Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. ILICITUDE
1.1 Relação Entre a Tipicidade e a Ilicitude
1.2. Causas de Exclusão da Ilicitude.
1.2.1. Causas Legais de Exclusão da Ilicitude
1.2.2. Causas Supralegais de Exclusão da Ilicitude
1.3. Excesso na Justificante
2. CULPABILIDADE
2.1. Elementos da Culpabilidade.
2.1.1. Imputabilidade
2.1.2. Potencial Consciência de Ilicitude
2.1.3. Exigibilidade de Conduta Diversa
3. TEORIA DO ERRO
3.1. Erro de Tipo (Art. 20, CP).
3.2. Erro de Proibição.
DIREITO PENAL
META 3
1. ILICITUDE
Conceito: É o segundo substrato do conceito analítico de crime, e consiste na relação de
contrariedade entre o fato típico praticado por alguém e o ordenamento jurídico.
Ex: Embora a conduta do oficial de justiça quando apreende determinado bem contra a
vontade do dono em razão de mandado judicial consista em subtrair coisa alheia móvel, o que
seria um fato típico, sua conduta não é contrária ao ordenamento jurídico por estar abarcada
pelo estrito cumprimento do dever legal, causa excludente de ilicitude, de modo que não haverá
crime.
Termo: Alguns doutrinadores utilizam “antijuridicidade”, no lugar de ilicitude, mas é um termo
tecnicamente incorreto, vez que o crime é, na verdade, um fato jurídico.
Fato jurídico pode ser natural ou voluntário. Os voluntários se dividem em lícito e ilícito. Dentre
os ilícitos, temos os ilícitos penais, que se dividem em crime ou contravenção.
Portanto, melhor utilizar ILICITUDE, que foi o termo escolhido pelo CP também.
Essa presunção é relativa (iuris tantum), podendo ser afastada por uma excludente
de ilicitude. E qual o efeito prático dessa teoria? Acarreta a inversão do ônus da
prova no tocante às excludentes da ilicitude. Assim, para a acusação, basta provar
que o fato é típico, cabendo à defesa alegar e provar as excludentes.
Como dito, no Brasil adota-se a teoria indiciária, porém, mitigada a partir da reforma de 2008,
em razão de dispositivos que privilegiam o “in dubio pro reo”, uma vez que, mesmo a defesa
não provando cabalmente a excludente, em caso de dúvida, deve o magistrado decidir em
favor do réu.
1.2 Causas de Exclusão da Ilicitude
a) Conceito:
É a prática de um fato típico, sacrificando bem jurídico, para salvar de perigo atual direito
próprio ou alheio cujo sacrifício não era razoável exigir-se nessas circunstâncias.
Se há dois bens em perigo de lesão, o estado permite que seja sacrificado um deles, pois,
diante do caso concreto, a tutela penal não pode salvaguardar a ambos (sopesamento de bens
diante de uma situação adversa).
→ Para determinar se há uma situação de perigo ou não, leva-se em consideração uma pessoa
do mesmo círculo social do autor (observador inteligente), sendo que os conhecimentos e
informações dessa pessoa devem ser agregados ao juízo de um especialista em perigo.
b) Estado de necessidade putativo: a situação de perigo não existe, é imaginária (não exclui a
ilicitude). Se o perigo não existe (é imaginário), o agente está diante de uma discriminante
putativa (estado de necessidade putativo). Isso é importante porque o estado de necessidade
putativo não exclui ilicitude.
Ex.: Um bombeiro não pode alegar estado de necessidade como maneira de eximir-se do
dever de enfrentar o perigo.
Estado de necessidade de terceiro: quando o direito que vai ser sacrificado pertence a um
terceiro.
Nesse caso, pode-se atuar em estado de necessidade independentemente da análise
desse direito? Qualquer bem jurídico pode ser tutelado? R: Em regra, sim. Mas se esse bem
jurídico de terceiro for DISPONIVEL, é INDISPENSÁVEL A ACEITAÇÃO DA VÍTIMA.
