Você está na página 1de 14

SEMINÁRIO HISTÓRIA DO PENSAMENTO

LIBERAL

APOSTILA 5

RENASCENÇA CINQUECENTO

MARIZE SCHONS
Copyright © 2022
Por Prof. Dra. Marize Schons

Todos os direitos reservados.


Nenhuma parte de esta publicação
pode ser reproduzida, distribuído ou
transmitido e sem a prévia permissão
do autor, exceto no caso de citações
breves incorporados em revisões
críticas e certos outros usos não
comerciais permitido pela lei de
direitos autorais.

ISBN

Seminário História do Pensamento Liberal


Brasil. Belo Horizonte
2022

seminariohpl.com.br
SUMÁRIO

PART III

CINQUECENTO - SÉC XVI

1  O Racionalismo Cartesiano


2  O empirismo escocês

PARTE I
CINQUECENTO
1
O RACIONALISMO CARTESIANO

Os Princípios do Programa

Gostaria, em primeiro lugar, de explicar o que é a filosofia,


começando pelas coisas mais simples, tais como: que esta
palavra "filosofia" significa o estudo da sabedoria; e que, por
sabedoria, não entendemos apenas a prudência nos ne gócios,
mas um perfeito conhecimento de todas as coisas que o homem
pode saber, tanto para a conservação de sua vida, quanto para a
conservação de sua saúde e para a invenção de todas as artes; e
para que este conhecimento seja tal, é necessário que ele seja
deduzido das primeiras causas, de sorte que, para estudar e
adquiri-lo - o que significa propriamente filosofar -, devemos co
meçar pela busca das primeiras causas, isto é, dos princípios.
Mas é preciso que esses princípios tenham duas condições: uma,
que sejam tão claros e dis tintos que o espírito humano não
possa duvidar de sua verdade quando se apli ca, com atenção, a
considerá-los, a outra, que seja deles que dependa o conhe
cimento das outras coisas, de sorte que eles possam ser
conhecidos sem elas, mas não reciprocamente elas sem eles;
depois disso, devemos tentar deduzir desses princípios o
conhecimento das coisas que deles dependem“
Gostaria de explicar, aqui, a ordem que, parece-me, devemos
seguir para que nos instruamos. Primeiramente, o homem, que
ainda só possui conhecimento vulgar e imperfeito, deve, antes
de tudo, encarregar-se de formar uma moral que seja suficiente
para ordenar as ações da vida, porque isso deve ser adiado e
porque devemos procurar viver bem. Em seguida, também deve
estudar lógica, não a da Escola (...), mas aquela que ensina a bem
conduzir a razão na descoberta das verdades que se ignoram (...).
É bom que ele se exercite, por muito tempo, na prática de regras
pertinentes a questões fáceis e simples como as da matemática.
Depois, quando já tiver adquirido o hábito de encontrar a
verdade nessas questões, deve começar a aplicar-se à verdadeira
filosofia, cuja primeira parte é a metafísica, que contém os
princípios do conhecimento, en tre os quais está a explicação dos
principais atributos de Deus, da imateriali dade de nossas almas
e de todas as noções claras e simples que estão em nós. A
segunda é a física, na qual, após ter encontrado os verdadeiros
princípios das coisas materiais, examinamos em geral como o
universo é composto (...). Des se modo, a filosofia é como uma
árvore cujas raízes são a metafísica, o tronco é a física, os ramos
que daí saem são todas as outras ciências.
(Princípios da filosofia, Prefácio)

A ideia de razão

O bom senso é o que existe de mais bem distribuído no mundo.


Porque cada um se julga tão bem dotado dele que mesmo
aqueles que são mais difíceis de se contentar com qualquer outra
coisa não costumam desejar possuí-lo mais do que já têm: E não
é verossímil que todos se enganem a esse respeito. Pelo
contrário, isso testemunha que o poder de bem julgar e de
distinguir o verdadeiro do falso, que é propriamente o que se
denomina bom senso ou razão, é naturalmente igual em todos
os homens; e que, por isso, a diversidade de nos sas opiniões não
provém do fato de uns serem mais racionais do que os outros,
mas somente do fato de conduzirmos nossos pensamentos por
vias diversas e de não considerarmos as mesmas coisas. 3
(Discurso sobre o método, § 1)
As verdades primeiras

