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01/09/2022 13:10 UNINTER

FILOSOFIA
AULA 2

Prof. Paulo Niccoli Ramirez

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01/09/2022 13:10 UNINTER

CONVERSA INICIAL

PARADIGMAS CIENTÍFICOS

O objetivo da aula é
compreender o processo de surgimento e transformação da ciência na

cultura
ocidental, desde seus primórdios com o pensamento aristotélico na Grécia Antiga
e

passando pela sua influência na ciência medieval, a denominada Escolástica,


até as rupturas com o

pensamento medieval com a ascensão da Ciência Moderna, de


modo que se procura refletir sobre

quais os impactos causados por novos métodos


científicos criados nos séculos XVI e XVII, entre

eles a matematização do
Universo produzida por Copérnico e Descartes, e a experimentação

científica,
elaborada por Galileu Galilei e Newton. Por último, investigaremos o
cientificismo
positivista do século XIX e teorias sobre as dinâmicas das
ciências desenvolvidas durante o século

XX por pensadores como Popper, Kuhn e Feyerabend,


preocupados com questões em torno das

condições que tornam possível uma teoria


se tornar mais hegemônica que outras ou mesmo o que

permite a superação de
teses que passam a ser consideradas obsoletas no interior dos debates

científicos.

TEMA 1 – ARISTÓTELES E A ORIGEM DA CIÊNCIA

Veremos no primeiro tema a


importância de Aristóteles (384-322 a.C.), pois este é considerado
o primeiro
entre os cientistas na cultura ocidental. Isto se deve ao fato de que o
pensador grego foi o

primeiro a elaborar um método científico, o chamado


silogismo, que possuía como pano de fundo a

crítica ao seu mestre Platão.


Aristóteles deixará profundas marcas na história da ciência, até ser

questionado pelos cientistas modernos, a partir dos séculos XVI e XVII,


conforme veremos nos

próximos temas da aula.

1.1 MATERIALISMO ARISTOTÉLICO VERSUS IDEALISMO PLATÔNICO


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Aristóteles é de origem
macedônica, império localizado ao norte das cidades gregas durante a

Antiguidade. Foi discípulo de Platão, porém veio a se tornar o seu maior


crítico. Aos 17 anos, após a
morte do pai, foi estudar em Atenas, onde
ingressou na Academia de Platão. Durantes duas décadas

permaneceu na condição
de aluno e depois se tornou professor da Academia. Desentendimentos

teóricos
com seu mestre, Platão, levaram Aristóteles de regresso à Macedônia e tornou-se
tutor de

Alexandre Magno. Quando Alexandre se tornou imperador da Macedônia e


invadiu a Grécia, dando

origem ao período denominado como “Helênico”,


Aristóteles fundou a sua própria escola em Atenas,

num local chamado Liceu, por


volta de 334 a.C. A escola de Aristóteles rivalizava com a Academia

de Platão.

A crítica de
Aristóteles ao seu mestre Platão deveu-se ao fato de considerar as teorias

platônicas demasiadas abstratas à medida que promovia a separação entre os Mundos


Inteligível e

Sensível, a cisão entre corpo e alma, além de buscar a verdade


apenas no mundo das ideias. Em
oposição a estas posturas platônicas,
Aristóteles acreditava que a filosofia se devia basear naquilo

que nos é dado a


conhecer por meio observação, de modo que o conhecimento verdadeiro não

estaria
presente no mundo das ideias, como queria Platão, senão na própria natureza e
nos seus

fenômenos.

Por este motivo,


isto é, buscar verdades na própria natureza, o projeto aristotélico consistia

numa investigação sistemática e rigorosa dos fenômenos dispostos na realidade


concreta, portanto,

promoveu uma abordagem científica. Foi dessa forma que


Aristóteles deu origem à biologia e

fortaleceu em sua época outras ciências,


como a astronomia, meteorologia, geologia, física, ética,

linguagem e política.

Platão é
considerado um filósofo idealista ou espiritualista por julgar que as verdades se

encontram no Mundo Inteligível. Aristóteles,


por sua vez, é considerado filósofo e cientista

materialista, pois julga


que as verdades estão presentes na própria natureza, ou seja, no mundo

material, negando inclusive as dualidades platônicas, como a oposição entre o


inteligível e o

sensível, alma e corpo, matéria e forma. Para Aristóteles, os


sentidos e corpo contribuem ao lado da

razão para a compreensão e observação da


natureza, de modo que devem estar em equilíbrio.

