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MATERIAL DE FILOSOFIA

CONTEXTO HISTÓRICO – FILOSOFIA MODERNA

Em primeiro lugar, antes de adentrarmos no pensamento moderno, faz-se necessário elencar alguns aspectos
históricos que vieram a influenciar os filósofos da modernidade, fazendo com que rompessem com as influências
medievais.
- Passagem do feudalismo para o capitalismo, com o florescimento do comércio e a emergência da burguesia.
- Surgimento dos Estados Nacionais, promovendo as discussões sobre a forma do poder.
- Quebra da unidade religiosa européia, com o movimento da Reforma, que rompeu com a concepção passiva de
homem, entregue tão somente aos desígnios divinos.
- Desenvolvimento das ciências naturais, e a criação de novos métodos científicos, impulsionados pela confiança na
razão humana e no descrédito da submissão.
- Invenção da Imprensa, que colocou em circulação textos clássicos gregos e romanos, além de criar uma demanda de
alfabetização.
- O posterior desenvolvimento Industrial.

O movimento cultural que mais marcou essas modificações foi o que se chamou Renascimento (séculos XV e
XVI). Mas é necessário perguntar-se qual é o significado de re-nascimento. Re-nasce o pensamento clássico
grego, principalmente sua crença na razão humana, que causou a passagem do mito para o logos. Novamente a
autoridade, dessa vez a da igreja, será questionada, para que a razão busque sua autonomia contra a autoridade
anterior.

1.1 RENÉ DESCARTES (1596-1650)

Nasceu em La Haye, na França, filho de burgueses. Estudou no colégio jesuíta de La Flèche,


instituição de bastante renome, o que lhe deu respaldo para sua crítica ao método escolástico.
Vejamos de que pressupostos parte o autor para a construção do seu pensamento:

Inexiste no mundo coisa mais bem distribuída que o bom senso, visto que cada indivíduo acredita ser
tão bem provido dele que mesmo os mais difíceis de satisfazer em qualquer outro aspecto não
costumam desejar possuí-lo mais do que já possuem. E é improvável que todos se enganem a esse
respeito; mas isso é antes uma prova de que o poder de julgar de forma correta e discernir entre o
verdadeiro e o falso, que é justamente o que é denominado bom senso ou razão, é igual em todos os
homens; e, assim sendo, de que a diversidade de nossas opiniões não se origina do fato de serem alguns mais
racionais que outros, mas apenas de dirigirmos nossos pensamentos por caminhos diferentes e não considerarmos as
mesmas coisas. Pois é insuficiente ter o espírito bom, o mais importante é aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes
dos maiores vícios, como também das maiores virtudes, e os que só andam muito devagar podem avançar bem mais,
se continuarem sempre pelo caminho reto, do que aqueles que correm e dele se afastam.
(DESCARTES, 2004, p. 33).

Da passagem acima, tiramos algumas idéias importantes:


- Razão: sinônimo de bom senso, é o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso.
- Diversidade de opiniões: deve-se ao fato de tomarmos caminhos (métodos) diferentes, e de não considerarmos as
mesmas coisas.
- A razão humana é universal.
É por causa do pressuposto de que a razão humana é universal que Descartes busca conceber um método
(caminho) que permita bem conduzir a mesma, para se chegar a conhecimentos seguros. Seu método é composto de
quatro regras somente, as quais ele julga suficientes. O primeiro preceito do seu método “era o de nunca aceitar algo
como verdadeiro que não conhecesse claramente como tal”, ou seja, consiste em duvidar de tudo até que algo se
mostre claro e evidente à razão, e aqui nota-se os critérios de verdade para Descartes: clareza e evidência. O segundo
consistia em “repartir cada uma das dificuldades que [...] analisasse em tantas parcelas quantas fossem possíveis e
necessárias a fim de melhor solucioná-las”. A essa segunda etapa se denomina análise, nome que é utilizado na
química. O terceiro o “de conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de
conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, como galgando degraus, até o conhecimento dos mais compostos [...]”. A
esta etapa denomina-se síntese. E por fim o quarto e último preceito consistia em “efetuar em toda parte relações
metódicas e revisões tão gerais nas quais eu tivesse a certeza de nada omitir”. Para o autor, o conhecimento a que se
chegasse após seguir devidamente as quatro etapas seria totalmente seguro.
Ao buscar utilizar seu método, o autor deve necessariamente cumprir a primeira regra. E é assim, colocando em
suspenso tudo em que até então acreditava, que Descartes chega à primeira verdade indubitável de sua filosofia, a
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saber, o cogito ergo sum, que significa penso, logo existo. Isso ele faz em suas Meditações sobre Filosofia Primeira, e
podemos acompanhar razoavelmente seu raciocínio.
A primeira coisa que é pelo autor colocada em dúvida são os sentidos. “Ora, notei que os sentidos às vezes
enganam e é prudente nunca confiar completamente nos que, seja uma vez, nos enganaram”. A essa dúvida, porém,
Descartes coloca um limite, afirmando que de algumas coisas que os sentidos nos mostram torna-se difícil duvidar,
como, por exemplo, “que agora estou aqui, sentado junto ao fogo, vestindo esta roupa de inverno, tendo este papel às
mãos e coisas semelhantes”. Nota-se que se torna difícil duvidar da existência do próprio corpo. Descartes ultrapassa
esse limite ao afirmar: “com freqüência o sono noturno não me persuadiu dessas coisas usuais, isto é, que estava aqui,
vestindo esta roupa, sentado junto ao fogo, quando estava, porém, nu, deitado entre as cobertas”. Assim, colocando o
argumento da dificuldade que existe em separar vigília de sonho, ele mostra a possibilidade de duvidar da própria
existência corpórea. Porém, novamente o autor impõe um limite para sua dúvida, quando escreve que “esteja eu
acordado ou dormindo, dois e três juntos são cinco e o quadrado não tem mais que quatro lados”. Com isso ele quer
dizer que existem certas relações no mundo, que estejamos vigiando ou dormindo, são sempre as mesmas, o que torna
difícil delas se poder duvidar. Ele porém ultrapassa esse limite com o seguinte argumento:

Suporei, portanto, que não há um Deus ótimo, fonte soberana da verdade, mas algum gênio maligno, e ao mesmo
tempo, sumamente poderoso e manhoso, que põe toda a sua indústria em que me engane: pensarei que o céu, o ar, a
terra, as cores, as figuras, os sons e todas as coisas externas nada mais são do que ludíbrios dos sonhos, ciladas que
ele estende à minha credulidade. (DESCARTES, 1999, p. 25)

