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Medicina Legal
Capítulos 1 ao 11
CARREIRAS POLICIAIS
Medicina Legal
Capítulo 1
Olá, aluno!
Bem-vindo ao estudo para os concursos de Carreiras Policiais. Preparamos todo esse material
para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e especificidade,
Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins de
entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,
pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!
PDF Ad Verum foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar especificamente os
assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada capítulo você tem a
E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para
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Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que um objetivo para Ad Verum, trata-se
de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para o estudo da disciplina.
Bons estudos
1
Abordaremos os assuntos da disciplina de Medicina Legal da seguinte forma:
CAPÍTULOS
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SUMÁRIO
1.3.1 Atuação................................................................................................................................................................... 12
3
1.5.3 Atestados. .............................................................................................................................................................. 32
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 49
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 50
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MEDICINA LEGAL
Capítulo 1
ou diligência médico-legal.
(perito), e que se materializa através da confecção de laudos, constituídos de uma peça escrita,
tendo por base o material examinado.
Não é por outra razão que a maioria da doutrina afirma que a principal finalidade de uma
perícia é a perpetuação da materialidade e dos vestígios deixados pela prática de uma
infração penal, sendo o exemplo mais claro dessa afirmação o exame de corpo de delito,
como uma das mais importantes perícias disciplinadas no CPP.
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Sabe-se que o tempo, na grande maioria dos casos, faz com que desapareçam os vestígios
deixados pela prática da infração penal, o que inviabilizaria a análise desses elementos em
momento posterior, quando ao tempo da instrução criminal após a instauração do processo
O Código de Processo Penal faz referência, em seu art. 158, quanto à necessidade do
exame pericial nos crimes que deixam vestígios. Sobre o tema, é relevante o conceito e a
distinção entre duas categorias de delitos apontadas pela doutrina penalista:
Crimes não transeuntes (delicta factis permanentis): são os crimes que deixam
vestígios, cuja prática da infração deixa rastros, pistas ou indícios perceptíveis pelos
sentidos, que tem como seu exemplo mais claro o homicídio (art. 121 do CP). No
caso, podem ser possíveis vestígios deixados pela infração o cadáver da vítima,
manchas se sangue, eventual arma apreendida no local do crime, vestes do suspeito,
desaparecem após breve decurso de tempo. Como exemplos, podem ser apontados
os crimes de injúria verbal (art. 140 do CP), desacato (art. 331 do CP), omissão de
a) Pessoas;
b) Cadáveres;
c) Objetos e instrumentos relacionados com a infração penal;
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Quando realizadas em pessoas, as perícias podem ter como finalidade a determinação da
identidade, idade, raça, sexo, altura; diagnosticar gravidez, parto e puerpério; lesão corporal,
sociopatias; estupro e doenças venéreas; determinar exclusão da paternidade; doença e
Nos cadáveres possui como objetivo diagnosticar a realidade, a causa jurídica e o tempo
da morte; a identificação do morto; diferencias as lesões intra vitam e post mortem; realizar
exames toxicológicos nas vísceras do morto; proceder à exumação e extrair projéteis alojados
no corpo.
Nos objetos e instrumentos, pode ter a finalidade de busca por pelos, levantamento de
impressões digitais, exames de armas e projéteis (balística), caracterização dos agentes
O art. 6º, I do CPP trata das diligências a serem efetivadas pelo Delegado de Polícia logo
Art. 6º. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial
deverá:
A área em que haja ocorrido o delito com violência a pessoa ou coisa ou daqueles que
deixam ou possam deixar vestígios no lugar da consumação, bem como no sítio de
preparo dos meios materiais para o fato delituoso ou de ocultação do produto deste. Na
expressão local do crime compreendem-se também as cercanias do lugar em que se
registrou o fato. Para efeito de investigações, equiparam-se também a local de crime os
lugares em que se verificam mortes suspeitas, suicídios, desastres e incêndios.
1
GOMES, Vital Amintas. Manual do Delegado – Teoria e Prática, 7ª ed., atual e ampl./Rodolfo Queiroz Laterza.
Rio de Janeiro: Forense, 2012, p.100.
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Logo, por exemplo, para a constatação da qualificadora da escalada no delito de furto (art.
155, § 4º, II do CP), importante se faz a preservação do local para garantir a idoneidade da
perícia, preservando assim sinais em muros ou paredes, marcas de escada, etc.
Também é nesse sentido a orientação trazida pela norma constante do art. 169 do CPP:
Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a
chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou
esquemas elucidativos.
Portanto, somente após a liberação dos peritos é que os objetos encontrados no local da
prática da infração serão apreendidos, podendo haver alteração na cena do crime.
O art. 1º da Lei 5.970/73 excepcionou essa regra, excluindo de sua aplicação os casos de
acidente de trânsito, dispondo que a autoridade ou agente que primeiro comparecer ao local
do acidente poderá providenciar a imediata remoção das pessoas e/ou veículos envolvidos
no acidente, alterando assim a cena do fato, nos casos em que haja prejuízo para o tráfego na
via pública:
Parágrafo único. Para autorizar a remoção, a autoridade ou agente policia lavrará boletim
da ocorrência, nele consignando o fato, as testemunhas que o presenciaram e todas as
demais circunstâncias necessárias ao esclarecimento da verdade.
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Crimes com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa.
Nesses crimes, além de descrever os vestígios, os peritos indicarão que instrumentos, por
que meio e em que época presumem ter sido praticado o fato.
da conduta criminosa nas qualificadoras do crime de furto qualificado, previsto no art. 155,§
4º, I e II do CP.
indiciamento no inquérito policial até a denúncia oferecida pelo órgão acusador e a posterior
sentença do magistrado.
Avaliação pericial.
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É importante destacar que o delegado de polícia deve requisitar a avaliação pericial mesmo
Dessa forma, o laudo de avaliação do prejuízo causado pela prática da infração servirá
para:
admitem (art. 155, § 2º; e art. 171, § 1º, IV, ambos do CP);
Para a fixação do patamar mínimo indenizatório pelos danos causados pela infração,
por parte do magistrado quando da prolação da sentença condenatória (art. 387, IV do
CPP);
Exame grafotécnico.
O exame grafotécnico ou caligráfico é uma espécie de perícia técnica que tem por objetivo
o reconhecimento de escritos, através da comparação de letra constante em documentos ou
papéis relacionados com a prática de determinada infração, que são atribuídos à lavra ou
autoria de determinada pessoa.
II. Para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa
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III. A autoridade, quando necessário, requisitará para o exame os documentos que
exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o que lhe for ditado. Se
estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta diligência poderá ser realizada
mediante a expedição de carta precatória, em que se consignarão as palavras que
deve escrever;
Instrumentos do crime.
eficiência (art. 175 do CPP). Assim, em caso de homicídio no qual se utilizou de uma faca
para a execução, o laudo deverá descrever a natureza do instrumento, bem como sua
eficiência para a causalidade do dano à integridade física ou vida da pessoa que fora vítima
do delito.
1.3 Peritos.
e que, portanto, irá de certa forma colaborar com a prestação da atividade jurisdicional,
ajudando o juiz no conhecimento da causa. A normatização dos peritos encontra-se expressa
Portanto, sua atuação deve sempre se pautar pelas disposições legais determinadas pelo
CPP, estando os peritos, oficiais ou não, sujeitos à disciplina judiciária, conforme determina
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Há uma distinção que deve ser feita entre perito criminal e perito legista. O legista é
aquele que atua na realização de perícia médica, feita em seres humanos vivos ou mortos,
inteiros ou em partes. Assim, sempre que a perícia envolver um assunto médico, quem atuará
na realização do exame e elaboração do respectivo laudo será o perito legista. Podemos citar
como exemplos os laudos cadavéricos de autópsias, análise de lesões corporais em pessoas
vivas para caracterizar o grau da lesão, exame sexológico para análise de vestígios deixadas
O perito criminal, por sua vez, tem sua área de atuação determinada por um critério de
exclusão ou subsidiário, ou seja, atua em quaisquer perícias que não envolvam assuntos
médicos, tais como análise e coleta de provas no local do crime, realização de exame de
balística para o estudo de projéteis encontrados na cena do crime ou mesmo no corpo da
outras perícias.
1.3.1 Atuação.
Embora de grande importância na função jurisdicional, é certo que a atuação dos peritos é
limitada, pois que eles não julgam, não defendem nem acusam.
A eles incumbe apenas a análise do estado das coisas no local de ocorrência da infração, o
exame das armas ou instrumentos encontrados no local do crime e que com ele guardem
relação, das lesões (se houver), realização de exame cadavérico, sintomas apresentados em
pessoas vivas e a respectiva sequela natural, prestando minucioso relatório através de laudo,
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esclarecendo assim os fatos relevantes para as autoridades oficiais que atuam na apuração do
crime.
1.3.2 Nomeação.
A escolha do perito cabe ao juiz da causa, seja no âmbito cível ou criminal, que deverá
nomeá-lo dentre os experts oficiais, conforme consta do art. 276 do Código de Processo
Penal.
A Lei 12.030/09, que estabelece as normas gerais para perícias oficiais de natureza
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•Curso superior em qualquer área do
Peritos
conhecimento, como química,
criminais biologia, física, etc.
Peritos médicos-
• Formação superior em medicina.
legistas
Peritos odonto-
•Formação superior em odontologia.
legistas:
Pode ocorrer, no caso concreto, a hipótese de nomeação, pelo juiz, de peritos não oficiais
O art. 159, § 1º do CPP determina que, nas comarcas em que não haja peritos oficiais, é
permitido à autoridade judiciária designar duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior.
§ 1º. Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as
que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.
Essa é, portanto, a única exceção trazida pela lei que permite a atuação de peritos não
oficiais em demandas judiciais nas quais se faça necessária a realização de exame pericial. O
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Os peritos não oficiais devem prestar compromisso antes de desempenharem o encargo
que lhes foi atribuído (art. 159, § 2º do CPP), diferentemente dos peritos oficiais, que não
necessitam de juramentação para cada perícia que realizarem. Por serem vinculados a órgãos
oficiais do Estado, há presunção de prestação de compromisso, pois que o fazem quando
Em resumo, a nomeação dos peritos pode ser ilustrada a partir do seguinte esquema:
através de ofício para o IML, e lá o diretor responsável pela instituição é quem indicará o
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perito que atuará no caso, não podendo as partes do processo influenciarem na nomeação do
CPP.
O que poderá acontecer é as partes indiquem seus assistentes técnicos, que são os peritos
de confiança das partes, que irão auxiliar o perito oficial, não o substituindo.
O perito, quando nomeado pelo juiz para a realização da perícia, é obrigado a aceitar o
encargo, seja ele oficial ou não. Só é possível ao perito recusar o encargo judicial caso
apresente um motivo plausível para tanto, que justifique a sua impossibilidade de atuar
naquela demanda, conforme dispõe a parte final do art. 277 do CPP.
Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena
de multa de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível.
Isso porque, estando os peritos sujeitos à disciplina judiciária, a eles se aplicam as mesmas
causas de suspeição e impedimento atinente aos juízes, razão pela qual é perfeitamente
possível que um perito decline de sua atuação em um dado processo, desde que o faça de
maneira fundamentada, apontando as razões que inviabilizem a sua atuação.
Caso se neguem a aceitar o encargo, ou, ainda, deixem de atender à intimação, não
Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada
imediatamente:
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c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos
estabelecidos.
Art. 278. No caso de não comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade
poderá determinar a sua condução.
Dos peritos, oficiais ou não, nomeados pelo juiz se exige uma atuação imparcial, razão pela
qual se aplicam também aos peritos as mesmas hipóteses de suspeição relativas aos
magistrados, conforme o art. 279 do CPP.
Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre suspeição
dos juízes.
A hipótese elencada no inciso I, após a reforma do Código Penal, agora está trabalhada no
art. 47 do CP, no que se refere à interdição temporária para o exercício das funções habituais,
Também são impedidos de oficiarem no processo aqueles que nele já tiverem prestado
depoimento na qualidade de testemunha, por exemplo, sendo defeso ao mesmo tempo o
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Em que pese a equiparação das menoridades civil e penal, estando agora em 18 anos, a
maioria da doutrina ainda entende que continua válida a previsão legal acerca da vedação de
oficiarem como peritos as pessoas menores de 21 anos.
Assim como qualquer outro profissional, os peritos podem eventualmente vir a ser
responsabilizados por ato ilícito cometido durante sua atuação, nos termos da legislação
vigente.
dispositivos trazem as hipóteses em que poderá o perito ser responsabilizado quando sua
atuação gerar dano a alguém, quando restarem configurados os elementos subjetivos do dolo
ou da culpa, bem como traz, no caso do art. 158 do CPC, as respectivas sanções aplicáveis.
No que tange à responsabilidade criminal dos peritos, é certo que sua atuação é passível
de configurar a prática de alguns crimes previstos na legislação penal vigente.
Assim, a depender do caso, poderão os peritos incorrer na prática dos seguintes crimes e
18
• Art. 317 do
Corrupção passiva:
Código Penal.
Crime de falso
• Art. 342 do
testemunho ou
Código Penal.
falsa perícia:
policial. Por isso mesmo é que não há falar em exceção de suspeição em se tratando de
assistentes técnicos.
que seja pertinente à perícia realizada nos autos. Sua atuação na persecução penal consiste
em confrontar o laudo pericial confeccionado pelos peritos atuantes no processo.
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A atuação do assistente técnico depende de admissão pelo juiz da causa, e terá
cabimento após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos!
poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz, ou até mesmo ser inquiridos em
audiência.
Os assistentes técnicos poderão analisar o material probatório que serviu de base para a
perícia, mas somente dentro do ambiente do órgão oficial e na presença dos peritos
oficiais.
1.4.1 Conceitos.
vestígios deixados pelo crime, ou seja, diz respeito à materialidade da infração penal.
b) Exame de corpo de delito: É uma análise feita por pessoas com conhecimentos técnicos
ou científicos sobre os vestígios deixados pela infração penal, seja para fins de comprovação
CPP.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
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Nas infrações que deixam vestígios, assim denominadas como crimes materiais, a
Nessa categoria de infrações penais, o exame de corpo de delito não poderá ser suprido
O exame de corpo de delito pode ser realizado de duas formas, as quais caracterizam o
exame de corpo de delito direto e indireto.
direto com os vestígios que a infração deixou, e após feita a devida análise e
descrição, haverá a elaboração do laudo pericial.
O próprio Código de Processo Penal estabelece no seu art. 6º, I, que logo após a prática
da uma infração penal a autoridade policial terá que isolar o local do crime, para que não se
altere o estado de conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais.
CPP.
Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das
coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com
fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.
juiz.
CPP.
Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente
o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados.
21
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias,
podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos
peritos.
existência da infração através de meios outros que não o contato direto dos
peritos com os vestígios deixados pela infração penal. (ex.: prontuário médico
lavrado após o cometimento de lesões corporais, mas que, no entanto, não se foi
feita a perícia das lesões por órgão oficial do Estado, bem como fotografias da
lesão)2.
A maioria da doutrina entende que também pode servir como meio indireto de
CPP.
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
Tanto o exame de corpo de delito direto quanto o indireto é necessário no processo dos
crimes materiais para efeito de viabilizar uma condenação, pois ao final do processo, caso o
juiz observe a ausência desse meio de prova, absolverá o acusado.
2
VIDE QUESTÃO 5 DESTE MATERIAL.
22
No entanto, em regra geral, ambas as modalidades de exame de corpo de delito não são
indispensáveis para a propositura da ação, pois ele poderá ser realizado no curso do processo
judicial.
Existem, no entanto, algumas hipóteses em que a lei vai exigir o exame de corpo de delito
para que haja a propositura da ação penal, seja direto ou indireto, constituindo o exame de
É o que acontece nos crimes previstos na lei de drogas, onde se exige para a instauração
do processo o laudo de constatação preliminar que ateste a natureza da substância
apreendida como sendo droga, assim como os crimes contra a propriedade imaterial
(violação de direitos autorais).
Lei 11.343/06.
Art. 50 (...)
§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da
materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e
quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa
idônea.
23
1.4.3 Prioridades na realização do exame de corpo de delito.
A Lei nº 13.721/2018 acrescenta um parágrafo único ao art. 158 do CPP afirmando que
deverá ser dada prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de
A regra geral é a de que o exame de corpo de delito será realizado por um perito oficial.
prestou o juramento.
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito
oficial, portador de diploma de curso superior.
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§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas
idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área
específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza
do exame.
É possível que haja a nomeação de mais de um perito oficial para a elaboração do laudo,
nas chamadas perícias complexas, que são aquelas cuja realização demanda da atuação de
mais de uma área do conhecimento humano (ex.: perícia que envolve área médica e de
engenharia)3.
CPP.
Art. 159 (...)
§ 7º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de
conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito
oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico.
Quando o juiz determina a realização de uma perícia, deverá intimar as partes para que,
querendo, elaborem quesitos para que o perito oficial responda, no prazo de 10 dias. É
possível, ainda, que as partes façam a indicação de um assistente técnico, que são os peritos
de confiança das partes, que somente atuarão após a confecção do laudo pelo perito oficial.
3
VIDE QUESTÃO 7 DESTE MATERIAL.
25
Até quando podem nomear assistentes técnicos: Podem ser indicados somente
na fase de processo judicial – nunca durante a fase investigativa, pois o CPP
instauração do processo.
CPP.
Art. 159 (...)
§ 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao
ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de
assistente técnico.
Os assistentes técnicos podem ter contato direto com os vestígios deixados pela infração,
porém somente no local onde os objetos da infração estiverem guardados, e sob a
26
O perito oficial tem necessariamente que ser imparcial no processo, inclusive se aplicando
Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre
suspeição dos juízes.
A perícia que deverá prevalecer é a que mais for compatível com os demais elementos
inseridos no contexto probatório do processo, não sendo necessariamente a que foi
elaborada pelo perito oficial, podendo inclusive o juiz decidir sem ter por base os laudos
periciais – o juiz não se vincula a perícia, pois o sistema é o liberatório e não o vinculatório.
Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no
todo ou em parte.
Uma vez elaborada a perícia, as partes podem querer ouvir o perito para fins de melhor
esclarecimento do laudo e saneamento de eventuais dúvidas quanto a ele. Nesse caso, o
perito será ouvido na audiência uma de instrução de julgamento.
CPP.
Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo
máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do
ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa,
nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos
esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e
coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.
Caso seja necessária a oitiva do perito, as partes deverão fazer uma solicitação prévia nesse
O requerimento prévio deve ser feito no prazo mínimo de 10 dias antes da audiência de
27
§ 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à
perícia: (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)
Isso porque há uma particularidade em relação ao delito de lesão corporal que interfere
ficar impossibilitada para a prática de suas atividades habituais por mais de 30 dias.
atestado pelo laudo complementar de exame de corpo de delito, a conduta será enquadrada
no crime de lesão corporal grave, nos termos do art. 129, § 1º, I do CP. Caso tenham
desaparecido os vestígios da lesão praticada, ou, ainda, embora presentes, não impeçam a
vítima de desempenhar suas atividades rotineiras, o crime será o de lesão corporal leve,
previsto no art. 129, caput, do CP.
Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido
incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da
autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério
Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.
28
(...)
§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1º,
I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias,
contado da data do crime.
A ausência desse laudo ocasiona a desclassificação da lesão corporal grave para a lesão
corporal leve.
Não tendo como se comprovar, passados os 30 dias, a incapacidade para o exercício das
ocupações habituais, poderá haver comprovação por meio de prova testemunhal, como
forma de exame de corpo de delito indireto, conforme determina o art. 168, § 3º do CPP:
29
Tanto o delegado de polícia quanto o juiz podem determinar de ofício a realização do
corpo de delito.
poderá ocorrer ou não, a depender do caso concreto, nas hipóteses em que o primeiro laudo
for incompleto.
constatar uma contradição, omissão ou obscuridade num laudo, o juiz PODERÁ determinar a
realização de um segundo laudo complementar4.
Se uma perícia é realizada por meio de carta precatória, a designação dos peritos é feita
pelo Juízo deprecado, sendo esta a regra geral para a realização desse tipo de perícia.
4
VIDE QUESTÕES 7 E 9 DESTE MATERIAL.
30
No entanto, há exceção no caso de crime de ação penal privada, onde, havendo
concordância das partes, o perito poderá ser nomeado pelo Juízo deprecante.
Art. 177. No exame por precatória, a nomeação dos peritos far-se-á no juízo
deprecado. Havendo, porém, no caso de ação privada, acordo das partes, essa
nomeação poderá ser feita pelo juiz deprecante.
1.5.1 Conceito.
Segundo Genival Veloso de França5, “documento é toda anotação escrita que tem a
5
FRANÇA; Genival Veloso de. Medicina Legal, 9ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014, p. 25.
31
Do conceito já se pode extrair uma importante característica acerca destes documentos, os
1) Notificações;
2) Atestados;
3) Relatórios;
4) Pareceres;
5) Depoimentos orais;
1.5.2 Notificações.
As notificações nada mais são do que comunicações compulsórias feitas por profissionais
da saúde às autoridades competentes acerca de um fato médico, bem como a respeito de
conselhos profissionais, bem como caracteriza a prática do crime previsto no art. 269 do
Código Penal.
1.5.3 Atestados.
escrito, de um fato médico e de suas possíveis consequências. Pode ser emitido por qualquer
médico no exercício regular de sua profissão, a fim de sugerir um estado de doença, para
justificar uma licença ou falta ao serviço.
6
VIDE QUESTÃO 6 DESTE MATERIAL.
32
Tendo em vista essas finalidades, os atestados se subdividem em oficiosos,
administrativos e judiciários.
Os atestados oficiosos são aqueles solicitados pelos pacientes a seus respectivos médicos
a fim de justificar a falta ao trabalho, aulas ou quaisquer outras atividades rotineiras de seu
interesse.
Já os atestados administrativos são os solicitados pelo servidor público para fins de gozo
de licenças, aposentadorias ou abono de faltas a que façam jus.
Os atestados judiciários, por sua vez, são aqueles cujo interesse é pertinente à Justiça,
Também é importante frisar que a veiculação de informações falsas no bojo dos atestados
médicos podem configurar na prática os crimes de falsidade ideológica (art. 299 do CP) ou
falsidade de atestado médico (art. 302 do CP), conforme o caso.
Nesses casos, para que haja a caracterização dos referidos crimes, é necessário que o
profissional da medicina haja com dolo, consistente na vontade livre e consciente de falsear a
atestação, visto que os referidos crimes, em sendo catalogados entre os crimes contra a fé
Embora não se obrigue ao atestado uma forma fixa, é conveniente que dele constem
quatro partes: nome e sobrenome do médico, seus títulos e qualidades; qualificação do
33
paciente; o estado mórbido e demais fatos verificados; e, por fim, as consequências do que
foi apurado.
Aqui vai uma primeira distinção importante e de corriqueira abordagem nas provas de
concurso público! Trata-se da distinção entre auto e laudo. Se o relatório é ditado
diretamente ao escrivão e na presença de testemunhas, denomina-se AUTO; se for redigido
chamado de LAUDO.7
7
VIDE QUESTÕES 1 e 4 DESTE MATERIAL.
34
II) Quesitos: são perguntas cuja finalidade é a caracterização de fatos relevantes
exame.
VII) Respostas aos quesitos: os peritos devem responder a todos os quesitos, ainda
que redundantes, cuja finalidade é a caracterização de fatos relevantes que
deram origem ao processo, e que irão variar conforme o tipo de perícia. Saliente-
35
se que os quesitos formulados pelas partes poderão ser rejeitados quando
impertinentes.
a professor de renome8.
Também pode ser denominada de perícia extrajudicial. O parecer nada mais é então do
que a resposta referente a assunto médico-forense dada aos questionamentos que abordam
Como prova técnica, possui um valor probante relativo a ser analisado pelo juiz, que dera
ao referido documento a importância que entender, levando em consideração todo o conjunto
Salienta-se que o perito dará seu depoimento como parte técnica do corpo judicante,
nunca como testemunha! O depoimento do perito deverá se restringir ao laudo que ofereceu
nos autos, de modo a explicá-lo da forma mais simples e clara possível.
8
VIDE QUESTÃO 10 DESTE MATERIAL.
36
QUADRO SINÓTICO
exame de corpo de
Não oficial: 2 pessoas idôneas, portadoras de
delito – Art. 159 do
diploma de curso superior, que tiverem habilitação
CPP técnica, preferencialmente na área específica
37
relacionada com a natureza do exame. Devem prestar
juramento a cada nova perícia que realizarem.
38
Prioridades na Violência contra idoso ou pessoa com deficiência;
realização do
exame de corpo de
delito
Prazo para É de 10 dias, podendo haver prorrogação a pedido dos peritos.
realização
É facultativo, podendo ser requisitado no caso de dúvidas ou
obscuridades sobre o resultado da perícia.
Obs.: É obrigatório em se tratando do crime de lesão
Laudo
corporal grave (art. 129, § 1º, I do CP c/c art. 168, § 2º
complementar
do CPP).
39
Relatório médico- de natureza específica e caráter permanente que são pertinentes a
40
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
minuciosa de uma perícia médica, denomina-se laudo, quando é escrito pelo próprio perito, e
auto ou depoimento oral, quando é ditado ao escrivão.
( ) Certo.
( ) Errado.
Comentário:
Questão 2
omissões de ordem técnica em uma interpretação pericial dos vestígios deixados por
uma infração penal.
41
B) são partes integrantes de um laudo: preâmbulo, histórico, descrição, relatório, discussão,
D) auto é um tipo de laudo que se caracteriza por ser ditado a um escrivão, tendo por
Comentário:
A alternativa “A” está errada, pois que traz a definição de consulta médico-legal como
espécie de documento médico-legal. De igual modo, a alternativa “B” encontra-se também
errada, pois que o Relatório é o documento médico-legal, não é uma parte integrante do
próprio relatório. Além disso, faltou a menção aos quesitos, pois que não haverá respostas a
estes sem que eles estejam presentes no relatório. Lembrando que o relatório é composto
por 7 partes. A alternativa “C” está correta, sendo o gabarito da questão. O erro da
alternativa “D” está no fato de que Auto e Laudo, são espécies do gênero Relatório. Por fim, o
erro da alternativa “E” se dá pelo fato de que não há subjetivismo no relatório - laudo -
"Visum et repertum”, devendo o perito descrever o que fora analisado de forma minuciosa e
objetiva, de tudo consignando no respectivo laudo.
Questão 3
denominado
a) Atestado.
b) Notificação.
42
c) Prontuário.
d) Relatório.
Comentário:
consideração para a resolução desta questão é anamnese, que revela o registro feito pelo
médico acerca do historio do quadro de saúde do examinado. O gabarito da questão é,
Questão 4
Comentário:
Mais uma vez a questão aborda a diferenciação entre auto e laudo. Fique ligado nessa
distinção, pois é de recorrente incidência nas provas! Conforme chamamos sua atenção na
explanação do conteúdo, considera-se auto quando é ditado diretamente ao escrivão e na
43
Questão 5
a) Complementar.
b) Indireta.
c) Documental.
d) Subsidiária.
e) Direta.
Comentário:
exame de corpo de delito indireto. A perícia nada mais é do que uma análise acerca dos
vestígios da infração, a fim de elucidar sua materialidade e autoria, sendo, portando, o
constatação da existência da infração através de meios outros que não o contato direto dos
peritos com os vestígios deixados pela infração penal. (ex.: prontuário médico lavrado após o
cometimento de lesões corporais, mas que, no entanto, não se foi feita a perícia das lesões
por órgão oficial do Estado, bem como fotografias da lesão). O gabarito da questão é,
Questão 6
sanitária:
a) Atestado.
44
b) Notificação.
c) Parecer.
d) Relatório.
Comentário:
Questão 7
é definida como:
a) procedimento que gera relatórios individualizados que não chegam a um ponto de vista
comum.
ou conflitantes.
Comentário:
Pode ocorrer que sejam realizadas perícias mediante a atuação de mais de um perito, mais
especificamente no caso das chamadas perícias complexas, que são aquelas que envolvem
mais de um ramo do conhecimento. Ao atuarem na realização dos exames, caso os peritos
não concordem estaremos diante de uma perícia contraditória, hipótese em que cada um
45
elaborará individualmente o seu laudo pericial, nos termos do artigo 180 do Código de
Processo Penal, não ficando o juiz vinculado a nenhum deles, podendo aceitá-los, no todo ou
em parte, rejeitá-los, se for o caso, determinando a realização de nova perícia, decidindo de
acordo com sua convicção. Lembre-se que no CPP vigora o princípio do livre convencimento
motivado, no que tange ao sistema de apreciação da prova, sendo assim um sistema
Questão 8
(TJ-PR - 2013 – MÉDICO) Assinale a alternativa que apresenta somente itens obrigatórios
para todo laudo pericial.
próxima perícia.
Comentário:
Questão 9
(ACADEPOL – 2007 – PC-MG – DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL) Quando os dois Peritos não
chegam, na perícia criminal, a um ponto de vista comum, cada um apresentará à parte o seu
a) Nula.
b) Contraditória.
46
c) Complementar.
d) Sucinta.
Comentário:
comum, caso em que cada um elaborará o seu laudo separadamente, de tudo consignando
suas próprias conclusões, sendo posteriormente levado à apreciação do juiz, nos moldes do
art. 180 do CPP. O gabarito correto que responde à questão é a alternativa “B”.
Questão 10
tiveram conhecimento.
C) O laudo é um tipo de relatório elaborado por peritos após as análises que julgarem
convenientes, sendo dividido nas seguintes partes: preâmbulo, quesitos, história médica
(atuais e pregressas), exame clínico, descrição, discussão e conclusão.
D) O parecer é um documento que pode ser solicitado por uma das partes interessadas no
processo para explicações mais aprofundadas a uma instituição com corpo técnico de
47
E) O auto possui estruturação e características semelhantes às do laudo. É definido como
Comentário:
48
GABARITO
Questão 1 – CERTO.
Questão 2 – C.
Questão 3 – C.
Questão 4 – C.
Questão 5 – B.
Questão 6 – B.
Questão 7 – A.
Questão 8 – A.
Questão 9 – B.
Questão 10 – D.
49
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Dos peritos:
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOMES, Vital Amintas. Manual do Delegado – Teoria e Prática, 7ª ed., atual e ampl./Rodolfo Queiroz Laterza.
Rio de Janeiro: Forense, 2012.
FRANÇA; Genival Veloso de. Medicina Legal, 9ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
51
CARREIRAS POLICIAIS
Medicina Legal
Capítulo 2
Sumário
1
MEDICINA LEGAL
Capítulo 2
2. Antropologia Forense.
exclusivas das pessoas, dos animais e dos objetos. É, basicamente, a some de sinais, marcas e
caracteres positivos e negativos que individualizam o ser humano ou uma coisa, distinguindo-
os dos demais.
A identificação, por sua vez, nada mais é do que a determinação da identidade, ou seja, é
um processo por meio do qual se atribui a identidade de uma determinada pessoa ou coisa. A
● Postulados da identificação.
2
a) Perenidade: é a capacidade de certos elementos resistirem à ação do tempo, e que
permanecem durante toda a vida e até após a morte (ex.: esqueleto).
Pode ser feita em pessoas vivas ou em cadáveres (inteiros ou espostejados), ainda que
reduzidos a fragmentos ou simples ossadas. Para fins de prova, abordaremos de maneira
sucinta a identificação quanto à raça, o sexo, a estatura, a idade, identificação pelos dentes
e a prosopografia.
2.2.1 Raças.
São muitas as classificações de raças existentes. Mas para efeitos de prova, abordaremos a
classificação mais aceita na doutrina médico-legal, proposta por Ottolenghi, que distingue em
3
Pele amarela. Cabelos lisos. Face achatada de diante
para trás. Fronte larga e baixa. Arcadas superciliares
pouco salientes. Espaço interorbial largo. Fenda
TIPO MONGÓLICO
palpebral pouco ampla, em amêndoa. Nariz curto,
largo. Maxilares pequenos e mento saliente.
Pele negra. Cabelos crespos, em tufos. Crânio
geralmente dolicocéfalo. Perfil facial prognata; fronte
alta, saliente, arqueada. Íris castanha. Nariz pequeno,
TIPO NEGROIDE
de perfil côncavo e narinas curtas e afastadas.
Zigomas salientes. Prognatismo acentuado. Mento
pequeno.
Pele amarela trigueira, tendendo para o
avermelhado. Estatura alta. Cabelos lisos como crina
de cavalo, pretos. Íris castanha. Crânio mesocéfalo.
TIPO INDIANO
Nariz saliente, longo e estreito. Fronte vertical.
Zigomas salientes e largos. Mandíbula desenvolvida.
Estatura alta. Pele trigueira. Cabelos pretos,
ondulados e longos. Fronte estreita. Zigomas
proeminentes. Nariz curto com narinas afastadas.
TIPO AUSTRALOIDE
Prognatismo, maxilar e alveolar. Dentes fortes.
Maxilares desenvolvidos. Cintura escapular larga;
bacia estreita.
Por ocasião do estudo da identificação quanto à raça, podem ser feitas algumas
a) Forma do crânio:
Para a determinação da etnia, o formato do crânio revela alguns detalhes que podem
contribuir para a identificação. Assim, são apresentados pela literatura médico-legal alguns
4
● Índice cefálico horizontal (ICH): indica, basicamente, se a cabeça de uma
pessoa é mais ou menos larga, havendo uma fórmula para se determinar a
referida medida – “Fórmula de Retzius”.
que estiver sendo analisado. Assim, visto de cima para baixo, o crânio pode ser classificado
como:
Fiquem calmos! Para efeitos de prova, a fórmula acima representada não é importante a
ponto de ser objeto de cobrança. Apenas saibam que ela existe e para que finalidade se
destina, devendo ficar atentos às nomenclaturas acima destacadas e suas respectivas
características.
5
● Índice Transversal Vertical Posterior (ITVP): representa a maior ou menor altura do
crânio, visto de trás para frente. Pode ser determinado a partir do resultado da fórmula:
6
● Índice radioumeral: Utiliza a medida dos ossos do braço do corpo humano. É o
resultado da seguinte divisão:
100 𝑥 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜 𝑟á𝑑𝑖𝑜
𝐼𝑅 =
𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜 ú𝑚𝑒𝑟𝑜
b) Índice Tibiofemural:
Utiliza medidas dos ossos da perna, sendo expresso pelo resultado da seguinte divisão:
Também é outro método que auxilia na identificação da raça a partir das medidas obtidas
co corpo humano. Todos os ângulos faciais têm como ponto posterior orifício do ouvido
(meato acústico externo). Os pontos anteriores, por sua vez, variam1:
elementos de presunção a cerca do gênero sexual. O crânio feminino tem a fronte mais
1
VIDE QUESTÃO 1 PARA SABER A FORMA DE ABORDAGEM DO REFERIDO TEMA.
7
vertical, a articulação frontodorsal curva, saliências ósseas e apófises mastoides e estiloides
Para melhor compreensão das características dos crânios masculino e feminino aqui
descritas, visualizem a imagem a seguir:
O útero é um importante órgão na identificação do sexo. Pode ocorrer que, nos casos de
carbonização ou de putrefação avançada, o útero se mantenha preservado, permitindo assim
feminina tem uma constituição mais frágil que a do homem e maiores diâmetros
2
GALVÃO, Malthus. Ângulos Faciais. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 8/02/2020.
8
transversais, sendo mais larga naturalmente, de modo que sua anatomia é feita para a
3
ANATOMIA DA BACIA HUMANA MASCULINA E FEMININA. Radiologia Patológica, 2020. Disponível em:
www.radiologiapatologica.wordpress.com. Acesso em: 08/002/2020.
9
2.2.3 Estatura.
A estatura nada mais é do que a altura total do indivíduo, que pode variar de acordo com
Existe uma necessária correlação entre a estatura e a idade. As mulheres em geral são de
Além disso, nos cadáveres deve-se deduzir 16mm da medida total, correspondente ao
achatamento natural dos discos vertebrais sobre as cartilagens entre as articulações. No
esqueleto, em posição normal, deve-se aumentar essa medida total em 6mm correspondentes
ossos longos por determinados valores. Obviamente que o conhecimento exato dos fatores de
multiplicação não é necessário para fins de prova, mas basta apenas que você saiba dessa
possibilidade.
10
2.2.4 Idade.
Segundo a classificação do Professor Delton Croce4, as fases etárias da vida humana são
as seguintes:
importância relativa. Assim, é fácil fazer a diferenciação, por exemplo, entre uma criança e um
velho a partir da análise das suturas cranianas.
Essas suturas cranianas são marcas presentes no crânio, originadas da junção dos ossos
que o compõem, em que cada parte recebe o nome de fontanela ou “moleira”. O crânio
infantil é formado por 6 fontanelas, estando as suturas bastante evidentes até
aproximadamente 1 ano a 1 ano e meio, começando a desaparecer após esse lapso de vida
devido à fusão e calcificação dos ossos cranianos, dando lugar às suturas completas a partir
dos 45 anos.
Com base nisso, é possível, ante a análise das suturas, a estipulação aproximada da idade
do indivíduo, sendo assim uma ferramenta útil na execução das perícias e processos de
4
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 75.
