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CARREIRAS POLICIAIS

Medicina Legal
Capítulos 1 ao 11
CARREIRAS POLICIAIS

Medicina Legal
Capítulo 1
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Abordaremos os assuntos da disciplina de Medicina Legal da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1 – Perícias, Peritos e Documentos Médico-legais.

Capítulo 2 – Antropologia Forense.

Capítulo 3 – Traumatologia Forense.

Capítulo 4 – Energias de Ordem Mecânica.

Capítulo 5 – Energias de Ordem física.

Capítulo 6 – Energias de Ordem Química.

Capítulo 7 – Energias de Ordem Físico-química.

Capítulo 8 – Tanatologia Forense.

Capítulo 9 – Psiquiatria e Psicologia Forense.

Capítulo 10 – Toxicologia Forense.

Capítulo 11 – Sexologia Forense.

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SUMÁRIO

MEDICINA LEGAL, Capítulo 1 ....................................................................................................................................... 5

1. Perícias, Peritos e Documentos Médico-Legais ........................................................................................... 5

1.1 Conceito de perícia. ............................................................................................................................................. 5

1.2 Exame de locais do crime. ................................................................................................................................ 7

1.3 Peritos. .................................................................................................................................................................... 11

1.3.1 Atuação................................................................................................................................................................... 12

1.3.2 Nomeação. ............................................................................................................................................................ 13

1.3.3 Escusa justificável. .............................................................................................................................................. 16

1.3.4 Hipóteses de impedimento relativas aos peritos................................................................................. 17

1.3.5 Responsabilidade civil e criminal dos peritos........................................................................................ 18

1.3.6 Assistente Técnico.............................................................................................................................................. 19

1.4 Exame de corpo de delito. ............................................................................................................................. 20

1.4.1 Conceitos. .............................................................................................................................................................. 20

1.4.2 Imprescindibilidade do exame de corpo de delito. ............................................................................ 20

1.4.3 Prioridades na realização do exame de corpo de delito. ................................................................ 24

1.4.4 Formalidades para a realização das perícias:......................................................................................... 24

1.4.5 Laudo complementar. ...................................................................................................................................... 28

1.5 Documentos Médico-legais. .......................................................................................................................... 31

1.5.1 Conceito. ................................................................................................................................................................ 31

1.5.2 Notificações. ......................................................................................................................................................... 32

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1.5.3 Atestados. .............................................................................................................................................................. 32

1.5.4 Relatório médico legal. .................................................................................................................................... 34

1.5.5 Parecer médico-legal. ....................................................................................................................................... 36

1.5.6 Depoimento oral. ............................................................................................................................................... 36

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 37

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 41

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 49

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 51

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MEDICINA LEGAL

Capítulo 1

1. Perícias, Peritos e Documentos Médico-Legais

1.1 Conceito de perícia.

O conceito de perícia médico-legal pode ser definido basicamente como um conjunto de

procedimentos médicos e técnicos que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de


interesse da justiça. Assim é que todo procedimento médico (exames clínicos, laboratoriais,

necroscopia, exumação) determinado por autoridade policial ou judiciária, praticado por


profissional da medicina visando a prestar esclarecimentos à Justiça é denominado de perícia

ou diligência médico-legal.

É, portanto, um exame realizado sobre os elementos materiais percebidos nos fatos


destacados ao longo da persecução penal, realizado por pessoa dotada de qualificação técnica

(perito), e que se materializa através da confecção de laudos, constituídos de uma peça escrita,
tendo por base o material examinado.

Não é por outra razão que a maioria da doutrina afirma que a principal finalidade de uma
perícia é a perpetuação da materialidade e dos vestígios deixados pela prática de uma

infração penal, sendo o exemplo mais claro dessa afirmação o exame de corpo de delito,
como uma das mais importantes perícias disciplinadas no CPP.

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Sabe-se que o tempo, na grande maioria dos casos, faz com que desapareçam os vestígios

deixados pela prática da infração penal, o que inviabilizaria a análise desses elementos em
momento posterior, quando ao tempo da instrução criminal após a instauração do processo

criminal. Por isso se dá a importância da realização de exame pericial e sua documentação


feita em pormenorizada análise e descrição dos peritos sobre os elementos que compõe o

chamado “corpo de delito”.

O Código de Processo Penal faz referência, em seu art. 158, quanto à necessidade do

exame pericial nos crimes que deixam vestígios. Sobre o tema, é relevante o conceito e a
distinção entre duas categorias de delitos apontadas pela doutrina penalista:

 Crimes não transeuntes (delicta factis permanentis): são os crimes que deixam
vestígios, cuja prática da infração deixa rastros, pistas ou indícios perceptíveis pelos
sentidos, que tem como seu exemplo mais claro o homicídio (art. 121 do CP). No

caso, podem ser possíveis vestígios deixados pela infração o cadáver da vítima,
manchas se sangue, eventual arma apreendida no local do crime, vestes do suspeito,

dentre outras coisas.

 Crimes transeuntes (delicta factis transeuntis): são justamente o oposto da


categoria de crimes anterior, os quais são caracterizados pela transitoriedade dos
vestígios, ou seja, têm sua materialidade delitiva efêmera, cujos vestígios

desaparecem após breve decurso de tempo. Como exemplos, podem ser apontados
os crimes de injúria verbal (art. 140 do CP), desacato (art. 331 do CP), omissão de

socorro (art. 135 do CP), dentre outros.

As perícias médico-legais se procedem mais habitualmente mediante exames médico e


psicológico, necroscopia, exumação e laboratório, podendo incidir sobre:

a) Pessoas;

b) Cadáveres;
c) Objetos e instrumentos relacionados com a infração penal;

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Quando realizadas em pessoas, as perícias podem ter como finalidade a determinação da

identidade, idade, raça, sexo, altura; diagnosticar gravidez, parto e puerpério; lesão corporal,
sociopatias; estupro e doenças venéreas; determinar exclusão da paternidade; doença e

retardo mental, simulação de loucura, e, ainda, investigar envenenamentos e intoxicações, bem


como doenças profissionais e acidentes de trabalho.

Nos cadáveres possui como objetivo diagnosticar a realidade, a causa jurídica e o tempo

da morte; a identificação do morto; diferencias as lesões intra vitam e post mortem; realizar
exames toxicológicos nas vísceras do morto; proceder à exumação e extrair projéteis alojados

no corpo.

Nos objetos e instrumentos, pode ter a finalidade de busca por pelos, levantamento de
impressões digitais, exames de armas e projéteis (balística), caracterização dos agentes

vulnerantes, identificação de manchas de saliva, esperma, sangue, líquido amniótico e urina


sobre os objetos que encontram-se sob análise.

1.2 Exame de locais do crime.

O art. 6º, I do CPP trata das diligências a serem efetivadas pelo Delegado de Polícia logo

que tiver conhecimento da prática da infração penal, dispondo que:

Art. 6º. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial
deverá:

I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação


das coisas, até a chegada dos peritos criminais;

Amintas Vidal Gomes1 conceitua local do crime como:

A área em que haja ocorrido o delito com violência a pessoa ou coisa ou daqueles que
deixam ou possam deixar vestígios no lugar da consumação, bem como no sítio de
preparo dos meios materiais para o fato delituoso ou de ocultação do produto deste. Na
expressão local do crime compreendem-se também as cercanias do lugar em que se
registrou o fato. Para efeito de investigações, equiparam-se também a local de crime os
lugares em que se verificam mortes suspeitas, suicídios, desastres e incêndios.

1
GOMES, Vital Amintas. Manual do Delegado – Teoria e Prática, 7ª ed., atual e ampl./Rodolfo Queiroz Laterza.
Rio de Janeiro: Forense, 2012, p.100.
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Logo, por exemplo, para a constatação da qualificadora da escalada no delito de furto (art.

155, § 4º, II do CP), importante se faz a preservação do local para garantir a idoneidade da
perícia, preservando assim sinais em muros ou paredes, marcas de escada, etc.

Também é nesse sentido a orientação trazida pela norma constante do art. 169 do CPP:

Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a
chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou
esquemas elucidativos.

Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e


discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

Portanto, somente após a liberação dos peritos é que os objetos encontrados no local da
prática da infração serão apreendidos, podendo haver alteração na cena do crime.

O art. 1º da Lei 5.970/73 excepcionou essa regra, excluindo de sua aplicação os casos de
acidente de trânsito, dispondo que a autoridade ou agente que primeiro comparecer ao local

do acidente poderá providenciar a imediata remoção das pessoas e/ou veículos envolvidos
no acidente, alterando assim a cena do fato, nos casos em que haja prejuízo para o tráfego na

via pública:

Em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou agente policial que primeiro tomar


conhecimento do fato poderá autorizar, independentemente de exame do local,
imediata remoção das pessoas que tenham sofrido lesão, bem como dos veículos nele
envolvidos, se estiverem no leito da via pública e prejudicarem o tráfego.

Parágrafo único. Para autorizar a remoção, a autoridade ou agente policia lavrará boletim
da ocorrência, nele consignando o fato, as testemunhas que o presenciaram e todas as
demais circunstâncias necessárias ao esclarecimento da verdade.

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 Crimes com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa.

Nesses crimes, além de descrever os vestígios, os peritos indicarão que instrumentos, por
que meio e em que época presumem ter sido praticado o fato.

Trata-se de laudo pericial de fundamental importância, pois viabilizará o enquadramento

da conduta criminosa nas qualificadoras do crime de furto qualificado, previsto no art. 155,§
4º, I e II do CP.

Assim, os peritos deverão descrever as características do móvel ou imóvel, o modus

operandi e os instrumentos utilizados, o tempo do crime, indícios de participação de outros


coautores, dentre outras circunstâncias penalmente relevantes na apuração do fato.

O laudo pericial então embasará todo o transcorrer da persecução penal, desde o

indiciamento no inquérito policial até a denúncia oferecida pelo órgão acusador e a posterior
sentença do magistrado.

 Avaliação pericial.

O laudo de avaliação é de extrema importância nos delitos patrimoniais, pois quantificará o


prejuízo sofrido pela vítima. Servirão de análise as coisas destruídas, deterioradas ou que

constituam produto do crime. A avaliação poderá ser:

a) Direta: quando os peritos realizarem a avaliação tendo em mãos o objeto material


apreendido.

b) Indireta: quando impossível à avaliação direta, os peritos procederão à avaliação


indireta por meio dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem das

diligências operadas no inquérito.

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É importante destacar que o delegado de polícia deve requisitar a avaliação pericial mesmo

quando não houver a recuperação da coisa furtada.

Dessa forma, o laudo de avaliação do prejuízo causado pela prática da infração servirá
para:

 Aplicação do princípio da insignificância;

 Para o reconhecimento e aplicação de privilegiadora nos crimes patrimoniais que a

admitem (art. 155, § 2º; e art. 171, § 1º, IV, ambos do CP);

 Para a fixação do patamar mínimo indenizatório pelos danos causados pela infração,
por parte do magistrado quando da prolação da sentença condenatória (art. 387, IV do

CPP);

 Exame grafotécnico.

O exame grafotécnico ou caligráfico é uma espécie de perícia técnica que tem por objetivo
o reconhecimento de escritos, através da comparação de letra constante em documentos ou
papéis relacionados com a prática de determinada infração, que são atribuídos à lavra ou
autoria de determinada pessoa.

Na execução deste tipo de perícia deverá ser observado o seguinte:

I. A pessoa a quem se atribua ou possa se atribuir o escrito será intimada para o

ato, caso seja encontrada;

II. Para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa

reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho,


ou sobre cuja autenticidade não houver dúvidas;

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III. A autoridade, quando necessário, requisitará para o exame os documentos que

existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a


diligência, se daí não puderem ser retirados;

IV. Quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os

exibidos, a autoridade mandará que a pessoa escreva o que lhe for ditado. Se
estiver ausente a pessoa, mas em lugar certo, esta diligência poderá ser realizada
mediante a expedição de carta precatória, em que se consignarão as palavras que

deve escrever;

 Instrumentos do crime.

Serão obrigatoriamente sujeitos a exame, caso sejam encontrados e apreendidos, os


instrumentos empregados para a prática da infração, a fim de se lhes verificar a natureza e

eficiência (art. 175 do CPP). Assim, em caso de homicídio no qual se utilizou de uma faca
para a execução, o laudo deverá descrever a natureza do instrumento, bem como sua

eficiência para a causalidade do dano à integridade física ou vida da pessoa que fora vítima
do delito.

1.3 Peritos.

Perito é uma pessoa detentora de conhecimentos em determinada área do saber humano,

e que, portanto, irá de certa forma colaborar com a prestação da atividade jurisdicional,
ajudando o juiz no conhecimento da causa. A normatização dos peritos encontra-se expressa

no Código de Processo Penal entre seus arts. 275 a 281.

Portanto, sua atuação deve sempre se pautar pelas disposições legais determinadas pelo
CPP, estando os peritos, oficiais ou não, sujeitos à disciplina judiciária, conforme determina

o art. 275 do referido diploma legal.

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Há uma distinção que deve ser feita entre perito criminal e perito legista. O legista é

aquele que atua na realização de perícia médica, feita em seres humanos vivos ou mortos,
inteiros ou em partes. Assim, sempre que a perícia envolver um assunto médico, quem atuará

na realização do exame e elaboração do respectivo laudo será o perito legista. Podemos citar
como exemplos os laudos cadavéricos de autópsias, análise de lesões corporais em pessoas
vivas para caracterizar o grau da lesão, exame sexológico para análise de vestígios deixadas

por crimes sexuais, dentre outras.

O perito criminal, por sua vez, tem sua área de atuação determinada por um critério de
exclusão ou subsidiário, ou seja, atua em quaisquer perícias que não envolvam assuntos

médicos, tais como análise e coleta de provas no local do crime, realização de exame de
balística para o estudo de projéteis encontrados na cena do crime ou mesmo no corpo da

vítima, análise de substâncias químicas encontradas no corpo da vítima, elaboração de laudo


preliminar de substância toxicológica para atestar sua natureza como sendo droga, dentre

outras perícias.

1.3.1 Atuação.

Embora de grande importância na função jurisdicional, é certo que a atuação dos peritos é

limitada, pois que eles não julgam, não defendem nem acusam.

A eles incumbe apenas a análise do estado das coisas no local de ocorrência da infração, o
exame das armas ou instrumentos encontrados no local do crime e que com ele guardem

relação, das lesões (se houver), realização de exame cadavérico, sintomas apresentados em
pessoas vivas e a respectiva sequela natural, prestando minucioso relatório através de laudo,

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esclarecendo assim os fatos relevantes para as autoridades oficiais que atuam na apuração do

crime.

A atuação dos peritos, portanto, se resume a examinar e relatar fatos de natureza


específica e caráter permanente de esclarecimento necessário num processo. O perito analisa

e refere; visto e referido, exaure-se sua atuação.

1.3.2 Nomeação.

A escolha do perito cabe ao juiz da causa, seja no âmbito cível ou criminal, que deverá
nomeá-lo dentre os experts oficiais, conforme consta do art. 276 do Código de Processo
Penal.

Os peritos oficiais são pessoas detentoras de qualificação técnica e de conhecimentos em


determinada área específica do saber, que se encontram vinculados a órgãos oficiais do
Estado, compondo os seus quadros de carreira, que possuem a função específica de realização

de perícias. São, portanto, investidos por lei.

A Lei 12.030/09, que estabelece as normas gerais para perícias oficiais de natureza

criminal, assegura autonomia técnica, científica e funcional no exercício de perícia oficial de

natureza criminal, dispondo, ainda, que são os peritos oficiais:

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•Curso superior em qualquer área do
Peritos
conhecimento, como química,
criminais biologia, física, etc.

Peritos médicos-
• Formação superior em medicina.
legistas

Peritos odonto-
•Formação superior em odontologia.
legistas:

Pode ocorrer, no caso concreto, a hipótese de nomeação, pelo juiz, de peritos não oficiais

ou juramentados. Tal hipótese é disciplinada especificamente no caso de realização de exame


de corpo de delito, mas que não há empecilho para sua aplicação em outros casos que

demandem a realização de perícia.

O art. 159, § 1º do CPP determina que, nas comarcas em que não haja peritos oficiais, é
permitido à autoridade judiciária designar duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de

curso superior, escolhidas preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem


habilitação técnica relacionada à natureza do exame.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior.

§ 1º. Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as
que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

Essa é, portanto, a única exceção trazida pela lei que permite a atuação de peritos não
oficiais em demandas judiciais nas quais se faça necessária a realização de exame pericial. O

descumprimento dessa norma acarreta a nulidade do relatório médico-legal e, portanto, a


ilicitude da prova produzida.

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Os peritos não oficiais devem prestar compromisso antes de desempenharem o encargo
que lhes foi atribuído (art. 159, § 2º do CPP), diferentemente dos peritos oficiais, que não

necessitam de juramentação para cada perícia que realizarem. Por serem vinculados a órgãos
oficiais do Estado, há presunção de prestação de compromisso, pois que o fazem quando

assumem o cargo de peritos.

Em resumo, a nomeação dos peritos pode ser ilustrada a partir do seguinte esquema:

Peritos oficiais: Peritos não oficiais


•Basta um perito •Duas pessoas idôneas
portadoras de diploma
de curso superior, em
área específica.

No ato de nomeação, o juiz ou a autoridade policial, em verdade, fazem uma solicitação

através de ofício para o IML, e lá o diretor responsável pela instituição é quem indicará o

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perito que atuará no caso, não podendo as partes do processo influenciarem na nomeação do

perito, conforme dispõe o art. 276 do CPP:

CPP.

Art. 276. As partes não intervirão na nomeação do perito.

O que poderá acontecer é as partes indiquem seus assistentes técnicos, que são os peritos
de confiança das partes, que irão auxiliar o perito oficial, não o substituindo.

1.3.3 Escusa justificável.

O perito, quando nomeado pelo juiz para a realização da perícia, é obrigado a aceitar o

encargo, seja ele oficial ou não. Só é possível ao perito recusar o encargo judicial caso
apresente um motivo plausível para tanto, que justifique a sua impossibilidade de atuar
naquela demanda, conforme dispõe a parte final do art. 277 do CPP.

Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena
de multa de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível.

Isso porque, estando os peritos sujeitos à disciplina judiciária, a eles se aplicam as mesmas
causas de suspeição e impedimento atinente aos juízes, razão pela qual é perfeitamente

possível que um perito decline de sua atuação em um dado processo, desde que o faça de
maneira fundamentada, apontando as razões que inviabilizem a sua atuação.

Caso se neguem a aceitar o encargo, ou, ainda, deixem de atender à intimação, não

compareçam ao local da perícia ou obstem à realização da perícia e confecção do respectivo


laudo, estarão sujeitos a multa estipulada pelo aludido art. 277 do CPP, nas hipóteses de seu

caput e parágrafo único.

Art. 277 (...)

Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada
imediatamente:

a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;

b) não comparecer no dia e local designados para o exame;

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c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos
estabelecidos.

Caso o perito se recuse a comparecer no local do crime para a realização da perícia, é


possível a sua condução coercitiva, nos moldes do art. 278 do CPP:

Art. 278. No caso de não comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade
poderá determinar a sua condução.

1.3.4 Hipóteses de impedimento relativas aos peritos.

Dos peritos, oficiais ou não, nomeados pelo juiz se exige uma atuação imparcial, razão pela

qual se aplicam também aos peritos as mesmas hipóteses de suspeição relativas aos
magistrados, conforme o art. 279 do CPP.

Art. 279. Não poderão ser peritos:

I - os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos incisos. I e IV do art.


69 do Código Penal;

II - os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o


objeto da perícia;

III - os analfabetos e os menores de 21 anos.

Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre suspeição
dos juízes.

A hipótese elencada no inciso I, após a reforma do Código Penal, agora está trabalhada no
art. 47 do CP, no que se refere à interdição temporária para o exercício das funções habituais,

como sendo uma das penas restritivas de direitos.

Também são impedidos de oficiarem no processo aqueles que nele já tiverem prestado
depoimento na qualidade de testemunha, por exemplo, sendo defeso ao mesmo tempo o

exercício das funções de perito e testemunha.

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Em que pese a equiparação das menoridades civil e penal, estando agora em 18 anos, a

maioria da doutrina ainda entende que continua válida a previsão legal acerca da vedação de
oficiarem como peritos as pessoas menores de 21 anos.

1.3.5 Responsabilidade civil e criminal dos peritos.

Assim como qualquer outro profissional, os peritos podem eventualmente vir a ser
responsabilizados por ato ilícito cometido durante sua atuação, nos termos da legislação

vigente.

No âmbito da responsabilização civil, faz-se o destaque para os dispositivos do art. 186 do


Código Civil, bem como do art. 158 do novo Código de Processo Civil. Os referidos

dispositivos trazem as hipóteses em que poderá o perito ser responsabilizado quando sua
atuação gerar dano a alguém, quando restarem configurados os elementos subjetivos do dolo

ou da culpa, bem como traz, no caso do art. 158 do CPC, as respectivas sanções aplicáveis.

Para tanto, faz-se necessário o preenchimento de 4 requisitos para que se viabilize a


responsabilidade civil dos experts, nos moldes da sistemática legal vigente: dano, conduta,

nexo causal, dolo ou culpa.

No que tange à responsabilidade criminal dos peritos, é certo que sua atuação é passível
de configurar a prática de alguns crimes previstos na legislação penal vigente.

Assim, a depender do caso, poderão os peritos incorrer na prática dos seguintes crimes e

restar sujeitos a suas respectivas penas:

18
• Art. 317 do
Corrupção passiva:
Código Penal.

Violação de sigilo • Art. 325 do


funcional: Código Penal.

Crime de falso
• Art. 342 do
testemunho ou
Código Penal.
falsa perícia:

1.3.6 Assistente Técnico.

O assistente técnico é um perito de confiança contratado pelas partes, não se exigindo


imparcialidade, ao contrário dos peritos nomeados pelo Juízo ou mesmo pela autoridade

policial. Por isso mesmo é que não há falar em exceção de suspeição em se tratando de
assistentes técnicos.

Devem possuir graduação em nível superior de ensino em qualquer área do conhecimento

que seja pertinente à perícia realizada nos autos. Sua atuação na persecução penal consiste
em confrontar o laudo pericial confeccionado pelos peritos atuantes no processo.

De acordo com o art. 159, § 3º do CPP, podem requisitar a atuação de assistentes

técnicos: o Ministério Público, o assistente de acusação, o ofendido, o querelante (nos


crimes de ação privada) e o acusado.

19
A atuação do assistente técnico depende de admissão pelo juiz da causa, e terá
cabimento após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos!

Durante o curso do processo, é facultado às partes indicar assistentes técnicos, que

poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz, ou até mesmo ser inquiridos em
audiência.

Os assistentes técnicos poderão analisar o material probatório que serviu de base para a

perícia, mas somente dentro do ambiente do órgão oficial e na presença dos peritos

oficiais.

1.4 Exame de corpo de delito.

Está tratado entre os arts. 158 ao 184 do Código de Processo Penal.

1.4.1 Conceitos.

a) Corpo de delito: É o conjunto de vestígios materiais deixados pela infração penal. A


expressão “corpo de delito” não necessariamente significa o corpo de uma pessoa, mas sim os

vestígios deixados pelo crime, ou seja, diz respeito à materialidade da infração penal.

b) Exame de corpo de delito: É uma análise feita por pessoas com conhecimentos técnicos
ou científicos sobre os vestígios deixados pela infração penal, seja para fins de comprovação

da materialidade do crime, seja para fins de comprovação da autoria.

1.4.2 Imprescindibilidade do exame de corpo de delito.

CPP.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

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Nas infrações que deixam vestígios, assim denominadas como crimes materiais, a

realização do exame de corpo de delito é indispensável, visando assim à comprovação da


materialidade do crime a partir da elaboração de um laudo pericial.

Nessa categoria de infrações penais, o exame de corpo de delito não poderá ser suprido

nem mesmo pela confissão do acusado, comprovando assim a relatividade do valor


probatório desta como meio de prova, que, pelo sistema da livre apreciação da prova, deverá

ser confrontada com os demais meios de prova produzidos no processo.

O exame de corpo de delito pode ser realizado de duas formas, as quais caracterizam o
exame de corpo de delito direto e indireto.

 Exame de corpo de delito direto: Acontece quando os peritos têm o contato

direto com os vestígios que a infração deixou, e após feita a devida análise e
descrição, haverá a elaboração do laudo pericial.

O próprio Código de Processo Penal estabelece no seu art. 6º, I, que logo após a prática

da uma infração penal a autoridade policial terá que isolar o local do crime, para que não se
altere o estado de conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais.

CPP.
Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das
coisas até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com
fotografias, desenhos ou esquemas elucidativos.

Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das


coisas e discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica
dos fatos. (Incluído pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

O perito tem um prazo para a elaboração do laudo pericial, o qual corresponde ao


período de 10 dias, podendo ser prorrogado se houver necessidade, mediante autorização do

juiz.

CPP.
Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente
o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados.

21
Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias,
podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos
peritos.

 Exame de corpo de delito indireto: Ocorre quando o perito faz a constatação da

existência da infração através de meios outros que não o contato direto dos
peritos com os vestígios deixados pela infração penal. (ex.: prontuário médico

lavrado após o cometimento de lesões corporais, mas que, no entanto, não se foi
feita a perícia das lesões por órgão oficial do Estado, bem como fotografias da
lesão)2.

A maioria da doutrina entende que também pode servir como meio indireto de

constatação da materialidade delitiva a prova testemunhal.

CPP.
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Tanto o exame de corpo de delito direto quanto o indireto é necessário no processo dos

crimes materiais para efeito de viabilizar uma condenação, pois ao final do processo, caso o
juiz observe a ausência desse meio de prova, absolverá o acusado.

2
VIDE QUESTÃO 5 DESTE MATERIAL.
22
No entanto, em regra geral, ambas as modalidades de exame de corpo de delito não são
indispensáveis para a propositura da ação, pois ele poderá ser realizado no curso do processo

judicial.

Existem, no entanto, algumas hipóteses em que a lei vai exigir o exame de corpo de delito
para que haja a propositura da ação penal, seja direto ou indireto, constituindo o exame de

corpo de delito uma condição específica de procedibilidade.

É o que acontece nos crimes previstos na lei de drogas, onde se exige para a instauração
do processo o laudo de constatação preliminar que ateste a natureza da substância

apreendida como sendo droga, assim como os crimes contra a propriedade imaterial
(violação de direitos autorais).

A falta de exame de corpo de delito, nestes casos, acarretará a rejeição na inicial

acusatória por falta de condições da ação.

Lei 11.343/06.
Art. 50 (...)
§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da
materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e
quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa
idônea.

Crimes Contra a Propriedade Imaterial.


CPP.
Art. 525. No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não
será recebida se não for instruída com o exame pericial dos objetos que
constituam o corpo de delito.

23
1.4.3 Prioridades na realização do exame de corpo de delito.

A Lei nº 13.721/2018 acrescenta um parágrafo único ao art. 158 do CPP afirmando que
deverá ser dada prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de

crime que envolva:

 Violência doméstica e familiar contra mulher;


 Violência contra criança ou adolescente;
 Violência contra idoso;
 Violência contra pessoa com deficiência;
CPP.
Art. 158. (...)
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito
quando se tratar de crime que envolva:
I - violência doméstica e familiar contra mulher;
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

1.4.4 Formalidades para a realização das perícias:

A regra geral é a de que o exame de corpo de delito será realizado por um perito oficial.

O perito é um auxiliar do juízo, dotado de conhecimentos técnicos ou científicos sobre


determinada área do conhecimento humano, que tem a função estatal de realizar exames

periciais, fornecendo dados capazes de auxiliar o magistrado por ocasião da sentença.

Necessariamente o perito oficial é uma pessoa concursada, não precisando prestar


juramento sempre que for realizar cada perícia, pois no momento em que tomou posse já

prestou o juramento.

No entanto, se na localidade da infração não houver perito oficial, serão nomeados 2


peritos não oficiais, que a cada perícia a ser realizada prestarão o juramento para o

desempenho de suas funções.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito
oficial, portador de diploma de curso superior.

24
§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas
idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área
específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza
do exame.

§ 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente


desempenhar o encargo.

É possível que haja a nomeação de mais de um perito oficial para a elaboração do laudo,
nas chamadas perícias complexas, que são aquelas cuja realização demanda da atuação de

mais de uma área do conhecimento humano (ex.: perícia que envolve área médica e de
engenharia)3.

CPP.
Art. 159 (...)
§ 7º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de
conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito
oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico.

Quando o juiz determina a realização de uma perícia, deverá intimar as partes para que,

querendo, elaborem quesitos para que o perito oficial responda, no prazo de 10 dias. É
possível, ainda, que as partes façam a indicação de um assistente técnico, que são os peritos

de confiança das partes, que somente atuarão após a confecção do laudo pelo perito oficial.

 Podem nomear assistentes técnicos: o Ministério Público, o querelante


(ofendido titular da ação privada), o assistente de acusação (ofendido na ação
pública), o ofendido e o acusado.

3
VIDE QUESTÃO 7 DESTE MATERIAL.
25
 Até quando podem nomear assistentes técnicos: Podem ser indicados somente
na fase de processo judicial – nunca durante a fase investigativa, pois o CPP

prevê que o assistente técnico só poderá ingressar no processo após a sua


admissão pelo juiz da causa, presumindo-se assim que já houve a devida

instauração do processo.

CPP.
Art. 159 (...)
§ 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao
ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de
assistente técnico.

§ 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a


conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as
partes intimadas desta decisão.

Os assistentes técnicos podem ter contato direto com os vestígios deixados pela infração,
porém somente no local onde os objetos da infração estiverem guardados, e sob a

fiscalização do perito oficial.

§ 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base


à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre
sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se
for impossível a sua conservação.

26
O perito oficial tem necessariamente que ser imparcial no processo, inclusive se aplicando

a eles as hipóteses de suspeição referente aos magistrados. Os assistentes técnicos, no


entanto, não são imparciais.

Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre
suspeição dos juízes.

A perícia que deverá prevalecer é a que mais for compatível com os demais elementos
inseridos no contexto probatório do processo, não sendo necessariamente a que foi

elaborada pelo perito oficial, podendo inclusive o juiz decidir sem ter por base os laudos
periciais – o juiz não se vincula a perícia, pois o sistema é o liberatório e não o vinculatório.

Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no
todo ou em parte.

Uma vez elaborada a perícia, as partes podem querer ouvir o perito para fins de melhor
esclarecimento do laudo e saneamento de eventuais dúvidas quanto a ele. Nesse caso, o
perito será ouvido na audiência uma de instrução de julgamento.

CPP.
Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo
máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do
ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa,
nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos
esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e
coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.

Caso seja necessária a oitiva do perito, as partes deverão fazer uma solicitação prévia nesse

sentido, conforme o teor do art. 400, § 2º do CPP:

Art. 400 (...)


§ 2º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das
partes.

O requerimento prévio deve ser feito no prazo mínimo de 10 dias antes da audiência de

instrução e julgamento, já devendo apresentar previamente os quesitos que o perito deverá


esclarecer em audiência.

27
§ 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à
perícia: (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a


quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem
esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias,
podendo apresentar as respostas em laudo complementar.

1.4.5 Laudo complementar.

É possível o requerimento de saneamento de dúvidas ou obscuridades da perícia através


de um laudo complementar, também elaborado pelo perito. Sobre o laudo complementar, é

necessário se verificar se o laudo complementar de destina especificamente aos crimes de


lesão corporal, ou se o laudo complementar se destina a outras perícias.

Isso porque há uma particularidade em relação ao delito de lesão corporal que interfere

necessariamente na própria tipificação da conduta. No art. 129, § 1º, I do CP está tipificado o


crime de lesão corporal grave na hipótese em que, por conta da prática da infração, a vítima

ficar impossibilitada para a prática de suas atividades habituais por mais de 30 dias.

Nesse caso, há uma obrigatoriedade de realização de novo exame pericial na vítima


após transcorrido esse lapso temporal de 30 dias, a fim de atestar suas atuais condições físicas

e a consequente aptidão para o desenvolvimento de suas atividades habituais após esse


período de tempo, sob pena de desclassificação do delito para sua modalidade simples.

Em persistindo a impossibilidade de desempenho de suas práticas habituais, uma vez

atestado pelo laudo complementar de exame de corpo de delito, a conduta será enquadrada
no crime de lesão corporal grave, nos termos do art. 129, § 1º, I do CP. Caso tenham
desaparecido os vestígios da lesão praticada, ou, ainda, embora presentes, não impeçam a

vítima de desempenhar suas atividades rotineiras, o crime será o de lesão corporal leve,
previsto no art. 129, caput, do CP.

Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido
incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da
autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério
Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.

28
(...)
§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1º,
I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias,
contado da data do crime.

Assim, para o reconhecimento e comprovação da caracterização desta hipótese de lesão

corporal grave, é imprescindível a realização de um novo laudo pericial complementar depois


de passados 30 dias da prática do crime e da realização do primeiro laudo, conforme o teor

do § 2º do art. 168 do CPP.

Essa é, portanto, uma hipótese em que o exame e laudo complementares são


obrigatórios!

A ausência desse laudo ocasiona a desclassificação da lesão corporal grave para a lesão
corporal leve.

Não tendo como se comprovar, passados os 30 dias, a incapacidade para o exercício das

ocupações habituais, poderá haver comprovação por meio de prova testemunhal, como
forma de exame de corpo de delito indireto, conforme determina o art. 168, § 3º do CPP:

Art. 168 (...)


§ 3º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

29
Tanto o delegado de polícia quanto o juiz podem determinar de ofício a realização do

corpo de delito.

Ressalvando-se essa hipótese, nos demais casos a realização do laudo complementar

poderá ocorrer ou não, a depender do caso concreto, nas hipóteses em que o primeiro laudo
for incompleto.

Em sendo o laudo complementar destinado a perícias de outras espécies, se o juiz

constatar uma contradição, omissão ou obscuridade num laudo, o juiz PODERÁ determinar a
realização de um segundo laudo complementar4.

Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões,


obscuridades ou contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a
formalidade, complementar ou esclarecer o laudo.

Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo


exame, por outros peritos, se julgar conveniente.

Não existe, portanto, um limite de perícias a serem realizadas dentro de um mesmo

processo, conforme o teor do art. 180 do CPP:

Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do


exame as declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá
separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir
de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros
peritos.

Se uma perícia é realizada por meio de carta precatória, a designação dos peritos é feita
pelo Juízo deprecado, sendo esta a regra geral para a realização desse tipo de perícia.

4
VIDE QUESTÕES 7 E 9 DESTE MATERIAL.
30
No entanto, há exceção no caso de crime de ação penal privada, onde, havendo

concordância das partes, o perito poderá ser nomeado pelo Juízo deprecante.

Art. 177. No exame por precatória, a nomeação dos peritos far-se-á no juízo
deprecado. Havendo, porém, no caso de ação privada, acordo das partes, essa
nomeação poderá ser feita pelo juiz deprecante.

Parágrafo único. Os quesitos do juiz e das partes serão transcritos na precatória.

Art. 176. A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da


diligência.

1.5 Documentos Médico-legais.

1.5.1 Conceito.

Segundo Genival Veloso de França5, “documento é toda anotação escrita que tem a

finalidade de reproduzir e representar uma manifestação de pensamento”.

No âmbito médico-legal, denominam-se documentos médico-legais toda e qualquer


exposição verbal e documentos escritos por médicos e/ou peritos, com a finalidade de

elucidar a Justiça e servir de prova pré-constituída de fatos neles representados.

5
FRANÇA; Genival Veloso de. Medicina Legal, 9ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014, p. 25.
31
Do conceito já se pode extrair uma importante característica acerca destes documentos, os

quais poderão ser escritos ou verbais. Existem basicamente 5 espécies de documentos


médico-legais, a saber:

1) Notificações;

2) Atestados;
3) Relatórios;

4) Pareceres;
5) Depoimentos orais;

Vamos agora analisar o conceito e as principais características de cada um separadamente.