Ao supor a existência de um tal ente, que podemos comparar à “Matrix” contemporânea, Descartes escapa de
qualquer limite para sua dúvida, e é por isso que a mesma é chamada hiperbólica, exagerada. Para garantir a
possibilidade de conhecimento verdadeiro, o autor deverá refutar seu argumento mais forte para a dúvida, que é o do
gênio maligno, e é isso que ele fará nas demais meditações, provando a existência de um Deus perfeito, que por assim
ser, jamais poderia ser enganador. É, porém, duvidando radicalmente de tudo que Descartes chega ao cogito, e a
afirmação que enuncia essa verdade indubitável é a seguinte: “Não há dúvida, portanto, de que eu, eu sou, também, se
me engana: que me engane o quanto possa, nunca poderá fazer, porém, que eu nada seja, enquanto eu pensar que sou
algo”. Essa é, então, a primeira verdade a que chega o autor.
Por sua descrença nos sentidos, Descartes recebe grosseiramente o rótulo de racionalista, ou seja, daquele que
acredita que se conheça verdadeiramente tão somente por meio da razão. Porém ele admite a existência de idéias que
nos vêm dos sentidos, às quais denomina adventícias, porém, por nos enganarem algumas vezes, não são dignas de
confiança. Existem também as idéias que ele chama de fictícias, que são aquelas formadas por nossa imaginação,
utilizando as anteriores. Conhecimento verdadeiro, livre de engano, entretanto, só se tem através das idéias inatas, que
ele denomina a marca do Criador na criatura. As idéias de Deus e dos entes matemáticos são desse tipo, e é nas idéias
com as quais nascemos que devemos confiar plenamente. Podemos, evidentemente, notar extrema semelhança entre
as idéias inatas de Descartes e as idéias imutáveis de Platão, podendo ser colocados ambos grosseiramente sob o
rótulo que utilizamos de idealistas, ou seja, daqueles que acreditam no conhecimento através das idéias.

RENÉ DESCARTES (1596-1650): “Inexiste no mundo coisa mais bem distribuída que o bom senso, visto que cada
indivíduo acredita ser tão bem provido dele que mesmo os mais difíceis de satisfazer em qualquer outro aspecto não
costumam desejar possuí-lo mais do que já possuem”.

Todos os homens são dotados de razão, porém chegam a resultados diferentes, por isso há necessidade de estabelecer
um método. Descartes estabelece, então, as 4 regras do método que são:

E vidência: algo só deve ser aceito como verdadeiro se se mostrar claro e evidente (indubitável)
A nálise: dividir as dificuldades em tantas partes quantas forem necessárias para melhor resolvê-las.
S íntese: ordenar os pensamentos partindo dos objetos mais simples para os mais complexos.
E numeração / Revisão: realizar relações tão completas e revisões tão gerais que se tivesse certeza de nada omitir

Aplicação do método:

1º Passo: Dúvida metódica para chegar à evidência (1ª regra do método). Para chegar a um princípio indubitável
Descartes utiliza a dúvida metódica, sendo que duvida primeiramente dos sentidos (pois eles nos enganam); depois se
questiona sobre a vigília (como sei que estou acordado e não dormindo); em seguida duvida da própria natureza
corpórea. O filósofo francês começa a duvidar de tudo o que possa gerar o mínimo de questionamento (dúvida

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hiperbólica – exagerada). Contudo chega um ponto em que não pode duvidar de uma coisa: de que duvida, sendo que
esta é um pensamento. Desse modo, formulou-se o primeiro princípio indubitável: Penso, logo existo. Que é a
EVIDÊNCIA.

2º Passo: Agora que encontrou um princípio indubitável (Penso, logo existo), deve buscar o conhecimento verdadeiro a
partir dele. Dessa forma, Descartes passa a analisar o próprio pensamento (o qual se torna o objeto a ser conhecido).
Aplica então a ANÁLISE, dividindo o pensamento em tantas partes quantas forem possíveis, as quais chamou idéias.
Observe a seguir as idéias que constituem as partes do pensamento para Descartes:

AS IDÉIAS

Idéias adventícias: oriundas das percepções sensíveis, por isso são passíveis de dúvida.
Idéias fictícias: formadas por nossa imaginação a partir das idéias adventícias. Podemos compará-las a montagens
feitas pela imaginação.
Idéias inatas: marcas de Deus no homem. Nascemos com elas, por isso são verdadeiras e correspondem ao real. Ex.
idéias de Deus, perfeição.

3º Passo: Agora que dividiu o objeto (pensamento), deve partir do mais simples para o mais complexo (SÍNTESE), isto
é, das idéias inatas (puro pensamento, então mais simples), depois as adventícias (são mediatas, pois entre a razão e
o objeto da experiência sensível temos os sentidos como mediadores) e, por fim, as fictícias (as quais são mais
complexas por serem “montagens feitas a partir das idéias adventícias).

4º Passo: Aplica então a REVISÃO ou ENUMERAÇÃO, na qual vai tomar as idéias inatas (que são verdadeiras e
indubitáveis por serem puro pensamento) para avaliar as outras. Percebendo, então, que as adventícias podem ser
verdadeiras ou falsas (pois os sentidos podem me enganar) e as fictícias são falsas (são “montagens” feitas a partir das
adventícias, e não das inatas)

1.2. DAVID HUME (1711-1776)

Nasceu em Edimburgo, na Escócia, e estudou Filosofia, Direito e Comércio. Realizou várias viagens,
nas quais conheceu pensadores como Adam Smith e Jean-Jacques Rousseau. Foi, dentro da história
da Filosofia, um dos maiores representantes da corrente chamada empirismo, que vem do termo grego
empeiria, que quer dizer experiência. Fez talvez a mais radical crítica à Metafísica Clássica (Parte da
Filosofia que estuda o Ser e suas causas, segundo Aristóteles), questionando noções como a de
causalidade e substância. Vejamos, através de um trecho do próprio autor, quais são os pressupostos
de seu pensamento.

“Cada um admitirá prontamente que há uma diferença considerável entre as percepções do espírito, quando
uma pessoa sente a dor do calor excessivo ou o prazer do calor moderado, e quando depois recorda em sua memória
esta sensação ou a antecipa por meio de sua imaginação.[...] Podemos, por conseguinte, dividir todas as percepções do
espírito em duas classes ou espécies, que se distinguem por seus diferentes graus de força e de vivacidade. As menos
fortes ou menos vivas são geralmente denominadas pensamentos ou idéias.[...] Pelo termo impressão, entendo, pois,
todas as nossas percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou
queremos.[...] Parece que esta proposição não admitirá muita controvérsia: todas as nossas idéias são cópias das
impressões[...]”.
HUME. D. Investigação acerca do entendimento humano. In. HUME.
Tradução de Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultural, 2004, p. 35-36)

Os trechos acima podem enganar-nos, demonstrando falsa simplicidade. Entretanto, o que é importante que fique
bem entendido no raciocínio do autor é o limite que este impõe à nossa possibilidade de conhecer, quando coloca como
única porta de entrada para a nossa mente o acesso a ela dado pelos sentidos. Explorando o texto conclui-se que, para
Hume, não exista idéia em nossa mente que não tenha entrado pelos sentidos, teoria essa já defendida anteriormente
por filósofos como Aristóteles.
Nascemos, então, para o autor, como folhas em branco, nas quais, através dos dados sensoriais, vão sendo
impressas informações sobre o mundo. Nesse sentido, nota-se enorme diferença entre as teorias de Hume e Descartes,
sendo que para o segundo existem idéias que existem em nossa mente que não adentraram pelos sentidos, que são
denominadas inatas, e inclusive só elas são verdadeiramente confiáveis. Para Hume, confiáveis ou não, as idéias
fornecidas pelos sentidos são nosso único acesso à realidade e ao conhecimento, que, assim sendo, será bem mais
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limitado que para Descartes.