▪ Teoria diferenciadora: para esta teoria, se o bem jurídico sacrificado tiver um valor menor
que o bem jurídico protegido, haverá estado de necessidade com excludente da ilicitude,
denominado de estado de necessidade justificante. Por outro lado, se o bem sacrificado tiver o
valor igual ou maior do que o bem protegido, a doutrina denominará esta situação de estado
de necessidade exculpante, ou seja, haveria a exclusão da culpabilidade.
• Conclusão: Exige a consciência e vontade de salvar de perigo atual direito próprio ou alheio.
c) Espécies:
• Quanto à titularidade:
o Próprio;
o De terceiro.
Inicialmente, é importante ressaltar que a legítima defesa é inerente à própria condição humana,
o instinto defensivo do homem é inerente a usa natureza. Desse modo, o ordenamento jurídico
não poderia criminalizar condutas praticadas nesse contexto.
É importante também observamos que a autotutela (defesa de direitos com as próprias forças)
é, em regra, vedada em nosso ordenamento jurídico. Contudo, em hipóteses excepcionais,
considerando que o Estado não estará presente em todos os momentos para tutelar os direitos
protegidos, admite-se a autotutela. Desse modo, veja que a legítima defesa nada mais é do que
maneira específica e autorizada de exercer a defesa de direitos próprios ou de terceiros diante
de injustas agressões.
R.: Em nosso ordenamento jurídico, com previsão no artigo 25, Código Penal Brasileiro, é
tratada como causa genérica de exclusão da ilicitude.
Quais são os requisitos para a aplicação da legítima defesa? A legítima defesa se desenvolve
sob o binômio Agressão / Reação. Desse modo, pressupõe:
AGRESSÃO REAÇÃO
➔ Injusta.
➔ Atual ou Iminente. ➔ Uso dos meios necessários.
➔ Contra direito próprio ou de ➔ Uso moderado desses meios.
terceiro.
(1) AGRESSÃO INJUSTA.
Nos dizeres do professor Cléber Masson, Agressão é toda ação ou omissão humana,
consciente e voluntária, que lesa ou expõe a perigo de lesão um bem ou interesse consagrado
pelo ordenamento jurídico.
O termo agressão somente é utilizado para agressões humanas, desse modo, ações praticadas
institivamente por animais não são consideradas agressões humanas, salvo se o animal for
utilizado como instrumento de ataques humanos. Ademais, possui destinatário certo.
R.: NÃO! O STF entendeu, no bojo do julgamento da ADPF 779, que a tese da legítima defesa
da honra é inconstitucional!
Assim, o STF entende que o acusado de feminicídio não pode ser absolvido, na forma do art.
483, III, § 2º, do CPP, com base na tese da “legítima defesa da honra”, de modo que é proibido
que a defesa, a acusação, a autoridade policial ou o magistrado utilizem, direta ou indiretamente,
a tese de legítima defesa da honra (ou qualquer argumento que induza à tese) nas fases pré-
processual ou processual penais, bem como durante julgamento perante o tribunal do júri.
Em caso de agressão futura, porém certa, configurando legítima defesa antecipada, a doutrina
admite a configuração de excludente de culpabilidade, por inexigibilidade de conduta diversa.
b. Não só a vida ou a integridade física são passíveis de proteção em legítima defesa. Toda a
ordem de bens jurídicos pode ser tutelada e protegida pela legítima defesa.
d. É possível ainda a defesa, por meio de legítima defesa, inclusive contra-ataques atuais ou
iminentes a fetos (nascituros).
Pergunta-se: A conduta do sniper (atirador de elite) que atira no agressor que tem a
vítima na condição de refém, é abrangida por excludente de ilicitude?
Sim, veja que se enquadra perfeitamente nos requisitos que estamos analisando. Trata-se de
agressão atual ou iminente contra direito de terceiro. Desse modo, majoritariamente a conduta
do sniper que dispara contra o agressor que tem refém em sua posse sempre foi,
doutrinariamente, tratada como legítima defesa. É justamente nesse sentido que a alteração
legislativa milita, vejamos:
Desse modo, agora, expressamente o legislador optou por tratar a condição do agente de
segurança pública que repele agressão atual ou iminente praticada por agressor que mantém a
vítima na condição de refém.
