óbvias por quase dois milênios.” Nesse sentido, não obstante os diversos predecessores, assume-se que foi Nicolau Copérnico quem iniciou a revolução científica moderna: ele contribuiu significativamente para o fim do universo fechado, harmônico e hierarquizado de Aristóteles. O sol, fornecedor da luz e vida no universo, é o centro do universo, e a Terra era um planeta como os demais. Entretanto, o cientista polaco conservou as estrelas fixas da cosmogonia medieval. Se a terra se movesse, dizia Copérnico, o ar, as nuvens, as aves e todos os objetos seriam arrastados no movimento da própria terra. O espaço, embora não fosse infinito, era maior do que pensavam os medievais.
Giordano Bruno retirou as consequências filosóficas desta revolução: herdeiro de
Copérnico e Nicolau de Cusa, ele afirmou logo a infinidade do mundo – o universo era imenso, inumerável, povoado de uma infinidade de mundos semelhantes ao nosso, povoado por outras criaturas sencientes. O universo, portanto, não possuiria centro algum. Condenado à morte na fogueira em 1600, Giordano Bruno falava de um deus in rebus, isto é, presente nas coisas, o que o distanciava tanto de católicos quanto de protestantes. Segundo Lovejoy, são cinco as ideias inovadoras de Bruno: 1. A afirmação segundo a qual outros planetas do nosso sistema solar são habitados por criaturas vivas, sencientes e racionais. 2. A demolição dos muros do universo medieval, com a dispersão das estrelas por vastos espaços irregulares. 3. A ideia de estrelas semelhantes aos nossos sois, circundadas por planetas próprios. 4. Hipótese de que os planetas desses mundos
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www.seliganessahistoria.com.br Página 3 tivessem também criaturas racionais. 5. Infinidade do universo físico e dos sistemas solares. Estas ideias, a propósito, não estavam em Copérnico, Kepler ou Galileu. Kepler, que se colocava como contrário a visão de Bruno, dizia que a ideia de uma pluralidade de universos lhe inspirava um “secreto e oculto horror.” Kepler, em sua Nova astronomia ou física celeste, de 1609, rejeitou as órbitas circulares aristotélicas dos corpos celestes, propondo trajetórias elípticas . Na Storia dell’età barroca in Italia, Benedetto Croce fala de Galileu Galilei como não somente um descobridor científico, mas como filósofo, destruidor da velha dialética aristotélica que ainda imperava nas universidades, opondo-lhes os resultados da nova pesquisa física. Galileu zombava da dialética dos filósofos escolásticos, esses “doutores da memória”, teria se desligado da confusão aristotélica entre física e teologia. Galileu, que via a si mesmo como um filósofo, frequentemente chamava de “nova” sua ciência. O copernicianismo, portanto, mais que uma descoberta, era, para Galileu, uma nova filosofia. Galileu, de maneira revolucionária, rejeitava o entrelaçamento entre física e metafísica. Para Aristóteles, por exemplo, os corpos em queda se movem cada vez mais depressa porque buscam seu “lugar natural” – aqui há um exemplo do entrelaçamento entre física e metafísica. Para Galileu, diferente de Aristóteles, procurar a essência de tudo ou o sentido da vida não era papel da física. Em vez de estudar física a partir de comentários da obra de Aristóteles (como Física, Do céu ou Da alma), Galileu apelava para o grande livro da natureza, indo, como se diria hoje, direto aos fatos, com os instrumentos apropriados, qual seja, as sensações, os conceitos, as experiências e as demonstrações – a experiência! Em famosa carta, Galileu fala numa revelação “através da obra de Deus, a qual só pode ser corretamente entendida e interpretada se for estudada com os novíssimos métodos objetivos.” Qualquer antropomorfização da natureza, qualquer visão de que a matéria está impregnado do divino, de que as estrelas são viventes, ou de que as coisas superiores governam as inferiores, como faziam os astrólogos, é rejeitada. O universo material nos é indiferente. Deus se