11
identificação. A seguir colacionamos uma figura ilustrativa para uma melhor compreensão
estão bastante evidentes as suturas cranianas, é possível se concluir com absoluta certeza de
que o crânio encontrado não pertence à pessoa que figura como objeto da busca.
elencada acima, não oferece uma margem de certeza quanto à identificação da idade do
indivíduo.
radiográfico dos ossos. Este, por sua vez, possibilita um grau maior de certeza quanto à
estimativa de idade do indivíduo, sendo realizado principalmente nos ossos do punho,
achatamento e rarefação, dentre outros sinais que permitem a estipulação relativamente exata
da faixa de idade de uma pessoa.
O fator chave para a determinação da idade, portanto, está no estudo dos núcleos ou
5
GALVÃO, Malthus. Suturas Cranianas. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 8/02/2020.
12
complementares (POC). A título exemplificativo, podemos citar a ossificação do rádio (osso
do antebraço), que ocorre por volta dos 18 anos – para o sexo feminino; e dos 20 anos – para
o sexo masculino.
Essa é uma técnica de fundamental importância para a medicina legal no que tange à
de lesões cortocontusas, ocasionadas por marcas de mordidas nas vítimas deixadas por
criminosos, especialmente em crimes de natureza sexual.
O estudo dos dentes permite, com razoável aproximação, determinar a idade, e, com um
em objetos encontrados na cena do crime ou mesmo no corpo das vítimas de seus delitos.
Esse estudo pode ser feito a partir de uma técnica comparativa da impressão deixada nos
diferentes suportes, a partir da descrição, de desenhos, fotografias ou radiografias, após prévia
No que tange à estimativa da idade pelo estudo das arcadas dentárias, deve-se levar em
consideração a estrutura e formação dos dentes nos seres humanos. Sabe-se que o homem é
difiodonte e heterodonte, ou seja, possui duas dentições ao longo da vida, sendo uma
temporária ou de leite, e a outra definitiva, que aparece tardiamente, sendo constituída de
diferentes dentes. Na primeira dentição (temporária), o ser humano possui 20 dentes; na
seguir:
13
PRIMEIRA DENTIÇÃO OU TEMPORÁRIA
comparativos das características da anatomia dentária quanto à posição, rotação, espaço entre
os dentes, tudo isso após prévia modelagem das arcadas dentárias.
14
Além disso, tais estudos servem também para a identificação de cadáveres carbonizados
lhes a identidade.
2.2.6 Prosopografia.
do crânio, que se procede após a determinação de uma perfeita correspondência dos pontos
ósseos e das partes moles da face, sobretudo da fronte, nas órbitas e supercílios, no nariz e
no mento.
Atualmente os melhores resultados na utilização dessa técnica têm sido obtidos a partir
do emprego de várias câmeras de videotape aplicadas sobre a foto tirada em vida do
Como exemplo dessa técnica, o exame prosopométrico faz a mensuração das regiões e de
pontos anatômicos entre si e o traçado de planos baseados nas projeções e conformações das
regiões analisadas, incluindo a maxilometria, a mandibulometria e a odontometria.
15
Com o passar do tempo, vários foram os processos utilizados como técnica de identificação
dos criminosos, métodos esses que se mostraram insustentáveis devido à sua crueldade e
violação da dignidade humana.
A exemplo desses métodos, podemos citar a marcação de símbolos (como a flor de lis)
através de queimaduras feitas por sólidos incandescentes na pele dos criminosos condenados,
mutilações da orelha, dentre outros.
contornos revolucionários, passando a ser, por um bom tempo, bastante utilizada pelas
polícias do mundo todo. No entanto, foi com o método criado por Bertillon, em 1882, em
Paris, que o processo de identificação ganhou bases científicas até hoje aceitas, restando a
fotografia como um recurso subsidiário. Passaremos agora a estudar os principais métodos de
2.3.1 Bertilonagem.
● Antropometria
16
● Fotografia sinalética
prosopometria.
Observem, portanto, que a antropometria não se aplica aos menores de 20 anos, uma vez
que ainda não possuem a ossatura completamente desenvolvida. Juntando-se a esse fato, o
pessoais das pessoas, pois que nas mulheres e nos velhos tais medidas são difíceis de serem
tomadas, bem como o fato de este processo demandar tempo e técnicos especializados.
Por tais razões, juntas ao aparecimento de técnicas mais práticas e de execução mais
2.3.2 Datiloscopia
A datiloscopia estuda as impressões digitais, que são vestígios e marcas deixadas pelas
polpas dos dedos, devido à secreção de uma substância gordurosa oriunda das glândulas
sebáceas, permitindo a gravação dos desenhos digitais na superfície de objetos comumente
seguintes características:
As linhas papilares da face volar das falanges agrupam-se em três sistemas: basilar,
marginal e nuclear ou central. Essas linhas formam ângulos obtusos em volta do núcleo
central da impressão digital, formando o delta, que figura como base da classificação do
sistema de Vucetich. É a presença ou a ausência do delta nas impressão digital que caracteriza
Para uma melhor compreensão, abaixo colacionamos a imagem6 com os quatro tipos de
impressões digitais:
6
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018. p. 79.
18
No sistema dactiloscópico de Vucetich, cada tipo fundamental também pode ser
representado a partir de suas letras iniciais, bem como através de números. Assim, o verticilo
pode ser mencionado com a letra “V” e pelo número “4”. A presilha externa pela letra “E” e
pelo número “3”, a presilha interna pela letra “I” e pelo número “2”. Por fim, o arco pode ser
seu início a partir do polegar direito, sendo também conhecida como “parte fundamental”,
representado por uma das letras do tipo fundamental encontrado no respectivo dedo, sendo
finalizada com a parte chamada “divisão”, em que figuram os demais dedos da mão direita
em sequência (a partir do indicador direito até o dedo mínimo direito), sendo representados
sendo finalizada com a parte que recebe o nome de “subdivisão”, na qual estarão os demais
dedos da mão esquerda em sequência (a partir do indicador esquerdo, finalizando com o
19
dedo mínimo esquerdo), recebendo os números dos respectivos tipos fundamentais ali
𝐴 − 1234
𝑉 − 3410
Na fórmula ilustrada acima, a letra “A” representa um arco encontrado no polegar direito.
O número “1” representa um arco encontrado no indicador direito, e assim por diante. Já na
linha de baixo, a letra “V” representa um verticilo encontrado no polegar esquerdo. O número
“3” representa uma presilha externa encontrada no indicador esquerdo e daí por diante.
Quando da análise de uma impressão digital pelo perito datiloscopista, para que se
assegure a identificação de alguma pessoa por meio daquela impressão, devem ser
encontrados de 12 a 20 minúcias (pontos característicos) semelhantes. Tais pontos são
7
SISTEMA DECADACTILAR DE VUCETICH. Papiloscopia, 2020. Disponível em: www.papiloscopia.com.br. Acesso
em: 08/02/2020.
20
QUADRO SINÓTICO
21
● Tipo negroide;
● Tipo indiano;
● Tipo australoide;
Análise do crânio e do tórax – elementos de presunção;
Bacia – elemento de certeza: maiores diâmetros transversais,
Sexo médico-
sendo mais larga naturalmente, de modo que sua anatomia é
legal feita para a concepção da maternidade, permitindo a passagem
do nascituro.
Altura total do indivíduo, que pode variar de acordo com a raça,
Estatura idade, sexo, maior ou menos desenvolvimento do indivíduo,
influências hormonais e outros fatores biológicos.
Classificação das idades (Delton Croce):
● Vida intrauterina
● Infante nascido
● Recém-nascido
● 1ª infância
● 2ª infância
● Adolescência
● Mocidade
● Idade adulta
● Velhice
● Senilidade
Idade Atenção para as suturas cranianas: marcas presentes no crânio,
originadas da junção dos ossos que o compõem. Quanto mais
evidentes no crânio, mais jovem o indivíduo, estando evidentes
até aproximadamente 1 ano a 1 ano e meio.
Representação codificada:
23
a) Arco – “A” ou “1”;
b) Presilha interna – “I” ou “2”;
c) Presilha externa – “E” ou “3”;
d) Verticilo – “V” ou “4”;
24
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
C) nas pernas.
D) na bacia.
E) no tórax.
Comentário:
da identificação quanto à raça. Nesse tema, são relevantes aspectos ligados ao crânio
para a devida diferenciação de gêneros a partir da forma e da mensuração das medidas
cranianas, sendo de notória relevância os ângulos cranianos de Jacquart, Cloquet e
Questão 2
25
B) Úmero.
C) Fêmur.
D) Pelve.
Comentário:
Questão 3
para a determinação da identidade, pois, via de regra, essas análises são realizadas utilizando-
se como método capaz de gerar o grau do parentesco, e não a identidade propriamente dita,
ou seja, pode determinar se o indivíduo é filho de alguém, mas não qual dos filhos. Outras
técnicas científicas, ao contrário do exame de DNA, podem, isoladamente, conferir a
Comentário:
Dentre as técnicas de identificação descritas nas alternativas, a que traz as mais exatas e
viáveis é a alternativa “d”. As alternativas “a” e “b” não podem ser consideradas corretas,
uma vez que a técnica de reconhecimento facial somente se opera em pessoas vivas, não
mostrar eficazes na atribuição de identidade dos cadáveres, seja pelo estado das lesões
ou até mesmo pelo avançar do estado de putrefação, capaz de fazer com que os sinais
particulares do indivíduo fiquem irreconhecíveis ou até mesmo sejam completamente
Questão 4
(FUNCAB - PC-RO - Médico Legista/2012) Com base nos estudos da Antropologia médico-
27
E) Aceitabilidade, semelhança, praticabilidade, igualidade.
Comentário:
processo que não seja complexo, tanto na obtenção como no registro dos caracteres;
Praticabilidade – um processo que não seja complexo, tanto na obtenção como no
“b”.
Questão 5
(CESPE – Perito Papiloscopista – PC-PE/ 2017) Julgue os itens quanto à Identidade policial e
judiciária:
A identificação judiciária ou policial independe de conhecimentos médicos, e sua
Comentário:
28
quer primários, quer reincidentes. Esse processo é efetuado por peritos na tarefa de
Questão 6
judiciária:
Atualmente, os processos que tem por objetivo punir e identificar, utilizam o Sistema da
Bertilonagem, pois é de fácil aplicação e absoluta eficiência, que não maculam os direitos
humanos.
Comentário:
O processo de identificação passou por uma evolução histórica ao longo dos tempos, em
que, antigamente, os primeiros métodos de identificação eram tidos como “processos
infamantes”, que tinham por objetivo punir e identificar, sendo técnicas altamente
violadoras da dignidade humana. Na atualidade, a bertilonagem e outros processos de
identificação que surgiram a posteriori deram vez a outros métodos mais seguros, de
fácil aplicação e absoluta eficiência, que não maculam os direitos humanos. O enunciado
Questão 7
complementares (detalhes).
29
Comentário:
Questão 8
judiciária:
O retrato falado, utilizado até hoje pela Polícia, é obtido pela descrição analítica dos caracteres
Comentário:
Questão 9
judiciária:
O assinalamento antropométrico de Bertillon refere-se: à fixação definitiva da ossatura a partir
dos 20 anos; à variabilidade extrema dos esqueletos humanos entre si; à relativa precisão e
facilidade de tomada das medidas do esqueleto e de determinadas partes do corpo.
30
Comentário:
Questão 10
perfil).
Comentário:
olhos e fotografias (frente e perfil). Essas informações eram registradas em cartões, que
eram posteriormente arquivados e possibilitavam consulta posterior. O gabarito está,
portanto, correto.
E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e
praticando bastante! Vamos juntos até a aprovação! Até mais!!!
31
GABARITO
Questão 1 - B
Questão 2 - D
Questão 3 - D
Questão 4 - B
Questão 5 – Certo
Questão 6 - Errado
Questão 7 - Certo
Questão 8 - Certo
Questão 9 - Certo
Questão 10 - Certo
32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANATOMIA DA BACIA HUMANA MASCULINA E FEMININA. Radiologia Patológica, 2020. Disponível em:
www.radiologiapatologica.wordpress.com. Acesso em: 08/002/2020.
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.
GALVÃO, Malthus. Ângulos Faciais. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 8/02/2020.
33
CARREIRAS POLICIAIS
Medicina Legal
Capítulo 3
SUMÁRIO
MEDICINA LEGAL, Capítulo 3 .................................................................................................................................... 2
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 22
1
MEDICINA LEGAL
Capítulo 3
3. Traumatologia Forense.
A Medicina Legal possui estudo específico sobre as energias que, ofendendo a integridade
física ou a saúde do indivíduo, ocasionam lesões corporais e mortes. Nesse campo, é de suma
importância o estudo da traumatologia forense.
A traumatologia é, portanto, o estudo dos traumas, assim entendidos como uma energia
que, ao ser transferida para o organismo humano, acarreta lesão. O foco da análise da
traumatologia recai sobre estudo da energia transferida; da lesão e do agente que
transmite essa energia, o qual é chamado de agente vulnerante (vulnerar = ferir). Ou seja, o
agente vulnerante é um transferidor de energia, seja ela física, química, biológica ou mista.
traumatologia:
Essa energia é transferida para o corpo (trauma), o qual sofrerá uma alteração, a qual se
denomina de lesão. O trauma é a causa e a lesão é o efeito.
2
Para facilitar o entendimento, o processo de ocasionar lesões pode ser representado pelo
seguinte esquema:
Energia
Trauma Lesão
transferida
A pele é o órgão que constitui a primeira barreira contra as agressões externas, sendo
também o maior órgão do corpo humano. É na pele que o delegado de polícia observará,
pelo simples exame ocular, a maioria das lesões que poderão orientar o curso das
investigações.
A pele é uma estrutura complexa, formada por duas camadas: derme (interna e menos
densa), epiderme (externa e mais densa). Abaixo da camada mais profunda da pele existe uma
camada de gordura – tecido celular subcutâneo, a qual funciona como amortecedor e
Camada epiderme:
A epiderme é formada por 5 camadas sobrepostas, onde existe uma camada mais
profunda que é a geradora de toda a epiderme (camada basal), onde se encontra o DNA
(material genético).
É na camada basal que se encontram as células vivas e reprodutoras. Assim que a célula
é produzida começa a ser empurrada para cima, e, na proporção em que vai sendo empurrada
3
para cima e se aproximando da periferia, começa a morrer. Então, na superfície da pele,
Não é possível generalizar que todas as células da epiderme estão vivas ou mortas. As
células da camada basal estão vivas, e as da periferia da pele estão mortas, mas ambas
Quando situadas na camada basal, as células da epiderme possuem núcleo, mas à medida
que vão subindo, elas perdem o seu núcleo, não sendo mais possível encontrar o DNA do pai
e da mãe nas células da superfície da pele.
pela queratina. Assim, é possível afirmas que a estrutura da pele humana é composta pelas
seguintes camadas:
II) Células cuboides: são nucleadas, contendo muitos ribossomos (PTN) e poucos
grânulos de queratina;
III) Camada espinhosa: situada um pouco mais acima, ainda contendo núcleo e muitos
desmossomos;
desaparecendo;
mitocondrial, que é muito mais resistente que o DNA do núcleo, e apresenta o material
Camada derme:
É uma camada viva, onde existem vasos sanguíneos e linfáticos, nervos sensitivos e
motores, células nucleadas, fibras elásticas e colágenas. É a derme que alimenta as células da
camada basal por proximidade – difusão. Na derme existem saliências e reentrâncias, que
Estas cristas permitem com que a epiderme apresente desenhos digitais, que dão origem
a) Artérias:
São Vasos de maior calibre que se afastam do coração. Conduzem o sangue do centro do
corpo até as regiões periferias. As artérias não possibilitam que se perfaçam as trocas
gasosas, razão pela qual elas se ramificam em vasos menores, chamados de arteríolas, que
por sua vez também se ramificam ainda mais, originando os capilares arteriais.
5
É nos capilares arteriais que ocorrem as trocas gasosas (pulmonares), e de outras enzimas
e substâncias.
b) Veias:
São vasos que se aproximam do coração, trazendo o sangue das regiões periféricas do
corpo até o centro. Também não possibilitam as trocas de substâncias e enzimas, razão pela
qual se ramificam e dão origem às vênulas, que também se ramificam e originam os capilares
sanguíneos.
podendo ser arterial ou venoso. O coração é chamado de “bomba aspirante premente”, pois
São de sete ordens os grupos de energias produtoras do dano: mecânica, física, química,
físico-química, biodinâmica, bioquímica e mista.
§ 1º Se resulta:
II - perigo de vida;
IV - aceleração de parto:
§ 2° Se resulta:
II - enfermidade incurável;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
7
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
A lesão corporal leve, prevista no caput do art. 129 do CP é tipificada por exclusão, ou seja,
É importante ressaltar, ainda, no que se refere à classificação das lesões, que o perito
legista não analisa o dolo da lesão, mas apenas a lesão em si, com o fim de enquadrá-la em
alguma das hipóteses legais do art. 129 do CP. Quem fará esse juízo de valor serão outras
pessoas atuantes na persecução penal, a saber: o delegado, o membro do MP ou o juiz.
8
Para facilitar ainda mais o processo de memorização acerca da classificação das lesões,
Aqui o perito legista deverá especificar o agente vulnerante que causou a lesão, a
exemplo de projéteis de arma de fogo, taco de basebol, punhal, etc.
Aqui o perito deverá generalizar o agente vulnerante mediante a descrição da sua forma
de atuação, quando não se puder afirma com exatidão qual foi o agente específico que
causou aquela lesão. Logo, não sendo possível precisar qual o agente vulnerante, deverá o
perito afirmar, por exemplo, se foi um agente perfuro contundente, agente cortante, agente
perfuro cortante, etc.
Assim, na grande maioria dos casos, a não ser que o instrumento/agente vulnerante esteja
presente no corpo da vítima ou na cena do crime, torna-se difícil para o legista determinar
9
com absoluta precisão qual o instrumento que acarretou aquela lesão. Por isso que ele se
perito legista determinar qual o instrumento que a causou. São exemplos dessas lesões a
marca de mordidas na pele (lesão corto-contusa), que permite a exata identificação até
mesmo da arcada dentária que a produziu; a ferida resultante da entrada de projéteis de arma
de fogo, lesões causadas por raios elétricos, etc.
Com base nisso, algumas questões de prova costumam indagar da seguinte forma: é
possível que o perito legista diga qual o instrumento que causou determinada lesão
mesmo sem encontrá-lo?
10
QUADRO SINÓTICO
Sistema circulatório:
Artérias: Vasos de maior calibre que
se afastam do coração. Conduzem o
sangue do centro do corpo até as
regiões periferias.
Veias: São vasos que se aproximam
do coração, trazendo o sangue das
regiões periféricas do corpo até o
centro.
a) Físicos:
Mecânicos: agem por movimento,
transferindo energia para o organismo
e causando lesão.
Agentes vulnerantes e suas classificações Não mecânicos: consistem em
atuação de forças da natureza, como a
eletricidade natural, o calor, o frio, o
som e a luminosidade, que, atuando
sobre o organismo, transferem energia
12
e causam lesão.
b) Químicos: decorrem da ação de
cáusticos e venenos (vitriolagem)
c) Biológicos: decorrem da ação de
microrganismos vivos, como vírus,
bactérias e protozoários.
d) Mistos: decorrem da mistura dos
demais agentes vulnerantes, podendo
ser:
Físico-químicos,
Biofísicos,
Bioquímicos
São classificadas conforme o grau e a
gravidade do dano, enquadrando-se e uma
das figuras típicas do art. 129 do CP,
podendo ser:
a) Leve: dada por exclusão (art. 129,
caput do CP)
b) Grave: IPDA - Prevista no art. 129, § 1º
do CP, nas hipóteses de:
Incapacidade para as ocupações
habituais por mais de 30 dias;
Perigo de vida;
Lesões corporais Debilidade permanente de membro,
sentido ou função;
Aceleração de parto;
c) Gravíssima: IEPDA – Prevista no art.
129, § 2º do CP, nas hipóteses de:
Incapacidade permanente para o
trabalho;
Enfermidade incurável;
Perda ou inutilização de membro,
sentido ou função;
Deformidade permanente
Aborto;
13
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(UEG - NÚCLEO - 2008 - PC-GO - Delegado de Polícia) A lesão conhecida como mordedura
ou dentada produzida pela arcada dental humana, em razão de suas características, classifica-
se como
A) cortocontudente.
B) contundente.
C) perfurante.
D) perfurocontundente.
Comentário:
lesão de mordedura, produzida pela arcada dentária humana. Este Pode ser considerado
como instrumento cortocontundente natural, pelo que as lesões produzidas por mordidas
14
Questão 2
A) perfuro-contundente.
B) contundente.
C) corto-contusa.
D) perfuro-cortante.
E) corto-contundente
Comentário:
Mais uma vez a questão aborda a classificação da lesão produzida por mordida humana.
Percebam que esse é um tema recorrente e de alta incidência nas provas. Como vimos, a
arcada dentária humana é classificada como agente cortocontundente, sendo a lesão por
ela produzida classificada como cortocontusa. O gabarito que responde à questão,
Questão 3
(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) Um cadáver encontrado próximo à linha férrea
A) esquartejamento e esgorjamento.
B) esquartejamento e decapitação.
15
C) espojamento e esgorjamento.
D) esquartejamento e vitriolagem.
E) espojamento e decapitação.
Comentário:
Esse tema é pertencente à classificação das lesões por ação cortante e feridas incisas,
cortantes, perfuro cortantes e corto contundentes. No que tange a estes últimos, a ação
corto contundente é aquela que além da incisão (corte) também produz um trauma por
16
Questão 4
(FUMARC - 2011 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) Diante de uma ferida linear, com
regularidade de suas bordas, associada a abundante hemorragia, predominância do
a) Cortocontundente
B) Contundente.
C) Perfurante.
D) Cortante.
Comentário:
cortante. Assim, podem ser evidenciadas nas feridas incisas as características de haver
bordas regulares, maior comprimento que profundidade, fundo regular, cauda de
Questão 5
(CESPE - 2012 - PC-AL - Agente de Polícia) Em relação à perícia médico-legal, julgue os itens
seguintes.
A lesão corporal leve pode ser caracterizada como aquela em que não impede a vítima de
realizar as atividades habituais por até trinta dias, como, por exemplo, uma torção no dedo do
pé.
17
Comentário:
Aqui está uma questão que cobra do candidato o conhecimento do art. 129 do Código
Penal, no que tange à classificação das lesões corporais como leve, grave ou gravíssima.
Aqui não há maiores comentários, havendo tão somente que saber que a hipótese de
vítima não fica impossibilitada para suas ocupações habituais por mais de 30 dias (art.
129, § 1º, I do CP). A afirmação é verdadeira, estando, portanto, “correto” o gabarito da
questão.
Questão 6
(CESPE - 2012 - PC-AL - Agente de Polícia) Em relação à perícia médico-legal, julgue os itens
seguintes.
Lesão corporal de natureza grave é aquela em que o objeto utilizado para a prática é muito
perigoso, como um projétil de arma de fogo, ou aquela resultante da prática de ato com
Comentário:
18
Questão 7
(CESPE - 2012 - PC-AL - Escrivão de Polícia) No que se refere à perícia médico-legal, julgue
os itens subsequentes.
Arrependido do ato de violência por ele cometido, o pai levou imediatamente o bebê ao
hospital, onde ele recebeu cuidados médicos. Os movimentos do ombro do bebê foram
restabelecidos após cinco semanas, e ele não teve sequelas. Nessa situação, sob o ponto de
Comentário:
Embora a questão narre que não houve sequelas para o bebê, é fato que a conduta lhe
ocasionou risco de vida, devido às próprias condições naturais da vítima, levando em
conta a sua fragilidade oriunda de sua idade prematura O gabarito da questão está,
portanto, correto.
Questão 8
(PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia) A figura do "perigo de vida" nas lesões
corporais diz respeito:
19
Comentário:
Aqui houve uma abordagem mais atípica do que costuma ser cobrado nas provas. Exige
Questão 9
(CESPE - 2012 - PC-AL - Agente de Polícia) Em relação à perícia médico-legal, julgue os itens
seguintes.
Comentário:
“correto”.
Questão 10
A) barotrauma
B) baropatia
C) embolia traumática
20
D) doença de Monge
E) doença da descompressão
Comentário:
Esse assunto ainda será tratado em capítulo posterior, no que tange às energias físicas
de ordem não mecânica. Não obstante, há relação com o presente tema, pois que a ação
das variações de pressão atmosférica também é uma energia natural capaz de causar
lesões e mortes. Nesse aspecto, os efeitos desses fenômenos são conhecidos como
E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e
21
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 - E
Questão 3 - B
Questão 4 - D
Questão 5 – Certo
Questão 6 - Errado
Questão 7 - Certo
Questão 8 - A
Questão 9 - Certo
Questão 10 - B
22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p. 360.
23
CARREIRAS POLICIAIS
Medicina Legal
Capítulo 4
SUMÁRIO
4.3.3 Bossa........................................................................................................................................................................ 18
4.4 Lesões causadas por ação de instrumentos corto contundentes – Feridas cortocontusas.24
1
4.4.4 Esquartejamento ................................................................................................................................................. 25
4.6 Lesões produzidas por instrumentos perfuro contundentes – Feridas perfuro contusas . 30
4.7 Lesões e morte por projéteis de arma de fogo – Ação perfuro contundente. ...................... 31
4.7.2 Munição.................................................................................................................................................................. 33
4.7.5 Estudo das lesões produzidas por disparo de arma de fogo ........................................................ 42
4.9 Lesões causadas por projéteis de arma de fogo de alta energia ................................................ 55
4.10 Lesões e mortes causadas pela ação de explosivos - Blast Injury ............................................... 59
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 80
3
MEDICINA LEGAL
Capítulo 4
Inicialmente, interessa o estudo das lesões originadas por energia mecânica, que são
aquelas que, atuando mecanicamente sobre o corpo, modificam, completa ou parcialmente, o
seu estado de repouso ou de movimento. As energias de ordem mecânica podem ser
que apenas perfura (ex.: picador de gelo); agente cortante é aquele que apenas corta (ex.:
navalha de barbear).
Para que seja misto é necessário que seja capaz de ocasionar os dois efeitos (ex.: faca –
Os agentes vulnerantes físicos mecânicos são assim chamados porque, para que
acarretem lesão, é necessário que haja movimento mecânico, seja do agente, da vítima, ou
dos dois simultaneamente.
Assim, faz-se a divisão da ação contundente dos agentes físicos mecânicos da seguinte
forma:
4
a) Ação ativa: o agente vulnerante, em movimento, vai de encontro à vítima.
b) Ação passiva: o agente vulnerante está parado, mas a vítima vem a se chocar contra
ele. (Ex.: queda, defenestração (queda de uma janela alta), colisão de um veículo com
5
vulnerante dessa espécie é a arcada dentária
humana.1
Incisão significa corte, razão pela qual as feridas incisas são lesões comumente causadas
por armas brancas, que possuem como característica marcante as soluções de continuidade
1
Vide questões 1 e 2 deste material.
6
da pele, sendo assim classificadas como tipos de lesões abertas. São produzidas por
qualquer agente vulnerante que possua gume afiado (ex.: navalha, bisturi, faca, lâminas).
Normalmente são mais extensas do que profundas, tendo ação por meio de pressão e
deslizamento do instrumento cortante como se fosse um “arco de violino”, sendo assim
A ferida incisa sangra mais do que a contusa, sendo toda regular, diferente das feridas
causadas por agentes contundentes. Na ferida contusa o agente atua por pressão, enquanto
atingiu.
Quando se analisa a ferida incisa, nota-se que o ponto de ataque é mais profundo, ao
passo que no ponto de saída a lesão é mais superficial. A entrada da lesão, portanto, possui
8
Vejamos na imagem2 abaixo um esquema que ilustra muito bem o percurso e a incidência
do instrumento cortante:
Os sinais de Romanese e Lacassagne dizem respeito à mesma coisa, a qual seja a escoriação
na pele ao final do golpe, representando o ponto final do ferimento, apenas recebendo nomes
2
CAUDA DE ESCORIAÇÃO. Aneste, 2020. Disponível em: www.aneste.org/medicina-legal.html. Acesso em:
11/02/2020.
9
O sinal de Gilvaz, por sua vez, caracteriza-se por ser uma cicatriz no rosto da vítima,
cortante imprime maior pressão sobre o primeiro ponto de contato com a epiderme, e
uma menor pressão sobre o seu último ponto de contato, o que ocasiona uma maior
análise da lesão, o seu ponto de início e em qual sentido se deu a ação do agente cortante.
a) Lesões de defesa:
São lesões localizadas em áreas normalmente utilizadas para defesa pessoa, tais como
região palmar e borda ulnar do antebraço. Aqui estamos abordando o tema das lesões
produzidas por ação cortante, mas é possível a verificação das lesões de defesa dos mais
variados tipos, como as contusões ou fraturas existentes no antebraço, por exemplo.
3
LESÕES DE DEFESA. Forsci Projetos Educacionais, 2020. Disponível em: www.forsciprojetoseducacionais.com.
Acesso em 11/02/2020.
10
b) Lesões de hesitação:
São lesões localizadas em áreas que, normalmente, são utilizadas para suicídio, podendo
ser múltiplas, e normalmente não mortais. Podem ser produzidas pelos diversos agentes
Essas lesões auxiliam na investigação da causa jurídica do fato em estudo, bem como se
mostra relevante a realização de autópsia psicológica para a confirmação ou não da tese de
suicídio.
4
LESÕES DE HESITAÇÃO. Picpanzee, 2020. Disponível em: www.picpanzee.com. Acesso em 11/02/2020.
11
4.2.5 Lesões por ação cortante no pescoço – Esgorjamento e
Degolamento
Quando são feitas no pescoço, as lesões oriundas de ação cortante recebem nomes
francesa, “gorge“, que significa garganta. Esgorjar, portanto, é expor a garganta. Veja abaixo
uma ilustração5 desse tipo de lesão:
pescoço, onde fica a “gola” da camisa, tendo por esta razão esse nome. Vejam a imagem 6
abaixo para facilitar o entendimento:
5
ESGORJAMENTO. Slideshare, 2020. Disponível em: www.pt.slideshare.net/josemariaabreujunior/traumatologia-
forense-parte-1-direito-ufpa. Acesso em: 11/02/2020.
6
GALVÃO, Malthus. Degolamento. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
12
4.3 Lesões por ação de instrumentos contundentes – Ferida
contusa.
As lesões causadas pela ação de agente contundente são acarretadas por pressão do
instrumento contra o corpo da vítima. Essa pressão é fruto da energia cinética (energia em
4.3.1 Rubefação
Vem da palavra rubro, ou rubor, que significa coloração vermelha. São lesões que
acarretam uma vermelhidão na pele. Normalmente são causadas por agente contundente, ou
até mesmo agentes térmicos ou químicos que ocasionem queimadura de primeiro grau. Não
há, no entanto, extravasamento de sangue.
13
7
As rubefações só podem ser feitas em pessoas vivas!!! A razão disso de dá pelo fato de
que o sistema circulatório só funciona durante a vida, permitindo a dilatação dos vasos e o
aparecimento das características típicas desse tipo de lesão. Após a morte, o sangue para de
circular pelo corpo, havendo tão somente o acúmulo de sangue em determinados locais do
corpo pela ação da gravidade, e a depender da posição em que o cadáver se encontra,
originando os chamados livores cadavéricos, que serão devidamente estudados no capítulo
referente à tanatologia.
4.3.2 Equimoses
exatamente pelo fato de que nesta não há extravasamento de sangue, mas tão somente a
dilatação dos vasos no local da lesão. Podem ser causadas tanto na pessoa viva quanto na
pessoa morta, podendo ainda ser superficiais ou profundas; imediatas ou tardias; no local
ou a distância. Vejamos agora alguns tipos especiais de equimoses.
7
RUBEFAÇÃO. Docplayer. Disponível em: www.docplayer.com.br. Acesso em: 11/02/2020.
14
Petéquias ou manchas de Tardieu
É muito comum ocorrerem nos casos de morte por asfixia, mas o aparecimento de
petéquias não dá plena certeza de configuração deste tipo de morte Pode acontecer
inclusive em morte por causas naturais. Vejam logo abaixo imagens para melhor fixação:
de asfixia!
8 8
GALVÃO, Malthus. Petéquias de Tardieu. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
15
Máscara equimótica de Morestin
Assim, o sangue começa a se acumular nas veias e artérias da cabeça, fazendo pressão,
cuja consequência é o extravasamento do sangue. Surgem várias petéquias e uma
Trata-se de uma espécie de equimose. São lesões que têm a forma de faixas paralelas
ou estrias. Indicam sinais de espancamento ou agressão, não uma agressão simples, mas sim
uma agressão múltipla, onde cada marca representa uma pancada.
Geralmente são ocasionadas pela ação de instrumentos contundentes longos, tais como
uma vara, cabo de vassoura ou cassetete. Quando o instrumento contundente bate no corpo
da vítima, acaba por fazer pressão nos vasos sanguíneos, que terminam por ocasionar um
O instrumento força a passagem de sangue para as laterais da área atingida, fazendo com
que haja uma maior concentração de sangue nesses locais, ocasionando o extravasamento de
sangue e a formação das equimoses paralelas e horizontais entre si. Observe na imagem o
aspecto dessas equimoses:
9
GALVÃO, Malthus. Víbices duplas. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
16
Sinal do zorro ou do guaxinim
Nada mais é do que uma equimose na região periocular (ao redor dos olhos), causada
por lesão nas proximidades dos olhos. Pode acontecer também de a pessoa levar uma
pancada na cabeça, ocorrer o extravasamento interno do sangue e este descer, pela força da
gravidade, até a região ocular, atrás das pálpebras.
Esse extravasamento pode ocorrer em razão de uma lesão no couro cabeludo ou de uma
10
Hematoma x Equimose
sangue em uma camada mais profunda do corpo, ao contrário das bossas, que são
superficiais.
10
GALVÃO, Malthus. Sinal do Zorro ou Guaxinim. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
17
Manchas de Paltaulf
que as petéquias.
São causadas devido à entrada de água nos pulmões, ocasionando o aumento demasiado
da pressão intrapulmonar e a consequente ruptura dos vasos capilares ao redor dos alvéolos,
4.3.3 Bossa
Por vezes, quando há o extravasamento de sangue, este fica coletado embaixo de uma
membrana e em cima de um plano ósseo. Quando isso ocorre, forma-se uma saliência na
4.3.4 Escoriação
Escoriar é retirar o revestimento, sendo, portanto, uma lesão que arranca a epiderme,
atingindo a derme, mas não a ultrapassando. As escoriações, portanto, são tipos de lesões
abertas.
11
GALVÃO, Malthus. Manchas de Paltaulf. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
18
A escoriação não atinge os planos mais profundos da região, sendo regenerável e
quanto mais profunda for a escoriação, maior será a perda de sangue. Confira a imagem12
abaixo para melhor compreensão das características visuais desta lesão:
É necessário observar a crosta que se forma nas lesões produzidas em vivos para que se
saiba a quanto tempo a lesão foi produzida.
Primeiro aparece uma crosta serosa (soro sanguíneo), podendo vir com sangue (crosta
serossanguinolenta). Depois vai se formar uma crosta avermelhada (crosta hemática), que
com o passar do tempo vai ficando acastanhada, passando depois a ficar negra (crosta
Se arranhar a pele de um cadáver, não irá formar crosta, bem como se arranhar a pele de
uma pessoa viva que vier a morrer instantaneamente em seguida. Uma escoriação sem crosta
12
GALVÃO, Malthus. Escoriação. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
19
leva a duas conclusões: ou a escoriação foi feita no cadáver, ou ela foi feita pouco tempo
antes da morte.
Uma pessoa viva que venha a fazer exame de corpo de delito, e que se encontre com o
corpo todo escoriado não se encaixa no § 1º e nem no § 2º do art. 129 do CP, concluindo o
No momento em que o agente vulnerante atravessar a derme, não será mais uma
escoriação, chamando-se ferida. A ferida não se regenera, fechando o buraco com um tecido
Lesão que ultrapassa a derme, atingindo os planos mais profundos, se consolidando por
cicatrização. Uma lesão está consolidada quando não evolui mais, não piorando e nem
melhorando. Uma cicatriz não é uma cura, pois está é voltar completamente ao estado
anterior, desaparecendo o vestígio.
O agente contundente rasga a pele, de modo que a ferida contusa tem bordas, paredes
e fundo irregulares, ainda havendo pedaços de tecido que ligam as extremidades da ferida. O
agente contundente age por pressão, e por isso os vasos sanguíneos se arrebentaram e
foram esmagados, ocasionando pouco sangramento, pois a própria pressão do instrumento
acaba por fechar os vasos, dificultando a passagem de sangue, diferentemente do que
A ferida que arranca parte do couro cabeludo é chamada de escalpe; quando a ferida é
causada por um instrumento perfuro contundente de haste que penetra no corpo, é
20
chamada de encravamento; quando a agente vulnerante arranca um pedaço do corpo, a
Quando acontece uma mutilação, a tipificação da conduta se dá nos termos do art. 129,
§ 2º, IV do CP, amoldando-se à hipótese da figura médico-legal chamada de deformidade
4.3.6 Entorses
da uma cápsula de uma articulação. Ocorrem sempre que a amplitude normal dos
movimentos articulares é ultrapassada em decorrência de forças externas.
nos pés). Pode haver lesão da cápsula articular, dos ligamentos e dos tecidos periarticulares
(em volta das articulações). Esse tipo de lesão pode vir a causa incapacidade permanente.