     

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O pintor
Renascentista Rafael (1483-1520) foi capaz de traduzir a oposição entre o
materialismo

aristotélico e o idealismo platônico por meio da obra A Escola


de Atenas (1510), presente no Museu

do Vaticano. A obra revela a concepção


idealista de Platão quando aponta um dos dedos para os

céus, metaforizando a
noção de que as verdades se encontram no Mundo das Ideias e apenas

podem ser
alcançadas com o uso da razão, jamais com os sentidos ou o corpo. Já
Aristóteles
apresenta sua mão indicada para baixo, revelando postura
materialista ao considerar que as

verdades são encontradas na natureza e devem


ser observadas com a razão e os sentidos.

1.2 O SILOGISMO ARISTOTÉLICO


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Aristóteles, na
obra Organon (2010), que poderia ser traduzido como instrumento ou ferramenta

escrita no século III a.C., elabora princípios da lógica e, por isso, é


considerado pioneiro na ciência,

pois pertence a ele o primeiro método


científico que se tem conhecimento, o silogismo. Aristóteles,

em certa medida,
se opôs aos procedimentos dialéticos de Platão (método de perguntas e

respostas, cujas conclusões eram um tanto subjetivas e idealistas). O


pensamento aristotélico se

propôs a promover procedimentos de investigação


científica por meio de observações qualitativas,

comuns e cotidianas, a partir


da correlação entre sensibilidade e racionalidade, para capturar a

verdade na
natureza. Por ser qualitativo, o método Aristotélico era apenas observacional,
sem contar

com experimentos ou procedimentos matemáticos.

Segundo Marilena
Chaui (1994, p. 200), “o silogismo é um conjunto de três juízos ou

proposições
que permite obter uma conclusão verdadeira. Trata-se de um método dedutivo no
qual,

de duas premissas, deduz-se uma conclusão”. Antes de analisarmos o


que é exatamente um método

dedutivo e proposições, é importante observar os


dois exemplos a seguir para um melhor

entendimento a respeito desse primeiro


método científico:

Na sua forma
padronizada, o silogismo é constituído por três proposições (expressões verbais

que resultam em afirmações). As duas primeiras são chamadas de premissas e a


terceira

conclusão. O silogismo é considerado uma forma de raciocínio


dedutiva. Mas o que é dedução e o

que a diferencia da indução? Aristóteles


preocupou-se com esta distinção na obra Organon (2010).

Toda dedução
inicia seu raciocínio a partir de elementos mais gerais, amplos ou universais
em

direção aos elementos particulares, até que se alcance alguma conclusão


muito específica. Vê-se

que o silogismo é uma dedução porque sua primeira e


segunda proposições são mais amplas e

genéricas do que a conclusão. A dedução pode


partir de uma hipótese abstrata ou de caráter geral

para relacioná-los com


situações e argumentos factíveis e particulares. Toda dedução é um

encadeamento
de raciocínios em que o conhecimento sobre algo é dado a posteriori.

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A indução,
por sua vez, promove procedimentos inversos ao da dedução. Parte da observação

de elementos particulares, com o objetivo de atingir uma conclusão sobre um


ponto de vista ou ideia

geral, de acesso a todos. Tem-se um conhecimento dado a


priori, por exemplo, percebemos que

“João morreu” ou “tenho fome” ou “é


dia”.

1.3 AS CIÊNCIAS E O PENSAMENTO ARISTOTÉLICO

Aristóteles desenvolveu
inúmeros estudos para a compreensão da physis (natureza), promoveu

estudos cosmológicos, físicos, geológicos e biológicos, entre outros. Entre


suas principais ideias

está a noção da geração espontânea, que


concebia a origem espontânea dos seres vivos a partir da

natureza. Aristóteles
também julgava ser a Terra o centro do universo (este último finito), sendo que

os demais corpos celestes (Lua, Sol e o firmamento) girariam em torno da Terra


devido a um Deus
materialista, designado como Primeiro Motor ou Moto
Imóvel. Suponha que apenas a Terra seria

constituída dos elementos água,


terra, fogo e ar e os corpos celestes seriam constituídos por éter,
havendo
rigorosa distinção entre o céu e a Terra. Concebia que os objetos físicos e as
posições

sociais (como senhores e escravos) eram determinados pela natureza.