revela por dois livros: a natureza e a Bíblia. E “a natureza está escrita em linguagem matemática”. A matemática, a partir de então, era uma linguagem universal e Todos direitos reservados www.seliganessahistoria.com.br Página 4 única, a forma da natureza se expressar para o homem. O casamento entre a ciência e a matemática parece um dos mais duradouros legados do Renascimento. Para Galileu, a natureza “não pode ser superada e nem fraudada pela arte”, de modo que ela “imutável e inexorável”, “nunca viola os termos das leis que lhe são impostas” – uma natureza regida por leis imutáveis, portanto, não poderia ser suscetível a ação dos magos ou dos alquimistas, tal qual Robert Fludd, morto em 1637, ao qual Kepler, Mersenne e Gassendi tanto criticavam. Se todo o universo é regido por leis matematicamente expressas, qualquer distinção entre o mundo terreno e celeste cai por terra – trata-se de um mesmo universo. A filosofia de Galileu é “ciência”, ou seja, fruto da razão e da experiência, válida para ampliar-se em seu próprio terreno. Como ciência, ela não pode conhecer as essências, os sentidos e o absoluto infinito; isso seria assunto da fé, que não esta na natureza, mas no outro livro, a Bíblia. O livro do cientista é único e é terreno. Fé e ciência, por isso, não se chocam, pois tratam de assuntos diferentes, campos de atuação diferentes, conservam sua autonomia. Deus, se é a razão de tudo que existe, está, bem por isso, além de tudo – querer estuda-lo por medidas humanas seria absurdo. A natureza é, a um só tempo, objeto de domínio e objeto de reverencia, que deve ser lido como expressão do poder e majestade de Deus. Parte 3 – O Papel do Mecanicismo da Revolução Científica Junto a ideia de que os eventos da natureza podem ser descritos por meio do ramo da física chamado “mecânica”, opera no século XVI e XVII a crença de que as máquinas criadas pelo homem são modelos a partir dos quais nós podemos conhecer a natureza. Kepler dizia: “a maquina do universo não é semelhante a um ser divino animado, mas semelhante a um relógio.” Hobbes pergunta: “o que é o coração senão uma mola, os nervos senão muitas cordas, e as articulação senão muitas rodas?” Descartes (que veremos mais detalhadamente na próxima aula), finalmente, escreveu: “vemos relógios, fontes artificiais, moinhos e outras máquinas desse tipo, embora construídos por homens, não são desprovidos da força de moverem-se por si sós (...) E na verdade podemos muito bem comparar os nervos aos tubos daquelas fontes, os músculos e os tendões aos outros aparelhos e molas.” se o mundo é uma máquina, ele não é mais construído par ao homem ou à medida do homem E, mais importante: como uma máquina, podemos entender a natureza desmontando-a em suas peças mais simples. Por fim, esse é o fosso que separa o empirismo científico do aristotélico: a “experiência” do moderno empirismo não é retirada Todos direitos reservados www.seliganessahistoria.com.br Página 5 da natureza espontânea, mas, digamos, de uma natureza molestada e dissecada a partir de um método, o qual visa verificar ou validar teorias. Isaac Newton ganhou o título de herói nacional ainda em vida, sendo chamado de “novo Moisés”, graças as suas leis universais. Assim, com essas leis, o funcionamento da natureza era entendido de maneira autônoma, regida por leis matemáticas, operando, tal como as máquinas, sem a intervenção da vontade e sem as finalidades aristotélicas. É o chamado mecanicismo, que vê a natureza como um mecanismo que a fazem funcionar sem uma força externa, sem um “primeiro motor.” A natureza, para Newton, era um santuário de Deus, uma expressão de sua perfeição: “as partículas sólidas, na primeira criação, foram variadamente associadas por decisão de um Agente Inteligentes” O universo, cada vez mais, deixa de ser um modelo a ser contemplado e imitação – o molde para a construção de nossos imperativos morais e éticos. O homem deixa de ser o microcosmo que reflete em si a grandeza