13
13
TOSTES, Marcelo. Entorses. Drmarcelotostes. Disponível em: www.drmarcelotostes.com.. Acesso em 11/02/2020.
21
4.3.7 Luxação
b) Incompletas: quando ainda resta algum contato entre as duas peças ósseas envolvidas
na lesão.
4.3.8 Fraturas
podendo ser completa ou incompleta, com ou sem desvio, simples, múltipla e cominutiva,
fechada ou exposta, em galho verde, em mapa mundi ou patológica. Dessa forma, em se
14
Vide questão 2 deste material.
22
Quanto mais jovem o osso, mais flexível ele é, e quanto mais flexível, absorve melhor a
Em crianças é mais comum a chamada fratura em galho verde, onde por ser mais flexível o
Ocorre a precipitação quando a vítima cai de algum lugar e se choca contra o chão.
Quando essa precipitação é feita através de uma janela (a vítima é jogada), ocorre a
Assim que um osso é fraturado e, após isso, colocado na posição correta, ele começa a se
regenerar, formando o chamado calo ósseo. Com o passar do tempo o calo ósseo vai
Assim, quando se quer saber a idade de uma fratura, faz-se uma radiografia do osso e
observa-se o estado do calo ósseo. Quanto mais evidente for o calo ósseo, mais recente é a
É basicamente a ruptura dos órgãos internos, muitas vezes sem apresentar grandes
repercussões na pele, podendo provocar choque hipovolêmico e, consequentemente, a morte
da vítima.
23
4.4 Lesões causadas por ação de instrumentos corto
contundentes – Feridas cortocontusas.
de, ao mesmo tempo, cortar e contundir, causando as lesões corto contusas. Isso ocorre em
razão da considerável massa que possuem os agentes corto contundentes, agindo por
espostejamento e o esquartejamento.
4.4.1 Mutilação
Além dessas lesões especiais, são frequentes as mutilações, causadas pela ação de agentes
corto contundentes. As mutilações são nada mais do que a separação de uma ou mais partes
Você já sabe, mas não custa repetir! Quando acontece uma mutilação, a tipificação da
conduta se dá nos termos do art. 129, § 2º, IV do CP, amoldando-se à hipótese da figura
médico-legal chamada de deformidade permanente (entendimento do STF). A mutilação
causa uma deformidade estética no indivíduo, que é classificada no Código Penal como lesão
corporal gravíssima.
24
4.4.2 Decapitação
Decapitar significa basicamente separar a cabeça do tronco (ex.: dês – retirar; caput –
francesa. Trata-se de lesão especial causada por agente corto contundente no pescoço.
4.4.3 Espostejamento
movimento passa por cima do corpo da vítima, mutilando-o em vários pedaços. Vejam a
seguir a imagem desse tipo de lesão:
15
4.4.4 Esquartejamento
Esquartejar significa “cortar em quatro pedaços”. É um tipo de lesão causada por agente
corto contundente que se caracteriza pela amputação e desarticulação dos membros do corpo
humano. É semelhante ao espostejamento, mas que a diferença substancial reside na
15 15
GALVÃO, Malthus. Espostejamento. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
16
Vide questão 3 deste material.
25
4.5 Lesões produzidas por agentes perfurantes e perfuro
cortantes
Diferentemente das feridas incisas (que se caracterizam por cortes nos tecidos), os
instrumentos perfurantes atuam afastando os tecidos e, muito raramente, seccionando-os. As
lesões perfurantes são chamadas de feridas punctórias ou puntiformes17. Esse tipo de lesão
I) Abertura estreita;
II) Raro sangramento;
III) São quase sempre de menor diâmetro que o agente vulnerante que a
produziu;
tecidos da pele e das fibras musculares. Como a ação dos instrumentos perfurantes se dá com
o afastamento dos tecidos, quando o agente perfurante é retirado, os tecidos tentam voltar ao
17
Vide questão 5 deste material.
26
No entanto, como houve a introdução do agente vulnerante no local da ferida, as fibras
se esticam mais do que a sua capacidade normal para permitir a entrada do instrumento, e
por isso não conseguem voltar completamente ao seu lugar, ficando com um aspecto de
dois nomes específicos: Lei de Langer e Lei de Filhós, que serão melhor estudadas a seguir.
São produzidas por agentes perfuro cortantes que possuem um ou mais gumes. A ação
pode ser feita por pressão perpendicular ou oblíqua, o que modificará a forma final da lesão.
São lesões mais profundas do que extensas, apresentando forma de fenda, com um ou
mais ângulos agudos, indicando número de gumes do instrumento. A ferida incisa causada
por instrumento perfuro cortante cuja incidência seja oblíqua, ainda que só possua um gume,
ocasiona dois ângulos agudos.
18
18
GALVÃO, Malthus. Feridas Perfuroincisas. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
27
Na primeira imagem, é possível visualizar, na ferida à direita, um ângulo rombo (mais
arredondado) e outro mais agudo, indicando que a ferida foi produzida por instrumento
perfuro cortante de um gume afinado. Já na segunda imagem podemos visualizar a existência
de dois ângulos agudos, o que nos dá duas possibilidades: ou a ferida foi produzida por um
instrumento perfuro cortante de dois gumes; ou foi produzida por instrumento perfuro
muito maior, devido ao fato de o abdômen se comprimir, pelo fato de a região ser flácida e
flexível. Ou seja, a região atingida é depressível, e permite que o instrumento alcance
profundidades maiores que a sua própria extensão.
28
conforme o formato do instrumento, mas sim em forma de elipse ou fenda. Assim, é
possível confundir esta ferida com uma ferida feita por punhal.
19
20
19
GALVÃO, Malthus. Lei do Poliformismo. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020..
29
4.6 Lesões produzidas por instrumentos perfuro contundentes
– Feridas perfuro contusas
Nós já tratamos deste assunto em tópicos anteriores, mas não custa relembrar, até mesmo
para que a matéria fique tratada de maneira pontual e o assunto seja explorado de maneira
mais didática.
São lesões que ao mesmo tempo acarretam perfuração e contusão da pele, sendo
humana) e a lesão de entrada dos projéteis de arma de fogo. Não obstante, temos outros
exemplos especiais de lesões causadas por agentes perfuro contundentes, conforme veremos
a seguir.
a) Encravamento:
pare do corpo humano. São exemplos desse tipo de lesão alguns acidentes com vergalhões
de construção que penetram no corpo dos operários.
21
20
GALVÃO, Malthus. Lei do Paralelismo. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
21
GALVÃO, Malthus. Encravamento. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
30
b) Empalamento
22
defesa da incolumidade pessoal, assim como bens próprios ou de terceiros. Portanto, a arma é
um instrumento produzido com a finalidade específica de atacar ou defender o ser humano,
ou os bens de seu interesse. Classificam-se em:
a) Arma de fogo;
b) Arma branca;
c) Outras armas;
22
EMPALAMENTO. Revista Galileu. Disponível em: www.revistagalileu.globo.com. Acesso em: 11/02/2020.
31
Conceito de arma imprópria:
É um instrumento ou objeto que habitualmente não é utilizado para ataque ou defesa dos
bens próprios ou de terceiros, mas que porém, em determinadas situações, pode ser usada
com tal finalidade. (Ex.: Martelo, machado, foice, faca de cozinha, navalha, tesoura, chave de
fenda, espeto de churrasco, canivete, taco de beisebol, etc.).
Conceito:
Arma de fogo: é uma arma própria, de uso permitido ou restrito no Brasil, constituída
por um conjunto de peças, cada uma com funções específicas e que se destina a disparar
fogo, pois para que assim seja considerada, é necessário que haja combustão de gases e
produção de fogo.
32
De uso permitido e uso restrito;
De tiro intermitente ou de rajada;
É mais fácil investigar crimes cometidos com projéteis de arma de fogo disparados com
pistolas do que com revólveres, pois a janela de ejeção da pistola, após a expulsão do projétil
pelo cano da arma, descarta o estojo para fora, de modo que este permanece no local dos
disparos, facilitando assim as investigações e a identificação da arma que produziu os
disparos.
Fuzis e rifles em geral disparam projéteis de alta velocidade – duas vezes maior do que
a velocidade do som (680m/s). Assim, toda e qualquer arma que dispare projéteis na
velocidade duas vezes maior que a velocidade do som são classificadas como armas de fogo
Já as armas de fogo que disparem projéteis numa velocidade abaixo de 340m/s são
classificadas como armas de fogo de baixa velocidade, e são geralmente de uso permitido.
Por isso, as lesões causadas pelos projéteis de arma de alta velocidade PODEM ser maiores
do que as lesões causadas pelos projéteis de baixa velocidade, pois os de alta velocidade
possuem maior quantidade de energia.
4.7.2 Munição
33
Essa combustão se dá com o acionamento da espoleta (cápsula de espoletamento), que
produz fogo a partir de uma mistura química sensível ao impacto/pressão. O impacto é dado
pelo percutor da arma de fogo, que ativa a mistura química chamada primer, soltando uma
Portanto, a quantidade da carga propelente irá variar de acordo com o tipo de arma e da
distância que se queira atingir o alvo. Quanto mais longe esse alvo estiver, mais carga
propelente terá o estojo para fazer com que o projétil atinja a maior distância possível.
23
mais longe estiver o alvo, maior será a dispersão dos balins e, consequentemente, a distância
entre os ferimentos.
Ocorre que, como os balins são pequenos, o gás resultante da combustão do propelente
pode passar pelo espaço existente entre esses balins. Assim, o fabricante adiciona um material
entre o propelente e os balins (bucha pneumática), que impede a passagem da pólvora entre
os projéteis.
23
PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO. Balística Brasil, 2020. Disponível em: www.balisticabrasil.blogspot.com.. Acesso em:
11/02/2020.
34
Logo, a combustão ocorre antes desse material, fazendo com que os gases empurrem essa
“tela”, e esta, por sua vez, empurre os balins, fazendo com que estes saiam pelo cano da
arma.
24
dos cartuchos de projéteis únicos, ao invés de um só ferimento de entrada irão ter vários
ferimentos de entradas de PAF, encontrando-se agrupados e muito próximos uns dos outros.
A concentração desses ferimentos múltiplos é denominada de rosa de tiro de Cevidalli.
24
PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO – CARTUCHOS DE PROJÉTEIS MÚLTIPLOS. Balística Brasil, 2020. Disponível em:
www.balisticabrasil.blogspot.com.. Acesso em: 11/02/2020.
35
4.7.3 Projéteis transfixantes e penetrantes
I) Projéteis transfixantes:
São projéteis cuja ponta é afunilada e revestida com uma capa de metal mais dura,
possibilitando que o disparo transpasse o alvo ao atingi-lo. As lesões causadas por projéteis
transfixantes apresentam entrada, trajeto e saída.
São aqueles que somente atingem o alvo, penetrando-o, mas sem atravessá-lo. Entra e
não sai. É o caso do projétil hollowpoint, cuja ponta é feita de chumbo mais macio, o que
permite a deformação do projétil de modo que ele não atravesse o alvo e atinja pessoa
diversa da pretendida. As lesões causadas por eles somente apresentam entrada e trajeto.
Vejam nas imagens25 a seguir as características aqui descritas nos dois tipos de projéteis
de arma de fogo:
25ROSA DE TIRO DE CEVIDALLI. Abordagem Policial., 2020. Disponível em: www.abordagempolicial.com. Acesso em: 11/02/2020.
36
Na imagem à esquerda temos um projétil transfixante de arma de fogo, podendo ser
observadas as características descritas acima no seu conceito, tendo uma ponta mais fina e
Ao lado, temos um projétil penetrante, mais conhecido como “hollowpoint”, cuja ponta é
mais larga e com uma cavidade no meio, sendo feito de um chumbo mais macio, que
permite a sua deformação após o tiro e ao atingir o alvo, fazendo com que ele se fixe
melhor nos tecidos, impedindo assim que ultrapasse o alvo pretendido.
Coeficiente balístico:
projétil. Quanto maior for o coeficiente balístico, mais o projétil penetra no alvo. Portanto
nos projéteis transfixantes, o coeficiente balístico é maior. Ao contrário, nos projéteis
𝐌𝐚𝐬𝐬𝐚
𝑪𝑩 =
𝐅𝐚𝐭𝐨𝐫 𝐝𝐞 𝐩𝐨𝐧𝐭𝐚²
Quanto maior o calibre e mais grossa a ponta, menos o projétil penetra; quanto mais
fina a ponta, maior o poder de transfixação. Assim, em regra, o projétil que tem a ponta
mais grossa penetra menos, mas transfere mais impacto para o alvo. O projétil que tem a
ponta mais grossa é chamado de semi-jaquetado e canto vivo.
37
Existe uma importância fundamental presente em grande parte das armas de fogo, que são
as raias presentes nos canos das armas. Ao se efetuar o disparo da arma de fogo, o projétil é
empurrado pelo cano da arma, que lhe dará a direção de sua trajetória.
Logo que é disparado e sai do cano da arma, o projétil encontra o ar como barreira, o que
faz com que ele comece a perder estabilidade. Em atenção a isso, os fabricantes de arma de
fogo produzem armas de cano caiado. Trata-se de um cano que, em seu interior, possui
saliências e reentrâncias em formato de espiral, que fazem com que o projétil, ao atravessar o
cano, faça rotações de 360 graus em torno de seu próprio eixo.
É esse movimento rotacional que faz com que o projétil atravesse as camadas de ar com
mais facilidade e, por consequência, adquira maior estabilidade durante sua trajetória,
atingindo com maior precisão o alvo.
26
A espingarda tem uma diferença quanto às demais armas, pois o seu cano é liso, não
tendo saliências ou reentrâncias para fazer o projétil girar (armas de cano raiado). Como é de
cano liso, a arma não terá muita precisão, sendo mais indicada para efetuar disparos à
26
RAIS DA ARMA DE FOGO. Balística Brasil, 2020. Disponível em: www.balisticabrasil.blogspot.com. Acesso em:
11/02/2020.
38
pequena distância. Por essa razão, grande parte das espingardas são de cartuchos de
Cada caso tem suas próprias raias, que diferem de uma arma para outra. Ao passar pelo
cano da arma, o projétil fica marcado com o mesmo desenho das raias, marcas essas que são
chamadas de estrias. Logo, sendo localizado o projétil de arma de fogo disparado, seja no
local do crime ou no corpo da vítima, é possível para a polícia, uma vez apreendida a arma
suspeita de efetuar os disparos, determinar se aquele projétil encontrado foi disparado por
aquela arma.
Isso porque cada cano de arma possui raias únicas, que marcam os projéteis que são
deflagrados através de seu cano com aquelas características. Fazendo uma analogia, as raias
do cano funcionam como se fossem as impressões digitais de uma arma. Assim, é possível
para a polícia determinar, através de uma análise comparativa, se determinada arma foi ou
não utilizada para cometer determinado crime sob investigação.
Não obstante, esse método investigativo não oferece plena certeza de identificação da
arma. Isso porque o cano, como é uma peça integrante da arma, pode ser trocado. Isso
comumente acontece quando os suspeitos passam a saber que estão sendo investigados pela
prática de um crime, e por isso substituem o cano de sua arma por outro, dificultando o
disparo torna-se mais fácil para os peritos. Isso porque ao ser efetuado o tiro, o projétil é
lançado pela boca da arma e os estojos da munição ficam no chão, nas proximidades do local
onde se encontrava o atirador. Assim, ao verificar a distância entre os estojos e o corpo da
39
vítima no local do crime, é possível aos peritos estabelecer, aproximadamente, a que distância
O mesmo não ocorre com os revólveres, pois os estojos ficam armazenados nas câmaras
do tambor da arma, desaparecendo junto com o atirador, o que dificulta mais o trabalho da
polícia.
apenas o projétil de arma de fogo que sai do cano da arma, mas também outros elementos, a
saber: chamas de fogo; gases superaquecidos, resíduos de pólvora, fumaça e outras
distância a que foi dado o disparo de arma de fogo, a vítima também pode ser atingida por
esses elementos que saem da boca da arma, sendo possível ao perito determinar com relativa
27
27
CONE DE DISPERSÃO. Studocu, 2020. Disponível em: www.studocu.com. Acesso em: 11/02/2020.
40
Assim, o disparo ocasiona: propulsão do projétil, saída de chamas, pólvora queimada
(fumaça) e pólvora não queimada (resíduos). O conjunto disso tudo é o cone de dispersão.
No nível 1 existe a chama causada pela explosão; no nível 2 existe a fumaça; no nível 3
existem as partículas da pólvora; no nível 4 existem as partículas de metal, e após todo esse
O contato de cada um desses elementos com a pele da vítima irá ocasionar um sinal
diferente, chamado de orlas, halos ou zonas, que serão detalhadamente estudados nos
tópicos seguintes.
II) Tiro a curta distância: o alvo encontra-se dentro do alcance do cone de dispersão,
podendo a perícia determinar, com aproximação, por meio do exame de balística, a
distância a que foi efetuado o disparo de acordo com o tipo de arma que o
produziu.
IV) Tiro encostado: quando o disparo é efetuado com a boca do cano da arma
encostado no corpo da vítima, restando evidenciado no seu corpo algumas marcas e
sinais característicos dessa distância, quando presentes alguns efeitos secundários 28.
A grosso modo, se a vítima foi atingida só pelo projétil, o tiro foi deflagrado à
distância, sendo esta qualquer distância maior do que o alcance do cone de dispersão.
Nesses casos, é impossível para a perícia determinar com exatidão a distância do disparo.
Somente quando o alvo está dentro do cone de dispersão (tiro a curta distância ou à
28
Vide questão 8 deste material.
41
queima roupa, a depender do caso), é que é possível indicar o alcance do disparo e a
Assim como a mancha de pólvora pode sujar o corpo da vítima, também pode sujar as
deixados e o percentual de cada um deles nas mãos do atirador, levando o perito a concluir
que se trata realmente de um disparo de arma de fogo.
Muitas vezes a própria vítima possui resíduos nas mãos, mas porque tentou se defender
dos disparos segurando o cano da arma. Assim, a localização dos resíduos de pólvora é
diferente na vítima e no atirador, viabilizando assim necessária a exata verificação do local dos
Ferida de entrada
Conforme estudado no tópico anterior, quando se mencionar que o disparo foi efetuado a
distância, significa dizer que o alvo está fora do alcance do cone de dispersão. Nesta
modalidade de tiro, apenas o projétil atinge o corpo da vítima, sendo evidenciados apenas os
efeitos primários do projétil de arma de fogo. Nessa hipótese, a lesão terá como
características:
42
Zonas, halos ou orlas – lesões de entrada sem anteparo ósseo:
Quando o projétil vai entrar na pele, por ela ser elástica, acaba por fazer uma bainha para
dentro, como forma de resistência à entrada do projétil, que recebe o nome de invaginação.
No entanto, como o projétil atinge a pele com uma energia muito grande, a pele não
consegue barrar a sua entrada, ocasionando em um buraco, voltando a pele a sua posição
normal. Por isso, o ferimento de entrada do projétil normalmente é menor que o calibre do
projétil. Verifique na imagem29 abaixo um esboço da ação de entrada do PAF:
Trajeto x Trajetória
O caminho do projétil, após ser deflagrado, até entrar no corpo da vítima se chama
denomina-se trajetória (sendo analisada pelo perito criminal); ao entrar no corpo, o caminho
que o projétil percorre chama-se trajeto (sendo analisado pelo perito legista).
29
GALVÃO, Malthus. Entrada de PAF. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
43
1) Orla de enxugo ou alimpadura:
É uma lesão de entrada de projétil de arma de fogo. Antes de entrar no corpo da vítima, o
projétil encontra-se sujo, seja por pólvora, partículas de metal ou até mesmo poeira do ar. No
momento em que o projétil atinge a vítima, a lesão de entrada forma uma escoriação,
trazendo a sujeira do projétil para a derme da vítima (orla de enxugo). Logo, o enxugo é a
A presença da orla de enxugo na pele da vítima garante que aquela é uma lesão de
entrada de projétil de arma de fogo, sendo uma lesão patognomônica denominada sinal de
Chavigny.
Nem toda lesão de entrada de PAF terá a orla de enxugo. Pode ocorrer de um mesmo
projétil entrar duas vezes no corpo da vítima, na hipótese de um PAF transfixante atravessar o
braço e entrar no tórax, por exemplo. Nesse caso, haverá duas lesões de entrada, sendo que
a primeira apresentará a orla de enxugo, mas a segunda não! Por isso é preciso ter cuidado
com as assertivas de prova, pois todo ferimento que apresentar orla de enxugo garante que é
uma lesão de entrada de PAF, mas nem toda lesão de entrada de PAF apresentará
Quando se arranca a epiderme e expõe a derme, teremos uma escoriação. Logo, como o
PAF penetrou na pele, em volta da orla de enxugo, haverá uma escoriação (orla de
escoriação). E em volta dessa escoriação, haverá uma área de equimose (orla de equimose).
Portanto, na lesão de entrada de PAF haverá três contornos:
44
A escoriação por fora e o enxugo por dentro formam o Anel de Fisch. Vejam a seguir
na imagem30 abaixo:
Quando da observação do anel de Fisch, nem sempre a escoriação formada pela entrada
do PAF será uniforme, podendo ser maior em determinadas áreas do que outras
(escoriação excêntrica ou em meia lua). Logo, quando, na lesão de entrada de PAF, houver
uma área de escoriação maior do que o restante do contorno do ferimento, isso indicará a
direção de onde veio o projétil. Assim, a “pedra do anel de Fisch” é a escoriação, em que a
maior área dessa escoriação indica a direção de incidência do projétil.
Se, ao contrário, a escoriação for totalmente uniforme (concêntrica), não havendo áreas
maiores do que outras, há de se concluir que o tiro foi frontal (o corpo da vítima com o cano
da arma fazem um ângulo de 90º. Veja na imagem abaixo a área mais escura da entrada do
PAF, indicando que o tiro incidiu na diagonal da direita para a esquerda e de cima para baixo:
30
GALVÃO, Malthus. Anel de Fisch. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
45
O perito, quando descreve a incidência do projétil de arma de fogo, faz o detalhamento
com o cadáver deitado na mesa de autópsias. Logo, não é possível determinar a direção do
agressor quando da efetuação do disparo. Uma coisa é a posição do tiro com o cadáver na
Toda lesão de entrada de PAF apresenta uma zona (orla) de escoriação e de contusão,
caracterizando o anel de Fisch, como explicado anteriormente. A pele oferece resistência à
Como o PAF atravessa a pele, arrancando parte da epiderme e expondo a derme, forma a
escoriação (orla de escoriação). Além disso, como o projétil imprime uma ação contundente
(agre por pressão), ao redor dessa orla de escoriação forma-se uma zona de contusão, que é
uma equimose ao redor da ferida de entrada. Na imagem31 abaixo é possível visualizar uma
equimose no canto superior esquerdo do buraco de entrada:
31
GALVÃO, Malthus. Orla de Contusão. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
46
3) Orla de chamuscamento:
Trata-se de um efeito secundário do disparo de arma de fogo. Caracteriza-se por ser uma
queimadura que ocorre quando a chama do cano de dispersão do disparo atinge a pele da
vítima. Quando está presente a orla de chamuscamento, o tiro é classificado como tiro à
queima roupa. Só é tiro à queima roupa se houver chamuscamento; se não, será tiro à
curta distância.
Na imagem abaixo é possível ver uma área negra ao redor do ferimento de entrada do
PAF, sendo este o aspecto desse efeito secundário do tiro:
32
É a superfície da pele da vítima atingida pela fumaça do disparo, como parte do cone de
dispersão. Quando presente este sinal, o tiro é classificado como tiro a curta distância. A
fumaça que atinge a pele é resultado da combustão da pólvora, sendo disseminada pelos
gases superaquecidos.
32
GALVÃO, Malthus. Orla de Chamuscamento. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
47
5) Orla de tatuagem:
34
33
GALVÃO, Malthus. Orla de Esfumaçamento. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
34
GALVÃO, Malthus. Zona de Tatuagem. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
48
Apenas o chamuscamento, o esfumaçamento e a tatuagem estarão presentes sempre
que o tiro for efetuado a curta distância (queima roupa). Já as demais estarão presentes em
Ocorrem nas hipóteses de tiro encostado., ou seja, quando o disparo for efetuado com a
boca da arma encostada na pele. Os resíduos acompanham o projétil, mas sem formar
aquela zona em volta do ferimento. Nesse caso, os resíduos entram junto com o projétil.
Se no local em que for efetuado o tiro encostado tiver osso, o projétil passa, mas os
gases batem no osso e voltam, estufando a pele. De acordo com a quantidade de gás, a
pele poderá rasgar muito, pouco ou não rasga. Esse ferimento é chamado de boca ou câmara
de mina de Hoffman. Confira nas imagens abaixo a dinâmica da ação dos gases do disparo e
o aspecto da lesão:
35
35
GALVÃO, Malthus. Tiro Encostado. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
49
36
O buraco que é produzido se dá em razão não do projétil, mas sim dos gases
provenientes do disparo.
Evidências no osso:
a) Sinal de Benassi:
A região óssea atingida pelo disparo fica suja de pólvora, (sinal de Benassi),
Na imagem acima é possível perceber que, para além da cratera feita na pele, existe uma
região óssea em torno do buraco de entrada que está negra, devido ao contato da pólvora
com o osso.
O sinal de Benassi e a câmara de mina de Hoffman estão sempre presentes nos casos
de tiro encostado com anteparo ósseo por baixo.
36
GALVÃO, Malthus. Boca de Mina de Hoffman. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
50
37
óssea do crânio é formada por duas camadas de osso sobrepostas, que são as chamadas
tábuas internas e tábuas externas. Quando ocorre ferimento de entrada de PAF no osso do
crânio, forma-se um buraco duplo nos ossos cranianos, sendo um buraco de menor diâmetro
no primeiro plano ósseo, e outro de maior diâmetro no segundo plano ósseo, como se fosse
a estrutura de um “tronco de cone”, formadas em bisel (corte inclinado).
Quando o projétil entra no crânio, ele faz uma lesão no osso com a base (buraco maior)
virada para dentro do crânio. Quando ele sai, faz a mesma lesão, mas com a base voltada
para fora do crânio, permitindo assim ao legista identificar o buraco de entrada e o de saída
37
GALVÃO, Malthus. Sinal de Benassi. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
51
38
Percebam, na imagem acima, que o buraco é afunilado, tendo seu diâmetro maior na parte
mais superficial do osso, e seu diâmetro menor na parte interna, indicando os locais de
entrada e saída do PAF. Assim, mesmo que esqueletizado é possível verificar no cadáver os
locais de entrada e saída do projétil de arma de fogo.
Quando há casos de tiro encostado em regiões do corpo que não possuem anteparo
ósseo, a pele fica gravada com o decalque da boca do cano da arma. A essa lesão dá-se o
nome de sinal de Puppe-Werkgaertner. Os gases entram na pele, e, como não há anteparo
ósseo, empurram a pele contra a boca da arma, caracterizando uma lesão termomecânica,
38
GALVÃO, Malthus. Tronco de Cone de Bonnet. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
52
causada pelo calor e pela pressão exercida pelo cano da arma, funcionando como se fosse um
39
Se o atirador puser um anteparo entre o cano da arma e o local do disparo na vítima, ele
está impedindo que os resíduos (cone de dispersão) cheguem à pele, só chegando o
projétil, ocasionando a escoriação e o enxugo. Assim, pode induzir o perito a concluir que se
trata de um tiro à longa distância, mesmo tendo sido deflagrado à curta distância.
Assim como o anteparo pode reter os resíduos do disparo, também poderá criar novos
resíduos diferentes dos resíduos do disparo. Poderá confundir o perito, levando-o a concluir
que foi um tiro de longa distância. Dessa forma, não é possível afirmar que todo e qualquer
resíduo encontrado em volta do ferimento de entrada do PAF foi causado pelo disparo.
39
GALVÃO, Malthus. Sinal de Puppe-Werkgaertner. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso
em 11/02/2020.
53
Sinal de Bonnet para tiro em vísceras (órgãos):
Esse sinal caracteriza-se por ser uma auréola equimótica ao redor do ferimento de
entrada do PAF nos órgãos.
40
Em geral, tem forma irregular, bordas reviradas para fora, maior sangramento e não
apresenta orla de escoriação nem de enxugo, nem mesmo a presença dos elementos químicos
resultantes da combustão da pólvora.
41
40
GALVÃO, Malthus. Sinal de Bonnet nas Vísceras. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
54
4.8.2 Com projéteis múltiplos/desfragmentado
Nessa hipótese, pode haver variação em relação a ter percutido ou não em anteparos
42
Como dito no tópico referente à classificação das armas de fogo, são considerados
projéteis de alta energia aqueles que são disparados numa velocidade duas vezes superior à
velocidade do som (680m/s).
As principais diferenças entre as lesões dos projéteis de arma de fogo de alta energia são:
a) O fenômeno da cavitação;
b) Lesões de entrada e de saída;
41
LESÃO DE SAÍDA DE PAF. Perícia Criminal Alagoana, 2020. Disponível em:
www.periciacriminalalagoana.blogspot.com. Acesso em: 11/02/2020.
42
GALVÃO, Malthus. Lesão de Saída de PAF. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
55
Em relação às lesões de entrada de PAF de alta energia, não há muitas diferenças entre os
aspectos abordados em relação às lesões de entrada dos projéteis comuns, pelo que
detalharemos mais a explicação nos pontos de maior divergência.
O fenômeno da cavitação também existe nos projéteis comuns, mas que, no entanto, são
percebidos de maneira mais sutil. No que se refere aos projéteis de alta energia, as lesões,
principalmente as de saída, tem danos mais expressivos, justamente por conta da cavitação,
que, em alguns casos, sua amplitude máxima pode coincidir com o ferimento de saída,
fazendo com que essa lesão seja bem maior que o ferimento de entrada.
Em relação à anatomia e dinâmica dos projéteis em si, a principal diferença entre os PAF’s
de alta energia e os comuns, além do calibre e do fator de ponta, está na energia cinética que
𝐌. 𝐕²
𝑬𝑪 =
𝟐
o dano que ele consegue causar. Dentro da dinâmica dos projéteis de alta energia, o ponto
mais importante e diferencial está no fenômeno da cavitação.
4.9.1 A cavitação
Esse fenômeno pode se dar de duas formas: temporária ou permanente. Quando há essa
transferência de energia do projétil para os tecidos humanos dentro do corpo (trajeto), ocorre
o deslocamento centrífugo desses tecidos (um afastamento interno dos tecidos por onde
passa o projétil). Quanto maior for a troca de energia entre o projétil e os tecidos, maior será
a cavidade, e, consequentemente, maiores as lesões.
56
O início da lesão é chamado de “colo”. À medida que o projétil transmite sua energia para
os tecidos, há uma tendência de que ele perca a sua estabilidade, fazendo com que gire ao
redor do seu próprio eixo, de forma simétrica ou não, expondo às vezes a sua maior face no
ferimento de saída (o que causa uma lesão muito maior do que se ele saísse de ponta).
Isso gera um maior atrito e retenção da energia cinética nos tecidos, razão pela qual, nesta
parte do trajeto, haja maior amplitude das cavidades temporárias e permanentes. Quanto
maior for a resistência dos tecidos, maior será a capacidade de transferência de energia,
acarretando a desaceleração do projétil. Nessa hipótese, há grande probabilidade de que a
lesão de saída não seja tão grande quanto seria se os tecidos terminassem no ponto de
amplitude máxima da cavidade. Veja na ilustração abaixo:
43
Os autores afirmam que a infiltração hemorrágica dos tecidos adjacentes ao trajeto do PAF
não ocorre.
43
GALVÃO, Malthus. Cavitação de PAF de Alta Energia. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br.
Acesso em 11/02/2020.
57
Conforme observamos no estudo da cavitação, o tamanho do trajeto, a velocidade e a
encontre o ponto de saída no momento em que exponha sua maior face (o projétil se
encontre “em pé”), fazendo com que o ferimento de saída seja consideravelmente maior que o
Nos casos de desfragmentação, seja pelo próprio projétil, seja por ter se chocado contra
um osso, pode haver mais de um fragmento tendente a sair, o que, consequentemente, gerará
mais de uma lesão de saída.
A lesão de saída pode ser maior ou menor que a de entrada. Se a lesão de saída coincidir
com o maior ponto de amplitude da cavidade temporária, será imensa. Se ficar além do plano
da cavitação, e houver a saída de apenas uma parte do projétil, produzirá uma lesão inferior à
da entrada.
58
44
4.10.1 Conceito
O blast provém do idioma inglês, que quer dizer “sopro”. Quando ocorre uma explosão, a
força expansiva dos gases promove uma onda de pressão que resulta no arrastamento de
partículas de metal que compõem o artefato explosivo para diversos lugares distintos, sempre
do centro para fora, em razão da força centrífuga. Assim, cada estilhaço do artefato, como,
por exemplo, uma granada, vira um projétil de arma de fogo. Assim, a depender da distância
Atinge as pessoas que se encontram mais próximas do foco da explosão, pelo que a morte
resulta de elevadas temperaturas e uma pressão muito grande. Normalmente o corpo é
dilacerado, destruído completamente, podendo ser encontrados pedaços da vítima a distâncias
44
GALVÃO, Malthus. Lesão de Saída de PAF de Alta Energia. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br.
Acesso em 11/02/2020.
59
A força expansiva dos gases é tão forte que arremessa os destroços da vítima por dezenas
de metros, e como há uma temperatura muito alta, devido à uma reação exotérmica, os
pedaços normalmente estão queimados, carbonizados.
Atinge pessoas que estão um pouco mais distantes do foco da explosão, sendo as vítimas
atingidas por fragmentos do explosivo ou de outras partículas sólidas que estão no centro
da explosão, como pedaços de madeira, de ferro, de vidro que são espalhados com a
Atinge pessoas que estão fora do alcance das partículas espalhadas pela explosão, mas que
afeta as vítimas pela onda de pressão oriunda da explosão. Assim, ainda que fora do alcance
dos objetos e fragmentos espalhados pela força da explosão, as pessoas são atingidas pela
onda de pressão, podendo sofrer lesões por ação contundente, devido à força expansiva dos
Pode ocorrer que nem todas as pessoas morram pela ação direta da explosão, vindo a
serem socorridas ao hospital. Se lá as vítimas do evento vierem a falecer em razão das lesões
O blast pode se propagar em qualquer meio, sendo no ar, na água ou na terra, recebendo
60
QUADRO SINÓTICO
61
Instrumentos puntiformes, finos, cilíndricos ou cilindrocônicos,
incisas Características:
62
Sinais de Romanese, Lacassagne e Gilvaz:
Lesões de defesa
b) Lesões de hesitação: localizadas em áreas que,
e lesões de normalmente, são utilizadas para suicídio, podendo ser
cortante no
Degolamento: corte na região posterior do pescoço,
pescoço
onde fica a “gola” da camisa, tendo por esta razão esse
nome
64
múltipla e cominutiva, fechada ou exposta, em galho verde,
por uma flexão. Por ocorrer, ainda, pela ação de duas forças
opostas agindo no mesmo ponto, caracterizando o que se
chama de cisalhamento.
65
de médio calibre:
66
provenientes do disparo da arma.
VIII) Tiro encostado: quando o disparo é efetuado com a
boca do cano da arma encostado no corpo da vítima,
restando evidenciado no seu corpo algumas marcas e
sinais característicos dessa distância, quando presentes
alguns efeitos secundários.
vítima.
Escoriação/contusão: Como o PAF atravessa
a pele, arrancando parte da epiderme e
expondo a derme, forma a escoriação (orla
de escoriação). Além disso, como o projétil
67
imprime uma ação contundente (agre por
68
Sinal de Benassi: a região óssea atingida pelo
lesões.
69
Quando ocorre uma explosão, a força expansiva dos gases
explosão
70
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(UEG - NÚCLEO - 2008 - PC-GO - Delegado de Polícia) A lesão conhecida como mordedura
ou dentada produzida pela arcada dental humana, em razão de suas características, classifica-
se como
A) cortocontudente.
B) contundente.
C) perfurante.
D) perfurocontundente.
Comentário:
Questão 2
71
tecidual. O perito conclui que se trata de mordedura. As feridas produzidas por mordedura
A) perfuro-contundente.
B) contundente.
C) corto-contusa.
D) perfuro-cortante.
E) corto-contundente
Comentário:
Mais uma vez a questão aborda a classificação da lesão produzida por mordida humana.
Percebam que esse é um tema recorrente e de alta incidência nas provas. Como vimos, a
arcada dentária humana é classificada como agente cortocontundente, sendo a lesão por
ela produzida classificada como cortocontusa. O gabarito que responde à questão,
Questão 3
(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) Um cadáver encontrado próximo à linha férrea
A) esquartejamento e esgorjamento.