1.5.2 Notificações.

As notificações nada mais são do que comunicações compulsórias feitas por profissionais
da saúde às autoridades competentes acerca de um fato médico, bem como a respeito de

doenças infectocontagiosas e outras relacionadas ao trabalho de que tenham conhecimento 6.

Um bom exemplo dessa obrigatoriedade de comunicação pode ser encontrado na Lei


9.343/97 (Lei de Transplante de Órgãos), estabelecendo em seu art. 13 a obrigação de

comunicação de diagnósticos de morte encefálica feita por profissionais de saúde às centrais


de notificação, capacitação e distribuição de órgãos das unidades federadas.

O descumprimento dessa obrigação acarreta responsabilidade funcional junto aos

conselhos profissionais, bem como caracteriza a prática do crime previsto no art. 269 do
Código Penal.

1.5.3 Atestados.

São também denominados de certificados médicos. Consistem na afirmação simples, por

escrito, de um fato médico e de suas possíveis consequências. Pode ser emitido por qualquer
médico no exercício regular de sua profissão, a fim de sugerir um estado de doença, para
justificar uma licença ou falta ao serviço.

6
VIDE QUESTÃO 6 DESTE MATERIAL.
32
Tendo em vista essas finalidades, os atestados se subdividem em oficiosos,

administrativos e judiciários.

Os atestados oficiosos são aqueles solicitados pelos pacientes a seus respectivos médicos
a fim de justificar a falta ao trabalho, aulas ou quaisquer outras atividades rotineiras de seu

interesse.

Já os atestados administrativos são os solicitados pelo servidor público para fins de gozo
de licenças, aposentadorias ou abono de faltas a que façam jus.

Os atestados judiciários, por sua vez, são aqueles cujo interesse é pertinente à Justiça,

sendo assim sempre requisitados pelos juízes no exercício da prestação jurisdicional.

O atestado médico, muito embora deve necessariamente atender à veracidade das


informações nele constantes, é um documento que não exige compromisso legal!

Também é importante frisar que a veiculação de informações falsas no bojo dos atestados

médicos podem configurar na prática os crimes de falsidade ideológica (art. 299 do CP) ou
falsidade de atestado médico (art. 302 do CP), conforme o caso.

Nesses casos, para que haja a caracterização dos referidos crimes, é necessário que o

profissional da medicina haja com dolo, consistente na vontade livre e consciente de falsear a
atestação, visto que os referidos crimes, em sendo catalogados entre os crimes contra a fé

pública, não admitem a modalidade culposa.

Embora não se obrigue ao atestado uma forma fixa, é conveniente que dele constem
quatro partes: nome e sobrenome do médico, seus títulos e qualidades; qualificação do

33
paciente; o estado mórbido e demais fatos verificados; e, por fim, as consequências do que

foi apurado.

1.5.4 Relatório médico legal.

Esse é o mais importante dos documentos médico-legais, devido à suas exigências de


formalidade, bem como a sua incidência em provas de concursos. Portanto, sugerimos
especial atenção a esta espécie de documento!

Trata-se de um registro escrito que descreve minuciosamente todos os fatos de natureza


específica e caráter permanente que são pertinentes a uma perícia médica, requisitada por
autoridade competente a peritos oficiais ou, onde não houver, a peritos não oficiais.

Aqui vai uma primeira distinção importante e de corriqueira abordagem nas provas de
concurso público! Trata-se da distinção entre auto e laudo. Se o relatório é ditado
diretamente ao escrivão e na presença de testemunhas, denomina-se AUTO; se for redigido

posteriormente pelos peritos, após suas investigações e consultas a tratados especializados, é

chamado de LAUDO.7

O relatório médico-legal é composto por sete partes:

I) Preâmbulo: é a introdução na qual constam a qualificação da autoridade

solicitante, a qualificação dos peritos, do examinado, do local onde é feita a


perícia, data e hora, bem como o tipo de perícia que é realizada.

7
VIDE QUESTÕES 1 e 4 DESTE MATERIAL.
34
II) Quesitos: são perguntas cuja finalidade é a caracterização de fatos relevantes

que deram origem ao processo. No âmbito criminal, os quesitos já são


padronizados para fins de caracterização de elementos de um fato típico.

III) Comemorativo/Histórico: é o levantamento (histórico) de todas as informações

colhidas do interessado ou de terceiros acerca de detalhes e circunstâncias


capazes de esclarecer a perícia. Corresponde a uma anamnese do exame clínico
comum. Na maioria das vezes, os dados referentes aos antecedentes do histórico

de saúde são obtidos do próprio examinado.

IV) Descrição – visum et repertum: é a parte mais importante do relatório médico-


legal. Visto e referido, tem o objetivo de reproduzir fiel, metódica e
objetivamente, com exposição minuciosa dos exames e técnicas empregadas e de
tudo o que for constatado pelos peritos. Trata-se da descrição exata daquilo que

for objeto da perícia, sem que os peritos preconcebam ideias ou hipóteses.


Quando possível, deve ser ilustrado com desenhos,, gráficos, plantas, fotografias,
dentre outras técnicas que possibilitem maior compreensão e clareza acerca do

exame.

V) Discussão: nessa parte os peritos externarão suas opiniões, de modo a afastar


todas as hipóteses capazes de gerar confusão, tendo como objetivo o

oferecimento de um diagnóstico lógico e fluido de justificativas racionais.

VI) Conclusões: terminadas a descrição e a discussão, os peritos assumem uma


posição quanto à ocorrência ou não do fato, opinando sobre o objeto da perícia,
tudo com base nos dados constantes do histórico. O que for concluído será

resumido de forma concisa para autoridade solicitante.

VII) Respostas aos quesitos: os peritos devem responder a todos os quesitos, ainda
que redundantes, cuja finalidade é a caracterização de fatos relevantes que

deram origem ao processo, e que irão variar conforme o tipo de perícia. Saliente-

35
se que os quesitos formulados pelas partes poderão ser rejeitados quando

impertinentes.

1.5.5 Parecer médico-legal.

Trata-se de uma consulta médico-legal que envolve divergência importante sobre


interpretação de determinada perícia, podendo as partes interessadas solicitar esclarecimentos
mais aprofundados a uma instituição cujo corpo técnico tenha competência inquestionável ou

a professor de renome8.

Também pode ser denominada de perícia extrajudicial. O parecer nada mais é então do
que a resposta referente a assunto médico-forense dada aos questionamentos que abordam

pontos de dúvida sobre uma determinada perícia ou relatório médico-legal.

Como prova técnica, possui um valor probante relativo a ser analisado pelo juiz, que dera
ao referido documento a importância que entender, levando em consideração todo o conjunto

probatório dos autos, conforme a regra do art. 182 do CPP.

1.5.6 Depoimento oral.

Ocorre quando o perito é chamado a depor nos Tribunais em audiência de instrução e


julgamento, conforme sejam necessários esclarecimentos acerca do objeto da perícia.

Salienta-se que o perito dará seu depoimento como parte técnica do corpo judicante,

nunca como testemunha! O depoimento do perito deverá se restringir ao laudo que ofereceu
nos autos, de modo a explicá-lo da forma mais simples e clara possível.

8
VIDE QUESTÃO 10 DESTE MATERIAL.
36
QUADRO SINÓTICO

a) Simples: Conjunto de procedimentos médicos e técnicos


que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de

Perícias interesse da justiça, determinado por autoridade policial ou


judiciária.
Conceito

b) Complexas: são as que envolvem mais de uma área do


conhecimento, geralmente realizadas por mais de um perito;

Pessoa detentora de conhecimentos em determinada área do saber


humano, e que, portanto, irá de certa forma colaborar com a
prestação da atividade jurisdicional. Pode ser:

 Oficial: encontram-se vinculados a órgãos oficiais do


Peritos Estado, compondo os seus quadros de carreira. São
os peritos criminais, médicos-legistas e odonto-
legistas (Lei 12.030/09).

 Não oficial: portadoras de diploma de curso superior,


escolhidas preferencialmente na área específica,
dentre as que tiverem habilitação técnica.

 Perito oficial: basta um perito. Não precisa prestar


Atuação dos peritos juramento – presta o compromisso no ato de posse

na realização de do cargo público.

exame de corpo de
 Não oficial: 2 pessoas idôneas, portadoras de
delito – Art. 159 do
diploma de curso superior, que tiverem habilitação
CPP técnica, preferencialmente na área específica
37
relacionada com a natureza do exame. Devem prestar
juramento a cada nova perícia que realizarem.

Os peritos são obrigados a aceitar o encargo, salvo justo motivo


devidamente fundamentado  aos peritos se aplicam as mesmas
causas de suspeição referentes aos magistrados, pois que estão
Escusa justificável
sujeitos à disciplina judiciária (arts. 277 e 279 do CPP).
Os peritos respondem civil e penalmente por danos que vierem a
causar às partes, restando provado que agiram com dolo ou culpa,
ficando sujeitos à reparação do dano (art. 186 do CC), bem como
às respectivas sanções previstas em Lei (art. 158 do CPC);
Responsabilidade
A depender do caso, podem incorrer na prática dos crimes
civil e criminal dos previstos nos arts. 317, 325 e 342 do CP.
peritos
Perito de confiança contratado pelas partes, não se exigindo deles
imparcialidade! Podem ser chamados a atuar pelo Ministério
Público, o assistente de acusação, o ofendido, o querelante (nos
Assistente Técnico
crimes de ação privada) e o acusado. Depende de admissão pelo
juiz após iniciado o processo judicial.
Análise feita por pessoas com conhecimentos técnicos ou
científicos sobre os vestígios deixados pela infração penal. É
indispensável nos crimes materiais (não transeuntes).
Exame de corpo de
delito
 Obs.: Diferencia-se do corpo de delito, que é o
(Art. 158 do CPP) conjunto de vestígios materiais em si, deixados pela
infração penal

a) Direto: quando os peritos têm o contato direto com os


vestígios que a infração deixou;
Modalidades de
exame de corpo de
b) Indireto: quando o perito faz a constatação da existência da
delito (Art. 158,
infração através de meios outros que não o contato direto
parágrafo único) dos peritos com os vestígios deixados pela infração penal

 Violência doméstica e familiar contra mulher;


 Violência contra criança ou adolescente;

38
Prioridades na  Violência contra idoso ou pessoa com deficiência;

realização do
exame de corpo de
delito
Prazo para É de 10 dias, podendo haver prorrogação a pedido dos peritos.

realização
É facultativo, podendo ser requisitado no caso de dúvidas ou
obscuridades sobre o resultado da perícia.
 Obs.: É obrigatório em se tratando do crime de lesão
Laudo
corporal grave (art. 129, § 1º, I do CP c/c art. 168, § 2º
complementar
do CPP).

Documentos É toda e qualquer exposição verbal e documentos escritos por


médicos e/ou peritos, com a finalidade de elucidar a Justiça e
médico-legais
servir de prova pré-constituída.
São comunicações compulsórias feitas por profissionais da saúde

Notificações às autoridades competentes acerca de um fato médico, bem como


a respeito de doenças infectocontagiosas e outras relacionadas ao
trabalho de que tenham conhecimento.
São também denominados de certificados médicos. Consistem na
afirmação simples, por escrito, de um fato médico e de suas
possíveis consequências. Subdividem-se em:

 Atestados oficiosos: são aqueles solicitados pelos pacientes


a seus respectivos médicos a fim de justificar a falta ao
trabalho, aulas ou quaisquer outras atividades rotineiras de
Atestados seu interesse.
 Atestados administrativos: são os solicitados pelo servidor
público para fins de gozo de licenças, aposentadorias ou
abono de faltas a que façam jus.
 Atestados judiciários: são aqueles cujo interesse é
pertinente à Justiça, sendo assim sempre requisitados pelos
juízes.

É o registro escrito que descreve minuciosamente todos os fatos

39
Relatório médico- de natureza específica e caráter permanente que são pertinentes a

legal: uma perícia médica, requisitada por autoridade competente. É


composto por 7 partes: Preâmbulo; Quesitos;
Comemorativo/Histórico; Descrição; Discussão; Conclusões; e
Respostas aos quesitos.
É uma consulta médico-legal que envolve divergência importante
sobre interpretação de determinada perícia, podendo as partes
Parecer
interessadas solicitar esclarecimentos mais aprofundados a uma
instituição cujo corpo técnico tenha competência inquestionável ou
a professor de renome;
Ocorre quando o perito é chamado a depor nos Tribunais em

Depoimento oral audiência de instrução e julgamento, conforme sejam necessários


esclarecimentos acerca do objeto da perícia. O perito depõe como
parte técnica do corpo judicante, nunca como testemunha!

40
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(CESPE – 2012 – PC-AL – Escrivão de Polícia) O relatório médico-legal, uma descrição

minuciosa de uma perícia médica, denomina-se laudo, quando é escrito pelo próprio perito, e
auto ou depoimento oral, quando é ditado ao escrivão.

( ) Certo.

( ) Errado.

Comentário:

A questão aborda necessariamente a distinção entre os tipos de relatório médico-legal, e a


sua caracterização como auto ou laudo. Conforme chamamos sua atenção na explanação do

conteúdo, considera-se auto quando é ditado diretamente ao escrivão e na presença de


testemunhas. Será denominado então como laudo se for redigido posteriormente pelos

peritos, após suas investigações e consultas a tratados especializados. A questão em seu


enunciado a exata diferenciação das duas espécies de relatório médico-legal de maneira

afirmativa. Está, portanto, CORRETO o gabarito da questão.

Questão 2

(FUNIVERSA – 2015 – PC-DF – Perito Médico-Legista) Quanto ao laudo médico-legal, é


correto afirmar que

A) é um esclarecimento prestado em consequência de dúvidas, fatos controversos e

omissões de ordem técnica em uma interpretação pericial dos vestígios deixados por
uma infração penal.

41
B) são partes integrantes de um laudo: preâmbulo, histórico, descrição, relatório, discussão,

conclusão e resposta aos quesitos.

C) clareza, fidelidade, totalidade e ilustrações são características que configuram qualidade

ao laudo e o tornam compreensível e útil para quem o acessar.

D) auto é um tipo de laudo que se caracteriza por ser ditado a um escrivão, tendo por

exemplos a ata de embalsamamento e a ata de exumação.

E) a discussão é a parte integrante de um laudo médico-legal que comporta, com todos

os detalhes, os achados objetivos e subjetivos dos exames realizados.

Comentário:

A alternativa “A” está errada, pois que traz a definição de consulta médico-legal como
espécie de documento médico-legal. De igual modo, a alternativa “B” encontra-se também
errada, pois que o Relatório é o documento médico-legal, não é uma parte integrante do
próprio relatório. Além disso, faltou a menção aos quesitos, pois que não haverá respostas a
estes sem que eles estejam presentes no relatório. Lembrando que o relatório é composto
por 7 partes. A alternativa “C” está correta, sendo o gabarito da questão. O erro da
alternativa “D” está no fato de que Auto e Laudo, são espécies do gênero Relatório. Por fim, o
erro da alternativa “E” se dá pelo fato de que não há subjetivismo no relatório - laudo -
"Visum et repertum”, devendo o perito descrever o que fora analisado de forma minuciosa e
objetiva, de tudo consignando no respectivo laudo.

Questão 3

(FUMARC- 2014 – PC-MG - INVESTIGADOR DE POLÍCIA) O registro da anamnese do


paciente, dos cuidados médicos e dos documentos relativos à assistência prestada é

denominado

a) Atestado.

b) Notificação.

42
c) Prontuário.

d) Relatório.

Comentário:

O enunciado da questão aborda o conceito do histórico ou prontuário, como sendo uma


das espécies de documento médico-legal. A palavra chave que a que se deve levar e

consideração para a resolução desta questão é anamnese, que revela o registro feito pelo
médico acerca do historio do quadro de saúde do examinado. O gabarito da questão é,

portanto, a alternativa “C” por corresponder ao exato conceito de prontuário, estando as

demais erradas por exclusão.

Questão 4

(ACADEPOL – 2011 – PC-SP - DELEGADO DE POLÍCIA) A diferença entre laudo e auto


médico-legal é:

a) Os dois são ditados a um escrivão.

b) O auto é apenas um resumo do laudo.

c) O primeiro é escrito e o segundo é ditado a um escrivão perante testemunhas.

d) Os dois são pareceres.

e) O laudo só pode ser realizado pelo médico legista.

Comentário:

Mais uma vez a questão aborda a diferenciação entre auto e laudo. Fique ligado nessa

distinção, pois é de recorrente incidência nas provas! Conforme chamamos sua atenção na
explanação do conteúdo, considera-se auto quando é ditado diretamente ao escrivão e na

presença de testemunhas. Será denominado então como laudo se for redigido


posteriormente pelos peritos, após suas investigações e consultas a tratados especializados.

A alternativa correta, portanto, é a letra “C”, sendo o gabarito da questão.

43
Questão 5

(ACADEPOL – 2011 – PC-SP - DELEGADO DE POLÍCIA) Perícia médico-legal baseada


exclusivamente em prontuários médicos denomina-se:

a) Complementar.

b) Indireta.

c) Documental.

d) Subsidiária.

e) Direta.

Comentário:

A questão é simples e de fácil resolução. O seu enunciado traz precisamente o conceito de

exame de corpo de delito indireto. A perícia nada mais é do que uma análise acerca dos
vestígios da infração, a fim de elucidar sua materialidade e autoria, sendo, portando, o

resultado do exame de corpo de delito, materializando-se através da elaboração de um laudo.


O exame de corpo de delito indireto ou “perícia indireta” ocorre quando os peritos fazem a

constatação da existência da infração através de meios outros que não o contato direto dos
peritos com os vestígios deixados pela infração penal. (ex.: prontuário médico lavrado após o

cometimento de lesões corporais, mas que, no entanto, não se foi feita a perícia das lesões
por órgão oficial do Estado, bem como fotografias da lesão). O gabarito da questão é,

portanto, a alternativa “B”.

Questão 6

(ACADEPOL – 2007 – PC-MG – Delegado de Polícia) Constitui comunicação compulsória


feita por médico às autoridades competentes, de fato profissional, por necessidade social ou

sanitária:

a) Atestado.

44
b) Notificação.

c) Parecer.

d) Relatório.

Comentário:

A questão traz, de maneira simples, em seu enunciado, o conceito de notificação como


espécie de documento médico-legal. A expressão chave para a resolução desta questão é

especificamente “comunicação compulsória”. As demais alternativas estão erradas por


exclusão, uma vez que trazem espécies de documentos médico-legais que não se enquadram

no conceito trazido no enunciado. O gabarito é, portanto, a alternativa “B”.

Questão 7

(CESPE – 2018 - PC-MA - MÉDICO LEGISTA) Na perícia médico-legal, a perícia contraditória

é definida como:

a) procedimento que gera relatórios individualizados que não chegam a um ponto de vista
comum.

b) exame pericial realizado por um só perito.

c) exame realizado sobre vestígios materiais.

d) conjunto de procedimentos médicos e técnicos que tem como finalidade o esclarecimento


de um fato de interesse da justiça.

e) declaração tomada a termo em audiência de instrução e julgamento sobre fatos obscuros

ou conflitantes.

Comentário:

Pode ocorrer que sejam realizadas perícias mediante a atuação de mais de um perito, mais

especificamente no caso das chamadas perícias complexas, que são aquelas que envolvem
mais de um ramo do conhecimento. Ao atuarem na realização dos exames, caso os peritos
não concordem estaremos diante de uma perícia contraditória, hipótese em que cada um

45
elaborará individualmente o seu laudo pericial, nos termos do artigo 180 do Código de

Processo Penal, não ficando o juiz vinculado a nenhum deles, podendo aceitá-los, no todo ou
em parte, rejeitá-los, se for o caso, determinando a realização de nova perícia, decidindo de

acordo com sua convicção. Lembre-se que no CPP vigora o princípio do livre convencimento
motivado, no que tange ao sistema de apreciação da prova, sendo assim um sistema

liberatório, e não vinculatório, conforme explicamos no tópico referente ao exame de corpo

de delito. O gabarito da questão é, portanto, a alternativa “A”.

Questão 8

(TJ-PR - 2013 – MÉDICO) Assinale a alternativa que apresenta somente itens obrigatórios
para todo laudo pericial.

a) Nome do periciado; conclusão da perícia; identificação e assinatura do perito.

b) Nome do periciado; conclusão da perícia; CID; identificação e assinatura do perito.

c) Nome do periciado; conclusão da perícia; CID; exames apresentados na perícia.

d) Nome do periciado; conclusão da perícia; CID; identificação e assinatura do perito; data da

próxima perícia.

Comentário:

São itens obrigatórios em todo laudo pericial o nome do periciado, a conclusão da

perícia, a identificação e a assinatura do perito. A indicação do CID não é obrigatória. O

gabarito correto e que atende ao enunciado é, portanto, a alternativa “A”.

Questão 9

(ACADEPOL – 2007 – PC-MG – DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL) Quando os dois Peritos não
chegam, na perícia criminal, a um ponto de vista comum, cada um apresentará à parte o seu

próprio relatório. Chama-se a isso de perícia:

a) Nula.

b) Contraditória.

46
c) Complementar.

d) Sucinta.

Comentário:

Novamente a questão trata do conceito referente à perícia contraditória. Ocorre,


portanto, quando os peritos atuantes na realização do exame não chegam a uma conclusão

comum, caso em que cada um elaborará o seu laudo separadamente, de tudo consignando
suas próprias conclusões, sendo posteriormente levado à apreciação do juiz, nos moldes do

art. 180 do CPP. O gabarito correto que responde à questão é a alternativa “B”.

Questão 10

(FUNIVERSA – 2012 – PC-DF – Perito Criminal – Odontologista) Assinale a alternativa


correta com relação aos documentos médico-legais.

A) Notificações são comunicações não compulsórias feitas pelos médicos às autoridades

competentes de um fato médico, por necessidade social ou sanitária, tais como


acidentes de trabalho, doenças infectocontagiosas ou crimes de ação pública de que

tiveram conhecimento.

B) Atestado é a declaração escrita de determinado fato médico e suas possíveis


consequências. Resume, de forma objetiva, o resultado da avaliação realizada no

paciente, o teor de sua doença ou sanidade. Atende às solicitações de caráter


administrativo, mas não é válido para fins judiciais.

C) O laudo é um tipo de relatório elaborado por peritos após as análises que julgarem

convenientes, sendo dividido nas seguintes partes: preâmbulo, quesitos, história médica
(atuais e pregressas), exame clínico, descrição, discussão e conclusão.

D) O parecer é um documento que pode ser solicitado por uma das partes interessadas no

processo para explicações mais aprofundadas a uma instituição com corpo técnico de

alta reputação ou a um profissional cujo prestígio na matéria seja reconhecido.

47
E) O auto possui estruturação e características semelhantes às do laudo. É definido como

um tipo de parecer com o seu conteúdo ditado diante de testemunhas a um escrivão e


um delegado, como, por exemplo, o auto de exame cadavérico na gestante.

Comentário:

A alternativa “A” encontra-se incorreta ao afirmar que as notificações são comunicações


não compulsórias feitas por profissionais da área de saúde. Ao contrário, a principal
característica das notificações reside justamente no seu caráter compulsório resultante da lei
ou de atos normativos infralegais (Resoluções dos Conselhos Profissionais da área de saúde),
impondo-se ao profissional da área de saúde a obrigação de levar ao conhecimento das
autoridades competentes algum fato de natureza médica. O equívoco da letra “b” está em sua
parte final, quando a alternativa afirma que os atestados não poderão ser usados para fins
judiciais. Ao contrário, uma das espécies de atestados é justamente o atestado judicial,
explicado no tópico relativo aos atestados. O erro da letra “C” está na imprecisão de indicação
das partes que compõem o relatório médico-legal. A alternativa “D” está correta e é o
gabarito da questão, trazendo com exatidão o conceito dos pareceres. A alternativa “E”, por
sua vez, encontra-se errada por equipara os conceitos de auto e laudo.

Finalizamos então a resolução de questões referentes ao presente assunto! Espero que

tenham gostado do conteúdo e da abordagem das questões! Até a próxima pessoal!

48
GABARITO

Questão 1 – CERTO.

Questão 2 – C.

Questão 3 – C.

Questão 4 – C.

Questão 5 – B.

Questão 6 – B.

Questão 7 – A.

Questão 8 – A.

Questão 9 – B.

Questão 10 – D.

49
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Do exame de corpo de delito e das perícias em geral:

 CPP: Art. 6º, I; Arts. 158 ao 184;


 Lei 5.970/73: Art. 1º;

 Lei 12.030/09: Art. 2º;

Dos peritos:

 CPP: Arts. 275 ao 281;

 CC: Art. 186;


 CPC/15: Art. 158;

Dos assistentes técnicos:

 CPP: Art. 159, §§ 3º, 4º, 5º e 6º;

50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOMES, Vital Amintas. Manual do Delegado – Teoria e Prática, 7ª ed., atual e ampl./Rodolfo Queiroz Laterza.
Rio de Janeiro: Forense, 2012.

FRANÇA; Genival Veloso de. Medicina Legal, 9ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

51
CARREIRAS POLICIAIS

Medicina Legal
Capítulo 2
Sumário

MEDICINA LEGAL, Capítulo 2 ........................................................................................................................ 2


1. Antropologia Forense. ........................................................................................................................... 2
1.1 Identidade e identificação humana. ................................................................................................ 2
1.2 Identificação médico-legal. ............................................................................................................. 3
1.2.1 Raças........................................................................................................................................... 3
1.2.2 Sexo médico-legal. ...................................................................................................................... 7
1.2.3 Estatura. ................................................................................................................................... 10
1.2.4 Idade. ........................................................................................................................................ 11
1.2.5 Identificação pelos dentes......................................................................................................... 13
1.2.6 Prosopografia. ........................................................................................................................... 15
1.3 Identificação policial ou judiciária ................................................................................................. 15
1.3.1 Bertilonagem. ........................................................................................................................... 16
1.3.2 Datiloscopia .............................................................................................................................. 17
GABARITO................................................................................................................................................... 32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................... 33

1
MEDICINA LEGAL

Capítulo 2

2. Antropologia Forense.

2.1 Identidade e identificação humana.

O conceito de identidade pode ser expresso como o conjunto de características próprias e

exclusivas das pessoas, dos animais e dos objetos. É, basicamente, a some de sinais, marcas e
caracteres positivos e negativos que individualizam o ser humano ou uma coisa, distinguindo-

os dos demais.

Em se tratando do ser humano, especificamente, a identidade é o conjunto de


características pessoais e peculiares que diferencia um indivíduo dos demais, lhe conferindo

uma situação temporoespacial específica e status social único.

A identificação, por sua vez, nada mais é do que a determinação da identidade, ou seja, é
um processo por meio do qual se atribui a identidade de uma determinada pessoa ou coisa. A

relevância desse processo se dá em razão do fato de a identidade ser suscetível de


dissimulação, podendo ser falseada em certas circunstâncias e com determinados propósitos,

sobretudo o de eximir-se de responsabilidade civil ou criminal. Assim, há um direito e um


dever de identidade, de modo a viabilizar a proteção não só da identidade em si, mas
também dos direitos individuais e coletivos.

● Postulados da identificação.

Os postulados funcionam como características fundamentais da identificação. Ou seja, são

fundamentos biológicos ou técnicos que qualificam e preenchem as condições necessárias


para que o método de identificação seja considerado aceitável. Subdividem-se em cinco tipos:

2
a) Perenidade: é a capacidade de certos elementos resistirem à ação do tempo, e que
permanecem durante toda a vida e até após a morte (ex.: esqueleto).

b) Unicidade: é sinônimo de individualidade/exclusividade, de modo que certas


características são exclusivas de determinados indivíduos, possibilitando assim a
atribuição de sua identidade através da constatação destes sinais/elementos.

c) Praticabilidade: determina que o processo de identificação não deve ser complexo,


seja na obtenção ou no registro das características.

d) Imutabilidade: as características não mudam com o passar do tempo.

e) Classificabilidade: é necessária uma certa metodologia no arquivamento das


informações, bem como deve haver facilidade e rapidez na busca dos registros.

2.2 Identificação médico-legal.

Pode ser feita em pessoas vivas ou em cadáveres (inteiros ou espostejados), ainda que
reduzidos a fragmentos ou simples ossadas. Para fins de prova, abordaremos de maneira
sucinta a identificação quanto à raça, o sexo, a estatura, a idade, identificação pelos dentes

e a prosopografia.

2.2.1 Raças.

São muitas as classificações de raças existentes. Mas para efeitos de prova, abordaremos a
classificação mais aceita na doutrina médico-legal, proposta por Ottolenghi, que distingue em

cinco tipos étnicos fundamentais:

Caracterizado por ter a pele branca ou trigueira.


Cabelos crespos ou lisos, louros ou castanhos. Íris
azul ou castanha. Contorno craniofacial ovoide ou
TIPO CAUCÁSICO
ovoide poligonal. Perfil facial ortognata e
ligeiramente prognata.

3
Pele amarela. Cabelos lisos. Face achatada de diante
para trás. Fronte larga e baixa. Arcadas superciliares
pouco salientes. Espaço interorbial largo. Fenda
TIPO MONGÓLICO
palpebral pouco ampla, em amêndoa. Nariz curto,
largo. Maxilares pequenos e mento saliente.
Pele negra. Cabelos crespos, em tufos. Crânio
geralmente dolicocéfalo. Perfil facial prognata; fronte
alta, saliente, arqueada. Íris castanha. Nariz pequeno,
TIPO NEGROIDE
de perfil côncavo e narinas curtas e afastadas.
Zigomas salientes. Prognatismo acentuado. Mento
pequeno.
Pele amarela trigueira, tendendo para o
avermelhado. Estatura alta. Cabelos lisos como crina
de cavalo, pretos. Íris castanha. Crânio mesocéfalo.
TIPO INDIANO
Nariz saliente, longo e estreito. Fronte vertical.
Zigomas salientes e largos. Mandíbula desenvolvida.
Estatura alta. Pele trigueira. Cabelos pretos,
ondulados e longos. Fronte estreita. Zigomas
proeminentes. Nariz curto com narinas afastadas.
TIPO AUSTRALOIDE
Prognatismo, maxilar e alveolar. Dentes fortes.
Maxilares desenvolvidos. Cintura escapular larga;
bacia estreita.

Por ocasião do estudo da identificação quanto à raça, podem ser feitas algumas

subdivisões no estudo para abranger a verificação da forma do crânio e da medida de outros


ossos do corpo.

a) Forma do crânio:

Para a determinação da etnia, o formato do crânio revela alguns detalhes que podem
contribuir para a identificação. Assim, são apresentados pela literatura médico-legal alguns

índices que auxiliam na representação do formato do crânio, sendo verificados a partir de


pontos estabelecidos no crânio, chamados de pontos craniométricos, a exemplo do “eurio”,
“glabela”, etc.

4
● Índice cefálico horizontal (ICH): indica, basicamente, se a cabeça de uma
pessoa é mais ou menos larga, havendo uma fórmula para se determinar a
referida medida – “Fórmula de Retzius”.

100 𝑥 𝑙𝑎𝑟𝑔𝑢𝑟𝑎 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎 (𝐸𝑢𝑟𝑖𝑜 − 𝐸𝑢𝑟𝑖𝑜)


𝐼𝐶𝐻 =
𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜 (𝐺𝑙𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 − 𝑂𝑝𝑖𝑠𝑡𝑜𝑐𝑟â𝑛𝑖𝑜)

A partir da fórmula apresentada acima é possível definir a nomenclatura do tipo de crânio

que estiver sendo analisado. Assim, visto de cima para baixo, o crânio pode ser classificado
como:

•crânios mais longos e mais


Doclicocrânio ou
afinados (quando o resultado da
dolicocéfalo
fórmula for menor que 74,9);

Mesocrânios ou •formas médias (se o resultado da


mesaticéfalos fórmula for entre 74,9 e 80);

•perfil do crânio mais


Braquicrânios ou
arredondado (se o resultado da
braquicéfalos
fórmula for superior a 80);

Fiquem calmos! Para efeitos de prova, a fórmula acima representada não é importante a

ponto de ser objeto de cobrança. Apenas saibam que ela existe e para que finalidade se
destina, devendo ficar atentos às nomenclaturas acima destacadas e suas respectivas

características.

5
● Índice Transversal Vertical Posterior (ITVP): representa a maior ou menor altura do

crânio, visto de trás para frente. Pode ser determinado a partir do resultado da fórmula:

100 𝑥 𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎 (𝐵á𝑠𝑖𝑜 − 𝐵𝑟𝑒𝑔𝑚𝑎)


𝐼𝑇𝑉𝑃 =
𝑙𝑎𝑟𝑔𝑢𝑟𝑎 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎 (𝐸𝑢𝑟𝑖𝑜 − 𝐸𝑢𝑟𝑖𝑜)

A depender do resultado da fórmula representada, o crânio poderá ser considerado como:

• alto e estreito (para


Esternocrânio
resultados maiores que 98,0);

• de perfil intermediário (para


Metriocrânios
resultados entre 98,0 e 91,9);

• baixo e estreito (para


Tapinocrânio
resultados maiores que 91,9);

● Índice Sagital (IS) ou Índice Vertical Lateral (IVL) ou Perfil: trata-se da


dimensão do perfil vertical-lateral do crânio. Pode ser mensurado a partir
da seguinte fórmula:

100 𝑥 𝑎𝑙𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑎 (𝐵á𝑠𝑖𝑜 − 𝐵𝑟𝑒𝑔𝑚𝑎)


𝐼𝑉𝐿 =
𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜 (𝐺𝑙𝑎𝑏𝑒𝑙𝑎 − 𝑂𝑝𝑖𝑠𝑡𝑜𝑐𝑟â𝑛𝑖𝑜)

Por este índice, o crânio poderá ser classificado como:

• altos (quando o resultado for


Epistocrânio
maior que 75,0);

• baixos (quando o resultado for


Platicrânio
menor que 69,0);

• intermediários (quando o resultado


Mediocrâcnio
estiver entre 69,0 e 75,0);

6
● Índice radioumeral: Utiliza a medida dos ossos do braço do corpo humano. É o
resultado da seguinte divisão:
100 𝑥 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜 𝑟á𝑑𝑖𝑜
𝐼𝑅 =
𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜 ú𝑚𝑒𝑟𝑜

Nos negros o resultado é superior a 80, e nos brancos inferior a 75.

b) Índice Tibiofemural:

Utiliza medidas dos ossos da perna, sendo expresso pelo resultado da seguinte divisão:

100 𝑥 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑎 𝑡í𝑏𝑖𝑎


𝐼𝑅 =
𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜 𝑓ê𝑚𝑢𝑟

Nos brancos é inferior a 83; nos negros é superior.

c) Ângulo Facial (Jacquart, Cloquet e Curvier):

Também é outro método que auxilia na identificação da raça a partir das medidas obtidas

co corpo humano. Todos os ângulos faciais têm como ponto posterior orifício do ouvido
(meato acústico externo). Os pontos anteriores, por sua vez, variam1:

● Jacuart: tem como ponto anterior a base da fenda nasal.


● Cloquet: tem como ponto anterior a linha de implantação dos dentes.
● Curvier: tem como ponto anterior a borda dos dentes.

2.2.2 Sexo médico-legal.

Em se tratando de pessoas vivas e de cadáveres recentes, sem mutilações dos órgãos


genitais e quando presentes os caracteres sexuais secundários, não há maiores dificuldades na
identificação do sexo. O maior desafio, no entanto, está na identificação nos casos de pseudo-

hermafroditismo (no vivo), e no cadáver putrefeito ou carbonizado, reduzido a cinzas ou a


esqueleto.