e a harmonia do marcrocosmo. Parte 4 – Empirismo e Revolução Científica em Francis Bacon (1561-1626) Francis Bacon é considerado, junto a Descartes, um dos fundadores da filosofia moderna graças a sua defesa do método experimental contra a ciência especulativa clássica. Suas principais obras são Novum organum (1620), no qual critica a concepção de ciência do Órganon aristotélico, The Advancement of Learning, ampliado posteriormente com o título De augmentis, e New Atlantis, em que representa, tal como Thomas More, um reino utópico. Tal como Descartes, Bacon visava uma reforma filosófica radical que garantisse o progresso das ciências contra a escolástica, com um método cientifico que evitasse o erro e conduzisse o homem ao caminho correto e verdadeiro para atingir o conhecimento. A filosofia de Bacon rejeita os escolásticos por substituírem os bosques da natureza pelos debates nas escolas e nas celas de monge, colocando as esperanças da humanidade “talvez em seis cérebros”, a dialética, assim, subverteu a experiência e abandonou a natureza na qual Deus mostrou sua potência. A mente humana, quando trabalha em si mesma, em vez de trabalhar nas obras reais de Deus, produz tramas frívolas e inúteis. Assim, seu pensamento crítico tinha como objetivo libertar o homem de preconceitos, fantasias e superstições que impediriam a construção do verdadeiro conhecimento. Nesse contexto encontramos sua teoria dos ídolos. Os ídolos seriam obstáculos, distorções ou ilusões que “bloqueiam a mente humana”, conduzindo o homem ao erro e nos impedindo Todos direitos reservados www.seliganessahistoria.com.br Página 6 de conhecer o mundo como ele realmente é. Tais erros resultariam da perversão da natureza humana pelo pecado original. Haveria os ídolos da tribo, ou seja, os que resultam da natureza humana, a qual, imperfeita, distorce e corrompe as coisas devido aos limites naturais da própria razão; o homem não é um microcosmo que reflete em si as características do macrocosmo, não possui um lugar privilegiado no universo e, por isso, não há nada no universo que lhe permita conhece-lo. Os ídolos da tribo resultariam da confusão que o homem faz misturando seu intelecto e as coisas. Já os ídolos da caverna resultam das características individuais, ou seja, a constituição física e mental de cada um, sua experiência de vida, sua educação e seu meio, os quais prejudicariam o processo de conhecimento da realidade. É comum homens defenderem sem restrições seus hábitos, fechando-se ao novo. Os ídolos do foro (ou do mercado) são resultados da linguagem, comunicação e do discurso, ou seja, as palavras poderiam perturbar o intelecto e arrasta-lo a diversas controvérsias, ambiguidades e fantasias, designando realidades inexistentes. Finalmente, os ídolos do teatro são aqueles resultantes das doutrinas filosóficas e científicas, as quais criam mundos fictícios e teatrais, que muitas vezes aceitamos (Bacon referia-se, principalmente, à escolástica). Obviamente, seria impossível desfazer-se de todos os ídolos, mas conhecendo sua natureza, poder-se-ia combate-los. Dessa forma, Bacon analisou os diferentes tipos de ídolos e desenvolveu sua crítica aos sistemas filosóficos tradicionais, sobretudo o escolástico-aristotélico. C. Indução: tendo consciência dos ídolos que bloqueiam a mente humana, seria necessário ao homem despir-se de seus preconceitos, tornando-se uma “criança diante da natureza” para, assim, alcançar o verdadeiro saber. A partir de então, Bacon propôs seu método científico. O método é baseado na indução, a qual, a partir das observações e na experiência, permite ao homem conhecer a regularidade, o funcionamento e as relações entre os fenômenos da natureza, formulando, assim, as leis científicas. A partir desse método os cientistas transformaram suas observações em leis gerais. Esta ciência permitiria o controle total da natureza para, assim, beneficiar o homem, fazendo previsões e desenvolvendo instrumentos técnicos – extensões de nossos membros que ajudam a superar nossas limitações. Dessa maneira, o progresso do conhecimento, desde que aparado pela moral, pela caridade e pela religião, ajudaria o progresso do homem, por isso sua famosa frase: “saber é poder”. Assim, Bacon foi um defensor da ciência ativa, prática,
