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DIREITO PENAL I

DENIS FERNANDO RADUN


Antijuridicidade

Crime é um fato típico, antijurídico e culpável.


TEORIA DO DELITO - Teoria finalista [modelo
analítico]
Tipicidade Antijuridicidade Culpabilidade

Necessário haver: Ausência das excludentes Ausência das excludentes


de ilicitude: de culpabilidade:
I - Conduta dolosa
I - estado de I - imputabilidade;
ou culposa;
necessidade; II - consciência potencial
II - Resultado II - legítima defesa;
naturalístico; da ilicitude;
III - estrito III - exigibilidade e
III - Nexo causal; cumprimento de dever possibilidade de agir em
IV - Tipicidade. legal; ou conformidade com o
IV - exercício regular direito
de direito.
ANTIJURIDICIDADE
ANTIJURIDICIDADE = ILICITUDE

É a contrariedade de uma conduta com o direito, causando efetiva


lesão a um bem jurídico protegido.

Toda conduta típica é presumidamente antijurídica.


ANTIJURIDICIDADE
A presunção precisa, portanto, ser afastada, excluída.

A excludente de antijuridicidade torna lícito o que é ilícito.

A conduta realizada sob o manto de uma das causas excludentes de


antijuridicidade deixa de ser criminosa.
ANTIJURIDICIDADE
CP Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Na parte especial do CP também constam excludentes de antijuridicidade


“não se pune…”
ANTIJURIDICIDADE
Análise objetiva versus análise subjetiva do exercício da excludente

Teoria finalista

Verificação no excesso
ESTADO DE NECESSIDADE
Conceito: É o sacrifício de um interesse juridicamente protegido, para salvar de perigo atual e
inevitável o direito do próprio agente ou de terceiro, desde que outra conduta, nas
circunstâncias concretas, não fosse razoavelmente exigível.

Estado de necessidade

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou
por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era
razoável exigir-se.
ESTADO DE NECESSIDADE
Quanto à origem do perigo
a) Estado de necessidade defensivo: ocorre quando o agente pratica o ato necessário contra
a coisa ou animal do qual advém o perigo para o bem jurídico. Ex.: A, atacado por um
cão bravo, vê-se obrigado a matar o animal.

b) Estado de necessidade agressivo: ocorre quando o agente se volta contra pessoa ou coisa
diversa daquela da qual provém o perigo para o bem jurídico. Ex.: para prestar socorro a
alguém, o agente toma o veículo alheio, sem autorização do proprietário.
ESTADO DE NECESSIDADE
Quanto ao bem sacrificado:

a) Estado de necessidade justificante: trata-se do sacrifício de um bem de menor valor para


salvar outro de maior valor ou o sacrifício de bem de igual valor ao preservado. Ex.: o
agente mata um animal agressivo, que pertence a terceiro, para salvar alguém sujeito ao
seu ataque (patrimônio x integridade física)
b) Estado de necessidade exculpante: trata-se do sacrifício de um bem de maior valor para
salvar outro de menor valor, não lhe sendo possível exigir, nas circunstâncias, outro
comportamento. Trata-se, pois, da aplicação da teoria da inexigibilidade de conduta
diversa, razão pela qual, uma vez reconhecida, não se exclui a ilicitude, e sim a
culpabilidade.
Art. 24 [...] § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado,
a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.
ESTADO DE NECESSIDADE
Requisitos
a) Existência de perigo atual: Atual é o que está acontecendo, portanto uma situação presente. A
aceitação do perigo iminente (futuro imediato) depende do caso concreto.
b) Involuntariedade na geração do perigo: É certo que a pessoa que deu origem ao perigo não
pode invocar a excludente para sua própria proteção. Discussão sobre a geração do perigo
culposo.
c) Inevitabilidade do perigo: Podendo afastar-se do perigo ou podendo evitar a lesão, deve o
autor do fato necessário fazê-lo. No campo do estado de necessidade, impõe-se a fuga,
sendo ela possível. O estado de necessidade tem o caráter subsidiário.
d) Proteção a direito próprio ou de terceiro
e) Proporcionalidade do sacrifício do bem ameaçado (estado de necessidade justificante)
ESTADO DE NECESSIDADE
Estado de necessidade

Art. 24 - [...]