Para a realização da identificação, nesses últimos casos, o crânio e o tórax oferecem

elementos de presunção a cerca do gênero sexual. O crânio feminino tem a fronte mais

1
VIDE QUESTÃO 1 PARA SABER A FORMA DE ABORDAGEM DO REFERIDO TEMA.
7
vertical, a articulação frontodorsal curva, saliências ósseas e apófises mastoides e estiloides

menos desenvolvidas que o crânio masculino.

Para melhor compreensão das características dos crânios masculino e feminino aqui
descritas, visualizem a imagem a seguir:

O tórax da mulher tende à forma ovoide, mais achatado no sentido anteroposterior, e no


homem, à forma conoide. Na mulher a capacidade torácica é menor e as apófises

transversas das vértebras dorsais são mais voltadas para trás.

O útero é um importante órgão na identificação do sexo. Pode ocorrer que, nos casos de
carbonização ou de putrefação avançada, o útero se mantenha preservado, permitindo assim

concluir que se trate de cadáver do sexo feminino.

No entanto, é a bacia que fornece as características diferenciais mais importantes. A bacia

feminina tem uma constituição mais frágil que a do homem e maiores diâmetros

2
GALVÃO, Malthus. Ângulos Faciais. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 8/02/2020.
8
transversais, sendo mais larga naturalmente, de modo que sua anatomia é feita para a

concepção da maternidade, permitindo a passagem do nascituro.

Vejam as diferenças aqui descritas na imagem colacionada a seguir:

Existem ainda outras maneiras de constatação do sexo no processo de identificação

humana, caracterizando-se, conforme a doutrina médico-legal, mais especificamente na obra


de Genival França, como tipos de sexo, a saber:

● Cromossomial: determinado a partir da avaliação dos cromossomos sexuais e pelo


corpúsculo florescente. Assim, os sexos apresentam as seguintes quantidades e
características:
🡺 Masculino: 46 XY e tem corpúsculos florescentes.
🡺 Feminino: 46 XX e não tem corpúsculos florescentes.

● Gonadal: masculino – portador de testículos; feminino – portador de ovários.

● Cromatínimo: é determinado através da análise dos corpúsculos de Barr. Tais


corpúsculos caracterizam-se por pequenos corpos de cromatina sexual que se
concentram no interior das células pertencentes a organismos femininos. Logo, se
estiverem presentes, trata-se de cadáver do sexo feminino. Ausentes, será do sexo
masculino.

3
ANATOMIA DA BACIA HUMANA MASCULINA E FEMININA. Radiologia Patológica, 2020. Disponível em:
www.radiologiapatologica.wordpress.com. Acesso em: 08/002/2020.
9
2.2.3 Estatura.

A estatura nada mais é do que a altura total do indivíduo, que pode variar de acordo com

a raça, idade, sexo, maior ou menos desenvolvimento do indivíduo, influências hormonais e


outros fatores biológicos.

Existe uma necessária correlação entre a estatura e a idade. As mulheres em geral são de

menor estatura que os homens.

A estatura é medida no ser humano vivo, de pé e através do antropômetro. Já nos


cadáveres e nas crianças, as medidas são tomadas em decúbito dorsal (deitados em superfície

horizontal e com as costas encostadas nessa superfície).

Além disso, nos cadáveres deve-se deduzir 16mm da medida total, correspondente ao
achatamento natural dos discos vertebrais sobre as cartilagens entre as articulações. No

esqueleto, em posição normal, deve-se aumentar essa medida total em 6mm correspondentes

às partes moles destruídas.

Somente a título de curiosidade, é possível a determinação da altura a partir de

fragmentos ou ossos isolados em ambos os sexos. Assim, segundo Lacassagne e Martin, é


possível se estipular a altura de um indivíduo multiplicando-se o comprimento de um dos

ossos longos por determinados valores. Obviamente que o conhecimento exato dos fatores de
multiplicação não é necessário para fins de prova, mas basta apenas que você saiba dessa
possibilidade.

10
2.2.4 Idade.

Segundo a classificação do Professor Delton Croce4, as fases etárias da vida humana são

as seguintes:

Vida intrauterina ● Embrião (até o terceiro mês);


● Feto (até o parto);
Infante nascido É o nascido que ainda não recebeu
cuidados higiênicos.
Recém-nascido É o nascido que recebeu cuidados
higiênicos.
1ª infância Criança até os 7 anos.
2ª infância Criança dos 8 aos 12 anos.
Adolescência Dos 12 aos 18 anos.
Mocidade Dos 19 aos 21 anos.
Idade adulta Dos 22 aos 60 anos.
Velhice Dos 61 aos 80 anos.
Senilidade A partir dos 80 anos.

No processo de determinação da idade, o estudo dos ossos cranianos tem uma

importância relativa. Assim, é fácil fazer a diferenciação, por exemplo, entre uma criança e um
velho a partir da análise das suturas cranianas.

Essas suturas cranianas são marcas presentes no crânio, originadas da junção dos ossos

que o compõem, em que cada parte recebe o nome de fontanela ou “moleira”. O crânio
infantil é formado por 6 fontanelas, estando as suturas bastante evidentes até

aproximadamente 1 ano a 1 ano e meio, começando a desaparecer após esse lapso de vida
devido à fusão e calcificação dos ossos cranianos, dando lugar às suturas completas a partir

dos 45 anos.

Com base nisso, é possível, ante a análise das suturas, a estipulação aproximada da idade
do indivíduo, sendo assim uma ferramenta útil na execução das perícias e processos de

4
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 75.
11
identificação. A seguir colacionamos uma figura ilustrativa para uma melhor compreensão

acerca da composição dos ossos do crânio:

Assim, por exemplo, se no andamento de uma investigação policial acerca do


desaparecimento de um idoso de 80 anos, a polícia encontra um crânio esqueletizado no qual

estão bastante evidentes as suturas cranianas, é possível se concluir com absoluta certeza de
que o crânio encontrado não pertence à pessoa que figura como objeto da busca.

No entanto, é importante frisar que esse método de identificação, excetuada a hipótese

elencada acima, não oferece uma margem de certeza quanto à identificação da idade do
indivíduo.

Existe, no entanto, um método paralelo de investigação da idade consistente no exame

radiográfico dos ossos. Este, por sua vez, possibilita um grau maior de certeza quanto à
estimativa de idade do indivíduo, sendo realizado principalmente nos ossos do punho,

cotovelo, úmero, fêmur, joelho, bacia e crânio.

Nesse exame, busca-se o aparecimento cronológico dos pontos ou graus de ossificação, o


completo desenvolvimento do sistema ósseo e a soldadura completa dos ossos, seu

achatamento e rarefação, dentre outros sinais que permitem a estipulação relativamente exata
da faixa de idade de uma pessoa.

O fator chave para a determinação da idade, portanto, está no estudo dos núcleos ou

pontos de ossificação primitivos (POP) e dos núcleos ou pontos de ossificação

5
GALVÃO, Malthus. Suturas Cranianas. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 8/02/2020.
12
complementares (POC). A título exemplificativo, podemos citar a ossificação do rádio (osso

do antebraço), que ocorre por volta dos 18 anos – para o sexo feminino; e dos 20 anos – para
o sexo masculino.

2.2.5 Identificação pelos dentes.

Essa é uma técnica de fundamental importância para a medicina legal no que tange à

identificação de pessoas, seja para fins de confirmação de identidade de um cadáver, por


exemplo, ou para a execução de processos investigativos pela polícia em eventuais vestígios

de lesões cortocontusas, ocasionadas por marcas de mordidas nas vítimas deixadas por
criminosos, especialmente em crimes de natureza sexual.

O estudo dos dentes permite, com razoável aproximação, determinar a idade, e, com um

grau maior de certeza, fazer a diferenciação de dentes de animais e seres humanos,


permitindo, como dito antes, identificar agressores a partir das impressões dentárias deixadas

em objetos encontrados na cena do crime ou mesmo no corpo das vítimas de seus delitos.

Esse estudo pode ser feito a partir de uma técnica comparativa da impressão deixada nos
diferentes suportes, a partir da descrição, de desenhos, fotografias ou radiografias, após prévia

moldagem da boca dos suspeitos em prótese de gesso.

No que tange à estimativa da idade pelo estudo das arcadas dentárias, deve-se levar em
consideração a estrutura e formação dos dentes nos seres humanos. Sabe-se que o homem é

difiodonte e heterodonte, ou seja, possui duas dentições ao longo da vida, sendo uma
temporária ou de leite, e a outra definitiva, que aparece tardiamente, sendo constituída de
diferentes dentes. Na primeira dentição (temporária), o ser humano possui 20 dentes; na

segunda (permanente), o número total de dentes chega a 32.

Assim é que é possível saber, a partir da estrutura e quantidade de dentes, a idade


aproximada de um indivíduo. Assim, temos a seguinte estrutura dentária demonstrada a

seguir:

13
PRIMEIRA DENTIÇÃO OU TEMPORÁRIA

Incisivos centrais inferiores De 6 a 8 meses.


Incisivos centrais superiores De 8 a 18 meses.
Incisivos laterais superiores De 10 a 12 meses.
Incisivos laterais inferiores De 12 a 14 meses.
Primeiros molares superiores De 14 a 18 meses.
Primeiros molares inferiores De 16 a 20 meses.
Caninos De 20 a 24 meses.
Segundos molares De 24 a 30 meses.

SEGUNDA DENTIÇÃO OU PERMANENTE

Primeiros grandes molares Aos 5 ou 6 anos.


Incisivos centrais inferiores De 6 a 8 anos.
Incisivos centrais superiores De 7 a 8 anos.
Incisivos laterais De 8 a 9 anos.
Primeiros pré-molares De 9 a 10 anos.
Caninos De 10 a 11 anos.
Segundos pré-molares De 12 a 13 anos.
Segundos molares De 13 a 14 anos.
Terceiros molares ou sisos De 18 a 24 anos.

A maior utilidade do estudo das mordidas no campo da medicina legal, contudo, é


evidenciada na prática de identificação de criminosos, sobretudo nos crimes sexuais, nos quais
é bastante comum esse tipo de prática, que acaba por deixar estigmas (vestígios) nas vítimas,
principalmente nas áreas do corpo comumente utilizadas para a prática de atos sexuais.

O método mais comum utilizado no estudo das impressões dentárias na identificação de

criminosos consiste na comparação e mensuração por superposição fotográfica entre as


marcas deixadas nas vítimas e a dentadura suspeita, em que são analisados aspectos

comparativos das características da anatomia dentária quanto à posição, rotação, espaço entre
os dentes, tudo isso após prévia modelagem das arcadas dentárias.

14
Além disso, tais estudos servem também para a identificação de cadáveres carbonizados

ou em adiantado estado de putrefação, em que são feitas análises comparativas do maxilar e


da mandíbula com as fichas clínicas odontológicas das supostas vítimas, a fim de conformar-

lhes a identidade.

2.2.6 Prosopografia.

A prosopografia nada mais é do que a descrição da face. Trata-se, portanto, do processo


de identificação pela superposição de fotografias do indivíduo tiradas em vida sobre foto

do crânio, que se procede após a determinação de uma perfeita correspondência dos pontos
ósseos e das partes moles da face, sobretudo da fronte, nas órbitas e supercílios, no nariz e

no mento.

Atualmente os melhores resultados na utilização dessa técnica têm sido obtidos a partir
do emprego de várias câmeras de videotape aplicadas sobre a foto tirada em vida do

indivíduo, comparando-as com o esqueleto do crânio, a partir de mixagem projetada no


monitor.

A técnica computadorizada também tem sido utilizada na identificação de cadáver

reduzido a esqueleto, empregando-se as modernas técnicas de reconstituição da imagem


facial do indivíduo, inclusive com recursos que permitem a produção de imagem a cores.

Assim é que a prosopografia é um instrumento de grande importância para a perícia

médico-legal no que tange à determinação da identidade, de modo a complementar as


demais investigações utilizadas em diligências com essa finalidade.

Como exemplo dessa técnica, o exame prosopométrico faz a mensuração das regiões e de

pontos anatômicos entre si e o traçado de planos baseados nas projeções e conformações das
regiões analisadas, incluindo a maxilometria, a mandibulometria e a odontometria.

2.3 Identificação policial ou judiciária

Ao lado da identificação médico-legal está a identificação judiciária, que é feita através de


uso de dados antropométricos e antropológicos para a determinação da identidade civil.

15
Com o passar do tempo, vários foram os processos utilizados como técnica de identificação

dos criminosos, métodos esses que se mostraram insustentáveis devido à sua crueldade e
violação da dignidade humana.

A exemplo desses métodos, podemos citar a marcação de símbolos (como a flor de lis)

através de queimaduras feitas por sólidos incandescentes na pele dos criminosos condenados,
mutilações da orelha, dentre outros.

Foi com a descoberta da fotografia que o processo de identificação ganhou novos

contornos revolucionários, passando a ser, por um bom tempo, bastante utilizada pelas
polícias do mundo todo. No entanto, foi com o método criado por Bertillon, em 1882, em

Paris, que o processo de identificação ganhou bases científicas até hoje aceitas, restando a
fotografia como um recurso subsidiário. Passaremos agora a estudar os principais métodos de

identificação judiciária no âmbito da doutrina médico-legal.

2.3.1 Bertilonagem.

Desenvolvida por Bertillon, tem por base a antropometria, complementando-se pelo


retrato falado, a fotografia sinalética e as impressões digitais.

● Antropometria

É uma técnica que preconiza as medidas dos diâmetros longitudinal e transversal do


crânio humano, o diâmetro bizigomático, o tamanho dos dedos médio e mínimo, a medida do

antebraço, do pé esquerdo, a altura da orelha direita, cor da iria esquerda, a estatura, a


envergadura e a altura do busto (tudo anotado em milímetros), além do assinalamento

descritivo de todos os sinais profissionais e individuais, tatuagens, deformidades,


malformações e cicatrizes encontradas no indivíduo a ser identificado.

O assinalamento antropométrico de Bertillon refere-se:

I) À fixação definitiva da ossatura a partir dos 20 anos;


II) À variabilidade extrema dos esqueletos humanos entre si;
III) À relativa precisão e facilidade de tomada das medidas do esqueleto e de
determinadas partes do corpo;

16
● Fotografia sinalética

Além disso, o método de Bertillon também se utilizava da fotografia sinalética (fotografia


de frente e de perfil com redução de 1/7), sendo um método precursor da prosopografia e da

prosopometria.

Observem, portanto, que a antropometria não se aplica aos menores de 20 anos, uma vez
que ainda não possuem a ossatura completamente desenvolvida. Juntando-se a esse fato, o

processo de identificação apresenta algumas dificuldades que dificultam a indicação precisa


dos dados a serem tomados como referência, devido a fatores de erro por circunstâncias

pessoais das pessoas, pois que nas mulheres e nos velhos tais medidas são difíceis de serem
tomadas, bem como o fato de este processo demandar tempo e técnicos especializados.

Por tais razões, juntas ao aparecimento de técnicas mais práticas e de execução mais

viável, a bertilonagem deu lugar à datiloscopia, atualmente utilizada em larga escala no


processo de identificação tanto civil quanto criminal.

2.3.2 Datiloscopia

A datiloscopia estuda as impressões digitais, que são vestígios e marcas deixadas pelas

polpas dos dedos, devido à secreção de uma substância gordurosa oriunda das glândulas
sebáceas, permitindo a gravação dos desenhos digitais na superfície de objetos comumente

encontrados nas cenas de crimes.

Os desenhos digitais são de grande importância no processo de identificação dos


indivíduos, pois que, além de serem peculiares a cada pessoa individualmente, apresentam as

seguintes características:

a) Perenidade – as impressões digitais são perenes, não mudando com o passar do


tempo.
b) Imutabilidade – as impressões digitais são indestrutíveis nos vivos, não se
modificando pela vontade, nem patologicamente. São, portanto, imutáveis.
c) Variedade – os desenhos das cristas papilares são individuais, nunca tendo sido
encontradas até hoje impressões digitais idênticas. São justamente a individualidade
e a imutabilidade que conferem importante valor à datiloscopia.
17
● Sistema decadactilar de Vucetich

As linhas papilares da face volar das falanges agrupam-se em três sistemas: basilar,

marginal e nuclear ou central. Essas linhas formam ângulos obtusos em volta do núcleo
central da impressão digital, formando o delta, que figura como base da classificação do
sistema de Vucetich. É a presença ou a ausência do delta nas impressão digital que caracteriza

o sistema de Vucetich, organizando-se em quatro tipos fundamentais:

I) Arco – não tem delta;


II) Presilha interna – o delta situa-se à direita do observador;
III) Presilha externa – o delta situa-se à esquerda do observador;
IV) Verticilo – é a figura que tem dois deltas;

Para uma melhor compreensão, abaixo colacionamos a imagem6 com os quatro tipos de

impressões digitais:

6
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018. p. 79.

18
No sistema dactiloscópico de Vucetich, cada tipo fundamental também pode ser

representado a partir de suas letras iniciais, bem como através de números. Assim, o verticilo
pode ser mencionado com a letra “V” e pelo número “4”. A presilha externa pela letra “E” e

pelo número “3”, a presilha interna pela letra “I” e pelo número “2”. Por fim, o arco pode ser

representado pela letra “A” e pelo número “1”.

Assim, temos o seguinte esquema:

 Arco – “A” ou “1”;


 Presilha interna – “I” ou “2”;
 Presilha externa – “E” ou “3”;
 Verticilo – “V” ou “4”;

Dentro dessa sistemática, existe ainda o chamado dactilograma/fórmula datiloscópica.

Trata-se da sucessão de letras e algarismos que configuram os tipos fundamentais presentes


nos dedos de uma pessoa.

A fórmula é composta basicamente de duas partes: a de cima é chamada de “série”, tendo

seu início a partir do polegar direito, sendo também conhecida como “parte fundamental”,
representado por uma das letras do tipo fundamental encontrado no respectivo dedo, sendo

finalizada com a parte chamada “divisão”, em que figuram os demais dedos da mão direita
em sequência (a partir do indicador direito até o dedo mínimo direito), sendo representados

pelos números correspondentes ao tipo fundamental encontrado.

Já a parte de baixo é chamada de “seção”. Inicia-se com a parte da “subclassificação”, em


que figura o polegar esquerdo (também simbolizado por uma das letras do tipo fundamental),

sendo finalizada com a parte que recebe o nome de “subdivisão”, na qual estarão os demais
dedos da mão esquerda em sequência (a partir do indicador esquerdo, finalizando com o

19
dedo mínimo esquerdo), recebendo os números dos respectivos tipos fundamentais ali

presentes. A título de exemplo, podemos ilustrar a fórmula da seguinte maneira:

𝐴 − 1234
𝑉 − 3410

Na fórmula ilustrada acima, a letra “A” representa um arco encontrado no polegar direito.
O número “1” representa um arco encontrado no indicador direito, e assim por diante. Já na

linha de baixo, a letra “V” representa um verticilo encontrado no polegar esquerdo. O número
“3” representa uma presilha externa encontrada no indicador esquerdo e daí por diante.

Abaixo temos uma representação gráfica do registro de digitais em um documento pericial

que se utiliza da fórmula aqui tratada:

Quando da análise de uma impressão digital pelo perito datiloscopista, para que se

assegure a identificação de alguma pessoa por meio daquela impressão, devem ser
encontrados de 12 a 20 minúcias (pontos característicos) semelhantes. Tais pontos são

denominados encerro, ilhota, linha cortada e a forquilha.

7
SISTEMA DECADACTILAR DE VUCETICH. Papiloscopia, 2020. Disponível em: www.papiloscopia.com.br. Acesso
em: 08/02/2020.
20
QUADRO SINÓTICO

Identidade: conjunto de características


próprias e exclusivas das pessoas, dos animais
e dos objetos. Soma de sinais, marcas e
caracteres positivos e negativos que
individualizam o ser humano;
IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO Identificação: determinação da identidade,
HUMANA ou seja, é um processo por meio do qual se
atribui a identidade de uma determinada
pessoa ou coisa.
Características fundamentais da identificação.
Ou seja, são fundamentos biológicos ou
técnicos que qualificam e preenchem as
condições necessárias para que o método de
identificação seja considerado aceitável. São
cinco:
POSTULADOS DA IDENTIFICAÇÃO ● Perenidade;
● Unicidade;
● Praticabilidade;
● Imutabilidade;
● Classificabilidade;
Pode ser quanto à raça, o sexo, a estatura, a

IDENTIFICAÇÃO MÉDICO-LEGAL. idade, identificação pelos dentes e a


prosopografia.

Cinco tipos étnicos fundamentais (vide suas características nas


Raças págs. 4 e 5):

(Ottolenghi) ● Tipo caucásico;


● Tipo mongólico;

21
● Tipo negroide;
● Tipo indiano;
● Tipo australoide;
Análise do crânio e do tórax – elementos de presunção;
Bacia – elemento de certeza: maiores diâmetros transversais,
Sexo médico-
sendo mais larga naturalmente, de modo que sua anatomia é
legal feita para a concepção da maternidade, permitindo a passagem
do nascituro.
Altura total do indivíduo, que pode variar de acordo com a raça,
Estatura idade, sexo, maior ou menos desenvolvimento do indivíduo,
influências hormonais e outros fatores biológicos.
Classificação das idades (Delton Croce):
● Vida intrauterina
● Infante nascido
● Recém-nascido
● 1ª infância
● 2ª infância
● Adolescência
● Mocidade
● Idade adulta
● Velhice
● Senilidade
Idade Atenção para as suturas cranianas: marcas presentes no crânio,
originadas da junção dos ossos que o compõem. Quanto mais
evidentes no crânio, mais jovem o indivíduo, estando evidentes
até aproximadamente 1 ano a 1 ano e meio.

Exame radiográfico dos ossos: possibilita um grau maior de


certeza quanto à estimativa de idade do indivíduo, sendo
realizado principalmente nos ossos do punho, cotovelo, úmero,
fêmur, joelho, bacia e crânio.

Serve tanto para fins de confirmação de identidade de um


cadáver, por exemplo, quanto para a execução de processos
Identificação investigativos pela polícia em eventuais vestígios de lesões
22
pelos dentes cortocontusas, ocasionadas por marcas de mordidas nas vítimas.
É feito a partir de uma técnica comparativa da impressão
deixada nos diferentes suportes, a partir da descrição, de
desenhos, fotografias ou radiografias, após prévia moldagem da
boca dos suspeitos em prótese de gesso.
É a descrição da face. Trata-se, portanto, do processo de
identificação pela superposição de fotografias do indivíduo
tiradas em vida sobre foto do crânio, que se procede após a
PROSOPOGRAFI determinação de uma perfeita correspondência dos pontos
ósseos e das partes moles da face, sobretudo da fronte, nas
A
órbitas e supercílios, no nariz e no mento.

IDENTIFICAÇÃO É feita através de uso de dados antropométricos e


antropológicos para a determinação da identidade civil.
POLICIAL OU
JUDICIÁRIA
Tem por base a antropometria, complementando-se pelo retrato
falado, a fotografia sinalética e as impressões digitais.
a) Antropometria: preconiza as medidas dos diâmetros
Bertilonagem longitudinal e transversal do crânio humano e outras
partes do corpo;
Estuda as impressões digitais, que são vestígios e marcas
deixadas pelas polpas dos dedos. Os desenhos digitais

Datiloscopia apresentam as seguintes características: Perenidade,


Imutabilidade e Variedade.
O estudo das digitais concentra-se em torno da figura do delta,
funcionando como base da classificação das digitais. Nesse
sentido, as digitais classificam-se em:
● Arco – não tem delta;
Sistema
● Presilha interna – delta à direita;
decadactilar de ● Presilha externa – delta à esquerda;
Vucetich ● Verticilo – possui dois deltas;

Representação codificada:

23
a) Arco – “A” ou “1”;
b) Presilha interna – “I” ou “2”;
c) Presilha externa – “E” ou “3”;
d) Verticilo – “V” ou “4”;

24
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FUNCAB – Delegado de Polícia – PC-PA/2016) No que se refere ao tema “identificação”, os

ângulos de Jacquart, Cloquet e Curvier são verificados:


A) nos braços.
B) no crânio.

C) nas pernas.
D) na bacia.

E) no tórax.

Comentário:

A referida questão aborda o tema da identificação médico-legal, trabalhado no subtópico

da identificação quanto à raça. Nesse tema, são relevantes aspectos ligados ao crânio
para a devida diferenciação de gêneros a partir da forma e da mensuração das medidas
cranianas, sendo de notória relevância os ângulos cranianos de Jacquart, Cloquet e

Curvier. A resposta, portanto, que atende ao enunciado da questão encontra-se na


alternativa “b”.

Questão 2

(FUMARC – Delegado de Polícia – PC-MG/2011) No esqueleto, a estimativa do sexo faz-se


pelas características morfológicas observadas, após a puberdade. Os achados mais evidentes

do dimorfismo sexual são observados no(a)


A) Clavícula.

25
B) Úmero.

C) Fêmur.

D) Pelve.

Comentário:

Mais uma vez a questão aborda a temática da identificação médico-legal no âmbito d

antropologia forense. No tópico relativo à identificação quanto ao sexo médico-legal,


vimos que determinados aspectos anatômicos do esqueleto fornecem critérios
diferenciais e de relevante utilidade para a determinação do sexo do cadáver reduzido a

esqueleto. Diversas diferenças foram apontadas no que tange à estrutura morfológica do


esqueleto de indivíduo do sexo masculino e do sexo feminino, no que tange à anatomia
craniana, dimensões de alguns ossos, dentre outros fatores. Não obstante, o que fornece
dados capazes de afirmar com precisão o sexo do esqueleto é a estrutura da pelve, na

qual há substanciais diferenças entre o sexo masculino e feminino, sobretudo nas


dimensões de diâmetro e largura dessa estrutura, justificadas em razão da adaptação da

maternidade e gestação da mulher. A resposta que atende ao enunciado da questão


está, portanto, na alternativa “d”.

Questão 3

(FUNCAB – Delegado de Polícia – PC-RJ/2012) A identificação de uma pessoa define um


conjunto de características que a individualiza, tornando-a diferente das demais. Sob esta
óptica, o exame de DND, embora moderno e com alto grau de confiabilidade, não é suficiente

para a determinação da identidade, pois, via de regra, essas análises são realizadas utilizando-
se como método capaz de gerar o grau do parentesco, e não a identidade propriamente dita,

ou seja, pode determinar se o indivíduo é filho de alguém, mas não qual dos filhos. Outras
técnicas científicas, ao contrário do exame de DNA, podem, isoladamente, conferir a

identidade a um cadáver, considerando a preexistência de parâmetros de comparação. Entre


essas técnicas estão:
26
A) reconhecimento facial, arcada dentária e sobreposição de imagens.

B) reconhecimento facial, sinais particulares e sobreposição de imagens.


C) impressão dactiloscópica, sinais particulares e sobreposição de imagens.

D) impressão dactiloscópica, arcada dentária e sobreposição de imagens.

E) impressão dactiloscópica, arcada dentária e sinais particulares.

Comentário:

Dentre as técnicas de identificação descritas nas alternativas, a que traz as mais exatas e

viáveis é a alternativa “d”. As alternativas “a” e “b” não podem ser consideradas corretas,
uma vez que a técnica de reconhecimento facial somente se opera em pessoas vivas, não

sendo comumente utilizadas para o reconhecimento de cadáveres. Os sinais particulares,


por sua vez, embora úteis para o processo de identificação, por vezes podem não se

mostrar eficazes na atribuição de identidade dos cadáveres, seja pelo estado das lesões
ou até mesmo pelo avançar do estado de putrefação, capaz de fazer com que os sinais
particulares do indivíduo fiquem irreconhecíveis ou até mesmo sejam completamente

destruídos. As melhores técnicas e que atendem ao propósito descrito no enunciado da


questão estão, portanto, descritas na alternativa “d”, sendo esse o nosso gabarito.

Questão 4

(FUNCAB - PC-RO - Médico Legista/2012) Com base nos estudos da Antropologia médico-

legal, qual das alternativas abaixo contém fundamentos técnico-biológicos utilizados em um


método de identificação capazes de conferir-lhe credibilidade?

A) Semelhança, unicidade, igualdade, confiabilidade.


B) Unicidade, imutabilidade, praticabilidade, classificabilidade.

C) Unicidade, confiabilidade, semelhança, viabilidade.


D) Semelhança, classificabilidade, praticabilidade, confiabilidade.

27
E) Aceitabilidade, semelhança, praticabilidade, igualidade.

Comentário:

A questão aborda necessariamente os postulados da identificação, que funcionam como

características fundamentais desta. Ou seja, são fundamentos biológicos ou técnicos que


qualificam e preenchem as condições necessárias para que o método de identificação
seja considerado aceitável, os fundamentos biológicos ou técnicos que qualificam e que

preenchem as condições para um método de identificação a ser considerado, são:


Unicidade – também chamado de individualidade, ou seja, que determinados elementos

sejam específicos daquele indivíduo e diferente dos demais; Imutabilidade – são


características que não mudam e não se alteram ao longo do tempo; Perenidade – um

processo que não seja complexo, tanto na obtenção como no registro dos caracteres;
Praticabilidade – um processo que não seja complexo, tanto na obtenção como no

registro dos caracteres; Classificabilidade - este requisito é muito importante, pois é


necessário certa metodologia no arquivamento, assim como rapidez e facilidade na busca
dos registros. O gabarito que responde corretamente à questão, portanto, é a alternativa

“b”.

Questão 5

(CESPE – Perito Papiloscopista – PC-PE/ 2017) Julgue os itens quanto à Identidade policial e

judiciária:
A identificação judiciária ou policial independe de conhecimentos médicos, e sua

fundamentação reside, sobretudo, no uso de dados antropométricos e antropológicos para a

identidade civil e caracterização dos criminosos, quer primários, quer reincidentes.

Comentário:

Segundo Genival França, a identificação judiciária ou policial independe de


conhecimentos médicos, e sua fundamentação reside, sobretudo, no uso de dados

antropométricos e antropológicos para a identidade civil e caracterização dos criminosos,

28
quer primários, quer reincidentes. Esse processo é efetuado por peritos na tarefa de

identificação. O gabarito da questão está, portanto, correto.

Questão 6

(CESPE – Perito Papiloscopista - PCPE) Julgue os itens quanto à Identidade policial e

judiciária:
Atualmente, os processos que tem por objetivo punir e identificar, utilizam o Sistema da
Bertilonagem, pois é de fácil aplicação e absoluta eficiência, que não maculam os direitos

humanos.

Comentário:

O processo de identificação passou por uma evolução histórica ao longo dos tempos, em
que, antigamente, os primeiros métodos de identificação eram tidos como “processos

infamantes”, que tinham por objetivo punir e identificar, sendo técnicas altamente
violadoras da dignidade humana. Na atualidade, a bertilonagem e outros processos de

identificação que surgiram a posteriori deram vez a outros métodos mais seguros, de
fácil aplicação e absoluta eficiência, que não maculam os direitos humanos. O enunciado

afirma exatamente o contrário, pelo que o gabarito da questão está incorreto.

Questão 7

(CESPE - Papiloscopista – PC-PE/2017) Julgue os itens quanto à Identidade policial e


judiciária:

O sistema antropométrico de Bertillon consistia em 3 tipos de assinalamento, entre eles temos


o assinalamento descritivo ou retrato falado, que referia-se à descrição do identificado,

considerando as notações cromáticas (cores), as notações morfológicas (formas) e os traços

complementares (detalhes).

29
Comentário:

O sistema (antropométrico) de Bertillon consistia em 3 tipos de assinalamento:

Assinalamento descritivo ou retrato falado, que se referia à descrição do identificado,


considerando as notações cromáticas (cores), as notações morfológicas (formas) e os

traços complementares (detalhes); o assinalamento de marcas particulares, que consistia


na descrição e registro de marcas que só aquele indivíduo identificado possuía; e o

assinalamento antropométrico, que se baseava na tomada de medidas de onze partes do


corpo. O gabarito da questão está, portanto, correto.

Questão 8

(CESPE - Papiloscopista – PCPE/2017) Julgue os itens quanto à Identidade policial e

judiciária:
O retrato falado, utilizado até hoje pela Polícia, é obtido pela descrição analítica dos caracteres

antropológicos, morfológicos e cromáticos da face.

Comentário:

O enunciado corresponde exatamente à descrição do método do retrato falado, o qual é


obtido pela descrição analítica dos caracteres antropológicos, morfológicos e cromáticos

da face, em assinalamento sucinto de frente e perfil direito da fronte, nariz e orelha,


supercílios, cabelos, barba, bigode, rugas, tatuagens, cicatrizes, nevos, verrugas, pálpebras,
órbitas, olhos e sua cor, tudo codificado em expressões convencionais: pequeno, médio e

grande. O gabarito da questão está, portanto, correto.

Questão 9

(CESPE - Papiloscopista – PCPE/2017) Julgue os itens quanto à Identidade policial e

judiciária:
O assinalamento antropométrico de Bertillon refere-se: à fixação definitiva da ossatura a partir

dos 20 anos; à variabilidade extrema dos esqueletos humanos entre si; à relativa precisão e
facilidade de tomada das medidas do esqueleto e de determinadas partes do corpo.

30
Comentário:

Segundo especialistas e estudiosos da doutrina médico-legal, o assinalamento

antropométrico de Bertillon refere-se: à fixação definitiva da ossatura a partir dos 20


anos; à variabilidade extrema dos esqueletos humanos entre si; à relativa precisão e

facilidade de tomada das medidas do esqueleto e de determinadas partes do corpo. O


enunciado descreve corretamente o método de identificação conhecido como

bertilonagem, estando o gabarito correto.

Questão 10

(CESPE - Papiloscopista – PCPE/2017) Julgue os itens quanto à Identidade policial e


judiciária:

A Bertilonagem era um método de identificação criminal com base em dimensões e


características individuais do identificado, como cor de cabelo e olhos e fotografias (frente e

perfil).

Comentário:

A bertilonagem é conhecida como um método de identificação criminal que tem por


base as dimensões e características individuais do identificado, como cor de cabelo e

olhos e fotografias (frente e perfil). Essas informações eram registradas em cartões, que
eram posteriormente arquivados e possibilitavam consulta posterior. O gabarito está,
portanto, correto.

E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e
praticando bastante! Vamos juntos até a aprovação! Até mais!!!

31
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - D

Questão 3 - D

Questão 4 - B

Questão 5 – Certo

Questão 6 - Errado

Questão 7 - Certo

Questão 8 - Certo

Questão 9 - Certo

Questão 10 - Certo

32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANATOMIA DA BACIA HUMANA MASCULINA E FEMININA. Radiologia Patológica, 2020. Disponível em:
www.radiologiapatologica.wordpress.com. Acesso em: 08/002/2020.

CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.

GALVÃO, Malthus. Ângulos Faciais. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 8/02/2020.

SISTEMA DECADACTILAR DE VUCETICH. Papiloscopia, 2020. Disponível em:


www.papiloscopia.com.br. Acesso em: 08/02/2020.

33
CARREIRAS POLICIAIS

Medicina Legal
Capítulo 3
SUMÁRIO
MEDICINA LEGAL, Capítulo 3 .................................................................................................................................... 2

3. Traumatologia Forense. .......................................................................................................................................... 2

3.1. Causalidade médico-legal do dano e conceito de traumatologia. ................................................. 2

3.2. Noções gerais da composição e funcionamento do organismo humano. ................................. 3

3.2.1 A estrutura da pele. ............................................................................................................................................. 3

3.2.2 Sistema circulatório. ............................................................................................................................................. 5

3.3 Energias vulnerantes e suas classificações. ................................................................................................ 6

3.4 Das lesões corporais. ........................................................................................................................................... 7

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 11

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 14

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 23

1
MEDICINA LEGAL

Capítulo 3

3. Traumatologia Forense.

3.1. Causalidade médico-legal do dano e conceito de


traumatologia.

A Medicina Legal possui estudo específico sobre as energias que, ofendendo a integridade

física ou a saúde do indivíduo, ocasionam lesões corporais e mortes. Nesse campo, é de suma
importância o estudo da traumatologia forense.