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www.seliganessahistoria.com.br Página 7 aplicada e de um pensamento crítico, que combateria as superstições e permitiria o progresso do conhecimento e a melhora da condição humana. Não há em Bacon a ideia do progresso como uma lei da história ou a identificação do progresso da ciência e da técnica com o progresso moral e político (Bacon não tem nada de positivista! Não seja anacrônico); Bacon, pelo contrário, dizia que “as artes mecânicas são de fato de uso ambíguo e podem produzir o mal e simultaneamente oferecer o remédio.” (Scritti filosofici, p. 483, apud Rossi, p.99). Para os expoentes da revolução científica, o avanço do saber e do poder humano sobre a natureza só tem valor num contexto maior de valoração da religião, moral e política. Bacon visava refirmar a absoluta transcendência divina: os estudos científicos, portanto, nada revelam sobre Deus – a ciência diz respeito à vida humana e ao bem que pode nela produzir. E “apenas” isso. Devemos, entretanto, ser cautelosos quanto a ideia de que a ciência moderna é um triunfo da racionalidade contra o obscurantismo medieval. Fora o fato de que muitos escolásticos deram, como já se viu, contribuições importantes à ciência, Kepler fazia horóscopos, Newton interessava-se por alquimia e o renascentista Marcilio Ficino traduziu textos de um homem chamado Hermes Trimegistos (“Hermes Três Vezes Grande”), uma encarnação do deus egípcio Thot. Nenhum dos cientistas vistos hoje, aliás, se declarava ateu. O Renascimento era como o deus Janus: uma cabeça voltada ao futuro, outra ao passado.
Debate no século XVII:
Racionalismo e Empirismo: quais as diferenças fundamentais? [ISSO SEMPRE CAI NO VESTIBULAR] Racionalismo: o homem não pode alcançar a verdade pura através de seus sentidos. As verdades essências estão não nos sentidos, mas nas abstrações, nas nossas consciências, nas quais habitam as ideias inatas (isto é, dadas por Deus antes do nascimento). A dedução é um método mais confiável para nos levar à verdade. O grande filósofo racionalista é Descartes, mas conversaremos sobre outros, como Spinoza e Pascal. Empirismo: em contrapartida ao racionalismo cartesiano, o empirismo, nascido na esteira da Revolução Científica, foi uma das principais correntes filosóficas do Todos direitos reservados www.seliganessahistoria.com.br Página 8 pensamento moderno. O empirismo (empiria significa experiência) representa uma tradição filosófica que, tomando como lema a frase aristotélica “nada está no intelecto que não tenha passado antes pelos sentidos”, acredita que todo conhecimento resultaria de percepções sensíveis, desenvolvendo-se a partir desses dados. O empirismo vê a experiência e a indução como guia e critério de validade na construção das teorias e conhecimentos científicos, ou seja, todo conhecimento resultaria de percepções sensíveis, desenvolvendo-se a partir desses dados. A realidade é acessível e pode ser observada e comprovada pela percepção sensorial, que é verdadeira. O homem só conhece algo se o percebe pelos sentidos, e todo o conhecimento provém disso. O conhecimento certo é o conhecimento demonstrado, observado, como as ciências naturais. Nossa mente é um feixe de sensações. Ideias inatas ou qualquer tipo de conhecimento anterior à experiência são descartados. É a ideia de que o homem nasce como uma tábua rasa, inscrita, ao longo da vida, com aquilo que os sentidos trazem. Os principais filósofos empiristas foram Francis Bacon, John Locke, George Berkeley, David Hume e Thomas Hobbes. São também tributários do empirismo os filósofos escoceses do senso comum, como Thomas Reid e Stuart Mill.