B) esquartejamento e decapitação.
C) espojamento e esgorjamento.
D) esquartejamento e vitriolagem.
E) espojamento e decapitação.
72
Comentário:
Essa questão já foi abordada no capítulo anterior, mas que mostra muito mais
pertinência com a matéria tratada no presente capítulo, e por isso não custa relembrar!
As feridas incisas podem ser feitas por instrumentos cortantes, perfuro cortantes e corto
contundentes. No que tange a estes últimos, a ação corto contundente é aquela que
além da incisão (corte) também produz um trauma por contusão (pancada), devido a
uma certa quantidade de massa presente no instrumento corto contundente que seja
utilizado para a produção da lesão. Assim, é possível que, além dos cortes, a pressão
Questão 4
(FUMARC - 2011 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) Diante de uma ferida linear, com
a) Cortocontundente
B) Contundente.
C) Perfurante.
73
D) Cortante.
Comentário:
Questão 5
A) cortantes.
B) cortocontundentes.
C) perfuro cortantes.
D) perfuro contundentes.
E) perfurantes.
Comentário:
físicos mecânicos e suas respectivas lesões. Dentre as alternativas trazidas pela questão, a
única que não possibilita um instrumento capaz de produzir mutilações é a que se refere
aos agentes perfurantes. Lembrem-se das características das lesões por eles produzidas,
como sendo uma lesão em forma de ponto, mais profunda do que extensa, e quase que
imperceptível a olho nu, recebendo o nome de feridas punctórias ou puntiformes,
74
atuando no afastamento das fibras elásticas da pele e das fibras musculares. Sendo
assim, a lesão em evidência não ocasiona o risco ou até mesmo a mera possibilidade de
haver mutilações do corpo humano. E, indo mais além, a alternativa sequer especifica o
dois gumes (2ª Lei de Filhós – lei da semelhança). A resposta correta e que atende ao
enunciado da questão, portanto, encontra-se na alternativa “e”.
Questão 6
Comentário:
apresentam lesões regulares e bordas invertidas, uma vez que o projétil, via de regra,
atinge o corpo da vítima ainda com certa estabilidade, penetrando de ponta, e forçando
sua entrada na pele por pressão de fora para dentro, ocasionando a retração dos tecidos
e gerando bordas invertidas. Já o ferimento de saída pode se apresentar com
características opostas, sendo uma ferida irregular com as bordas da pele voltadas para
75
fora (evertidas). A resposta que atende ao enunciado da questão se encontra, portanto,
na alternativa “d”.
Questão 7
(FUMARC - 2011 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) Considerando as lesões produzidas por
A) Bonnet.
B) Carrara.
C) Strassmann.
D) “Terraza” de Hoffmann.
Comentário:
Aqui temos uma abordagem referente à lesão de entrada de PAF em planos ósseos
cranianos. Conforme vimos, a estrutura do osso craniano é formada por duas camadas:
tábua interna e tábua externa, pelo que o projétil, ao penetrar nos ossos do crânio,
acarreta necessariamente uma fratura dupla, em forma de “tronco de cone”, em que o
na letra “a”.
Questão 8
de arma de fogo com buraco de mina de Hoffmann, escoriação de massa de mira (sinal
deWerkgartner), zona de esfumaçamento, zona de tatuagem, equimoses e queimaduras, está
relacionada com:
A) tiro disparado a grande distância.
B) tiro disparado de arma de fogo de grosso calibre.
76
C) tiro disparado a curta distância.
E) tiro encostado.
Comentário:
fogo verificados na pele da vítima, quando esta esteja dentro do alcance do cone de
dispersão. Verificamos no tópico referente às lesões de entrada de PAF que, para além
do PAF, outras lesões características desse tipo de disparo, que recebem o nome de
orlas, halos ou zonas, sendo basicamente a orla de chamuscamento; orla de
“à queima roupa”. Ainda há ocasiões em que o tiro pode ser desferido com o cano da
arma encostado no corpo da vítima, acarretando outros sinais, que se diferenciam a
depender de haver ou não anteparo ósseo por baixo da área em contato com a boca da
arma. Essas lesões ou sinais são chamados de boca de mina de Hoffman (quando há
anteparo ósseo por debaixo da região em contato com a arma) e sinal de Puppe-
77
Questão 9
a
A) primeira lei de Filhos
D) lei de Langer
Comentário:
Aqui estamos diante do tema referente às lesões produzidas por instrumento perfurante
de médio calibre. Vimos nesse tópico do assunto que essas lesões apresentam uma
forma característica que se parece com as lesões perfuro incisas produzidas por
instrumentos perfuro cortantes de dois gumes, apresentando o aspecto de fenda, sendo
chamada de ferida em casa de botoeira. Para explicar esse fenômeno, a doutrina médico-
legal aplica as duas Leis de Filhós, sendo a da semelhança e a do paralelismo. Conforme
narra o enunciado da questão, a hipótese nele descrita se amolda à Lei da Semelhança,
ante as razões aqui explicadas. A resposta, portanto, está na letra “a”. Lembram-se: 1ª Lei
Questão 10
(Funiversa - 2015 - PCDF – Legista) Nas explosões, o efeito causado por fragmentos do
artefato, como estilhaços de granada e projéteis colocados em seu interior, e por pedaços de
B) bends tipo 2.
C) blast primário.
D) blast secundário.
78
E) blast terciário.
Comentário:
Ótima questão! Aqui se trata das lesões e mortes pela ação de explosivos, denominada
pressão, pelo que a força expansiva dos gases envolvidos na combustão arrasta todas as
partículas sólidas localizadas no foco da explosão, bem como partículas de metal
integrantes do próprio artefato explosivo. Assim, a força expansiva dos gases arrasta e
arremessa tudo o que está em volta do artefato, de modo que suas partículas de metal
mortes causadas pela ação do blast secundário. A nossa resposta, então, encontra-se na
alternativa “d”.
E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e
praticando bastante! Vamos juntos até a aprovação! Até mais!!!
79
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 - E
Questão 3 - B
Questão 4 - D
Questão 5 – E
Questão 6 - D
Questão 7 - A
Questão 8 - E
Questão 9 - A
Questão 10 - D
80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed.
São Paulo: Editora Saraiva, 2007.
em: 11/02/2020.
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015,
p. 360.
81
LESÕES DE DEFESA. Forsci Projetos Educacionais, 2020. Disponível em:
11/02/2020.
Acesso em 11/02/2020.
82
CARREIRAS POLICIAIS
Medicina Legal
Capítulo 5
SUMÁRIO
5.5.1. Situações de descompressão - Doença dos caixões ou mal dos escafandristas. ...................................27
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 41
1
MEDICINA LEGAL
Capítulo 5
Primeiramente, é necessário esclarecer que o calor nada mais é do que uma energia
calor (propriamente dito) quanto pelo frio, podendo se dar por atuação difusa ou atuação
direta.
Em se tratando do calor quente, se a fonte de calor tiver contato direto com a vítima
(condução), dá-se à lesão o nome de queimadura. Ao contrário, se a fonte de calor não tem
contato direto com a vítima (ação a distância ou atuação difusa), as lesões recebem o nome
de termonoses.
2
Aqui há um primeiro questionamento de certa recorrência nas provas de concursos, em
Quando se trata de fonte de calor frio, o contato direto da fonte de calor com o corpo
recebe o nome de geladura. Quando age de maneira difusa (à distância), recebe o nome de
hipotermia.
a) Insolação:
exposição a outra fonte de calor que não seja o sol. Segundo Hygino, a insolação seria um
distúrbio no mecanismo de controle da temperatura corporal.
3
o mau funcionamento do hipotálamo. Para o professor Hygino, portanto, a insolação nada
mais seria do que um distúrbio proveniente de uma lesão no hipotálamo, fazendo com que
o mecanismo de regulação da temperatura corporal entre em colapso, de modo a gerar
Ainda segundo o professor Hygino Hércules, pode ser que o hipotálamo esteja
funcionando corretamente, mas outras questões podem atrapalhar na regulação da
temperatura corporal. Para que haja o resfriamento do corpo, é preciso que os níveis de água
nele estejam em níveis satisfatórios para o bom funcionamento e regulação da temperatura
corporal.
Logo, pode ocorrer de uma pessoa estar desidratada, ou, ainda que haja líquido suficiente
para resfriar o corpo, haja algum tipo de problema cardíaco que não permite que a circulação
funcione corretamente. Nesses casos, para o professor Hygino, haverá a intermação. Portanto,
esteja íntegro.
4
Pode ocorrer de uma pessoa estar desidratada, ou, ainda que
INTERMAÇÃO haja líquido suficiente para resfriar o corpo, haja algum tipo de
problema cardíaco que não permite que a circulação funcione
(Hygino Hércules) corretamente. Para o professor, a intermação é resultado de
problemas de desidratação ou problemas cardiovasculares.
a) Intermação
Trata-se de uma termonose causada por outra fonte de calor que não seja o sol (ficar
perto de uma fonte de calor). Atenção para o entendimento do professor Hygino Carvalho
Hércules, explicado acima, que diverge nesse conceito.
Quando uma pessoa faz atividades físicas em grande intensidade, a sua temperatura
corporal tende a se elevar mais do que o normal. Com isso o hipotálamo, agindo na regulação
da temperatura, faz com que as glândulas sudoríparas produzam suor para esfriar a pele.
E o suor, para poder evaporar, puxa o calor do corpo. A função do suor, portanto, é
diminuir a temperatura e a quantidade de calor durante a execução de um esforço físico
intenso.
mantenha maior contato com a pele. Assim, o suor e o relaxamento dos pelos corporais fazem
com que a temperatura do corpo tenda a diminuir, gerando uma condição de estabilidade
térmica.
Por outro lado, há um comando do hipotálamo para que se aumente o ritmo respiratório,
sendo outro mecanismo de diminuição da temperatura corporal ante a maior oxigenação do
organismo.
5
Quando há exposição ao frio, o hipotálamo faz com que os pelos corporais fiquem
arrepiados, ajudando no isolamento da pele com o ar. No entanto, isso não é suficiente,
havendo uma necessidade de que o corpo entre em movimento para que haja o aumento da
temperatura corporal. Assim é que a musculatura do corpo tende a tremer, para que o corpo
produza calor.
Ao contrário, quanto a temperatura ambiente está fria, o hipotálamo manda que os vasos
periféricos se contraiam. Quando os níveis de temperatura abaixam drasticamente, há uma
máxima constrição dos vasos periféricos, acarretando a perda de circulação de sangue nessas
áreas. A consequência disso é a necrose dos dedos das mãos, ponta dos pés, da orelha, ponta
do nariz, acarretando a perda dessas partes do corpo.
As trocas de calor entre o corpo e o ambiente podem se dar das seguintes formas:
Iremos agora no ater para a convexão, que é a modalidade ainda não trabalhada neste
calor e esfriando. Portanto, essas ondas de temperatura entram em contado com o corpo e
levam calor, num processo contínuo de troca de temperatura até que haja a sua estabilização.
I) Fogo:
O fogo tem algumas características, sendo a primeira e mais relevante delas a capacidade
de causar queimaduras de todos os graus (Lussena-Hoffman – 1º ao 4º grau). Outro aspecto
diagnóstico de certeza de que aquela lesão foi causada pela ação do fogo.
As queimaduras de fogo são mais gerais do que locais, não se dando de maneira
uniforme em todas as partes atingidas (algumas áreas serão mais lesadas do que outras),
podendo até mesmo haver áreas íntegras em meio a outras gravemente queimadas. Como as
queimaduras não se dão de maneira uniforme, a doutrina médico-legal afirma que as
1
Vide questão 5 deste material.
7
Em relação a um aspecto prático legal, sabe-se que o homicídio se torna qualificado com
emprego de fogo (art. 121, § 2º, III do CP). No entanto, para que incida a qualificadora em
questão, é necessário que o agente delituoso se utilize do fogo como meio necessário para
produzir o resultado morte, ou seja, tenha o dolo direto de matar com emprego de fogo.
Deve então restar demonstrado o dolo presente na ação, pelo que, sem ele, a qualificadora
Ainda que a vítima não morra instantaneamente por conta das queimaduras, ainda assim
poderá vir a óbito posteriormente, uma vez que o fogo destrói a epiderme, deixando a derme
exposta, o que acarreta intensa perda de água (uma vez que a camada epidérmica é
queratinizada e funciona como impermeabilizante), podendo ocorrer morte por desidratação.
Ainda que se consiga combater essa intensa desidratação, existe um risco muito alto de
infecção por bactérias que entram em contado com a camada mais profunda da pele. Por isso,
quanto mais extensa for a área atingida pelas queimaduras, maior a desidratação e maior a
possibilidade de desidratação.
Para além desse aspecto, a pessoa que vem a ser vítima de incêndio, além das
queimaduras, inala um ar superaquecido e tóxico, impregnado por gás carbônico, proveniente
da combustão. Esse ar quente, ao entrar nas vias respiratórias, causa lesões na parede da
árvore respiratória, que recebem o nome de lesões de inalação. Assim, o fogo queima por
chamadas flictenas.
No entanto, é preciso cuidado na hora do diagnóstico, uma vez que existem diversas
doenças de pele que podem ocasionar lesões bolhosas. Assim, nem toda flictena é resultado
8
de uma queimadura. E, mais ainda, se o indivíduo estiver morto, essas bolhas podem ser
Nessa última hipótese, é relevante o método de diagnóstico diferencial dos dois tipos de
flictenas, uma vez que, em se tratando de queimaduras, essas bolhas foram formadas em vida;
já no segundo caso, essas bolhas apareceram depois da morte.
Para isso, o legista aplica a técnica denominada de reação de Chambert, que consiste na
pesquisa de proteínas do plasma (parte líquida do sangue). Quando se tem uma doença de
pele ou se é vítima de queimaduras, as proteínas do plasma correm para baixo da pele,
Quando o líquido fervente entorna por cima do corpo, na primeira área de contato ocorre
uma queimadura intensa. À medida que o líquido vai escorrendo, vai esfriando, causando
queimaduras menos agressivas. Então, as lesões de queimadura por líquido fervente
9
As lesões apresentam gravidade decrescente ao escorrer;
essas pessoas têm o dever legal de impedir o resultado, pelo que eventual caso de
negligência caracteriza omissão imprópria, nos termos do art. 13, § 2º do Código Penal, pelo
que acabam por responder pelo resultado danoso, incidindo em tipificação de condutas
É o agente vulnerante mais fácil de identificar, uma vez que o contato do sólido
incandescente com a pele da vítima imprime a marca/formato/desenho do próprio
10
Reproduzem a forma do sólido no local da lesão;
Não carboniza;
Não cresta pelos;
Mais geral do que localizada;
ao organismo.
Classificação em graus:
Segundo essa classificação, as queimaduras podem ser de: 1º grau, 2º grau, 3º grau e 4º
11
Como o sangue é quente, o local da queimadura fica esquentado, acarretando o eritema,
Em casos de lesões contusas, a pressão do agente vulnerante que age por percussão
causa o mesmo efeito que o eritema (os vasos se dilatam e a região fica vermelha e quente).
Só que como a ação foi contundente, a vermelhidão e o aquecimento recebem o nome de
rubefação.
ERITEMA RUBEFAÇÃO
Lesão causada pela ação térmica Lesão causada pela ação
(agentes vulnerantes físicos térmicos contundente (agentes vulnerantes
– calor direto, condução). físicos mecânicos de ordem
contundente).
Por vezes, o calor é mais intenso ou permanece em contato com a pele por mais tempo.
Nesses casos, o plasma sanguíneo se acumula embaixo da pele formando bolhas, que, como
vimos, recebem o nome de flictenas. Portanto, as flictenas são bolhas que têm conteúdo
plasmático, sendo verificado a partir da reação de Chambert.
não. Com o passar do tempo, a epiderme se regenera, tal qual ocorre com a escoriação.
Ocorrem quando o calor é tão intenso que passa a ferir a derme, formando verdadeiras
Quando se trata de queimaduras, a cicatriz é retrátil, ou seja, é uma cicatriz que repuxa os
tecidos, gerando uma deformidade no local da queimadura.
2
Vide questão 1 deste material.
12
Por vezes, o braço fica colado no tronco, o antebraço colado no braço, um dedo colado
no outro, por conta de falta de cuidados na recuperação para evitar essa aderência. Assim, as
pessoas vítimas de queimaduras de 3º grau podem perder a mobilidade de membros, bem
Nos termos do art. 129, § 2º, IV, essa lesão é caracterizada como deformidade
permanente, sendo então a conduta (caso criminosa) enquadrada no crime de lesão corporal
Existe um tipo de composto químico líquido chamado ácido, que produz queimaduras
pelo fato de desencadear uma reação exotérmica (liberação de calor). Um dos ácidos mais
Apesar de ser originalmente usado para fazer referência ao ácido sulfúrico, o nome
vitriolagem é também empregado para se referir aos ácidos em geral. No entanto, se nas
alternativas de uma questão de prova vier expressamente ácido sulfúrico e outras
nomenclaturas de ácidos, a resposta que deverá ser assinalada é a que menciona o ácido
sulfúrico.
Local ou geral;
Superficial ou profunda;
13
Poderá ser iatrogênica – resultante de intervenção médica;
Tanto no corpo humano quanto em materiais em geral, é possível que a carbonização ocorra
apenas superficialmente. Isso porque a carbonização funciona como uma proteção isolante
térmica e elétrica, não deixando que o fogo ou a eletricidade atinjam superfícies mais
profundas.
Assim, não é de rara ocorrência que haja carbonização de cadáveres por fora e sua
preservação por dentro. O cadáver encontra-se totalmente carbonizado por fora, mas quando
vai se realizar a autópsia, os órgãos internos como coração, pulmão, intestino e outros estão
íntegros.
A carbonização de um corpo, por maior que seja o calor e o seu tempo de ação sobre os
tecidos, não é capaz de destruí-lo por completo, sobrando dentes e ossos que permitem à
perícia fazer a identificação dos corpos a partir da pesquisa de DNA em materiais biológicos.
da identidade do indivíduo.
identificação, ou seja, os peritos vão comparar o que é encontrado no cadáver com o material
de confronto.
Mas se não há nenhum material de confronto, mas há uma pessoa que viu aquele
indivíduo em vida e que, quando olhar para ele, irá reconhecê-lo, o nome que se dá é o
14
reconhecimento. No entanto, trata-se de uma técnica de alta subjetividade, sujeita a enganos,
encontram-se células mortas, mas com seus núcleos preservados. É a partir disso que é
possível se extrair material biológico para a pesquisa e análise de DNA.
Dentre as partes viáveis para a pesquisa de material genético, os dentes são a melhor
fonte de pesquisa, pois no dente existem vasos sanguíneos e outras células mortas, que são
protegidos pela camada de esmalte dentário.
Por vezes, o exame de DNA não chega a ser necessário para a identificação, sendo
por meio de comparação até mesmo de dados constantes do histórico médico do indivíduo
fornecidos pela família.
Uma vez que é feita a confrontação das características do cadáver com documentos
2) Arcadas dentárias;
3) Cirurgias anteriores;
4) Próteses e órteses no corpo;
5) Sinais anatômicos particulares;
15
6) Objetos de uso pessoal;
carbonizados. Por vezes surgem dúvidas se aquele cadáver já estava morto quando foi
queimado, ou se foi posto ali vivo para morrer das causas do incêndio.
Para isso exige-se um minucioso exame do local onde o cadáver foi encontrado,
Se a pessoa estava viva durante o incêndio, então ela respirou os gases provenientes da
combustão, o que gera resíduos de fuligem que ficam impregnados na traqueia e nos
brônquios do indivíduo.
Se, ao contrário, for examinada a árvore respiratória do cadáver e for constatado que ela
estava limpa e sem nenhuma impureza, há de se concluir que a pessoa já estava morta antes
do início do incêndio.
Quando há combustão, dois gases são liberados: o monóxido de carbono (CO) e o dióxido
de carbono (CO2). O monóxido de carbono fica impregnado no organismo, pois, quando essa
3
Vide questão 10 deste material.
16
substância entra em contato com a hemoglobina, acarreta uma reação que resulta numa
do incêndio.
Se, ao contrário, houver níveis mínimos dessa substância no sangue, há de se concluir que
a pessoa já estava morta antes do incêndio.
Sinal de Devergie:
Membros superiores e inferiores sofrem acentuada flexão e podem mostrar fraturas diversas.
Apresenta aspecto de boxeur, lutador, esgrimista, saltimbanco, etc.
Semelhante ao que ocorre com o calor, pode haver lesão provocada pela ação do frio, de
maneira difusa ou direta. Quando há lesões causadas pela ação difusa do frio, dá-se o nome
de hipotermia4.
4
Vide questão 1 deste material (pág. 160)
17
É importante ressaltar que na ação generalizada (difusa) do frio, não existe uma lesão
Mas, de maneira geral, a atuação difusa do frio gera uma alteração do sistema nervoso,
sonolência, convulsões, delírios, perturbações dos movimentos, anestesias, congestão ou
isquemia das vísceras, podendo advir a morte quando tais alterações assumem maior
gravidade.
Hipóstase vermelho-clara;
São lesões resultantes da atuação direta do frio, apresentando aspecto pálido e anserino 5,
podendo evoluir para isquemia, necrose e gangrena. Possuem a seguinte classificação:
5
Pele anserina: também chamada vulgarmente de “pele de galinha”, sendo ocasionada pela vasoconstricção dos
delicados músculos erectores dos pelos, tornando os folículos desses pelos salientes, devido à rigidez cadavérica.
Aparece mais comumente nos ombros, face lateral das coxas e braços (sinal de Bernt).
18
3º Grau – Necrose ou gangrena, em razão da coagulação do sangue nos capilares e
O frio acarreta uma reação corporal consistente na vasoconstricção doa vasos sanguíneos
periféricos, impedindo que haja circulação de sangue nesses locais, cuja consequência é a
necrose dos tecidos e perda dos membros e partes do corpo mais periferias.
contato direto com o frio, acabaram sofrendo necrose dos tecidos, acarretando perda de
partes do corpo, comumente os pés. Com isso ficou conhecida a expressão “pés de
trincheira”.
Eletricidade
industrial/artificial • Eletroplessão
• Fulguração
Eletricidade
• Fulminação
natural/cósmica
19
Em se tratando da eletricidade industrial, havendo ou não morte, o nome que se dá
edital a obra do professor Higyno. Para os demais autores, há essa diferenciação, pelo que o
Essas lesões, por vezes, podem deixar uma marca/sinal. Esse sinal recebe diferentes nomes
conforme seja a lesão produzida por eletricidade industrial ou eletricidade natural. Vejamos
Lesão dura;
De bordas elevadas;
É seca e indolor;
6
Vide questão 6 deste material.
20
Apresenta profundidades variáveis;
Indica que a vítima foi atingida por corrente elétrica natural (fulguração ou fulminação), a
exemplo de um raio. Quando a corrente elétrica natural passa pelo corpo de uma pessoa, os
vasos sanguíneos ficam dilatados. Como o sistema circulatório dos vasos é ramificado, é
Assim, os vasos ficam dilatados, podendo ser visualizados através da pele. Apresenta as
seguintes características:
Lesão que aparece na pele, mas que ocorre nos vasos sanguíneos afetados;
É uma vasculite;
É eventual e temporária;
7
GALVÃO, Malthus. Marca de Jellineck. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 10/02/2020.
21
A marca é visível na pele, mas a lesão ocorre nos vasos sanguíneos. Atentem para essa
Esse sinal, estando a pessoa viva, desaparece naturalmente com o passar de algumas
horas. Assim, o sinal de Jellinek deixa marcas e cicatrizes (gera uma ferida que cicatriza,
ficando visível); já o sinal de Lichtemberg desaparece por completo, não sendo mais
perceptível após um certo lapso de tempo. É de rara ocorrência, mas o sinal de Lichtemberg
pode aparecer em cadáveres.
A corrente elétrica só penetra no corpo humano se tiver como sair depois. Para isso
acontecer, o corpo do indivíduo tem que estar em contato com a terra, que é o local por
onde ela sempre sai.
8
GALVÃO, Malthus. Sinal de Lichtemberg. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em:
10/02/2020.
22
A corrente elétrica é incompatível com Ohm (unidade de medida de resistência elétrica
presentes nos condutores de eletricidade). Assim, a corrente sempre procura passagem pelos
lugares que oferecem menor resistência elétrica.
Em idênticas condições, a corrente sempre percorre pelo caminho mais curto, ou seja,
havendo dois locais de passagem viável para a corrente, com idênticas medidas de resistência
elétrica, ela sempre percorrerá pelo local que for mais curto para a sua passagem e trajeto.
Daí a razão pela qual as pessoas que trabalham com eletricidade sempre usarem roupas e
adereços (botas e luvas) feitas de material isolante, pois quanto mais matéria isolante, maior a
resistência à passagem da corrente elétrica.
V=Rxi
Assim, uma corrente elétrica movida por uma mesma voltagem poderá ter uma
intensidade maior ou menor, a depender das circunstâncias. Tomemos como exemplo a
hipótese de uma pessoa que venha a entrar em contato com uma fonte de corrente elétrica
artificial. Suponhamos que essa pessoa esteja com a pele seca. Ela receberá um choque com
uma dada voltagem, mas de menor intensidade, pois a pele seca oferece maior resistência à
passagem da corrente.
Em outra hipótese, suponhamos que a mesma pessoa entre novamente em contato com a
mesma corrente, mas que esteja com a pele exposta e molhada. Nesse caso, ela receberá uma
corrente de muito mais intensidade do que na primeira vez, pois o suor, por exemplo, é
composto de água e sais minerais, que são condutores naturais, o que faz com que a
Assim, poderão ser duas as consequências: no primeiro caso, a pessoa leva um pequeno
choque, podendo até mesmo não sofrer lesões; no segundo caso, havendo uma substancial
23
diminuição da resistência de seu corpo à passagem da corrente, criando assim condições
Para efeitos de prova, a questão pode vir a cobrar quais as situações que facilitam a
a) Facilitadores: b) Dificultadores:
Pele úmida; Pele seca
Pele mais fina nas mãos; Pele grossa nas mãos;
Se houver uma única passagem do condutor da corrente com ligações em série (ex.: fio
único e contínuo), a corrente que entra é da mesma intensidade da corrente que atinge o
a menor resistência. Assim, o alvo que estiver no terminal desse local de menor resistência
tomará um choque de maior intensidade do que se estivesse no terminal de maior resistência.
Quando a corrente passa por um local que ofereça uma dada resistência, ela gera uma
Q = R.i².T.(a)
Q – quantidade de calor;
R – resistência;
24
i – intensidade elevada ao quadrado;
T – tempo que a corrente leva para passar pelo condutor;
a – constante numérica;
Se uma corrente elétrica penetrar no corpo pela mão direita e seguir através do antebraço
e do braço, atravessará os tecidos locais com intensidades diferentes, uma vez que os tecidos
(pele, músculo e osso) possuem diferentes resistências. Assim, é possível dizer que os
Suponha que a pele ofereça uma resistência de 5.000 Ω, o músculo uma resistência de
2.000 Ω e o osso ofereça 10.000 Ω. Nessa hipótese, qual dos três segmentos receberá uma
maior quantidade de calor (esquentará mais)?
resistência, chega-se à conclusão que o músculo esquentará mais, pois, como apresenta uma
menor resistência à passagem da corrente, receberá uma amperagem elétrica maior (a
intensidade da corrente elevada ao quadrado), gerando assim uma maior quantidade de calor,
esquentando muito mais do que a pele e o osso.
25
Isso vale para os casos em que a corrente elétrica atravessa os condutores
Nesse caso, aplicando-se a fórmula que calcula a quantidade de calor, receberá uma maior
quantidade de calor aquele condutor que ofereça maior resistência à passagem da corrente.
a) Encéfalo;
b) Cérebro;
c) Tronco cerebral ou tronco encefálico;
Passando por esses locais, o perigo de vida e de gravidade das lesões com possibilidade
de sequela permanente será maior do que se a corrente passar apenas pela pele.
26
II) Lei de Henry: a concentração de um gás dissolvido em uma massa líquida é
III) Lei de Dalton: a pressão exercida por uma mistura gasosa é igual à soma das
dos escafandristas.
para o fundo da água, maior é a pressão exercida sobre seu corpo, tendo em vista a grande
quantidade de água sobre ele.
Aliado a este fato, uma pessoa pode respirar normalmente sob a água através de
ocorre que o primeiro gás é aproveitado pelo corpo humano, enquanto o segundo não.
cada 10 metros a pressão sobe em 1 ATM), os gases vão se dissolvendo em maior quantidade
no sangue, ainda que não sejam utilizados.
no sangue – retorna à forma gasosa de maneira brusca, sem que seja eliminado pelo corpo
humano. É situação similar à que ocorre ao se abrir rapidamente uma garrafa de refrigerante.
manifesta-se com horas ou dias, decorrendo, portanto, do nitrogênio, que pode causar a
ruptura de tecidos humanos.
27
O pulmão, ao nível do mar, tem capacidade para 6 litros de ar, dobrando essa capacidade
a cada 1 ATM. Quanto mais fundo, mais ATM, e, consequentemente, a capacidade de ar vai
aumentando. É um quadro lento e progressivo. Surgem bolhas nos líquidos orgânicos.
restabelecendo uma maior pressão para que ao gases voltem a ser diluídos na corrente
sanguínea e eliminados gradativamente pelo corpo através da respiração.
uma coluna de mercúrio de 760 mm ao nível do mar ou também 1.036 kg/cm², o que
equivale a 1 atmosfera (ATM).
À medida que subimos, essa pressão também diminui e o ar vai ficando mais rerefeito. Há
Tais perturbações são compensadas pela “poliglobulina das alturas”, que se constitui em
É bastante comum nas altitudes acima de 2.500 m, sendo agravado com o esforço físico,
apresentando como sintomas mais comuns a cefaleia (dor de cabeça), dispineia, anorexia,
fadiga, insônia, tonturas e vômitos. Quando crônica, recebe o nome de Doença do Monge
E por hoje é só, pessoal!!! Finalizamos mais um tema de grande importância para as
provas de concursos. Lembrem-se sempre se estar revisando o conteúdo e treinando a
resolução de questões!
28
QUADRO SINÓTICO
de agentes vulnerantes:
1) Ação térmica;
ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA 2) Ação elétrica;
29
VI) Irradiação – é a emissão de calor, atuando de forma
queimaduras:
Fogo;
Líquido fervente;
Sólido incandescente;
Vapores superaquecidos;
rubor secundário;
2º Grau – Flictenas;
3º Grau – Necrose ou gangrena, em razão da
30
Existem dois tipos de eletricidade: a eletricidade
industrial/doméstica/artificial; e a eletricidade
natural/cósmica/meteórica.
seguintes características:
causadas pela
Lesão dura;
ação elétrica
De bordas elevadas;
É seca e indolor;
Apresenta profundidades variáveis;
em paliçada;
31
vasos sanguíneos.
árvore);
Ramificação que reproduz o desenho dos vasos
sanguíneos;
Lesão que aparece na pele, mas que ocorre nos vasos
sanguíneos afetados;
É uma vasculite;
É eventual e temporária;
barotraumas.
32
Mal das montanhas ou dos aviadores:
33
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
desencadeadas por agentes físicos, nas superfícies corporais. Dependendo da causa, podem
ser classificadas em térmicas, elétricas e químicas. As que ocorrem mais frequentemente são
as térmicas, sendo causadas pela exposição ao calor. De acordo com o grau de profundidade
Comentário:
34
Questão 2
(Polícia Civil - MG – Perito - 2011) A mais simples lesão superficial da pele produzida pela
eletricidade artificial caracterizada por consistência endurecida, bordas altas, leito deprimido,
A) Marca de Chambert.
B) Marca de Piacentino.
C) Marca de Jellinek.
D) Marca de Montalti.
E) Marca de Lichtenberg.
Comentário:
pela entrada da corrente elétrica no local específico de contato da corrente com a pele,
que apresenta as características apontadas no enunciado, denomina-se marcas de
Questão 3
A) eletroplessão
B) metalização
C) fulminação
D) eletrocussão
E) fulguração
35
Comentário:
Questão 4
reportando ao capítulo das energias lesivas de ordem física, agindo letalmente sobre o
homem, denomina-se:
A) Eletroemissão.
B) Eletroplessão.
C) Fulminação.
D) Fulguração.
Comentário:
Vejam como são recorrentes as questões que abordam a diferenciação acerca da ação da
Questão 5
(FUNCAB - 2013 - PC-ES - Médico legista) Nas queimaduras por fogo, sob chama direta:
36
C) os pelos estão habitualmente crestados.
Comentário:
Dentre elas, a que mais se destaca é a presença de pelos crestados. Sendo assim, a
alternativa que responde corretamente ao enunciado da questão é a letra “c”. Ademais,
Questão 6
(CESPE - 2012 - PC-AL - Escrivão de Polícia) Julgue os itens a seguir, relacionados a perícias
e a laudos médico-legais.
Para a confirmação da causa morte de uma vítima fatal de eletroplessão o perito deve
identificar, nessa vítima, a marca elétrica de Jellinek, que consiste em uma queimadura bem
definida na pele.
Comentário:
A marca de Jellinek é, de fato, uma lesão produzida pela ação da eletricidade industrial,
da assertiva encontra-se no ponto em que afirma que o perito DEVE procurar a marca de
37
Questão 7
(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) O sinal de Lichtemberg é uma característica que
pode ser encontrada nas mortes por:
A) asfixia.
B) afogamento.
C) eletroplessão.
D) soterramento.
E) fulminação.
Comentário:
Mais uma vez a questão cobra as características e a nomenclatura diferencial das lesões
produzidas pela ação elétrica natural e industrial. Como vimos, a corrente elétrica
industrial produz lesões e morte a partir do fenômeno da eletroplessão; ao passo que a
eletricidade natural ou cósmica gera, de acordo com a maioria da doutrina, dois tipos de
lesão, a depender de haver ou não morte: fulguração (quando não há morte) e
fulminação (quando ocorre a morte). De acordo com o enunciado da questão, nos casos
Questão 8
A) primeiro grau.
B) segundo grau.
C) terceiro grau.
D) quarto grau.
38
Comentário:
Questão 9
A) Calor direto.
B) Ácido sulfúrico.
C) Frio.
D) Calor difuso.
E) Projétil de arma de fogo.
Comentário:
organismo humano, a saber: de forma direta e de forma difusa. Quando atua de forma
direta, as lesões produzidas recebem o nome de geladuras, ao passo que, quando atua
Questão 10
39
C) possui lesões provocadas pela eletricidade.
D) respirou, pois pode ser observada fuligem ao longo de suas vias respiratórias.
Comentário:
Aqui temos um tema bastante interessante e de importância tanto teoria, para efeitos de
prova, quanto prática, para o dia a dia da perícia forense. Trata-se da investigação da
quando o incêndio foi iniciado, significa que ela respirou, inalando a fumaça e os gases
tóxicos provenientes da combustão. Com isso, haverá vestígios de fuligem impregnando
sua traqueia e sua árvore respiratória como um todo. Isso porque o fogo produz lesões
externas e também internas. A essas características dá-se o nome de sinal de Montalti. O
gabarito que resonde corretamente nosso enunciado, portanto, está na alternativa “d”.
Questão 11
rio e sobre muito rapidamente pode estar sujeito aos efeitos da descompressão. Tal fato é
considerado um:
Comentário:
Como vimos no tocante às lesões pela ação da pressão atmosférica, a mudança brusca
descompressão.
40
GABARITO
Questão 1 - E
Questão 2 - C
Questão 3 - A
Questão 4 - C
Questão 5 – C
Questão 6 - Errado
Questão 7 - E
Questão 8 - B
Questão 9 - C
Questão 10 – D
Questão 11 - E
41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed.
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015,
p. 360.
HERCULES, Hygino de C., Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005.
42
CARREIRAS POLICIAIS
Medicina Legal
Capítulo 6
SUMÁRIO
6.2.4 Perícia médico-legal - Lesões internas no organismo causadas pela ação dos ácidos e
bases cáusticas.................................................................................................................................................................... 5
6.3 Venenos..................................................................................................................................................................... 6
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 21
1
MEDICINA LEGAL
Capítulo 6
6.1. Conceito.
Energias de ordem química são aquelas que atuam nos tecidos vivos, a partir do contato
interno ou externo, através de substâncias que provocam alterações de natureza somática,
fisiológica ou psíquica, podendo, inclusive, levar à morte. São exemplos mais comuns de
agentes vulnerantes de ordem química os cáusticos e os venenos1.
6.2. Cáusticos.
6.2.1 Conceito.
São substâncias que, de acordo com sua natureza química, provocam lesões
tegumentares (lesões nos tecidos) mais ou menos graves. Essas substâncias podem resultar
1
DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2007, p. 128.
2
6.2.2 Vitriolagem.
Existe um tipo de composto químico líquido chamado ácido, da categoria das substâncias
cáusticas, que produz queimaduras pelo fato de desencadear uma reação exotérmica
(liberação de calor). Um dos ácidos mais utilizados em medicina legal é o ácido sulfúrico,
sendo extremamente corrosivo. O nome comumente empregado para o ácido sulfúrico é óleo
de vitríolo, pelo que o emprego dessa substância para causar lesões nas vítimas é chamado
de vitrioagem.
