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Heidegger e a Psicologia

Existencial
O Existencialismo Heideggeriano 

É concebido a partir da filosofia


do finito, ao defender que não é
Compõe a filosofia a partir da
a essência que dá significado à Se firma na angústia que é a
condição inicial do existente
existência, mas o contrário, uma experiência radical do nada de
humano, o estar-no-mundo, o
vez que a existência é todas as coisas.
Dasein. 
possibilidade que adquire uma
essência. 
A teoria ser no mundo, segundo Heidegger (1989),
aparece como ontologia fundamental na investigação
fenomenológica, buscando as essenciais determinações
do ser dos entes: "o ser é sempre o ser de um ente",
ou dasein, o ser do homem.  

Dasein deve substituir 'sujeito' ou 'eu'. O


termo Dasein, nessa perspectiva, refere-se ao existir
humano que se dá como um acontecer (sein) que se
realiza aí (Da), no mundo, sendo o próprio existir que
constitui o aí em que se dá a existência. Nesse sentido,
tendo-se em vista a "finitude" humana, a
temporalidade e a historicidade serão fundamentais na
análise heideggeriana do Dasein. 
A partir de uma compreensão de tempo mais originária
(temporalidade), a investigação deverá liberar o Dasein no seu ser
próprio enquanto cuidado para, a partir dessa transparência de si
mesmo, recolocar e investigar o sentido do ser, a condição de
possibilidade, o fundamento do nosso modo ocidental de pensar e
lidar com os objetos.

A estrutura fundamental do Dasein é ser-no-mundo e o seu sentido é


a temporalidade. Isso significa que ele é histórico e, enquanto
inserido em uma história, é o que já foi e se descobre em uma
tradição.

Mas também sabemos que ele não está determinado


irremediavelmente por ela, pois tem a possibilidade de assumir sua
própria existência, fazendo escolhas, responsabilizando-se pelo seu
projeto, destinando-se propriamente, sendo autêntico. O Dasein é
histórico, escolhe a partir de seu passado, de possibilidades
herdadas, mas também pode, a partir do porvir, de suas
possibilidades, fazer-se segundo um projeto próprio, interpelado
pela sua consciência e seguindo-a através de uma resolução
precursora.
Sua contribuição se deu no campo da psicopatologia
com o reconhecimento da enfermidade como um modo
ou estilo particular de ser no mundo, a partir da
utilização do método fenomenológico de reflexão com
o objetivo de alcançar a essência da enfermidade por
meio de suas manifestações concertas. 
Influências e
contribuições
Heideggerianas 
Havia, então, o entendimento de que a enfermidade é
uma distorção da estrutura do ser no mundo. 
O sintoma, enquanto estilo de A contribuição de Heidegger está na
ser, encontra-se também no normal, psicoterapia de inspiração
ou no doente não apenas enquanto daseinsanalítica, pensando tanto no
doente, e essa constatação permite dualismo subjetividade/objetividade
compreender melhor o sentido da como na intersubjetividade que
doença. Por consequência, a terapia é envolve o dualismo sujeito/sujeito. É
o ato de levar o doente a ver como que na perspectiva existencial a
está constituída a estrutura total da visualização do comportamento como
existência humana (ou ser no mundo), atitude geral, como movimentação
trazendo-o de volta.  total da existência em um mundo. 
Daseinanalyse

Ludwig Binwanger
Clínica/Psicoterapia

Tempo, Binswanger dá atenção especial à noção de ser-no-mundo,


entendida por ele como estrutura fundamental da existência humana. Por
ser-no-mundo, Binswanger entende o ser humano sempre em relação com
os demais e com o ambiente. Disso, ele avança para a compreensão do
mundo particular de cada paciente, como cada um se relaciona com outras
pessoas e com o entorno ambiental. 
Considerando que o mundo humano diz respeito a uma relação com os outros e consigo
mesmo e não somente ao mundo natural/objetivo, Binswanger evita trabalhar as
perturbações psiquiátricas como desvios da norma (mundo natural/objetivo); o
comportamento anormal é compreendido como manifestação de uma nova forma de ser-
no-mundo. 

O conceito de ser-no-mundo serve, portanto, para que Binswanger integre os sintomas a


um contexto particular (mundo) que lhes dá sentido: compreendendo o mundo do paciente,
compreende-se seus sintomas.

Convém observar que Heidegger estava a par do trabalho de Binswanger. Eles mantiveram
correspondência pessoal de 1928 até a morte de Binswanger, em 1966. Além disso, houve
eventuais encontros. Heidegger se manifestou contrário à leitura que Binswanger fez de
Ser e Tempo e Binswanger veio a reconhecer seu equívoco no entendimento da obra,
acrescentando a observação de que se tratou de um “produtivo mal-entendimento”.
: 1)Ajuda como aquele que trata do modo de existir
e não do funcionar do homem.