Os meios necessários são aqueles menos lesivos colocados à disposição do agente e que
sejam capazes de repelir a agressão atual ou iminente. Observe assim os requisitos:
Desse modo, a análise deve ser feita a partir da situação concreta, pois a reação até pode ser
desproporcional, quando o agente não possui outro meio menos lesivo apto a repelir a
agressão que sofre.
Ex. Rodolfo vai agredir Hugo com uma espada. Hugo tem à sua disposição, para repelir essa
injusta agressão, uma metralhadora, um revólver, uma faca e suas habilidades físicas. Qual é o
meio necessário? Deve ser o meio menos lesivo, dentre os capazes de repelir a injusta
agressão. No exemplo, o meio menos lesivo está nas habilidades físicas de Hugo. Mas elas não
são capazes de repelir a injusta a agressão. A faca também não é apta a repelir a injusta a
agressão. Então, o meio necessário é o revólver, pois, embora é o meio menos lesivo entre os
capazes de repelir a injusta agressão.
Observe que, ainda que o agente possa fugir da injusta agressão, essa conduta não é exigida
dele. A ordem jurídica não pode abranger situações ilícitas e não pode exigir de quem atacado
a conduta de fugir. Desse modo, a doutrina se posiciona no sentido de não se exigir o que se
convencionou chamar de commodus discessus.
PONTOS IMPORTANTES:
Diz respeito à agressão a bens jurídicos pelos agentes públicos no exercício de suas atribuições
(art. 23, III, CP). Haveria incoerência caso o ordenamento jurídico impusesse um dever a alguém
e o punisse criminalmente por isso.
Trata-se, portanto, de uma causa de exclusão da ilicitude que consiste na pratica de um fato
típico em razão de o agente cumprir uma obrigação imposta por lei, de natureza penal ou não.
ATENÇÃO:
• O estrito cumprimento do dever legal beneficia os agentes públicos em geral, mas é possível
que o particular também seja amparado pela excludente, desde que esteja cumprindo
estritamente um dever legal (ex: advogado que omite informações, recusando-se a depor, em
razão do segredo profissional estabelecido no EOAB);
• Dever legal: lei em sentido amplo. Qualquer ordem ou comando advindos do Estado.
• Estrito cumprimento: se o agente se exceder, responderá pelo excesso. Caberia, por
exemplo, legítima defesa diante desse excesso.
• Incompatibilidade com os crimes culposos: a lei não obriga ninguém a ser imprudente,
negligente ou imperito. Por esta razão, tal excludente não é compatível com condutas culposas.
• No concurso de pessoas, o estrito cumprimento do dever legal para um dos agentes se
comunica aos demais que concorreram para o fato.
• Elemento subjetivo: o agente deve ter consciência que está agindo acobertado por
excludente.
ATENÇÃO!!!
O policial que mata o criminoso em uma troca de tiros NÃO age em estrito cumprimento do
dever legal. Não é dever de ninguém matar alguém.
Age em LEGÍTIMA DEFESA, própria ou de terceiros.
Não ocorre estrito cumprimento do dever legal na hipótese de policial matar criminoso em
fuga.
De acordo com o STJ, a lei proíbe a autoridade, seus agentes ou quem quer que seja,
desfechar tiros contra pessoas em fuga (REsp 402.419/RO). Se esta fuga, contudo, estiver
acoplada a uma agressão injusta, contudo, poderá a atuação do agente configurar legítima
defesa.
ATENÇÃO!!!
Excesso no estrito cumprimento do dever legal:
Tanto no excesso doloso como no excesso culposo na atuação em estrito cumprimento do
dever legal, temos a RUPTURA DOS LIMITES DO DEVER. Ou seja: sempre que o indivíduo
cumprir o dever fora dos limites impostos pela norma, haverá hipóteses de ruptura dos limites
do dever.
Nessas hipóteses, o agente deixa de estar amparado pelo estrito cumprimento do dever legal
porque ele se excede, ou seja, ele ultrapassa os limites impostos pela norma.
1º -Exclui a licitude da conduta: ou seja, se ele se excedeu, ele deixa de estar em estrito
cumprimento do dever legal, deixando de estar amparado uma causa excludente da ilicitude.