Na vitriolagem surgem as lesões viscerais e cutâneas, podendo sua causa ser criminosa,
suicida ou acidental. Quando criminosa, a ação é dada pelo arremesso de ácidos
propriamente ditos ou de outras bases cáusticas, geralmente contra a face da vítima, pescoço,
tórax ou até mesmo contra seu aparelho genital. Vejam nas imagens abaixo exemplos de
lesões de vitriolagem:
Quase sempre a ação criminosa é motivada por ciúmes, tendo o objetivo de causar
deformidades no corpo da vítima, configurando o crime de lesão corporal gravíssima, nos
3
6.2.3 Profilaxia médica das lesões causadas pelos cáusticos.
No tratamento local das queimaduras causadas pela ação dos ácidos e cáusticos quando
elas comprometem áreas nobres (como a face e extremidades ou tórax), a primeira medida
recomendada consiste em despir rapidamente a vítima e submetê-la à lavagem imediata com
grande volume de água durante várias horas – o tempo decorrido entre o evento danoso e a
remoção da substância com água está diretamente relacionado com a profundidade e
extensão da lesão -, objetivando a diluição hídrica do agente cáustico e assim diminuir a taxa
de reação química entre a substância e os tecidos atingidos.
substância cáustica por seu antídoto (ácido ou base), pois que a neutralização por álcali, por
exemplo, gera também uma reação exotérmica e acaba por aumentar o risco de ocasionar
queimadura adicional, além de sua ação orgânica ser apenas superficial, não atingindo os
o que acarreta intensa perda de água (uma vez que a camada epidérmica é queratinizada e
funciona como impermeabilizante), podendo ocorrer morte por desidratação.
Ainda que se consiga combater essa intensa desidratação, existe um risco muito alto de
infecção por bactérias que entram em contado com a camada mais profunda da pele. Por
isso, quanto mais extensa for a área atingida pela ação do ácido, maior a desidratação e maior
a possibilidade de infecção.
4
6.2.4 Perícia médico-legal - Lesões internas no organismo causadas
necrose e destruição da mucosa, bem como edemas das outras camadas da parede
estomacal, que acaba por se tornar bastante espessa.
Qualquer que tenha sido o agente cáustico que provocou o dano, caso a vítima venha a
sobreviver, haverá fibrose das lesões devido à evolução da reação inflamatória que ocorre
na fase aguda.
5
As lesões podem ocorrer por ingestão direta ou aspiração do cáustico, sendo
comumente observadas na boca, em toda a extensão do estômago e nas vias aeras (em caso
de aspiração da substância corrosiva).
Nesse último caso (aspiração da substância), conforme o grau de penetração nas vias
aéreas, as lesões poderão se restringir à laringe ou também ingressar nos pulmões, caso em
que haverá a formação de intenso edema pulmonar ao longo de toda a extensão do órgão.
6.3 Venenos.
Pode-se conceituar veneno como qualquer substância que, introduzida pelas mais
diversas vias no organismo, ainda que homeopaticamente, danifica a vida ou a saúde. Podem
a) Penetração: pode ser oral, gástrica, retal, dentre outras, sendo a via
orogastrointestinal a mais comumente usada (ingestão oral).
b) Absorção: é o processo pelo qual o veneno chega à parte interna dos tecidos
orgânicos.
6
apresenta mecanismos que facilitam a eliminação do veneno e atenuação dos seus
efeitos.
que são contratadas pelas organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas para fazer o
transporte das substâncias ilícitas, notoriamente de cocaína, anfetaminas ou heroína.
2
Vide questões 1 e 3 deste material para saber a forma de abordagem deste conteúdo.
3
Vide questão 2 deste material para saber a forma de abordagem deste conteúdo.
7
Nesses casos, pode ocorrer o rompimento da cápsula isolante que armazena a
A síndrome de Body Packer é diferente da síndrome de Body Pusher, uma vez que, nesses
casos, ocorre com aqueles que transportam pequenas quantidades de drogas nos orifícios
naturais.
especializado em química, pois que, dada a sua importância, a toxicologia forense deixou de
ser um simples ramo ou subdivisão da medicina legal, passando a ganhar status de ciência
autônoma4.
Para afirmar o diagnóstico de morte por envenenamento, o perito legista busca nortear-
se pelo critério físico-químico ou toxicológico, procurando isolar, identificar e dosar (no
sangue colhido do coração e dos vasos da base, na urina, vísceras, e nos tecidos em geral) as
substâncias tóxicas suspeitas, associado ao critério médico-legal, de modo a fundamentar suas
4
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 388.
8
homicídio qualificado (art. 121, § 2º, III), e, por consequência, configura crime hediondo nos
o dever de preservar qualquer indício que se possa mostrar de especial valor, como vômito,
urina ou fezes excretadas; alimento ou medicamentos que possivelmente tenham contribuído
competente, que determinará a sua análise posterior por especialista em toxicologia. Quando
da realização dos exames laboratoriais, o perito deverá tomar o cuidado de anotar
minuciosamente os dados sobre suas observações referentes ao caso (que terão importante
valor probatório se for necessário a prestação de seu testemunho em Juízo).
Nos casos em que se verificar o óbito do paciente, o médico assistente não deverá
devido à importância do tema, vamos adiantar um pouco da explanação apenas para fins de
esclarecimento, com o fim de dar uma visão mais abrangente sobre o assunto.
Pode acontecer de o cadáver de pessoa vítima de envenenamento ser enterrado sem que
se tenha feito o exame pericial necroscópico com o objetivo específico de buscar indícios de
morte por envenenamento, por motivos variados que sejam, a saber, por exemplo, a ausência
de suspeita inicial de que houve administração de substância venenosa na vítima por ação
criminosa.
Não obstante, ainda que não se tenha feito exame toxicológico inicialmente, é possível
que haja a sua realização em momento posterior, a través da exumação judicial, sendo
aquela que é determinada por interesse da justiça.
9
Nesses casos, ainda que haja a esqueletização do cadáver, é possível identificar a
presença de substâncias venenosas que por ventura vieram a causa o óbito da vítima. A
constatação desse fato se faz mediante a análise química e laboratorial de materiais
como liquefação cadavérica, em que todo o material dos tecidos orgânicos que compõem o
corpo, durante o processo de apodrecimento, transforma-se em líquido, reduzindo
sepultura. Assim, a coleta de materiais contaminados com esses líquidos putrefeitos permite
que haja a sua análise laboratorial e realização de exame toxicológico das substâncias ali
encontradas.
Com isso é possível, mesmo após a liquefação, nos casos de posterior suspeita de
envenenamento, identificar a presença de substâncias venenosas causadoras da morte do
indivíduo, de modo a suprir o conjunto probatório e conduzir o processo criminal pelo
caminho correto.
10
QUADRO SINÓTICO
Vitriolagem:
11
pelo fato de desencadear uma reação exotérmica (liberação de
perito encontre:
12
g) Estômago de coloração negra e com volume
reduzido, e, por vezes, pergaminho ou coriáceo;
peritonite química.
13
comumente usada (ingestão oral).
l) Absorção: é o processo pelo qual o veneno chega à
parte interna dos tecidos orgânicos.
m) Fixação: é a etapa do envenenamento em que a
substância tóxica se localiza em certos órgãos, a variar
conforme o grau de afinidade.
n) Transformação: é o processo pelo qual o organismo
tenta se defender da ação química e tóxica causada
pela substância venenosa, de modo que o organismo
apresenta mecanismos que facilitam a eliminação do
veneno e atenuação dos seus efeitos.
o) Distribuição: é a fase em que o veneno, ao penetrar
na circulação, estende-se pelos mais variados tecidos
internos.
p) Eliminação: etapa na qual o veneno é expelido pelas
vias naturais do organismo;
q) Mitritização: fenômeno que se caracteriza pela
elevada resistência orgânica contra os efeitos tóxicos
da substância venenosa.
r) Toxicidade: propriedade de determinada substância
para causar dano interno ao organismo humano;
s) Sinergismo: é a ação potencializadora dos efeitos
tóxicos decorrentes da ingestão simultânea de várias
substâncias venenosas.
t) Equivalente tóxico: quantidade mínima de veneno
capaz de matar por via intravenosa.
14
ocorrer o rompimento da cápsula isolante que armazena a
organismo.
15
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) Ao estudar as energias de ordem química, deve-
B) Os cáusticos, assim como os venenos, podem ser classificados quanto ao seu estado físico
em líquidos, sólidos e gasosos, podendo agir internamente e externamente.
transformação, eliminação.
E) São formas de se classificar os cáusticos: estado físico, origem, funções químicas e quanto
ao uso.
Comentário:
lesões que podem causar. Conforme explanamos no tópico referente aos venenos, vimos
que o seu percurso no organismo humano passa por algumas fases à medida que vai
16
principalmente interna, o que não é verdade. É bem possível que haja lesões internas
causadas por cáusticos, quando da sua ingestão acidental ou suicida, bem como nos
casos de inalação da substância, que penetra pelas vias aéreas, causando lesões nos
pulmões e na árvore respiratória como um todo. Não obstante, vê-se que as hipóteses
mais frequentes de lesão por cáusticos são resultado de sua ação externa, quando em
venenos. A alternativa “c” contém erro ao atribuir a vitriolagem à ação dos venenos, o
que, em verdade, corresponde à ação dos ácidos. E a alternativa “e” basicamente repete
Questão 2
A) Na morte por injeção de cloreto de potássio na veia, o diagnóstico exclusivo por exame de
autopsia é praticamente impossível.
B) A presença de livores róseos, sangue de cor vermelho vivo, trombose dos vasos cerebrais e
dos pulmões, pneumonia e amolecimento cerebral apontam para intoxicação por óxido de
carbono.
C) O cianeto é um gás com odor de amêndoas amargas, que inibe as enzimas que atuam na
E) A intoxicação crônica pelo gás arsênico produz o fenômeno conhecido como mitridatismo.
Comentário:
Aqui temos um assunto que será abordado no capítulo referente à toxicologia forense,
mas que guarda pertinência com o tema aqui trabalhado. A intoxicação aguda por
17
ingestão de arsênico ou seus derivados provoca a inflamação e formação de úlceras na
boca e no tubo digestivo, provocando por vezes hemorragias significativas e uma série
de problemas hepáticos, renais, cardíacos e encefálicos que evoluem rapidamente. O
após sucessivas ingestões. Esse é, portanto, o erro da alternativa, pelo que o gabarito da
questão está na letra “e”.
Questão 3
(Médico Legista – PCPR – 2017 - IBFC) O percurso do veneno através do organismo segue
fases determinadas. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta das fases desse
percurso.
Comentário:
Questão 4
(FUNCAB – Médico Legista – PC-ES/2013) O modo de ação tóxica sistêmica do ácido oxálico
é através de:
A) Tetanização.
B) Bloqueio da respiração celular.
18
C) Bloqueio do transporte de oxigênio.
Comentário:
Ácido oxálico: limpador de metais, removedor de ferrugem e tintas. Além das lesões
típicas de contato, ele provoca uma hipocalcemia por reação com o cálcio iônico e
Questão 5
carbono (CO) foram liberadas pelo veículo devido à combustão da gasolina e desta forma o
indivíduo foi a óbito. Quanto ao monóxido de carbono, podemos dizer que:
II. A afinidade do CO pela hemoglobina é cerca de 240 vezes maior do que a do oxigênio.
Assinale:
19
D) Se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.
Comentário:
Essa questão também aborda temas referentes ao capítulo que tratará da toxicologia
forense, no entanto, pelos conteúdos já vistos até agora, temos plenas condições de
resolver esta questão! Lembrem-se do conteúdo relativo às lesões e mortes causadas
pela ação térmica, onde foi explicado que a combustão de materiais inflamáveis produz a
emissão de gases tóxicos, sobretudo o CO (monóxido de carbono) e CO² (dióxido de
carbono). O CO possui uma maior fixação no organismo que o CO², não sendo expelido
na mesma proporção, pelo que fixa preso ao organismo humano. Quando inalado em
grandes quantidades, o CO se liga fortemente à hemoglobina do plasma sanguíneo,
respiratória e morte.
E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e
praticando bastante! Vamos juntos até a aprovação! Até mais!!!
20
GABARITO
Questão 1 - D
Questão 2 - E
Questão 3 - A
Questão 4 - A
Questão 5 – D
21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.
GALVÃO, Malthus. Lesões causadas pela ação dos ácidos – Vitriolagem. Malthus, 2020.
Disponível em www.malthus.com.br. Acesso em: 09/02/2020.
22
CARREIRAS POLICIAIS
Medicina Legal
Capítulo 7
SUMÁRIO
7.4.2. Esganadura............................................................................................................................................................ 20
7.4.4. Estrangulamento................................................................................................................................................. 21
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 42
1
MEDICINA LEGAL
Capítulo 7
Para ser caracterizada como asfixia mecânica, tem que haver um fator de ordem mecânica
na sua execução, bem como deve ser violenta. Então, em síntese, para ser caracterizada como
asfixia mecânica, têm que estar presentes os seguintes fatores:
a) Tem que ser primária quanto ao tempo - a causa que provocou a asfixia tem que ser
primária, ou seja, foi a própria asfixia que começou o quadro traumático no organismo.
Se, por acaso, outra causa iniciou o quadro traumático e, em razão dela, o indivíduo foi
asfixiado e veio a óbito, não se trata de asfixia mecânica.
b) Mecânica quanto ao meio - tem que ser gerada por algum fator de ordem mecânica.
É um conjunto de 3 sinais que devem estar presentes para caracterizar uma asfixia.
2
III) Presença de petéquias de Tardieu disseminadas por todo corpo, tanto
internamente quanto externamente;
Os vasos sanguíneos dos órgãos internos, quando há morte por asfixia, ficam cheios de
sangue fluido e escuro, ficando congesto e pesado. Com a progressiva falta de oxigênio e o
excesso de CO2, há maior vasodilatação generalizada nas diversas vísceras maciças, como
fígado, rins, baço, dentre outras.
Os vasos sanguíneos destas vísceras ficam mais repletos de sangue de tonalidade escura,
ficando coletados nesses vasos, o que acarreta o aumento de peso nessas vísceras devido ao
acúmulo de maior volume de sangue que o habitual. Essas vísceras passam a apresentar uma
As petéquias sugerem que houve morte por asfixia, mas não podem ser consideradas,
no entanto, como lesões patognomônicas de asfixia, não oferecendo diagnóstico de certeza
Essa tríade, contudo, não significa que o indivíduo morreu asfixiado. Explicamos melhor.
Quando o indivíduo sofre uma asfixia mecânica, surge uma tríade, mas que, no entanto, essa
tríade pode aparecer em uma porção de outras causas de morte que não guardam relação
com a asfixia.
1
GALVÃO, Malthus. Petéquias Pulmonares. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
3
Além destes, outros sinais externos podem ser constatados, a saber:
Assim, o correto é afirmas que quando há uma asfixia mecânica, em meio a outros
diversos elementos que caracterizam a asfixia estará presente essa tríade; mas o contrário
não ocorre, pelo que a mera constatação isoladamente da tríade asfíxica não oferece
diagnóstico de certeza de caracterização da asfixia como causa da morte.
A fluidez do sangue se dá pelo fato de que o sangue do cadáver não coagula. Isso ocorre
em razão da ação de um sistema fibrinolítico. Assim que uma pessoa morre, a tendência do
sangue é coagular, mas isso não ocorre porque o organismo libera uma enzima que destrói
uma proteína que é essencial para a coagulação, chamada fibrina. Uma vez que há a
quebra/destruição da fibrina, o sangue não consegue mais coagular, ficando fluido.
E como o sangue não está oxigenado, há uma alta concentração de hemoglobina que não
contém oxigênio, mas sim hidrogênio (HB H+), o que acarreta uma tonalidade mais escura no
sangue do cadáver.
A simples atuação mecânica do agente vulnerante não se basta para acarretar a causa da
Então, a causa da morte nas asfixias se dá pelo conjunto formado pela ação do agente
vulnerante físico mecânico junto com uma alteração química gerada no organismo pela
ação desse agente, dando origem a um agente vulnerante físico-químico. Daí a classificação as
asfixias na categoria das energias vulnerantes de ordem físico-química.
4
Assim, podemos dividir as asfixias em dois grandes grupos, que também se subdividem
Asfixia Complexa: o conceito é dado por exclusão, pelo que são causadas pela
associação de mais de um aparelho ou sistema, ocorrendo na maioria dos casos de
asfixia. Ou seja, se não for causada por problemas exclusivamente respiratórios, sendo
resultado da confluência de um conjunto de fatores, será considerada asfixia complexa.
Isso porque na asfixia estão envolvidos, para além do sistema respiratório, também o
sistema circulatório e/ou o sistema nervoso.
substituição do ar respirável por gases não tóxicos, mas que não servem para a respiração,
ocorre o confinamento – tanto em locais abertos quanto em locais fechados.
2
Vide questão 6 deste material.
5
Portando, podemos resumir as modalidades de asfixia por modificação do ambiente
Líquido - Afogamento;
Sólido em pó - Soterramento;
Essas outras formas de asfixia, por não se caracterizarem como asfixia mecânica, não serão
estudadas neste capítulo, a exemplo do envenenamento por cianeto e intoxicação pelo
Para saber as diferenças a partir dos efeitos do afogamento em água doce e em água
salgada, é preciso primeiro compreender algumas noções acerca do mecanismo do sistema
respiratório, sobretudo da forma como ocorrem as trocas gasosas. Vamos explicar.
6
Quando o ar atmosférico penetra no organismo através da árvore respiratória, ele é rico
em oxigênio. Assim, o ar penetra nos alvéolos pulmonares e entra em contato com o sangue
através dos capilares (locais onde ocorrem as trocas gasosas).
O sangue que sai dos pulmões rico em O2 e vai para o coração, entrando pelos átrios e
saindo pelos ventríolos, passando a circular pelo restante do corpo. À medida que vai
circulando, o sangue vai perdendo oxigênio e se enchendo de gás carbônico, retornando ao
coração, sendo novamente enviado aos alvéolos pulmonares, onde ocorrerá mais uma vez as
trocas gasosas, sendo o ar expelido e havendo a liberação de CO2 pelo organismo através do
Assim, o processo circulatório do corpo humano pode ser sintetizado da seguinte forma:
Sangue veio do
Ocorrem as trocas
pulmão: átrio
gasosas e o ar rido em
esquerdo - rico em
CO2 é expelido
O2.
3
Sistema circulatório. Toda Matéria, 2020. Disponível em www.todamateria.com.br/sistema-circulatorio/. Acesso em
11/02/2020.
7
a) Afogamento em água doce:
Sabe-se que o organismo humano sempre tenta se regular para estar em equilíbrio nos
meios intra e extra celular (dentro e fora das células). O sangue, por sua vez, está cheio de
células chamadas de glóbulos vermelhos, que contem água e sais minerais. Assim, quando há
um equilíbrio de sais minerais no sangue, esses glóbulos vermelhos mantém a sua estrutura e
formato normais.
Quando há uma maior concentração de sais minerais no sangue, ou seja, o meio externo
do plasma sanguíneo possui maior quantidade se sais do que o meio intracelular dos glóbulos
vermelhos, há uma maior saída de água de dentro dessas células, fazendo com que elas
diminuam de volume (murcham).
sanguínea (plasma), essas células tendem a absorver (puxar) maior quantidade de água,
ficando inchadas e maior que o seu tamanho normal. Elas aumentam tanto o seu tamanho
normal que acabam se rompendo, liberando uma substância chamada potássio na corrente
sanguínea. O potássio faz com que o sangue fique mais fluido e menos consistente que o
normal nas áreas em que há grande concentração dessa substância, causando também uma
fibrilação ventricular no coração, sendo esta uma disfunção no ritmo dos batimentos
cardíacos, levando o indivíduo a óbito.
Assim, quando o indivíduo se afoga em água doce, a entrada de água nos pulmões faz
Com isso, o perito legista consegue identificar que o afogamento se deu em água doce,
pois durante a autópsia, o sangue que é encontrado no lado esquerdo do coração (átrio
esquerdo) está mais diluído do que no resto do corpo. Ou seja, o perito basicamente faz a
comparação entre o sangue que está no átrio esquerdo com o que está no átrio direito.
8
Se a água que está entrando nos pulmões chega pelo lado esquerdo e sai pelo direito, o
sangue que ficará acumulado do lado esquerdo é mais fluido e menos concentrado que o
sangue encontrado do lado direito do coração.
durante a autópsia que o perito consegue identificar o afogamento por água doce. Assim
como a densidade, a salinidade do sangue encontrado no lado esquerdo (que recebeu mais
O legista, durante a autópsia, não vê a fibrilação ventricular! Para que um médico possa
visualizar a fibrilação ventricular, ele necessita de realizar um exame – com o indivíduo vivo –
O legista pode determinar a causa da morte por fibrilação ventricular a partir da análise
do sangue encontrado nos dois lados do coração, pois à medida que a água vai entrando e o
sangue vai sendo diluído, os glóbulos vão se rompendo e liberando potássio, e o aumento do
potássio na circulação é o que causa a fibrilação ventricular.
Uma das alternativas trazia como resposta a fibrilação ventricular, levando muitos
candidatos a erro. A fibrilação ventricular não é perceptível na autópsia, e sim DEDUTÍVEL a
Outro questionamento que já foi feito em provas é o seguinte: um cadáver foi encontrado
9
Indaga-se a causa da morte nesse caso. A partir desses dados, sendo as densidades iguais,
sabe-se que a água nem entrou e nem saiu, e, portanto, a pessoa não respirou dentro da
água, sendo a resposta conclusiva no sentido de que ele já estava morto quando foi jogado
água de dentro dos glóbulos vermelhos (meio hipertônico), fazendo com que ele murche,
diminuindo de tamanho. Nessas hipóteses, o sangue, que já possui uma certa quantidade de
água, vai perder essa água para o pulmão, que fica cheio de água que entra do mar e água
que sai do sangue.
água doce: o perito irá coletar sangue do lado esquerdo e direito do coração e fazer a
comparação das densidades, e encontrará um resultado contrário.
O sangue do lado esquerdo vai estar mais grosso e denso do que o sangue encontrado
10
Cogumelo de espuma4:
presentes nas vias respiratórias, bem como com o surfactante, que é uma substância especial
que recobre o epitélio alveolar.
Dessa mistura resulta uma espuma consistente que distende o pulmão e preenche toda a
árvore respiratória do cadáver. Quando o indivíduo é resgatado ainda com vida e submetido à
respiração artificial, a espuma é eliminada juntamente com o líquido em excesso. Porém,
quando se dá a morte e o corpo é retirado da água pouco tempo depois, costuma eliminar
essa espuma pelas narinas e pela boca, de modo que ela apresenta o aspecto de uma massa
Durante a autópsia, o legista encontrará além dos sinais gerais de asfixia (tríade asfíxica),
os seguintes aspectos:
4
Vide questões 3 e 8 deste material.
5
GALVÃO, Malthus. Cogumelo de espuma. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
11
IV) Alteração da densidade do sangue nos átrios cardíacos
V) Cogumelo de espuma;
Quando a água penetra nos pulmões, por ser mais pesada que o ar, acaba por arrebentar
os alvéolos pulmonares, e, por consequência, os vasos sanguíneos que neles existem. Com
isso, há uma hemorragia interna nos pulmões, formando grandes equimoses pulmonares que
são vistas através das pleuras, sendo conhecidas como manchas de Paltaulf. Assim, as
manchas de Paltaulf são lesões patognomônicas de afogamento. Vejam na imagem6
abaixo:
6
GALVÃO, Malthus. Manchas de Paltaulf. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
12
Os enfisemas hidroaéreos de Casper ocorrem quando o indivíduo afogado respira água.
Com a entrada de água nos pulmões, seus vasos ficam cheios de bolhas de ar e água. Assim,
gotículas de ar expulso dos pulmões pela entrada da água aparecem sob a pleura visceral.
I) Algas diatomáceas.
Nesses casos, a perícia deverá se guiar pela presença de algas diatomáceas (plânctons)
dentro dos vasos sanguíneos que passam pelos ossos. Explicamos melhor.
No ecossistema aquático existem os plânctons, que são criaturas vivas que flutuam na
água, podendo ser macroscópicos ou microscópicos. Para efeitos do nosso estudo, nos
ateremos aos plânctons microscópicos.
Existe uma espécie de plânctons que são chamados de algas diatomáceas, que vivem
dentro de uma carapaça microscópica por elas mesmas fabricadas a partir de sílica (partículas
de areia). Quando o indivíduo se afoga, a água contendo essas criaturas microscópicas
penetram nos pulmões e na corrente sanguínea, percorrendo ao longo do corpo em razão do
Ao viajarem pela corrente sanguínea, passam por vários vasos sanguíneos e capilares,
inclusive para dentro dos ossos. Os ossos, embora sejam uma estrutura dura e resistente, são
formados por células vivas, que recebem vasos sanguíneos que passam por dentro dos ossos.
Assim, as algas diatomáceas também entram nos ossos quando são levadas pela corrente
sanguínea.
Nesses casos, onde houver sangue, também haverá algas diatomáceas. Quando a pessoa
morre, o sangue para de circular, ficando coletado em diversas partes do corpo. Assim, à
medida que ocorre a putrefação dos tecidos corporais, vão sendo expelidas as algas
diatomáceas, com exceção dos ossos.
13
Os ossos, por serem mais resistentes que as demais partes do corpo, conservam em seu
interior os vasos sanguíneos que estão impregnados pelas algas diatomáceas. Lá elas estão
mortas, mas a sua carapaça fica conservada.
Assim, é possível à perícia detectar a partir do fêmur (maior osso do corpo humano) a
presença desses plânctons, permitindo ao legista concluir que o indivíduo respirou dentro da
água e morreu por afogamento.
Além disso, é possível que a perícia conclua, inclusive, o local onde se deu o afogamento,
uma vez que cada região possui tipos específicos de algas diatomáceas, devido às
particularidades de seu ecossistema marinho. Assim, por comparação do material coletado nos
ossos do cadáver, a perícia é capaz de atestar a causa da morte por afogamento, bem como o
local onde ele ocorreu.
É possível que, após feita a autópsia, não sejam encontrados quaisquer vestígios de
afogamento ou mesmo de lesões macro ou microscópicas, o que acarretaria a indeterminação
da causa da morte.
sem qualquer sinal que evidencie o afogamento ou qualquer outro tipo de lesão que possa
explicar a causa de sua morte.
indivíduo foi vítima de um choque térmico, porque estava com o corpo quente e entrou em
contato repentino com a água; a segunda é por inibição vaga por contato da água com a
14
Inibição vagal é uma inibição do nervo vago, que cuida dos batimentos do coração e
do funcionamento dos pulmões. Essa hipótese é de pouca utilidade no dia a dia das perícias
médico-legais, mas tem importância teórica para fins de prova de concursos. Portanto, fiquem
ligados, pois é bem possível que haja uma questão de prova indagando sobre o afogamento
branco de Parrot!
7.3. Sufocação.
ou indireto das vias respiratórias, impedindo assim a passagem do ar. Pode ser classificada
como sufocação direta e sufocação indireta.
É uma forma de asfixia pura, na qual somente está envolvido o aparelho respiratório.
Há duas maneiras de causa a sufocação direta: pela obstrução dos orifícios respiratórios
(ex.: tapas a boca e a narina com as mãos) e pela obstrução das vias aéreas superiores.
Para entendermos melhor esta última hipótese, faz-se necessário ter uma melhor noção
brônquios.
Caso haja obstrução dessas vias que não necessariamente pelos orifícios respiratórios,
haverá também a sufocação direta. Confiram na ilustração7 abaixo:
7
Sistema respiratório. Pinterest, 2020. Disponível em https://br.pinterest.com/pin/349451252323189934/. Acesso
em 11/02/2020.
15
7.3.2. Sufocação indireta.
Compressão do tórax8;
Crucificação – exaustão da musculatura respiratórias;
Paralisia da musculatura respiratória – músculos intercostais e diafragma;
Um dos sinais externos mais importantes que indicam a possibilidade de ter havido uma
asfixia por sufocação indireta por compressão torácica é a máscara equimótica de Morestin,
caracterizando-se por diversas petéquias (equimoses pontuais) na região cérvico-facial (face e
O sangue que sobre para a cabeça fica acumulado em razão da compressão torácica, não
conseguindo retornar e seguir seu fluxo normal, o que acarreta um amento da pressão nos
vãos dessa região corporal, fazendo com que haja o extravasamento de sangue na forma de
petéquias, acumulando-se na região da face, pescoço e tórax.
8
Vide questão 1 deste material.
16
No entanto, o aparecimento da máscara equimótica de Morestin não oferece diagnóstico
de certeza acerca da sufocação indireta por compressão do tórax, não sendo lesões
patognomônicas de asfixia!
I) Esganadura;
II) Enforcamento;
III) Estrangulamento;
HIOIDE
Osso situado acima da laringe;
LARINGE
GLÂNDULA TIREOIDE
Abaixo da laringe;
TRAQUEIA
Local onde há passagem de ar;
17
Quando ocorre uma constrição do pescoço, esses órgãos e seus vasos sanguíneos são
jugulares trazem sangue com maior concentração de gás carbônico. Entre esses vasos passa
um nervo, chamado de nervo vago, que vem do bulbo (parte do encéfalo), que comanda os
18
O pescoço também é revestido por músculos, e na hora em que há a constrição, essa
musculatura que envolve o pescoço também é lesada, podendo surgir equimoses nos
músculos. Assim, a constrição do pescoço atinge:
Musculatura, artérias
carótidas e veias jugulares
De todas as éreas suscetíveis de dano pela constrição no pescoço, a que oferece maior
perigo é o nervo vago, que, uma vez afetado pela pressão da constrição ou mesmo por uma
forte pancada na região do pescoço, é capaz de gerar uma parada cardiorrespiratória,
Por outro lado, uma fratura no hioide sem que haja infiltração hemorrágica indica que
19
7.4.1.Docimasia microscópica ou histológica de Balthazard-
Lebrunn.
Tem notória relevância nos casos de determinação de morte no infanticídio. Sabe-se que
o crime de infanticídio consiste em matar, durante o parto ou logo após, sob a influência de
estado puerperal, o próprio filho recém-nascido.
Por vezes ocorre que a mãe tenta matar o próprio filho sob a influência de estado
que ainda que esteja o cadáver em putrefação, os gases dela oriundos não abrem os alvéolos.
Assim estando os alvéolos pulmonares abertos, significa que o feto respirou durante o
nascimento ou logo após, sendo considerado o nascimento com vida, e, consequentemente,
haverá crime e imposição de pena ao agente. Caso contrário, será considerado crime
impossível por absoluta impropriedade do objeto, cuja consequência é a atipicidade do fato.
7.4.2. Esganadura.
A esganadura somente pode ser feita com as mãos, deixando frequentemente estigmas
9
GALVÃO, Malthus. Estigmas ungueais e digitais na esganadura. Malthus, 2020. Disponível em www.malthus.com.br. Acesso
em:11/02/2020.
20
Os estigmas ungueais (escoriações em meia lua) e digitais no pescoço são lesões
patognomônicas externas, que diferem das lesões internas causadas pela força da constrição
no pescoço.
7.4.3.Enforcamento.
Ocorre com laço tracionado no pescoço pelo peso do corpo da vítima. Pode constituir
ação criminosa homicida, suicida ou até mesmo eventos acidentais, sendo mais comuns em
casos de suicídio.
7.4.4. Estrangulamento.
Ocorre com laço tracionado por qualquer outra força diferente do peso do corpo da
vítima, geralmente traduzindo uma ação criminosa com intenção homicida, evento acidental
ou execução. Geralmente o laço é apertado com as mãos do agressor, mas nunca por elas
diretamente, caso em que ocorrerá esganadura. Pode ser feito, ainda, por pressão do braço
vítima.
Quanto mais estreito e duro for o laço, mais visível o sulco será. Ao contrário, quando
mais largo e mole for o laço, menos o sulco se mostrará evidente. Assim, algumas variantes
perícia determinar a causa do evento danoso que levou o indivíduo a óbito, ou seja, se o que
houve foi um enforcamento ou um estrangulamento. Esses sulcos podem apresentar as
seguintes características:
HORIZONTAL OBLÍQUO
COMPLETO INCOMPLETO
CONTÍNUO DESCONTÍNUO
PROFUNDIDADE HOMOGÊNEA PROFUNDIDADE HETEROGÊNEA
ABAIXO DA LARINGE ACIMA DA LARINGE
ABAIXO DO HIOIDE ACIMA DO HIOIDE
22
A VISIBILIDADE DEPENDE DO LAÇO A VISIBILIDADE DEPENDE DO LAÇO
O sulco será completo quanto formar um círculo inteiro em volta do pescoço, hipótese em
que também será contínuo. Sendo abaixo da laringe, obrigatoriamente também ficará abaixo
devido a uma maior pressão na parte anterior do pescoço (garganta) do que na sua área
lateral.
Sendo o sulco oblíquo e incompleto, ele poderá se situar acima da laringe, mas abaixo
do hioide, ficando entre essas duas regiões. No entanto, se ficar acima do hioide, também
ficará obrigatoriamente acima da laringe, pois esta se localiza abaixo desse osso.
10
Sistema respiratório. Aula de anatomia, 2020. Disponível em:
https://www.auladeanatomia.com/novosite/pt/sistemas/sistema-respiratorio/. Acesso em 11/02/2020.
23
Marca do sulco acima da laringe, mas abaixo do hioide;
Marca do sulco abaixo da laringe e abaixo do hioide;
Marca do sulco acima do hioide e acima da laringe;
Estrangulamento x Enforcamento
estrangulamento geralmente é feito com uma volta completa no pescoço através de uma
corda ou fio (por exemplo), em que as extremidades da corda são puxadas com as mãos,
geralmente se situando abaixo da laringe e abaixo do hioide. Nesse caso, sendo o sulco
completo, a sua profundidade será uniforme.
11
Vide questões 2 e 5 deste material.
24
para baixo e o laço sendo puxado para cima, a tendência é que esse laço passe por cima
A parte mais baixa do laço é a que estará em maior contato com o pescoço, e, como
está com suas extremidades presas e sendo puxado para cima, a tendência é que a marca
seja oblíqua, apresentando maior profundidade na parte em que o laço mantém maior
contato com o pescoço (na parte mais baixa), sendo diminuída essa profundidade à medida
É possível verificar os pontos em que o laço exerce maior pressão em razão do peso do
próprio corpo e pela força da gravidade, a saber: na região anterior do pescoço (1ª imagem);
na região lateral do pescoço (2ª imagem); e na região posterior do pescoço (3ª imagem).
Nessas áreas é que haverá maior profundidade dos sulcos, apresentando-se na forma
oblíqua e descontínua.
Enforcamento: Estrangulamento:
Sulcos por cima da laringe e do hioide Sulcos embaixo da laringe e do hioide
Sulcos incompletos e oblíquos Sulcos completos e horizontais
Sinal de Ponsold: livores cadavéricos, em placas, por cima e por baixo das bordas do
sulco;
Sinal de Azevedo-Neves: livores puntiformes por cima e por baixo das bordas do sulco;
12
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p. 360.
26
QUADRO SINÓTICO
27
A simples atuação mecânica do agente vulnerante não se basta
NAS ASFIXIAS físico mecânico junto com uma alteração química gerada no
28
VII) Constrição do pescoço – enforcamento –
enforcamento, estrangulamento e esganadura;
VIII) Por outras formas – eletricidade, química, etc.
29
essa água para o pulmão, que fica cheio de água que entra do
Cogumelo de espuma:
epitélio alveolar.
cogumelo”.
musculatura respiratória.
a) Esganadura:
b) Enforcamento:
PESCOÇO
Típico - nó situado na parte posterior do pescoço;
31
Atípico - nó situado nas laterais ou na parte frontal do
pescoço;
c) Estrangulamento:
Estrangulamento:
HORIZONTAL
COMPLETO
PROFUNDIDADE HOMOGÊNEA
SULCOS CERVICAIS
ABAIXO DA LARINGE E DO HIOIDE
E ESTIGMAS
Enforcamento:
UNGUEAIS NO
OBLÍQUO
PESCOÇO INCOMPLETO
PROFUNDIDADE HETEROGÊNEA
ACIMA DA LARINGE E DO HIOIDE
32
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(FGV - 2012 - PC-MA - Delegado de Polícia) Na sufocação indireta por compressão torácica,
Comentário:
Aqui a banca sobra o conhecimento da sistemática da asfixia por sufocação indireta, que
acumulado, gerando uma pressão nos vasos e fazendo com que ocorra pequenos
extravasamentos de sangue nessa região, aparecendo as petéquias de Tardieu na região
33
Questão 2
A) Calor.
B) Convulsão.
C) Fosfeno.
D) Zumbido.