O psicoterapeuta 2)Liberta o homem do aprisionamento por tomar-se


como um ente cujo modo de ser é simplesmente
de inspiração dado, esquecendo-se de sua condição de liberdade
daseinsanalítica enquanto existente.

3)Facilita que as experiências se tornem presentes,


sem condicioná-las causalmente ao somático ou ao
psíquico, deixando ser o que a própria experiência
revela; 
Daseinsanalyse Medard Boss

A Daseinsanalyse de Boss realça o


entendimento do ser humano como
abertura, ou seja, não se trata de um polo
Com a aliança entre Heidegger e Boss, o
(ego) racional autossuficiente que tem a
termo Daseinsanalyse passou a indicar o
capacidade de conhecer e se inserir no
trabalho desse último, o qual não é uma
mundo, porém um modo de ser aberto
continuidade da proposta de Binswanger.
cujo correlato é o mundo. O mundo já
está sempre subentendido no modo
humano de ser (Dasein).
4)Está atento às indicações, suspende a verdade postulada pelo
senso comum, pela ciência e pela psicologia científica, permitindo
que o fenômeno seja reconhecido como uma simples relação com o
mundo;

5)Busca conduzir o homem a si mesmo, possibilitando a livre


relação com aquilo que o encontra, apropriando-se destas relações e
deixando-se solicitar por elas.

6)Relaciona-se através do modo de cuidado denominado por


Heidegger como “antecipação libertadora”, que devolve o outro a si
mesmo, liberando-o para seus modos próprios e singulares de ser.

7)Sustenta sua atenção na serenidade, estranhamento, aceitação e


compreensão. 
Características fundamentais

• Temporalidade – o tempo conforme é


vivenciado. É diferente do tempo do
• Espacialidade – o espaço conforme é relógio, no qual os instantes se sucedem
vivenciado e não de acordo com suas mecânica e constantemente. O ser
medidas, distâncias, altura, etc. O ser humano vive no hoje, porém vivencia
humano vivencia o espaço, ou seja, o eventos passados e futuros na forma de
espaço é fenômeno para o ser humano. recordações e antecipações. Para o ser
humano, o tempo “não passa” ou “passa
rápido demais”.
• Corporalidade – a experiência corporal. O corpo humano não se apresenta como um
objeto de carne e osso, nem como um puro organismo (biológico). O ser humano não tem
um corpo, ele é corpóreo. O corpo humano expressa ideias, significados, experiências
pessoais.

• Disposição – Refere-se ao que comumente chama-se de humor. Os estados de humor


indicam ‘como alguém está’, ‘como vai’. O estado de humor influencia naquilo que se
percebe e como se percebe: No cotidiano, é comum que diferentes pessoas, diante de um
mesmo evento, percebam ou prestem atenção em aspectos diferentes do evento. Isso pode
ser compreendido considerando-se que estados de humor diferentes levam a diferentes
vínculos com a realidade, de modo que o ser humano entra em “sintonia” com aquilo que
mais se aproxima do seu estado de humor.

• Ser-com-outros – o ser humano é sempre com os outros seres humanos. Ainda que
alguém vivesse completamente isolado, seria apenas um modo deficiente de ser-com. Só
pode ser solitário ou viver sozinho quem, originalmente, é social. Muito daquilo que
fazemos rotineiramente tem como “pano de fundo” o fato de que vivemos, desde sempre,
em comunidade
Para a Daseinsanalyse, o ser humano sadio
se caracteriza pela habilidade para dispor
livremente do conjunto das possibilidades de
relação que lhe foi dado manter com o que se
• Ser-para-morte – o ser humano é mortal e, apresenta na sua abertura para o mundo
além disso, ele sabe que é mortal. Sabe-se (Boss, 1971/1983). Havendo multiplicidade
que se vai morrer e que isso pode acontecer a de fenômenos com os quais entrar em
qualquer momento. Entretanto, no cotidiano, relação, é necessário decidir, escolher qual
evita-se pensar nisso e vê-se a morte como possibilidade se pretende realizar. Aqui há
algo distante. um espaço de liberdade. Boss (idem) afirma
que se os homens não fossem livres para
decidir diante das possibilidades inerentes à
existência humana, não haveria culpa, saúde
ou doença e progresso terapêutico.
Objetivo da Daseinsanalyse

A questão básica do entendimento


Restabelecer a abertura e a liberdade daseinsanalítico da patologia apresenta três
originárias, devolver às pessoas aquilo que já aspectos: 1) de que modo a liberdade da pessoa
era seu: a liberdade para dispor livremente das para realizar suas possibilidades está limitada;
possibilidades de sua existência, de acordo com 2) quais são as possibilidades que estão
suas percepções, julgamentos e talentos. limitadas; 3) em relação a quais coisas do
mundo individual a limitação ocorre?

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