Depois, examinando com atenção o que eu era, e vendo que


podia supor que não tinha corpo algum e que não havia
qualquer mundo, ou qualquer lugar onde eu existisse, mas que
nem por isso podia supor que não existia; e que, ao contrário,
pelo fato mesmo de eu pensar em duvidar da verdade das outras
coisas (...), compreendi que eu era uma substância cuja essência
ou natureza consiste apenas no pensar, e que, para ser, não
necessita de nenhum lugar, nem depende de qualquer coisa
material. De sorte que esse eu, isto é, a alma, pela qual sou o que
sou, é inteiramente distinto do corpo e, mesmo, que é mais
simples de conhecer do que ele; e ainda que ele nada fosse, ela
não deixaria de ser tudo o que é. este extensão seu esteira
(Discurso sobre o método, V Parte)

Mas o que sou eu? Uma substancia que pensa. O que é uma
substância que pensa? É uma coisa que duvida, que concebe, que
afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina e que
sente. (Meditações, 2)

Estando habituado, em todas as outras coisas, a fazer a distinção


entre existência e essência, persuado-me facilmente de que a
existência pode ser separa da da essência de Deus e que, assim,
se possa conceber Deus como não existindo atualmente.
Todavia, quando penso nisso com mais atenção, verifico
claramente que a existência não pode ser separada da essência
de Deus, assim como da essència de um triângulo retilineo não
pode ser separada a grandeza de seus triangulos iguais a dois
retos ou, da idéia de uma montanha, a ideial de um vale, de
maneira que não há menos repugnância em conceber um Deus
listo é, um ser soberanamente perfeito) ao qual falta a existência
(isto é, no qual falta alguma perfeição) do que em conceber uma
montanha que não tenha um vale. (Meditações metafísicas, A
natureza da matéria)
2
O EMPIRISMO ESCOCÊS

1. A idéia é o objeto do pensamento. Todo homem tem


consciência de que pensa e de que, quando está pensando, sua
merite se ocupa de idéias que tem de si. E indubitável que os
homens têm em suas mentes várias idéias, que po dem ser
expressas pelos termos-brancura, dureza, doçura, pensamento,
movimento, homem, elefante, exército, embriaguez, e outros.
Deve-se exami nar, então, em primeiro lugar, como ele as
apreende. Sei que é aceita a dou trina segundo a qual os homens
têm idéias inatas e caracteres originais im pressos em suas
mentes desde o início. Já examinei, em linhas gerais, essa
opinião, e suponho que o que já disse no livro anterior será
muito mais facil mente admitido quando tiver mostrado como o
entendimento obtém todas as idéias que possui, e de que modo e
graus elas penetram na mente, e para tal farei apelo a observação
e experiência de cada um. (John Locke, Ensaio sobre o
entendimento humano)
2. Todas as idéias provém da sensação ou da reflexão.
Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel
em branco, vazio de todos caracteres, sem quaisquer idéias.
Como vem a ser preenchida? Como the vem esse vasto esto que
que a ativa e ilimitada fantasia humana pintou nela com uma
variedade quase infinita? Como the vem todo o material da
razão e do conhecimento? A isso respondo com uma palavra:
pela experiència. É na experiência que está baseado todo o
nosso conhecimento, e é dela que, em última análise, o conhe
cimento é derivado. Aplicada tanto aos objetos sensíveis
externos quanto às operações internas de nossa mente, que são
por nós mesmos percebidas e refle tidas, nossa observação
sempre supre nosso entendimento com todo o material do
pensamento. Essas são as duas fontes de nosso conhecimento,
das quais jorram todas as idéias que temos ou que podemos
naturalmente ter. (John Locke, Ensaio sobre o entendimento
humano)