Comentário:
Aqui há um ponto que não abordamos na explanação do conteúdo, por isso vamos nos
ater a uma explicação com mais detalhes antes de responder a questão. Para além das
características que podem ser observadas na morte por enforcamento, há três estágios
que ocorrem durante o processo desse tipo de asfixia por constrição do pescoço. No
Questão 3
((VUNESP - 2014 - PC-SP - Médico Legista) Assinale a alternativa que contém sinais mais
comumente encontrados nas vítimas de afogamento.
34
A) Manchas de Tardieu, cogumelo de espuma e máscara equimótica.
Comentário:
Vimos que as manchas de Paltaulf são equimoses que podem ser vistas a través da
pleura pulmonar, sendo ocasionada pelo rompimento dos vasos sanguíneos alveolares
devido à pressão exercida pela entrada de água nos pulmões, sendo, portando, uma
lesão patognomônica de afogamento. Para além disso, outro sinal bastante característico
nos casos de morte por afogamento é o aparecimento do cogumelo de espuma, uma
vez que o líquido aspirado se mistura com o ar alveolar e com outras secreções
presentes nas vias respiratórias e com o surfactante (substância que recobre o epitélio
alveolar), ocasionando a formação de uma mistura branca e consistente que é expelida
nos casos de aborto, onde o feto natimorto fica por um razoável período de tempo
dentro do útero e submerso no líquido amniótico da placenta, causando assim a
destruição da sua pele, apresentando lesões que se assemelham às queimaduras de 3º
grau. Sendo assim, a alternativa que corresponde ao gabarito da nossa questão está na
letra “b”.
Questão 4
35
sobre o laringe, infiltração abaixo do sulco e sinais gerais de asfixia, todos esses elementos em
A) enforcamento.
B) estrangulamento.
C) esganadura.
D) sufocação.
E) afogamento.
Comentário:
Aqui a banca aborda as características dos sulcos cervicais e sua diferenciação nos casos
de enforcamento e estrangulamento. Como vimos, os sulcos produzidos por
Questão 5
(UEG - 2013 - PC-GO - Delegado de Polícia) Com relação às asfixias, tem-se o seguinte:
C) soterramento é um tipo de asfixia em que ocorre a substituição do meio aéreo por terra.
36
Comentário:
É uma questão um tanto quanto polêmica, mas vamos à analise de suas alternativas. Na
alternativa “c”, pois a substituição do meio respirável por terra realmente é uma forma de
soterramento. Não obstante, a definição dada pela doutrina médico-legal acerca do
soterramento é que este consiste na substituição do meio respirável por sólidos em pó,
que não somente a terra propriamente dita, podendo ter sido essa delimitação o que
alternativa dada como correta pela banca examinadora, constante na letra “a”.
Questão 6
A) Sufocação direta.
B) Estrangulamento típico.
C) Enforcamento completo.
D) Esganadura antebraquial.
37
Comentário:
Asfixias puras são aquelas cuja dinâmica lesiva somente envolve o sistema respiratório e
nada mais. Esse é um dado chave para a resolução desta questão. Dentre as alternativas,
a única que somente envolve o sistema respiratório está na letra “a”, uma vez que a
sufocação direta pode ser realizada pela obstrução dos orifícios respiratórios e pela
Questão 7
(2016 – Auxiliar de Legista – CEBRASPE - PCPE) O tipo de asfixia mecânica que ocorre
devido à constrição do pescoço por laço e na qual a força atuante é o próprio peso da vítima
denomina-se
A) estrangulamento.
B) sufocação direta.
C) enforcamento.
D) sufocação indireta.
E) esganadura.
Comentário:
Questão 8
(2016 – Auxiliar de Legista – CEBRASPE - PCPE) Assinale a opção que apresenta um sinal
38
C) cogumelo de espuma
E) vitriolagem
Comentário:
Aqui outra questão que não oferece maiores dificuldades! Vimos as características gerais
da asfixia (tríade asfíxica), bem como as particularidades de cada uma das modalidades
interno, as manchas de Paltaulf. Diante disso, fica fácil responder a questão, estando seu
Questão 9
(VUNESP - 2014 - PC-SP - Médico Legista) São características do sulco cervical nas asfixias
por enforcamento e estrangulamento, respectivamente:
C) horizontal / oblíquo.
D) contínuo / descontínuo.
Comentário:
pescoço a partir das características dos sulcos encontrados no pescoço das vítimas. Aqui
podemos responder a questão por exclusão das alternativas. Sabemos que
39
profundidade heterogênea e acima da laringe e do hioide. Com isso podemos excluir as
alternativas “c”, “d” e “e”. Sobraram-nos as alternativas “a” e “b”. Vejamos. A letra “a” nos
fornece uma informação interessante, até então não trabalhada neste material, mas que é
de fácil dedução e conclusão. Os sulcos únicos são aqueles causados por apenas uma
volta do laço em torno do pescoço, ao passo que os múltiplos são aqueles causados por
mais de uma volta do laço no pescoço. Assim podemos concluir que essa é a nossa
alternativa! Isso porque no enforcamento o modo de confecção do laço apresenta uma
única alça, estando as extremidades da corda presas acima, formando um nó. Já no
Questão 10
constante de:
Comentário:
Aqui temos os sinais gerais de asfixia, representando a tríade asfíxica, sendo sinais
internos presentes nas mais variadas modalidades de mortes por asfixia. São 3 os sinais
40
gerais: o sangue fica fluido e escuro; há congestão polivisceral; e há presença das
petéquias de Tardieu disseminadas por todo o corpo, interna e externamente. Com isso,
E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e
praticando bastante! Vamos juntos até a aprovação! Até mais!!!
41
GABARITO
Questão 1 - D
Questão 2 - B
Questão 3 - B
Questão 4 - B
Questão 5 – A
Questão 6 – A
Questão 7 – C
Questão 8 – C
Questão 9 – A
Questão 10 – B
42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aula de anatomia, 2020. Disponível em: https://www.auladeanatomia.com/novosite/pt/sistemas/sistema-
respiratorio/. Acesso em 11/02/2020.
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p. 360.
GALVÃO, Malthus. Lesões causadas pela ação dos ácidos – Vitriolagem. Malthus, 2020.
Disponível em www.malthus.com.br. Acesso em: 09/02/2020.
43
CARREIRAS POLICIAIS
Medicina Legal
Capítulo 8
SUMÁRIO
8.5. Diagnose Diferencial das lesões intra vitam e post mortem. ......................................................... 23
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 40
1
MEDICINA LEGAL
Capítulo 8
7. Tanatologia Forense.
8.1. Conceito.
tenhamos conhecimento acerca de alguns conceitos iniciais que vão nos acompanhar ao
longo de toda a matéria, de modo que esse conhecimento vai facilitar bastante na
compreensão do tema. Vamos a eles!
ANTROPOLOGIA FÍSICA
2
correlatos.
A Lei 9.437, em seu art. 3º, dispõe que “a retirada post mortem de tecidos, órgãos ou
partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser procedida de
diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não
3
participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios
clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina”.
Com base nisso, o Conselho Federal de Medicina regulamentou, por meio da Resolução
1.480/97, os critérios para diagnóstico de morte encefálica, considerando que a parada total e
O art. 1º da Resolução 1.480/97 dispõe que a morte encefálica será caracterizada através
da realização de exames clínicos e complementares durante intervalos de tempo variáveis,
1
Vide questão 1 deste material.
4
benzodiazepínicos ou por outras substâncias neurolépticas), de modo a descartar causas
reversíveis do coma.
ocorre, acerca do diagnóstico de morte encefálica feito em pacientes por eles assistidos.
g) Morte súbita: morte inesperada, brusca e repentina, não tendo causa externa ou
violenta, sendo, portanto, sempre de causa interna ou patológica. Quanto à
sobrevivência, a morte súbita é aquela de efeito imediato e instantâneo e, em razão de
durar alguns minutos, impossibilita o atendimento médico eficiente.
5
h) Morte agônica: é aquela que, depois da manifestação de sua causa, seu processo
perdura por dias até que o indivíduo venha efetivamente a óbito.
Alguns autores ainda fazem a distinção entre morte súbita natural e morte súbita
suspeita. A natural pode ter as mais diversas causas, como distúrbios cardiovasculares
(rompimento de um aneurisma), lesões no sistema nervoso central, hemorragias meníngeas ou
encefálicas, bem como podem decorrer de fatores ocasionais (ex.: fadiga, hipersensibilidade a
determinadas drogas – idiossincrasias – etc.). Já a morte súbita suspeita é aquele que ocorre
de forma duvidosa e sobre a qual não se tem evidência de ter sido ocasionada por fatores
naturais ou por causa violenta. Assim, a morte súbita suspeita será assim considerada sempre
Embora já tenhamos tratado de diversos conceitos acerca dos tipos de morte, aqui vale um
aprofundamento especial, por ser uma temática de extrema importância no dia a dia das
perícias forenses, bem como ser objeto de recorrente cobrança em provas de concursos
públicos. Vamos então à diferenciação dos conceitos de morte natural, violenta e suspeita.
Morte natural:
É aquele decorrente dos processos mórbidos preexistentes, qualquer que seja sua
natureza e sua evolução, podendo ser congênitos ou adquiridos, e desde que não tenham
sido agravados por um fator exógeno (externo). Segundo o professor Genival Veloso de
França3, o melhor seria denominá-la de morte por antecedentes patológicos.
2
HERCULES, Hygino de C., Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005, p. 129.
3
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 9ª ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2014, p 457.
6
Morte violenta:
É aquela resultante diretamente de uma ação exógena e lesiva, ou que tal ação tenha
concorrido para agravar uma patologia existente, não importando se ocorreu de forma
imediata ou tardia, mas desde que haja relação de causa e efeito entre a agressão e a morte.
São mortes causadas por uma ação vinda de fora. Em todos esses óbitos, procura-se
determinar a participação de alguém de forma ativa ou passiva para justificar sua
responsabilidade.
(fulminação por raios, inundação, terremotos, etc.), bem como pela ação de animais. Entende-
se também por morte violenta aquela em que não existe violência no sentido real da palavra,
mas que sua ocorrência se deu por motivo de descaso, como nos casos de omissão de
socorro.
Morte suspeita:
É aquela que surge de forma inesperada e sem causa evidente. Este tipo de morte,
atualmente, é transferido para a responsabilidade médico-legal em razão da Resolução do
Conselho Federal de Medicina, devido à própria experiência pericial. Entre as mortes suspeitas
está a que ocorre em salas de cirurgia (mors in tabula), principalmente quando o óbito não
está justificado pelos comemorativos e pela evolução da doença. Em resumo, a morte suspeita
7
8.2. Destinação do cadáver após a morte.
Após o evento letal, a depender do tipo de morte ocorrida, o cadáver poderá ser levado a
diferentes locais para a determinação da causa da morte e demais procedimentos até que seja
sepultado.
casos, doação de seus órgãos, o cadáver poderá passar pelos seguintes procedimentos:
b) Exumação: é o ato de desenterrar o cadáver ou os restos dele (art. 163 ao 166 do CPP).
e) Destruição: o professor Genival Veloso de França cita que alguns seguidores de uma
seita indiana deixavam os cadáveres no alto de uma torre para serem consumidos por
abutres e pela fauna cadavérica.
4
Vide questão 9 deste material.
8
f) Liquefação: é a cremação ecológica. É um método novo, no qual o cadáver é submerso
em solução aquecida e pressurizada de hidróxido de potássio, depois os ossos são
cremados.
8.3. Tanatognose.
Imediatos/incerteza/prováveis;
Mediato/certeza/tardios/reais;
Transformativos – destrutivos e conservadores;
São sinais que aparecem imediatamente após a morte ou quando o indivíduo ainda
está morrendo. Não são considerados sinais de certeza de morte, pois pode haver a
reanimação do indivíduo. Sendo assim, são sinais de probabilidade ligados normalmente a
São sinais que sugerem morte absoluta. Porém, alguns autores afirmam que mesmo na
presença dos sinais abióticos consecutivos, o indivíduo ainda pode estar vivo, ou seja, ainda
pode ser reanimado, sendo, no entanto, pouco provável, pois, para esses sinais acontecerem, é
necessário um tempo maior pós-morte. São eles:
A pele tem aspecto de pergaminho, mais dura, ressacada e com tonalidade parda. Em
locais sob compressão contínua e intensa (enforcamento, por exemplo) a pele pode ficar
V) Fenômenos oculares:
Alguns aspectos podem ser percebidos nos olhos do cadáver, sinalizando um diagnóstico de
a) Sinal de Louis: é perda de tensão do globo ocular, que se torna mole e depressível;
10
b) Sinal de Larcher-Sommer: é uma mancha negra da esclerótica, acontece entre 3 a 5
horas após a morte. Vejam na imagem5 abaixo:
diferença de 1ºC entre a temperatura retal e axilar. A morte interrompe nosso processo de
termorregulação e o cadáver perde calor paulatinamente até igualar a temperatura com a
do ambiente externo.
5
SINAL DE LARCHER-SOMMER. Slideplayer, 2020. Disponível em: www.slideplayer.com.br/slide/5634703/. Acesso
em: 12/02/2020.
6
SINAL DE STENON-LOUIS. Slideshare, 2020. Disponível em: www.slideshare.net/trubelnecropsia/tanatologia-ls.
Acesso em: 12/02/2020.
11
Vários fatores internos e externos influenciam no processo de resfriamento. A
Croce afirma que o cadáver perde 0,5ºC nas primeiras 3 horas e depois 1ºC por hora até o
equilíbrio com o meio ambiente.
sangue no interior dos vasos sanguíneos dessas regiões mais baixas do corpo.
posição do cadáver, os livores não mudarão de lugar, porque haverá a passagem do plasma
sanguíneo para os tecidos e as hemácias ficarão aglomeradas e imóveis.
Desaparecem com a putrefação. A tonalidade dos livores pode variar conforme os tipos
de morte, a exemplo de ter ocorrido por asfixia, intoxicações etc. Importante ressaltar que as
áreas sob compressão não formam as hipóstases, pois impede a acumulação do sangue em
razão da pressão exercida sobre os vasos nas áreas de contato do cadáver e a sperfície sobre
a qual ele se encontra. Confiram na imagem7:
7
GALVÃO, Malthus. Livores Cadavéricos. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus,com.br. Acesso em
12/02/2020.
12
fenômenos, bem como o momento em que ocorrem no organismo humano. Sobre esse tema,
LIVORES EQUIMOSES
hemorrágica
Os livores ficam coletados dentro dos vasos, ao passo que nas equimoses há o
extravasamento de sangue. Nos livores o sangue fica coletado, enquanto que nas equimoses o
sangue fica infiltrado nos tecidos. As equimoses são lesões intra vitam, e os livores são lesões
post mortem.
É um fenômeno químico. O corpo passa por uma flacidez muscular generalizada imediata
após a morte. Há um desvio metabólico na morte, pela falta de oxigênio e consumo de ATP
sem renovação, aumenta-se a produção de ácido lático pela via anaeróbica, ocorrendo a
acidificação do corpo.
13
Sem ATP, com acúmulo de cálcio e de ácido lático, as pontes químicas de actina e miosina
não conseguem ser desfeitas e ocorre o enrijecimento muscular. Alguns autores atribuem a
rigidez à coagulação da miosina pela desidratação muscular associada ao aumento de ácido
8
GALVÃO, Malthus. Rigidez Cadavérica. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus,com.br. Acesso em
12/02/2020.
14
contração muscular em vida. Instantaneamente, após a morte, o indivíduo fica rígido,
mais raro de acontecer. Apesar de diversas, não há explicações satisfatórias.
9
Vide questões 2, 3, 4 e 6 deste material.
10
GALVÃO, Malthus. Mancha Verde Abdominal. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus,com.br. Acesso em
12/02/2020.
15
o Gaseificação (enfisematosa): com a intensa produção de gases pelas bactérias,
o corpo se expande, assume forma grosseira, com procidência da língua,
projeção dos olhos, bolsa escrotal, prolapso do ânus e tonalidade verde-
enegrecida. Então, em cerca de 2 a 3 dias há a chamada fase gasosa ou
enfisematosa, com produção de mais gases e bolhas. Os gases empurram o
sangue para os vasos superficiais e o desenho deles pode ser visto. É a
circulação póstuma de Brouardel. Brouardel realizou um experimento que
constatou que do 2º ao 4º dia há produção de gases inflamáveis. As bases
pulmonares são espremidas. O cadáver exala um odor péssimo.
16
As bolhas possuem baixo conteúdo proteico e não se confundem com as oriundas de
queimadura de 2º grau (Reação de Chambert). Esse teste é fundamental para fazer a
diferenciação entre as lesões intra vitam e post mortem. Como vimos no capítulo referente às
energias vulnerantes de ordem física, mais especificamente no tópico que trata das
queimaduras, a atuação do calor sobre a pele (em pessoas vivas) faz com que o plasma
sanguíneo se desloque pra baixo da pele, formando bolhas, chamadas de flictenas. Assim,
quando da realização da perícia médico-legal, o perito coleta o líquido de dentro dessas
bolhas para detectar a presença de proteínas. Caso a reação de Chambert seja positiva, trata-
se de uma possível queimadura de 2º grau ou de alguma doença de pele. Em sendo negativa
11
11
GALVÃO, Malthus. Gaseificação. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus,com.br. Acesso em 12/02/2020.
17
12
13
12
GALVÃO, Malthus. Coliquação. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em:
12/02/2020.
13
GALVÃO, Malthus. Esqueletização. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em:
12/02/2020.
18
Séptica: quando há a presença de germes no meio.
que há mais de sete dias de morte intrauterina; o Sinal de Brakeman, que também é
chamado de sinal da boca aberta e consiste na queda do maxilar inferior. Observa-se
também que o ventre se achata, a pele se destaca, os ossos ficam livres, a pele apresenta
19
14
14
GALVÃO, Malthus. Maceração. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 12/02/2020.
15
GALVÃO, Malthus. Mumificação. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 12/02/2020.
20
os ácidos reagem com algumas bases do solo. Em terrenos argilosos o processo é
facilitado, bem como em indivíduos gordos. Confiram na imagem16 abaixo:
III) Corificação - é uma petrificação ou calcificação que pode acontecer nos fetos
mortos e retidos no útero. Em alguns casos o feto fica calcificado por muitos anos.
Também se trata de corificação o fenômeno químico que consiste na
transformação dos tecidos do cadáver em um tipo de couro duro e ressecado.
Para esse fenômeno acontecer, o corpo deve estar em urnas fechadas forradas
com zinco.
8.4. Cronotanatognose.
estágios/fases da putrefação.
16
GALVÃO, Malthus. Saponificação. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 12/02/2020
21
etapas da putrefação cadavérica, e para fins de prova, iremos nos basear a partir de uma
de livores cadavéricos.
(fundo de olho).
e presença de insetos.
17
Vide questões 5, 7 e 10 deste material.
22
Entre 1 e 3 anos
a) Reação inflamatória,
b) Retração dos tecidos,
c) Crosta das escoriações,
d) Espectro equimótico,
e) Equimose,
f) Coagulação sanguínea bem aderente
g) Outras reações vitais em geral.
não há formação de crostas de escoriações, sangue não coagulado (lesões brancas), entre
outros.
Teste de Chambert, que consiste em analisar a quantidade de proteínas que existem dentro
da bolha. Se não houver proteínas, o teste deu negativo, então, é sinal de putrefação. Se
houver proteínas dentro da bolha, é indicativo de queimadura feita em vida ou alguma outra
doença em vida que produz bolhas.
23
QUADRO SINÓTICO
Conceitos básicos:
comportamentais.
CRONOTANATOGNOSE: É o estudo da
TANATOLOGIA FORENSE
hora aproximada da morte a partir dos
fenômenos cadavéricos.
24
correlatos.
envenenamento.
25
l) Morte relativa: parada cardíaca associada à perda da
consciência, diagnosticada pela ausência de pulso. O
indivíduo, se socorrido adequadamente, pode se
recuperar;
26
De 1 ano a 2 anos incompletos – 12 horas;
Destinação final:
28
É a parte da tanatologia forense que estuda o diagnóstico da
Imediatos/incerteza/prováveis;
Mediato/certeza/tardios/reais;
TANATOGNOSE
Transformativos – destrutivos e conservadores;
29
XV) Resfriamento cadavérico (Algor mortis);
XVI) Livores cadavéricos ou Hipóstases (Livor mortis);
XVII) Rigidez cadavérica (Rigor mortis);
XVIII) Sinal de Kossu ou Espasmo Cadavérico;
a) Destrutivos:
IV) Autólise (químico) – é um processo de destruição
celular em decorrência das próprias enzimas. Os
lisossomos liberam enzimas que destroem a própria
célula. Sem o oxigênio, a respiração aeróbica não é
realizada, de modo que ocorre um aumento da
acidez celular, um desvio metabólico.
V) Putrefação (químico) – é um processo de
decomposição da matéria orgânica, que sofre
acidificação e ação das bactérias. Depende de fatores
como tipo de morte, temperatura, umidade, nutrição
etc. Divide-se em quatro etapas: coloração,
gaseificação, coliquação e esqueletização.
FENÔMENOS VI) Maceração: é um fenômeno destrutivo que ocorre em
corpos decompostos em meios líquidos. A ação do
TRANSFORMATIVOS
líquido vai destruindo os tecidos orgânicos, causando
lesões na pele que se assemelham a queimaduras de
3º grau. A maceração pode ser: séptica ou acéptica.
b) Conservadores:
estágios/fases da putrefação.
32
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
Comentário:
Essa questão trata do diagnóstico definitivo da morte. Como vimos, no Brasil se adota o
conceito de morte encefálica para a determinação definitiva do momento da morte. Nos
Questão 2
A) autólise e putrefação.
B) maceração e saponificação.
33
C) autólise e mumificação.
D) putrefação e maceração.
E) saponificação e mumificação.
Comentário:
destrutivos.
Questão 3
Comentário:
34
Questão 4
Comentário:
Mais uma vez a banca examinadora cobra do candidato o conhecimento acerca dos
fenômenos cadavéricos transformativos. Vimos que todo o processo de decomposição do
corpo passa obrigatoriamente por determinadas etapas e numa sequência fixa. Dentre as
alternativas, a que traz etapas do processo transformativo é a alternativa “d”. lembrando
que a necrose não é uma fase da putrefação, mas sim um fenômeno geral de morte dos
tecidos orgânicos. Os eritemas são lesões que só podem ser produzidas em pessoas
vivas.
Questão 5
(Legista – PCPE – CESPE – 2016) Assinale a opção correta acerca da rigidez muscular
cadavérica (rigor mortis).
A) Em mortes ocorridas durante intenso exercício físico, como no caso de afogados que
B) A rigidez muscular do cadáver se deve ao consumo total de ATP existente nos músculos.
C) A rigidez evolui de modo ascendente, iniciando-se pelos membros inferiores até atingir o
pescoço.
35
E) Em casos de pacientes idosos, magros e portadores de doenças crônicas, a rigidez é
precoce e intensa.
Comentário:
Vimos que a rigidez cadavérica é um fenômeno químico, que tem início no lapso
podemos eliminar de cara as alternativas “c” e “d”. esse processo de dá pela falta de
oxigênio e consumo total de ATP, devido à cessação da atividade celular nos cadáveres,
fazendo com que aumentem os níveis de miosina e ácido lácteo. A alternativa que
Questão 6
A) Calcifcação.
B) Corifcação.
C) Adipocera.
D) Autólise
Comentário:
36
Questão 7
(CESPE – Técnico em Anatomia e Necrópsia – FUB/2018) Julgue o item que se segue, relativo
a fenômenos cadavéricos.
Certo
Errado
Comentário:
oculares.
Questão 8
a tampa superior, verificou que o corpo havia sofrido um fenômeno transformativo típico
desse tipo de urna metálica. Trata-se de
A) autólise.
B) coreificação.
C) mumificação.
D) maceração.
37
E) saponificação.
Comentário:
Dentre as alternativas acima, a única que traz um fenômeno que ocorre no confinamento
de cadáveres em superfície metálica é a corificação, na alternativa “b”. Como vimos, a
uma espécie de couro endurecido e ressecado. Para que isso ocorra, na última hipótese,
o corpo deve estar em urnas fechadas e forradas com zinco. Resposta: letra “b”.
Questão 9
(VUNESP – Delegado de Polícia – PC-SP/2018) De modo geral, nos casos de morte de causa
desconhecida, o cadáver deve ser encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal) ou para o
C) homicídio – suicídio.
Comentário:
38
Questão 10
Comentário:
vimos que ela se inicia de 1 a 2 horas após a morte, e desaparece após 24 horas do
evento letal, tendo seu ápice (generalização) entre o período de 8 a 24 horas. O gabarito
E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e
39
GABARITO
Questão 1 - E
Questão 2 - E
Questão 3 - B
Questão 4 - D
Questão 5 – B
Questão 6 – E
Questão 7 – ERRADO
Questão 8 – B
Questão 9 – E
Questão 10 – B
40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aula de anatomia, 2020. Disponível em: https://www.auladeanatomia.com/novosite/pt/sistemas/sistema-
respiratorio/. Acesso em 11/02/2020.
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p. 360.
GALVÃO, Malthus. Lesões causadas pela ação dos ácidos – Vitriolagem. Malthus, 2020.
Disponível em www.malthus.com.br. Acesso em: 09/02/2020.
HERCULES, Hygino de C., Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005.
Pinterest, 2020. Disponível em https://br.pinterest.com/pin/349451252323189934/. Acesso em 11/02/2020.
41
CARREIRAS POLICIAIS
Medicina Legal
Capítulo 9
SUMÁRIO
9.1.8 Oligofrenia................................................................................................................................................................ 9
9.1.9 Idiotia.......................................................................................................................................................................... 9
1
9.2.3 Sexo.......................................................................................................................................................................... 18
10.1.4 Surdimudismo...................................................................................................................................................... 19
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 46
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 47
2
MEDICINA LEGAL
Capítulo 9
normal e os aspectos que nela influem, sejam de que ordens forem, se biológica, mesológica
ou social.
9.1.2 Imputabilidade
A imputabilidade é tratada no Código Penal nos arts. 26 a 28, que regulam os estados de
imputabilidade, inimputabilidade e de semi-imputabilidade. A imputabilidade é um fator
3
partir desse estado de consciência, poder direcionar sua vontade para a execução de
determinada conduta.
Nos termos da legislação criminal, salvo expressas exceções legais, os crimes previstos
tanto no Código Penal como na legislação extravagante são de natureza dolosa, caracterizada
entendimento.
consequência jurídica distinta para o indivíduo, podendo responder pelo crime, ser isento de
pena ou ter sua pena diminuída na fração variável de 1/3 a 2/3.1
1
Vide questão 8 deste material.
4
Em resumo, a determinação do estado de imputabilidade de um indivíduo se dá através
vezes, é possível que uma pessoa, apesar de ser portadora de uma doença mental, pratique
determinado ato que não tenha nenhuma correspondência com seu quadro biopsíquico.
Nesses casos, em não havendo nexo causal entre a conduta e o estado mental do
indivíduo, não será ele, para esses fins específicos, considerado inimputável ou semi-
imputável, respondendo normalmente por sua conduta criminosa2.
foi a causa da conduta ilícita cometida. Ou, conforme o caso, em não havendo alteração na
consciência da ilicitude, deve-se provar que o agente não tinha condições de determinar-se de
acordo com o entendimento da situação, e que essa falta de domínio da vontade foi a causa
da conduta ilícita.
delimitação do que seja normal ou anormal acaba por passar por uma extensão bastante
complexa da normalidade psíquica, que abrange fatores de ordem biológica, psicológica,
filosófica, antropológica ou até mesmo cultural que são inerentes a cada indivíduo de maneira
isolada.
2
Vide questões 1 e 2 deste material.
5
Não obstante, há situações extremas que revelam de maneira inegável um estado de
necessário que tenhamos uma breve noção do funcionamento do cérebro humano e dos
impulsos que atuam no sistema límbico. Vejamos a seguir.
como: fome, saciedade, prazer, desejo sexual, cólera, alegria, consciência, memória recente,
memória antiga, dentre outras.
Cada uma dessas áreas possui seus quimiorreceptores, que serão mais ou menos ativados
ser liberados nas sinapses e encontrar seus respectivos receptores, de modo a ativá-los ou
inibi-los, conforme sua ação.
Então, esses agentes químicos que atuam no cérebro podem provocar alterações no
6
9.1.4 Doentes mentais
estados, resta saber se, ao tempo da ação ou omissão, o agente era ou não capaz de
entender o caráter ilícito ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
São legítimas doenças mentais, podendo ter causa externa (intoxicação por álcool ou
depender do caso, evoluir para um grau mais elevado, gerando a psicose puerperal.
Há, portanto, uma inibição total do controle de suas ações neurológicas, podendo vir a
se tornar agressivos, caso não seja diagnosticada a doença desde seu início, e a consequente
submissão ao tratamento.
Ao contrário do que ocorre com as neuroses e com as psicopatias (nas quais há uma
predisposição criminosa e violenta), na psicose o indivíduo é normal até que haja o início do
desenvolvimento da doença.
7
9.1.6 Pessoas que possuem desenvolvimento mental incompleto
relativo;
Índios afastados da civilização de forma absoluta ou relativa;
São todos os oligofrênicos, conceituados como aqueles que possuem pouca capacidade
Idiotas – QI de 0 a 5%
Imbecis – QI de 20 a 50%
Débeis mentais – QI de 51 a 75%
desenvolvimento mental retardado. No entanto, por questões éticas, vem sendo utilizada uma
nova nomenclatura objetivando a não ofender a dignidade humana. São elas:
3
Vide questão 1 deste material.
8
9.1.8 Oligofrenia
É um termo utilizado na psiquiatria por Kraepelin, que pode ser caracterizado por um
sociedade.
nunca teve vida intelectual ativa; já o demente pode ter tido algum tipo de desenvolvimento.
9.1.9 Idiotia
9
São incapazes de se cuidar sozinhos ou de executar simples tarefas cotidianas, e não
articulam a palavra. Os idiotas profundos têm vida psíquica infra-humana, inferior à dos
animais. O idiota completo ou de segundo grau já se mostra mais capaz de dominar a fala
(ainda que de maneira rudimentar) e expressa instintos de natureza sexual. Não inúteis
economicamente e em geral vivem pouco.
9.1.10 Imbecilidade
Os imbecis são aqueles cujo QI se situa entre 25 e 50%, tendo idade mental equivalente
a uma criança de 3 a 7 anos. São capazes de algum tipo de aprendizado desde que sejam
empenhados enormes esforços, e quando amparados em estabelecimentos educacionais
especializados.
Alguns até apresentam uma boa memória. São facilmente enganados, e propensos à
cólera e a violência, mediante a execução de atos de pequena criminalidade, a exemplo de
assim, dentre todas as categorias de oligofrênicos, os débeis mentais são os que ostentam o
maior percentual de pacientes.
São incapazes de levar a vida em igualdade entre pessoas normais, mas que, no entanto,
podem até prover suas subsistências em condições que eventualmente lhes sejam favoráveis.
São facilmente irritáveis, podendo se mostrar propensos a atos de violência, tais como
lesões corporais, homicídio e antropofagia.
De acordo com a legislação penal vigente, os débeis mentais são classificados como
semi-imputáveis, sendo regulamentados nos termos do art. 26, parágrafo único, do CP.
Os idiotas e os imbecis são penalmente inimputáveis, uma vez que são, ao tempo da
ação ou omissão criminosa, inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento, sendo enquadrados nos termos do art.
Uma síndrome se caracteriza por um conjunto de sinais que ocorrem em mesmo tempo.
Em se tratando da síndrome de Down, uma das características marcantes é a presença de
Essas crianças portadoras da síndrome de Down têm uma porção de alterações biológicas,
sendo de ordem cardíaca, pulmonar, intestinal, renal e mental. Assim, essas crianças podem ter
um desenvolvimento mental próximo do dependente, do independente treinável ou do
independente educável.
11
Assim, deve-se constatar, em cada caso, o nível de discernimento mental da pessoa
portadora da síndrome de Down, pois seu desenvolvimento metal, apesar de deficitário, sofre
uma enorme gama de variedade, de modo que deve ser analisado criteriosamente o grau de
consciência para efeitos jurídicos penais (tanto para a responsabilização criminal no caso de
serem autoras de crimes; quanto na hipótese de aferição do grau de vulnerabilidade para fins
ambiente social, cultural, pedagógico, etc. Há, inclusive, uma presunção de discernimento para
a prática ou a permissão de atos sexuais, inclusive o matrimônio.
O exame de sanidade mental pode ter sua realização determinada tanto na fase
O exame de sanidade mental tem como objetivo a aferição do estado de higidez mental,
Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará,
de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do
ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame
médico-legal.
12
Atente-se para o fato de que a competência exclusiva do juiz para determinar a realização
do exame de sanidade mental somente ocorre nos casos em que ele deverá ser feito no
perícia.
capacidade, bem como outro grupo de pessoas que não são considerados doentes mentais
propriamente ditos, mas que tem algum tipo de distúrbio na saúde mental.
São disciplinados no Código Penal nos termos do art. 26, parágrafo único, como uma
cometem crimes, podem ter uma redução de pena que varia de 1/3 a 2/3.
a) Neuróticos;
b) Psicopatas;
c) Epilépticos;
d) Pródigos;
Vamos aqui tratar dos principais tipos de transtornos mentais, detalhando com mais vagar
aqueles que se mostram mais relevantes para fins de prova.
13
9.1.15 Neuroses – Fobias, Filias, Manias
Segundo alguns autores, por não ser caracterizadas como doenças mentais, as neuroses
não deveriam, a princípio, tornar o agente inimputável. Todavia, se isso for de um grau tão
elevado a ponto de influir na capacidade de autodeterminação do agente, é possível que este
seja enquadrado no conceito de inimputável nos termos do art. 26, caput, do CP.
9.1.16 Epilepsias
Outros autores só admitem essa hipótese nos casos de psicose epiléptica, com estado
crepuscular e/ou automatismos totalmente afastados da consciência do paciente infrator.
anunciada por auras sensitivo-sensoriais, motoras ou psíquicas, que são sintomas subjetivos
instantâneos, premonitórios, e que se caracteriza por convulsões, perda súbita dos sentidos,
Ferocidade na execução;
Instantaneidade do ato;
Não costuma haver motivação para o crime;
14
Pouca ou nenhuma preocupação de esconder a arma, objetos ou vestes sujas de
sangue;
consciência, bem como há anomalia da reação aos estímulos, o que acarreta confusão
mental.
De um modo geral, surgem agressões, amnésia em relação aos próprios atos (o agressor
costuma permanecer no mesmo local do crime, portando, não raras vezes, a arma que
utilizou). Nesses casos, geralmente os indivíduos são considerados semi-imputáveis.
9.1.17 Psicopatias
facilmente diagnosticados como doentes mentais. Os psicopatas, por sua vez, demonstram
distorções na sua personalidade, principalmente no que tange ao caráter, temperamento,
15
A personalidade psicopática se traduz como um padrão duradouro de comportamento
que difere das expectativas do ambiente cultural do indivíduo, geralmente tendo início na
adolescência ou na juventude, e que se mantém estável ao longo do tempo, gerando para seu
e da capacidade civil
respectiva ordem.
9.2.2 Idade
Código Penal:
16
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos,
na data da sentença;
Código Civil:
A idade tem influência tanto no campo penal quanto no civil. Conforme o art. 27 do CP,
os menores de 18 anos são considerados inimputáveis, tendo a legislação penal, nesse ponto,
Nesse último caso, a lei considera a dificuldade biológica dos idosos por entender que a
idade avançada provoca constantes alterações fisiológicas da lucidez, da atitude, nas suas
tendências e na própria vitalidade, presumindo assim que o criminoso senil representa um
menor perigo à sociedade.
Na lei civil, a capacidade plena dos indivíduos se dá com o advento da maioridade (18
anos). Não obstante, a legislação civilista, ao contrário da legislação criminal, determina uma
gradação na capacidade civil, instituindo a categoria dos relativamente incapazes4.
4
Vide questões 5 e 6 deste material.
17
9.2.3 Sexo
Em relação ao sexo, a lei o admite como limitador e modificador da capacidade civil, mas
não da responsabilidade penal. Na esfera civil, por exemplo, tanto o homem quanto a mulher
com 16 anos completos são capazes de contrair matrimônio, desde que com a autorização
10. Em relação ao sexo, a lei o admite como limitador e modificador da capacidade civil,
mas não da responsabilidade penal. Na esfera civil, por exemplo, tanto o homem
quanto a mulher com 16 anos completos são capazes de contrair matrimônio, desde
que com a autorização dos pais ou responsáveis legais do adolescente.
psíquica, enquanto que a paixão é um estado emocional crônico. Pode ocorrer de algumas
descargas elétricas na estrutura cerebral, em razão de estímulos externos que mexem com as
emoções de um indivíduo, desencadearem sintomas similares aos das psicoses ou ao
10.1.2 Agonia
civil, mais precisamente no que tange ao casamento in extremis. O Código Civil permite, em
seu art. 1540, a realização do casamento quando o sujeito estiver em iminente perigo de vida.
deles. O sonambulismo é um sintoma de perturbação que pode ser situado entre o sono
natural e o sono patológico.