2º -Se ele deixa de agir em estrito cumprimento do dever legal, o excesso acaba permitindo a
legítima defesa da pessoa agredida em seu direito (da pessoa que sofreu o excesso).
Ex.: A atuando em estrito cumprimento do dever legal – é uma conduta lícita, de modo que B
(pessoa que está sofrendo os efeitos desse ato), não pode fazer nada, não pode repelir, pois a
conduta de A é lícita.
Ex. 2: Se A se excede nos limites do estrito cumprimento do dever legal, sua conduta se torna
ilícita, e se sua conduta se torna ilícita, abre a possibilidade para B repelir essa injusta agressão,
repelir esse excesso. Assim, B pode atuar em legítima defesa, pois ele está tendo seu direito
agredido na medida em que a pessoa não está agindo em estrito cumprimento do dever legal
(por causa do excesso)
D. EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO
São as ações do cidadão comum autorizadas pela existência de direito definido em lei e
condicionadas à regularidade do exercício desse direito.
Exercício REGULAR de direito, ou seja, com proporcionalidade e observância de limites. Se
houver excesso o agente deve ser responsabilizado. Ademais, deve, de fato, ser um “direito”,
estando previsto direta ou indiretamente em lei. Não pode ser baseado em costume (parte
minoritária da doutrina entende que seria possível).
Também é necessário que o agente tenha consciência que está agindo acobertado por
excludente.
Exemplos:
⦁ Lesões em práticas esportivas;
⦁ Prisão em flagrante realizada por particular (flagrante facultativo);
⦁ Intervenções médicas ou cirúrgicas (que também podem caracterizar estado de necessidade
a depender da situação, quando a intervenção médica não foi autorizada pelo paciente, por
exemplo);
⦁ Direito de castigo dos pais em relação aos filhos.
DICA: o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito são considerados
DESCRIMINANTES PENAIS EM BRANCO, vez que o conteúdo da norma permissiva (que
impõe o dever ou permite a conduta como direito) precisa ser complementado por outra norma
jurídica. Não está pré-definido no CP quais são os deveres legais ou os direitos que podem
regularmente ser exercidos. Virão de outra fonte normativa.
Destaque - Ofendículos
a) Nomenclatura
Parte da doutrina (MAJORITÁRIA): ofendÍculos = ofensáculos = defesas pré dispostas.
Outra parte da doutrina: diferencia ofendículos e ofensáculos de defesas pré dispostas:
- Defesas mecânicas pré dispostas – estariam ocultas e seriam ignoradas pelo agressor. Seriam
engenhos, armadilhas ocultas, com o intuito de que o engenho funcionasse de forma oculta
sem que o agressor tivesse conhecimento. Nesse sentido, se ela estiver oculta, ela não estaria
abrangida pela causa de justificação.
c) Conceito:
Os ofendículos são aparatos pré-ordenados para defesa do patrimônio. Meio que as pessoas
utilizam para defender principalmente a propriedade e a inviolabilidade domiciliar (ex: cacos de
vidros nos muros, cerca elétrica, pontas de lanças no portão etc).
A. Consentimento Do Ofendido
• Requisitos:
1) Único titular / bem próprio;
2) Agente capaz de consentir;
3) Consentimento moral e que respeita os bons costumes;
4) A doutrina tradicional diz que deve ser expresso: mas não precisa ser formal, pode ter
qualquer forma. A doutrina moderna admite também a tácita;
5) Prévio ou simultâneo à conduta. Não pode ser posterior (caso seja, pode ser causa extintiva
da punibilidade, como por exemplo a renúncia ou o perdão nas ações privadas);
6) Bem disponível;
7) O agente que comete o fato típico deve ter ciência desse consentimento.
B. ABORTO NECESSÁRIO OU TERAPÊUTICO (ART. 128, I):
Conforme previsão do art. 23, mesmo que esteja inicialmente acobertado pelas justificantes, o
agente responderá pelo excesso doloso ou culposo. De acordo com a doutrina, esse excesso
poderá ser:
✓ Acidental: não decorre de um fato realizado pelo sujeito, e sim de caso fortuito ou força
maior, de modo que do ponto de vista penal, é irrelevante. O código penal diz que o sujeito só
responderá se agir com excesso doloso ou culposo, não abarcando acidental e nem podendo o
agente responder por este, vez que não há dolo ou culpa.
