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1. Compreender o fundacionalismo racionalista de René Descartes.

2. Conhecer o itinerário cartesiano: Da dúvida ao cogito e do cogito a Deus e ao mundo

3. Compreender o racionalismo cartesiano.

4. Compreender o papel das ideias claras e distintas como critério de verdade.

5. Saber explicar os argumentos cartesianos da existência de Deus.

6. Avaliar criticamente o argumento da existência de Deus.

7. Compreender o dualismo cartesiano

.8. Conhecer o fundacionalismo empirista de David Hume.

9. Saber distinguir impressões e ideias.

10. Distinguir questões de facto e relações de ideias.

11. Explicar a perspetiva de Hume acerca da relação causal e da indução.

12. Avaliar criticamente as posições de Descartes e David Hume quanto aos problemas do
conhecimento.

O Problema da Origem do Conhecimento:

- O Fundacionalismo racionalista de Descartes:

• O critério cartesiano de verdade: ideias claras e distintas.

• O itinerário cartesiano: Da dúvida ao cogito e do cogito a Deus e ao mundo.

• Os argumentos cartesianos da existência de Deus.

• Críticas ao argumento da existência de Deus.

- O fundacionalismo empirista de David Hume:

• A distinção entre impressões e ideias.

• As questões de facto (verdades contingentes) e relações de ideias (verdades necessárias)

• A relação causa-efeito (conjunção constante e conexão necessária)

- Confronto entre as perspetivas de Descartes e de David Hume quanto aos problemas da

origem e limites do conhecimento.


“Discurso do Método ! propõe um modelo quase matemático para conduzir o pensamento
humano, uma vez que a matemática tem por característica a certeza, a ausência de dúvidas

Meditações sobre Filosofia Primeira. O livro é composto por seis meditações, nas quais
Descartes tenta estabelecer o que podemos conhecer com segurança.

As duas obras deverão ser lidas e estudadas em paralelo com o objetivo de compreender a
conceção epistemológica do filósofo.

Conceitos essenciais: Fundacionalismo| universalidade do bom senso ou razão |dúvida


metódica | cogito |evidência |intuição racional| a priori| regras do método| clareza e
distinção | critério de verdade| génio maligno | ideias inatas | ideias adventícias| ideias
factícias| ideia de perfeição| Deus| dualismo antropológico|

Percurso Cartesiano:

1.ª etapa – O itinerário cartesiano da dúvida ao cogito |2.ª etapa –O itinerário cartesiano
do cogito à existência de Deus

a faculdade ou poder de julgar e de distinguir o verdadeiro do falso, que é precisamente o


que se chama bom senso ou razão, é naturalmente igual em todos os homens; e, nesta
conformidade, a diversidade das nossas opiniões não provém de uns serem mais racionais do
que os outros, mas provém do facto de conduzirmos os nossos pensamentos por caminhos
diversos e não considerarmos as mesmas coisas. Não basta ter o espírito bom, pois que o
principal é aplicá-lo bem. As almas, por maiores que sejam, são capazes dos maiores vícios,
assim como das maiores virtudes, e aqueles que caminham muito lentamente podem ir mais
longe, se seguirem, sempre o caminho direito, do que aqueles que correm e dele se desviam

caminhos que me levaram a considerações e máximas, mediante as quais vim a formar um


método que me parece ter dado a possibilidade de aumentar gradualmente o meu
conhecimento e de o elevar, pouco a pouco, ao mais alto ponto que a mediocridade do meu
espírito e a curta duração da minha vida lhe permitirão chega

[…] Assim, não tenho o propósito de ensinar aqui o método que cada um deve seguir, para
bem conduzir a razão, mas tão-somente fazer ver de que maneira procurei conduzir a minha

Desde a infância, alimentei-me das letras e tinha um grande desejo de aprendê-las, porque
me tinham persuadido de que se podia por meio delas adquirir um conhecimento claro e
seguro de tudo quanto é útil à vida. Mas, logo que terminei este ciclo de estudos, no termo
do qual é costume ser-se acolhido na categoria dos doutos, mudei completamente de
opinião. Encontrava-me, realmente, enredado de tantas dúvidas e erros, que me parecia não
ter tirado outro proveito, ao procurar instruir-me, senão o de ter descoberto, cada vez mais,
a minha ignorância. […] Será Descarte um cético ?
Sentia prazer, sobretudo, nas matemáticas, devido à certeza e evidência das suas razões, mas
nada notara ainda da sua verdadeira aplicação, e, pensado que elas serviam apenas para as
artes mecânicas, admirava-me de que, sendo os seus fundamentos tão firmes e sólidos, nada
de mais elevado se tivesse construído sobre eles.