A traumatologia é, portanto, o estudo dos traumas, assim entendidos como uma energia

que, ao ser transferida para o organismo humano, acarreta lesão. O foco da análise da
traumatologia recai sobre estudo da energia transferida; da lesão e do agente que

transmite essa energia, o qual é chamado de agente vulnerante (vulnerar = ferir). Ou seja, o
agente vulnerante é um transferidor de energia, seja ela física, química, biológica ou mista.

Nesse aspecto, dois são os conceitos de maior relevância dentro do estudo da

traumatologia:

a) Trauma: É uma determinada quantidade de energia, física, química, biológica ou mista


que, transferida para o organismo, é capaz de produzir uma lesão.

b) Lesão: É uma alteração morfológica, fisiológica ou mista, que ocorre no organismo,


provocada pela ação de uma determinada quantidade de energia física, química,

biológica ou mista, chamada genericamente de trauma.

Essa energia é transferida para o corpo (trauma), o qual sofrerá uma alteração, a qual se
denomina de lesão. O trauma é a causa e a lesão é o efeito.

2
Para facilitar o entendimento, o processo de ocasionar lesões pode ser representado pelo

seguinte esquema:

Energia
Trauma Lesão
transferida

3.2. Noções gerais da composição e funcionamento do


organismo humano.

3.2.1 A estrutura da pele.

A pele é o órgão que constitui a primeira barreira contra as agressões externas, sendo
também o maior órgão do corpo humano. É na pele que o delegado de polícia observará,

pelo simples exame ocular, a maioria das lesões que poderão orientar o curso das
investigações.

A pele é uma estrutura complexa, formada por duas camadas: derme (interna e menos

densa), epiderme (externa e mais densa). Abaixo da camada mais profunda da pele existe uma
camada de gordura – tecido celular subcutâneo, a qual funciona como amortecedor e

isolante (térmico, elétrico).

 Camada epiderme:

A epiderme é formada por 5 camadas sobrepostas, onde existe uma camada mais

profunda que é a geradora de toda a epiderme (camada basal), onde se encontra o DNA
(material genético).

É na camada basal que se encontram as células vivas e reprodutoras. Assim que a célula

é produzida começa a ser empurrada para cima, e, na proporção em que vai sendo empurrada

3
para cima e se aproximando da periferia, começa a morrer. Então, na superfície da pele,

todas as células estão mortas.

Não é possível generalizar que todas as células da epiderme estão vivas ou mortas. As
células da camada basal estão vivas, e as da periferia da pele estão mortas, mas ambas

constituem a mesma camada (epiderme).

Quando situadas na camada basal, as células da epiderme possuem núcleo, mas à medida

que vão subindo, elas perdem o seu núcleo, não sendo mais possível encontrar o DNA do pai
e da mãe nas células da superfície da pele.

A camada mais superficial é chamada de camada córnea (dura e morta), impregnada

pela queratina. Assim, é possível afirmas que a estrutura da pele humana é composta pelas
seguintes camadas:

I) Camada basal: é a camada geradora das células da epiderme;

II) Células cuboides: são nucleadas, contendo muitos ribossomos (PTN) e poucos
grânulos de queratina;

III) Camada espinhosa: situada um pouco mais acima, ainda contendo núcleo e muitos

desmossomos;

IV) Camada lúcida: células cujos orgânulos citoplasmáticos e núcleo estão

desaparecendo;

V) Camada córnea: as células perdem o núcleo, onde o citoplasma apresenta escassos


orgânulos. Impermeabilização da membrana pela queratina. Mitocôndrias
apresentam DNA exclusivamente materno.
4
Embora todas as células da camada córnea estejam mortas, existe no citoplasma o DNA

mitocondrial, que é muito mais resistente que o DNA do núcleo, e apresenta o material

genético exclusivo da mãe.

 Camada derme:

É uma camada viva, onde existem vasos sanguíneos e linfáticos, nervos sensitivos e

motores, células nucleadas, fibras elásticas e colágenas. É a derme que alimenta as células da
camada basal por proximidade – difusão. Na derme existem saliências e reentrâncias, que

permitem o contato e interação da derme com a epiderme. São as chamadas cristas


dérmicas.

Estas cristas permitem com que a epiderme apresente desenhos digitais, que dão origem

às impressões digitais. Essas impressões ficam registradas em objetos quando do contato da


epiderme com estes, gravados por meio do suor ou da oleosidade da pele.

3.2.2 Sistema circulatório.

a) Artérias:

São Vasos de maior calibre que se afastam do coração. Conduzem o sangue do centro do
corpo até as regiões periferias. As artérias não possibilitam que se perfaçam as trocas

gasosas, razão pela qual elas se ramificam em vasos menores, chamados de arteríolas, que
por sua vez também se ramificam ainda mais, originando os capilares arteriais.

5
É nos capilares arteriais que ocorrem as trocas gasosas (pulmonares), e de outras enzimas

e substâncias.

b) Veias:

São vasos que se aproximam do coração, trazendo o sangue das regiões periféricas do

corpo até o centro. Também não possibilitam as trocas de substâncias e enzimas, razão pela
qual se ramificam e dão origem às vênulas, que também se ramificam e originam os capilares
sanguíneos.

A caracterização de veias ou artérias independe do tipo de sangue que conduzem,

podendo ser arterial ou venoso. O coração é chamado de “bomba aspirante premente”, pois

expulsa e aspira sangue ao mesmo tempo.

3.3 Energias vulnerantes e suas classificações.

São de sete ordens os grupos de energias produtoras do dano: mecânica, física, química,
físico-química, biodinâmica, bioquímica e mista.

Energias ou agentes vulnerantes:

Físicos Químicos Biológicos Mistos


Mecânicos Ácidos Vírus Fisocoquímicos
6
Não mecânicos Alcalinos Bactérias Bioquímicos
Protozoários Biofísicos
Biodinâmicos

Neste trabalho vamos analisar os principais grupos e as lesões decorrentes.

3.4 Das lesões corporais.

No campo da medicina legal, sobretudo no âmbito da traumatologia forense, torna-se


indispensável o conhecimento da classificação das lesões corporais quanto a seu grau de

lesividade e dano causado, a fim de viabilizar o correto enquadramento legal da conduta,


segundo o teor do art. 129, §§ 1º e 2º do Código Penal:

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

Lesão corporal de natureza grave

§ 1º Se resulta:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

II - perigo de vida;

III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;

IV - aceleração de parto:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 2° Se resulta:

I - Incapacidade permanente para o trabalho;

II - enfermidade incurável;

III- perda ou inutilização do membro, sentido ou função;

IV - deformidade permanente;

V - aborto:

7
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Para facilitar a memorização da classificação das lesões corporais quanto ao grau e


extensão do dano, elaboramos a seguinte tabela:

Lesão Corporal Leve Lesão Corporal Grave Lesão Corporal


(art. 129, caput) (§ 1º) Gravíssima (§ 2º)
I – Incapacidade para as I – Incapacidade
ocupações habituais permanente para o
por mais de 30 dias; trabalho;
II – Perigo de vida; II – Enfermidade
incurável;
III – Debilidade III – Perda ou
permanente de inutilização de
membro, sentido ou membro, sentido ou
função; função;
IV – Aceleração de IV – Deformidade
parto; permanente
V – Aborto;

A lesão corporal leve, prevista no caput do art. 129 do CP é tipificada por exclusão, ou seja,

se o indivíduo está vivo e o resultado naturalístico da conduta criminosa não acarretar


nenhuma das hipóteses previstas nos §§ 1º e 2º do referido dispositivo legal, a lesão corporal

será classificada como leve.

É importante ressaltar, ainda, no que se refere à classificação das lesões, que o perito
legista não analisa o dolo da lesão, mas apenas a lesão em si, com o fim de enquadrá-la em
alguma das hipóteses legais do art. 129 do CP. Quem fará esse juízo de valor serão outras
pessoas atuantes na persecução penal, a saber: o delegado, o membro do MP ou o juiz.

8
Para facilitar ainda mais o processo de memorização acerca da classificação das lesões,

trazemos para você um mnemônico infalível!

Lesão Grave (129, § 1º) Lesão Gravíssima (129, § 2º)


IPDA IEPDA

 Lesão grave: IPDA  Lesão gravíssima: IEPDA

Incapacidade para as ocupações por Incapacidade permanente para o

mais de 30 dias; trabalho;

Perigo de vida; Enfermidade incurável;


Debilidade permanente de membro Perda ou inutilização de membro,

sentido ou função; sentido ou função;

Aceleração de parto; Deformidade permanente;


Aborto;
Entre os diversos quesitos que deverão ser respondidos nos laudos de exames de corpo de
delito em medicina legal, constam os seguintes:

I) Qual o instrumento que ocasionou a lesão?

Aqui o perito legista deverá especificar o agente vulnerante que causou a lesão, a
exemplo de projéteis de arma de fogo, taco de basebol, punhal, etc.

II) Qual o meio utilizado para causar a lesão?

Aqui o perito deverá generalizar o agente vulnerante mediante a descrição da sua forma

de atuação, quando não se puder afirma com exatidão qual foi o agente específico que
causou aquela lesão. Logo, não sendo possível precisar qual o agente vulnerante, deverá o

perito afirmar, por exemplo, se foi um agente perfuro contundente, agente cortante, agente
perfuro cortante, etc.

Assim, na grande maioria dos casos, a não ser que o instrumento/agente vulnerante esteja

presente no corpo da vítima ou na cena do crime, torna-se difícil para o legista determinar
9
com absoluta precisão qual o instrumento que acarretou aquela lesão. Por isso que ele se

utiliza da descrição dos meios causadores da lesão.

Portando, o instrumento especifica, e o meio generaliza.

Há, no entanto, determinados casos de lesões que, mesmo diante da ausência do


instrumento que a ocasionou, é possível a sua identificação diante das características da ferida

resultante da ação daquele instrumento.

São as chamadas lesões patognomônicas ou com assinatura, que se caracterizam por


serem lesões com aspectos tão característicos presentes no corpo de delito, que permitem ao

perito legista determinar qual o instrumento que a causou. São exemplos dessas lesões a
marca de mordidas na pele (lesão corto-contusa), que permite a exata identificação até

mesmo da arcada dentária que a produziu; a ferida resultante da entrada de projéteis de arma
de fogo, lesões causadas por raios elétricos, etc.

Com base nisso, algumas questões de prova costumam indagar da seguinte forma: é
possível que o perito legista diga qual o instrumento que causou determinada lesão
mesmo sem encontrá-lo?

A resposta é sim, em se tratando de lesões patognomônicas ou com assinatura.

10
QUADRO SINÓTICO

Traumatologia: o estudo dos traumas, assim


entendidos como uma energia que, ao ser
transferida para o organismo humano,
acarreta lesão.

 Trauma: determinada quantidade de


energia, física, química, biológica ou
mista que, transferida para o
Causalidade médico-legal do dano organismo, é capaz de produzir uma
lesão.
 Lesão: é uma alteração morfológica,
fisiológica ou mista, que ocorre no
organismo, provocada pela ação de
uma determinada quantidade de
energia física, química, biológica ou
mista, chamada genericamente de
trauma

Trauma = Causa; Lesão = Efeito.


A pele: órgão que constitui a primeira
barreira contra as agressões externas, sendo
também o maior órgão do corpo humano.
Formada por suas camadas:
 Epiderme: constituída por 5 camadas
Noções gerais da estrutura e sobrepostas:
funcionamento do corpo humano 1) Camada basal: (mais profunda)
que comporta células vivas e
reprodutoras, camada geradora das
células da epiderme;
11
2) Células cuboides: são nucleadas,
contendo muitos ribossomos (PTN)
e poucos grânulos de queratina;
3) Camada espinhosa: situada um
pouco mais acima, ainda contendo
núcleo e muitos desmossomos;
4) Camada lúcida: células cujos
orgânulos citoplasmáticos e núcleo
estão desaparecendo;
5) Camada córnea: as células perdem
o núcleo, onde o citoplasma
apresenta escassos orgânulos.
Impermeabilização da membrana
pela queratina. Mitocôndrias
apresentam DNA exclusivamente
materno. Impregnada de queratina.

Sistema circulatório:
 Artérias: Vasos de maior calibre que
se afastam do coração. Conduzem o
sangue do centro do corpo até as
regiões periferias.
 Veias: São vasos que se aproximam
do coração, trazendo o sangue das
regiões periféricas do corpo até o
centro.
a) Físicos:
 Mecânicos: agem por movimento,
transferindo energia para o organismo
e causando lesão.
Agentes vulnerantes e suas classificações  Não mecânicos: consistem em
atuação de forças da natureza, como a
eletricidade natural, o calor, o frio, o
som e a luminosidade, que, atuando
sobre o organismo, transferem energia

12
e causam lesão.
b) Químicos: decorrem da ação de
cáusticos e venenos (vitriolagem)
c) Biológicos: decorrem da ação de
microrganismos vivos, como vírus,
bactérias e protozoários.
d) Mistos: decorrem da mistura dos
demais agentes vulnerantes, podendo
ser:
 Físico-químicos,
 Biofísicos,
 Bioquímicos
São classificadas conforme o grau e a
gravidade do dano, enquadrando-se e uma
das figuras típicas do art. 129 do CP,
podendo ser:
a) Leve: dada por exclusão (art. 129,
caput do CP)
b) Grave: IPDA - Prevista no art. 129, § 1º
do CP, nas hipóteses de:
 Incapacidade para as ocupações
habituais por mais de 30 dias;
 Perigo de vida;
Lesões corporais  Debilidade permanente de membro,
sentido ou função;
 Aceleração de parto;
c) Gravíssima: IEPDA – Prevista no art.
129, § 2º do CP, nas hipóteses de:
 Incapacidade permanente para o
trabalho;
 Enfermidade incurável;
 Perda ou inutilização de membro,
sentido ou função;
 Deformidade permanente
 Aborto;

13
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(UEG - NÚCLEO - 2008 - PC-GO - Delegado de Polícia) A lesão conhecida como mordedura

ou dentada produzida pela arcada dental humana, em razão de suas características, classifica-
se como

A) cortocontudente.

B) contundente.

C) perfurante.

D) perfurocontundente.

Comentário:

Opa! Começamos bem! Lembrem-se do conceito de “lesões patognomônicas”


apresentado neste capítulo. As lesões patognomônicas são aquelas que permitem a

identificação precisa ou mais próxima possível do agente/instrumento vulnerante que a


produziu, e demos como exemplo exatamente o que foi cobrado pela questão, sendo a

lesão de mordedura, produzida pela arcada dentária humana. Este Pode ser considerado
como instrumento cortocontundente natural, pelo que as lesões produzidas por mordidas

são classificadas como cortocontusas. O gabarito, portanto, está na letra “a”.

14
Questão 2

(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) Ao examinar um paciente, o perito encontra


uma ferida em região peitoral com formato de dois semiarcos, de concavidades voltadas uma

para a outra, mostrando equimoses periféricas, de profundidades variáveis e laceração


tecidual. O perito conclui que se trata de mordedura. As feridas produzidas por mordedura

causada pela arcada dentária humana se classificam como:

A) perfuro-contundente.

B) contundente.

C) corto-contusa.

D) perfuro-cortante.

E) corto-contundente

Comentário:

Mais uma vez a questão aborda a classificação da lesão produzida por mordida humana.
Percebam que esse é um tema recorrente e de alta incidência nas provas. Como vimos, a

arcada dentária humana é classificada como agente cortocontundente, sendo a lesão por
ela produzida classificada como cortocontusa. O gabarito que responde à questão,

portanto, está na letra “e”.

Questão 3

(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) Um cadáver encontrado próximo à linha férrea

apresenta desarticulação de todos os membros, além de separação do corpo da cabeça. É


correto afirmar que se trata de:

A) esquartejamento e esgorjamento.

B) esquartejamento e decapitação.

15
C) espojamento e esgorjamento.

D) esquartejamento e vitriolagem.

E) espojamento e decapitação.

Comentário:

Esse tema é pertencente à classificação das lesões por ação cortante e feridas incisas,

estando situado no tópico referente às energias de ordem mecânica (agentes físicos


mecânicos), que será estudado com maior profundidade no próximo capítulo. Não

obstante, guarda relação com os conteúdos aqui estudados, e já podemos adiantar


alguns conceitos importantes. As feridas incisas podem ser feitas por instrumentos

cortantes, perfuro cortantes e corto contundentes. No que tange a estes últimos, a ação
corto contundente é aquela que além da incisão (corte) também produz um trauma por

contusão (pancada), devido a uma certa quantidade de massa presente no instrumento


corto contundente que seja utilizado para a produção da lesão. Assim, é possível que,
além dos cortes, a pressão somada à massa do instrumento acarrete mutilações na área

atingida. São exemplos clássicos de instrumentos corto contundentes a roda de trem,


espada, machado, guilhotina, dentre outros. Quando há mutilações de membros, em que

os 4 membros são arrancados, a lesão recebe o nome de esquartejamento (dividir em 4


partes). Se há total despedaçamento do cadáver, estando seccionado em várias partes, a

lesão recebe o nome de espostejamento (dividir em postas, como se fosse um peixe).


Quando a ação cortante ou corto contundente ocorre no pescoço, algumas lesões

tornam-se peculiares e recebem nomes especiais: degolamento (ação cortante na parte


posterior do pescoço); esgorjamento (ação cortante na parte anterior do pescoço –
garganta-, pelo que esgorjar significa “expor a garganta”); e a decapitação (ação corto

contundente no pescoço que acarreta a separação da cabeça do restante do corpo).


Assim, dentre as alternativas, a que responde corretamente ao enunciado da questão

encontra-se na letra “b”.

16
Questão 4

(FUMARC - 2011 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) Diante de uma ferida linear, com
regularidade de suas bordas, associada a abundante hemorragia, predominância do

comprimento sobre a profundidade e apresentando cauda de escoriação, pode-se afirmar que


a lesão foi produzida por instrumento:

a) Cortocontundente

B) Contundente.

C) Perfurante.

D) Cortante.

Comentário:

A questão aborda as características de uma lesão incisa, causada por instrumento

cortante. Assim, podem ser evidenciadas nas feridas incisas as características de haver
bordas regulares, maior comprimento que profundidade, fundo regular, cauda de

escoriação e abundante sangramento (devido ao fato de os vasos sanguíneos estarem


seccionados, e não esmagados, ao contrário do que ocorre na ferida contusa,
ocasionando maior extravasamento de sangue). Assim, pode-se afirmar que tais

características são próprias da ação produzida por instrumento cortante. O gabarito,


portanto, está na letra “d”.

Questão 5

(CESPE - 2012 - PC-AL - Agente de Polícia) Em relação à perícia médico-legal, julgue os itens

seguintes.
A lesão corporal leve pode ser caracterizada como aquela em que não impede a vítima de
realizar as atividades habituais por até trinta dias, como, por exemplo, uma torção no dedo do

pé.

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Comentário:

Aqui está uma questão que cobra do candidato o conhecimento do art. 129 do Código

Penal, no que tange à classificação das lesões corporais como leve, grave ou gravíssima.
Aqui não há maiores comentários, havendo tão somente que saber que a hipótese de

enquadramento da conduta como lesão leve se dá por exclusão, ou seja, quando a


conduta não evidenciar, no caso concreto, qualquer dos resultados/lesões descritas nos

§§ 1º e 2º do referido dispositivo. A hipótese trazida pelo enunciado revela, por exclusão


e interpretação em sentido contrário, a configuração de lesão corporal leve, pois que a

vítima não fica impossibilitada para suas ocupações habituais por mais de 30 dias (art.
129, § 1º, I do CP). A afirmação é verdadeira, estando, portanto, “correto” o gabarito da
questão.

Questão 6

(CESPE - 2012 - PC-AL - Agente de Polícia) Em relação à perícia médico-legal, julgue os itens

seguintes.
Lesão corporal de natureza grave é aquela em que o objeto utilizado para a prática é muito

perigoso, como um projétil de arma de fogo, ou aquela resultante da prática de ato com

extrema força e violência ou, ainda, com requinte de crueldade.

Comentário:

Como se sabe, o processo de enquadramento do crime de lesão corporal conforme a


classificação das lesões é feito por meio da extensão do dano, quando a conduta

praticada acarretar qualquer das hipóteses previstas nos §§ 1º e 2º do CP. Logo,


independente do instrumento utilizado para a prática do crime, a caracterização da

conduta dependerá tão somente do resultado que se originou da prática do delito. O

enunciado da questão está, portanto “incorreto”, sendo esse o nosso gabarito.

18
Questão 7

(CESPE - 2012 - PC-AL - Escrivão de Polícia) No que se refere à perícia médico-legal, julgue
os itens subsequentes.

Considere a seguinte situação hipotética. O pai de um recém-nascido intensamente irritado


com o choro insistente do bebê, sacudiu-o, e provocou luxação em um de seus ombros.

Arrependido do ato de violência por ele cometido, o pai levou imediatamente o bebê ao
hospital, onde ele recebeu cuidados médicos. Os movimentos do ombro do bebê foram

restabelecidos após cinco semanas, e ele não teve sequelas. Nessa situação, sob o ponto de

vista jurídico, houve lesão corporal de natureza grave.

Comentário:

Embora a questão narre que não houve sequelas para o bebê, é fato que a conduta lhe
ocasionou risco de vida, devido às próprias condições naturais da vítima, levando em

conta a sua fragilidade oriunda de sua idade prematura O gabarito da questão está,

portanto, correto.

Questão 8

(PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia) A figura do "perigo de vida" nas lesões
corporais diz respeito:

A) ao perigo decorrente da situação em que esteve a vítima por ocasião da agressão.

B) ao perigo resultante do dano pessoal ocasionado pelo ato criminoso.

C) à situação de prognóstico médico de grave dano

D) a situação de expectativa de risco de vida relacionada à agressão.

E) todo tipo de atividade relativa a vítima em seu cotidiano.

19
Comentário:

Aqui houve uma abordagem mais atípica do que costuma ser cobrado nas provas. Exige

do candidato um conhecimento doutrinário. Segundo a doutrina o perigo de vida não


tem o mesmo significado de risco de vida. O perigo de vida é a probabilidade concreta e

objetiva de êxito letal próximo. Pode apresentar-se no momento da lesão ou depois de


horas ou dias, em qualquer fase da evolução clínica, antes dos 30 dias. O gabarito,

portanto, está na letra “a”.

Questão 9

(CESPE - 2012 - PC-AL - Agente de Polícia) Em relação à perícia médico-legal, julgue os itens

seguintes.

A eletricidade natural ou artificial, o frio, a onda eletromagnética e o som são exemplos de

energia que podem provocar lesões corporais.

Comentário:

Aqui a questão aborda basicamente o conceito de agentes vulnerantes, trazendo mais

especificamente os agentes físicos não mecânicos como potenciais causadores de lesão,


a saber a eletricidade, o som, a luz, o calor e o frio. O gabarito da questão está, portanto,

“correto”.

Questão 10

(Funiversa - 2015 - PCDF – Legista) Assinale a alternativa que apresenta as alterações

provocadas no organismo pela permanência em ambientes de pressão muito alta, ou muito


baixa, bem como decorrentes de variações bruscas de pressão ambiental.

A) barotrauma

B) baropatia

C) embolia traumática

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D) doença de Monge

E) doença da descompressão

Comentário:

Esse assunto ainda será tratado em capítulo posterior, no que tange às energias físicas
de ordem não mecânica. Não obstante, há relação com o presente tema, pois que a ação

das variações de pressão atmosférica também é uma energia natural capaz de causar
lesões e mortes. Nesse aspecto, os efeitos desses fenômenos são conhecidos como

baropatias, estando o nosso gabarito na letra “b”.

E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e

praticando bastante! Vamos juntos até a aprovação! Até mais!!!

21
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - E

Questão 3 - B

Questão 4 - D

Questão 5 – Certo

Questão 6 - Errado

Questão 7 - Certo

Questão 8 - A

Questão 9 - Certo

Questão 10 - B

22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.

DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p. 360.

23
CARREIRAS POLICIAIS

Medicina Legal
Capítulo 4
SUMÁRIO

MEDICINA LEGAL, Capítulo 4 .................................................................................................................................... 4

4. Energias de Ordem Mecânica. ............................................................................................................................. 4

4.1. Agentes vulnerantes físicos mecânicos. ...................................................................................................... 4

4.2. Lesões por ação de instrumento cortante – Feridas incisas. ............................................................. 6

4.2.1 Características das feridas incisas. ................................................................................................................. 6

4.2.2 Incidência do golpe na ferida incisa:............................................................................................................ 8

4.2.3 Sinais de Romanese, Lacassagne e Gilvaz:................................................................................................. 9

4.2.4 Lesões de defesa e lesões de hesitação .................................................................................................. 10

4.2.5 Lesões por ação cortante no pescoço – Esgorjamento e Degolamento .................................. 12

4.3 Lesões por ação de instrumentos contundentes – Ferida contusa. ............................................ 13

4.3.1 Rubefação .............................................................................................................................................................. 13

4.3.2 Equimoses ............................................................................................................................................................. 14

4.3.3 Bossa........................................................................................................................................................................ 18

4.3.4 Escoriação .............................................................................................................................................................. 18

4.3.5 Ferida contusa ..................................................................................................................................................... 20

4.3.6 Entorses .................................................................................................................................................................. 21

4.3.7 Luxação ................................................................................................................................................................... 22

4.3.8 Fraturas ................................................................................................................................................................... 22

4.3.9 Rupturas viscerais............................................................................................................................................... 23

4.4 Lesões causadas por ação de instrumentos corto contundentes – Feridas cortocontusas.24

4.4.1 Mutilação ............................................................................................................................................................... 24

4.4.2 Decapitação .......................................................................................................................................................... 25

4.4.3 Espostejamento ................................................................................................................................................... 25

1
4.4.4 Esquartejamento ................................................................................................................................................. 25

4.5 Lesões produzidas por agentes perfurantes e perfuro cortantes................................................. 26

4.5.1 Feridas perfuro incisas. .................................................................................................................................... 27

4.5.2 Lesão em sanfona .............................................................................................................................................. 28

4.5.3 Feridas puntiformes ou punctórias ............................................................................................................ 28

4.5.4 Lei de Langer - Poliformismo ....................................................................................................................... 29

4.5.5 Leis de Filhós – Semelhança e Paralelismo ............................................................................................ 29

4.6 Lesões produzidas por instrumentos perfuro contundentes – Feridas perfuro contusas . 30

4.6.1 Lesões causadas por agente perfuro contundentes de haste ....................................................... 30

4.7 Lesões e morte por projéteis de arma de fogo – Ação perfuro contundente. ...................... 31

4.7.1 Conceito e classificação das armas de fogo .......................................................................................... 32

4.7.2 Munição.................................................................................................................................................................. 33

4.7.3 Projéteis transfixantes e penetrantes ........................................................................................................ 36

4.7.4 Classificação do tiro quanto à distância .................................................................................................. 39

4.7.5 Estudo das lesões produzidas por disparo de arma de fogo ........................................................ 42

4.7.6 Lesões de entrada com anteparo ósseo .................................................................................................. 49

4.7.7 Lesões de entrada sem anteparo ósseo .................................................................................................. 52

4.8 Lesões de saída causadas por projéteis de arma de fogo .............................................................. 54

4.8.1 Com projétil único. ............................................................................................................................................ 54

4.8.2 Com projéteis múltiplos/desfragmentado .............................................................................................. 55

4.9 Lesões causadas por projéteis de arma de fogo de alta energia ................................................ 55

4.9.1 A cavitação ............................................................................................................................................................ 56

4.9.2 Lesões de saída de PAF de alta energia .................................................................................................. 57

4.10 Lesões e mortes causadas pela ação de explosivos - Blast Injury ............................................... 59

4.10.1 Conceito ................................................................................................................................................................. 59

4.10.2 Blast primário ....................................................................................................................................................... 59


2
4.10.3 Blast secundário .................................................................................................................................................. 60

4.10.4 Blast terciário ....................................................................................................................................................... 60

4.10.5 Blast quaternário ................................................................................................................................................ 60

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 61

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 71

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 80

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 81

3
MEDICINA LEGAL

Capítulo 4

4. Energias de Ordem Mecânica.

4.1. Agentes vulnerantes físicos mecânicos.

Inicialmente, interessa o estudo das lesões originadas por energia mecânica, que são
aquelas que, atuando mecanicamente sobre o corpo, modificam, completa ou parcialmente, o
seu estado de repouso ou de movimento. As energias de ordem mecânica podem ser

produzidas pelos chamados agentes vulnerantes, assim entendidos como instrumentos


capazes de transferir energia mecânica e causar lesão, conforme classificação que se segue.

Os agentes físicos mecânicos se dividem em contundentes, cortantes, perfurantes e

mistos (perfuro contundente, perfuro cortante e corto contundente). Agente contundente é


aquele que apenas contunde (ex.: barra de ferro ou de madeira); agente perfurante é aquele

que apenas perfura (ex.: picador de gelo); agente cortante é aquele que apenas corta (ex.:
navalha de barbear).

Para que seja misto é necessário que seja capaz de ocasionar os dois efeitos (ex.: faca –

perfuro cortante; machado – corto contundente; projétil de arma de fogo – perfuro


contundente).

Os agentes vulnerantes físicos mecânicos são assim chamados porque, para que

acarretem lesão, é necessário que haja movimento mecânico, seja do agente, da vítima, ou
dos dois simultaneamente.

Assim, faz-se a divisão da ação contundente dos agentes físicos mecânicos da seguinte
forma:

4
a) Ação ativa: o agente vulnerante, em movimento, vai de encontro à vítima.

b) Ação passiva: o agente vulnerante está parado, mas a vítima vem a se chocar contra
ele. (Ex.: queda, defenestração (queda de uma janela alta), colisão de um veículo com

uma parede, etc.).

c) Ação mista: ambos estão em movimento contrário e vem a colidir.

Sintetizando de maneira mais didática, colacionamos o quadro sinóptico abaixo, de modo

a facilitar a memorização das referidas classificações:

São os que, agindo por um gume afiado, por

pressão e deslizamento, linear ou obliquamente


sobre a pele e os órgãos, produzem soluções de

continuidade chamadas feridas incisas. Não existem


INSTRUMENTOS CORTANTES
feridas cortantes: cortantes são os instrumentos que
as produzem.

É todo agente mecânico, líquido, gasoso ou sólido,


rombo, que, atuando violentamente por pressão,
INSTRUMENTOS
explosão, flexão, torção, sucção, percussão,
CONTUNDENTES distensão, compressão, descompressão,
arrastamento, deslizamento, contragolpe ou de

forma mista, traumatiza o organismo.

Instrumentos que, agindo sobre a pele, músculos,


tendões, órgãos ou esqueletos, por pressão,

percussão de deslizamento, mais pelo próprio peso


e intensidade de manejo do que pelo gume de que
INSTRUMENTOS CORTO
são dotados, produzem lesões chamadas feridas
CONTUNDENTES
cortocontusas. O melhor exemplo de agente

5
vulnerante dessa espécie é a arcada dentária

humana.1

Instrumentos puntiformes, finos, cilíndricos ou


cilindrocônicos, com o comprimento predominando

sobre a largura e a espessura, como alfinetes,


agulhas e estoque. Agem simultaneamente por
INSTRUMENTOS PERFURANTES
percussão ou pressão por um ponto, afastando as
fibras sem seccioná-las.

São os instrumentos puntiformes, com o

comprimento predominando sobre a largura e a


INSTRUMENTOS PERFURO
espessura, dotados de gume ou corte. O contato
CORTANTES desses instrumentos é feito por um ponto que atua
simultaneamente por percussão ou pressão,

afastando as fibras e, por corte, seccionando-as.

São instrumentos que, por sua peculiar ação sobre o


alvo, concomitantemente perfurando e

contundindo, denominam-se instrumentos


traumáticos perfuro contundentes. O melhor
INSTRUMENTOS PERFURO
exemplo desses instrumentos, são os projéteis de
CONTUNDENTES
armas de fogo, embora a ponteira de guarda-chuva

produza lesão similar.

4.2. Lesões por ação de instrumento cortante – Feridas incisas.

4.2.1 Características das feridas incisas.

Incisão significa corte, razão pela qual as feridas incisas são lesões comumente causadas
por armas brancas, que possuem como característica marcante as soluções de continuidade

1
Vide questões 1 e 2 deste material.
6
da pele, sendo assim classificadas como tipos de lesões abertas. São produzidas por

qualquer agente vulnerante que possua gume afiado (ex.: navalha, bisturi, faca, lâminas).

Normalmente são mais extensas do que profundas, tendo ação por meio de pressão e
deslizamento do instrumento cortante como se fosse um “arco de violino”, sendo assim

denominadas na doutrina médico legal.

Possuem bordas regulares, vertentes regulares e fundo regular, apresentando vasos


seccionados.

A ferida incisa sangra mais do que a contusa, sendo toda regular, diferente das feridas

causadas por agentes contundentes. Na ferida contusa o agente atua por pressão, enquanto

que a incisa age por deslizamento.

Assim, para facilitar a memorização, podemos sintetizar as principais características das

feridas incisas da seguinte forma:

Há o afastamento das bordas das feridas sendo suas


vertentes emparedadas: verticais, se o instrumento

agiu de forma perpendicular; ou, em bisel, se o


instrumento agiu de forma inclinada;
REGULARIDADE DAS BORDAS

Em relação às bordas das feridas incisas, devemos

ressaltar a predominância do comprimento sobre a


profundidade. Existe uma profundidade maior no
terço inicial da ferida, sendo que, a partir de então,
REGULARIDADE DO FUNDO DA
gradualmente, vai-se aproximando da superfície,
LESÃO
terminando em uma escoriação linear que indica a
7
saída do instrumento, chamada de cauda de

escoriação ou cauda de rato.

Essa ausência se justifica em razão da forma como


atua o agente vulnerante de gume afiado.

Diferentemente dos instrumentos contundentes, os


instrumentos cortantes imprimem lesão numa área
AUSÊNCIA DE VESTÍGIOS
muito específica e delineada, de modo que a própria
TRAUMÁTICOS
lesão se restringe àquela ferida linear, não havendo

outros traumas ao redor das bordas da ferida ou


para além daquela profundidade que o instrumento

atingiu.

A explicação desta característica se dá pelo fato de


que nesse tipo de ferida os vasos estão seccionados,

ou seja, há uma solução de continuidade dos vasos


sanguíneos dada pela incisão, e, desta forma, o
HEMORRAGIA ABUNDANDE
sangue consegue fluir livre, havendo maior
extravasamento de sangue. É diferente da ferida
contusa, que pode rasgar a pele, fazendo com que

os vasos sanguíneos fiquem esmagados – e não


seccionados - no local da pancada.

4.2.2 Incidência do golpe na ferida incisa:

Quando se analisa a ferida incisa, nota-se que o ponto de ataque é mais profundo, ao
passo que no ponto de saída a lesão é mais superficial. A entrada da lesão, portanto, possui

maior profundidade do que a saída da lesão.

8
Vejamos na imagem2 abaixo um esquema que ilustra muito bem o percurso e a incidência

do instrumento cortante:

4.2.3 Sinais de Romanese, Lacassagne e Gilvaz:

São nomenclaturas especiais pertinentes à análise da incidência do golpe na ferida incisa.

Os sinais de Romanese e Lacassagne dizem respeito à mesma coisa, a qual seja a escoriação
na pele ao final do golpe, representando o ponto final do ferimento, apenas recebendo nomes

distintos, em que um nomeou de “cauda de escoriação” e o outro “cauda de rato”.

2
CAUDA DE ESCORIAÇÃO. Aneste, 2020. Disponível em: www.aneste.org/medicina-legal.html. Acesso em:
11/02/2020.

9
O sinal de Gilvaz, por sua vez, caracteriza-se por ser uma cicatriz no rosto da vítima,

indicando que esta sofreu uma lesão por instrumento cortante.