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.

Todavia, não se pode cobrar heroísmo de quem tem o dever legal de enfrentar o perigo
(policiais, bombeiros). Em casos extremos ela pode ser alegada.
LEGÍTIMA DEFESA
Conceito: É a defesa necessária empreendida contra agressão injusta, praticada por pessoa,
atual ou iminente, contra direito próprio ou de terceiro , usando, para tanto, moderadamente,
os meios necessários.

Legítima defesa

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou
iminente, a direito seu ou de outrem. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (Vide ADPF 779)

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de
segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019) (Vide ADPF 779)
LEGÍTIMA DEFESA
Elementos (objetivos) da legítima defesa [O elemento subjetivo é a vontade de se defender]

a) relativos à agressão:
a.1) injustiça [não precisa ser vítima de crime];
a.2) atualidade ou iminência [presente ou futuro próximo];
a.3) contra direito próprio ou de terceiro [licitude e solidariedade];

b) relativos à repulsa:
b.1) utilização de meios necessários [não exige fuga];
b.2) moderação [menor carga ofensiva possível].
LEGÍTIMA DEFESA
I - Legítima defesa putativa [inexistente, pode excluir a culpabilidade pela inexigibilidade de
conduta diversa]

II - Legítima defesa da honra [ADPF 779/DF, 2021]


III - Ofendículos [legítima defesa preordenada, necessária e moderada]
ESTRITO CUMPRIMENTO DE DEVER LEGAL
Conceito: Trata-se da ação praticada em cumprimento de um dever imposto por lei, penal ou
extrapenal, mesmo que cause lesão a bem jurídico de terceiro. Pode-se vislumbrar, em diversos
pontos do ordenamento pátrio, a existência de deveres atribuídos a certos agentes que, em tese,
podem configurar fatos típicos.

Ex.: Execução de pena de morte; invasão de domicílio; arrombamento; apreensão de documento etc
EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO
Conceito: É o desempenho de uma atividade ou a prática de uma conduta autorizada
por lei, que torna lícito um fato típico. Se alguém exercita um direito, previsto e
autorizado de algum modo pelo ordenamento jurídico, não pode ser punido, como se
praticasse um delito.

Ex.: Aborto nas hipóteses legais; a prestação de auxílio a agente de crime, feita por
ascendente, descendente, cônjuge ou irmão; utilização de cadáver para fins científicos etc
EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO
Situações controversas

I - Estupro entre cônjuges;


II - Trotes acadêmicos;
III - Castigo de professores e pais.
CONSENTIMENTO DO OFENDIDO
Conceito: Trata-se de uma causa supralegal e limitada de exclusão da antijuridicidade,
permitindo que o titular de um bem ou interesse protegido, considerado disponível,
concorde, livremente, com a sua perda.
Ex.: MMA, BDSM.

Ponto controverso:
Ortotanásia.
CONSENTIMENTO DO OFENDIDO
Requisitos:

a) a concordância do ofendido.
b) o consentimento deve ser emitido de maneira explícita ou implícita.
c) deve existir capacidade para consentir.
d) o bem ou interesse precisa ser considerado disponível.
e) o consentimento deve ser dado antes ou durante a prática da conduta do agente.
f) o consentimento é revogável a qualquer tempo.
g) deve haver conhecimento do agente acerca do consentimento do ofendido.
EXCESSO PUNÍVEL
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
[...]
Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.

a) excesso doloso: ocorre quando o agente consciente e propositadamente causa ao


agressor, ao se defender, maior lesão do que seria necessário para repelir o ataque.

b) excesso culposo: é o exagero decorrente da falta do dever de cuidado objetivo ao


repelir a agressão. Trata-se do erro de cálculo, empregando maior violência do que era
necessário para garantir a defesa.
Fontes

NUCCI, Guilherme de Souza. Capítulo XVI. Ilicitude (Antijurididade). In: NUCCI, Guilherme de Souza. Manual
de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2022.

PLANALTO. Código Penal. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm
www.stf.jus.br

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