Além de empregar o
silogismo (método apenas observacional, e não matemático ou

experimental),
Aristóteles trabalhava com quatros aspectos fundamentados em quatro causas, a
saber: causa material (do que a coisa é feita? Por exemplo, a casa
é de tijolos); causa eficiente (o que

fez a coisa? A construção); causa formal


(o que lhe dá a forma? A própria casa); e causa final (o que
lhe
deu a forma?).

TEMA 2 – A ESCOLÁSTICA E A CIÊNCIA MEDIEVAL

Investigaremos no Tema
2 a ciência medieval. Será possível observar as influências do
pensamento
aristotélico, que foi associado pela Igreja Católica às sagradas escrituras.

A Escolástica expressa
a ciência medieval cristã, ou seja, baseada na tentativa de conciliação
entre
um ideal de racionalidade, tradição grega do  platonismo  e  aristotelismo,
relacionados com a

verdade revelada pela fé cristã e os textos sagrados.


Segundo Aranha, “Escolástica. Designa os
filósofos e teólogos
medievais que ministravam cursos nas escolas eclesiásticas e nas

universidades
entre os séculos IX e XV” (2009, p. 113).

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O principal
pensador do período foi São Tomás de Aquino (1225-1274), responsável por
aristotelizar o cristianismo. A Escolástica também possuía apreço por Ptolomeu
(90-168 d.C.),

pensador grego, astrônomo e geômetra que buscou geometrizar o


movimento dos corpos celestes
em torno da Terra, a partir da premissa
geocêntrica (a Terra no centro do universo) desenvolvida por

Aristóteles na
Antiguidade.

Além da tese geocêntrica, a


Escolástica reafirmava outras concepções aristotélicas, entre elas a
distinção da composição da Terra (água, terra, fogo e ar)
e dos corpos celestes (Sol, Lua e demais

estrelas) constituídos por éter. A


Terra era tomada como imóvel, estática e o universo gira a sua
volta, movida
pelo Primeiro Motor do Universo, no caso, Deus. Apenas as sagradas escrituras
eram

vistas como instrumentos suficientes para se compreender a astronomia e o


movimento dos corpos
celestes, não sendo relacionada à física ou matemática.
Dessa forma, os corpos celestes eram

movimentados segundo a vontade divina,


cabendo recorrer às sagradas escrituras, segundo
Aristóteles e Ptolomeu, para
fornecer qualquer justificativa a respeito. Empregava-se método

silogístico (ou
silogismo), de caráter qualitativo e não quantitativo (ou seja, não matematiza
a
natureza).

Veremos no próximo
tema que, a partir dos séculos XVI e XVII, com ascensão da ciência

moderna, os
paradigmas aristotélicos e escolásticos serão criticados pela nova ciência.

TEMA 3 – A CIÊNCIA MODERNA

A partir de agora vamos compreender as rupturas causadas pela


Ciência Moderna em relação à
tradição aristotélica e escolástica. Pensadores
como Copérnico (1473-1543), Galileu (1564-1642),

Francis Bacon (1561-1626), Descartes (1596 – 1650), Newton (1643-1727), entre outros
produziram
novas concepções científicas que deram origem a novos métodos e
descobertas científicas.

3.1 A REVOLUÇÃO COPERNICANA

A obra astronômica
de Nicolau Copérnico, As Revoluções dos orbes celestes (1984), pode ser

considerada o marco inicial da ciência moderna. Publicada em 1543, pouco antes


da morte de
Copérnico, as ideias da referida obra demonstram o movimento da
Terra em torno do Sol (tese

heliocêntrica), apresentadas pelo pensador como


meras hipóteses matemáticas. Afirmar esta
descoberta como hipótese revelava o
temor e cautela da exposição de novas ideias diante da

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Inquisição da Igreja,
que encontrava no modelo científico aristotélico-ptolomaico o sistema de

interpretação do universo condizente com as sagradas escrituras. Copérnico,


portanto, põe em
xeque o sistema cosmológico tradicional, dando origem a novos
fundamentos científicos. Por ter

publicado a obra na semana de sua morte,


Copérnico nunca soube dos impactos de seu
pensamento para a cultura ocidental.