A cauda de escoriação se forma em razão da menor pressão imprimida pelo instrumento


cortante ao final do seu percurso na superfície na pele. Assim, sabe-se que o instrumento

cortante imprime maior pressão sobre o primeiro ponto de contato com a epiderme, e
uma menor pressão sobre o seu último ponto de contato, o que ocasiona uma maior

profundidade no início da incisão, e uma menor profundidade ao seu final, ao ponto de


causar uma escoriação nesse segmento. Com base nisso é que é possível identificar, ante a

análise da lesão, o seu ponto de início e em qual sentido se deu a ação do agente cortante.

4.2.4 Lesões de defesa e lesões de hesitação

a) Lesões de defesa:

São lesões localizadas em áreas normalmente utilizadas para defesa pessoa, tais como
região palmar e borda ulnar do antebraço. Aqui estamos abordando o tema das lesões
produzidas por ação cortante, mas é possível a verificação das lesões de defesa dos mais
variados tipos, como as contusões ou fraturas existentes no antebraço, por exemplo.

Só a título de curiosidade, os membros são somente os membros prensores e membros


motores. O osso da face externa do antebraço, que era chamado de cúbito, atualmente

denomina-se ulna. Vejam na imagem3 abaixo um exemplo típico de lesões de defesa:

3
LESÕES DE DEFESA. Forsci Projetos Educacionais, 2020. Disponível em: www.forsciprojetoseducacionais.com.
Acesso em 11/02/2020.
10
b) Lesões de hesitação:

São lesões localizadas em áreas que, normalmente, são utilizadas para suicídio, podendo
ser múltiplas, e normalmente não mortais. Podem ser produzidas pelos diversos agentes

vulnerantes eventualmente utilizados para suicídio.

Essas lesões auxiliam na investigação da causa jurídica do fato em estudo, bem como se
mostra relevante a realização de autópsia psicológica para a confirmação ou não da tese de

suicídio.

Autópsia psicológica: É um estudo da vida psicológica pregressa do indivíduo, a fim de se


analisar se houve mesmo suicídio, confrontando com os demais elementos informativos do

conjunto probatório no caso concreto.

Abaixo, trazemos imagens4 para melhor visualização e entendimento do conteúdo:

4
LESÕES DE HESITAÇÃO. Picpanzee, 2020. Disponível em: www.picpanzee.com. Acesso em 11/02/2020.
11
4.2.5 Lesões por ação cortante no pescoço – Esgorjamento e

Degolamento

Quando são feitas no pescoço, as lesões oriundas de ação cortante recebem nomes

especiais, a saber: esgorjamento e degolamento.

O esgorjamento consiste em um corte na região anterior (da frente) do pescoço, mais


especificamente onde se localiza a garganta. A propósito, o nome esgorjamento tem origem

francesa, “gorge“, que significa garganta. Esgorjar, portanto, é expor a garganta. Veja abaixo
uma ilustração5 desse tipo de lesão:

Já o degolamento é exatamente o oposto, caracterizando um corte na região posterior do

pescoço, onde fica a “gola” da camisa, tendo por esta razão esse nome. Vejam a imagem 6
abaixo para facilitar o entendimento:

5
ESGORJAMENTO. Slideshare, 2020. Disponível em: www.pt.slideshare.net/josemariaabreujunior/traumatologia-
forense-parte-1-direito-ufpa. Acesso em: 11/02/2020.
6
GALVÃO, Malthus. Degolamento. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
12
4.3 Lesões por ação de instrumentos contundentes – Ferida
contusa.

As lesões causadas pela ação de agente contundente são acarretadas por pressão do
instrumento contra o corpo da vítima. Essa pressão é fruto da energia cinética (energia em

movimento) como forma de energia mecânica, transferindo-se para o organismo, ocasionando


traumas e lesões. Essas lesões podem ocorrer por tração, torção, compressão ou sucção

(descompressão). O resultado, portanto, depende da dinâmica da lesão. As lesões por ação


contundente pode originar dois tipos de lesões: fechadas e abertas.

4.3.1 Rubefação

Vem da palavra rubro, ou rubor, que significa coloração vermelha. São lesões que

acarretam uma vermelhidão na pele. Normalmente são causadas por agente contundente, ou
até mesmo agentes térmicos ou químicos que ocasionem queimadura de primeiro grau. Não
há, no entanto, extravasamento de sangue.

A razão da vermelhidão consiste no fato de que há a dilatação dos vasos sanguíneos no


local da lesão. É a lesão mais leve no âmbito da traumatologia, desaparecendo rapidamente.
Vejam as imagens para uma melhor compreensão:

13
7

As rubefações só podem ser feitas em pessoas vivas!!! A razão disso de dá pelo fato de
que o sistema circulatório só funciona durante a vida, permitindo a dilatação dos vasos e o
aparecimento das características típicas desse tipo de lesão. Após a morte, o sangue para de

circular pelo corpo, havendo tão somente o acúmulo de sangue em determinados locais do
corpo pela ação da gravidade, e a depender da posição em que o cadáver se encontra,
originando os chamados livores cadavéricos, que serão devidamente estudados no capítulo

referente à tanatologia.

4.3.2 Equimoses

Todas as equimoses resultam do extravasamento de sangue, ocasionando a sua


visibilidade através da pele ou qualquer outra camada de tecido. Difere da rubefação

exatamente pelo fato de que nesta não há extravasamento de sangue, mas tão somente a
dilatação dos vasos no local da lesão. Podem ser causadas tanto na pessoa viva quanto na

pessoa morta, podendo ainda ser superficiais ou profundas; imediatas ou tardias; no local
ou a distância. Vejamos agora alguns tipos especiais de equimoses.

7
RUBEFAÇÃO. Docplayer. Disponível em: www.docplayer.com.br. Acesso em: 11/02/2020.
14
 Petéquias ou manchas de Tardieu

Algumas equimoses se apresentam em forma pontual ou puntiforme, recebendo o nome


de petéquias ou manchas de Tardieu. Por vezes, pode haver uma concentração dessas

manchas puntiformes, a que se dá o nome de sugilação.

É muito comum ocorrerem nos casos de morte por asfixia, mas o aparecimento de
petéquias não dá plena certeza de configuração deste tipo de morte  Pode acontecer

inclusive em morte por causas naturais. Vejam logo abaixo imagens para melhor fixação:

I) Quando do aparecimento de petéquias, o médico legista deve procurar por


sinais de asfixia? SIM.

II) Quando do aparecimento de petéquias, o médico legista pode afirmar com


certeza que houve asfixia? NÃO. As petéquias não são lesões patognomônicas

de asfixia!

8 8
GALVÃO, Malthus. Petéquias de Tardieu. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
15
 Máscara equimótica de Morestin

É um tipo específico de equimose na qual as manchas se concentram em torno da face.


Geralmente ocorre quando o sangue arterial enviado para a região da cabeça não consegue

retornar para o coração por conta de algum fator ou força externos.

Assim, o sangue começa a se acumular nas veias e artérias da cabeça, fazendo pressão,
cuja consequência é o extravasamento do sangue. Surgem várias petéquias e uma

consequente sugilação na região da face e do pescoço.

 Víbices duplas, paralelas ou quase paralelas, esparsas no dorso da vítima:

Trata-se de uma espécie de equimose. São lesões que têm a forma de faixas paralelas

ou estrias. Indicam sinais de espancamento ou agressão, não uma agressão simples, mas sim
uma agressão múltipla, onde cada marca representa uma pancada.

Geralmente são ocasionadas pela ação de instrumentos contundentes longos, tais como

uma vara, cabo de vassoura ou cassetete. Quando o instrumento contundente bate no corpo
da vítima, acaba por fazer pressão nos vasos sanguíneos, que terminam por ocasionar um

maior fluxo de sangue nas laterais do instrumento, formando as faixas duplas.

O instrumento força a passagem de sangue para as laterais da área atingida, fazendo com
que haja uma maior concentração de sangue nesses locais, ocasionando o extravasamento de

sangue e a formação das equimoses paralelas e horizontais entre si. Observe na imagem o
aspecto dessas equimoses:

9
GALVÃO, Malthus. Víbices duplas. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
16
 Sinal do zorro ou do guaxinim

Nada mais é do que uma equimose na região periocular (ao redor dos olhos), causada
por lesão nas proximidades dos olhos. Pode acontecer também de a pessoa levar uma

pancada na cabeça, ocorrer o extravasamento interno do sangue e este descer, pela força da
gravidade, até a região ocular, atrás das pálpebras.

Esse extravasamento pode ocorrer em razão de uma lesão no couro cabeludo ou de uma

lesão no andar anterior do crânio. Visualizem as características dessa espécie de equimose


na imagem abaixo:

10

 Hematoma x Equimose

Ambos são causados por extravasamento de sangue. Ocorre que, no hematoma, o

sangue se acumula em determinada parte do corpo, fazendo uma saliência. Caracteriza a


existência de um tumor de sangue. Na equimose o sangue extravasa, mas não fica coletado,
e sim infiltrado no tecido, caracterizando uma mancha. O hematoma é um acúmulo de

sangue em uma camada mais profunda do corpo, ao contrário das bossas, que são
superficiais.

10
GALVÃO, Malthus. Sinal do Zorro ou Guaxinim. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
17
 Manchas de Paltaulf

Só ocorrem exclusivamente no pulmão. São lesões patognomônicas de afogamento,


sendo certeza a sua caracterização quando da ocorrência deste evento. São manchas maiores

que as petéquias.

São causadas devido à entrada de água nos pulmões, ocasionando o aumento demasiado
da pressão intrapulmonar e a consequente ruptura dos vasos capilares ao redor dos alvéolos,

causando extravasamento de sangue. Vejam na imagem11 abaixo:

4.3.3 Bossa

Por vezes, quando há o extravasamento de sangue, este fica coletado embaixo de uma
membrana e em cima de um plano ósseo. Quando isso ocorre, forma-se uma saliência na

pele, o que se costuma chamar vulgarmente de “galo”. A isso se dá o nome de bossa. Ou


seja, é uma bolsa de sangue acumulado entre a pele e uma região óssea.

4.3.4 Escoriação

Escoriar é retirar o revestimento, sendo, portanto, uma lesão que arranca a epiderme,

atingindo a derme, mas não a ultrapassando. As escoriações, portanto, são tipos de lesões
abertas.

11
GALVÃO, Malthus. Manchas de Paltaulf. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
18
A escoriação não atinge os planos mais profundos da região, sendo regenerável e

curável. É uma arranhadura ou esfoladura, que acarreta o arrancamento da epiderme e a


exposição da derme, mas que não ultrapassa essa camada. Pode acarretar sangramento, e

quanto mais profunda for a escoriação, maior será a perda de sangue. Confira a imagem12
abaixo para melhor compreensão das características visuais desta lesão:

 Nexo temporal da escoriação:

É necessário observar a crosta que se forma nas lesões produzidas em vivos para que se
saiba a quanto tempo a lesão foi produzida.

Primeiro aparece uma crosta serosa (soro sanguíneo), podendo vir com sangue (crosta

serossanguinolenta). Depois vai se formar uma crosta avermelhada (crosta hemática), que
com o passar do tempo vai ficando acastanhada, passando depois a ficar negra (crosta

anegrada), que passará a se descolar da pele (crosta em destacamento), expondo uma


epiderme rosada e sensível (epiderme em regeneração), até chegar na cor normal da pele,

havendo a regeneração completa (30 ou 40 dias).

Se arranhar a pele de um cadáver, não irá formar crosta, bem como se arranhar a pele de
uma pessoa viva que vier a morrer instantaneamente em seguida. Uma escoriação sem crosta

12
GALVÃO, Malthus. Escoriação. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
19
leva a duas conclusões: ou a escoriação foi feita no cadáver, ou ela foi feita pouco tempo

antes da morte.

Uma pessoa viva que venha a fazer exame de corpo de delito, e que se encontre com o
corpo todo escoriado não se encaixa no § 1º e nem no § 2º do art. 129 do CP, concluindo o

perito pela ocorrência da lesão corporal leve.

No momento em que o agente vulnerante atravessar a derme, não será mais uma
escoriação, chamando-se ferida. A ferida não se regenera, fechando o buraco com um tecido

diferente da pele, formando uma cicatriz. Enquanto a escoriação regenera e o vestígio

desaparece, a ferida cicatriza, ficando o vestígio para sempre.

4.3.5 Ferida contusa

Lesão que ultrapassa a derme, atingindo os planos mais profundos, se consolidando por
cicatrização. Uma lesão está consolidada quando não evolui mais, não piorando e nem

melhorando. Uma cicatriz não é uma cura, pois está é voltar completamente ao estado
anterior, desaparecendo o vestígio.

O agente contundente rasga a pele, de modo que a ferida contusa tem bordas, paredes

e fundo irregulares, ainda havendo pedaços de tecido que ligam as extremidades da ferida. O
agente contundente age por pressão, e por isso os vasos sanguíneos se arrebentaram e
foram esmagados, ocasionando pouco sangramento, pois a própria pressão do instrumento
acaba por fechar os vasos, dificultando a passagem de sangue, diferentemente do que

acontece com o agente cortante.

A ferida que arranca parte do couro cabeludo é chamada de escalpe; quando a ferida é
causada por um instrumento perfuro contundente de haste que penetra no corpo, é

20
chamada de encravamento; quando a agente vulnerante arranca um pedaço do corpo, a

ferida é chamada de mutilação (o agente é mutilante, mas a ferida é mutilação).

Quando acontece uma mutilação, a tipificação da conduta se dá nos termos do art. 129,
§ 2º, IV do CP, amoldando-se à hipótese da figura médico-legal chamada de deformidade

permanente (entendimento do STF). A mutilação causa uma deformidade estética no


indivíduo, que é classificada no Código Penal como lesão corporal gravíssima.

No entanto, a tipificação da lesão nos termos do art. 129, no contexto exclusivamente

da medicina legal, é caracterizada como debilidade permanente, nos termos do § 1º. A


tipificação da conduta e as consequências legais dependerão do restante do contexto

probatório, a partir da análise do dolo de quem produziu a lesão.

4.3.6 Entorses

Segundo a doutrina médico-legal, a entorse pode ser caracterizada como o estriamento

da uma cápsula de uma articulação. Ocorrem sempre que a amplitude normal dos
movimentos articulares é ultrapassada em decorrência de forças externas.

O local mais comum de aparecimento das entorses é a articulação tibiotársica (localizada

nos pés). Pode haver lesão da cápsula articular, dos ligamentos e dos tecidos periarticulares
(em volta das articulações). Esse tipo de lesão pode vir a causa incapacidade permanente.

13

13
TOSTES, Marcelo. Entorses. Drmarcelotostes. Disponível em: www.drmarcelotostes.com.. Acesso em 11/02/2020.
21
4.3.7 Luxação

A luxação é o deslocamento permanente das superfícies articulares, sendo, portanto,

uma lesão mais grave que as entorses.14 Podem ser:

a) Completas: quando há efetiva separação das articulações.

b) Incompletas: quando ainda resta algum contato entre as duas peças ósseas envolvidas
na lesão.

4.3.8 Fraturas

As fraturas têm como característica fundamental a solução de continuidade de um osso,

podendo ser completa ou incompleta, com ou sem desvio, simples, múltipla e cominutiva,
fechada ou exposta, em galho verde, em mapa mundi ou patológica. Dessa forma, em se

tratando das principais classificações, temos:

I) Fratura completa: há total quebra (solução de continuidade no osso).


II) Fratura incompleta: não há total quebra do osso.
III) Fratura fechada: o osso se parte em dois ou mais pedaços dentro da pele e da
musculatura.
IV) Fratura exposta: o osso se parte e rompe a pele e musculatura, formando uma
ferida e ficando visível a olho nu.
V) Fratura simples: o osso de parte em dois pedaços.
VI) Fratura múltipla: o osso se parte em mais vários pedaços (mais de dois).
VII) Fratura cominutiva: quando um pedaço do osso está separado do restante.
VIII) Fratura em mapa mundi: é um tipo de fratura especial que ocorre nos ossos
cranianos, sendo fracionados em vários pedaços, dando um aspecto de mapa mundi.

A fratura pode ocorrer em razão da compressão de um osso, por tração, rotação ou


torção ou por uma flexão. Por ocorrer, ainda, pela ação de duas forças opostas agindo no
mesmo ponto, caracterizando o que se chama de cisalhamento.

14
Vide questão 2 deste material.
22
Quanto mais jovem o osso, mais flexível ele é, e quanto mais flexível, absorve melhor a

pancada. Quando o osso é mais velho, quebra com maior facilidade.

Em crianças é mais comum a chamada fratura em galho verde, onde por ser mais flexível o

osso racha, sendo uma fratura incompleta.

Ocorre a precipitação quando a vítima cai de algum lugar e se choca contra o chão.
Quando essa precipitação é feita através de uma janela (a vítima é jogada), ocorre a

chamada defenestração (espécie de fratura indireta). Assim, a precipitação é gênero, do qual


a defenestração é espécie.

 Nexo temporal da fratura:

Assim que um osso é fraturado e, após isso, colocado na posição correta, ele começa a se
regenerar, formando o chamado calo ósseo. Com o passar do tempo o calo ósseo vai

desaparecendo, e após um determinado tempo aquele calo praticamente desaparece.

Assim, quando se quer saber a idade de uma fratura, faz-se uma radiografia do osso e
observa-se o estado do calo ósseo. Quanto mais evidente for o calo ósseo, mais recente é a

fratura, e quanto menos evidente for, mais antiga é a fratura.

4.3.9 Rupturas viscerais

É basicamente a ruptura dos órgãos internos, muitas vezes sem apresentar grandes
repercussões na pele, podendo provocar choque hipovolêmico e, consequentemente, a morte

da vítima.

23
4.4 Lesões causadas por ação de instrumentos corto
contundentes – Feridas cortocontusas.

Os instrumentos ou agentes corto contundentes são aqueles que possuem a capacidade

de, ao mesmo tempo, cortar e contundir, causando as lesões corto contusas. Isso ocorre em
razão da considerável massa que possuem os agentes corto contundentes, agindo por

percussão (pancada/batida), deslizamento ou pela pressão. São exemplos clássicos de lesão


desse tipo a decapitação (espécie de lesão corto contundente na região do pescoço), o

espostejamento e o esquartejamento.

4.4.1 Mutilação

Além dessas lesões especiais, são frequentes as mutilações, causadas pela ação de agentes
corto contundentes. As mutilações são nada mais do que a separação de uma ou mais partes

do corpo de seu restante.

Você já sabe, mas não custa repetir! Quando acontece uma mutilação, a tipificação da
conduta se dá nos termos do art. 129, § 2º, IV do CP, amoldando-se à hipótese da figura
médico-legal chamada de deformidade permanente (entendimento do STF). A mutilação
causa uma deformidade estética no indivíduo, que é classificada no Código Penal como lesão

corporal gravíssima.

No entanto, a tipificação da lesão nos termos do art. 129, no contexto exclusivamente da


medicina legal, é caracterizada como debilidade permanente, nos termos do § 1º. A tipificação

da conduta e as consequências legais dependerão do restante do contexto probatório, a partir


da análise do dolo de quem produziu a lesão.

24
4.4.2 Decapitação

Decapitar significa basicamente separar a cabeça do tronco (ex.: dês – retirar; caput –

cabeça). Um clássico exemplo de agente corto contundente que acarreta a decapitação é a


guilhotina, ferramenta de execução muito utilizada no século XVIII, durante a revolução

francesa. Trata-se de lesão especial causada por agente corto contundente no pescoço.

4.4.3 Espostejamento

O espostejamento é um tipo característico de lesão também causada por agente corto


contundente. A palavra significa basicamente “dividir em postas”, pelo que esse tipo de lesão

caracteriza-se pela multiplicidade de pedaços ou fragmentos do corpo, geralmente dividido


em partes irregulares. Ocorre tipicamente em acidentes em vias férreas, em que o trem em

movimento passa por cima do corpo da vítima, mutilando-o em vários pedaços. Vejam a
seguir a imagem desse tipo de lesão:

15

4.4.4 Esquartejamento

Esquartejar significa “cortar em quatro pedaços”. É um tipo de lesão causada por agente

corto contundente que se caracteriza pela amputação e desarticulação dos membros do corpo
humano. É semelhante ao espostejamento, mas que a diferença substancial reside na

regularidade dos fragmentos do corpo. 16

15 15
GALVÃO, Malthus. Espostejamento. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
16
Vide questão 3 deste material.
25
4.5 Lesões produzidas por agentes perfurantes e perfuro
cortantes

Diferentemente das feridas incisas (que se caracterizam por cortes nos tecidos), os
instrumentos perfurantes atuam afastando os tecidos e, muito raramente, seccionando-os. As
lesões perfurantes são chamadas de feridas punctórias ou puntiformes17. Esse tipo de lesão

apresenta basicamente as seguintes características:

I) Abertura estreita;
II) Raro sangramento;
III) São quase sempre de menor diâmetro que o agente vulnerante que a
produziu;

Esta última característica se dá em razão da elasticidade e capacidade de retração dos

tecidos da pele e das fibras musculares. Como a ação dos instrumentos perfurantes se dá com
o afastamento dos tecidos, quando o agente perfurante é retirado, os tecidos tentam voltar ao

lugar de origem, na tentativa de fechar a ferida.

17
Vide questão 5 deste material.
26
No entanto, como houve a introdução do agente vulnerante no local da ferida, as fibras

se esticam mais do que a sua capacidade normal para permitir a entrada do instrumento, e
por isso não conseguem voltar completamente ao seu lugar, ficando com um aspecto de

fenda, a depender do calibre do instrumento perfurante. A isso a doutrina médico-legal deu

dois nomes específicos: Lei de Langer e Lei de Filhós, que serão melhor estudadas a seguir.

4.5.1 Feridas perfuro incisas.

São produzidas por agentes perfuro cortantes que possuem um ou mais gumes. A ação
pode ser feita por pressão perpendicular ou oblíqua, o que modificará a forma final da lesão.

São lesões mais profundas do que extensas, apresentando forma de fenda, com um ou
mais ângulos agudos, indicando número de gumes do instrumento. A ferida incisa causada

por instrumento perfuro cortante cuja incidência seja oblíqua, ainda que só possua um gume,
ocasiona dois ângulos agudos.

18

18
GALVÃO, Malthus. Feridas Perfuroincisas. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
27
Na primeira imagem, é possível visualizar, na ferida à direita, um ângulo rombo (mais

arredondado) e outro mais agudo, indicando que a ferida foi produzida por instrumento
perfuro cortante de um gume afinado. Já na segunda imagem podemos visualizar a existência

de dois ângulos agudos, o que nos dá duas possibilidades: ou a ferida foi produzida por um
instrumento perfuro cortante de dois gumes; ou foi produzida por instrumento perfuro

cortante de apenas um gume, mas que teve sua incidência perpendicular.

4.5.2 Lesão em sanfona

É uma lesão que pode acontecer no tórax ou no abdômen, onde um instrumento


perfurante ou perfuro cortante de pequeno tamanho é capaz de atingir uma profundidade

muito maior, devido ao fato de o abdômen se comprimir, pelo fato de a região ser flácida e
flexível. Ou seja, a região atingida é depressível, e permite que o instrumento alcance
profundidades maiores que a sua própria extensão.

4.5.3 Feridas puntiformes ou punctórias

Estão representadas por um ponto, no local da aplicação da ponta do agente vulnerante.


Normalmente situadas na projeção dos trajetos venosos subcutâneos superficiais, ou na área
precordial ou demais acessos para introdução de medicamentos ou drogas.

A agulha de injeção ou prego é instrumento perfurante de pequeno calibre, enquanto


que o picador de gelo é um instrumento perfurante de médio calibre.

O instrumento de médio calibre não ocasiona mais feridas puntiformes. Como o


instrumento é de médio calibre e não possui gume afiado, as fibras elásticas da pele tendem a
se afastar, não conseguindo mais voltar ao normal, e por isso a ferida não ficará circular

28
conforme o formato do instrumento, mas sim em forma de elipse ou fenda. Assim, é

possível confundir esta ferida com uma ferida feita por punhal.

4.5.4 Lei de Langer - Poliformismo

As feridas produzidas por instrumentos perfurantes de médio calibre, quando produzidas


em uma região de entrecruzamento e superposição de fibras elásticas, mostram aspecto
estrelado, bizarro, anômalo e polimorfo. Veja a imagem abaixo:

19

4.5.5 Leis de Filhós – Semelhança e Paralelismo

Somente valem para instrumentos perfurantes de médio calibre, onde as feridas


produzidas por este são parecidas com as feridas produzidas por instrumento perfuro
cortante de dois gumes. São duas as leis de Filhós:

 1ª Lei do Paralelismo: Na mesma região, as lesões produzidas por instrumento


perfurante de médio calibre são paralelas entre si.

 2ª Lei da Semelhança: As lesões produzidas por instrumento perfurante de médio


calibre são semelhantes às produzidas por instrumento perfuro cortante de dois gumes.

20

19
GALVÃO, Malthus. Lei do Poliformismo. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020..
29
4.6 Lesões produzidas por instrumentos perfuro contundentes
– Feridas perfuro contusas

Nós já tratamos deste assunto em tópicos anteriores, mas não custa relembrar, até mesmo

para que a matéria fique tratada de maneira pontual e o assunto seja explorado de maneira
mais didática.

São lesões que ao mesmo tempo acarretam perfuração e contusão da pele, sendo

frequentemente classificadas como lesões patognomônicas ou com assinatura, que têm


como exemplos mais comuns e didáticos a mordedura (lesão caudada pela arcada dentária

humana) e a lesão de entrada dos projéteis de arma de fogo. Não obstante, temos outros
exemplos especiais de lesões causadas por agentes perfuro contundentes, conforme veremos

a seguir.

4.6.1 Lesões causadas por agente perfuro contundentes de haste

a) Encravamento:

Quando há a penetração do agente vulnerante perfuro contundente de haste em qualquer

pare do corpo humano. São exemplos desse tipo de lesão alguns acidentes com vergalhões
de construção que penetram no corpo dos operários.

21

20
GALVÃO, Malthus. Lei do Paralelismo. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
21
GALVÃO, Malthus. Encravamento. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
30
b) Empalamento

Ocorre quando há a penetração do agente perfuro contundente de haste no períneo, que


é uma região muscular situada ao redor do ânus. O empalamento, portanto, é um tipo

especial de encravamento caracterizado pela área de incisão do agente perfuro contundente


de haste.

22

4.7 Lesões e morte por projéteis de arma de fogo – Ação


perfuro contundente.

 Conceito de arma própria:

Arma é um instrumento (artefato fabricado pelo ser humano) destinado ao ataque e à

defesa da incolumidade pessoal, assim como bens próprios ou de terceiros. Portanto, a arma é
um instrumento produzido com a finalidade específica de atacar ou defender o ser humano,
ou os bens de seu interesse. Classificam-se em:

a) Arma de fogo;
b) Arma branca;
c) Outras armas;

22
EMPALAMENTO. Revista Galileu. Disponível em: www.revistagalileu.globo.com. Acesso em: 11/02/2020.
31
 Conceito de arma imprópria:

É um instrumento ou objeto que habitualmente não é utilizado para ataque ou defesa dos
bens próprios ou de terceiros, mas que porém, em determinadas situações, pode ser usada

com tal finalidade. (Ex.: Martelo, machado, foice, faca de cozinha, navalha, tesoura, chave de
fenda, espeto de churrasco, canivete, taco de beisebol, etc.).

4.7.1 Conceito e classificação das armas de fogo

 Conceito:

Arma de fogo: é uma arma própria, de uso permitido ou restrito no Brasil, constituída
por um conjunto de peças, cada uma com funções específicas e que se destina a disparar

projéteis através de um cano, devido à expansão dos gases provenientes da combustão de


uma carga de propelente, geralmente a pólvora.

Espingarda de mola ou de ar comprimido e o teaser não se caracterizam como arma de

fogo, pois para que assim seja considerada, é necessário que haja combustão de gases e

produção de fogo.

 Classificação das armas de fogo:


 Portáteis e não portáteis;
 Automáticas e semiautomáticas;
 De cano curto ou cano longo;
 Cano raiado e cano liso;
 Cartuchos de projéteis únicos e cartuchos de projéteis múltiplos;
 Com tambor - para manter cartuchos e estojos; e com janela de ejeção - para
eliminar cartuchos não deflagrados e os estojos, após os disparos;
 De baixa e de alta velocidade;

32
 De uso permitido e uso restrito;
 De tiro intermitente ou de rajada;

É mais fácil investigar crimes cometidos com projéteis de arma de fogo disparados com
pistolas do que com revólveres, pois a janela de ejeção da pistola, após a expulsão do projétil

pelo cano da arma, descarta o estojo para fora, de modo que este permanece no local dos
disparos, facilitando assim as investigações e a identificação da arma que produziu os

disparos.

Fuzis e rifles em geral disparam projéteis de alta velocidade – duas vezes maior do que
a velocidade do som (680m/s). Assim, toda e qualquer arma que dispare projéteis na
velocidade duas vezes maior que a velocidade do som são classificadas como armas de fogo

de alta velocidade e, por consequência, são de uso restrito.

Já as armas de fogo que disparem projéteis numa velocidade abaixo de 340m/s são
classificadas como armas de fogo de baixa velocidade, e são geralmente de uso permitido.

Por isso, as lesões causadas pelos projéteis de arma de alta velocidade PODEM ser maiores
do que as lesões causadas pelos projéteis de baixa velocidade, pois os de alta velocidade
possuem maior quantidade de energia.

4.7.2 Munição

A munição ou cartucho é o conjunto todo, composto por três elementos: o estojo, a


cápsula de espoletamento (ou espoleta) e o projétil. Dentro do estojo fica uma carga
propelente, geralmente pólvora, que vai passar por um processo de combustão e a expansão
dos gases dentro do estojo irá lançar o projétil para fora do cano da arma.

33
Essa combustão se dá com o acionamento da espoleta (cápsula de espoletamento), que

produz fogo a partir de uma mistura química sensível ao impacto/pressão. O impacto é dado
pelo percutor da arma de fogo, que ativa a mistura química chamada primer, soltando uma

faísca que, por sua vez, acarreta a combustão do propelente.

Portanto, a quantidade da carga propelente irá variar de acordo com o tipo de arma e da
distância que se queira atingir o alvo. Quanto mais longe esse alvo estiver, mais carga

propelente terá o estojo para fazer com que o projétil atinja a maior distância possível.

23

Existem ainda os chamados cartuchos de projéteis múltiplos. Esses cartuchos são


formados por um reservatório que contém no seu interior vários projéteis pequenos (balins),
que, após o disparo, se dispersam no ar, aumentando a chance de atingirem o alvo. Quanto

mais longe estiver o alvo, maior será a dispersão dos balins e, consequentemente, a distância
entre os ferimentos.

Ocorre que, como os balins são pequenos, o gás resultante da combustão do propelente

pode passar pelo espaço existente entre esses balins. Assim, o fabricante adiciona um material
entre o propelente e os balins (bucha pneumática), que impede a passagem da pólvora entre

os projéteis.

23
PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO. Balística Brasil, 2020. Disponível em: www.balisticabrasil.blogspot.com.. Acesso em:
11/02/2020.
34
Logo, a combustão ocorre antes desse material, fazendo com que os gases empurrem essa

“tela”, e esta, por sua vez, empurre os balins, fazendo com que estes saiam pelo cano da
arma.

24

No caso de disparos de armas de fogo de cartuchos de projéteis múltiplos, diferentemente

dos cartuchos de projéteis únicos, ao invés de um só ferimento de entrada irão ter vários
ferimentos de entradas de PAF, encontrando-se agrupados e muito próximos uns dos outros.
A concentração desses ferimentos múltiplos é denominada de rosa de tiro de Cevidalli.

Confira na imagem a seguir:

24
PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO – CARTUCHOS DE PROJÉTEIS MÚLTIPLOS. Balística Brasil, 2020. Disponível em:
www.balisticabrasil.blogspot.com.. Acesso em: 11/02/2020.
35
4.7.3 Projéteis transfixantes e penetrantes

I) Projéteis transfixantes:

São projéteis cuja ponta é afunilada e revestida com uma capa de metal mais dura,

possibilitando que o disparo transpasse o alvo ao atingi-lo. As lesões causadas por projéteis
transfixantes apresentam entrada, trajeto e saída.

II) Projéteis penetrantes:

São aqueles que somente atingem o alvo, penetrando-o, mas sem atravessá-lo. Entra e
não sai. É o caso do projétil hollowpoint, cuja ponta é feita de chumbo mais macio, o que

permite a deformação do projétil de modo que ele não atravesse o alvo e atinja pessoa
diversa da pretendida. As lesões causadas por eles somente apresentam entrada e trajeto.

Vejam nas imagens25 a seguir as características aqui descritas nos dois tipos de projéteis

de arma de fogo:

25ROSA DE TIRO DE CEVIDALLI. Abordagem Policial., 2020. Disponível em: www.abordagempolicial.com. Acesso em: 11/02/2020.

36
Na imagem à esquerda temos um projétil transfixante de arma de fogo, podendo ser
observadas as características descritas acima no seu conceito, tendo uma ponta mais fina e

sendo revestido com uma capa de chumbo mais resistente.

Ao lado, temos um projétil penetrante, mais conhecido como “hollowpoint”, cuja ponta é
mais larga e com uma cavidade no meio, sendo feito de um chumbo mais macio, que

permite a sua deformação após o tiro e ao atingir o alvo, fazendo com que ele se fixe
melhor nos tecidos, impedindo assim que ultrapasse o alvo pretendido.

 Coeficiente balístico:

No estudo da lesão, um fator importante é o coeficiente balístico do projétil de arma de


fogo em ação. É o coeficiente balístico que indica a potencialidade de penetração do

projétil. Quanto maior for o coeficiente balístico, mais o projétil penetra no alvo. Portanto
nos projéteis transfixantes, o coeficiente balístico é maior. Ao contrário, nos projéteis

penetrantes, o coeficiente balístico é menor.

Para se determinar o coeficiente balístico de um projétil, usa-se a seguinte fórmula


matemática:

𝐌𝐚𝐬𝐬𝐚
𝑪𝑩 =
𝐅𝐚𝐭𝐨𝐫 𝐝𝐞 𝐩𝐨𝐧𝐭𝐚²

Quanto maior o calibre e mais grossa a ponta, menos o projétil penetra; quanto mais
fina a ponta, maior o poder de transfixação. Assim, em regra, o projétil que tem a ponta

mais grossa penetra menos, mas transfere mais impacto para o alvo. O projétil que tem a
ponta mais grossa é chamado de semi-jaquetado e canto vivo.

37
Existe uma importância fundamental presente em grande parte das armas de fogo, que são

as raias presentes nos canos das armas. Ao se efetuar o disparo da arma de fogo, o projétil é
empurrado pelo cano da arma, que lhe dará a direção de sua trajetória.

Logo que é disparado e sai do cano da arma, o projétil encontra o ar como barreira, o que

faz com que ele comece a perder estabilidade. Em atenção a isso, os fabricantes de arma de
fogo produzem armas de cano caiado. Trata-se de um cano que, em seu interior, possui

saliências e reentrâncias em formato de espiral, que fazem com que o projétil, ao atravessar o
cano, faça rotações de 360 graus em torno de seu próprio eixo.

É esse movimento rotacional que faz com que o projétil atravesse as camadas de ar com

mais facilidade e, por consequência, adquira maior estabilidade durante sua trajetória,
atingindo com maior precisão o alvo.

26

A espingarda tem uma diferença quanto às demais armas, pois o seu cano é liso, não
tendo saliências ou reentrâncias para fazer o projétil girar (armas de cano raiado). Como é de

cano liso, a arma não terá muita precisão, sendo mais indicada para efetuar disparos à

26
RAIS DA ARMA DE FOGO. Balística Brasil, 2020. Disponível em: www.balisticabrasil.blogspot.com. Acesso em:
11/02/2020.
38
pequena distância. Por essa razão, grande parte das espingardas são de cartuchos de

projéteis múltiplos, para facilitar que atinjam o alvo ou os alvos pretendidos.