O gráfico de Hume é simples: dois tipos de percepções, ou seja, de formas de perceber o
mundo, diferenciadas simplesmente pelo grau de força e vivacidade com que nos afetam. Às mais
fortes, que são provenientes dos sentidos ou dos sentimentos que possuímos, dá-se o nome de
impressões. Às mais fracas, cópias das primeiras, chama-se idéias. As segundas agrupam-se em
nossa mente em duas faculdades, como também foi afirmado no texto, uma de recordação,
denominada memória, outra de antecipação, que recebe o nome de imaginação. O interessante é
que o fato de uma idéia estar em uma ou em outra faculdade não é responsabilidade da própria
faculdade, mas da forma mesmo de se relacionar das idéias. Assim, se uma idéia ainda está muito forte em minha
mente, a ponto de ao buscá-la, outras que se encontram ligadas a ela lhe venham junto, esta encontra-se no campo da
memória. Porém, se existe uma idéia em minha mente que já se encontra, de tão fraca, completamente solta que não a
ligo mais à impressão que a originou, esta encontra-se no campo da imaginação. É por isso que o autor afirma que:

“[...] embora o nosso pensamento pareça possuir esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mais
minucioso, que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo poder criador do espírito não
ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos
sentidos e pela experiência. Quando pensamos numa montanha de ouro, apenas unimos duas idéias compatíveis, ouro
e montanha, que outrora conhecêramos”.
HUME. D. Investigação acerca do entendimento humano. In. HUME.
Tradução de Anoar Aiex. São Paulo: Nova Cultural, 2004, p. 36
É pela radicalidade com que Hume defende sua teoria do conhecimento que ele será, naturalmente, levado a criticar
algumas noções correntes da Metafísica de sua época. O tipo de conhecimento que é possível segundo os pressupostos
do autor é o chamado indutivo, grosso modo, o que parte das experiências particulares para leis gerais. Tal tipo de
conhecimento jamais pode levar a conhecimento verdadeiro, mas somente provável.
Sendo imposto pelo autor um limite tão grande à nossa capacidade de conhecer, ele é levado, por exemplo, a
questionar a noção de causalidade (causa e efeito). Se o que possuímos são experiências particulares e subjetivas
(relativas ao sujeito), pode-se e deve-se questionar como se chega à afirmação de que sempre determinada causa leva
a determinado efeito. Que o sol tenha nascido até hoje, enquanto vivi, é fato verdadeiro, que nascerá amanhã, porém, é
apenas bastante provável, pois bem pode ocorrer, e sabemos disso, que não nasça. Ao se comprar na verduraria uma
banana madura, se ela vem a ficar podre, dizemos que “aquela banana apodreceu” . Nada há, aparentemente, que nos
permita dizer que uma banana madura é a mesma coisa que uma banana podre, a não ser que recorramos à noção da
metafísica aristotélica que chamamos substância, ou seja, que afirmemos que a tal fruta possui uma banalidade que
não se modifica. Pelo método de conhecimento proposto por Hume, porém, se as idéias de causalidade e substância,
assim como outras da Metafísica, correspondessem a algo existente, deveríamos evidentemente encontrar as
impressões que lhes deram origem. Isso porém não ocorre. Refuta-se o autor, como ele mesmo afirma, de maneira
muito fácil: basta mostrar uma só idéia que esteja em nossa mente e que não possua sua fonte nos sentidos. Ele próprio
analisa a idéia de Deus, e conclui que a mesma é uma idéia complexa, formada por um conjunto de idéias simples,
como bondade e sabedoria, cada uma advindo de uma impressão. Assim, as idéias acima citadas, de substância e
causalidade também, se não correspondem a impressões reais que lhes deram origem, só podem ser fruto de nossa
imaginação. Analisando um trecho em que trata da causalidade, podemos ver como tais noções metafísicas se formam
em nossa mente.

“[...] como o espírito tem encontrado em numerosos casos que dois gêneros quaisquer de objetos – a chama e o calor, a
neve e o frio – sempre têm estado em conjunção, se, de novo, a chama ou a neve se apresentassem aos sentidos, o
espírito é levado pelo costume a esperar calor ou frio, e a acreditar que esta qualidade existe realmente e que se
manifestaria se estivesse mais próxima de nós”.
HUME. D. Investigação acerca do entendimento humano. In. HUME. Tradução de Anoar Aiex. São Paulo: Nova
Cultural, 2004, p. 64)
Pela citação podemos entender como, para David Hume, é possível o aparecimento de certas noções metafísicas
em nossa mente: estas são geradas pelo costume, que chamamos também de hábito, que criamos ao ver que a certos
eventos seguem-se outros, uma espécie de ilusão ou crença, que faz com que acreditemos, por exemplo, que o sol
nascerá sempre, pelo simples fato de ter nascido até hoje. Os limites que o autor impõe ao conhecimento retiram
qualquer possibilidade de universalidade e de necessidade nas ciências, e vieram a causar o que se chama de A Grande
Crise da Metafísica. O mérito de Hume é, porém, o de ter abalado as bases do dogmatismo que imperava até então na
filosofia.

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DAVID HUME (1711 – 1776): “Nascemos como folhas em branco”.

EMPIRISMO: fonte do conhecimento é a experiência sensível. => Nascemos como uma folha em branco, na qual as
experiências sensíveis imprimem o que podemos conhecer acerca do mundo.

ELEMENTOS DO SISTEMA DE HUME

 Percepção: contato do sujeito com o objeto. Podem ser divididas em impressões e idéias.
 Impressões: a forma como o objeto afetou nossa percepção. É a sensação imediata, ou seja, sem mediação, que
temos no momento exato em que o objeto afeta nossos sentidos. São mais vivas e mais fortes.

 Idéias: cópias mentais das impressões. São mediatas, isto é, são mediadas pelas impressões, pois antes de
chegar às idéias a sensação, referente à forma como o objeto afetou o sujeito, passa pelas impressões. São mais
fracas e menos vivas.
Agrupam-se em nossa mente em duas faculdades, que são:

 Memória: Obedecem a ordem e posição em que aconteceu o contato do objeto com o sujeito. Refere-se a uma
lembrança.

 Imaginação: Pode-se mudar a ordem e posição das idéias agrupadas na memória. Consistem em modificações e
montagens feitas a partir das idéias contidas na memória.

O PROBLEMA DA CAUSALIDADE

Não existe relação necessária de causa e efeito na teoria de Hume. Não é porque 1000 vezes uma pessoa colocou a
mão no fogo e se queimou que na milésima primeira vez ele novamente se queimará. Só podemos considerar
conhecimento no momento em que acontece o fato, não podemos fazer generalizações a partir de coincidências, ou
seja, do hábito de vermos que isto sempre aconteceu e por isso continuará acontecendo, mesmo porque não existem
condições iguais, somente semelhantes, que não podem nos garantir necessariamente uma relação de causa e efeito.

O hábito: consiste em tirar conclusões de causa e efeito a partir do hábito, costume, que se percebe na sucessão de
fatos que acontece no mundo, como percebemos no exemplo do fogo, acima mencionado.