Com a Revolução
Copernicana, ocorre a dessacralização da Terra e, principalmente, do céu, pois

este passa a ser objeto de estudo passível de matematização. Copérnico foi o


primeiro a combinar
astronomia, matemática e física e tornou possível a
compreensão do movimento da Terra em torno

Sol. A obra de Copérnico representa


uma profunda transformação científica, e será o ponto de
partida, o alicerce
primordial e difusor, principalmente no século XVII, do que veio a ser a chamada

ciência moderna. Seu pensamento será o aporte teórico no desenvolvimento das


teorias de Galileu,
Kepler, Descartes, Pascal, Newton, entre tantos outros.

Na nova ciência,
não há lugar para explicações que recorram à causalidade divina, mas, pelo

contrário, a ciência é secularizada, laicizada, o que significa abandonar a


dimensão religiosa que
permeava todo o conhecimento medieval. Resulta disso um
problema moral e ético, pois a

humanidade observa que é uma pequena parte da


criação divina, e mais do que isto, as sagradas
escrituras da Bíblia,
fundamentadas no pensamento aristotélico com a Escolástica, não bastam

mais
como forma legítima de compreensão da ordem do mundo. De um lado, surge a
concepção de
que Deus está muito mais distante dos indivíduos do que se
pensava; do outro, a humanidade

fortalece-se enquanto ator do conhecimento e,


por isto, exime-se como mero objeto da criação.

Em homenagem a
Copérnico, até hoje são nomeadas com o termo “Revolução Copernicana”
todas as
grandes descobertas científicas relevantes, ainda que não tenham relação com o

movimento da Terra em torno do Sol. Assim, por exemplo, quando Darwin (1809-1882)
publicou sua
Origem das Espécies, em 1859, sua tese foi afirmada
pela comunidade científica como uma

“Revolução Copernicana”. Freud (1956-1939),


quando publicou o livro A interpretação dos sonhos, em
1900, e deu
ênfase ao papel do inconsciente sobre a vida mental, sua obra também foi
classificada

como uma “Revolução Copernicana”. O mesmo correu com Einstein


quando elaborou, em 1905, sua
teoria da relatividade ou recentemente com o
experimento do acelerador de partículas que

identificou a chamada “partícula


Deus”.

3.2 GALILEU GALILEI E A CIÊNCIA EXPERIMENTAL


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Galileu Galilei ao tomar


conhecimento dos estudos de Copérnico, "converteu-se" por volta de
1610 ao pensamento de seu antecessor. A partir da leitura de Copérnico, Galileu
produziu duas

importantes obras, Acerca da opinião copernicana, publicada


em 1615, e Diálogo sobre os dois
sistemas de mundo ptolomaico e copernicano,
publicada em 1632, levando Galileu a abandonar
definitivamente o modelo
aristotélico-ptolomaico. Auxiliado com a utilização da recente descoberta

do
telescópio, Galileu aperfeiçoa-o, e irá progressivamente desenvolver sua
mecânica, tendo como
aporte teórico a já condenada obra de Copérnico, censurada
pela Inquisição.

Galileu também é
considerado o pai da ciência experimental. Trata-se da noção de que para
alcançar as leis naturais e encontrar as verdades presentes na natureza seria
necessário manipular

artificialmente os fenômenos naturais, o que consolidou a


partir de então pesquisas feitas em
“laboratórios” ou ao menos a possibilidade
de realizar experimentos científicos. A utilização de

telescópios por Galileu


permitiu-o descobrir as quatro luas de Júpiter em 1610, onde viu que giram
em
torno deste planeta. Galileu observa que o mesmo se daria com o movimento da Lua
em relação

à Terra.

Pode-se dizer que


Galileu "radicaliza" os argumentos de Copérnico, tornando-os mais
realistas,
pois abandona a questão de os raciocínios matemáticos, sobre o
movimento da Terra,

apresentarem-se apenas como meras hipóteses, portanto, não


condizentes com a realidade. Na
verdade, afirma ser "loucura" negar
um procedimento matemático como irreal. Galileu impôs uma

universalidade da razão
natural (entendida como sentidos, discurso e intelecto), em que é o sujeito
que
determina o objeto de análise, combinando observação, observação e
matematização. É

importante que nem Copérnico ou Galileu utilizavam fórmulas


matemáticas, o que veio a ser
desenvolvido apenas no século XVII com o pensador
francês Descartes, conforme veremos no

próximo item.