O problema da causalidade

60. (...) se há alguma relação entre objetos que nos importa


conhecer perfel tamente é a de causa e efeito. Sobre ela se
fundamentam todos nossos racio cínios sobre questões de fato
e de existência. (...) A única utilidade imediata de todas as
ciências é nos ensinar a regular e controlar os eventos futuros
atra vés de suas causas. Nossos pensamentos e nossas
investigações sempre se diri gem, portanto, a essa relação.
Contudo, tão imperfeitas são as idéias que for mamos a esse
respeito que é impossível dar uma definição correta de causa;
exceto o que tiramos do que lhe é estranho e exterior. Objetos
semelhantes sempre se encontram em conexão com objetos
semelhantes. Disso temos experiência. De acordo com essa
experiência, podemos definir uma causa como um objeto
seguido de outro de tal forma que todos os objetos semelhantes
ao primeiro são seguidos de objetos semelhantes ao segundo.
Ou, em outros termos, tal que, se o primeiro objeto não
existisse, o segundo também não existiria. O aparecimento de
uma causa sempre traz à mente, por uma transi ção costumeira,
a idéia de efeito. Disso também temos experiência.
Podemos, assim, conforme essa experiência, formular uma
outra definição de causa que chamaríamos de um objeto
seguido de outro, e cuja aparição sempre conduz o pensamento
à idéia desse outro objeto. (...) Ouso assim afirmar como uma
proposição geral que não admite exceção que o conhecimento
dessa relação não se obtém em nenhumi caso pelo raciocínio a
priori, mas que ela nasce in tei ramente da experiência quando
descobrimos que objetos particulares estão em conjunção uns
com os outros. (David Hume, Investigação sobre o
entendimento humano, séc. VII)

O problema da identidade individual

Há alguns filósofos que imaginam que estamos a todo


momento conscientes de algo a que chamamos nosso eu [self] e
que sentimos sua existência contí nua, tendo certeza, para além
de qualquer evidência ou demonstração, de sua - perfeita
identidade e simplicidade. (...) Infelizmente, todas essas
afirmações são contrárias a essa mesma experiência a que esses
filósofos recorrem, nem temos qualquer idéia de eu do modo
como a explicam. De que impressão poderia essa idéia ser
derivada? A essa questão é impossível responder sem omo
absurdo e sem uma contradição manifesta. E, entretanto, é uma
questão que deve necessariamente ser respondida se quisermos
que a idéia de eu passe por clara e inteligível. Deve haver uma
impressão determinada para dar origem a a toda idéia real. Mas
eu ou pessoa não é uma impressão determinada, mas o aquilo
que se supõe que nossas várias impressões e idéias têm como
referên elba cia. Se alguma impressão dá origem à idéia de eu,
essa impressão deve manter se invariavelmente a mesma,
durante todo o curso de nossas vidas, uma vez que se considera
que o eu existe dessa maneira. Mas não há nenhuma impressão
-1 constante e invariável. Dor e prazer, tristeza e alegria,
paixões e sensações W sucedem-se umas às outras, e nunca
existem to das ao mesmo tempo. Não pode ser, portanto, de
nenhuma dessas impressões, nem de nenhuma outra, que a
idéia de eu é derivada, e conseqüentemente essa idéia
simplesmente não existe. come in urinli (David Hume, Tratado
da natureza humana, Livro I, séc. VI)
A filosofia política

H097) E, assim, cada indivíduo, ao consentir com os outros em


formar um corpo político com um governo, coloca-se a si
próprio sob a obrigação em relação a todos os outros membros
dessa sociedade de se submeter à de ter bmminação da maioria
e de aceitar suas decisões. Caso contrário, essa pacto ori
colleginal, pelo qual ele e os outros formam uma sociedade,
não significaria nada, mos e não seria um pacto se ele
permanecesse tão livre e tão sem obrigações quanto quando se
encontrava no estado de Natureza. ab John Locke, Segundo
ensaio sobre o governo civil, Cap. VIII)