✓ Exculpante: decorre de uma perturbação do estado anímico do agente, que lhe retira a
capacidade de atuar racionalmente, geralmente pelo medo ou susto. Como não foi tratado pelo
código penal, a doutrina diverge sobre sua consequência. Parte entende que o agente poderá
responder se agiu culposamente, enquanto outra que, embora não a conduta não esteja
amparada pela excludente de ilicitude, é possível que sua culpabilidade seja afastada por
inexigibilidade de conduta diversa, tendo em vista que o indivíduo está fora de si.
2. CULPABILIDADE
Conceito: É o terceiro substrato do conceito analítico de crime e consiste no juízo de
reprovação indispensável para configurar infração penal. Segundo Pacelli, é “a valoração
negativa dos princípios orientadores pelos quais o autor se deixou levar na formação de sua
vontade e por isso o fato cometido por ele deve ser reprovado. Assim, culpabilidade é a
reprovação da formação da vontade”.
Culpabilidade material: é o juízo realizado no caso concreto sobre um agente culpável que
cometeu um fato típico e ilícito, destinado à aplicação pelo magistrado da pena concreta. E a
culpabilidade é do autor ou é do fato? Prevalece, na doutrina, que o direito penal brasileiro
adotou a culpabilidade do fato. O objeto da censura, de fato, é o agente, mas ele é censurado
pelo que ele fez, e não pelo que ele é. Assim, a culpabilidade é do fato.
• Imputabilidade;
• Exigibilidade de conduta diversa;
• Potencial consciência da ilicitude.
2.1.1. Imputabilidade
É o conjunto de condições pessoais que conferem ao sujeito ativo a capacidade de discernir e
compreender os seus atos. A inimputabilidade exclui a capacidade de entendimento e
autodeterminação do agente, enquanto que a semi-imputabilidade a reduz.
Momento para análise: ação ou omissão. Teoria da atividade.
a) Sistemas de imputabilidade:
Atenção: jamais cumprirá as duas. Antes, isso até era possível, vez que o sistema adotado era o
Duplo Binário, em que o semi-imputável cumpria inicialmente a pena diminuída e depois medida
de segurança. Hoje, o Código adota o sistema VICARIANTE/UNITÁRIO, em que o agente deve
cumprir ou uma, ou outra.
b) Excludentes da imputabilidade:
• Em razão da idade do agente (art. 27, CP e 228 da CP): Sistema biológico. Se é menor de 18
anos é inimputável e pronto. Presunção absoluta de inimputabilidade. Não podem ser
submetidos à justiça penal. Responderão pela prática de ato infracional análogo a crime perante
o Juizado da Infância e Juventude.
Súmula 74 STJ – Para efeitos penais, o reconhecimento da menoridade do réu requer prova
por documento hábil. (Qualquer documento hábil).
Emancipação civil não altera em nada a inimputabilidade penal do menor de 18 anos.
Súmula 711 do STF: a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência (ou
seja, se o agente iniciou a conduta menor, mas já era maior quando cessou, será considerado
imputável, de modo que lhe será aplicada a justiça penal comum).
ORIGEM GRAU
GRAU
Acidental:
- Caso fortuito: agente ignora o efeito.
- Completa: Exclui a imputabilidade.
- Força maior: agente é obrigado a
- Incompleta: Diminui pena.
ingerir substância de que conhece o
efeito.
Não acidental:
- Voluntária: Agente quer se - Completa
embriagar (mas não quer cometer o - Incompleta
crime). NENHUMA exclui a imputabilidade!
- Culposa: negligente (não queria nem
se embriagar e nem cometer o crime)
TEORIA DA ACTIO LIBERA IN CAUSA (teoria da ação livre da causa): Serve para justificar a
punição de ato transitório revestido de inconsciência, decorrente de ato antecedente que foi
livre na vontade, transferindo-se para este momento anterior a constatação da imputabilidade.
A teoria busca analisar a vontade no momento em que o agente ainda estava sóbrio, vez que
“bebeu porque quis”. E até aqui tudo bem.
OBS.: Ainda que sejam de elevada intensidade, a emoção e a paixão não excluem a
imputabilidade penal.