considerando como sobre uma mesma matéria pode haver opiniões diversas, defendidas por
pessoas doutas, sem que possa haver mais do que uma que seja verdadeira, reputava quase
como falso tudo o que era apenas verosímil. […] Ora eu, tinha sempre um grande desejo de
aprender a distinguir o verdadeiro do falso, para ver claro nas minhas ações e caminhar com
segurança nesta vida.

O que inspira Descartes na construção do seu método?

Quando mais jovem, havia-me dedicado um pouco, entre as partes da filosofia à lógica e, entre
as matemáticas, à análise geométrica e à álgebra, três artes ou ciências que pareciam poder
contribuir alguma coisa para o meu plano. Mas, ao examiná-lo com cuidado, reparei que,
quanto à lógica, os seus silogismos e a maior parte das suas outras regras, em vez de ensinar,
servem antes para explicar a outrem as coisas que já se sabem, […]. Depois, quanto à análise
dos antigos e quanto à álgebra dos modernos, além de elas não se aplicarem senão a matérias
muito abstratas e parecem não ter qualquer utilidade, a primeira está sempre tão ligada à
consideração das figuras, que não pode exercitar o entendimento sem cansar muito a
imaginação, e a segunda sujeita-nos de tal modo a certas regras e a certos números, que se faz
dela uma arte confusa e obscura, que embaraça o espirito, em vez de ser uma ciência que o
cultive. Foi por isso que pensei ser necessário procurar qualquer outro método, o qual,
incluindo as vantagens destas três ciências, estivesse isento dos seus defeitos. […] em lugar
daquele grande número de preceitos que constituem a lógica, julguei que me bastariam os
quatro seguintes, desde que eu tomasse a firme e constante resolução de não deixar uma só
vez de os cumprir.

Quais as regras do método cartesiano?

O primeiro consistia em nunca aceitar coisa alguma por verdadeira, sem que a conhecesse
evidentemente como tal, ou seja, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, e não
incluir nada mais nos meus juízos senão o que se apresentasse tão clara e tão distintamente ao
meu espírito, que não tivesse nenhuma ocasião de o pôr em dúvida. O segundo consistia em
dividir cada uma das dificuldades que examinava em tantas parcelas quantas fosse possível e
fosse necessário, para melhor as resolver. O terceiro consistia em conduzir por ordem os meus
pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir,
pouco a pouco, gradualmente, até ao conhecimento dos mais complexos, não deixando de
supor certa ordem entre aqueles que não se sucedem naturalmente uns aos outros. O último
consistia em fazer sempre tantas enumerações tão completas e revisões tão gerais, que tivesse
a certeza de nada omitir.

Que razões terá Descartes para “rejeitar a terra movediça e a areia”?


[…] E, como esperava chegar melhor a um bom resultado, conversando com pessoas, em vez
de continuar durante mais tempo, enclausurado diante do fogão, onde tivera todos estes
pensamentos, pus-me de novo a viajar, ainda o inverno não findar. E, durante os nove anos
que se seguiram, não fiz outra coisa senão andar pelo mundo, indo daqui para ali, e
procurando ser mais espectador do que um ator em todas as comédias que nele se
representam, e, refletindo, particularmente, em cada assunto, sobre o que podia tornar
suspeito e dar azo a enganarmo-nos, ia, entretanto, desenraizando do meu espírito todos os
erros que nele, então, se tinham podido insinuar. Não que, ao proceder assim, imitasse os
céticos que duvidam apenas por duvidar e afetam estar sempre irresolutos, mas, pelo
contrário, todo o meu propósito só tendia a estar na posse da certeza e a rejeitar a terra
movediça e a areia, para encontrar a rocha ou a argila.

[…] Mas, porque agora desejava dedicar-me apenas à procura da verdade, pensei que era
preciso fazer precisamente o contrário e rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em
que pudesse imaginar a menor dúvida, com este propósito de ver se, depois disso, não ficaria
na minha mente qualquer coisa que fosse absolutamente indubitável.

