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1 É preciso abrir um parênteses para lembrar que, posteriormente, diversos filósofos questionaram o argumento de Descartes. Leibniz, por exemplo, disse
que o argumento de Descartes é circular: dizer “eu penso, logo eu existo” é circular, já que não posso inferir a existência do “eu” a partir do pensamento, porque o “eu”
já está suposto em “eu penso”. Nietzsche, em Além do Bem e do Mal, diz que o argumento supõe a existência do pensamento, mas não há nada que garanta que sou
eu quem pensa ou que o pensamento é algo realizado por um ser. Como notou Bertrand Russel, Descartes prova que existe pensamento, mas não que sou eu que
penso
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pensamento e sua existência, algo interno, como poderia construir as bases para uma
ciência sólida? Como Descartes iria fazer a ponte que ligasse a certeza que residia no
indivíduo à incerteza do mundo externo? Como não cair, a partir dessa ideia, no
solipsismo2? Dessa forma, o filósofo afirmou que o pensamento, sua única certeza, seria
composto por ideias. Uma ideia seria válida na medida em que fosse clara e distinta, ou
seja, nítida o suficiente para diferenciá-la das outras: a estrutura interna de uma ideia
garante sua validade. Haveria, para ele, três tipos de ideias:
as ideias inatas (naturais, que se encontram no indivíduo desde o nascimento, de
modo que não adquirimos pela nossa experiência),
as ideias adventícias (ou seja, empíricas, que formarmos ao longo de nossa vida, a
partir da experiência, estando sujeitas à dúvida)
e as ideias factícias ou da imaginação (que formamos na nossa mente a partir das
outras ideias como, por exemplo, um
dragão).
É nesse momento que, a partir das
ideias inatas, Descartes fundamentou sua
prova da existência de Deus, conclusão
com a qual o filósofo cumpriria seu
objetivo. A ideia de Deus, presente em
nossas mentes, é a ideia de uma entidade
perfeita. O homem por si só seria incapaz
de chegar à ideia clara e distinta ideia de
perfeição (entendendo-a como o máximo grau todas as qualidades), já que – sendo a ideia
uma representação da realidade – não haveria nada no mundo concreto que
correspondesse à ideia de perfeição. Se eu penso num triângulo, eu penso
automaticamente em três ângulos que somam 180º (uma ideia está contida na outra, e elas
não podem ser separadas); se eu penso numa montanha, necessariamente eu admito a
existência de um vale (uma ideia está contida na outra, e elas não podem ser separadas);
2 Solipsismo é a doutrina segundo a qual só existem, efetivamente, o eu e suas sensações, sendo os outros entes (seres humanos e objetos) meras impressões