IMMANUEL KANT (1724-1804)

Nasceu em Konigsberg, na Alemanha. Teve vida longa e tranqüila dedicada ao ensino e à


investigação filosófica. Realiza uma brilhante síntese entre as filosofias racionalista e empirista,
além de mudar completamente o foco da filosofia até então, a ponto de seu pensamento ser
considerado como sendo uma “revolução copernicana na filosofia”. Rejeita tanto o racionalismo
quanto o empirismo exagerados, negando tanto as altíssimas possibilidades do primeiro quanto as
imensas limitações impostas pelo segundo. Kant, para tal, defende uma tese que podemos
encontrar no trecho abaixo.

“Que todo o nosso conhecimento começa com a experiência, não há dúvida alguma, pois, do contrário, por meio do que
a faculdade de conhecimento deveria ser despertada para o exercício senão através de objetos que tocam nossos
sentidos e em parte produzem por si próprios representações, em parte põe em movimento a atividade do nosso
entendimento para compará-las, conectá-las ou separá-las e, desse modo, assimilar a matéria bruta das impressões
sensíveis a um conhecimento dos objetos que se chama experiência? Segundo o tempo, portanto, nenhum
conhecimento em nós precede a experiência, e todo ele começa com ela. [...] Mas embora todo o nosso conhecimento
comece com a experiência, nem por isso todo ele se origina justamente da experiência. Pois poderia bem acontecer que
mesmo o nosso conhecimento de experiência seja um composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo que
a nossa própria faculdade de conhecimento (apenas provocada por impressões sensíveis) fornece de si mesma, cujo
aditamento não distinguimos daquela matéria-prima antes que um longo exercício nos tenha tornado atento a ele e nos
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tenha tornado aptos à sua abstração. [...] Portanto, é pelo menos uma questão que requer uma investigação mais
pormenorizada e que não pode ser logo despachada devido aos ares que ostenta, a saber se há um tal conhecimento
independente da experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos. Tais conhecimentos denominam-se a
priori e distinguem-se dos empíricos, que possuem sua fonte a posteriori, ou seja, na experiência”.
KANT, I. Crítica da Razão Pura. In. Kant. Tradução de Valério Rohden e Udo Baldur Moosburger.
São Paulo: Nova Cultural, 2005, p. 53

Do texto, algumas das principais idéias podem ser analisadas.


I. Experiência: conhecimento dos objetos, que se dá quando nosso entendimento compara, conecta ou separa, e desse
modo assimila a matéria bruta das impressões sensíveis.
II. Função dos objetos:
 Produzir representações (e nesse caso, concorda com Hume)
 Colocar em movimento a atividade do nosso entendimento.
III. Tese: O conhecimento de experiência é um composto do que recebemos por impressões (Hume) e daquilo que
nossa própria faculdade de conhecimento fornece de si mesma (ultrapassagem da teoria de Hume).
 A priori: Conhecimento independente desta ou daquela experiência e mesmo de todas as impressões dos sentidos.
 A posteriori: Conhecimento que possui suas fontes tão somente na experiência.

Analisando melhor o trecho e agora relacionando as idéias dele tiradas, vemos que para Kant a experiência sensível
não é algo passivo como para Hume, ou seja, não somos simplesmente afetados. O conhecimento é, assim, algo ativo,
no qual nossas faculdades de conhecimento, que serão elencadas abaixo, impõe sim algo de seu, e é nesse sentido que
a experiência é um composto, e é com essa tese que Kant poderá ultrapassar os limites impostos por David Hume. Um
tópico importante no pensamento kantiano é o que é denominado Revolução Copernicana na Filosofia. Nicolau
Copérnico realizou, na física, uma mudança radical no foco de análise do universo. A teoria até então defendida era a do
geocentrismo, ou seja, a Terra estava no centro e os demais astros giravam em torno da mesma. Este pensador afirma o
heliocentrismo, isto é, o Sol está no centro e os demais planetas giram em torno dele.
Para Kant, o foco central da filosofia sempre foi voltado para o objeto a ser conhecido. Partia-se então,
dogmaticamente, da idéia de que a faculdade de conhecimento possuía a capacidade de produzir informações sobre o
que era estudado. A proposta deste filósofo é inovadora porque ele propõe que, antes que partamos ao conhecimento
dos objetos, façamos uma análise da própria faculdade de conhecimento e de seus limites e possibilidades. Tal análise
foi feita na obra Crítica da Razão Pura, na qual delineia de maneira detalhada como se dá o conhecimento. Esse se dá
para o autor da seguinte maneira: como vimos no texto acima o primeiro passo é a sensação. Porém, diferentemente de
Hume, o que será lançado na mente não é uma representação de sensação, mas do que Kant chama de intuição, que
podemos definir como sendo uma sensação que escolhemos em meio às várias que nos afetam ao mesmo tempo. A
intuição é formada na faculdade chamada sensibilidade, que impõe à experiência sensível duas formas puras existentes
nela mesma, que são espaço e tempo. A intuição, formada dessa maneira, é lançada no intelecto, que através das dez
categorias de predicação, forma o conceito através de um juízo. As categorias citadas são: Substância, quantidade,
qualidade, relação, lugar, tempo, posição, posse, ação, paixão. Sobre isso, vejamos uma passagem do próprio autor:

“Deve-se distinguir em cada conhecimento matéria, isto é, o objeto, e forma, isto é, a maneira como conhecemos o
objeto. Por exemplo: se um silvícola vê de longe uma casa, cujo uso não conhece, tem, no entanto, representado diante
de si precisamente o mesmo objeto que o que sabe tratar-se de uma morada edificada para o homem. Mas esse
conhecimento de um só e mesmo objeto é, em caso e no outro, diverso pela forma: mera intuição, em um caso,
intuição e conceito ao mesmo tempo, no outro”.
KANT, I. Manual dos cursos de lógica geral. Tradução e notas de Fausto Castilho.
Uberlândia: EDUFU; Campinas: IFCH-UNICAMP, 1998, p. 47