Assim, porque os nossos sentidos nos enganam algumas vezes, resolvi supor que não existe
coisa alguma que fosse exatamente como eles a fazem imaginar. E, porque há homens que se
enganam, ao raciocinar, até nas mais simples questões da geometria, e nelas, cometem
paralogismos, pensando que eu estava tão sujeito a enganar-me, como qualquer outro, vim a
rejeitar como falsas todas as razões de que, anteriormente, me servira nas demonstrações.

Finalmente, considerando que todos aqueles pensamentos que temos, quando acordados, nos
podem advir, quando dormimos, sem que, em tal caso, algum seja verdadeiro, resolvi supor
que tudo quanto, até então, me entrara no entendimento não era mais verdadeiro do que as
ilusões dos meus sonhos.

Qual a primeira certeza descoberta por Descartes?

Mas, imediatamente, notei que, ao querer assim pensar que tudo era falso, eu, que o
pensava, necessariamente devia ser alguma coisa. E, notando que esta verdade: Penso, logo
existo, era tão firme e tão certa, que nenhuma das mais extravagantes suposições dos céticos
eram capazes de abalá-la, julguei que a podia aceitar, sem hesitação, para primeiro princípio
da filosofia que procurava

Qual é o critério de verdade e de certeza

Seguidamente, ao examinar com atenção o que eu era, e, vendo que podia supor que não
tinha corpo algum, e que não havia nenhum mundo nem nenhum lugar, onde eu estivesse,
mas que, apesar disso, não podia supor que eu não existia, antes, pelo contrário, precisamente
pelo facto de duvidar da verdade das outras coisas, concluía muito evidentemente e
certamente que eu existia, ao passo que, se deixasse, um momento, de pensar, ainda que tudo
o resto, que imaginara, fosse verdadeiro, compreendi, consequentemente, que eu era uma
substância, cuja essência ou natureza não é senão pensar, e que, para existir, não precisa de
nenhum lugar, nem depende de coisa alguma material.
Em que consiste o dualismo cartesiano

De maneira que este eu, isto é, a alma, pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do
corpo, e mesmo mais fácil de conhecer que este, e, posto que o corpo não existisse, nada
impediria que ela fosse tudo aquilo que é. Depois disso, considerei, na generalidade, o que se
exige a uma proposição, para que seja verdadeira e certa, e, dado que acabava de encontrar
uma que o era, pensei que devia saber também em que consistia tal certeza. E, tendo notado,
que, na afirmação Penso, logo existo, não há absolutamente nada a garantir-me que esteja a
dizer, a não ser o ver muito claramente que, para pensar, é preciso existir, julguei que podia
tomar como regra geral que são verdadeiras todas aquelas coisas que concebemos muito
claramente e muito distintamente, havendo apenas alguma dificuldade em notar bem quais
são as que concebemos distintamente.

Como comprova Descartes a existência de um Deus omnipotente, omnisciente e


inteiramente bom?

Seguidamente, ao refletir que duvidava, e, por consequência, meu ser não era inteiramente
perfeito, pois via claramente que saber é perfeição maior que duvidar, lembrei-me de ver
donde me tinha vindo o pensamento de qualquer coisa de mais perfeito do que eu, e, com
evidência, conheci que deveria ter vindo de alguma natureza, que, realmente, fosse mais
perfeita. […] Consequentemente, só restava que ela tivesse sido posta em mim por outra
natureza que fosse verdadeiramente mais perfeita do que eu, e que até tivesse em si todas as
perfeições, acerca das quais pudéssemos ter alguma ideia, isto é, que fosse Deus, para tudo
dizer numa só palavra. A isto acrescentei que, visto conhecer algumas perfeições que eu não
tinha, não era o único ser existente, mas devia necessariamente existir algum outro mais
perfeito, do qual eu dependesse e do qual tivesse adquirido quanto tinha. Com efeito, se ei
fosse o único ser e independente de qualquer outro, de modo que houvesse recebido de mim
mesmo todo aquele pouco que participava do ser perfeito, poderia ter tido de mim, pela
mesma razão, tudo que reconhecia faltar-me, e ser, assim, infinito, eterno, imutável,
omnisciente, omnipotente, enfim, ter todas as perfeições que existiam em Deus. Na sequência
dos raciocínios que acabo de fazer, para conhecer a natureza de Deus tanto quanto me é
possível, bastava-me considerar, relativamente a todas as coisas de que em mim encontrava
alguma ideia, se era ou não perfeição possuí-las, e estava certo de que as que contém alguma
imperfeição não estavam nele, mas estavam todas as outras perfeitas. Assim, via que a dúvida,
a inconstância, a tristeza e coisas semelhantes não podiam estar em Deus, pois que estar
isento delas ser-me-ia deveras agradável

Que papel desempenha Deus no sistema cartesiano?