O que vai excluir a potencial consciência da ilicitude e, por ela, a culpabilidade, é o erro de
proibição, se inevitável. Quando for evitável, haverá diminuição de pena.
Obs.: o Código Penal não faz a diferenciação sobre o tipo de coação, sendo que temos dois:
moral e física. E é a coação MORAL que exclui a exigibilidade de conduta diversa (e
consequentemente a culpabilidade), vez que, em havendo coação física, não haverá conduta
por falta de vontade, de modo que o fato sequer será típico.
• Requisitos:
o Ameaça do coator, ou seja, promessa de mal grave e iminente que o coagido não é obrigado
for um desconhecido, em que pese não incida a coação moral irresistível, pode ser reconhecida
causa supralegal de inexigibilidade de conduta diversa);
• Consequência: Afasta a culpabilidade do coagido, mas não gera impunidade, vez que será
punível o autor da coação por autoria mediata do crime. Não há concurso de pessoas, vez que
falta liame subjetivo.
• Se a coação for resistível, o coagido será culpável e responderá com o coator em concurso
de agentes e apenas terá direito a uma atenuante genérica, sendo que para o coator incidirá
agravante genérica (arts. 62 e 65 do CP).
• Temor reverencial: receio de decepcionar pessoa a quem se deve elevado respeito. Não se
equipara à coação moral. Não há ameaça, apenas receio.
b) Obediência hierárquica: Art. 22, CP.
• Requisitos:
o Que a ordem não seja manifestamente ilegal: ordem ilegal, mas com aparência
de legalidade. Caso seja manifestamente ilegal, responderão em concurso de
pessoas e o subalterno terá direito a uma atenuante genérica e para o superior
incidirá agravante genérica (arts. 62 e 65 do CP). Por outro lado, se a ordem for
LEGAL, nenhum dos dois cometerá crime, mas agirão em estrito cumprimento do
dever legal;
o Oriunda de superior hierárquico;
o Autoridade competente;
o Decorrente de relação de Direito Público: a posição de hierarquia que autoriza
o reconhecimento da excludente da culpabilidade somente existe no Direito
Público;
o Presença de pelo menos três pessoas: superior hierárquico, subalterno e a
vítima do crime;
o Cumprimento estrito da ordem: o executor não pode ultrapassar, por conta
própria, os limites da ordem que lhe foi endereçada, sob pena de afastamento da
excludente.
Exemplo dado por Cleber Masson: “Imagine a hipótese de um Delegado de Polícia, com larga
experiência em sua atividade, que determina a um Investigador de Polícia de sua equipe, recém
ingressado na instituição, a prisão em flagrante de um desafeto, autor de um crime de roubo
ocorrido há mais de uma semana, em relação ao qual não houve perseguição, fato
desconhecido pelo subordinado. O subalterno, no caso, seja em face do restrito conhecimento
do caso concreto, seja em respeito ao superior hierárquico, em quem muito confia, não pode
ser responsabilizado, devendo o crime ser atribuído exclusivamente ao autor da ordem.
Ainda que não seja situação de coação moral irresistível ou obediência hierárquica, admite-se
no Brasil, tanto em sede doutrinária como jurisprudencial, o reconhecimento de CAUSAS
SUPRALEGAIS EXCLUDENTES DA CULPABILIDADE, sempre baseadas na INEXIGIBILIDADE
DE CONDUTA DIVERSA quando ficar demonstrado que, em determinada situação, não era
razoável exigir do agente que se portasse de outra maneira.
• Conflito de deveres: Tem como fundamento a escolha do mal menor. Ex.: empresário que,
visando a manter o funcionamento da empresa, deixa de recolher as contribuições
previdenciárias em virtude da precária situação financeira. Ressalta-se que, nesse caso,
somente haverá a exclusão da culpabilidade se preenchidos dois requisitos:
3. TEORIA DO ERRO
Fato típico – consciência enquanto elemento cognitivo do dolo (lembrando que o dolo é
formado pelo elemento cognitivo saber e elemento volitivo querer) – incide no erro de tipo.
Culpabilidade – exige a potencial consciência da ilicitude – incide no erro de proibição.