Cada caso tem suas próprias raias, que diferem de uma arma para outra. Ao passar pelo

cano da arma, o projétil fica marcado com o mesmo desenho das raias, marcas essas que são
chamadas de estrias. Logo, sendo localizado o projétil de arma de fogo disparado, seja no

local do crime ou no corpo da vítima, é possível para a polícia, uma vez apreendida a arma
suspeita de efetuar os disparos, determinar se aquele projétil encontrado foi disparado por

aquela arma.

Isso porque cada cano de arma possui raias únicas, que marcam os projéteis que são
deflagrados através de seu cano com aquelas características. Fazendo uma analogia, as raias

do cano funcionam como se fossem as impressões digitais de uma arma. Assim, é possível
para a polícia determinar, através de uma análise comparativa, se determinada arma foi ou
não utilizada para cometer determinado crime sob investigação.

Não obstante, esse método investigativo não oferece plena certeza de identificação da
arma. Isso porque o cano, como é uma peça integrante da arma, pode ser trocado. Isso
comumente acontece quando os suspeitos passam a saber que estão sendo investigados pela

prática de um crime, e por isso substituem o cano de sua arma por outro, dificultando o

processo de identificação da arma que produziu os disparos na cena do crime.

4.7.4 Classificação do tiro quanto à distância

Quando se trata de armas que possuem janela de ejeção, determinar a distância do

disparo torna-se mais fácil para os peritos. Isso porque ao ser efetuado o tiro, o projétil é
lançado pela boca da arma e os estojos da munição ficam no chão, nas proximidades do local
onde se encontrava o atirador. Assim, ao verificar a distância entre os estojos e o corpo da
39
vítima no local do crime, é possível aos peritos estabelecer, aproximadamente, a que distância

foram dados os tiros.

O mesmo não ocorre com os revólveres, pois os estojos ficam armazenados nas câmaras
do tambor da arma, desaparecendo junto com o atirador, o que dificulta mais o trabalho da

polícia.

Fora dessas hipóteses, também é possível saber, aproximadamente, a distância do disparo


pela análise dos efeitos secundários do tiro. Isso porque quando é deflagrado um tiro, não é

apenas o projétil de arma de fogo que sai do cano da arma, mas também outros elementos, a
saber: chamas de fogo; gases superaquecidos, resíduos de pólvora, fumaça e outras

partículas de metal presentes no cano da arma.

O conjunto de todos esses elementos caracteriza um fenômeno chamado de cone de


dispersão, presente em todo e qualquer disparo de arma de fogo. E aí, a depender da

distância a que foi dado o disparo de arma de fogo, a vítima também pode ser atingida por
esses elementos que saem da boca da arma, sendo possível ao perito determinar com relativa

precisão a que distância foi dado o disparo. Vejam na representação abaixo:

27

27
CONE DE DISPERSÃO. Studocu, 2020. Disponível em: www.studocu.com. Acesso em: 11/02/2020.
40
Assim, o disparo ocasiona: propulsão do projétil, saída de chamas, pólvora queimada

(fumaça) e pólvora não queimada (resíduos). O conjunto disso tudo é o cone de dispersão.

No nível 1 existe a chama causada pela explosão; no nível 2 existe a fumaça; no nível 3
existem as partículas da pólvora; no nível 4 existem as partículas de metal, e após todo esse

processo, tem-se somente o projétil.

O contato de cada um desses elementos com a pele da vítima irá ocasionar um sinal
diferente, chamado de orlas, halos ou zonas, que serão detalhadamente estudados nos

tópicos seguintes.

Logo, o tiro pode ser classificado quanto à distância em:

I) Tiro a distância: o alvo encontra-se fora do alcance do cone de dispersão, hipótese


em que não há como se determinar a distância que o disparo foi efetuado.

II) Tiro a curta distância: o alvo encontra-se dentro do alcance do cone de dispersão,
podendo a perícia determinar, com aproximação, por meio do exame de balística, a
distância a que foi efetuado o disparo de acordo com o tipo de arma que o
produziu.

III) Tiro à queima-roupa: quando a vítima encontra-se dentro do cone de dispersão a


uma distância da arma em que chega a ser atingida pelas chamas provenientes do
disparo da arma.

IV) Tiro encostado: quando o disparo é efetuado com a boca do cano da arma
encostado no corpo da vítima, restando evidenciado no seu corpo algumas marcas e
sinais característicos dessa distância, quando presentes alguns efeitos secundários 28.

A grosso modo, se a vítima foi atingida só pelo projétil, o tiro foi deflagrado à
distância, sendo esta qualquer distância maior do que o alcance do cone de dispersão.

Nesses casos, é impossível para a perícia determinar com exatidão a distância do disparo.
Somente quando o alvo está dentro do cone de dispersão (tiro a curta distância ou à

28
Vide questão 8 deste material.
41
queima roupa, a depender do caso), é que é possível indicar o alcance do disparo e a

localização aproximada da vítima nesse momento.

 Estudo residuográfico nas mãos:

Assim como a mancha de pólvora pode sujar o corpo da vítima, também pode sujar as

mãos do atirador. Esses resíduos são identificados a partir do exame de microscopia


eletrônica de varredura ou residuografia – exame de precisão para identificar os resíduos

deixados e o percentual de cada um deles nas mãos do atirador, levando o perito a concluir
que se trata realmente de um disparo de arma de fogo.

Muitas vezes a própria vítima possui resíduos nas mãos, mas porque tentou se defender

dos disparos segurando o cano da arma. Assim, a localização dos resíduos de pólvora é
diferente na vítima e no atirador, viabilizando assim necessária a exata verificação do local dos

resíduos deixados nas mãos de modo a permitir a determinação aproximada da distância de


efetuação dos disparos.

4.7.5 Estudo das lesões produzidas por disparo de arma de fogo

 Ferida de entrada

Conforme estudado no tópico anterior, quando se mencionar que o disparo foi efetuado a
distância, significa dizer que o alvo está fora do alcance do cone de dispersão. Nesta

modalidade de tiro, apenas o projétil atinge o corpo da vítima, sendo evidenciados apenas os
efeitos primários do projétil de arma de fogo. Nessa hipótese, a lesão terá como

características:

a) Diâmetro menor que o projétil;


b) Forma arredondada ou elíptica;
c) Orla de escoriação, enxugo e equimose;
d) Bordas viradas para dentro;

A seguir, estudaremos detalhadamente cada um dos aspectos do ferimento de entrada de


arma de fogo.

42
 Zonas, halos ou orlas – lesões de entrada sem anteparo ósseo:

Quando o projétil vai entrar na pele, por ela ser elástica, acaba por fazer uma bainha para
dentro, como forma de resistência à entrada do projétil, que recebe o nome de invaginação.

No entanto, como o projétil atinge a pele com uma energia muito grande, a pele não
consegue barrar a sua entrada, ocasionando em um buraco, voltando a pele a sua posição

normal. Por isso, o ferimento de entrada do projétil normalmente é menor que o calibre do
projétil. Verifique na imagem29 abaixo um esboço da ação de entrada do PAF:

Trajeto x Trajetória

O caminho do projétil, após ser deflagrado, até entrar no corpo da vítima se chama

trajetória. Ao entrar no corpo da vítima, o caminho que o projétil percorre dentro do


organismo é chamado de trajeto. Portanto, após o disparo, da boca da arma até o alvo,

denomina-se trajetória (sendo analisada pelo perito criminal); ao entrar no corpo, o caminho

que o projétil percorre chama-se trajeto (sendo analisado pelo perito legista).

29
GALVÃO, Malthus. Entrada de PAF. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
43
1) Orla de enxugo ou alimpadura:

É uma lesão de entrada de projétil de arma de fogo. Antes de entrar no corpo da vítima, o
projétil encontra-se sujo, seja por pólvora, partículas de metal ou até mesmo poeira do ar. No

momento em que o projétil atinge a vítima, a lesão de entrada forma uma escoriação,
trazendo a sujeira do projétil para a derme da vítima (orla de enxugo). Logo, o enxugo é a

sujeira do projétil que fica impregnada na pele da vítima.

A presença da orla de enxugo na pele da vítima garante que aquela é uma lesão de
entrada de projétil de arma de fogo, sendo uma lesão patognomônica denominada sinal de

Chavigny.

Nem toda lesão de entrada de PAF terá a orla de enxugo. Pode ocorrer de um mesmo

projétil entrar duas vezes no corpo da vítima, na hipótese de um PAF transfixante atravessar o
braço e entrar no tórax, por exemplo. Nesse caso, haverá duas lesões de entrada, sendo que

a primeira apresentará a orla de enxugo, mas a segunda não! Por isso é preciso ter cuidado
com as assertivas de prova, pois todo ferimento que apresentar orla de enxugo garante que é
uma lesão de entrada de PAF, mas nem toda lesão de entrada de PAF apresentará

obrigatoriamente a orla de enxugo ou alimpadura.

Quando se arranca a epiderme e expõe a derme, teremos uma escoriação. Logo, como o
PAF penetrou na pele, em volta da orla de enxugo, haverá uma escoriação (orla de

escoriação). E em volta dessa escoriação, haverá uma área de equimose (orla de equimose).
Portanto, na lesão de entrada de PAF haverá três contornos:

 O enxugo por dentro da ferida (orla de enxugo ou alimpadura);


 A orla de escoriação no meio (orla de escoriação);
 E a orla de equimose por fora (orla de equimose);

44
A escoriação por fora e o enxugo por dentro formam o Anel de Fisch. Vejam a seguir

na imagem30 abaixo:

Quando da observação do anel de Fisch, nem sempre a escoriação formada pela entrada

do PAF será uniforme, podendo ser maior em determinadas áreas do que outras
(escoriação excêntrica ou em meia lua). Logo, quando, na lesão de entrada de PAF, houver

uma área de escoriação maior do que o restante do contorno do ferimento, isso indicará a
direção de onde veio o projétil. Assim, a “pedra do anel de Fisch” é a escoriação, em que a
maior área dessa escoriação indica a direção de incidência do projétil.

Se, ao contrário, a escoriação for totalmente uniforme (concêntrica), não havendo áreas
maiores do que outras, há de se concluir que o tiro foi frontal (o corpo da vítima com o cano

da arma fazem um ângulo de 90º. Veja na imagem abaixo a área mais escura da entrada do

PAF, indicando que o tiro incidiu na diagonal da direita para a esquerda e de cima para baixo:

30
GALVÃO, Malthus. Anel de Fisch. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
45
O perito, quando descreve a incidência do projétil de arma de fogo, faz o detalhamento

com o cadáver deitado na mesa de autópsias. Logo, não é possível determinar a direção do
agressor quando da efetuação do disparo. Uma coisa é a posição do tiro com o cadáver na

mesa de autópsias; outra coisa é a posição da vítima e do agressor no momento da ação.

2) Orla de escoriação ou contusão:

Toda lesão de entrada de PAF apresenta uma zona (orla) de escoriação e de contusão,
caracterizando o anel de Fisch, como explicado anteriormente. A pele oferece resistência à

entrada do PAF, mas acaba cedendo e formando um ferimento arredondado, de menor


diâmetro que o calibre do projétil.

Como o PAF atravessa a pele, arrancando parte da epiderme e expondo a derme, forma a

escoriação (orla de escoriação). Além disso, como o projétil imprime uma ação contundente
(agre por pressão), ao redor dessa orla de escoriação forma-se uma zona de contusão, que é

uma equimose ao redor da ferida de entrada. Na imagem31 abaixo é possível visualizar uma
equimose no canto superior esquerdo do buraco de entrada:

31
GALVÃO, Malthus. Orla de Contusão. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
46
3) Orla de chamuscamento:

Trata-se de um efeito secundário do disparo de arma de fogo. Caracteriza-se por ser uma

queimadura que ocorre quando a chama do cano de dispersão do disparo atinge a pele da
vítima. Quando está presente a orla de chamuscamento, o tiro é classificado como tiro à
queima roupa. Só é tiro à queima roupa se houver chamuscamento; se não, será tiro à

curta distância.

Na imagem abaixo é possível ver uma área negra ao redor do ferimento de entrada do
PAF, sendo este o aspecto desse efeito secundário do tiro:

32

4) Orla de esfumaçamento ou tisnado:

É a superfície da pele da vítima atingida pela fumaça do disparo, como parte do cone de

dispersão. Quando presente este sinal, o tiro é classificado como tiro a curta distância. A
fumaça que atinge a pele é resultado da combustão da pólvora, sendo disseminada pelos

gases superaquecidos.

Percebam na imagem33 a baixo uma zona negra e irregular ao redor do ferimento de


entrada do PAF:

32
GALVÃO, Malthus. Orla de Chamuscamento. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
47
5) Orla de tatuagem:

São as lesões causadas pelos resíduos de metal na epiderme da vítima ou de pólvora


não queimada que saem da boca da arma junto com o projétil. São pequenas feridas que
ficam em volta do ferimento de entrada do PAF. Tem maior alcance que a fumaça.

34

33
GALVÃO, Malthus. Orla de Esfumaçamento. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
34
GALVÃO, Malthus. Zona de Tatuagem. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
48
Apenas o chamuscamento, o esfumaçamento e a tatuagem estarão presentes sempre
que o tiro for efetuado a curta distância (queima roupa). Já as demais estarão presentes em

qualquer tipo de disparo.

4.7.6 Lesões de entrada com anteparo ósseo

Ocorrem nas hipóteses de tiro encostado., ou seja, quando o disparo for efetuado com a
boca da arma encostada na pele. Os resíduos acompanham o projétil, mas sem formar
aquela zona em volta do ferimento. Nesse caso, os resíduos entram junto com o projétil.

 Sinal de Hoffman, Boca de mina de Hoffman ou Câmara de mina de Hoffman:

Se no local em que for efetuado o tiro encostado tiver osso, o projétil passa, mas os
gases batem no osso e voltam, estufando a pele. De acordo com a quantidade de gás, a

pele poderá rasgar muito, pouco ou não rasga. Esse ferimento é chamado de boca ou câmara
de mina de Hoffman. Confira nas imagens abaixo a dinâmica da ação dos gases do disparo e

o aspecto da lesão:

35

35
GALVÃO, Malthus. Tiro Encostado. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
49
36

O buraco que é produzido se dá em razão não do projétil, mas sim dos gases
provenientes do disparo.

 Evidências no osso:
a) Sinal de Benassi:

A região óssea atingida pelo disparo fica suja de pólvora, (sinal de Benassi),

permanecendo assim mesmo quando o cadáver estiver totalmente esqueletizado, quando já


desaparecido o ferimento de boca de mina. Mesmo nessas circunstâncias, é possível concluir

que o disparo foi dado com cano encostado.

Na imagem acima é possível perceber que, para além da cratera feita na pele, existe uma
região óssea em torno do buraco de entrada que está negra, devido ao contato da pólvora

com o osso.

O sinal de Benassi e a câmara de mina de Hoffman estão sempre presentes nos casos
de tiro encostado com anteparo ósseo por baixo.

36
GALVÃO, Malthus. Boca de Mina de Hoffman. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
50
37

b) Tronco de cone de Bonnet ou Funil de Ponsold

Indica a entrada ou saída de projétil de arma de fogo no osso do crânio. A estrutura

óssea do crânio é formada por duas camadas de osso sobrepostas, que são as chamadas
tábuas internas e tábuas externas. Quando ocorre ferimento de entrada de PAF no osso do

crânio, forma-se um buraco duplo nos ossos cranianos, sendo um buraco de menor diâmetro
no primeiro plano ósseo, e outro de maior diâmetro no segundo plano ósseo, como se fosse
a estrutura de um “tronco de cone”, formadas em bisel (corte inclinado).

Quando o projétil entra no crânio, ele faz uma lesão no osso com a base (buraco maior)
virada para dentro do crânio. Quando ele sai, faz a mesma lesão, mas com a base voltada
para fora do crânio, permitindo assim ao legista identificar o buraco de entrada e o de saída

do projétil. Analisem as imagens abaixo:

37
GALVÃO, Malthus. Sinal de Benassi. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em 11/02/2020.
51
38

Percebam, na imagem acima, que o buraco é afunilado, tendo seu diâmetro maior na parte
mais superficial do osso, e seu diâmetro menor na parte interna, indicando os locais de

entrada e saída do PAF. Assim, mesmo que esqueletizado é possível verificar no cadáver os
locais de entrada e saída do projétil de arma de fogo.

4.7.7 Lesões de entrada sem anteparo ósseo

Quando há casos de tiro encostado em regiões do corpo que não possuem anteparo

ósseo, a pele fica gravada com o decalque da boca do cano da arma. A essa lesão dá-se o
nome de sinal de Puppe-Werkgaertner. Os gases entram na pele, e, como não há anteparo

ósseo, empurram a pele contra a boca da arma, caracterizando uma lesão termomecânica,

38
GALVÃO, Malthus. Tronco de Cone de Bonnet. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
52
causada pelo calor e pela pressão exercida pelo cano da arma, funcionando como se fosse um

“carimbo”. Confira na imagem abaixo:

39

Se o atirador puser um anteparo entre o cano da arma e o local do disparo na vítima, ele
está impedindo que os resíduos (cone de dispersão) cheguem à pele, só chegando o

projétil, ocasionando a escoriação e o enxugo. Assim, pode induzir o perito a concluir que se
trata de um tiro à longa distância, mesmo tendo sido deflagrado à curta distância.

Assim como o anteparo pode reter os resíduos do disparo, também poderá criar novos
resíduos diferentes dos resíduos do disparo. Poderá confundir o perito, levando-o a concluir
que foi um tiro de longa distância. Dessa forma, não é possível afirmar que todo e qualquer

resíduo encontrado em volta do ferimento de entrada do PAF foi causado pelo disparo.

39
GALVÃO, Malthus. Sinal de Puppe-Werkgaertner. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso
em 11/02/2020.
53
 Sinal de Bonnet para tiro em vísceras (órgãos):

Esse sinal caracteriza-se por ser uma auréola equimótica ao redor do ferimento de
entrada do PAF nos órgãos.

40

4.8 Lesões de saída causadas por projéteis de arma de fogo

4.8.1 Com projétil único.

Em geral, tem forma irregular, bordas reviradas para fora, maior sangramento e não

apresenta orla de escoriação nem de enxugo, nem mesmo a presença dos elementos químicos
resultantes da combustão da pólvora.

41

40
GALVÃO, Malthus. Sinal de Bonnet nas Vísceras. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
54
4.8.2 Com projéteis múltiplos/desfragmentado

Nessa hipótese, pode haver variação em relação a ter percutido ou não em anteparos

ósseos, causando a desfragmentação do projétil e, por via de consequência, haver


eventualmente múltiplos ferimentos de saída. Confira na imagem abaixo:

42

4.9 Lesões causadas por projéteis de arma de fogo de alta


energia

Como dito no tópico referente à classificação das armas de fogo, são considerados

projéteis de alta energia aqueles que são disparados numa velocidade duas vezes superior à
velocidade do som (680m/s).

As principais diferenças entre as lesões dos projéteis de arma de fogo de alta energia são:

a) O fenômeno da cavitação;
b) Lesões de entrada e de saída;

41
LESÃO DE SAÍDA DE PAF. Perícia Criminal Alagoana, 2020. Disponível em:
www.periciacriminalalagoana.blogspot.com. Acesso em: 11/02/2020.
42
GALVÃO, Malthus. Lesão de Saída de PAF. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
55
Em relação às lesões de entrada de PAF de alta energia, não há muitas diferenças entre os

aspectos abordados em relação às lesões de entrada dos projéteis comuns, pelo que
detalharemos mais a explicação nos pontos de maior divergência.

O fenômeno da cavitação também existe nos projéteis comuns, mas que, no entanto, são

percebidos de maneira mais sutil. No que se refere aos projéteis de alta energia, as lesões,
principalmente as de saída, tem danos mais expressivos, justamente por conta da cavitação,
que, em alguns casos, sua amplitude máxima pode coincidir com o ferimento de saída,

fazendo com que essa lesão seja bem maior que o ferimento de entrada.

Em relação à anatomia e dinâmica dos projéteis em si, a principal diferença entre os PAF’s
de alta energia e os comuns, além do calibre e do fator de ponta, está na energia cinética que

podem transmitir para o organismo.

A energia cinética é calculada pela seguinte fórmula:

𝐌. 𝐕²
𝑬𝑪 =
𝟐

Assim é que o fator da velocidade influi demasiadamente na quantidade de energia que o


PAF de alta energia pode transmitir. E quanto mais energia ele transfere ao organismo, maior

o dano que ele consegue causar. Dentro da dinâmica dos projéteis de alta energia, o ponto
mais importante e diferencial está no fenômeno da cavitação.

4.9.1 A cavitação

Esse fenômeno pode se dar de duas formas: temporária ou permanente. Quando há essa

transferência de energia do projétil para os tecidos humanos dentro do corpo (trajeto), ocorre
o deslocamento centrífugo desses tecidos (um afastamento interno dos tecidos por onde
passa o projétil). Quanto maior for a troca de energia entre o projétil e os tecidos, maior será
a cavidade, e, consequentemente, maiores as lesões.
56
O início da lesão é chamado de “colo”. À medida que o projétil transmite sua energia para

os tecidos, há uma tendência de que ele perca a sua estabilidade, fazendo com que gire ao
redor do seu próprio eixo, de forma simétrica ou não, expondo às vezes a sua maior face no

ferimento de saída (o que causa uma lesão muito maior do que se ele saísse de ponta).

Isso gera um maior atrito e retenção da energia cinética nos tecidos, razão pela qual, nesta
parte do trajeto, haja maior amplitude das cavidades temporárias e permanentes. Quanto

maior for a resistência dos tecidos, maior será a capacidade de transferência de energia,
acarretando a desaceleração do projétil. Nessa hipótese, há grande probabilidade de que a

lesão de saída não seja tão grande quanto seria se os tecidos terminassem no ponto de
amplitude máxima da cavidade. Veja na ilustração abaixo:

43

Os autores afirmam que a infiltração hemorrágica dos tecidos adjacentes ao trajeto do PAF

é o sinal mais importante para a percepção da cavidade temporária.

4.9.2 Lesões de saída de PAF de alta energia

a) Lesões de saída sem fragmentação ou deformação do projétil:

Nesse tipo de lesão, a tendência é a de que o PAF transfixe o segmento do corpo

atingido. Se os projéteis conservassem a sua estabilidade durante o trajeto, os ferimentos de


saída seriam um pouco menores até do que os ferimentos de entrada, o que, como sabemos,

não ocorre.

43
GALVÃO, Malthus. Cavitação de PAF de Alta Energia. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br.
Acesso em 11/02/2020.
57
Conforme observamos no estudo da cavitação, o tamanho do trajeto, a velocidade e a

estabilidade do projétil é que vão determinar o tamanho do ferimento de saída. Como o


projétil sofre movimentos de rotação em torno de seu próprio eixo, pode ocorrer que ele

encontre o ponto de saída no momento em que exponha sua maior face (o projétil se
encontre “em pé”), fazendo com que o ferimento de saída seja consideravelmente maior que o

de entrada. Veja as imagens abaixo:

b) Lesões de saída com desfragmentação ou deformação do projétil

Nos casos de desfragmentação, seja pelo próprio projétil, seja por ter se chocado contra

um osso, pode haver mais de um fragmento tendente a sair, o que, consequentemente, gerará
mais de uma lesão de saída.

A lesão de saída pode ser maior ou menor que a de entrada. Se a lesão de saída coincidir

com o maior ponto de amplitude da cavidade temporária, será imensa. Se ficar além do plano
da cavitação, e houver a saída de apenas uma parte do projétil, produzirá uma lesão inferior à

da entrada.

58
44

4.10 Lesões e mortes causadas pela ação de explosivos -


Blast Injury

4.10.1 Conceito

O blast provém do idioma inglês, que quer dizer “sopro”. Quando ocorre uma explosão, a
força expansiva dos gases promove uma onda de pressão que resulta no arrastamento de

partículas de metal que compõem o artefato explosivo para diversos lugares distintos, sempre
do centro para fora, em razão da força centrífuga. Assim, cada estilhaço do artefato, como,
por exemplo, uma granada, vira um projétil de arma de fogo. Assim, a depender da distância

em que se encontre da explosão, as lesões serão distintas e classificadas de acordo com a


ordem/tipo de blast, podendo ser:

4.10.2 Blast primário

Atinge as pessoas que se encontram mais próximas do foco da explosão, pelo que a morte
resulta de elevadas temperaturas e uma pressão muito grande. Normalmente o corpo é
dilacerado, destruído completamente, podendo ser encontrados pedaços da vítima a distâncias

variadas, como a 10, 20, 30 ou 50 metros, por exemplo.

44
GALVÃO, Malthus. Lesão de Saída de PAF de Alta Energia. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br.
Acesso em 11/02/2020.
59
A força expansiva dos gases é tão forte que arremessa os destroços da vítima por dezenas

de metros, e como há uma temperatura muito alta, devido à uma reação exotérmica, os
pedaços normalmente estão queimados, carbonizados.

4.10.3 Blast secundário

Atinge pessoas que estão um pouco mais distantes do foco da explosão, sendo as vítimas

atingidas por fragmentos do explosivo ou de outras partículas sólidas que estão no centro
da explosão, como pedaços de madeira, de ferro, de vidro que são espalhados com a

expansão dos gases.

4.10.4 Blast terciário

Atinge pessoas que estão fora do alcance das partículas espalhadas pela explosão, mas que
afeta as vítimas pela onda de pressão oriunda da explosão. Assim, ainda que fora do alcance

dos objetos e fragmentos espalhados pela força da explosão, as pessoas são atingidas pela
onda de pressão, podendo sofrer lesões por ação contundente, devido à força expansiva dos

gases jogá-las no chão, contra a parede, etc.

4.10.5 Blast quaternário

Pode ocorrer que nem todas as pessoas morram pela ação direta da explosão, vindo a
serem socorridas ao hospital. Se lá as vítimas do evento vierem a falecer em razão das lesões

e traumas sofridos com a explosão, aí estará caracterizado o blast quaternário. Portanto, o


blast quaternário é a morte de pessoas em razão das lesões e consequências da explosão.

O blast pode se propagar em qualquer meio, sendo no ar, na água ou na terra, recebendo

assim os nomes de blast aéreo, blast aquático ou blast terrestre.

60
QUADRO SINÓTICO

São instrumentos capazes de transferir

energia mecânica e causar lesão. Dependem


de movimento, seja do agente, da vítima ou

de ambos simultaneamente (ação ativa,


passiva e mista). Dividem-se em:
AGENTES VULNERANTES FÍSICOS
 Contundentes;
MECÂNICOS
 Cortantes;
 Perfurantes;

 Mistos - perfuro contundente, perfuro


cortante e corto contundente;

● São os que, agindo por um gume afiado, por pressão e


Instrumentos
deslizamento, linear ou obliquamente sobre a pele e os
Cortantes órgãos, produzem soluções de continuidade chamadas
feridas incisas
É todo agente mecânico, líquido, gasoso ou sólido, rombo, que,

atuando violentamente por pressão, explosão, flexão, torção,


Instrumentos
sucção, percussão, distensão, compressão, descompressão,
contundentes arrastamento, deslizamento, contragolpe ou de forma mista,
traumatiza o organismo.

Instrumentos que, agindo sobre a pele, músculos, tendões,


Instrumentos órgãos ou esqueletos, por pressão, percussão de

corto deslizamento, mais pelo próprio peso e intensidade de manejo

do que pelo gume de que são dotados, produzem lesões


contundentes
chamadas feridas cortocontusas.

61
Instrumentos puntiformes, finos, cilíndricos ou cilindrocônicos,

com o comprimento predominando sobre a largura e a

Instrumentos espessura, como alfinetes, agulhas e estoque. Agem

simultaneamente por percussão ou pressão por um ponto,


perfurantes
afastando as fibras sem seccioná-las.

São os instrumentos puntiformes, com o comprimento

predominando sobre a largura e a espessura, dotados de


Instrumentos
gume ou corte. O contato desses instrumentos é feito por um
perfuro cortantes ponto que atua simultaneamente por percussão ou pressão,
afastando as fibras e, por corte, seccionando-as.

São instrumentos que, por sua peculiar ação sobre o alvo,


Instrumentos concomitantemente perfurando e contundindo, denominam-

perfuro se instrumentos traumáticos perfuro contundentes. O melhor

exemplo desses instrumentos, são os projéteis de armas de


contundentes
fogo, embora a ponteira de guarda-chuva produza lesão similar.

Incisão significa corte, razão pela qual as feridas incisas são

lesões comumente causadas por armas brancas, que possuem


como característica marcante as soluções de continuidade da

pele, sendo assim classificadas como tipos de lesões abertas.


Lesões por ação
São produzidas por qualquer agente vulnerante que possua
de instrumento gume afiado. São mais extensas do que profundas (“lesões

cortante – Feridas em arco de violino”).

incisas Características:

 Regularidade das bordas e do fundo da lesão;

 Ausência de vestígios traumáticos;


 Hemorragia abundante (vasos seccionados);

62
Sinais de Romanese, Lacassagne e Gilvaz:

Referem-se à incidência do golpe na ferida, tendo como

característica diferencial uma escoriação na pele ao final do


golpe, conhecido como cauda de escoriação ou cauda de rato.

a) Lesões de defesa: localizadas em áreas normalmente


utilizadas para defesa pessoa, tais como região palmar
e borda ulnar do antebraço.

Lesões de defesa
b) Lesões de hesitação: localizadas em áreas que,
e lesões de normalmente, são utilizadas para suicídio, podendo ser

hesitação múltiplas, e normalmente não mortais. Podem ser


produzidas pelos diversos agentes vulnerantes
eventualmente utilizados para suicídio.
Recebem o nome de esgorjamento e degolamento.

 Esgorjamento: consiste em um corte na região anterior


(da frente) do pescoço, mais especificamente onde se
Lesões por ação localiza a garganta.

cortante no
 Degolamento: corte na região posterior do pescoço,
pescoço
onde fica a “gola” da camisa, tendo por esta razão esse
nome

São acarretadas por pressão do instrumento contra o corpo da


vítima. Essa pressão é fruto da energia cinética (energia em
movimento) como forma de energia mecânica, transferindo-se
para o organismo, ocasionando traumas e lesões. Podem ser
Lesões por ação
causadas por tração, torção, compressão ou sucção,
de instrumentos acarretando dois tipos de lesões:
a) Lesão fechada;
contundentes –
b) Lesão aberta;
Ferida contusa
I) Rubefação - lesões que acarretam uma vermelhidão
na pele. Normalmente são causadas por agente
63
contundente, ou até mesmo agentes térmicos ou
químicos que ocasionem queimadura de primeiro
grau. Há a dilatação dos vasos, mas não há
extravasamento de sangue.

II) Equimoses - resultam do extravasamento de


sangue, ocasionando a sua visibilidade através da pele
ou qualquer outra camada de tecido. São tipos
especiais de equimoses:
 Petéquias ou manchas de Tardieu;
 Máscara equimótica de Morestin;
 Víbices duplas, paralelas ou quase paralelas;
 Sinal do zorro ou do guaxinim;
 Manchas de Paltaulf

III) Bossas - há o extravasamento de sangue, este fica


coletado embaixo de uma membrana e em cima de
um plano ósseo. Forma uma saliência na pele.

IV) Escoriação - retirar o revestimento, sendo, portanto,


uma lesão que arranca a epiderme, atingindo a
derme, mas não a ultrapassando. As escoriações,
portanto, são tipos de lesões abertas. Não atinge os
planos mais profundos. É uma arranhadura ou
esfoladura.

Ferida contusa: Lesão que ultrapassa a derme, atingindo os


planos mais profundos, se consolidando por cicatrização. O
agente contundente rasga a pele, de modo que a ferida
contusa tem bordas, paredes e fundo irregulares, ainda
havendo pedaços de tecido que ligam as extremidades da
ferida.

Fraturas: solução de continuidade de um osso, podendo ser


completa ou incompleta, com ou sem desvio, simples,

64
múltipla e cominutiva, fechada ou exposta, em galho verde,

em mapa mundi ou patológica. Pode ocorrer em razão da


compressão de um osso, por tração, rotação ou torção ou

por uma flexão. Por ocorrer, ainda, pela ação de duas forças
opostas agindo no mesmo ponto, caracterizando o que se

chama de cisalhamento.

Lesões causadas Os instrumentos ou agentes corto contundentes são aqueles


que possuem a capacidade de, ao mesmo tempo, cortar e
por instrumentos contundir, causando as lesões corto contusas. O resultado da
ação se dá pela considerável massa que possui o agente
corto
vulnerante. Acarretam mutilações, das quais são espécies a
contundentes decapitação, espostejamento e esquartejamento.

Os instrumentos perfurantes atuam afastando os tecidos e,


muito raramente, seccionando-os. As lesões apresentam as
seguintes características: Abertura estreita, Raro sangramento
e São quase sempre de menor diâmetro que o agente
vulnerante que a produziu.

Feridas perfuro incisas: produzidas por agentes perfuro


Lesões produzidas cortantes que possuem um ou mais gumes. A ação pode ser
feita por pressão perpendicular ou oblíqua, o que modificará a
por agentes forma final da lesão. São lesões mais profundas do que

perfurantes e extensas, apresentando forma de fenda, com um ou mais


ângulos agudos, indicando número de gumes do instrumento.
perfuro cortantes
Feridas puntiformes ou punctórias: Estão representadas por

um ponto, no local da aplicação da ponta do agente vulnerante.


Normalmente situadas na projeção dos trajetos venosos
subcutâneos superficiais, ou na área precordial ou demais

acessos para introdução de medicamentos ou drogas.

Atenção para as lesões causadas por instrumentos perfurantes

65
de médio calibre:

 Leis de Filós – Semelhança (1ª Lei) e


Paralelismo (2ª Lei);
 Lei de Langer – Poliformismo;

São lesões que ao mesmo tempo acarretam perfuração e


contusão da pele, sendo frequentemente classificadas como
Lesões produzidas
lesões patognomônicas ou com assinatura. Têm como
por instrumentos exemplos mais comuns e didáticos a mordedura (lesão caudada
pela arcada dentária humana) e a lesão de entrada dos
perfuro
projéteis de arma de fogo.
contundentes  Lesões causadas por instrumento perfuro
contundente de haste – encravamento e
empalamento.
Arma de fogo: é uma arma própria, de uso permitido ou
restrito no Brasil, constituída por um conjunto de peças, cada

uma com funções específicas e que se destina a disparar


projéteis através de um cano, devido à expansão dos gases

provenientes da combustão de uma carga de propelente,


geralmente a pólvora.

Classificação do tiro quanto à distância:


Lesões e mortes
V) Tiro a distância: o alvo encontra-se fora do alcance
por projéteis de
do cone de dispersão, hipótese em que não há como
arma de fogo se determinar a distância que o disparo foi efetuado.
VI) Tiro a curta distância: o alvo encontra-se dentro do
alcance do cone de dispersão, podendo a perícia
determinar, com aproximação, por meio do exame de
balística, a distância a que foi efetuado o disparo de
acordo com o tipo de arma que o produziu.
VII) Tiro à queima-roupa: quando a vítima encontra-se
dentro do cone de dispersão a uma distância da arma
em que chega a ser atingida pelas chamas

66
provenientes do disparo da arma.
VIII) Tiro encostado: quando o disparo é efetuado com a
boca do cano da arma encostado no corpo da vítima,
restando evidenciado no seu corpo algumas marcas e
sinais característicos dessa distância, quando presentes
alguns efeitos secundários.

Efeitos secundários do tiro: quando é deflagrado um tiro, não

é apenas o projétil de arma de fogo que sai do cano da arma,


mas também outros elementos, a saber: chamas de fogo; gases
superaquecidos, resíduos de pólvora, fumaça e outras

partículas de metal presentes no cano da arma.