A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de


defendê-los das malinvasões dos estrangeiros e das injúrias uns
dos outros, garantindo-lhes assim sla uma segurança suficiente
para que, mediante seu próprio labor e graças aos Honi frutos
da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda
sua força e poder a um homem, ou a uma assembléia de
homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por
pluralidade de votos, a uma só vontade. O que equivale SOU a
dizer: designar um homem ou uma assembléia de homens
como representante de suas pessoas, considerando-se e
reconhecendo-se cada um como autor de todos os atos que
aquele que representa sua pessoa praticar ou levar a praticar,
em tudo que disser respeito à paz e segurança comuns; todos
submetendo, as sim, suas vontades à vontade do representante,
e suas decisões à sua decisão. Isso é mais do que consentimento
ou concórdia, é uma verdadeira unidade de todos eles, numa só
e mesma pessoa, realizada por um pacto de cada homem com
todos os homens, de um modo que é como se cada homem
dissesse a cada homem: cedo e transfiro meu direito de me
governar a mim mesmo a este homem, ou a esta assembléia de
homens, com a condição de transferires a ele teu direito,
autorizando de maneira semelhante todas as suas ações. Feito
isso, a multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado,
em latim, civitas. where (Thomas Hobbes, Leviata, Parte II,
Cap. XVII)
REFERÊNCIAS
VISUAIS
Ticiano Vecellio ou Vecelli (em italiano: Tiziano
Vecellio; Pieve di Cadore, c. 1473/1490 –
Veneza, 27 de agosto de 1576) foi um dos
principais representantes da escola veneziana
no Renascimento antecipando diversas
características do Barroco e até do
Modernismo. Ele também é conhecido como
Tizian Vecellio De Gregorio, Tiziano, Titian ou
ainda como Titien.[1]

Reconhecido pelos seus contemporâneos como


"o sol entre as estrelas", Ticiano foi um dos
mais versáteis pintores italianos, igualmente
bom em retratos ou paisagens, temas
mitológicos ou religiosos.

Se tivesse morrido cedo, teria sido conhecido


como um dos mais influentes artistas do seu
tempo, mas como viveu quase um século,
mudando tão drasticamente seu modo de
pintar, vários críticos demoram a acreditar se
tratar do mesmo artista. O que une as duas
partes de sua obra é seu profundo interesse
pela cor, sua modulação policromática é sem
precedentes na arte ocidental.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

BARRACLOUGH,GEOFFREY.EUROPA;UMAREVISÃOHISTÓRICA.RIODEJANEIRO,ZAHAR,1964

A Q U I N O , T O M Á S D E . S U M A T E O L Ó G I C A . V . I , P A R T E I . 2 A E D . S Ã O P A U L O : E D I Ç Õ E S
LOYOLA, 2001.

AGOSTINHO, ST. CONFISSÕES. EDITORA SCHWARCZ - COMPANHIA DAS LETRAS, 2017

COSTA, JOSÉ SILVEIRA.TOMÁS DE AQUINO. A SERVICO DA RAZAO, COLECAO LOGOS, E


D. MODERNA, 2003

AGOSTINHO, ST. O LIVRE ARB[ITRIO. CLUBE DE AUTORES, 2018

VOEGELIN, ERIC. 2012. A IDADE MÉDIA ATÉ TOMÁS DE AQUINO: HISTÓRIA


DAS IDEIAS POLÍTICAS. 2ND ED. VOL. II. SÃO PAULO, SP: É REALIZAÇÕES.

TREVISAN, ARMINDO. 2014. UMA VIAGEM ATRAVÉS DA IDADE MÉDIA. 1ST ED.
PORTO ALEGRE, RS: 2008.

STORCK, ALFREDO. 2003. FILOSOFIA MEDIEVAL. N.P.: ZAHAR.


CITAR

REZENDE, ANTONIO. 1986. CURSO DE FILOSOFIA: PARA PROFESSORES E


ALUNOS DOS CURSOS DE SEGUNDO GRAU E DE GRADUAÇÃO. N.P.: J. ZAHAR.

REALE, GIOVANNI. 2005. HISTÓRIA DA FILOSOFIA - ANTIGUIDADE E IDADE


MÉDIA. TRANSLATED BY LVARO CUNHA. 3RD ED. VOL. 1. N.P.: EDIÇÕES
PAULINAS.

PERNOUD REGINE , IDADE MÉDIA O QUE NÃO NOS ENSINARAM - 2ª EDIÇÃO,


REVISTA E AMPLIADA. EDIÇÃO PORTUGUÊS

LE GOFF, JACQUES. OS INTELECTUAIS NA IDADE MÉDIA. RIO DE JANEIRO:


JOSÉ OLYMPIO, 2003.

REGINE PERNOUD. LUZ SOBRE A IDADE MEDIA. EDITORA: PUBLICACOES


EUROPA AMERICA, 1944

Você também pode gostar