Antes de mais, com efeito, aquilo mesmo que, há pouco, tomei como regra, isto é, que as
coisas que concebemos muito claramente e muito distintamente são todas as verdadeiras,
isso somente me é assegurado, porque Deus é ou existe, é um ser perfeito, e tudo quanto
em nós existe, provém dele. Donde se segue que as nossas ideias ou noções, sendo coisas
reais vindas de Deus, não podem deixar de ser verdadeiras, uma vez que são claras e distintas.
[…]

Ao examinar o cogito, Descartes encontra três tipos de ideias. Quais são?


E, quanto ao erro mais frequente dos nossos sonhos, que consiste em nos representarem
diversos objetos, como fazem os nossos sentidos externos, não importa que esse erro nos
proporcione a ocasião de desconfiarmos da verdade de tais ideias, porque estas podem
também enganar-nos, muitas vezes, sem que estejamos a dormir, como é o caso dos ictéricos
que veem tudo amarelo, e como é o caso dos astros e dos outros corpos muito afastados, os
quais nos parecem muito mais pequenos do que são. Deste modo, enfim, quer estejamos
acordados, quer estejamos a dormir, nunca nos devemos deixar persuadir senão pela
evidência da nossa razão. Note-se que digo da nossa razão e não da nossa imaginação, nem
dos nossos sentidos. Com efeito, posto que vejamos o Sol muito claramente, não devemos,
por isso, julgar que ele só tem a grandeza que vemos. Podemos também imagina
distintamente uma cabeça de leão posta no corpo de uma cabra, sem que, por isso, tenhamos
de concluir que, no mundo, há uma quimera, pois que a razão, de modo algum, garante que
seja verdadeiro o que vemos ou imaginamos. Garante–nos, porém, que todas as nossas ideias
ou noções devem ter algum fundamento de verdade, pois não seria possível que Deus, que é
completamente perfeito verdadeiro, as tivesse posto em nós sem esse fundamento. E, porque
os nossos raciocínios nunca são tão evidentes, nem tão completos, durante o sono, como no
estado de vigília, ainda que por vezes, as nossas imaginações sejam então mais vivas e mais
nítidas, a razão mostra-nos também que, não podendo os nossos pensamentos ser todos
verdadeiros, porque não somos completamente perfeitos, a verdade que eles têm deve
infalivelmente encontrar-se mais naqueles que temos, quando acordados, do que nos nossos
sonhos.

No final do estudo da epistemologia cartesiana deverás verificar os teus


conhecimentos sobre os conteúdos lecionados.
1. Apresentar o projeto cartesiano.
2. Caraterizar a dúvida cartesiana, distinguindo-a da dúvida cética.
3. Reconhecer a importância do cogito cartesiano.
4. Expor o primeiro nível da dúvida cartesiana – a ilusão dos sentidos. (ou
argumento da ilusão dos sentidos
5. Esclarecer o segundo nível da dúvida cartesiana – vigília e sono não se
podem distinguir (ou argumento do sonho)
6. Explicar o terceiro nível da dúvida cartesiana – a possibilidade de um génio
maligno. (ou argumento do génio maligno)
7. Fundamentar como Descartes é conduzido da dúvida ao princípio que serve
de base ao fundacionalismo – o cogito.
8. Clarificar o critério de verdade da epistemologia cartesiana – clareza e
distinção.
9. Mostrar o que se entende por dualismo cartesiano.
10. Diferenciar ideias inatas, adventícias e factícias.
11. Expor os argumentos a favor de Deus no sistema cartesiano.
12. Justificar a importância de Deus no sistema cartesiano.
13. Conhecer objeções à epistemologia cartesiana.

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