O conjunto de todos esses elementos caracteriza um fenômeno


chamado de cone de dispersão, presente em todo e qualquer

disparo de arma de fogo.

Lesões por projéteis de arma de fogo:

a) Ferida de entrada: Diâmetro menor que o projétil,

Forma arredondada ou elíptica, Orla de escoriação,


enxugo e equimose, Bordas viradas para dentro.
 Zonas, halos ou orlas:

 Enxugo/alimpadura: No momento em que


o projétil atinge a vítima, a lesão de entrada

forma uma escoriação, trazendo a sujeira


do projétil para a derme da vítima (orla de

enxugo). Logo, o enxugo é a sujeira do


projétil que fica impregnada na pele da

vítima.
 Escoriação/contusão: Como o PAF atravessa
a pele, arrancando parte da epiderme e
expondo a derme, forma a escoriação (orla
de escoriação). Além disso, como o projétil
67
imprime uma ação contundente (agre por

pressão), ao redor dessa orla de escoriação


forma-se uma zona de contusão.

 Chamuscamento: Caracteriza-se por ser uma


queimadura que ocorre quando a chama do

cano de dispersão do disparo atinge a pele


da vítima. Quando está presente a orla de
chamuscamento, o tiro é classificado como

tiro à queima roupa. Só é tiro à queima


roupa se houver chamuscamento; se não,

será tiro à curta distância.


 Esfumaçamento/tisnado: É a superfície da
pele da vítima atingida pela fumaça do
disparo, como parte do cone de dispersão.

Quando presente este sinal, o tiro é


classificado como tiro a curta distância.
 Tatuagem: São as lesões causadas pelos

resíduos de metal na epiderme da vítima


ou de pólvora não queimada que saem da

boca da arma junto com o projétil.

Lesões de entrada com anteparo ósseo: Ocorrem nas


hipóteses de tiro encostado., ou seja, quando o disparo for
efetuado com a boca da arma encostada na pele. Os resíduos
acompanham o projétil, mas sem formar aquela zona em volta

do ferimento. Nesse caso, os resíduos entram junto com o


projétil.

 Boca de mina de Hoffman: o projétil passa,

mas os gases batem no osso e voltam,


estufando a pele, fazendo um tipo de cratera.

68
 Sinal de Benassi: a região óssea atingida pelo

disparo fica suja de pólvora

 Tronco de conde de Bonnet: indica a entrada

ou saída de projétil de arma de fogo no osso


do crânio.

Lesões de entrada sem anteparo ósseo: Quando há casos de

tiro encostado em regiões do corpo que não possuem anteparo


ósseo, a pele fica gravada com o decalque da boca do cano da

arma. A essa lesão dá-se o nome de sinal de Puppe-


Werkgaertner (lesão termomecânica).

Lesões de saída de PAF: em geral, tem forma irregular, bordas

reviradas para fora, maior sangramento e não apresenta orla de


escoriação nem de enxugo, nem mesmo a presença dos

elementos químicos resultantes da combustão da pólvora.

Lesões causadas por PAF de alta energia: são considerados


projéteis de alta energia aqueles que são disparados numa

velocidade duas vezes superior à velocidade do som


(680m/s).

 Cavitação: quando há essa transferência de

energia do projétil para os tecidos humanos


dentro do corpo (trajeto), ocorre o

deslocamento centrífugo desses tecidos (um


afastamento interno dos tecidos por onde passa

o projétil). Quanto maior for a troca de energia


entre o projétil e os tecidos, maior será a
cavidade, e, consequentemente, maiores as

lesões.

69
Quando ocorre uma explosão, a força expansiva dos gases

promove uma onda de pressão que resulta no arrastamento de


partículas de metal que compõem o artefato explosivo para

diversos lugares distintos, sempre do centro para fora, em razão


da força centrífuga. Assim, cada estilhaço do artefato, como, por

exemplo, uma granada, vira um projétil de arma de fogo. Assim,


a depender da distância em que se encontre da explosão, as
lesões serão distintas e classificadas de acordo com a

ordem/tipo de blast, podendo ser:

a) Blast primário: atinge as pessoas que se encontram mais


próximas do foco da explosão, pelo que a morte resulta

Lesões e mortes de elevadas temperaturas e uma pressão muito


grande. Normalmente o corpo é dilacerado, destruído
causadas pela
completamente, podendo ser encontrados pedaços da
ação de vítima a distâncias variadas.

explosivos – Blast b) Blast secundário: atinge pessoas que estão um pouco


mais distantes do foco da explosão, sendo as vítimas
Injury
atingidas por fragmentos do explosivo ou de outras
partículas sólidas que estão no centro da explosão,
como pedaços de madeira, de ferro, de vidro que são

espalhados com a expansão dos gases.


c) Blast terciário: atinge pessoas que estão fora do alcance
das partículas espalhadas pela explosão, mas que afeta as
vítimas pela onda de pressão oriunda da explosão. A

onda de pressão arremessa as pessoas, podendo causar


lesões por ação contundente.

d) Blast quaternário: o blast quaternário é a morte de


pessoas em razão das lesões e consequências da

explosão

70
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(UEG - NÚCLEO - 2008 - PC-GO - Delegado de Polícia) A lesão conhecida como mordedura

ou dentada produzida pela arcada dental humana, em razão de suas características, classifica-
se como
A) cortocontudente.

B) contundente.
C) perfurante.

D) perfurocontundente.

Comentário:

Opa! Começamos bem! Lembrem-se da classificação dos agentes vulnerantes físicos

mecânicos e das lesões que respectivamente acarretam. No capítulo 3 explicamos o


conceito de lesão patognomônica ou com assinatura, como sendo aquela que apresenta
feições tão características que permitem a identificação do agente vulnerante que a
causou, dando como principal exemplo a lesão de entrada de PAF e as marcas de

mordida humana na pele, sendo ambos agentes vulnerantes da categoria corto


contundente. Eis então a resposta de nossa questão, tendo como gabarito a alternativa
“a”. Lembrem-se, a arcada dentária humana é um exemplo perfeito de agente corto

contundente físico mecânico natural.

Questão 2

(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) Ao examinar um paciente, o perito encontra


uma ferida em região peitoral com formato de dois semiarcos, de concavidades voltadas uma
para a outra, mostrando equimoses periféricas, de profundidades variáveis e laceração

71
tecidual. O perito conclui que se trata de mordedura. As feridas produzidas por mordedura

causada pela arcada dentária humana se classificam como:

A) perfuro-contundente.

B) contundente.

C) corto-contusa.

D) perfuro-cortante.

E) corto-contundente

Comentário:

Mais uma vez a questão aborda a classificação da lesão produzida por mordida humana.
Percebam que esse é um tema recorrente e de alta incidência nas provas. Como vimos, a

arcada dentária humana é classificada como agente cortocontundente, sendo a lesão por
ela produzida classificada como cortocontusa. O gabarito que responde à questão,

portanto, está na letra “e”.

Questão 3

(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) Um cadáver encontrado próximo à linha férrea

apresenta desarticulação de todos os membros, além de separação do corpo da cabeça. É


correto afirmar que se trata de:

A) esquartejamento e esgorjamento.

B) esquartejamento e decapitação.

C) espojamento e esgorjamento.

D) esquartejamento e vitriolagem.

E) espojamento e decapitação.

72
Comentário:

Essa questão já foi abordada no capítulo anterior, mas que mostra muito mais

pertinência com a matéria tratada no presente capítulo, e por isso não custa relembrar!
As feridas incisas podem ser feitas por instrumentos cortantes, perfuro cortantes e corto

contundentes. No que tange a estes últimos, a ação corto contundente é aquela que
além da incisão (corte) também produz um trauma por contusão (pancada), devido a

uma certa quantidade de massa presente no instrumento corto contundente que seja
utilizado para a produção da lesão. Assim, é possível que, além dos cortes, a pressão

somada à massa do instrumento acarrete mutilações na área atingida. São exemplos


clássicos de instrumentos corto contundentes a roda de trem, espada, machado,
guilhotina, dentre outros. Quando há mutilações de membros, em que os 4 membros são

arrancados, a lesão recebe o nome de esquartejamento (dividir em 4 partes). Se há total


despedaçamento do cadáver, estando seccionado em várias partes, a lesão recebe o

nome de espostejamento (dividir em postas, como se fosse um peixe). Quando a ação


cortante ou corto contundente ocorre no pescoço, algumas lesões tornam-se peculiares e

recebem nomes especiais: degolamento (ação cortante na parte posterior do pescoço);


esgorjamento (ação cortante na parte anterior do pescoço – garganta-, pelo que esgorjar

significa “expor a garganta”); e a decapitação (ação corto contundente no pescoço que


acarreta a separação da cabeça do restante do corpo). Assim, dentre as alternativas, a

que responde corretamente ao enunciado da questão encontra-se na letra “b”.

Questão 4

(FUMARC - 2011 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) Diante de uma ferida linear, com

regularidade de suas bordas, associada a abundante hemorragia, predominância do


comprimento sobre a profundidade e apresentando cauda de escoriação, pode-se afirmar que
a lesão foi produzida por instrumento:

a) Cortocontundente

B) Contundente.

C) Perfurante.

73
D) Cortante.

Comentário:

A questão aborda as características de uma lesão incisa, causada por instrumento


cortante. Assim, podem ser evidenciadas nas feridas incisas as características de haver

bordas regulares, maior comprimento que profundidade, fundo regular, cauda de


escoriação e abundante sangramento (devido ao fato de os vasos sanguíneos estarem

seccionados, e não esmagados, ao contrário do que ocorre na ferida contusa,


ocasionando maior extravasamento de sangue). Assim, pode-se afirmar que tais
características são próprias da ação produzida por instrumento cortante. O gabarito,

portanto, está na letra “d”.

Questão 5

(FUNCAB - 2013 - PC-ES - Médico legista) São instrumentos potencialmente capazes de


produzir mutilações, COM EXCEÇÃO DE:

A) cortantes.
B) cortocontundentes.
C) perfuro cortantes.

D) perfuro contundentes.

E) perfurantes.

Comentário:

A questão aborda necessariamente a temática referente à classificação dos agentes

físicos mecânicos e suas respectivas lesões. Dentre as alternativas trazidas pela questão, a
única que não possibilita um instrumento capaz de produzir mutilações é a que se refere

aos agentes perfurantes. Lembrem-se das características das lesões por eles produzidas,
como sendo uma lesão em forma de ponto, mais profunda do que extensa, e quase que
imperceptível a olho nu, recebendo o nome de feridas punctórias ou puntiformes,

74
atuando no afastamento das fibras elásticas da pele e das fibras musculares. Sendo

assim, a lesão em evidência não ocasiona o risco ou até mesmo a mera possibilidade de
haver mutilações do corpo humano. E, indo mais além, a alternativa sequer especifica o

calibre do instrumento perfurante, se de pequeno ou médio calibre. Ainda que fossem os


instrumentos perfurantes desta última ordem (de médio calibre), não acarretam o risco

de mutilações, pois o diâmetro do instrumento ocasiona, da mesma forma, o


afastamento das fibras do corpo, gerando apenas um maior espaçamento entre elas,
acarretando feridas semelhantes às produzidas por instrumentos perfuro cortantes de

dois gumes (2ª Lei de Filhós – lei da semelhança). A resposta correta e que atende ao
enunciado da questão, portanto, encontra-se na alternativa “e”.

Questão 6

(CEFET-BA - 2008 - PC-BA - Delegado de Polícia) Num ferimento de entrada de projétil de

arma de fogo, geralmente se encontra a presença de


A) bordas evertidas e zona de chamuscamento.
B) bordas invertidas e abundante sangramento.

C) ferimento de forma irregular e zona de esfumaçamento,


D) ferimento de forma regular e bordas invertidas.

E) sangramento abundante e ferimento de forma irregular.

Comentário:

Os casos de lesões de entrada de projétil de arma de fogo apresentam efeitos primários


e secundários do tiro. Com exceção dos casos de tiro encostado, em regiões corporais
com e sem anteparo ósseo por baixo da pele, os ferimentos de entrada de PAF

apresentam lesões regulares e bordas invertidas, uma vez que o projétil, via de regra,
atinge o corpo da vítima ainda com certa estabilidade, penetrando de ponta, e forçando

sua entrada na pele por pressão de fora para dentro, ocasionando a retração dos tecidos
e gerando bordas invertidas. Já o ferimento de saída pode se apresentar com
características opostas, sendo uma ferida irregular com as bordas da pele voltadas para

75
fora (evertidas). A resposta que atende ao enunciado da questão se encontra, portanto,

na alternativa “d”.

Questão 7

(FUMARC - 2011 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) Considerando as lesões produzidas por

projéteis de arma de fogo, o diagnóstico diferencial entre o ferimento de entrada e o de saída


no plano ósseo craniano, é feito pelo sinal de

A) Bonnet.
B) Carrara.

C) Strassmann.

D) “Terraza” de Hoffmann.

Comentário:

Aqui temos uma abordagem referente à lesão de entrada de PAF em planos ósseos
cranianos. Conforme vimos, a estrutura do osso craniano é formada por duas camadas:

tábua interna e tábua externa, pelo que o projétil, ao penetrar nos ossos do crânio,
acarreta necessariamente uma fratura dupla, em forma de “tronco de cone”, em que o

orifício de entrada é menor que o de saída (base do cone), o que possibilita a


identificação do trajeto e o sentido do deslocamento do PAF dentro do crânio. Essa lesão
recebe um nome especial, sendo conhecida como “tronco de cone de Bonnet ou funil de
Ponsold”. Dentre as alternativas da questão, a que atende ao nosso gabarito encontra-se

na letra “a”.

Questão 8

(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) A descrição de um orifício de entrada de projétil

de arma de fogo com buraco de mina de Hoffmann, escoriação de massa de mira (sinal
deWerkgartner), zona de esfumaçamento, zona de tatuagem, equimoses e queimaduras, está
relacionada com:
A) tiro disparado a grande distância.
B) tiro disparado de arma de fogo de grosso calibre.

76
C) tiro disparado a curta distância.

D) lesão produzida por projéteis múltiplos.

E) tiro encostado.

Comentário:

O enunciado descreve praticamente todos os efeitos secundários do disparo de arma de

fogo verificados na pele da vítima, quando esta esteja dentro do alcance do cone de
dispersão. Verificamos no tópico referente às lesões de entrada de PAF que, para além

da expulsão do projétil, o disparo de arma de fogo produz outros efeitos, como a


produção de chama e de fumaça provenientes da combustão da carga propelente

contida no cartucho, bem como a expulsão de resíduos de pólvora e de metal oriundos


do cano da arma e do próprio projétil. Esses elementos todos formam o chamado cone
de dispersão, que, ao atingir a vítima, acarretam, para além da simples lesão de entrada

do PAF, outras lesões características desse tipo de disparo, que recebem o nome de
orlas, halos ou zonas, sendo basicamente a orla de chamuscamento; orla de

esfumaçamento ou tisnado; orla de tatuagem; orla de escoriação; orla de contusão. As


três primeiras estarão presentes nos chamados “tiros a curta distância”, e, a depender da

proximidade entre o corpo da vítima e o cano da arma, pode haver inclusive


queimaduras produzidas pela chama do disparo, sendo então o tiro caracterizado como

“à queima roupa”. Ainda há ocasiões em que o tiro pode ser desferido com o cano da
arma encostado no corpo da vítima, acarretando outros sinais, que se diferenciam a
depender de haver ou não anteparo ósseo por baixo da área em contato com a boca da

arma. Essas lesões ou sinais são chamados de boca de mina de Hoffman (quando há
anteparo ósseo por debaixo da região em contato com a arma) e sinal de Puppe-

Werkgaertner (quando não há anteparo ósseo na região em contado com a boca da


arma). Em ambos os casos, o tiro é classificado como “tiro encostado”. Portanto, a

alternativa que responde corretamente ao gabarito da questão, de acordo com os dados


apresentados no enunciado, é a letra “e”. Aliás, a título de aprofundamento, os sinais
resultantes do tiro encostado não necessariamente permitem ao perito identificar o

calibre do projétil disparado, o que torna a alternativa “b” errada.

77
Questão 9

(2017 – Medicina Legal/Criminalística – IGP-RS) Quando o instrumento perfurante é de


médio calibre, a forma das lesões assume aspecto diferente, obedecendo às leis de Filhos e

Langer. As soluções de continuidade das feridas assemelham-se às produzidas por


instrumento de dois gumes ou tomam a aparência de “casa de botão”, estamos nos referindo

a
A) primeira lei de Filhos

B) segunda lei de Filhos


C) lei da aparência

D) lei de Langer

E) terceira lei de Filhos

Comentário:

Aqui estamos diante do tema referente às lesões produzidas por instrumento perfurante
de médio calibre. Vimos nesse tópico do assunto que essas lesões apresentam uma

forma característica que se parece com as lesões perfuro incisas produzidas por
instrumentos perfuro cortantes de dois gumes, apresentando o aspecto de fenda, sendo

chamada de ferida em casa de botoeira. Para explicar esse fenômeno, a doutrina médico-
legal aplica as duas Leis de Filhós, sendo a da semelhança e a do paralelismo. Conforme
narra o enunciado da questão, a hipótese nele descrita se amolda à Lei da Semelhança,

ante as razões aqui explicadas. A resposta, portanto, está na letra “a”. Lembram-se: 1ª Lei

de Filhós (semelhança); 2ª Lei de Filhós (paralelismo).

Questão 10

(Funiversa - 2015 - PCDF – Legista) Nas explosões, o efeito causado por fragmentos do
artefato, como estilhaços de granada e projéteis colocados em seu interior, e por pedaços de

corpos fragmentados pela explosão é denominado


A) barotrauma.

B) bends tipo 2.
C) blast primário.

D) blast secundário.
78
E) blast terciário.

Comentário:

Ótima questão! Aqui se trata das lesões e mortes pela ação de explosivos, denominada

na doutrina médico-legal de “blast injury”. É basicamente a classificação das lesões


relativas à ação exotérmica dos artefatos explosivos. Lembram-se de que os explosivos,
como granadas, também são caracterizados como armas de fogo, mas que não disparam

projéteis através de um cano, direcionando assim a sua trajetória. Aqui a combustão da


carga propelente ocasiona uma reação exotérmica que libera calor e enormes ondas se

pressão, pelo que a força expansiva dos gases envolvidos na combustão arrasta todas as
partículas sólidas localizadas no foco da explosão, bem como partículas de metal

integrantes do próprio artefato explosivo. Assim, a força expansiva dos gases arrasta e
arremessa tudo o que está em volta do artefato, de modo que suas partículas de metal

se tornam vários projéteis de arma de fogo e se propagam no ar em direção aleatória,


alcançando tudo o que estiver em seu caminho. Assim, temos a classificação do blast em
4 categorias: 1 – blast primário; 2 – blast secundário; 3 – blast terciário; 4 – blast

quaternário. O enunciado traz as lesões provocadas pela ação dos estilhaços de


explosivos e materiais sólidos no local da explosão, sendo essa categoria de lesões e

mortes causadas pela ação do blast secundário. A nossa resposta, então, encontra-se na

alternativa “d”.

E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e
praticando bastante! Vamos juntos até a aprovação! Até mais!!!

79
GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - E

Questão 3 - B

Questão 4 - D

Questão 5 – E

Questão 6 - D

Questão 7 - A

Questão 8 - E

Questão 9 - A

Questão 10 - D

80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAUDA DE ESCORIAÇÃO. Aneste, 2020. Disponível em: www.aneste.org/medicina-legal.html.


Acesso em: 11/02/2020.

CONE DE DISPERSÃO. Studocu, 2020. Disponível em: www.studocu.com. Acesso em:


11/02/2020.

CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.

DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed.
São Paulo: Editora Saraiva, 2007.

EMPALAMENTO. Revista Galileu. Disponível em: www.revistagalileu.globo.com. Acesso em:


11/02/2020.

ESGORJAMENTO. Slideshare, 2020. Disponível em:


www.pt.slideshare.net/josemariaabreujunior/traumatologia-forense-parte-1-direito-ufpa. Acesso

em: 11/02/2020.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina


Legal, 3ª ed. Salvador: Editora Jus Podium, 2018.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015,
p. 360.

GALVÃO, Malthus. Degolamento. Malthus. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em


11/02/2020.

81
LESÕES DE DEFESA. Forsci Projetos Educacionais, 2020. Disponível em:

www.forsciprojetoseducacionais.com. Acesso em 11/02/2020.

LESÕES DE HESITAÇÃO. Picpanzee, 2020. Disponível em: www.picpanzee.com. Acesso em

11/02/2020.

LESÃO DE SAÍDA DE PAF. Perícia Criminal Alagoana, 2020. Disponível em:

www.periciacriminalalagoana.blogspot.com. Acesso em: 11/02/2020.

PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO. Balística Brasil, 2020. Disponível em:


www.balisticabrasil.blogspot.com. Acesso em: 11/02/2020.

RAIS DA ARMA DE FOGO. Balística Brasil, 2020. Disponível em:


www.balisticabrasil.blogspot.com. Acesso em: 11/02/2020.

RUBEFAÇÃO. Docplayer. Disponível em: www.docplayer.com.br. Acesso em: 11/02/2020.

TOSTES, Marcelo. Entorses. Drmarcelotostes. Disponível em: www.drmarcelotostes.com..

Acesso em 11/02/2020.

82
CARREIRAS POLICIAIS

Medicina Legal
Capítulo 5
SUMÁRIO

MEDICINA LEGAL, Capítulo 5 ....................................................................................................................................... 2

5. Energias de Ordem Física. ..................................................................................................................................... 2

5.1. Lesões e mortes causadas pela ação térmica. ........................................................................................................... 2

5.1.1 Conceito e principais causadoras da lesão térmica ................................................................................................ 2

5.1.2 A ação do calor........................................................................................................................................................................ 2

5.1.3 Termonoses – atuação do calor de modo difuso (irradiação) ........................................................................... 3

5.1.4 Funcionamento do corpo – mecanismos de regulação e estabilidade da temperatura ........................ 5

5.2. Queimaduras – ação do calor de modo direto......................................................................................................... 7

5.2.1 Diagnóstico do agente vulnerante .................................................................................................................................. 7

5.2.2 Classificação das queimaduras........................................................................................................................................11

5.2.3 Exames periciais em cadáveres carbonizados – confrontos para identificação x reconhecimento:14

5.3. Lesões provocadas pela ação do frio. .........................................................................................................................17

5.3.1 De forma difusa – Hipotermia ........................................................................................................................................17

5.3.2 De forma direta – Geladuras ...........................................................................................................................................18

5.4. Lesões e mortes causadas pela ação elétrica. .........................................................................................................19

5.5. Lesões e mortes por baropatias .....................................................................................................................................26

5.5.1. Situações de descompressão - Doença dos caixões ou mal dos escafandristas. ...................................27

5.5.2. Mal das montanhas ou dos aviadores. .......................................................................................................................28

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 29

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 34

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 42

1
MEDICINA LEGAL

Capítulo 5

5. Energias de Ordem Física.

5.1. Lesões e mortes causadas pela ação térmica.

5.1.1 Conceito e principais causadoras da lesão térmica

Primeiramente, é necessário esclarecer que o calor nada mais é do que uma energia

térmica em movimento, decorrente das diferenças de temperatura em um ou mais


ambientes. Existem, portanto, duas espécies de calor: o calor quente e o calor frio. Logo, o
estudo das lesões de ordem física por ação térmica abrange tanto as lesões causadas pelo

calor (propriamente dito) quanto pelo frio, podendo se dar por atuação difusa ou atuação
direta.

5.1.2 A ação do calor

Em se tratando do calor quente, se a fonte de calor tiver contato direto com a vítima
(condução), dá-se à lesão o nome de queimadura. Ao contrário, se a fonte de calor não tem
contato direto com a vítima (ação a distância ou atuação difusa), as lesões recebem o nome

de termonoses.

2
Aqui há um primeiro questionamento de certa recorrência nas provas de concursos, em

que a banca examinadora cobra do candidato a diferenciação entre queimaduras e


termonoses. Assim, a diferença básica entre essas duas espécies é que a primeira é resultado

da fonte de calor em contato direto com a vítima; já a segunda é resultado da atuação

difusa do calor (ação a distância).

Quando se trata de fonte de calor frio, o contato direto da fonte de calor com o corpo
recebe o nome de geladura. Quando age de maneira difusa (à distância), recebe o nome de

hipotermia.

5.1.3 Termonoses – atuação do calor de modo difuso (irradiação)

A doutrina médico legal aponta como as principais modalidades de termonoses a


insolação e a intermação. Vejamos cada uma delas detalhadamente.

a) Insolação:

A insolação é uma termonose causada por exposição demorada ao sol.

Para o professor Hygino Carvalho Hércules, a definição da insolação, diferentemente


daquela que é dada pelo restante da doutrina, não se dando pela exposição ao sol. Da mesma
forma, o autor diverge em relação ao conceito de intermação. Para ele, não provém da

exposição a outra fonte de calor que não seja o sol. Segundo Hygino, a insolação seria um
distúrbio no mecanismo de controle da temperatura corporal.

O corpo humano possui um centro termorregulador localizado na base do cérebro,

chamado hipotálamo. Assim, podem acontecer distúrbios na regulação de temperatura


corporal devido a uma pancada ou traumatismo na cabeça, que acarretou uma lesão, gerando

3
o mau funcionamento do hipotálamo. Para o professor Hygino, portanto, a insolação nada

mais seria do que um distúrbio proveniente de uma lesão no hipotálamo, fazendo com que
o mecanismo de regulação da temperatura corporal entre em colapso, de modo a gerar

variações anormais da temperatura do corpo do indivíduo.

Ainda segundo o professor Hygino Hércules, pode ser que o hipotálamo esteja
funcionando corretamente, mas outras questões podem atrapalhar na regulação da

temperatura corporal. Para que haja o resfriamento do corpo, é preciso que os níveis de água
nele estejam em níveis satisfatórios para o bom funcionamento e regulação da temperatura

corporal.

Logo, pode ocorrer de uma pessoa estar desidratada, ou, ainda que haja líquido suficiente
para resfriar o corpo, haja algum tipo de problema cardíaco que não permite que a circulação

funcione corretamente. Nesses casos, para o professor Hygino, haverá a intermação. Portanto,

a intermação é resultado de problemas de desidratação ou problemas cardiovasculares.

Para facilitar o entendimento, podemos resumir a explanação da seguinte forma:

O sangue circulante na periferia do corpo


atua no controle da temperatura corporal

central. O coração determina o ritmo


circulatório.

SISTEMA CARDIOVASCULAR A desidratação e problemas circulatórios ou

falha cardíaca podem alterar o controle


térmico do corpo, embora o hipotálamo

esteja íntegro.

É um distúrbio proveniente de uma lesão no hipotálamo,


INSOLAÇÃO fazendo com que o mecanismo de regulação da temperatura

corporal entre em colapso, de modo a gerar variações anormais


(Hygino Hércules)
da temperatura do corpo do indivíduo.

4
Pode ocorrer de uma pessoa estar desidratada, ou, ainda que

INTERMAÇÃO haja líquido suficiente para resfriar o corpo, haja algum tipo de
problema cardíaco que não permite que a circulação funcione
(Hygino Hércules) corretamente. Para o professor, a intermação é resultado de
problemas de desidratação ou problemas cardiovasculares.

a) Intermação

Trata-se de uma termonose causada por outra fonte de calor que não seja o sol (ficar
perto de uma fonte de calor). Atenção para o entendimento do professor Hygino Carvalho
Hércules, explicado acima, que diverge nesse conceito.

5.1.4 Funcionamento do corpo – mecanismos de regulação e


estabilidade da temperatura

Quando uma pessoa faz atividades físicas em grande intensidade, a sua temperatura
corporal tende a se elevar mais do que o normal. Com isso o hipotálamo, agindo na regulação

da temperatura, faz com que as glândulas sudoríparas produzam suor para esfriar a pele.

E o suor, para poder evaporar, puxa o calor do corpo. A função do suor, portanto, é
diminuir a temperatura e a quantidade de calor durante a execução de um esforço físico

intenso.

Os pelos corporais, quando ficam arrepiados, seguram o ar (funcionam como um isolante


térmico). Quando o indivíduo está suando, os pelos ficam abaixados, deixando que o ar

mantenha maior contato com a pele. Assim, o suor e o relaxamento dos pelos corporais fazem
com que a temperatura do corpo tenda a diminuir, gerando uma condição de estabilidade
térmica.

Por outro lado, há um comando do hipotálamo para que se aumente o ritmo respiratório,
sendo outro mecanismo de diminuição da temperatura corporal ante a maior oxigenação do
organismo.

5
Quando há exposição ao frio, o hipotálamo faz com que os pelos corporais fiquem

arrepiados, ajudando no isolamento da pele com o ar. No entanto, isso não é suficiente,
havendo uma necessidade de que o corpo entre em movimento para que haja o aumento da

temperatura corporal. Assim é que a musculatura do corpo tende a tremer, para que o corpo
produza calor.

Outro mecanismo corporal para o ajustamento de sua temperatura é a circulação

sanguínea. Quando há exposição ao calor, os vasos periféricos ficam dilatados (vasodilatação


periférica pela ação do calor), fazendo com que haja um maior fluxo de sangue nessas áreas

periféricas do corpo, possibilitando assim que haja perda de calor corporal.

Ao contrário, quanto a temperatura ambiente está fria, o hipotálamo manda que os vasos
periféricos se contraiam. Quando os níveis de temperatura abaixam drasticamente, há uma

máxima constrição dos vasos periféricos, acarretando a perda de circulação de sangue nessas
áreas. A consequência disso é a necrose dos dedos das mãos, ponta dos pés, da orelha, ponta
do nariz, acarretando a perda dessas partes do corpo.

 Formas de troca de calor entre o corpo e o ambiente:

As trocas de calor entre o corpo e o ambiente podem se dar das seguintes formas:

I) Condução – contado íntimo e direto do corpo com a fonte de calor;

II) Irradiação – é a emissão de calor, atuando de forma difusa, a partir de raios de


calor;

III) Convexão – trocas de temperatura a partir de sucessivas ondas térmicas;


IV) Evaporação – é a transpiração do organismo vivo;

Iremos agora no ater para a convexão, que é a modalidade ainda não trabalhada neste

tópico, e que possui maior incidência em provas.

A convexão é a troca de calor a partir de ondas térmicas sucessivas de diferentes


temperaturas. Essas ondas, inicialmente de temperatura mais baixa que o corpo, o atingem,

esquentam, e vão embora, repetindo-se continuamente esse processo.

É o caso de resfriamento do corpo através de um ventilador ou da água de um chuveiro,


em que o vento e a água frios batem no corpo, esquentam, e vão embora. Enquanto houver
6
exposição ao vento e à água (tomando-se como base este exemplo), o corpo vai perdendo

calor e esfriando. Portanto, essas ondas de temperatura entram em contado com o corpo e
levam calor, num processo contínuo de troca de temperatura até que haja a sua estabilização.

5.2. Queimaduras – ação do calor de modo direto.

5.2.1 Diagnóstico do agente vulnerante

I) Fogo:

O fogo tem algumas características, sendo a primeira e mais relevante delas a capacidade
de causar queimaduras de todos os graus (Lussena-Hoffman – 1º ao 4º grau). Outro aspecto

relevante é o de que a queimadura de fogo, normalmente, carboniza (transforma o tecido


orgânico em carvão).

Quando os há queimaduras de fogo, os pelos corporais ficam crestados, dando um

diagnóstico de certeza de que aquela lesão foi causada pela ação do fogo.

As queimaduras de fogo são mais gerais do que locais, não se dando de maneira
uniforme em todas as partes atingidas (algumas áreas serão mais lesadas do que outras),

podendo até mesmo haver áreas íntegras em meio a outras gravemente queimadas. Como as
queimaduras não se dão de maneira uniforme, a doutrina médico-legal afirma que as

queimaduras de fogo apresentam aspecto de mapa geográfico.

Assim, podemos sintetizar da seguinte forma os aspectos das queimaduras de fogo1:

 Lesões de todos os graus;


 Mais gerais do que locais;

 Frequente carbonização das áreas atingidas;


 Pelos crestados;

 Áreas íntegras em meio a outras gravemente queimadas;


 Aspecto em mapa geográfico;

1
Vide questão 5 deste material.
7
Em relação a um aspecto prático legal, sabe-se que o homicídio se torna qualificado com

emprego de fogo (art. 121, § 2º, III do CP). No entanto, para que incida a qualificadora em
questão, é necessário que o agente delituoso se utilize do fogo como meio necessário para
produzir o resultado morte, ou seja, tenha o dolo direto de matar com emprego de fogo.

Deve então restar demonstrado o dolo presente na ação, pelo que, sem ele, a qualificadora

não deverá ser aplicada.

Ainda que a vítima não morra instantaneamente por conta das queimaduras, ainda assim
poderá vir a óbito posteriormente, uma vez que o fogo destrói a epiderme, deixando a derme
exposta, o que acarreta intensa perda de água (uma vez que a camada epidérmica é
queratinizada e funciona como impermeabilizante), podendo ocorrer morte por desidratação.

Ainda que se consiga combater essa intensa desidratação, existe um risco muito alto de
infecção por bactérias que entram em contado com a camada mais profunda da pele. Por isso,
quanto mais extensa for a área atingida pelas queimaduras, maior a desidratação e maior a

possibilidade de desidratação.

Para além desse aspecto, a pessoa que vem a ser vítima de incêndio, além das
queimaduras, inala um ar superaquecido e tóxico, impregnado por gás carbônico, proveniente

da combustão. Esse ar quente, ao entrar nas vias respiratórias, causa lesões na parede da
árvore respiratória, que recebem o nome de lesões de inalação. Assim, o fogo queima por

fora e por dentro.

Além da carbonização dos tecidos, a depender da intensidade da queimadura e da forma


como a pele foi atingida, as lesões de queimadura podem apresentar o formato de bolhas,

chamadas flictenas.

No entanto, é preciso cuidado na hora do diagnóstico, uma vez que existem diversas
doenças de pele que podem ocasionar lesões bolhosas. Assim, nem toda flictena é resultado

8
de uma queimadura. E, mais ainda, se o indivíduo estiver morto, essas bolhas podem ser

provenientes do estado de putrefação, em sua fase gasosa, que ocasiona o aparecimento de


imensas bolhas do corpo do cadáver.

Nessa última hipótese, é relevante o método de diagnóstico diferencial dos dois tipos de

flictenas, uma vez que, em se tratando de queimaduras, essas bolhas foram formadas em vida;
já no segundo caso, essas bolhas apareceram depois da morte.

Para isso, o legista aplica a técnica denominada de reação de Chambert, que consiste na

pesquisa de proteínas do plasma (parte líquida do sangue). Quando se tem uma doença de
pele ou se é vítima de queimaduras, as proteínas do plasma correm para baixo da pele,

formando as flictenas. Logo, as flictenas produzidas no indivíduo vivo encontram-se cheias de


proteínas do plasma (reação vital). Se, ao contrário, a reação de Chambert é negativa, as

flictenas foram produzidas após a morte.

REAÇÃO DE CHAMBERT POSITIVA REAÇÃO DE CHAMBERT NEGATIVA


As flictenas foram formadas em vida As flictenas foram formadas após a
(queimaduras ou doenças de pele). morte, sendo parte do estágio de
putrefação (enfisema pútrido).

II) Líquido fervente:

As queimaduras produzidas por líquido fervente, ao contrário das de fogo, não


apresentam pelos crestados. Também não carbonizam, pelo que essas duas características
eliminam o diagnóstico de queimadura por fogo.

Quando o líquido fervente entorna por cima do corpo, na primeira área de contato ocorre
uma queimadura intensa. À medida que o líquido vai escorrendo, vai esfriando, causando
queimaduras menos agressivas. Então, as lesões de queimadura por líquido fervente

apresentam um grau decrescente à medida que o líquido escorre pelo corpo.