Pode ser descrito sucintamente como “um sonho que se executa durante o sono”, em que o
indivíduo permanece adormecido, mas conserva sua atividade motora. Assim, qualquer ato
que o indivíduo venha a praticar, o fará de forma inconsciente, de modo que ficará isento de
pena.
O hipnotismo, por sua vez, se caracteriza como um processo destinado a induzir, por
alguns sentidos, mas conserva sua capacidade motora. Pode-se dizer que o hipnotismo é um
sonambulismo provocado.
10.1.4 Surdimudismo
vez que ficam parcialmente limitados de receber e de dar estímulos verbais e auditivos. Os
portadores de surdimudismo não devem ser equiparados aos portadores de retardo
mental, seja ele profundo ou moderado.
Art. 4º. São incapazes, relativamente a certos atos da vida civil ou à maneira de os exercer:
(...)
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade.
19
10.1.5 Afasia
Pela afasia, o indivíduo perde os sinais que usa para se comunicar com seus
10.1.6 Embriaguez
(...)
5
Vide questões 7, 9 e 10 deste material.
20
Pelo teor do art. 28 do CP, a embriaguez não constitui causa excludente da
Há, no entanto, uma ressalva quanto a essa regra geral, que está nas hipóteses de
embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior, se em razão dela, ao
Em outra hipótese, se, não obstante estar sob o efeito de embriaguez proveniente de caso
Vê-se, desta forma, que a embriaguez na esfera penal pode funcionar, a depender do
caso, como causa de isenção ou de redução de pena, desde que a embriaguez provenha de
caso fortuito ou força maior.
Formas de embriaguez:
b) Preterdolosa – o sujeito, apesar não querer o resultado, sabe que estando embriagado
pode vir a cometer algum crime.
21
e) Preordenada/voluntária – nesse tipo de embriaguez, o sujeito bebe com a intenção
I) Manifestações físicas:
É importante ressaltar que um indício isolado dessas causas não deve ser considerado
como determinante da embriaguez. É dizer, as características a seguir devem ser examinadas e
Taquipneia;
Hálito alcoólico-acético;
São manifestações ligadas à alteração psicomotora, tais como equilíbrio, marcha e demais
22
III) Manifestações psíquicas:
Fases da embriaguez:
a) Excitação/desinibição/macaco:
Genival França indica que nessa fase, o indivíduo mostra-se bem vivo, bem humorado,
dando às vezes uma falsa impressão d maior capacidade intelectual. Nessa fase também
É a fase do leão. Aqui surgem perturbações nervosas e psíquicas. O andar começa a ficar
cambaleante, e o sujeito apresenta certo grau de irritabilidade e propensão a agressões.
É a fase comatosa ou do porco. Nela o sujeito não se mantém de pé, caminhando com
dificuldade. Não reage a estímulos normais. Aqui pode haver o cometimento de crimes
omissivos, bem como há a possibilidade de ser molestado sexualmente.
I) Perturbações neurológicas:
23
II) Perturbações psíquicas:
heterogêneas são formadas por indivíduos que não possuem união ou ligação de ordem
intelectual ou afetiva.
Esse aspecto tem relevância na esfera penal, pois que a legislação elenca como
circunstância atenuante de pena o crime cometido sob a influência de multidões, sendo
24
QUADRO SINÓTICO
25
Semi-imputável – quando o indivíduo, em razão de
Nexo de causalidade:
26
da psicose maníaco-depressiva. Alguns distúrbios
Idiotas – QI de 0 a 5%
Imbecis – QI de 20 a 50%
Oligofrenia:
27
autodeterminar na vida social, o que lhes impede de
Idiotia:
e afetivas.
Imbecilidade:
defender.
Debilidade mental:
28
são os que ostentam o maior percentual de pacientes.
favoráveis.
antropofagia.
isentos de pena.
29
Delegado de Polícia pode representar pela realização do
f) Neuróticos;
g) Psicopatas;
h) Epilépticos;
i) Pródigos;
j) Doentes mentais com capacidade parcial;
Neuroses:
Epilepsias:
30
automatismos totalmente afastados da consciência do paciente
infrator.
Psicopatias:
31
legislação penal, nesse ponto, adotado o critério
32
ou alucinógenas. Esse desequilíbrio das funções
perigo de vida.
33
inconsciente, de modo que ficará isento de pena. O
sonambulismo provocado.
13.146/2015.
34
imputabilidade penal, como regra. Em sendo a
Formas de embriaguez:
pena o agente.
35
j) Acidental – o sujeito ingere bebida de pouco ou de
nenhum grau percentual alcoólico, mas que são
potencializadas pela interação com outros
medicamentos.
Taquicardia;
Taquipneia;
Hálito alcoólico-acético;
36
marcha e demais perturbações de ordem motora.
Fases da embriaguez:
d) Excitação/desinibição/macaco:
crimes comissivos:
Perturbações psíquicas:
37
físicos e psíquicos. O sujeito passa a ter alucinações e
visões de animais asquerosos e rastejantes (Zoopias).
38
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(CESPE - 2012 - PC-AL - Escrivão de Polícia) No que se refere à perícia médico-legal, julgue
os itens subsequentes.
No âmbito penal, os adultos portadores de retardo mental leve são considerados semi-
imputáveis, enquanto os portadores de retardo mental moderado e profundo são
considerados inimputáveis.
Comentário:
inimputável para a legislação penal, de modo que o gabarito da questão está “correto”.
39
Questão 2
Comentário:
Vimos que para que haja o enquadramento de um indivíduo como inimputável ou até
mesmo semi-imputável, nos termos do art. 26, caput, e parágrafo único do CP, é
necessário que haja uma avaliação psiquiátrica a fim de atestar o seu grau de
mental do agente, de modo que a sua conduta seja uma consequência direta do
transtorno existente. É dizer, a perícia deve demonstrar que a eventual alteração da
consciência da ilicitude do fato foi a causa da conduta ilícita cometida. Ou, conforme o
caso, em não havendo alteração na consciência da ilicitude, deve-se provar que o agente
não tinha condições de determinar-se de acordo com o entendimento da situação, e que
essa falta de domínio da vontade foi a causa da conduta ilícita. O gabarito da questão
está, portanto, “correto”.
Questão 3
(2012 - FGV - PC-MA - Delegado de Polícia) O transtorno que se manifesta pela compulsão
do indivíduo em comprar tudo o que vê e que pode levar à dissipação do patrimônio da
A) Dipsomania.
B) Riparofilia.
C) Cibomania.
40
D) Amusia.
E) Oniomania.
Comentário:
A oniomania é uma doença que ataca esse tipo de compulsivo, é caracterizada como um
transtorno de personalidade e mental, classificado dentro dos transtornos do impulso. O
Questão 4
que:
Comentário:
Aqui há um tema que não abordamos de maneira expressa, então vamos nos ater mais
um pouco na explicação para podermos elaborar o comentário dessa questão. A
psicopáticas, de modo que não há um consenso exato acerca das características de cada
uma delas. E, mais ainda, é difícil a tarefa de classificação de cada um desses perfis em
razão de, na prática, os indivíduos que são considerados psicopatas apresentarem
características mistas dos mais variados perfis psicopáticos. Não obstante, no que tange
41
ao transtorno de personalidade Borderline, há algumas características peculiares que
questão. Assim, podemos concluir que o gabarito que responde à nossa questão está na
alternativa “b”.
Questão 5
(FUNCAB - 2013 - PC-ES - Médico Legista) Marque a alternativa que indica situação de
incapacidade civil absoluta.
Comentário:
Aqui a questão aborda a temática referente aos limitadores da capacidade civil, mais
especificamente aqueles de ordem biológica. Trata-se da idade necessária à aquisição da
capacidade civil. Vimos que a legislação civilista, ao contrário da legislação penal, faz uma
gradação acerca da incapacidade para os atos da vida civil, sendo subdividida em
42
Questão 6
(FUNCAB - 2013 - PC-ES - Médico Legista) São incapazes de exercer relativamente os atos
da vida civil, EXCETO:
B) os ébrios habituais.
C) os viciados em tóxicos.
D) os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
E) os pródigos.
Comentário:
Questão 7
Comentário:
da imputabilidade. Segundo os ditames da lei penal, em seu art. 28, somente exclui a
imputabilidade a embriaguez completa, se e somente se for proveniente de caso fortuito
ou força maior. Desse modo, a embriaguez culposa não afasta a imputabilidade, de
43
modo que ao agente delituoso responde normalmente pelos atos praticados, se
definidos como crime pela lei penal. O gabarito da questão está, portanto, “correto”.
Questão 8
A doença mental e o desenvolvimento mental incompleto ou retardado, por si só, afastam por
completo a responsabilidade penal do agente.
Comentário:
Vimos que a doença mental pode sim ser levada em conta para fins de afastar a
imputabilidade penal. Não obstante, não basta haver a doença mental, mas também ela
deve ser de um grau que seja incapacitante, ou seja, retire do agente a total capacidade
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento, nos termos do art. 28, caput, do CP. Ainda, deve haver também um nexo
de causalidade entre a doença mental e o ato praticado pelo agente inimputável, de
modo que a doença mental seja a causa direta da conduta. O gabarito da questão está,
portanto, “errado”.
Questão 9
(AROEIRA - 2014 - PC-TO - Agente de Polícia) Com base na Lei Penal e nas principais
jurisprudências, julgue os itens abaixo.
É isento de pena o agente que, ao tempo da ação ou da omissão, era inteiramente incapaz de
Comentário:
44
Questão 10
(CONSULPLAN - 2013 - PM-TO - Soldado da Polícia Militar) Com base na Lei Penal e nas
principais jurisprudências, julgue os itens abaixo.
Comentário:
crime seria toda conduta típica, antijurídica e culpável. Cada um desses elementos se
subdivide em outros, mas que, no entanto, para fins de resolução desta questão, no
caracterizando não o conceito de crime, mas sim de injusto penal, não sendo viável a
45
GABARITO
Questão 1 - Certo
Questão 2 - Certo
Questão 3 - E
Questão 4 - B
Questão 5 – A
Questão 6 - A
Questão 7 - Certo
Questão 8 - Errado
Questão 9 - Certo
Questão 10 – Certo
46
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Da Capacidade Civil
Da Imputabilidade Penal:
Da Embriaguez:
Lei 13.146/2015;
47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed. Salvador: Editora Jus
Podium, 2018.
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p. 360.
HERCULES, Hygino de C., Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005.
48
CARREIRAS POLICIAIS
Medicina Legal
Capítulo 10
SUMÁRIO
Vitriolagem: .............................................................................................................................................................. 4
10.2.3 Venenos..................................................................................................................................................................... 5
Conceito e classificação:..................................................................................................................................... 5
10.6 Perícia médico-legal – Detecção da ação dos tóxicos e venenos nas autopsias. ................. 14
10.6.2 Residuograma nos pelos corporais – A importância dos pelos nas exumações e perícias
toxicológicas intra vitam. ............................................................................................................................................. 16
1
10.8 Envenenamento por cianeto. ........................................................................................................................ 21
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 66
LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 67
2
MEDICINA LEGAL
Capítulo 10
10.1.1 Conceito.
Estuda as energias de ordem química. Essa análise resulta, para o perito médico-legal, na
procura por venenos ou substâncias tóxicas como os cáusticos, podendo indicar suicídio,
homicídio ou acidente. Por ser um tema afeto aos agentes e energias vulnerantes de ordem
química, muito do que veremos aqui será uma repetição do capítulo 6 do nosso curso, apenas
com um aprofundamento a mais em algumas peculiaridades da toxicologia que não foram
10.2.1 Tóxicos.
Portanto, tóxico é muito mais sinônimo de veneno do que de uma substância química que
altere a normalidade mental ou psíquica.
1
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 661.
3
10.2.2 Cáusticos.
São substâncias que, de acordo com sua natureza química, provocam lesões
tegumentares (lesões nos tecidos) mais ou menos graves. Essas substâncias podem resultar
em efeitos coagulantes ou liquefacientes.
Vitriolagem:
Existe um tipo de composto químico líquido chamado ácido, da categoria das substâncias
cáusticas, que produz queimaduras pelo fato de desencadear uma reação exotérmica
(liberação de calor). Um dos ácidos mais utilizados em medicina legal é o ácido sulfúrico,
sendo extremamente corrosivo. O nome comumente empregado para o ácido sulfúrico é óleo
de vitríolo, pelo que o emprego dessa substância para causar lesões nas vítimas é chamado
de vitrioagem.
Na vitriolagem surgem as lesões viscerais e cutâneas, podendo sua causa ser criminosa,
suicida ou acidental. Quando criminosa, a ação é dada pelo arremesso de ácidos
propriamente ditos ou de outras bases cáusticas, geralmente contra a face da vítima, pescoço,
tórax ou até mesmo contra seu aparelho genital. Vejam nas imagens2 abaixo exemplos de
lesões de vitriolagem:
2
GALVÃO, Malthus. Lesões causadas pela ação dos ácidos – Vitriolagem. Malthus, 2020.
Disponível em www.malthus.com.br. Acesso em: 09/02/2020.
4
Quase sempre a ação criminosa é motivada por ciúmes, tendo o objetivo de causar
deformidades no corpo da vítima, configurando o crime de lesão corporal gravíssima, nos
termos do art. 129, § 2º, IV do Código Penal.
10.2.3 Venenos.
Conceito e classificação:
Pode-se conceituar veneno como qualquer substância que, introduzida pelas mais
diversas vias no organismo, ainda que homeopaticamente, danifica a vida ou a saúde. Podem
ser classificados da seguinte maneira:
5
Pode ser oral, gástrica, retal, dentre outras, sendo a
via orogastrointestinal a mais comumente usada
(ingestão oral).
PENETRAÇÃO
3
Vide questões 1 e 3 deste material para saber a forma de abordagem deste conteúdo.
4
Vide questão 2 deste material para saber a forma de abordagem deste conteúdo.
6
Síndrome de Body Packer:
A síndrome de Body Packer é diferente da síndrome de Body Pusher, uma vez que,
nesses casos, ocorre com aqueles que transportam pequenas quantidades de drogas nos
orifícios naturais.
A primeira informação crucial que permite a diferenciação entre essas duas substâncias é
que o veneno mata mesmo que em pequenas quantidades no organismo. O tóxico, por sua
Portanto, a grande diferença entre um e outro é a dose, pois ambos são agentes
7
10.3 Tropismos orgânicos.
Hidrargirismo e Mitridatismo.
Há uma história curiosa por trás dessa nomenclatura, que remete aos tempos antigos.
Existia um rei chamado Mitrídates VI, que acreditava paranoicamente que algum dia seria
vítima de uma traição, na qual alguém iria envenená-lo. Sendo assim, ele passava todos os
dias a ingerir pequenas quantidades de arsênico, imaginando que isso fortaleceria seu
organismo e o tornaria resistente à ação do arsênico (principal substância venenosa na
época), de modo que quando chegasse o dia em que alguém o envenenaria, ele estaria imune
à ação do veneno. E assim surgiu o nome mitridatismo, que consiste na ação de
envenenamento gradativo com pequenas doses periódicas de arsênico.
8
De igual forma, alguns autores também denominam de mitridatização a resistência
Assim, a mitridatização tanto pode ser o envenenamento gradativo e criminoso por baixas
doses periódicas de arsênico (meio criminoso); como também pode ser o desenvolvimento da
Pode ocorrer com pessoas que trabalham em lavouras, ou que exercem trabalho braçal de
intenso esforço físico. Então, a hiperceratose pode ser consequência do exercício de um
trabalho muito árduo e sem recursos adequados de materiais de segurança para o exercício
dessas atividades.
Não obstante, ocorre também a hiperceratose em pessoas que são intoxicadas por
9
5
Quando da constatação da hiperceratose palmar e plantar, não se pode dar, desde logo,
um diagnóstico de certeza acerca da intoxicação por arsênico como o fator causador deste
sinal. É provável, mas não é certo que tenha havido contaminação por arsênico. O
Linhas de Mees:
São linhas esbranquiçadas e transversas na lâmina ungueal, que pode ser única ou
múltipla. Essa linha pode significar, NORMALMENTE, intoxicação por arsênico, mas também
pode ser consequência de outras causas, tais como: septicemia, aneurisma dissecante da aorta,
5
GALVÃO, Malthus. Hiperceratose Palmar e Plantar. Malthus, 2020. Disponível em
www.malthus.com.br. Acesso em: 09/02/2020.
10
várias infecções parasitárias, insuficiência renal, bem como pode ser resultado do uso de
Orla de Burton:
É um sinal que aparece nas pessoas vítimas de intoxicação por chumbo, que consiste em
manchas azul-esverdeadas que ficam localizadas na coroa dos dentes. É muito comum em
pessoas que trabalham em atividades que demandam o contato direto com produtos à base
de chumbo, de modo que esse sinal pode ter origem criminosa ou acidental. Confiram na
imagem abaixo as características desse sinal:
6
GALVÃO, Malthus. Linhas de Mees. Malthus, 2020. Disponível em www.malthus.com.br. Acesso
em: 09/02/2020.
11
7
O hidrargirismo pode ocorrer pela contaminação ambiental feita pelas fábricas que
operam com a manipulação do mercúrio, como também pode ocorrer pela mineração (os
garimpeiros e mineradores utilizam o mercúrio para poder extrair o ouro das minas, e acabam
por contaminar o solo com essa substância e outros metais pesados).
IV) Cianeto – libera um odor de amêndoas amargas e somente é letal em meio ácido,
pois em meio alcalino, a liberação do íon cianeto não ocorre. Provoca lesões de cor
vermelha, além de impedir a respiração no meio intracelular. É utilizado o papel de
Shoenbein (cor azul) e o papel de Guinard (cor vermelha) para identificar esse tipo
de substância nas perícias. Veremos com mais detalhamento a ação do
V) Pesticidas organofosforados;
7
GALVÃO, Malthus. Orla de Burton. Malthus, 2020. Disponível em www.malthus.com.br. Acesso
em: 09/02/2020.
12
10.4 Distinção entre tóxicos e venenos.
A primeira informação crucial que permite a diferenciação entre essas duas substâncias é
que o veneno mata mesmo que em pequenas quantidades no organismo. O tóxico, por sua
A segunda barreira é o intestino delgado. Tudo o que é digerido pelo estômago e passa
pelo intestino delgado é capturado pelos vasos sanguíneos ali existentes e, em seguida é
levado para o fígado. O fígado possui uma grande veia chamada de “veia porta”, que é a que
ao fígado.
substâncias que penetram no corpo, eliminando aquelas que são impróprias para o
organismo. Assim é que grande parte das substâncias nocivas ao organismo são barradas pelo
fígado antes de entrarem definitivamente na corrente sanguínea.
13
Por conta disso, na maioria das intoxicações, o primeiro órgão a ser danificado é o
fígado, que tenta transformar o tóxico em uma substância menos agressiva para o organismo,
e que por isso acaba sendo lesado. É basicamente isso que ocorre nas hepatites tóxicas, uma
Por vezes, pode ocorrer de uma pessoa que já estava em processo de óbito ser
envenenada com a finalidade de acelerar a sua morte, e, logo após a ingestão do veneno, vir
a óbito rapidamente. No entanto, quando da realização da autópsia, pode ser constatado que
o estômago estava cheio de veneno, mas ou outros órgãos não, o que atesta que a causa da
Por isso, quando há uma morte por suspeita de intoxicação ou envenenamento, os órgãos
são enviados da necropsia para o laboratório em recipientes separados, de modo a viabilizar
suas análises e assim descobrir em quais órgãos aquela substância está mais concentrada,
para que a perícia possa analisar o trajeto da substância tóxica ou venenosa dentro do corpo.
questionamento de prova.
14
da realização da autópsia de um cadáver vítima de envenenamento ou de intoxicação, o perito
legista constata que esses órgãos estão inchados, congestos, sinalizando que houve intensa
atividade metabólica nesses locais.
envenenamento, visto que ela também poderá ocorrer diante de outras causas, a saber na
morte por asfixia (tríade asfíxica). Confira o aspecto dos órgãos congestos na imagem 8 a
seguir:
Nos exames laboratoriais, além dos órgãos também há análise de urina e fezes, a fim de
Morfina e opiáceos (codeína, tramadol, oxicodona, metadona, etc.) podem ser detectados
na urina num período de 3 a 5 dias após a absorção. Também podem ser secretados pela bile.
8
GALVÃO, Malthus. Congestão Polivisceral. Malthus, 2020. Disponível em www.malthus.com.br.
Acesso em: 09/02/2020.
15
Isso se mostra de grande utilidade para as perícias forenses, pois que, quando há excreção
na bile, a morfina e seus metabólicos podem ser encontrados até cerca de 1 mês após a
morte.
cabelos e unhas até durante anos após a morte (antes que haja decomposição desses tecidos,
é claro).
residuograma nos pelos é mais eficaz e preciso do que os exames de sangue e urina, para
fins de detecção de substâncias tóxicas, entorpecentes ou venenosas.
Os pelos são órgãos vivos, e, em sua raiz, existe o chamado bulbo capilar, também
formado por células vivas que captam tudo aquilo que passa na corrente sanguínea.
Essas células vivas são se reproduzindo, e, à medida que se reproduzem, vão subindo para
as camadas mais superficiais dos pelos. À medida que sobem, vão morrendo, e, quando já
mortas, elas se encontram fechadas hermeticamente pela queratina, e dentro delas está o
tóxico, podendo haver detecção por até 3 ou 4 meses após a última utilização, a depender da
droga.
Inclusive, a depender da altura em que as células intoxicadas estão ao longo dos pelos, é
possível à perícia calcular relativamente o tempo que a pessoa usou, ou se ainda está usando
aquela substância.
É possível, inclusive, a detecção do tóxico nos pelos por até 180 dias após a utilização.
humano.
16
característica que mantém mais ou menos intactas as substâncias que circulavam no
Confira na imagem abaixo a composição do globo ocular para uma maior compreensão:
HUMOR VÍTREO:
Isso é de grande importância prática no âmbito médico-legal, pois, após a morte, quando
as células já estão mortas, as membranas celulares perdem a sua capacidade seletiva, é dizer,
as substâncias químicas contidas dentro e fora das células se equilibram, o que dificulta a
análise laboratorial do percentual de concentração dessas substâncias no organismo.
Tomemos como exemplo a intoxicação por potássio. Vimos que as células do sangue
(glóbulos vermelhos) existente nos vasos capilares do pulmão, quando em contato com a
água doce, tendem a sugar maior quantidade de água que o seu limite normal devido à
concentração de sais dentro das células, que é maior do que fora (no plasma sanguíneo).
Ao absorverem grande quantidade de água, essas células acabam por se romper, de modo
a liberar grande quantidade de potássio na corrente sanguínea. O potássio é uma substância
17
altamente tóxica para o coração, de modo que altera os níveis e ritmos de batimentos
cardíacos.
em água doce, o indivíduo não chega a morrer propriamente asfixiado pelo volume de água
nos pulmões, mas sim de uma parada cardíaca antes que a asfixia propriamente dita possa
acontecer.
Assim ocorre nos casos de intoxicação. Isso porque o sódio e o potássio possuem níveis
diferentes de concentração dentro e fora das células. Quando eventualmente há a intoxicação
por potássio, estando este em grande quantidade fora das células, cai na corrente sanguínea e
chega ao coração, acarretando o mesmo resultado que na morte por afogamento em água
Tanto é que a injeção letal que se usa em alguns países estrangeiros é composta por uma
grande concentração de cloreto de potássio, justamente com a finalidade de causar uma
com a morte, a membrana celular perde sua propriedade seletiva, de modo que os níveis
dessa substância tóxica dentro e fora da célula se igualam após a morte.
Assim, não é possível que a perícia determine se a causa da morte se deu por excesso ou
No entanto, no humor vítreo esse nivelamento de substâncias demora mais para ocorrer
mesmo após a morte. Por isso, quando da autópsia de cadáveres, o melhor lugar para se
determinar a causa da morte por intoxicação ou envenenamento é dentro do humor vítreo.
18
Diante dessa explanação, se, eventualmente, se a prova lhe perguntar em que local do
corpo humano demora mais para que os níveis se concentração de substâncias nos meios
intracelular e extracelular se nivelem, a resposta deverá ser inevitavelmente o humor vítreo,
dentro do globo ocular. Assim, é possível detectar, por exemplo, a intoxicação de potássio na
corrente sanguínea, uma vez que no humor vítreo será conservada essa concentração
9
TRANSPORTE DE OXIGÊNIO PELA HEMOGLOBINA. Brasil Escola, 2020. Disponível em:
www.brasilescola.uol.com.br. Acesso em 20/02/2020.
19
O ar
atmosférico é
respirado
Hemoblobina chega ao
volta para o pulmões
pulmão e onde há
recebe mais trocas
oxigênio gasosas
Hemoglobina
Hemoblobina
leva oxigênio
se liga ao
para as
oxigênio
células
Assim é que o monóxido de carbono fica ligado à hemoglobina do plasma com um poder
de fixação incrível, cerca de 250 vezes maior que a fixação do O2 ou do CO2 . Quando essa
concentração de CO no sangue chega a um percentual maior que 50%, há perigo de morte
iminente.
Quando mais o indivíduo respira CO, mais ele se liga à hemoglobina, e quanto mais
houver essa ligação, menor a quantidade de hemoglobina livre no sangue, impedindo que
20
haja o transporte de O2 para as células, diminuindo assim a oxigenação do organismo,
em que a célula a todo momento larga e pega O 2, fazendo seu transporte pelo corpo.
Quando de trata de monóxido de carbono, essa reação se mostra irreversível, de modo que
vaporiza em meio ácido, por isso é que o cianeto é extremamente mortal se for ingerido, pois,
ao passar pelo estômago, sendo um meio ácido, ele reage liberando o íon cianídrico, que
mata.
Essa morte não ocorre em razão de o cianeto estar no sangue ou nos órgãos, mas porque
o cianeto está dentro das células. Portanto, o cianeto é um veneno que só mata quando está
com o oxigênio negativo, e dessa reação forma-se a água, que é neutra e benéfica para o
organismo humano.
Portanto, a mitocôndria pega todos os hidrogênios que são ácidos e gera uma reação
química que os transforma em água. Isso porque se houver excesso de hidrogênios ácidos, o
ambiente intracelular como um todo fica ácido, sendo extremamente nocivo.
21
Para que essa reação ocorra e haja produção de água, é necessária a atuação de uma
enzima chamada citocromoxidase. Ela permite que o oxigênio retire os hidrogênios ácidos
produzidos pela oxidação da glicose. Se essa enzima não atuar, o hidrogênio não reage com o
oxigênio, não havendo, por consequência, produção de água, deixando o ambiente ácido e
provocando a morte muito rapidamente.
Por isso, a morte é inevitável quando o indivíduo é envenenado pelo cianeto, ainda que
em pequenas doses, pois ele age dentro da célula, atuando dentro da mitocôndria, impedindo
que a enzima citocromoxidase realize a reação química geradora de água, acidificando o
O cianeto era muito utilizado nas câmaras de gás dos campos de concentração durante a
22
10.9 Inalantes e aerossóis – Ação imediata no organismo.
No entanto, a depender da maneira em que é introduzida, ela poderá passar ou não pelo
fígado, caso em que será metabolizada, podendo ou não passar para o resto do sistema
circulatório humano.
para o cérebro. Por isso é que o efeito das drogas inalantes é extremamente rápido e a droga
não passa pelo fígado.
Drogas como maconha e crack possuem um efeito quase que instantâneo, e, da mesma
forma, a eliminação dessas substâncias também é muito rápida, o que faz com que o
indivíduo queira consumir outra dose imediatamente.
É por isso que, embora mais barato que a cocaína pura, o crack é consumido com uma
intensidade muito maior, e, consequentemente, seu efeito passa a ser muito mais devastador
no organismo.
São drogas que possuem tropismo cerebral (atuam no cérebro), ocasionando diferentes
efeitos no organismo a depender da espécie de droga que se utiliza. As drogas tóxicas são
substâncias químicas naturais ou sintéticas, que têm a capacidade de agir sobre o sistema
nervoso central, com tendência ao tropismo pelo cérebro, alterando a normalidade mental
10
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 661.
23
10.10.1 Drogas Psicoanalépticas.
São drogas estimulantes, que atuam no aumento da atividade cerebral, dando ao usuário
uma sensação de vigor e euforia. São exemplos desse tipo de drogas a cocaína e as
anfetaminas (MDMA – Metilenodioximetanfetamina) e ecstasy.
Existem anfetaminas que são prescritas por médicos, com fins terapêuticos, e outras que
são proibidas, a exemplo do ecstasy. Essa droga nada mais é do que uma anfetamina
modificada.
que, na sua forma original, era conhecido como MDMA. Foi usado em 1953 pelo exército dos
EUA em testes de guerra psicológica, tendo ressurgido nos anos 60 como um medicamento
Foi apenas nos anos 70 que o MDMA surgiu como uma droga recreativa para utilização
em festas.
misturado com substâncias como amido de milho, pó de talco e/ou açúcar, bem como outras
drogas como a procaína (um anestésico local) ou anfetaminas.
É mais comumente inalada pelo nariz, sendo o pó absorvido pela circulação sanguínea através
do tecido das mucosas nasais.
Também pode ser ingerida ou friccionada nas gengivas e demais mucosas. Para a droga
ser absorvida mais rapidamente pelo corpo, os toxico dependentes injetam-nas nas veias, o
que aumenta substancialmente o risco de overdose.
disseminados para o resto do corpo, mas tendo como destino imediato o cérebro.
24
Por isso, a rapidez com que esses derivados chegam no cérebro é muito maior do que a
cocaína aspirada ou injetada na veia. Como entram pelo pulmão, são rapidamente eliminados,
resultando no rápido término da sensação dada pela droga, o que gera uma compulsividade
no uso. O efeito é rápido, desaparece rápido e leva o indivíduo a utilizar numa constância e
em dosagens cada vez maiores, gerando dependência química.
Um detalhe é que na preparação de drogas como a merla e o oxi são utilizados solventes
altamente tóxicos, como ácido sulfúrico, querosene, gasolina, soda cáustica, dentre outros. Ou
seja, embora seja pequena a quantidade de cocaína, há uma grande quantidade de
substâncias altamente lesivas para o organismo. Têm como efeitos a curto prazo:
I) Euforia intensa;
II) Ansiedade e paranoia;
Erythroxylom Coca
Merla Oxi
25
Quando há a ingestão de cocaína, após cair na corrente sanguínea, ela é processada pelo
fígado gerando uma substância chamada benzoil-ecgonina, que continua a ser metabolizada
dando origem à metil-ecgonina, estando presente no sangue. Por isso, quando há realização
Aqui há uma particularidade: se o indivíduo utilizar a cocaína junto com álcool, aparece
Se por acaso a pessoa consome cocaína na forma de crack, o produto formado será o
São lesões com o aspecto de um buraco na região do céu da boca (palato) e no septo
nasal. Geralmente são ocasionadas pelo uso exagerado de cocaína, que é uma substância que
tem propriedades anestésicas, o que gera a contração dos vasos sanguíneos nas regiões
Essa contração dos vasos faz com que haja uma grande constrição destes naquela região,
não havendo circulação de sangue nessa áreas como consequência. A falta de circulação gera
também a falta de oxigenação nessas regiões corporais, acarretando a necrose celular, que,
26
com o tempo e o uso gradativo e contínuo, faz um buraco na região nasal e do palato.
Aqui vai uma explicação que serve tanto para o aprendizado da matéria, como também
para você, concurseiro, que tem o hábito de estudar por várias horas!
ILUSÃO dessas pessoas, e espero que não seja também a sua! Cuidado!!! A ritalina é sim uma
droga psicoanaléptica, e, portanto, da categoria das drogas estimulantes. Ela acende você,
11
GALVÃO, Malthus. Lesão no Palato – Cocainomania. Malthus, 2020. Disponível em
www.malthus.com.br. Acesso em: 20/02/2020.
27
Caso você não tenha TDAH – transtorno de déficit de atenção e hiperatividade -, e
fizer uso da ritalina para ficar acordado estudando nas madrugadas adentro, o máximo que
você vai conseguir é uma longa noite de insônia, ficando com os batimentos cardíacos
acelerados, acima de 120 batimentos por minuto, a respiração ofegante num ritmo de 30 a 40
movimentos por minuto, num estado de agitação, mas não vai conseguir estudar.
é efetiva nos casos em que o paciente realmente tenha algum distúrbio neurológico ou
psiquiátrico que precise da utilização desse medicamento.
receituário médico. Ao fazer uso desse medicamento sem orientação médica, além de
consumir uma substância que não vai te trazer nenhum resultado positivo, a rigor, você estará
cometendo uma conduta criminosa tipificada na Lei de Drogas (Lei 11.343/2006), mais
especificamente no teor do art. 28, que tipifica o crime de posse ou porte de drogas para
consumo pessoal.
Então, meus caros, fiquem atentos e previnam-se de maus hábitos induzidos por falta de
informação ou conversas enganosas! Sua saúde sempre em primeiro lugar, façam a sua parte
São drogas que atuam na mente causando uma distorção no pensamento e nos
sentidos, acarretando alucinações, ilusões e delírios. Os indivíduos começam a ver o que não
existe, ouvir vozes e coisas que não foram ditas. Um grande exemplo dessa categoria de
O LSD é um dos químicos mais potentes, funcionando como alteradores do humor. Foi
obtido a partir do ácido lisérgico, que se encontra na ferrugem das gramíneas (um fungo que
se desenvolve no centeio e outros grãos). Mais tarde foi produzido em laboratório.
28
Atualmente é industrializado na forma de cristais, em laboratórios ilegais, principalmente
nos EUA. Estes cristais são convertidos em líquido para distribuição. É inodoro, incolor e tem
um leve gosto amargo.
Conhecido como “ácido” e por muitos outros nomes, o LSD é vendido na rua em
Maconha:
pelo organismo dando origem aos canabinoides, pelo que a realização de exame de sangue
toxicológico em usuários de maconha, por vezes, detecta não o THC propriamente dito, mas
Portanto, não é de todo verdadeira a afirmação de que a maconha pode ser usada
para fins medicinais, de modo que um de seus derivados é que possui essa função
29
terapêutica. Para isso são necessárias prescrição médica e autorização da Agência Nacional de
presença dessas substâncias por ocasião do exame médico toxicológico, esse resultado botará
todo o seu esforço a perder.
central, funcionando com calmantes ou sedativas. Essas drogas induzem o sono, provocam
analgesias (diminuição da dor) e geram o efeito calmante. São exemplos dessa categoria de
O álcool é uma droga permitida; a morfina é uma droga controlada; e a heroína é uma
droga proibida!
diretamente da planta, sendo uma droga natural; a heroína vem da morfina, mas é modificada
em laboratório, não sendo, portanto, natural.
Aqui há um importante detalhe acerca da classificação das drogas quanto sua origem, que
pode ser objeto de cobrança nas provas. Quando uma droga é extraída diretamente da planta,
é tida como uma droga natural. Quando é totalmente fabricada em laboratório, é
30
considerada uma droga sintética. Mas quando é derivada de uma droga natural e passa por
semi-natural.
O ópio tem ação depressora (calmante) do sistema nervoso central. Do ópio (suco) -
substância natural – se obtém a morfina, que é muito utilizada em casos terminais de câncer,
bem como analgésico de grande utilidade em cardíacos e outros tipos de pacientes.
Inclusive, tanto é verdade que a primeira coisa que o álcool deprime é a censura. Daí porque
o primeiro efeito da embriaguez é a desinibição, dando uma falsa sensação de liberdade e
felicidade.
Para gravar na memória as classificações das drogas aqui explicada, segue um esquema
explicativo sobre a etimologia das palavras, que certamente nos ajudará a lembrar na hora da
prova:
31
10.10.4 Alcoolismo e embriaguez – Modificadores da
imputabilidade.
O presente tema guarda íntima relação com o conteúdo trabalhado no capítulo anterior
A imputabilidade é tratada no Código Penal nos arts. 26 a 28, que regulam os estados de
imputabilidade, inimputabilidade e de semi-imputabilidade. A imputabilidade é um fator
biopsicológico que traduz a capacidade de um indivíduo de entender o que está fazendo e, a
partir desse estado de consciência, poder direcionar sua vontade para a execução de
determinada conduta.
Nos termos da legislação criminal, salvo expressas exceções legais, os crimes previstos
tanto no Código Penal como na legislação extravagante são de natureza dolosa, caracterizada
entendimento.
32
Inimputável – quando o agente, ao tempo da conduta, é inteiramente incapaz de
consequência jurídica distinta para o indivíduo, podendo responder pelo crime, ser isento de
pena ou ter sua pena diminuída na fração variável de 1/3 a 2/3.
determinado ato que não tenha nenhuma correspondência com seu quadro biopsíquico.
Nesses casos, em não havendo nexo causal entre a conduta e o estado mental do
indivíduo, não será ele, para esses fins específicos, considerado inimputável ou semi-
12
Vide questão 2 deste material.
33
Em resumo, deve-se mostrar que a eventual alteração da consciência da ilicitude do fato
foi a causa da conduta ilícita cometida. Ou, conforme o caso, em não havendo alteração na
consciência da ilicitude, deve-se provar que o agente não tinha condições de determinar-se de
acordo com o entendimento da situação, e que essa falta de domínio da vontade foi a causa
da conduta ilícita.