Galileu promove
uma grande ruptura entre ciência e teologia, a qual representa um marco da
modernidade. Põe-se em questão a compatibilidade entre o pensamento
desenvolvido a parir da

"revolução copernicana" e as "sagradas


escrituras". Galileu sofreu dois processos de Inquisição,
sendo perdoado
no primeiro. Com o segundo processo, esteve em prisão domiciliar até sua morte.

3.3 A MATEMATIZAÇÃO DO MUNDO E A CIÊNCIA DE NEWTON

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O filósofo francês
Descartes será o responsável por conduzir a matemática a um patamar mais
elevado para a Ciência Moderna. Foi o responsável por desenvolver equações,
polinômios e

introduzir as incógnitas matemáticas. A partir de sua ciência foi


possível traduzir a natureza por
meio de equações. Duas de suas obras
representam a inauguração da matemática moderna: Regras

para a orientação do
espírito (2012), inacabada e publicada postumamente em 1684, e Discurso
do
método (1996), publicada em 1637.

O método de
Descartes foi proceder de forma matemática, ou seja, de modo quantitativo. É o
que define como Mathesis Universalis (matemática universal). Trata-se
do projeto de matematização

do mundo. Verifica-se que o método cartesiano tem


como fontes a geometria e a aritmética. Dessa
forma, utilizando o método
rigoroso do raciocínio matemático, ele esperava construir, sobre bases
firmes e
sólidas, um edifício filosófico que ficasse imune às controvérsias presentes no
método

silogístico de Aristóteles, fundamentado em apenas observações


qualitativas.

O método
cartesiano matemático está fundamentado em quatro princípios:

1. Verificar –
investigar e problematizar se o objeto a ser estudado realmente pode ou não ser

conhecido, por exemplo, um fenômeno natural, e não especulações abstratas;


2. Analisar – dividir o
objeto a ser conhecido em quantas partes forem necessárias (por este

motivo,
dividimos uma equação em incógnitas, parênteses, chaves e colchetes);
3. Sintetizar –
solucionar os problemas iniciando das partes mais simples às mais complexas; e

4. Enumerar (controle) - trata-se da


elaboração de rigorosas revisões, a fim de observar se o valor
das incógnitas é
compatível com a equação.

Descartes foi o
primeiro pensador a empregar os termos máquinas ou autômatos em
textos

filosóficos e científicos. Concebia que as máquinas seriam o resultado


da tradução operada pela
matemática dos fenômenos da natureza. Além disso,
Descartes pressupunha que com seu método

a humanidade passaria a ter o poder de


dominar a natureza por meio de suas ações. Não está mais
sob o jugo da
natureza, mas, ao contrário, encontra-se na condição de seu senhor. De escravo
da

natureza, com o pensamento cartesiano a humanidade passa, agora, a ser seu


mestre e possuidor.
Descartes afirma que a ciência e as máquinas poderiam
trazer bem-estar e conforto.

Na Inglaterra do século
XVI, Francis Bacon foi o responsável por introduzir o método
experimental e
criará corrente filosófica denominado empirismo, ou seja, noção de que todos
os
conhecimentos são obtidos por meio de experiências sensoriais e científicas,
tema este que será

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estudado no próximo capítulo. Bacon escreveu duas


importantes obras. A primeira delas, o Novum

Organum, publicada em 1620,


em que critica o silogismo aristotélico e propõe como método de
pesquisa a
observação empírica da natureza; o processamento racional dos dados obtidos; a

elaboração
de hipóteses fundadas nesses dados; e a verificação das hipóteses mediante
experimento replicável. Outro livro importante foi Nova Atlântida,
publicado em 1627, em que afirma

que saber é poder e defende que as


tecnologias poderiam conduzir ao domínio humano sobre a
natureza.

Estas perspectivas
influenciaram a física de Newton, o qual desenvolveu a descoberta de leis

naturais baseadas nos princípios de ação e reação, além do aprimoramento da


matemática para o
estudo do universo. Newton, na sua obra Princípia,
publicada no ano de 1687, afirmava ter se

apoiado nas costas de gigantes, ou


seja, de seus antecessores que constituíram a Ciência Moderna.
Newton foi
condecorado pela coroa inglesa e foi o primeiro grande cientista a ser admirado
e

protegido contra a perseguição religiosa. Em sua lápide presente na Abadia de


Westminster, em
Londres, consta a seguinte frase em latim: “A natureza e as leis
da natureza estavam imersas em

trevas; Deus disse ‘Haja Newton’ e tudo se


iluminou”.