Todo conceito é emitido em forma de juízo, isto é, como dizia Aristóteles, de uma proposição do tipo S é P. Kant irá
diferenciar os tipos de juízos assim como diferencia os tipos de conhecimento. A primeira divisão se dá entre juízos
analíticos e juízos sintéticos. Segundo o autor “juízos analíticos (os afirmativos) são, portanto, aqueles em que a
conexão do predicado com o sujeito for pensada por identidade; aqueles, porém, em que essa conexão for pensada sem
identidade, devem denomina-se juízos sintéticos”. Falando de forma mais simples, um juízo é analítico se o predicado for
uma qualidade implicitamente contida no sujeito, como, por exemplo, quando afirmamos que um triângulo é uma figura
de três lados. Um juízo é sintético quando a qualidade contida no predicado não faz parte do sujeito, mas lhe é
acrescentada, como, por exemplo, quando afirmamos que Sócrates é inteligente, pois poderia muito bem ocorrer que
ele não fosse. Os juízos sintéticos são também divididos em dois tipos: a priori e a posteriori. Um juízo é sintético a priori
quando seu predicado acrescenta alguma informação ao sujeito, e a afirmação feita pelo mesmo não depende desta ou
daquela experiência. Um exemplo deste tipo de juízo é a afirmação de que duas retas paralelas jamais se cruzam no
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espaço. É sintético porque o conceito de espaço ou de cruzamento não está contido implicitamente no sujeito. É a priori
porque a afirmação feita não é procedente para esta ou aquela dupla de retas, mas para qualquer dupla de retas
pensada em qualquer tempo. Tal conhecimento, portanto é universal e necessário, diferentemente do que pensava
David Hume, e isso porque todos nós possuímos uma sensibilidade dotada de espaço e tempo e um intelecto que
contém as dez categorias. Ao conjunto destas faculdades de conhecimento Kant denomina sujeito transcendental,
sendo que devemos entender transcendental no autor o que é anterior ou independente da experiência, diferentemente
de transcendente, que é aquilo que está além da experiência sensível. Os juízos sintéticos a posteriori são aqueles nos
quais o predicado acrescenta algo ao sujeito, porém a afirmação depende da experiência sensível.
Apesar de ultrapassar consideravelmente os limites do conhecimento impostos por David Hume, mostrando a
possibilidade do conhecimento universal e necessário, Kant mostra, entretanto que nossa experiência possui uma
limitação muito grande, qual seja: não é possível, através das faculdades de conhecimento acima citadas, conhecer a
coisa em si, ou seja, o objeto como ele é nele mesmo. Isso se dá por causa da principal tese kantiana, a saber, de que
a experiência é um composto, e não nos é possível chegar ao conhecimento do objeto em si mesmo, mas só como o
mesmo se apresenta para nossas faculdades de conhecimento, e a isso o autor chama fenômeno.

IMMANUEL KANT (1724 – 1804)

A Revolução Copernicana na Filosofia

Assim como Copérnico sai do geocentrismo (em que os astros giravam em torno da Terra); e passa ao heliocentrismo
(dizendo que os astros giram em torno do Sol), Kant primeiramente se propõe a pensar a razão, ou seja, o que é
possível conhecer, para, então, colocar o sujeito como centro para o conhecimento, diferentemente do empirismo que
considerava que o objeto é que nos proporciona o mesmo. Em outros termos, para Kant, o que determina o que é
possível conhecer é o sujeito e não o objeto. Para este autor, o primeiro passo para o conhecimento é o objeto, porém,
diferentemente de Hume, o que será lançado na mente não é uma representação de sensação, mas o que Kant chama
de intuição, que podemos definir como sendo uma sensação que escolhemos em meio às várias que nos afetam ao
mesmo tempo.

A intuição é formada na faculdade chamada sensibilidade, que impõe à experiência sensível duas formas puras
existentes nela mesma, que são espaço e tempo. Estas formas puras são formadas pela razão, ou seja, não existem na
realidade, mas a razão as impõe aos objetos para organizar e fundamentar o conhecimento.

Para Kant o conhecimento consiste em um conceito universal constituído de matéria e forma, sendo que a primeira é
fornecida pelo próprio objeto e a segunda é dada pela razão. O conhecimento é formado por juízos, que se dividem em;

Juízos analíticos: um juízo é analítico se o predicado for uma qualidade implicitamente contida no sujeito. São
explicativos porque dizem o ser sem lhes acrescer nada.

Juízo sintético: um juízo é sintético quando a qualidade contida no predicado não faz parte do sujeito, mas lhe é
acrescentada. São extensivos porque tratam de predicados acrescentados ao ser. Todos os juízos da experiência são
sintéticos. Podem ser divididos em a priori (independente de uma experiência) e a posterior (depende da experiência
sensível)

Fenômeno: aquilo que podemos perceber do ser.


Coisa em si: o ser na sua totalidade. Nunca alcançaremos tal amplitude de conhecimento.
EIXO TEMÁTICO: POLÍTICA

2. NICOLAU MAQUIAVEL (1469-1527)

Nascido na Itália, é considerado o fundador do pensamento político moderno. Foi diplomata e conselheiro dos
governantes de Florença, e viu a ascensão da burguesia comercial nas grandes cidades, assim como a fragmentação da
Itália. Vendo a vida política assim fragmentar-se, Maquiavel funda um novo tipo de pensamento político, negando o que

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Prof: Covinha

se havia dito e feito até então. Nesse sentido, nega um fundamento anterior e exterior à política, como a
natureza, no caso de Aristóteles, ou alguma influência divina, no caso dos teólogos medievais.
O autor não aceita também a idéia de uma boa comunidade política, voltada para o bem comum.
Ao contrário, enxerga a sociedade em constante tensão, causada pelos interesses opostos daqueles
que oprimem, e assim querem continuar, e os que são oprimidos, e não podem aceitar de bom grado
essa condição. A principal finalidade da política é, assim, a tomada e manutenção do poder, o que só
pode ocorrer se o governante consegue dar a essa formação, a princípio sem objetivos comuns, uma
identidade. Conseqüentemente, a verdadeira virtude do príncipe não deve pertencer àquele conjunto
ditado pela igreja, mas a virtu principesca deve ser o carisma político. É por isso que Maquiavel afirma que:

“Assim, deve o príncipe tornar-se temido, de sorte que, se não for amado, ao menos evite o ódio, pois é fácil ser, a um
só tempo, temido e não odiado, o que ocorrerá uma vez que se prive da posse dos bens e das mulheres dos cidadãos e
dos súditos, e, mesmo quando forçado a derramar o sangue de alguém, poderá fazê-lo apenas se houver justificativa
apropriada e causa manifesta”.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. In. Maquiavel. Tradução de Olívia Bauduh.
São Paulo: Nova Cultural, 2004, p. 106-107

Maquiavel não defende a Monarquia, ou qualquer outro regime político, mas afirma que qualquer regime é legítimo
se garante a liberdade dos súditos. Nesse sentido, afirma que o governante jamais deve se aliar aos poderosos, mas
sempre ao povo, pois os poderosos são seus concorrentes. A grande ruptura realizada pelo autor com relação
principalmente ao pensamento antigo é a separação que faz entre Ética e Política. Para os gregos seria inconcebível um
político sem virtudes, enquanto para Maquiavel a única função da política é, como já foi visto, a tomada e a manutenção
do poder.

NICOLAU MAQUIAVEL (1469-1527)


Foi considerado o primeiro cientista político da modernidade por considerar em sua teoria apenas a condição histórica em que vivia.

Sua teoria tinha a preocupação de pensar o que era necessário para a tomada e manutenção do poder.

O autor não aceita a idéia de uma boa comunidade política, voltada para o bem comum. Ao contrário, enxerga a sociedade em
constante tensão, causada pelos interesses opostos daqueles que oprimem, e assim querem continuar; e os que são oprimidos, e não
podem aceitar de bom grado essa condição

Função da Política
Tomada e manutenção do Poder
Para tanto deve ter:

Fortuna: não se refere a dinheiro, vem do latim e significa sorte. O Príncipe precisa de sorte, mas, principalmente, de virtú para fazer
sua sorte. “Entre ser amado e ser temido, antes ser temido”, ou seja, todos servem e respeitam a quem temem. Mas o ódio é a ruína,
pois leva a revoltas que podem destituir o Príncipe.

Virtú: Carisma político e qualidades exigidas para a manutenção do poder. Não se relaciona com a virtude considerada pelos padres
medievais = bondade, caridade, humildade...