• ESSENCIAL: Trata-se de falsa percepção da realidade que recai sobre dados principais do
tipo, ou seja, sobre elemento fático ou normativo que corresponda a elementar do tipo.
Ex: o agente, em uma mesa de bar, subtrai o aparelho celular de outra pessoa acreditando ser
o seu, por serem idênticos. Aqui, o agente incorreu em erro sobre o elemento “coisa alheia”,
que é uma elementar do tipo penal.
Note que o erro de tipo essencial SEMPRE EXCLUIRÁ O DOLO. Isso porque falta ao agente o
elemento cognitivo do dolo, qual seja, o “SABER”. No erro de tipo essencial, não há esse saber,
essa consciência por parte do agente.
Obs.1: É possível haver erro de tipo em relação aos crimes omissivos impróprios, em que o
dever de agir é um elemento constitutivo do tipo penal. Portanto, quando a falsa percepção da
realidade recair sobre a existência do dever de agir para evitar o resultado, haverá erro de tipo.
Ex.: o salva vidas avista banhista se afogando em águas rasas de uma praia e acredita que este
está brincando.
Obs2.: Delito putativo por erro de tipo: Ocorre quando o delito é imaginário ou erroneamente
suposto, tendo em vista que só existe na cabeça do agente. No delito putativo por erro de tipo,
a pessoa sabe que a conduta é criminosa e quer praticar o crime, mas, por erro nas
circunstâncias fáticas, pratica um fato penalmente irrelevante. Ex. Jovem acredita
verdadeiramente que está grávida pois sua menstruação atrasou e, por ser uma gravidez
indesejada, decide comprar remédios abortivos para praticar o autoaborto (art. 124, CP). Ocorre
que, posteriormente, descobre que não havia gravidez alguma. Nesse caso, estamos diante de
um delito putativo por erro de tipo.
Erro na execução Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o
agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde
como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art. 20
deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia ofender,
aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
Ao contrário do erro anterior, aqui, o agente representa corretamente a vítima, mas atinge
pessoa diversa da pretendida por ACIDENTE ou ERRO no uso dos meios de execução.
Normalmente, ocorre por erro de pontaria na hora de atirar.
NÃO exclui dolo e culpa
NÃO isenta o agente de pena;
Adota-se a teoria da equivalência da equivalência dos bens jurídicos (responde com base
na vítima virtual)
Pode possuir:
(3) Resultado único / unidade simples: atinge só a pessoa diversa: agente
responde pelas qualidades da vítima pretendida (vítima virtual).
(4) Resultado duplo / unidade complexa: o agente atinge a pessoa desejada e
também pessoa diversa por culpa no segundo: responde pelos dois crimes em
concurso formal. Ex.: Quer matar A, mas, por erro de execução, além de matar A, atinge
também B, causando-lhe lesões corporais. Nesse caso, responderá pelo homicídio de A em
concurso com lesão corporal culposa de B.
O agente, por acidente ou erro na execução, provoca lesão em bem jurídico diverso do
pretendido.
NÃO exclui dolo e culpa
NÃO isenta o agente de pena;
Pode possuir:
(1) Resultado único / unidade simples: Responde pelo crime efetivamente ocorrido a título de
culpa, se houver previsão legal da modalidade culposa. Segundo Zaffaroni, só vai responder
pela modalidade culposa do que efetivamente ocorreu se for menos grave que o resultado.
Caso contrário, responderá por tentativa do outro. Ex: queria matar alguém e, ao jogar uma
pedra, acertou uma janela. Nesse caso, não vai responder pelo crime de dano (que, inclusive,
sequer comporta a modalidade culposa), mas por tentativa de homicídio. (
2) Resultado duplo / unidade complexa: o agente atinge lesiona os dois bens jurídicos:
responde pelos dois crimes em concurso formal.
Ex: A jogou B da ponte, pensando que este morreria afogado, mas morreu de traumatismo
craniano por bater a cabeça em uma pedra.
3.2. Erro de Proibição
b) Evitável x Inevitável
Inevitável: O erro era imprevisível. Analisa-se o perfil subjetivo do agente no caso concreto
(diferente do erro de tipo que é “homem médio”. Isenta o agente de pena, desaparecendo
com a potencial consciência da ilicitude e, consequentemente, a culpabilidade.