A ciência moderna foi


determinante para a consolidação futura da Revolução Industrial a partir

do
século XVIII e também influenciou o movimento Iluminista na França.

TEMA 4 – O POSITIVISMO DE COMTE

No
século XIX o positivismo de Comte constitui-se como grande síntese dos métodos
e
avanços científicos e industriais europeus. Vamos estudar no que consiste
esta doutrina e quais as

polêmicas causadas por ela, sobretudo por ter sido


considerada uma teoria designada como

eurocêntrica.

4.1 A CIÊNCIA, SEGUNDO COMTE

Augusto Comte
(1798-1857) é fundador do “positivismo” e inventor do termo “sociologia”.
Afirma a necessidade de uma nova ciência que fosse responsável por estudar a
morfologia social,

ou seja, o processo de transformação das sociedades. Duas de


suas obras se destacam: Curso de

filosofia positiva, publicada entre


1830-1842, e Catecismo positivista, que foi publicada em 1852.

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Entre as
características do positivismo destacam-se a confiança na razão, ciência e

industrialização; a tendência experimental de sua ciência; a defesa do


evolucionismo social e do

progresso da humanidade; além da rejeição do


pensamento mítico. Comte foi influenciado pela

filosofia de Descartes (a ideia


de que a razão e a ciência dominam a natureza e produzem bem-
estar) e pela
ciência experimental. Nessa direção, as revoluções científica e Francesa contribuíram

para que a humanidade alcançasse o mais elevado patamar de desenvolvimento da


humanidade.

Comte relaciona estes eventos à ideia de ordem e progresso. Segundo


Aranha (2009, p. 32),

ao criticar o mito e
exaltar a ciência, contraditoriamente o positivismo fez nascer o mito do

cientificismo, ou seja, a crença cega na ciência como única forma de saber


possível. Desse modo,
o positivismo mostra-se reducionista, já que, bem
sabemos, a ciência não é a única interpretação

válida do real.

As concepções de
Comte estão baseadas na observação e exatidão, de modo que abandona as
teorias
e especulações da teologia e metafísica, ou filosofias de teor mais abstrato. As
ciências que

são positivistas são a matemática, biologia, astronomia, física,


química e a recém-criada sociologia,

que se baseia em dados estatísticos. Os


positivistas afirmam que a ciência é cumulativa (progresso)

e transcultural
(não interessa em qual cultura surgiu, serve para toda a humanidade). O
positivismo
influenciou as correntes que defendiam o darwinismo social no
século XIX. A frase na bandeira

brasileira é baseada no lema de Comte sobre o


positivismo. Comte afirmava o amor como princípio

e ordem como base; progresso


como objetivo.

4.2 A LEI DOS TRÊS ESTADOS

Para Comte, a humanidade passa


por três estágios de evolução: estado teológico, estado
metafísico e estado
positivo, constituindo o que denominou com a lei dos três estados.

No estado
teológico ou fictício, a explicação dos fatos é resultado de
leituras religiosas

animistas da natureza, ou seja, as forças naturais são


vistas como divinas. Trata-se do estágio de

sociedades vistas pelos europeus


como atrasadas e primitivas. Este estado evolui do fetichismo ao

politeísmo e,
em seguida, ao monoteísmo.

No estado
metafísico, a humanidade projeta sua própria psicologia e
racionalidade sobre a
natureza, dando origem a explicações teológicas e
filosóficas e filosóficas mais abstratas, como as

platônicas e medievais sobre


a origem de Deus e do universo.

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O estado
positivo descreve fatos com base em métodos científicos modernos,
como a
matematização e experimentação científica. Abandona-se as explicações
subjetivas filosóficas. O

estado positivo ou científico se baseia nas leis da


natureza, que permitem obter previsibilidade sobre

a natureza e seus fenômenos.


Este terceiro estágio está relacionado ao processo de

industrialização,
fortalecimento da ciência moderna e dos modelos políticos republicanos.