 A virtú do Príncipe consiste na habilidade que o mesmo tem para tornar favorável uma situação em que se encontra em
desvantagem.

OS CONTRATUALISTAS

No estudo de filosofia política que realizaremos daremos enfoque a uma corrente de pensamento, chamada
contratualismo, em detrimento de outras, como a naturalista ou a que defende uma ordem divina para o poder. Tal teoria
consiste em imaginar um estado hipotético no qual os homens não viviam em sociedade, que é chamado Estado de
Natureza, e sua passagem para a sociedade civil, que se dá, segundo essa corrente, por meio de um pacto de acordo
comum entre os homens, que é chamado Contrato Social. Os autores escolhidos são Thomas Hobbes, Jean-Jacques
Rousseau e John Locke.

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Prof: Covinha

THOMAS HOBBES (1588-1679)

Tendo como pressuposto que “todo ser luta para conservar-se, isto é, evitar a morte”, e
discordando de Aristóteles, que afirmava serem os homens sociáveis por natureza, Hobbes, assim
como Maquiavel, funda um pensamento político baseado no mundo material. A sociabilidade dada
aos homens por Aristóteles custa-lhes a igualdade, ou seja, só é sustentada por serem
considerados uns superiores aos outros por natureza. Como para Hobbes todos são iguais por
natureza, possuindo todos nessa condição direito apenas à vida e à liberdade, não se contentando
nenhum em ser servo do outro, surge um estado de natureza marcado pela guerra de todos contra
todos. Daí surge a famosa frase que afirma que “o homem é o lobo do homem”. Vejamos, nas
palavras do próprio autor, como ele imaginou o estabelecimento do Contrato Social que deu
origem ao Estado (Leviatã - Monstro bíblico). Para ele, a única maneira que os homens tiveram para instituir, entre si, um
poder comum era:

“[...] conferir toda sua força e poder a um homem, ou a uma assembléia de homens, que possa reduzir suas diversas
vontades, por pluralidade de votos, a uma só vontade [...] é como se cada homem dissesse a cada homem [...] transfiro
meu direito de governar-me a mim mesmo a este Homem, ou a esta Assembléia de homens, com a condição de
transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações. [...] Feito isto, à multidão assim
unida numa só pessoa chama-se Estado [...] É esta a geração daquele grande Leviatã [...] ao qual devemos [...] nossa
paz e defesa. Pois graças a esta autoridade que lhe é dada por cada indivíduo no Estado, é-lhe conferido o uso de
tamanho poder e força que o terror assim inspirado o torna capaz de conformar as vontades de todos eles, no sentido
da paz em seu próprio país, e da ajuda mútua contra os inimigos estrangeiros. É nele que consiste a essência do
Estado, o qual pode ser assim definido: uma pessoa de cujos atos uma grande multidão, mediante pactos recíprocos
uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo a ela poder usar a força e os recursos de todos, da
maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum. Àquele que é portador dessa pessoa se
chama Soberano, e dele se diz que possui poder soberano. Todos os restantes são súditos”.
HOBBES, T. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado Eclesiástico e Civil. In. Hobbes.
Tradução de João Paulo Monteira e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 2005, p. 144

Nota-se, então, pelas palavras do próprio autor que a sociedade civil, na qual viviam os homens de seu tempo, só
poderia ter sido gerada através de um pacto entre os homens. O motivo pelo qual buscam o referido acordo também são
elencados do texto, quais sejam: a paz e a defesa. Os homens, através da instituição do Estado, abdicam de sua
liberdade individual em prol de uma liberdade artificial, para saírem do já citado estado de guerra de todos contra todos.
Essa criação é humana, e aí o motivo da discordância com Aristóteles. Sendo o Estado uma criação humana, nega-se a
naturalidade aristotélica, e atribui-se a ele artificialidade, no que irão concordar os demais contratualistas. Vimos através
do texto também, que para Hobbes o soberano é o monarca, isto é, o depositário da confiança do povo, podendo este
fazer o que considerar melhor, e inclusive utilizar a força, para manter a paz. Tal poder é incontestável e indivisível,
sendo assim, absoluto. Podemos considerar então o autor um defensor do absolutismo.

JOHN LOCKE (1632-1704)

Nasceu em Wrington, na Inglaterra. Estudou na Universidade de Oxford, onde formou-se em


Medicina. É considerado um dos pais da teoria chamada Liberalismo, por causa de sua defesa
explícita à propriedade privada. Tal defesa é fundamentada com a introdução de um direito do homem
no Estado de Natureza, além dos já citados por Hobbes à vida e à liberdade, quando afirma em sua
obra Segundo Tratado sobre o Governo: “consideremos a razão natural, que nos diz terem os
homens, uma vez nascidos, direito à própria preservação, e, conseqüentemente, à comida e à bebida
e a tudo quanto a natureza lhes fornece para a subsistência [...]”. é óbvio que para assegurar o direito
à vida o homem deveria necessariamente se apropriar dos meios necessários para sobreviver, mas
ao enfatizar esse fator, Locke introduz a propriedade privada como direito natural, tendo fundamento,
como ele mesmo afirma, pelo trabalho realizado pelo homem em busca da sobrevivência, no que afirma que “seja o que
for que ele (o homem) retire do estado que a natureza lhe forneceu e no qual o deixou, fica-lhe misturado ao próprio
trabalho, juntando-se-lhe algo que lhe pertence, e, por isso mesmo, tornando-o propriedade dele”.
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Mas apesar de fundamentar a propriedade privada com a noção de trabalho, o autor tem que, através do estudo, ir
impondo limites à mesma e transpondo-lhes, para ver até que ponto pode o homem acumular. O primeiro limite imposto
é o do desperdício, ou seja, já que tudo foi criado para os homens em comum, não é permitido a nenhum homem
acumular bens perecíveis além do que possa consumir, pois que estes podem vir a fazer falta para os outros, caso se
percam. Tal limite, da perecividade, é superado com a invenção da moeda, valor de troca que o homem pode acumular
sem que se perca. Outro limite para o acúmulo é, evidentemente, relativo às próprias limitações físicas do ser humano,
ou seja, alguém só pode acumular o quanto possa colher. Tal limite é transposto com a introdução da noção de trabalho
alienado, defendida sob o ponto de vista de que a primeira propriedade a que todos têm acesso é à do próprio corpo, o
qual o mesmo possui o direito de alienar a outrem, vendendo assim sua força de trabalho. Ultrapassa-se assim todos os
limites para o acúmulo de bens.
É importante lembrar que tudo que foi dito acima corresponde ao Estado de Natureza, no qual, para o autor, os
homens vivem em certa harmonia, guiados pela razão. O papel do Contrato Social, para Locke, não possui assim papel
tão decisivo quanto na teoria de Hobbes. Nas palavras do primeiro:

“Sendo os homens, [...] por natureza, todos livres, iguais e independentes, ninguém pode ser expulso de sua
propriedade e submetido ao poder político de outrem sem dar consentimento. A maneira única em virtude da qual uma
pessoa qualquer renuncia à liberdade natural e se reveste dos laços da sociedade civil consiste em concordar com
outras pessoas em juntar-se e unir-se em comunidade para viverem com segurança, conforto e paz umas com as
outras, gozando garantidamente das propriedades que tiverem e desfrutando de maior proteção contra quem quer que
não faça parte dela”.