Evitável: O erro do agente decorre de culpa, pois lhe era previsível. NÃO isenta de pena,
mas pode servir como causa de diminuição. Permanece a potencial consciência de ilicitude.
O quantum da diminuição é medido pelo grau de reprovabilidade.
ATENÇÃO: DESCRIMINANTES PUTATIVAS (erro de proibição indireto é uma espécie das
descriminantes putativas).
Descriminantes putativas
(1) Erro relativo aos pressupostos de fato / à situação fática de uma causa de exclusão de
ilicitude:
Aqui, o agente avalia mal a situação fática e acredita estar diante de um acontecimento
que, se existisse, admitiria uma causa excludente de ilicitude (tornando sua ação legítima).
Ex: homem chega em casa encontra outro homem mantendo conjunção carnal com sua
esposa, a qual confiava muito e que começou a gritar na hora que o viu. Acreditando que
fosse um estuprador, o marido atira e mata o outro – em uma situação de legítima defesa
que não existia, que só existiu na cabeça dele, pois ele interpretou erroneamente a situação
fática.
(2) Erro relativo à existência de causa de exclusão de ilicitude: o agente acredita que
existe uma excludente de ilicitude quando, na realidade, não existe.
Aqui, ao contrário do erro quanto aos pressupostos fáticos, o indivíduo não avalia mal a
realidade, mas acredita estar diante de uma situação que autorizaria a excludente de
ilicitude.
Ex.: indivíduo que acha que pode matar a esposa que o traiu alegando a legítima defesa da
honra (o que não existe no ordenamento jurídico pátrio).
(3) Erro relativo aos limites de uma causa de exclusão da ilicitude.
Ex.: indivíduo acredita que pode atirar 10 vezes em legítima defesa, quando apenas 1 tiro
era, na situação, suficiente para repelir a injusta agressão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- Direito Penal – Parte Geral – Volume 1 – 13ª edição – Cleber Masson;
- Sinopse nº1 – Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Alexandre Salim e Marcelo André de
Azevedo;
- Manual de Direito Penal – Parte geral – 7ª edição – Rogério Sanches Cunha.
- Site Dizer o Direito – www.dizerodireito.com.br
QUESTÕES
Mário, após ingerir bebida alcoólica em uma festa, agrediu um casal de namorados, o que
resultou na morte do rapaz, devido à gravidade das lesões. A moça sofreu lesões leves. A partir
dessa situação hipotética, julgue o item a seguir. Porque estava embriagado, Mário deve ser
considerado inimputável.
COMENTÁRIOS
Pedro, com vinte e dois anos de idade, e Paulo, com vinte anos de idade, foram denunciados
pela prática de furto contra Ana. A defesa de Pedro alegou inimputabilidade. Paulo confessou o
crime, tendo afirmado que escolhera a vítima porque, além de idosa, ela era sua tia.
Com relação a essa situação hipotética, julgue o item subsecutivo, a respeito de imputabilidade
penal, crimes contra o patrimônio, punibilidade e causas de extinção e aplicação de pena.
Pedro será condenado se comprovado que, no momento do furto, por caso fortuito, estava
completamente embriagado
(COMENTÁRIOS
CP. Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
I - a emoção ou a paixão; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Embriaguez
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito
ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez,
proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a
plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
ERRADO
Pedro, com vinte e dois anos de idade, e Paulo, com vinte anos de idade, foram denunciados
pela prática de furto contra Ana. A defesa de Pedro alegou inimputabilidade. Paulo confessou o
crime, tendo afirmado que escolhera a vítima porque, além de idosa, ela era sua tia.
Com relação a essa situação hipotética, julgue o item subsecutivo, a respeito de imputabilidade
penal, crimes contra o patrimônio, punibilidade e causas de extinção e aplicação de pena.
Se, em virtude de perturbação de saúde mental, Pedro não for inteiramente capaz de entender
o caráter ilícito do seu ato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, a pena
imposta a ele poderá ser reduzida.
COMENTÁRIOS
CP. Inimputáveis
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Redução de pena Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental
incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
CERTO