Para Comte, a lei dos três


estados é tanto reflexo da história da humanidade quanto do
desenvolvimento de
cada indivíduo. A criança fornece explicações fictícias ao mundo; o jovem é

metafísico e tem especulações mais filosoficamente abstratas; o adulto possui


uma concepção

positivista e científica da realidade.

Comte propôs uma


nova religião à humanidade em seu Catecismo Positivista. A ideia era
substituir os santos e os templos religiosos cristãos por filósofos, cientistas
e templos da

racionalidade. O positivismo foi empregado como álibi pelos


europeus durante o século XIX e XX

para exercer o Imperialismo e


Neocolonialismo na Ásia, África e Américas do Sul e Central. A ideia

era levar
ordem e progresso às sociedades ditas primitivas, ou seja, que se encontravam
no suposto
estado teológico ou fictício. O positivismo é visto hoje como uma
teoria eurocêntrica que flerta com

o racismo.

TEMA 5 – DINÂMICA DO DESENVOLVIMENTO DAS CIÊNCIAS


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O Tema 5 é dedicado ao estudo


das dinâmicas do desenvolvimento da ciência. Trata-se de

investigar diferentes
abordagens a respeito do que exatamente condiciona uma teoria a se tornar
hegemônica ou mesmo destronar teses científicas que passam a ser consideradas
obsoletas.

Quando tratamos de uma teoria sobre a ciência, utilizamos o termo epistemologia


(do
grego

episteme, "ciência", e logos, "teoria").

Karl Popper
(1902-1994), na obra A lógica da pesquisa científica, publicada em 1934,
desenvolve

premissas positivistas e evolucionistas, pois toma a ciência como


sendo cumulativa, ou seja,
progride ou se aprimora conduzindo a conhecimentos
superiores em relação aos anteriores

desenvolvidos. A ciência se situa a partir


da imaginação e na crítica como principais aspectos da

racionalidade humana.
Segundo Popper, a ciência é uma atividade que se caracteriza pela ousadia

imaginativa das suas hipóteses. Estas formulações estão fundamentadas em


experiências
científicas, que podem abolir, criticar e falsear doutrinas
científicas vigentes.

Popper parte do pressuposto de


que não podemos atingir a verdade de uma teoria, ou seja não

podemos abarcar
todos os casos a que a ciência se propõe. Dessa forma, o filósofo estabelece

como método mais correto para as ciências o método da refutação e o


critério de falseabilidade. Este

critério está relacionado à necessidade


de submeter uma teoria à prova, buscando demonstrar ou
provar sua falsidade ou
refutá-la amparada com base em métodos científicos, a ponto de descartar

sua
validade. Este método de pesquisa científica consiste em formular hipóteses e,
depois, por meio

de rigorosos exames e avaliações experimentais, procurar


refutá-las. Se determinadas teorias

permitem ser testadas, criticadas e resistirem


ao princípio da falseabilidade, então elas poderão ser
consideradas teorias
científicas aceitas.

Thomas Kuhn
(1914-1996), no livro A estrutura das Revoluções Científicas, publicado
em 1962,

apresentará uma abordagem diferente a respeito do desenvolvimento das


ciências. Kuhn procurou

demonstrar de que forma ocorrem as transições e


rupturas do pensamento científico predominante.

Avalia a existência de fases


denominadas "normais" da ciência com o estabelecimento de
paradigmas,
que contribuem com os demais cientistas para a solução de problemas, promovendo
o

progresso por meio de acumulação de descobertas.

  Paradigma  é um modelo ou
padrão a seguir.  Etimologicamente, a palavra vem do grego

paradeigma
(modelo ou padrão), de modo que corresponde a algo que servirá de exemplo ou modelo

a ser seguido.

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No entanto, há “situações de
crise”, que ocorrem quando os paradigmas já não são mais

suficientes e não
resolvem uma série de questões, dando origem à transição a novos modelos
científicos que se contrapõem ao predominante. Foi o que ocorreu com a ciência
de Aristóteles e a

Escolásticas, que perderam sua hegemonia com ascensão da


Ciência Moderna. Isso significa dizer

que toda ciência passa por momentos de


apogeu e crise, até se tornar obsoleta.

Para Kuhn, a superação dos


paradigmas poderá dificultar a continuidade de certos esforços

científicos
realizados para solucionar problemas quando emerge um novo paradigma,
estabelecendo

crises nas ciências. Os paradigmas são superados quando há uma


ruptura radical capaz de
modificar de modo significativo as condições
dominantes e hegemônicas. Cria-se dessa forma um

novo paradigma que provoca


disputas com a ciência, antes predominante.