O papel do Estado, fundado pelo Contrato firmado entre os homens, assim, é o de legitimar os direitos já existentes
no Estado de Natureza. Nesse sentido, a soberania não se encontra mais nas mãos dos poderosos, que encontram
como limite para o exercício do poder a individualidade dos homens, e seu direito de acumular sem a interferência do
Estado. Esse possui somente a função de assegurar a qualidade de vida dos membros da sociedade civil, dando-lhes
educação, saúde e segurança. Tal modelo de Estado é ainda o que funciona no Brasil, por exemplo, onde os
governantes não possuem o direito de se intrometerem na individualidade dos cidadãos, salvo por ordem judicial.
Dos três filósofos contratualistas que estamos estudando, somente Locke fala de direito à insurreição, ou seja, à
derrubada de algum governante que não esteja agindo segundo o consenso a que chegaram os cidadãos.

JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778)

Nasceu em Genebra, na Suíça, transferindo-se para a França em 1742, onde escreveu suas
grandes obras. Além de escritos de Filosofia, o autor escreveu romances, e mesmo uma obra sobre
pedagogia, chamada Emílio. Vejamos, entretanto, o que pensou o autor sobre o surgimento da
Sociedade Civil.

“O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de
dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras,
assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou
enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se
esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém”
ROUSSEAU, J-J. Do contrato Social. In. ROUSSEAU II. Tradução de Lourdes Santos Machado.
São Paulo: Nova Cultural, 2005, p. 87
Com base no trecho, podemos tecer as primeiras comparações com relação às teorias dos dois autores anteriores.
Contrastando Rousseau com Locke, podemos ver uma diferença significativa, que também o segundo mantém com
Hobbes: para Rousseau, assim como para Hobbes, a propriedade privada não é um direito natural. Somente Locke o
acrescenta aos direitos de vida e liberdade. A propriedade, porém é elemento importantíssimo para o entendimento do
pensamento de Rousseau, pois o mesmo atribui a seu surgimento a responsabilidade pela criação da sociedade civil. É
porque passa a existir propriedade que surge a necessidade da criação, por meio de um contrato, de uma sociedade
artificial.
Para Rousseau, a instituição da propriedade é a causadora, como vimos, das desavenças entre os homens, que não
existiam no Estado de Natureza. É aí que aparecerá um estado parecido com o que Hobbes denomina Estado de
Guerra, assim como a necessidade da passagem para a sociedade civil, por meio do contrato. Para o autor, a teoria
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hobbesiana está equivocada, pois: “Vivendo em sua primitiva independência, não mantêm entre si uma relação
suficientemente constante para constituir quer o estado de paz quer o de guerra, os homens em absoluto não são
naturalmente inimigos”.
Assim o autor nega ser o homem lobo do próprio homem, e funda o que grosseiramente se denomina a teoria do
“Bom Selvagem”, acreditando na bondade natural do ser humano. Mas como o surgimento da propriedade inicia um
novo estado de coisas, forçando a passagem para a sociedade civil, o contrato passa a ser necessário. Sobre o mesmo,
o autor afirma:

“Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força
comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece, contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre
quanto antes. Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato social oferece”.
ROUSSEAU, J-J. Do contrato Social. In. ROUSSEAU. Tradução de Lourdes Santos Machado.
São Paulo: Nova Cultural, 2005, p. 69

A liberdade na sociedade, porém, não pode mais ser considerada natural, visto que a associação é algo artificial.
Trata-se, pois do que se chama liberdade civil, a qual coloca a todos em pé de igualdade. A soberania para o autor, visto
que o Estado surge por meio de um consenso entre os homens, encontra-se nas mãos do povo. O Soberano é a
vontade geral, que, porém não pode ser confundida com a vontade de todos. A vontade geral é fruto de um consenso a
que chegam os membros de uma associação, podendo alguns discordar da mesma, estando, porém obrigados a acatá-
la, pela própria natureza do acordo.

QUADRO COMPARATIVO

Thomas Hobbes John Locke J-J. Rousseau


(1588-1679) (1632-1704) (1712-1778)
Relativa harmonia devido à Os homens vivem em
Estado Natureza Guerra de todos contra todos
racionalidade humana. harmonia “Bom Selvagem”.
Direitos Naturais Vida, Liberdade. Vida, Liberdade, Propriedade. Vida, Liberdade.
Depois da fundação da
Busca o fim dos conflitos Legitimação do direito à
Motivo do Pacto propriedade, busca da
(segurança) propriedade.
segurança.
Modelo do Estado Absolutista Liberal Democrático

Soberania Governante Legislativo Povo

OBSERVAÇÕES:
A) Devemos ressaltar que para Hobbes só o Estado tem direito do uso da força para garantir os direitos dos cidadãos.
B) Locke divide o poder do Estado em três: Executivo, Legislativo e Federativo. Este filósofo admite o direito à INSURREIÇÃO, que
constitui no direito de retirar o governo vigente caso o mesmo não cumpra sua parte no contrato, ou seja, caso não garanta os direitos
dos cidadãos.
O ESTADO COMO PROCESSO HISTÓRICO

1. GEROGE WILHELM FRIEDRICH HEGEL (1770 – 1831)

Tudo que é real é racional, tudo que é racional é real.

Para entender a filosofia de Hegel, é conveniente situar alguns pontos básicos a partir dos quais se desenvolve a
sua reflexão.
O primeiro desses pontos é o entendimento da realidade como ESPÍRITO. Esse conceito desenvolvido a partir da
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filosofia de Fichte e Schelling, é ampliado ainda mais em Hegel. Entender a realidade como espírito, de
acordo com a filosofia de Hegel, é entendê-la não apenas como substância (um enrijecimento do
espírito, como pensava Schelling), mas também como sujeito. Isso significa pensar a realidade como
processo, como movimento, e não somente como coisa (substância).
O segundo ponto básico da filosofia Hegeliana diz respeito justamente a esse movimento da
realidade. A realidade, enquanto espírito, possui uma vida própria, um movimento dialético. Por
movimento dialético, Hegel quer caracterizar os diversos momentos sucessivos (e contraditórios) pelos
quais determinada realidade se apresenta. Em seu texto Fenomenologia do Espírito, Hegel usa o
exemplo da planta, desenvolvendo o seguinte raciocínio:

“O botão desaparece no florescimento, podendo-se dizer que aquele é rejeitado por este; de modo semelhante, com o
aparecimento do fruto a flor é declarada falsa existência da planta, com o fruto entrando no lugar da flor como a sua
verdade. Tais formas não somente se distinguem, mas cada uma delas se dispersa também sob o impulso da outra,
porque são reciprocamente incompatíveis. Mas, ao mesmo tempo a sua natureza fluida faz delas momentos da unidade
orgânica, na qual elas não apenas não se rejeitam, mas, ao contrário, são necessárias uma para a outra, e essa
necessidade igual constitui agora a via do inteiro”.