Para o nosso estudo atual, interessa essencialmente a análise do teor do art. 28, II, §§ 1º
e 2º do CP e Arts. 45 e 46 da Lei 11.343/2006 (Lei de drogas) Vamos a eles!
(...)
Há, no entanto, uma ressalva quanto a essa regra geral, que está nas hipóteses de
embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior, se em razão dela, ao
13
Vide questões 7, 9 e 10 deste material.
34
Em outra hipótese, se, não obstante estar sob o efeito de embriaguez proveniente de caso
Vê-se, desta forma, que a embriaguez na esfera penal pode funcionar, a depender do
caso, como causa de isenção ou de redução de pena, desde que a embriaguês provenha de
caso fortuito ou força maior.
Formas de embriaguez:
b) Preterdolosa – o sujeito, apesar não querer o resultado, sabe que estando embriagado
coloca voluntária e intencionalmente numa situação que, em tese, poderia gerar sua
inimputabilidade. Nesses casos, a embriaguez configura uma circunstância atenuante.
I) Manifestações físicas:
É importante ressaltar que um indício isolado dessas causas não deve ser considerado
como determinante da embriaguez. É dizer, as características a seguir devem ser examinadas e
Taquipneia;
Hálito alcoólico-acético;
São manifestações ligadas à alteração psicomotora, tais como equilíbrio, marcha e demais
Fases da embriaguez:
a) Excitação/desinibição/macaco:
Genival França indica que nessa fase, o indivíduo mostra-se bem vivo, bem humorado,
dando às vezes uma falsa impressão de maior capacidade intelectual. Nessa fase também
36
b) Confusão/agitação/leão/fase médico-legal dos crimes comissivos:
É a fase do leão. Aqui surgem perturbações nervosas e psíquicas. O andar começa a ficar
É a fase comatosa ou do porco. Nela o sujeito não se mantém de pé, caminhando com
dificuldade. Não reage a estímulos normais. Aqui pode haver o cometimento de crimes
omissivos, bem como há a possibilidade de ser molestado sexualmente.
I) Perturbações neurológicas:
37
Dipsomania: nela o sujeito ingere, de forma compulsiva, grandes quantidades de
bebida.
dos casos, não costuma provocar crise de abstinência, por não levar à
dependência física.
II) Cocaína – geralmente utilizada por aspiração pelo nariz, injetável ou colocado na
mucosa da boca. Pode provocar pequenos buracos no septo nasal, tremores no
pessoas de menor poder aquisitivo. Seus efeitos ocorrem com maior intensidade
e velocidade.
IV) Merla – sua consistência é pastosa, de cor amarelada e cheiro bem específico.
Seus efeitos duram aproximadamente 15 minutos, causando uma sensação de
euforia, seguida de inquietação. É ainda mais barato que o crack, pois é fabricada
com diversas substâncias como querosene e gasolina.
38
O efeito “todo poderoso”, no qual dá a sensação de poder
realizar atitudes impossíveis como voar.
O efeito de depressão profunda e solidão.
O efeito de paranoias.
O efeito de estado geral de confusão mental
IX) Erva do Santo-Daime (ayahuasca) – usada em rituais religiosos, por isso já foi
algumas vezes excluída ou incluída na Portaria 344/98 da ANVISA.
X) Oxi – também conhecida como droga da morte, por provocar alterações severas
Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito,
proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da
omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este
apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste
artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento
médico adequado.
39
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das
circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou
da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
de acordo com esse entendimento.
excluir a imputabilidade e isentar o réu de pena, ou atenuar a sanção penal, conforme o caso.
40
QUADRO SINÓTICO
41
translúcidas, moles e têm como principais agentes
causadores a soda, a potassa e a amônia.
Vitriolagem:
43
armazenamento no interior do organismo. Nesses casos, pode
44
não ocorre. Provoca lesões de cor vermelha, além de impedir a
respiração no meio intracelular. É utilizado o papel de
Shoenbein (cor azul) e o papel de Guinard (cor vermelha) para
identificar esse tipo de substância nas perícias.
45
uma substância menos agressiva para o organismo, e que por
Congestão Polivisceral:
VENENOS
Os pelos são órgãos vivos, e, em sua raiz, existe o chamado
46
estão ao longo dos pelos, é possível à perícia calcular
POR CIANETO pelo estômago, sendo um meio ácido, ele reage liberando o íon
cianídrico, que mata.
47
ou nos órgãos, mas porque o cianeto está dentro das células.
48
A depender da maneira em que é introduzida, ela poderá
humano.
É por isso que, embora mais barato que a cocaína pura, o crack
I) Drogas psicoanalápticas:
49
São exemplos desse tipo de drogas a cocaína e as anfetaminas
Imputabilidade penal:
50
fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.
51
entendimento. Em outra hipótese, se, não obstante
de 1/3 a 2/3.
Formas de embriaguês:
pena o agente.
52
inimputabilidade. Nesses casos, a embriaguês configura
Taquipneia;
Hálito alcoólico-acético;
Fases da embriaguês:
d) Excitação/desinibição/macaco:
53
revelar segredos, sendo extremamente instável. É a fase da
euforia.
omissivos:
sexualmente.
Perturbações psíquicas:
54
Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas):
55
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) Ao estudar as energias de ordem química, deve-
B) Os cáusticos, assim como os venenos, podem ser classificados quanto ao seu estado físico
em líquidos, sólidos e gasosos, podendo agir internamente e externamente.
transformação, eliminação.
E) São formas de se classificar os cáusticos: estado físico, origem, funções químicas e quanto
ao uso.
Comentário:
lesões que podem causar. Conforme explanamos no tópico referente aos venenos, vimos
que o seu percurso no organismo humano passa por algumas fases à medida que vai
56
principalmente interna, o que não é verdade. É bem possível que haja lesões internas
causadas por cáusticos, quando da sua ingestão acidental ou suicida, bem como nos
casos de inalação da substância, que penetra pelas vias aéreas, causando lesões nos
pulmões e na árvore respiratória como um todo. Não obstante, vê-se que as hipóteses
mais frequentes de lesão por cáusticos são resultado de sua ação externa, quando em
venenos. A alternativa “c” contém erro ao atribuir a vitriolagem à ação dos venenos, o
que, em verdade, corresponde à ação dos ácidos. E a alternativa “e” basicamente repete
Questão 2
Comentário:
Vimos que para que haja o enquadramento de um indivíduo como inimputável ou até
mesmo semi-imputável, nos termos do art. 26, caput, e parágrafo único do CP, é
necessário que haja uma avaliação psiquiátrica a fim de atestar o seu grau de
mental do agente, de modo que a sua conduta seja uma consequência direta do
transtorno existente. É dizer, a perícia deve demonstrar que a eventual alteração da
consciência da ilicitude do fato foi a causa da conduta ilícita cometida. Ou, conforme o
57
caso, em não havendo alteração na consciência da ilicitude, deve-se provar que o agente
Questão 3
A) Na morte por injeção de cloreto de potássio na veia, o diagnóstico exclusivo por exame de
B) A presença de livores róseos, sangue de cor vermelho vivo, trombose dos vasos cerebrais e
dos pulmões, pneumonia e amolecimento cerebral apontam para intoxicação por óxido de
carbono.
C) O cianeto é um gás com odor de amêndoas amargas, que inibe as enzimas que atuam na
cadeia respiratória mitocondrial e produz livores róseos.
E) A intoxicação crônica pelo gás arsênico produz o fenômeno conhecido como mitridatismo.
Comentário:
criando maior resistência após sucessivas ingestões graduais desse veneno. Esse é,
portanto, o erro da alternativa, pelo que o gabarito da questão está na letra “e”.
58
Questão 4
(COPESE - UFT - 2012 - DPE-TO - Analista Jurídico - de Defensoria Pública) Nos termos do
Código Penal, é isento de pena o agente que pratica o fato:
Comentário:
Temos aqui a abordagem do texto literal do art. 28, § 1º do CP, que trata da causa de
inimputabilidade na hipótese de embriaguez completa e proveniente de caso fortuito ou
força maior. Nesses casos, uma vez que seja retirada do agente a total capacidade de
entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento,
estará ele isento de pena, sendo considerado inimputável para todos os efeitos legais. O
Questão 5
B) não exclui, nem diminui, a imputabilidade penal, não operando qualquer efeito na aplicação
da pena.
59
C) é hipótese de elisão da imputabilidade penal porque afeta a capacidade de compreensão,
D) não exclui, nem diminui, a imputabilidade penal, servindo como circunstância agravante.
Comentário:
Desta vez a banca cobra do candidato o conhecimento acerca do teor do art. 28, § 2º do
CP, que trata da embriaguez incompleta, proveniente de caso fortuito ou força maior.
Nesses casos, a lei considera que o indivíduo ainda possui algum domínio de suas
faculdades mentais, possuindo uma capacidade de discernimento e de autodeterminação,
ainda que mínimas. Assim, não será caso se exclusão da imputabilidade e a consequente
isenção de pena, mas sim haverá a aplicação de uma causa de diminuição de pena que
varia de 1/3 a 2/3. O gabarito que atende ao enunciado da questão está, portanto, na
alternativa “a”.
Questão 6
(UFPR - 2012 - TJ-PR - Juiz) A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância
de efeito análogo:
A) isenta o réu de pena, mas pode ser recepcionada como crime independente punido com
pena de detenção.
D) só tem relevância penal quando a embriaguez atinge percentual perceptível por exame de
bafômetro.
60
Comentário:
FORÇA MAIOR são capazes de excluir a imputabilidade e isentar o réu de pena. Ou,
ainda, diminuir a quantidade de pena aplicada nos casos em que a embriaguez seja
Questão 7
Comentário:
definidos como crime pela lei penal. O gabarito da questão está, portanto, “correto”.
Questão 8
(Médico Legista – PCPR – 2017 - IBFC) O percurso do veneno através do organismo segue
fases determinadas. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta das fases desse
percurso.
61
C) Penetração; absorção; transformação; fixação; distribuição; eliminação.
Comentário:
fenômenos que podem ocorrer após a penetração do veneno, tais como: mitridatização,
toxicidade, intolerância, sinergismo e equivalente tóxico. O gabarito, portanto, está na
letra “a”.
Questão 9
(AROEIRA - 2014 - PC-TO - Agente de Polícia) Com base na Lei Penal e nas principais
É isento de pena o agente que, ao tempo da ação ou da omissão, era inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, em
Comentário:
Questão 10
(CONSULPLAN - 2013 - PM-TO - Soldado da Polícia Militar) Com base na Lei Penal e nas
principais jurisprudências, julgue os itens abaixo.
62
Comentário:
subdivide em outros, mas que, no entanto, para fins de resolução desta questão, no
ateremos ao elemento da culpabilidade. A culpabilidade é formada por três outros
Questão 11
(FUNCAB – Médico Legista – PC-ES/2013) O modo de ação tóxica sistêmica do ácido oxálico
é através de:
A) Tetanização.
Comentário:
Ácido oxálico: limpador de metais, removedor de ferrugem e tintas. Além das lesões típicas de
contato, ele provoca uma hipocalcemia por reação com o cálcio iônico e formação de cristais
63
notam-se uma incoordenação muscular, tetania, convulsões, coma, arritmias cardíacas, choque
Questão 12
II. A afinidade do CO pela hemoglobina é cerca de 240 vezes maior do que a do oxigênio.
Assinale:
Comentário:
Essa questão também aborda temas referentes ao capítulo que tratará da toxicologia
forense, no entanto, pelos conteúdos já vistos até agora, temos plenas condições de
resolver esta questão! Lembrem-se do conteúdo relativo às lesões e mortes causadas pela
ação térmica, onde foi explicado que a combustão de materiais inflamáveis produz a
emissão de gases tóxicos, sobretudo o CO (monóxido de carbono) e CO² (dióxido de
carbono). O CO possui uma maior fixação no organismo que o CO², não sendo expelido na
mesma proporção, pelo que fixa preso ao organismo humano. Quando inalado em grandes
quantidades, o CO se liga fortemente à hemoglobina do plasma sanguíneo, gerando uma
64
reação química e acarretando a formação de uma nova substância, a carboxiemoglobina,
concentrada em grande parte no sangue. Assim, há a transformação da consistência do
plasma, ficando mais espesso, de cor cereja (carminada), gerando a perda de oxigênio no
sangue. Com isso podemos julgar as assertivas propostas na questão, estando as
proposições I e II corretas. O gabarito da questão, portanto, está na alternativa “d”. a
assertiva III está incorreta ao afirmas que o CO se liga à mioglobina, o que, como vimos
não é verdade, ligando-se à hemoglobina. A assertiva IV está incorreta na indicação dos
percentuais letais de CO no sangue, ocorrendo risco de morte quando há saturação de 70
a 80% no sangue, acarretando pulso filiforme, bradipneia, síncope respiratória e morte.
65
GABARITO
Questão 1 - D
Questão 2 - Certo
Questão 3 - E
Questão 4 - D
Questão 5 – A
Questão 6 - C
Questão 7 - Certo
Questão 8 - A
Questão 9 - Certo
Questão 10 – Certo
Questão 11 – A
Questão 12 – D
66
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Da Imputabilidade Penal:
Da Embriaguês:
67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed.
São Paulo: Editora Saraiva, 2007.
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p.
360.
HERCULES, Hygino de C., Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005.
68
CARREIRAS POLICIAIS
Medicina Legal
Capítulo 11
SUMÁRIO
11.4.3 Gravidez..................................................................................................................................................................... 9
GABARITO ........................................................................................................................................................................... 38
2
MEDICINA LEGAL
Capítulo 11
11.1 Conceito.
Para Genival França1, “sexologia criminal, também chamada de sexologia forense, é a parte
da medicina legal que trata das questões médico-biológicas e periciais ligadas aos delitos
Conjunção carnal trata-se da penetração do órgão sexual masculino, pênis, no órgão sexual
feminino, vagina. Quando não consentida, a conjunção carnal consiste no crime de estupro.
Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal
ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
1
FRANÇA; Genival Veloso de. Medicina Legal, 9ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014, p. 606
3
Assim, é importante conhecer os aspectos técnicos e científicos que indicam estupro, de
modo que os peritos médico-legais buscarão por evidências subjetivas, como as declarações
da vítima, bem como evidências objetivas, descrevendo minuciosamente suas lesões.
Para a Medicina Legal, a palavra “libido” significa apetite sexual. Já em outras áreas da
psicologia, por exemplo, libido pode significar tudo aquilo que dá prazer ao indivíduo, não só
na área sexual.
Em 2009, apenas as mulheres podiam ser vítimas de estupro, tendo em vista que o crime
consistia apenas na conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça, sem abranger os
atos libidinosos diversos da conjunção carnal, que eram tidos como outro crime, os atentados
violentos ao pudor.
Atualmente, tipificado no art. 213 do Código Penal e classificado como crime hediondo pela
lei 8.072/90 (lei dos crimes hediondos), o crime de estupro além da conjunção carnal, também
abrange os atos libidinosos diversos da conjunção carnal, e é um crime comum, ou seja, pode
ter como sujeito ativo e sujeito passivo tanto homens quanto mulheres.
As lesões anais e perianais são consideradas atos libidinosos diversos da conjunção carnal e
há importantes sinais específicos que indicam a sua ocorrência.
São os chamados Sinal de Wilson Johnston e Sinal de Alfredo Machado. O primeira trata-
se de equimoses, hemorragia, aspecto triangular e dor no ânus, o segundo nada mais é do que
a cicatrização do sinal de Wilson Johnston.
4
ele colocará o diagnóstico de certeza da ocorrência de conjunção carnal, independentemente
se o que causou a rotura do hímen foi o pênis ou objeto inserido pelo agressor.
O diagnóstico de certeza de conjunção carnal será dado quando ocorrer2: rotura do hímen;
esperma no canal vaginal; gravidez; cancro sifilítico no colo do útero (doença transmitida
11.4.1 Himenologia.
Hímen: é uma membrana composta pela orla, que é a mucosa propriamente dita (apresenta
vasos sanguíneos, fibras elásticas e filetes nervosos), e pelo óstio, que é o orifício natural. O
hímen separa a vulva da vagina e deriva de pregas formadas a partir do epitélio vaginal. Quando
o óstio é maior do que a orla, o hímen é complacente, de modo que pode haver conjunção
carnal sem provocar a perda da virgindade. Quando é ao contrário, o hímen é não complacente.
Estrutura do hímen3:
a) Face interna: é face vaginal, rugosa e irregular.
b) Face externa: é a face vestibular, composta pela borda de inserção ou fixa, borda livre,
orla e óstio.
2
VIDE QUESTÃO 1 DESTE MATERIAL.
3
ANATOMIA HUMANA. Anatomia Urogenital, 2020. Disponível em: www.anatomia-
urogenital.blogspot.com/p/genital-feminino. Acesso em: 17/02/2020.
5
Tipos de hímen:
O hímen pode ser único ou múltiplo, comissurado (hímen com ângulos) ou acomissurado
(hímen sem ângulos).
a) Acomissurados: himens em que o óstio não apresentam ângulos em sua borda livre,
são os imperfurados, anulares (que têm o óstio circular), semilunares, helicoidais,
septados (transversal, longitudinal ou oblíquo) e cribiformes (diversos óstios, aparenta
o bico de um regador).
Vejam a imagem4:
Roturas: são lesões traumáticas e podem ser recentes ou antigas, ora sangrantes, ora
cicatrizadas, geralmente assimétricas e atingem toda a orla, aproximadas as bordas coaptam, ou
4
TIPOS DE HÍMEN. Slideplayer, 2020. Disponível em: www.slideplayer.es/slide/15714847 Acesso em: 17/02/2020.
6
seja, aproximadas, as bordas se juntam e são costuráveis. Para a medicina-legal, importa dizer
que houve conjunção carnal quando há a rotura, independentemente se o que causou a rotura
foi pênis ou objeto inserido. Se o local apresentar sangue, dor e tumefeito (inchação), diz-se
Carúnculas Mirtiformes: são cicatrizes do hímen que indicam que houve parto vaginal. São
traumáticas, assimétricas, apresentam resíduos do hímen.
Entalhes: não são lesões, são falhas no hímen, alterações congênitas, não hereditárias. Não
cicatrizam, geralmente são simétricas, apresentando ângulos arredondados, e não atingem toda
a altura da orla do hímen. As bordas, quando tentamos aproximá-las, não coaptam totalmente,
ou seja, as bordas não se juntam, pois há ausência de pedaços, de modo que não são
costuráveis5.
Chanfraduras: são também alterações congênitas que não cicatrizam, são semelhantes aos
entalhes, trata-se, na verdade, de diversos entalhes localizados na borda livre do hímen. São
pouco profundas e muito numerosas.
de modo a identificar o local da lesão como se estivesse verificando a hora. Observe a imagem6
abaixo e o modo como se refere à rotura no hímen.
5
Vide questão 2 deste material.
6
RELÓGIO HIMENOLÓGICO. Slideplayer, 2020. Disponível em: www.slideplayer.es/slide/15714847 Acesso em:
17/02/2020.
7
HIMENOLOGIA é o estudo do hímen, diferentemente de HIMENEOLOGIA. Este consiste no
estudo médico-legal do casamento.
11.4.2 Esperma.
biológicos podem ser encontrados algumas dessas substâncias que o compõem, as principais
são7:
LÍQUIDO PROSTÁTICO
LÍQUIDO SEMINAL
7
Vide questão 10 deste material.
8
Reação de Barbério: verifica a presença de espermina, através da formação de
cristais de leucomaínas espermáticas.
11.4.3 Gravidez.
No Código Civil, há garantia aos direitos de alimento desde a concepção, pois, para o Direito
normalmente no endométrio, mas pode ser, por exemplo, na trompa, no ovário, no abdome
(gravidez ectópica ou fora do lugar).
Importa saber que a ovulação é o momento em que o ovário (glândula sexual feminina)
elimina o óvulo (gameta feminino). O óvulo vive entre 24 a 36 horas e morre ainda dentro da
trompa se não for fecundado. Quando é fecundado, ele leva cerca de 7 a 8 dias para chegar ao
Os anexos embrionários são estruturas que mantêm vivo o embrião dentro do útero
materno. Trata-se da placenta, saco amniótico, saco vitelínico, alantoide (estrutura que dá origem
9
ao cordão umbilical). Enquanto não saírem os elementos embrionários, o parto ainda não
acabou.
Há autores que dizem que o parto se inicia com a rotura do saco amniótico e outros que
dizem que é com a dilatação do orifício do colo do útero. O final do parto é tido como a
retirada ou saída espontânea da placenta. Por ser o último anexo embrionário a sair, marca o
fim do parto e o início do puerpério.
O estado puerperal é a elementar do tipo penal infanticídio, artigo 123 do Código Penal:
Infanticídio
Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto
ou logo após:
puerpério pode durar de seis a oito semana, quando o organismo materno retorna às suas
condições pré-gravídicas, e é um fenômeno físico-psíquico gerado pelos hormônios envolvidos
Atente-se pelo fato do tipo penal do infanticídio conter as palavras DURANTE O PARTO ou
LOGO APÓS, ou seja, não tem um requisito cronológico exato, portanto, diz-se que
compreende o perídio da expulsão dos anexos embrionários até os primeiros cuidados ao
infante nascido.8
8
Vide questão 9 deste material.
10
Provas de parto vaginal anterior:
Pode-se concluir que a mulher já passou por parto anterior quando há a presença de:
11.5 Aborto.
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um
terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a
gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer
dessas causas, lhe sobrevém a morte.
11
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
a) Litopédio: devido aos sais minerais do corpo da gestante e a presença de pouco líquido
amniótico, o feto morto, quando não é eliminado, fica mumificado, por isso também é
chamado de “criança de pedra”, como pode-se ver na imagem10 abaixo:
9
Vide questão 6 deste material.
10
LITOPÉDIO. Além da parede, 2020. Disponível em: www.alemdaparede.blogspot.com/2013/12/chinesa-da-luz-
um-feto-de-60-anos-de.html Acesso em: 17/02/2020.
12
b) Feto papiráceo: somente ocorre na gravidez de gêmeos. Quando um dos fetos se
alimenta e se desenvolve mais que o outro, que atrofia, morre e recebe o nome de feto
papiráceo, por sua semelhança ao papiro, vide imagem11:
de bolhas, que são vesículas cheias de líquidos, dando a impressão que a mulher continua
grávida. Observe12:
11
FETO PAPIRÁCEO. Busy, 2020. Disponível em: https://busy.org/@freddy88/feto-papiraceo-feto-momificado
Acesso em: 17/02/2020.
12
MOLA HIDATIFORME. Slideplayer, 2020. Disponível em: www.slideplayer.es/slide/ 1269550 Acesso em:
17/02/2020.
13
exagero na amplitude das articulações e hemólise universal. Pode apresentar Sinal de
Spalding, que é o deslocamento dos ossos do crânio, que estão soltos e cavalgando uns
sobre os outros, indicando maceração por mais de sete dias. Também pode aparece
manchas verdes nos orifícios do corpo do feto, indicando putrefação, mas somente se o
líquido amniótico estiver contaminado de micróbios (meio séptico), o que é menos
formação do cório, que é uma proteção para o embrião. Depois de um tempo, o cório
ganha vilosidades coriônicas e passa a se chamar trofoblasto, que mais tarde passará a
13
GALVÃO, Malthus. Maceração. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 12/02/2020.
14
Pseudociese é a falsa gravidez. Não se trata de simulação, é uma alteração psicológica em
que a mulher acredita realmente que está grávida. Lembre-se que a gravidez, para o direito
Trata-se de docimasias, ou seja, métodos utilizados para constatar se o feto nasceu ou não
vivo, a fim de melhor tipificar o evento ocorrido e garantir ou não determinados direitos civis,
como por exemplo, o direito sucessório14.
armazenado para futura repetição do teste. O perito deve ter cuidado com os resultados falsos
positivos e resultados falsos negativos. O falso positivo pode acontecer em casos de cadáver
pulmão flutue, mesmo sem o feto ter respirado. O falso negativo pode ocorrer quando há nos
pulmões a presença de pneumonia, o que torna os órgãos mais pesados, e mesmo havendo ar,
não flutuarão15.
14
Vide questões 3 e 8 deste material.
15
Vide questão 4 deste material.
15
indicando que houve respiração e, portanto, há a presença de ar. Se não flutuarem,
recipiente com água, de modo que, se flutuar, houve respiração, se não, passa-se para
a quarta etapa.
sucção.
primeira docimasia, em um recipiente com água, faz-se furos nos espaços intercostais do feto,
verificando se saem bolhas de ar. Na segunda, esmagam-se pequenos pedaços do pulmão em
duas lâminas de vidro, verificando se saem bolhas de ar. Na terceira, em um recipiente com
hidróxido de potássio, coloca-se um pedaço do pulmão embebido de álcool puro, de modo
que ele fica preso ao fundo do vaso, desse modo, verifica-se se o teste dá positivo com a saída
de bolhas de ar, resultantes da destruição do parênquima pelo líquido.
com um formato mais plano, menos convexo, o teste será positivo, pois significar que houve
respiração.
Docimasia Radiológica de Bordas: observa-se o raio-x nas radiografias dos pulmões. Será
considerado positivo se estiverem menos opacas, pois, quando não há respiração, há uma maior
opacidade.
Docimasia Táctil de Nerio Rojas: consiste em palpar os pulmões. Será considerado positivo
houver a presença de mielina, o que indica que houve mais de 12 horas de vida.
Tumor do parto: é uma prova de vida intraparto, ou seja, acontece quando há vida no início
do parto, comprovada pelo batimento cardíaco do feto, ainda que este não tenha respirado. É
possível provar que o coração estava batendo com a presença do chamado tumor do parto. O
17
tumor do parto nada mais é do que uma bossa serossanguinolenta occipital, um cefaloematoma,
que é causado pela pressão do canal vaginal na cabeça do feto. Na hora em que a criança está
nascendo, a cabeça passa pelo orifício do colo do útero, que faz pressão contra a sua cabeça.
O coração batendo empurra o sangue para a cabeça da criança, mas o sangue não retorna, por
conta da pressão lateral do colo do útero, fazendo com que o sangue se acumule embaixo do
11.6 Parafilias.
Pode-se chamar por parafilia o instinto sexual humano fora dos padrões da normalidade.
São psicopatologias de ordem sexual, que se caracterizam pela satisfação sexual pela realização
de práticas eróticas anormais. Algumas vezes as parafilia são elementos importantes a serem
Quantitativo Qualitativo
concursos:
18
Erotismo: é a tendência abusiva dos atos sexuais. Quando ocorre com o
homem, recebe o nome de satiríase (existem a ereção e a consumação do ato
com a ejaculação, mas o indivíduo não se satisfaz e tende a manter sucessivas
relações sexuais). Em relação à mulher, recebe o nome de ninfomania ou
uteromania, podendo levar ao crime ou à prostituição.
Anorgasmia: é uma disfunção sexual rara que ocorre quando o homem não
consegue chegar ao orgasmo. Não lhe falta desejo nem manifestações eróticas,
mas apesar disso, não consegue atingir o orgasmo.
16
VIDE QUESTÃO 7 DESTE MATERIAL.
19
Necrofilia: obsessão do indivíduo pela prática de atos sexuais com cadáveres,
chegando ao ponto de violar sepulturas para conseguir tal objetivo.
17
VIDE QUESTÃO 5 DESTE MATERIAL.
20
Bandagismo: excitação erótica de um indivíduo ao ficar amarrado.
Clismafilia: o indivíduo sente prazer quando lhe inserem água no ânus, seja
através de enemas ou clisteres (aparelho específico para higienização pós-
cirurgias).
21
Fetichismo: desvio sexual que se manifesta no desejo por um objeto ou parte
do corpo do parceiro sexual.
22
QUADRO SINÓTICO
CARNAL
numerosas.
Relógio Himenológico de Lacassagne: consiste em
hora.
de espermina;
24
Feto papiráceo: somente ocorre na gravidez de gêmeos.
25
células coriônicas, trofoblásticas ou placentárias, significa
água
26
Docimasia Hidrostática de Icard: examina-se em duas etapas
27
médio. Faz-se um furo no tímpano e observa se há saída de
bolhas de ar.
28
Docimasia de Souza Dinitz: consiste em observar se há a
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
29
C) presença de fosfatase ácida na vagina.
Comentário:
Essa questão trata do diagnóstico de certeza de conjunção carnal. Como vimos, a rotura
do hímen, esperma no canal vaginal, gravidez e cancro sifilítico são situações que levam o
perito a afirmar a conjunção carnal. Por tanto, a letra “a” é a resposta correta. A letra “b”
não poderia ser pelo fato da gravidez. A letra “c” não cita a concentração de fosfatase
ácida encontrada na vagina, portanto não há como afirmar se está ou não abaixo de 300
UI/mm³ (quando acima de 300UI/mm³, esse índice indica a presença de esperma). A letra
“d” nos fala sobre hímen complacente, que é aquele em que o orifício natural (óstio) é
maior do que a mucosa (orla), de modo que pode haver conjunção carnal sem a perda da
virgindade. A letra “e” não especifica a doença venérea, apenas o cranco sifilítico garante
a conjunção carnal.
Questão 2
Comentário:
30
trocados. A letra “e” traz o conceito de hímen comissurado e não de entalhes. A resposta
está, portanto, na alternativa “d”, pois a interrupção da orla himenal pode caracterizar
entalhes ou comissuras.
Questão 3
(NUCEPE - 2018 - PC-PI – Médico Legista) Sobre as provas de vida, assinale a alternativa
INCORRETA.
respiratório e mais língua, timo e coração, num recipiente com água na temperatura ambiente,
sendo positiva se o bloco flutua.
B) Para fins penais, considera-se como prova de vida extrauterina ter havido, pelo menos, um
episódio de respiração pulmonar.
D) Na maceração intrauterina pode ocorrer pele com aspecto bolhoso, a epiderme pode se
descolar, podem aparecer efusões avermelhadas nas cavidades serosas; o fígado pode se tornar
E) Quantos à docimásia hidrostática pulmonar de Galeno, não pode ser realizada na fase
enfisematosa, não podendo seus resultados positivos serem considerados prova de vida
extrauterina.
Comentário:
primeira alternativa, na verdade, descreve a primeira fase do teste e não a quarta, como
afirma, nossa resposta, portanto, encontra-se na letra “a”.
Questão 4
(NUCEPE - 2018 - PC-PI – Médico Legista) Marque a alternativa que contém o único indivíduo
que pode ter sido vítima de infanticídio.
31
a) Cadáver de feto recém-nascido a termo exibindo leite no conteúdo gástrico.
Comentário:
Atente-se para o fato de importar as palavras “durante o parto” e “logo após” contidas no
tipo penal do infanticídio, que significam o perídio da expulsão dos anexos embrionários
até os primeiros cuidados ao infante nascido. A alternativa “a” não traz um caso de
infanticídio no âmbito da Medicina Legal, pois amamentar o infante, é considerado
momento posterior aos primeiros cuidados. A letra “b”, “c” e “e” nos traz casos de
fenômenos que acontecem com o feto morto ainda no útero da mulher. Dentre as
alternativas, a que traz um indivíduo que pode ter sido vítima de infanticídio é a alternativa
“d”. Lembre-se que dando positiva a docimasia de galeno, significa que o infante nasceu
Questão 5
(NUCEPE - 2018 - PC-PI – Médico Legista) Satisfação sexual centrada na cópula anal com
mulher recebe o nome de:
A) Pederastia.
B) Uranismo.
C) Sodomia.
D) Sadismo.
E) Masoquismo.
32
Comentário:
Vimos que pederastia e uranismo significam a mesma coisa, qual seja a prática viciosa do
coito anal entre homens. O sadismo, por sua vez, é satisfação da libido através do
sofrimento alheio. Já o masoquismo, é a satisfação da libido através do próprio sofrimento.
Questão 6
(AOCP - 2018 – ITEP-RN – Perito Criminal) Para efeito de diagnóstico médico-legal, conforme
A) é permitido e não configura crime, se praticado por médico em casos de malformação fetal,
estupro e risco de vida à gestante.
B) é permitido e não configura crime, em casos de anencefalia fetal, estupro e risco de vida à
gestante.
C) é permitido e não configura crime, se praticado por médico, quando a gravidez resulta de
D) é crime em qualquer modalidade, embora não punível se praticado por médico, se a gravidez
resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou quando não houver
E) é crime em qualquer modalidade, embora não punível se praticado por médico em casos de
malformação fetal, estupro e risco de vida à gestante.
Comentário:
pois há clara referência ao Código Penal. Neste diploma, não há permissivo legal nos casos
de malformação fetal (trata-se de jurisprudência nos casos de anencefalia), além do mais,
o aborto nos casos de estupro somente é realizado com o consentimento da gestante, o
33
Questão 7
em mulheres, ou tocar seus seios ou genitais, sem que outra pessoa perceba ou identifique suas
intenções. Esse transtorno sexual é conhecido como
A) urolagnia.
B) riparofilia.
C) autoerotismo.
D) exibicionismo.
E) frotteurismo.
Comentário:
micção, em ver alguém urinando. Por sua vez, a riparofilia consiste em manter relações
sexuais com pessoas desasseadas. Já o autoerotismo, é o coito sem parceiro. O
na letra “e”.
Questão 8
(FUNDATEC – 2017 – IGP-RS - Médico Legista) Nas provas de vida extrauterina, realizadas na
perícia de fetos e bebês a termo na rotina médico-legal, utilizamos de docimasias para provar
que o sujeito passivo do crime, ou da morte natural, estava vivo. Das provas e experiências mais
conhecidas descritas abaixo, qual está correta?
A) A docimásia óptica de Bouchut refere que a distensão dos pulmões com a respiração provoca
o abaixamento das cúpulas diafragmáticas. Ou seja, a expansão dos lobos pulmonares ajuda
na retificação da convexidade diafragmática.
B) A docimásia pulmonar hidrostática de Galeno estabelece que os pulmões que respiraram
têm a sua densidade diminuída, pela penetração do ar e expansão dos espaços aéreos. A
34
prova consiste em mergulhar o tórax e os pulmões em frascos com vidros, em 4 etapas
distintas, para que se possam retirar conclusões válidas. Em resultado positivo, os pulmões
flutuam em uma das quatro etapas.
C) A docimásia de Plouquet propõe o uso rotineiro de cortes histológicos dos pulmões, para o
E) Casper desenvolveu a docimásia gastrintestinal, que como a de Galeno, relata que os bebês
que nasceram vivos deglutiram o ar. Deve-se retirar o tubo digestivo (do esôfago ao reto),
Comentário:
modo que também não pode ser a letra “c”. A letra “d” também está errada pois conceitua
a docimasia de Bouchut-Casper. A letra “e” trata da docimasia hidrostática gastrointestinal
Questão 9
(FCC – 2017 – POLITEC-AP - Médico Legista) De acordo com o Código Penal brasileiro, artigo
123, infanticídio é matar, sob influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou
logo após. Nesse tipo de crime, haverá a perícia psiquiátrica da mulher. Nesse contexto,
B) a avaliação psiquiátrica realizada alguns dias, meses ou anos após o fato não atrapalha a
conclusão do Perito Médico Legista.
35
C) o estado puerperal é facilmente diferenciado de outras perturbações mentais, tais como um
surto psicótico.
E) o estado puerperal tem influência das dores do trabalho de parto, do esforço para a expulsão
Comentário:
Como vimos, o estado puerperal não é um transtorno permanente. Ele começa com o fim
do parto e pode durar cerca de seis a oito semanas. Ademais, o estado puerperal não é
de fácil diferenciação do surto psicótico, principalmente quando se trata de mães com
Questão 10
D) Não é possível encontrar integridade himenal em mulher com vida sexual iniciada.
36
Comentário:
modo que a alternativa “a” está errada. A alternativa “c” nos diz que a ruptura himenal
seria indicativo de estupro, o que não é. Lembre-se que, para ocorrer estupro, deve haver
a violência ou grave ameaça. A letra “d” não seria por conta da existência do hímen
complacente, que permite a integridade himenal mesmo com a ocorrência de conjunção
carnal. A letra “e” não traz a concentração de fosfatase ácida encontrada na vagina,
portanto não há como afirmar se está ou não abaixo de 300 UI/mm³ (quando acima de
300UI/mm³, esse índice indica a presença de esperma). O gabarito que responde à nossa
E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e praticando
bastante! Vamos juntos até a aprovação! Até mais!!!
37
GABARITO
Questão 1 - A
Questão 2 - D
Questão 3 - A
Questão 4 - D
Questão 5 – C
Questão 6 – D
Questão 7 – E
Questão 8 – B
Questão 9 – E
Questão 10 – B
38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aula de anatomia, 2020. Disponível em: https://www.auladeanatomia.com/novosite/pt/sistemas/sistema-
respiratorio/. Acesso em 11/02/2020.
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p. 360.
GALVÃO, Malthus. Lesões causadas pela ação dos ácidos – Vitriolagem. Malthus, 2020. Disponível
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HERCULES, Hygino de C., Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005.
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