Feyerabend (1924-1994)
foi um polêmico estudioso das ciências. No ano de 1975 publicou o

livro Contra
o método. É considerado um teórico anarquista porque observa a não
existência de

verdade absoluta nas ciências. Opõe-se a Popper, que afirma a


ciência como racional e cumulativa, e
igualmente critica Kuhn, que argumentou,
conforme vimos, que uma teoria é dotada de paradigma.

Abandonou o empirismo e
as correntes positivistas. Feyerabend considera que as abordagens

metodológicas
não são instrumentos de descoberta definitivas e defende o pluralismo
metodológico.

Afirma que no ponto de vista metodológico tudo vale. Considera


que uma teoria se torna dominante
devido ao seu caráter mais persuasivo em
relação a outras teorias, isto é, depende de que forma foi

escrita, por quem e


quais recursos retóricos e propagandísticos foram utilizados a fim de convencer

a comunidade científica.

NA PRÁTICA

Diferentes campos da ciência como a


medicina, a psicologia, a engenharia, a química e física
promovem sucessivos
avanços científicos e progressos tecnológicos. Temos como exemplo o

avanço de
diversos métodos voltados ao combate a doenças entre outras pestes e pandemias.
São

desenvolvidos computadores, máquinas, robôs ou mesmo remédios que permitem


fornecer melhor

qualidade de vida e saúde aos indivíduos. Faça uma pesquisa e


debata com seus colegas e
professores a respeito de algum avanço científico que
tenha contribuído com a humanidade e tenha

modificado a forma como vivemos ou


entendemos o mundo.

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FINALIZANDO

Estudamos com o
primeiro tema o surgimento da ciência na cultura ocidental por meio do

pensador
grego da Antiguidade, Aristóteles. Observamos que seu método silogístico teve

fundamento
em observações apenas qualitativas. Porém influenciou a ciência medieval,

denominada Escolástica, conforme vimos no segundo tema. Em seguida, avaliamos a


Ciência
Moderna e a ruptura promovida por ela em relação à tradição
escolástica-aristotélico com

Copérnico, Galileu, Descartes, Bacon e Newton


entre os séculos XVI e XVII. Estudamos também o

positivismo de Comte
desenvolvido durante o século XIX como reflexo otimista dos avanços da

industrialização e da Ciência Moderna. Por fim, investigamos compreensões do


desenvolvimento
das ciências a partir das abordagens epistemológicas no século
XX desenvolvidas por Popper, Kuhn

e Feyerabend.

REFERÊNCIAS

ARANHA, M. L. de A. Filosofando:
introdução à filosofia. São Paulo: Moderna. 2009.

ARISTÓTELES.
Órganon: categorias, da interpretação, analíticos anteriores, analíticos

posteriores, tópicos, refutações sofísticas. Bauru: Edipro, 2010.

BACON, F. Nova
Atlântida. São Paulo: Nova Cultural, 1999a. (Col. Os Pensadores).

BACON, F. Novum
Organum ou Verdadeiras interpretações acerca da natureza. São Paulo:
Nova

Cultural, 1999.

COMTE, A. Catecismo positivista. Rio de


Janeiro: Apostolado Positivista do Brasil, 1934.

COMTE, A. Curso de filosofia positiva.


São Paulo: Abril Cultural, 1983.

COPÉRNICO, N. As
revoluções dos orbes celestes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian,
1984

CHAUI,
M. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1994.

DESCARTES,
R. Discurso
do método. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

DESCARTES,
R. Regras para a orientação do espírito. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

DARWIN, C. A
origem das espécies. Rio de Janeiro: Hemus Editora, 1987.

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FREUD. A interpretação dos sonhos. Rio


de Janeiro: Imago, 1987.

GALILEU.
Diálogo sobre los dos Máximos Sistemas del Mundo Ptolemaico
y Copernicano.
Madrid: Alianza Editorial,
1994.

KUHN, T. S. A estrutura das revoluções


científicas. São Paulo: Perspectiva, 2000.

NEWTON. Principia. São Paulo: Edusp,


2002.

POPPER, K. R. A lógica da pesquisa científica. São Paulo:


Ed. Cultrix, 1993.

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