Nesse exemplo, Hegel ressalta que a realidade não é estática, mas dinâmica, e em seu movimento apresenta
momentos que se contradizem entre si, sem, no entanto, perderem a unidade do processo, que leva a um crescente
auto-enriquecimento.
Esse desenvolvimento, que se faz através do embate e da superação de contradições, Hegel denominou
dialética. Embora esse termo apareça já na antiguidade, com Platão, em Hegel o conceito de dialética se aplica a algo
totalmente distinto: não é um método ou uma forma de pensar a realidade, mas sim o movimento real da realidade. Por
isso, para compreender a realidade, o pensamento também deve ser dialético.
Hegel compreende esse movimento do real, ou do espírito que se realiza, como um movimento que se processa em
três momentos: o primeiro, do Ser-em-si, o segundo, do Ser outro ou fora-de-si; e o terceiro que seria o retorno, do
Ser para-si. Usando o exemplo da planta, ele distingue estes momentos dizendo: “A semente é em-si a planta, mas ela
deve morrer como semente e, portanto, sair fora-de-si, afim de poder se tornar, desdobrando-se, a planta para-si.”
Nesse exemplo compreende-se que a realidade para Hegel é um contínuo devir, no qual um momento prepara o
outro, mas, para que esse outro momento aconteça, o anterior tem que ser negado.
Esses três momentos são comumente chamados de tese, antítese e síntese. Hegel os concebe como um
movimento em espiral, ou seja, um movimento circular que não se fecha, pois cada momento final, que seria a síntese,
se torna a tese de um movimento posterior, de caráter mais avançado.
Então:

Dialética = Esse desenvolvimento, que se faz através do embate e da superação de contradições.

Esses três momentos são comumente chamados de:

Tese: a afirmação de algo,


Antítese: negação da afirmação,
Síntese: negação da negação.

Compreender a dialética da realidade, segundo Hegel, exige um trabalho árduo da razão, que se deve afastar do
entendimento comum e se colocar do ponto de vista do absoluto. Esse caminho da consciência que se afasta do
conhecimento comum e se eleva ao saber absoluto é o objeto da reflexão do autor em sua obra já referida. Nela, Hegel
afirma que a consciência que alcança o saber absoluto atinge a Razão, ou seja, supera o entendimento finito e adquire
“a certeza de ser de toda a realidade”. Desse modo, a razão alcançaria a consciência da unidade entre ser e pensar,
harmonizando a subjetividade e a objetividade.

1.1 A RELAÇÃO ENTRE FILOSOFIA E HISTÓRIA

O pensamento de Hegel se apresenta como um grande sistema, que permite pensar tanto a natureza, a realidade
física, quanto o espírito. O fio condutor dessa reflexão totalizante é a relação entre finito e infinito. Hegel acredita que o
trabalho da filosofia é de superação do entendimento finito e limitado das coisas finitas e limitadas para alcançar o saber
absoluto, que é o saber da coisa em si. Assim, nesse caminhar da consciência rumo ao saber absoluto, temos a busca
da infinitude a partir da consciência finita. Como sistema filosófico, a obra de Hegel procura demonstrar esse caminho de
conhecimento finito ao conhecimento absoluto em vários campos do saber, tanto em relação à natureza como ao
espírito.m relação à natureza, Hegel reconheceu três momentos:

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 O ESPÍRITO SUBJETIVO: que se refere ao indivíduo e à consciência individual.


 O ESPÍRITO OBJETIVO: que se refere às instituições e costumes historicamente produzidos pelos homens.
 O ESPÍRITO ABSOLUTO: que se manifesta na arte, na religião e na filosofia, como espírito que compreende a
si mesmo.

No que se refere à história, Hegel afirma que ela é o desdobramento do Espírito objetivo. O Espírito objetivo é a
realização da liberdade na sociedade, e se manifesta no direito, na moralidade e na “eticidade”, englobando a família, a
sociedade e o Estado. O Estado político é, na filosofia de Hegel, o momento mais elevado do Espírito objetivo, de forma
tal que “o indivíduo só existe como membro do Estado”, conforme Hegel afirma em Princípios da Filosofia do Direito.
Hegel diz ainda que “a história é o desdobramento do Espírito no tempo”. A filosofia da história deve captar o
movimento histórico não como momentos estagnados, mas no ponto de vista da razão, do absoluto. Desse ponto de
vista, a história é, segundo Hegel, uma contínua evolução da idéia de liberdade, que se desenvolve segundo um plano
racional. Assim, os conflitos, as guerras, as injustiças, as dominações de um povo sobre outro devem ser
compreendidos como contradições, como momentos negativos que funcionam como uma mola dialética que move a
história. Usando os termos da dialética Hegeliana, esses momentos seriam a antítese, que contrapõe a tese, fazendo
surgir uma etapa superior, que seria a síntese.
Hegel sintetiza essa concepção com a frase: “Tudo que é real é racional, tudo que é racional é real”. Isso equivale a
dizer que todas as coisas existentes, mesmo as piores fazem parte de um plano racional e que, portanto, têm um sentido
dentro do processo histórico. Essa afirmação Hegeliana recebeu inúmeras críticas, já que pode levar a um certo
conformismo ou a uma passividade diante das injustiças.

HEGEL (1770 – 1831): “Tudo que é real é racional, tudo que é racional é real.”

Hegel entende a realidade como ESPÍRITO, ou seja, não apenas como substância (um enrijecimento do espírito), mas
também como sujeito. Isso significa pensar a realidade como processo, como movimento, e não somente como coisa
(substância= estática).

Realidade, enquanto espírito = vida própria, um movimento dialético.


Movimento dialético = diversos momentos sucessivos (e contraditórios) pelos quais determinada realidade se apresenta.

Dialética = Esse desenvolvimento, que se faz através do embate e da superação de contradições.


Três momentos da dialética: o primeiro, do Ser-em-si, o segundo, do Ser outro ou fora-de-si; e o terceiro que seria uma
espécie de retorno, do Ser para-si.

Esses três momentos são comumente chamados de:


Tese: a afirmação de algo,
Antítese: negação da afirmação,
Síntese: negação da negação.

Movimento da realidade é como um movimento em espiral, ou seja, um movimento circular que não se fecha, pois cada
momento final, que seria a síntese, se torna a tese de um movimento posterior, de caráter mais avançado.

A relação entre filosofia e história


Como sistema filosófico, a obra de Hegel procura demonstrar esse caminho de conhecimento finito ao conhecimento
absoluto em vários campos do saber, tanto em relação à natureza como ao Espírito.
Em relação à natureza, Hegel reconheceu três momentos:

 O ESPÍRITO SUBJETIVO: que se refere ao indivíduo e à consciência individual.


 O ESPÍRITO OBJETIVO: que se refere às instituições e costumes historicamente produzidos pelos homens.
 O ESPÍRITO ABSOLUTO: que se manifesta na arte, na religião e na filosofia, como espírito que compreende a si
mesmo.

Hegel diz ainda que “a história é o desdobramento do Espírito no tempo”. A filosofia da história deve captar o movimento
histórico não como momentos estagnados, mas no ponto de vista da razão, do absoluto.

“O único pensamento que a filosofia aporta (encaminha, conduz) é a contemplação da história; é a simples idéia
de que a razão governa o mundo, e que, portanto, a história universal é também um processo racional”.

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