Assim, podemos sintetizar as características das queimaduras por líquido fervente da


seguinte forma:

9
 As lesões apresentam gravidade decrescente ao escorrer;

 Mais gerais do que locais;


 Não carboniza;

 Não cresta pelos;


 Pode deixar vestígios se mudar de estado ao esfriar;

A problemática legal das queimaduras domésticas apresenta importante relevância para a


prática forense. Os pais, familiares e babás são agentes garantidores dos menores sob sua

guarda ou proteção. Assim, determinados casos de negligências que provocam queimaduras


nas crianças não podem ser tratados como simples acidentes. Por serem agentes garantidores,

essas pessoas têm o dever legal de impedir o resultado, pelo que eventual caso de
negligência caracteriza omissão imprópria, nos termos do art. 13, § 2º do Código Penal, pelo

que acabam por responder pelo resultado danoso, incidindo em tipificação de condutas

criminosas a depender de cada caso.

III) Sólido incandescente:

É o agente vulnerante mais fácil de identificar, uma vez que o contato do sólido
incandescente com a pele da vítima imprime a marca/formato/desenho do próprio

instrumento na pele. É dizer, as queimaduras produzidas por sólido incandescente se


caracterizam como lesões patognomônicas ou com assinatura, permitindo ao perito legista a

exata identificação do tipo de instrumento utilizado para imprimir a lesão.

As queimaduras feitas por sólidos incandescentes apresentam as seguintes características:

 Queima em todos os graus (do 1º ao 4º na classificação de Lussena-Hoffman);


 Predominantemente localizada;
 Pode apresentar carbonização dos tecidos atingidos;
 Cresta pelos;

10
 Reproduzem a forma do sólido no local da lesão;

 São caracterizadas como lesões patognomônicas;


 São geralmente criminosas;

IV) Vapores superaquecidos

A identificação dos vapores aquecidos como agente vulnerante é feita a partir da


constatação das seguintes características:

 Não carboniza;
 Não cresta pelos;
 Mais geral do que localizada;

 Mais acidental do que criminosa;


 Vazamento de caldeiras e radiadores;

 A lesão é uniforme – queima por igual;

5.2.2 Classificação das queimaduras

A classificação mais utilizada é a estabelecida por Lussena-Hoffman, que qualifica as


queimaduras em diferentes graus, de acordo com a extensão da lesão e quantidade do dano

ao organismo.

 Classificação em graus:

Segundo essa classificação, as queimaduras podem ser de: 1º grau, 2º grau, 3º grau e 4º

grau. Vejamos a seguir cada uma dessas espécies.

I) Queimaduras de 1º grau - eritema:

Consistem em eritemas (sinal de Christinson). Quando a fonte de calor entra em contato


com a pele, os vasos sanguíneos ali existentes ficam dilatados, gerando uma vermelhidão no
local por conta do fluxo de sangue.

11
Como o sangue é quente, o local da queimadura fica esquentado, acarretando o eritema,

que é, portanto, uma vermelhidão e o aumento de temperatura na área onde houve a


queimadura. O eritema some após algumas horas (regenera-se)2.

Em casos de lesões contusas, a pressão do agente vulnerante que age por percussão

causa o mesmo efeito que o eritema (os vasos se dilatam e a região fica vermelha e quente).
Só que como a ação foi contundente, a vermelhidão e o aquecimento recebem o nome de

rubefação.

ERITEMA RUBEFAÇÃO
Lesão causada pela ação térmica Lesão causada pela ação
(agentes vulnerantes físicos térmicos contundente (agentes vulnerantes
– calor direto, condução). físicos mecânicos de ordem
contundente).

II) Queimaduras de 2º grau - flictenas:

Por vezes, o calor é mais intenso ou permanece em contato com a pele por mais tempo.
Nesses casos, o plasma sanguíneo se acumula embaixo da pele formando bolhas, que, como

vimos, recebem o nome de flictenas. Portanto, as flictenas são bolhas que têm conteúdo
plasmático, sendo verificado a partir da reação de Chambert.

As queimaduras são classificadas como de segundo grau estando as flictenas íntegras ou

não. Com o passar do tempo, a epiderme se regenera, tal qual ocorre com a escoriação.

III) Queimaduras de 3º grau – lesão da derme:

Ocorrem quando o calor é tão intenso que passa a ferir a derme, formando verdadeiras

feridas que recebem o nome de escaras – escarificação. No momento em que a queimadura


escarifica a derme, já não vai haver mais a regeneração, pelo que no lugar da queimadura

haverá uma cicatrização.

Quando se trata de queimaduras, a cicatriz é retrátil, ou seja, é uma cicatriz que repuxa os
tecidos, gerando uma deformidade no local da queimadura.

2
Vide questão 1 deste material.
12
Por vezes, o braço fica colado no tronco, o antebraço colado no braço, um dedo colado

no outro, por conta de falta de cuidados na recuperação para evitar essa aderência. Assim, as
pessoas vítimas de queimaduras de 3º grau podem perder a mobilidade de membros, bem

como ter deformidades permanentes.

Nos termos do art. 129, § 2º, IV, essa lesão é caracterizada como deformidade
permanente, sendo então a conduta (caso criminosa) enquadrada no crime de lesão corporal

gravíssima, punida com reclusão de 2 a 8 anos.

Existe um tipo de composto químico líquido chamado ácido, que produz queimaduras
pelo fato de desencadear uma reação exotérmica (liberação de calor). Um dos ácidos mais

utilizados em medicina legal é o ácido sulfúrico, sendo extremamente corrosivos. O nome


comumente empregado para o ácido sulfúrico é óleo de vitríolo, pelo que o emprego dessa

substância para causar lesões nas vítimas é chamado de vitrioagem.

Apesar de ser originalmente usado para fazer referência ao ácido sulfúrico, o nome
vitriolagem é também empregado para se referir aos ácidos em geral. No entanto, se nas
alternativas de uma questão de prova vier expressamente ácido sulfúrico e outras

nomenclaturas de ácidos, a resposta que deverá ser assinalada é a que menciona o ácido

sulfúrico.

IV) Queimaduras de 4º grau - carvão:

Nas queimaduras de 4º grau, os tecidos orgânicos viram carvão, ocorrendo o fenômeno


chamado de carbonização. A carbonização poderá ser:

 Local ou geral;
 Superficial ou profunda;

13
 Poderá ser iatrogênica – resultante de intervenção médica;

Em relação à profundidade da carbonização, há um aspecto digno de aprofundamento.

Tanto no corpo humano quanto em materiais em geral, é possível que a carbonização ocorra
apenas superficialmente. Isso porque a carbonização funciona como uma proteção isolante

térmica e elétrica, não deixando que o fogo ou a eletricidade atinjam superfícies mais
profundas.

Assim, não é de rara ocorrência que haja carbonização de cadáveres por fora e sua

preservação por dentro. O cadáver encontra-se totalmente carbonizado por fora, mas quando
vai se realizar a autópsia, os órgãos internos como coração, pulmão, intestino e outros estão

íntegros.

Isso é uma ferramenta bastante útil na elucidação da causa mortis de cadáveres


carbonizados, pois por dentro do corpo o perito legista é capaz de identificar as lesões que

efetivamente produziram a morte do indivíduo.

5.2.3 Exames periciais em cadáveres carbonizados – confrontos


para identificação x reconhecimento:

A carbonização de um corpo, por maior que seja o calor e o seu tempo de ação sobre os
tecidos, não é capaz de destruí-lo por completo, sobrando dentes e ossos que permitem à
perícia fazer a identificação dos corpos a partir da pesquisa de DNA em materiais biológicos.

Tanto a identificação quanto o reconhecimento consistem em métodos utilizados pela


polícia para obter a identidade. O objetivo da identificação e do reconhecimento é a obtenção

da identidade do indivíduo.

Se no cadáver ou no local do crime houver algum material de confronto (comparação),


sejam as digitais, a arcada dentária, raio x do crânio, dentre outras coisas, o que será feito é a

identificação, ou seja, os peritos vão comparar o que é encontrado no cadáver com o material
de confronto.

Mas se não há nenhum material de confronto, mas há uma pessoa que viu aquele

indivíduo em vida e que, quando olhar para ele, irá reconhecê-lo, o nome que se dá é o

14
reconhecimento. No entanto, trata-se de uma técnica de alta subjetividade, sujeita a enganos,

e, portanto, de menor credibilidade.

Já a identificação é objetiva, e se utiliza de métodos científicos, sendo assim mais precisa


do que o reconhecimento.

 Pesquisa de DNA no processo de identificação:

Em carbonizados, uma pesquisa mais diligente é capaz de revelar fragmentos de tecidos


que escaparam da carbonização. A água presente nas células, até certo ponto, evita a
carbonização completa do cadáver. Notadamente nos ossos, dentes e músculos, em geral,

encontram-se células mortas, mas com seus núcleos preservados. É a partir disso que é
possível se extrair material biológico para a pesquisa e análise de DNA.

Dentre as partes viáveis para a pesquisa de material genético, os dentes são a melhor

fonte de pesquisa, pois no dente existem vasos sanguíneos e outras células mortas, que são
protegidos pela camada de esmalte dentário.

Por vezes, o exame de DNA não chega a ser necessário para a identificação, sendo

substituído pelas técnicas antropológicas de exame radiográfico das mãos, do formato do


crânio, de análise da arcada dentária, dentro outros meios antropométricos de identificação

por meio de comparação até mesmo de dados constantes do histórico médico do indivíduo
fornecidos pela família.

Uma vez que é feita a confrontação das características do cadáver com documentos

médicos fornecidos pela família, é possível a realização do processo de identificação


cadavérica e assim atribuir uma identidade àquele cadáver que fora examinado. O cadáver

carbonizado ainda serve como fonte de informações úteis no processo de identificação.

 Destaques para a identificação médico-legal de cadáveres carbonizados:


1) Papiloscopia, se possível;

2) Arcadas dentárias;
3) Cirurgias anteriores;
4) Próteses e órteses no corpo;
5) Sinais anatômicos particulares;

15
6) Objetos de uso pessoal;

7) Grupos sanguíneos (ABO, Rh, HLA) e DNA;


8) Outros;

 Determinação da causa da morte - perinecroscopia:

Para além da identificação do cadáver, é possível verificar a causa da morte em corpos

carbonizados. Por vezes surgem dúvidas se aquele cadáver já estava morto quando foi
queimado, ou se foi posto ali vivo para morrer das causas do incêndio.

Para isso exige-se um minucioso exame do local onde o cadáver foi encontrado,

denominado de perinecroscopia, consistente na arrecadação de todos os instrumentos e


objetos pertinentes do corpo, em busca de sinais de identificação ou reconhecimento.

Para isso os peritos legistas, durante a autópsia, examinam a árvore respiratória do

cadáver, muitas vezes ainda preservada embora o corpo esteja carbonizado.

Se a pessoa estava viva durante o incêndio, então ela respirou os gases provenientes da
combustão, o que gera resíduos de fuligem que ficam impregnados na traqueia e nos

brônquios do indivíduo.

Se, ao contrário, for examinada a árvore respiratória do cadáver e for constatado que ela
estava limpa e sem nenhuma impureza, há de se concluir que a pessoa já estava morta antes

do início do incêndio.

A esse tipo de método se dá o nome de sinal de Montalti 3, que se caracteriza pela


presença de fuligem na árvore respiratória.

Outra hipótese de determinação do momento da morte, se antes ou depois do incêndio,

está na pesquisa de substâncias químicas no sangue do cadáver.

Quando há combustão, dois gases são liberados: o monóxido de carbono (CO) e o dióxido
de carbono (CO2). O monóxido de carbono fica impregnado no organismo, pois, quando essa

3
Vide questão 10 deste material.
16
substância entra em contato com a hemoglobina, acarreta uma reação que resulta numa

substância de aderência muito estável, chamada de carboxiemoglobina, ficando no sangue.

Quando essa substância atinge uma determinada concentração no organismo, o sangue,


que tem coloração vermelho vivo, fica com uma tonalidade carminada (cor de cereja). Isso

revela aos legistas que há uma grande concentração de carboxiemoglobina no organismo


(mais de 50% do sangue circulante), permitindo assim concluir que a pessoa estava viva antes

do incêndio.

Se, ao contrário, houver níveis mínimos dessa substância no sangue, há de se concluir que
a pessoa já estava morta antes do incêndio.

 Sinal de Devergie:

Com o aumento da temperatura, a musculatura do cadáver sofre retração post mortem.

Membros superiores e inferiores sofrem acentuada flexão e podem mostrar fraturas diversas.
Apresenta aspecto de boxeur, lutador, esgrimista, saltimbanco, etc.

5.3. Lesões provocadas pela ação do frio.

5.3.1 De forma difusa – Hipotermia

Semelhante ao que ocorre com o calor, pode haver lesão provocada pela ação do frio, de
maneira difusa ou direta. Quando há lesões causadas pela ação difusa do frio, dá-se o nome

de hipotermia4.

A temperatura corporal, em seu estado de normalidade, é de 36ºC. a diminuição dessa


temperatura abaixo dos 35ºC já desencadeia um quadro de hipotermia. A hipotermia pode ser

classificada em três estágios:

 Leve – entre 35ºC a 32ºC;


 Moderada – até 28ºC;

 Grave – menos de 28ºC;

4
Vide questão 1 deste material (pág. 160)
17
É importante ressaltar que na ação generalizada (difusa) do frio, não existe uma lesão

típica. A perícia médico-legal, no diagnóstico da causa da morte, deve levar em consideração


o estudo do ambiente e, ainda, fatores individuais da vítima, tais como: fadiga, depressão

orgânica, idade, alcoolismo e certas perturbações mentais.

Mas, de maneira geral, a atuação difusa do frio gera uma alteração do sistema nervoso,
sonolência, convulsões, delírios, perturbações dos movimentos, anestesias, congestão ou

isquemia das vísceras, podendo advir a morte quando tais alterações assumem maior
gravidade.

O diagnóstico da morte por hipotermia apresenta alguns elementos, a saber:

 Hipóstase vermelho-clara;

 Rigidez cadavérica precoce, intensa e extremamente demorada;


 Sangue de tonalidade menos escura;

 Sinais de anemia cerebral;


 Congestão polivisceral, às vezes disjunção das suturas cranianas;

 Sangue de pouca coagulabilidade;


 Repleção das cavidades cardíacas, espuma sanguinolenta nas vias respiratórias;
 Erosões e infiltrações hemorrágicas na mucosa gástrica (sinal de Wischnewski);

 A pele pode apresentar flictenas semelhantes às das queimaduras;

5.3.2 De forma direta – Geladuras

São lesões resultantes da atuação direta do frio, apresentando aspecto pálido e anserino 5,
podendo evoluir para isquemia, necrose e gangrena. Possuem a seguinte classificação:

 1º Grau – Eritemas, formados em razão da vasoconstricção no nível da pele, com


palidez inicial e rubor secundário;
 2º Grau – Flictenas;

5
Pele anserina: também chamada vulgarmente de “pele de galinha”, sendo ocasionada pela vasoconstricção dos
delicados músculos erectores dos pelos, tornando os folículos desses pelos salientes, devido à rigidez cadavérica.
Aparece mais comumente nos ombros, face lateral das coxas e braços (sinal de Bernt).
18
 3º Grau – Necrose ou gangrena, em razão da coagulação do sangue nos capilares e

consequente ausência de irrigação;

O frio acarreta uma reação corporal consistente na vasoconstricção doa vasos sanguíneos
periféricos, impedindo que haja circulação de sangue nesses locais, cuja consequência é a

necrose dos tecidos e perda dos membros e partes do corpo mais periferias.

Em razão disso, há um tipo de lesão popularmente conhecida como “pés de trincheira”.


Durante a Segunda Guerra mundial, os soldados praça brasileiros foram enviados à Itália, no

período do inverno, para ajudar no combate. Os soldados da infantaria ficavam


entrincheirados e sujeitos às baixas temperaturas do inverno italiano. Como ficavam em

contato direto com o frio, acabaram sofrendo necrose dos tecidos, acarretando perda de
partes do corpo, comumente os pés. Com isso ficou conhecida a expressão “pés de

trincheira”.

5.4. Lesões e mortes causadas pela ação elétrica.

Inicialmente, é importante ressaltar que existem dois tipos de eletricidade: a eletricidade

industrial/doméstica/artificial; e a eletricidade natural/cósmica/meteórica. Quando uma


pessoa sofre uma lesão causada pela eletricidade industrial, essa lesão recebe o nome de

eletroplessão. Já quando a lesão é causada por eletricidade natural, recebe os nomes de


fulguração ou fulminação.

Eletricidade
industrial/artificial • Eletroplessão

• Fulguração
Eletricidade
• Fulminação
natural/cósmica

19
Em se tratando da eletricidade industrial, havendo ou não morte, o nome que se dá

será sempre eletroplessão. Já quando se trata de eletricidade natural, há uma diferenciação


na nomenclatura, a depender de haver ou não a morte do indivíduo:

 Em casos de morte – fulminação;

 Não havendo morte – fulguração;

Segundo o professor Higyno Carvalho Hércules, quando se trata de eletricidade natural,


havendo ou não morte, o nome que se dá é fulguração.

É importante saber se a banca examinadora do seu concurso adota na bibliografia do

edital a obra do professor Higyno. Para os demais autores, há essa diferenciação, pelo que o

nome da lesão poderá ser fulguração ou fulminação, a depender do caso.

Essas lesões, por vezes, podem deixar uma marca/sinal. Esse sinal recebe diferentes nomes
conforme seja a lesão produzida por eletricidade industrial ou eletricidade natural. Vejamos

a seguir essas classificações:

5.4.1. Sinal ou marca de Jellinek:

Indica o local de entrada da corrente elétrica industrial (eletroplessão), podendo ou não se


mostrar evidente no corpo. Essa marca, quando aparece, fica evidente na pele, no exato ponto

de contato da corrente elétrica com o corpo6. Possui as seguintes características:

 Lesão dura;
 De bordas elevadas;

 É seca e indolor;

6
Vide questão 6 deste material.
20
 Apresenta profundidades variáveis;

 Pode reproduzir a forma do condutor elétrico na pele;


 Tem aspecto microscópico, em colmeia e com células em paliçada;

Vejam a imagem7 a seguir para melhor compreender as características da lesão:

5.4.2. Sinal ou marca de Lichtemberg:

Indica que a vítima foi atingida por corrente elétrica natural (fulguração ou fulminação), a

exemplo de um raio. Quando a corrente elétrica natural passa pelo corpo de uma pessoa, os
vasos sanguíneos ficam dilatados. Como o sistema circulatório dos vasos é ramificado, é

possível ver na pele o desenho dos vasos sanguíneos.

Assim, os vasos ficam dilatados, podendo ser visualizados através da pele. Apresenta as
seguintes características:

 Tem aspecto arboriforme, de folha de samambaia (ramificação dos vasos

semelhante à folhagem de uma árvore);


 Ramificação que reproduz o desenho dos vasos sanguíneos;

 Lesão que aparece na pele, mas que ocorre nos vasos sanguíneos afetados;
 É uma vasculite;

 É eventual e temporária;

7
GALVÃO, Malthus. Marca de Jellineck. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 10/02/2020.
21
A marca é visível na pele, mas a lesão ocorre nos vasos sanguíneos. Atentem para essa

informação, pois já foi objeto de cobrança nas provas de concursos.

Esse sinal, estando a pessoa viva, desaparece naturalmente com o passar de algumas

horas. Assim, o sinal de Jellinek deixa marcas e cicatrizes (gera uma ferida que cicatriza,
ficando visível); já o sinal de Lichtemberg desaparece por completo, não sendo mais

perceptível após um certo lapso de tempo. É de rara ocorrência, mas o sinal de Lichtemberg
pode aparecer em cadáveres.

5.4.3. Percurso da corrente elétrica

A corrente elétrica só penetra no corpo humano se tiver como sair depois. Para isso

acontecer, o corpo do indivíduo tem que estar em contato com a terra, que é o local por
onde ela sempre sai.

8
GALVÃO, Malthus. Sinal de Lichtemberg. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em:
10/02/2020.
22
A corrente elétrica é incompatível com Ohm (unidade de medida de resistência elétrica

presentes nos condutores de eletricidade). Assim, a corrente sempre procura passagem pelos
lugares que oferecem menor resistência elétrica.

Em idênticas condições, a corrente sempre percorre pelo caminho mais curto, ou seja,

havendo dois locais de passagem viável para a corrente, com idênticas medidas de resistência
elétrica, ela sempre percorrerá pelo local que for mais curto para a sua passagem e trajeto.

Daí a razão pela qual as pessoas que trabalham com eletricidade sempre usarem roupas e

adereços (botas e luvas) feitas de material isolante, pois quanto mais matéria isolante, maior a
resistência à passagem da corrente elétrica.

5.4.4. Voltagem elétrica

O cálculo da voltagem é feito pelo produto (multiplicação) da resistência pela intensidade

da corrente (medida em ampéres). Assim, numa relação inversamente proporcional, quanto


maior a resistência do material/corpo condutor, menor será a intensidade da corrente elétrica.

V=Rxi

Assim, uma corrente elétrica movida por uma mesma voltagem poderá ter uma
intensidade maior ou menor, a depender das circunstâncias. Tomemos como exemplo a
hipótese de uma pessoa que venha a entrar em contato com uma fonte de corrente elétrica

artificial. Suponhamos que essa pessoa esteja com a pele seca. Ela receberá um choque com
uma dada voltagem, mas de menor intensidade, pois a pele seca oferece maior resistência à

passagem da corrente.

Em outra hipótese, suponhamos que a mesma pessoa entre novamente em contato com a
mesma corrente, mas que esteja com a pele exposta e molhada. Nesse caso, ela receberá uma

corrente de muito mais intensidade do que na primeira vez, pois o suor, por exemplo, é
composto de água e sais minerais, que são condutores naturais, o que faz com que a

resistência à passagem da corrente diminua e a corrente atinja uma intensidade maior.

Assim, poderão ser duas as consequências: no primeiro caso, a pessoa leva um pequeno
choque, podendo até mesmo não sofrer lesões; no segundo caso, havendo uma substancial

23
diminuição da resistência de seu corpo à passagem da corrente, criando assim condições

favoráveis ao fluxo elétrico, a pessoa receberá um choque de muito maior intensidade,


podendo até mesmo vir a óbito.

Para efeitos de prova, a questão pode vir a cobrar quais as situações que facilitam a

passagem da corrente, e quais as situações que dificultam essa passagem.

a) Facilitadores: b) Dificultadores:
 Pele úmida;  Pele seca
 Pele mais fina nas mãos;  Pele grossa nas mãos;

5.4.5. Associação de resistências em série e ligação em


paralelo

Se houver uma única passagem do condutor da corrente com ligações em série (ex.: fio
único e contínuo), a corrente que entra é da mesma intensidade da corrente que atinge o

alvo, recebendo um choque da mesma intensidade da corrente.

Se houver uma bifurcação na passagem com dois condutores de diferentes resistências


(ligação em paralelo), a corrente se dividirá, passando uma maior parte pelo local que oferece

a menor resistência. Assim, o alvo que estiver no terminal desse local de menor resistência
tomará um choque de maior intensidade do que se estivesse no terminal de maior resistência.

5.4.6. Quantidade de calor gerado pela corrente elétrica:

Quando a corrente passa por um local que ofereça uma dada resistência, ela gera uma

quantidade de calor (energia elétrica convertida em energia térmica). A determinação da


quantidade de calor que a corrente vai gerar durante a sua passagem é dada pela seguinte
fórmula:

Q = R.i².T.(a)

 Q – quantidade de calor;
 R – resistência;

24
 i – intensidade elevada ao quadrado;
 T – tempo que a corrente leva para passar pelo condutor;
 a – constante numérica;

Suponha a seguinte situação:

Se uma corrente elétrica penetrar no corpo pela mão direita e seguir através do antebraço

e do braço, atravessará os tecidos locais com intensidades diferentes, uma vez que os tecidos
(pele, músculo e osso) possuem diferentes resistências. Assim, é possível dizer que os

diferentes tecidos estarão compondo uma associação em paralelo para a passagem da


corrente, em relação ao maior eixo do membro atingido.

Suponha que a pele ofereça uma resistência de 5.000 Ω, o músculo uma resistência de

2.000 Ω e o osso ofereça 10.000 Ω. Nessa hipótese, qual dos três segmentos receberá uma
maior quantidade de calor (esquentará mais)?

De acordo com o cálculo da fórmula apresentada acima, aplicando-se os valores de

resistência, chega-se à conclusão que o músculo esquentará mais, pois, como apresenta uma
menor resistência à passagem da corrente, receberá uma amperagem elétrica maior (a

intensidade da corrente elevada ao quadrado), gerando assim uma maior quantidade de calor,
esquentando muito mais do que a pele e o osso.

25
Isso vale para os casos em que a corrente elétrica atravessa os condutores

longitudinalmente (em direção horizontal). Levando em consideração a hipótese em que ela


atravessa transversalmente (em direção vertical) pelos condutores, a corrente não se dividirá,
atingindo os tecidos em série, passando com igual intensidade por todos os condutores.

Nesse caso, aplicando-se a fórmula que calcula a quantidade de calor, receberá uma maior

quantidade de calor aquele condutor que ofereça maior resistência à passagem da corrente.

Locais de maior perigo para a passagem de corrente elétrica no corpo humano:

a) Encéfalo;

b) Cérebro;
c) Tronco cerebral ou tronco encefálico;

d) Bulbo (nervo vago);


e) Coração;
f) Musculatura respiratória;

Passando por esses locais, o perigo de vida e de gravidade das lesões com possibilidade
de sequela permanente será maior do que se a corrente passar apenas pela pele.

5.5. Lesões e mortes por baropatias

As baropatias constituem alterações no organismo causadas por pressões muito altas ou


muito baixas, assim como as variações bruscas de pressão ambiental. Mergulhadores e

mineiros são as pessoas mais susceptíveis de sofrer as consequências dos barotraumas.

Três leis buscam explicar esse fenômeno:

I) Lei de Boyle-Mariotte: sob temperatura constante, o volume ocupado por uma


massa de gás é inversamente proporcional à pressão suportada.

26
II) Lei de Henry: a concentração de um gás dissolvido em uma massa líquida é

diretamente proporcional à pressão exercida pela fase gasosa da mistura líquido-gás.

III) Lei de Dalton: a pressão exercida por uma mistura gasosa é igual à soma das

pressões parciais de cada componente da mistura.

5.5.1. Situações de descompressão - Doença dos caixões ou mal

dos escafandristas.

Os casos de descompressão podem aparecer, principalmente, em mergulhadores e


ocorrem sobretudo em função da Lei de Henry. Sabe-e que quanto mais uma pessoa desce

para o fundo da água, maior é a pressão exercida sobre seu corpo, tendo em vista a grande
quantidade de água sobre ele.

Aliado a este fato, uma pessoa pode respirar normalmente sob a água através de

equipamentos de mergulho, e, como os cilindros contém, na maior parte, o mesmo ar


atmosférico, sendo composto basicamente por cerca de 21% de oxigênio e 79% de nitrogênio,

ocorre que o primeiro gás é aproveitado pelo corpo humano, enquanto o segundo não.

Apesar de não ser aproveitado, o nitrogênio continua a ingressar na corrente sanguínea. À


medida que o corpo humano é submetido a uma pressão maior por conta da submersão (a

cada 10 metros a pressão sobe em 1 ATM), os gases vão se dissolvendo em maior quantidade
no sangue, ainda que não sejam utilizados.

Quando um mergulhador volta à superfície de maneira inadequada, pode vir a sofre a


doença da descompressão (ou doença descompressiva), que surge justamente da maneira
inversa como os gases foram diluídos no sangue, ou seja, o gás – até então mantido diluído

no sangue – retorna à forma gasosa de maneira brusca, sem que seja eliminado pelo corpo
humano. É situação similar à que ocorre ao se abrir rapidamente uma garrafa de refrigerante.

O quadro da doença descompressiva é relacionado a dores articulares (artralgia) e

manifesta-se com horas ou dias, decorrendo, portanto, do nitrogênio, que pode causar a
ruptura de tecidos humanos.

27
O pulmão, ao nível do mar, tem capacidade para 6 litros de ar, dobrando essa capacidade

a cada 1 ATM. Quanto mais fundo, mais ATM, e, consequentemente, a capacidade de ar vai
aumentando. É um quadro lento e progressivo. Surgem bolhas nos líquidos orgânicos.

Utiliza-se a câmara hiperbárica para o tratamento da doença de descompressão,

restabelecendo uma maior pressão para que ao gases voltem a ser diluídos na corrente
sanguínea e eliminados gradativamente pelo corpo através da respiração.

5.5.2. Mal das montanhas ou dos aviadores.

Ocorre em razão da diminuição da pressão. A pressão atmosférica normal corresponde a

uma coluna de mercúrio de 760 mm ao nível do mar ou também 1.036 kg/cm², o que
equivale a 1 atmosfera (ATM).

À medida que subimos, essa pressão também diminui e o ar vai ficando mais rerefeito. Há

diminuição de oxigênio e do gás carbônico, e a composição do ar altera o fenômeno da


hematose.

Tais perturbações são compensadas pela “poliglobulina das alturas”, que se constitui em

um considerável aumento de glóbulos vermelhos no sangue e que no indivíduo reverte


espontaneamente em poucos dias.

É bastante comum nas altitudes acima de 2.500 m, sendo agravado com o esforço físico,
apresentando como sintomas mais comuns a cefaleia (dor de cabeça), dispineia, anorexia,
fadiga, insônia, tonturas e vômitos. Quando crônica, recebe o nome de Doença do Monge

(indivíduos que habitam durante muito tempo o alto das montanhas).

E por hoje é só, pessoal!!! Finalizamos mais um tema de grande importância para as
provas de concursos. Lembrem-se sempre se estar revisando o conteúdo e treinando a

resolução de questões!

28
QUADRO SINÓTICO

Dividem-se basicamente em três categorias

de agentes vulnerantes:

1) Ação térmica;
ENERGIAS DE ORDEM FÍSICA 2) Ação elétrica;

3) Ação da pressão atmosférica;

Ação do calor: Em se tratando do calor quente, se a fonte de


calor tiver contato direto com a vítima (condução), dá-se à

lesão o nome de queimadura. Ao contrário, se a fonte de calor


não tem contato direto com a vítima (ação a distância ou

atuação difusa), as lesões recebem o nome de termonoses.

 Queimaduras x Termonoses: que a primeira é resultado


da fonte de calor em contato direto com a vítima; já a

Lesões e mortes segunda é resultado da atuação difusa do calor (ação a


distância).
causadas pela
Termonoses:
ação térmica
a) Insolação: A insolação é uma termonose causada por

exposição demorada ao sol.


b) Intermação: Trata-se de uma termonose causada por

outra fonte de calor que não seja o sol.

Formas de troca de calor entre o corpo e o ambiente:

V) Condução – contado íntimo e direto do corpo com a


fonte de calor;

29
VI) Irradiação – é a emissão de calor, atuando de forma

difusa, a partir de raios de calor;


VII) Convexão – trocas de temperatura a partir de

sucessivas ondas térmicas;


VIII) Evaporação – é a transpiração do organismo vivo;

Queimaduras - Principais agentes vulnerantes causadores de

queimaduras:

 Fogo;
 Líquido fervente;

 Sólido incandescente;
 Vapores superaquecidos;

Classificação das queimaduras:

a) Primeiro grau – eritema;

b) Segundo grau – flictena;


c) Terceiro grau – escarificação (feridas);

d) Quarto grau – carbonização;

Lesões provocadas pela ação do frio:

a) De forma difusa – Hipotermia;


b) De forma direta – Geladura;

Classificação das geladuras:

 1º Grau – Eritemas, formados em razão da


vasoconstricção no nível da pele, com palidez inicial e

rubor secundário;
 2º Grau – Flictenas;
 3º Grau – Necrose ou gangrena, em razão da

coagulação do sangue nos capilares e a consequente


ausência de irrigação;

30
Existem dois tipos de eletricidade: a eletricidade
industrial/doméstica/artificial; e a eletricidade
natural/cósmica/meteórica.

 Eletroplessão – Eletricidade industrial/artificial;


 Fulguração e fulminação – Eletricidade natural;
 Fulguração – quando não ocorre morte;

 Fulminação – quando ocorre a morte;

Eletroplessão – sinal/marca de Jellinek:

Indica o local de entrada da corrente elétrica industrial


(eletroplessão), podendo ou não se mostrar evidente no corpo.
Essa marca, quando aparece, fica evidente na pele, no exato

Lesões e mortes ponto de contato da corrente elétrica com o corpo. Possui as

seguintes características:
causadas pela
 Lesão dura;
ação elétrica
 De bordas elevadas;

 É seca e indolor;
 Apresenta profundidades variáveis;

 Pode reproduzir a forma do condutor elétrico na pele;


 Tem aspecto microscópico, em colmeia e com células

em paliçada;

Fulguração – sinal/marca de Lichtemberg:

Indica que a vítima foi atingida por corrente elétrica natural


(fulguração ou fulminação), a exemplo de um raio. Quando a

corrente elétrica natural passa pelo corpo de uma pessoa, os


vasos sanguíneos ficam dilatados. Como o sistema circulatório
dos vasos é ramificado, é possível ver na pele o desenho dos

31
vasos sanguíneos.

Assim, os vasos ficam dilatados, podendo ser visualizados

através da pele. Apresenta as seguintes características:

 Tem aspecto arboriforme, de folha de samambaia


(ramificação dos vasos semelhante à folhagem de uma

árvore);
 Ramificação que reproduz o desenho dos vasos

sanguíneos;
 Lesão que aparece na pele, mas que ocorre nos vasos

sanguíneos afetados;
 É uma vasculite;

 É eventual e temporária;

As baropatias constituem alterações no organismo causadas por


pressões muito altas ou muito baixas, assim como as variações

bruscas de pressão ambiental. Mergulhadores e mineiros são as


pessoas mais susceptíveis de sofrer as consequências dos

barotraumas.

Situações de descompressão – Doença dos caixões ou mal


dos escafandristas:

Lesões e mortes Quando um mergulhador volta à superfície de maneira

por baropatias inadequada, pode vir a sofre a doença da descompressão (ou


doença descompressiva), que surge justamente da maneira

inversa como os gases foram diluídos no sangue, ou seja, o gás


– até então mantido diluído no sangue – retorna à forma
gasosa de maneira brusca, sem que seja eliminado pelo corpo

humano. É situação similar à que ocorre ao se abrir rapidamente


uma garrafa de refrigerante.

32
Mal das montanhas ou dos aviadores:

Ocorre em razão da diminuição da pressão. A pressão

atmosférica normal corresponde a uma coluna de mercúrio de


760 mm ao nível do mar ou também 1.036 kg/cm², o que

equivale a 1 atmosfera (ATM).

É bastante comum nas altitudes acima de 2.500 m, sendo


agravado com o esforço físico, apresentando como sintomas

mais comuns a cefaleia (dor de cabeça), dispineia, anorexia,


fadiga, insônia, tonturas e vômitos. Quando crônica, recebe o

nome de Doença do Monge (indivíduos que habitam durante


muito tempo o alto das montanhas).

33
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(2010 - FUNIVERSA - SPTC-GO - Auxiliar de Autópsia) As queimaduras são lesões

desencadeadas por agentes físicos, nas superfícies corporais. Dependendo da causa, podem
ser classificadas em térmicas, elétricas e químicas. As que ocorrem mais frequentemente são
as térmicas, sendo causadas pela exposição ao calor. De acordo com o grau de profundidade

da lesão, as queimaduras podem ser classificadas como:

A) As de primeiro grau atingem a derme.

B) As de segundo grau atingem somente a epiderme.

C) As de terceiro grau atingem somente a hipoderme.

D) As de primeiro grau atingem somente a hipoderme.

E) As de primeiro grau atingem a epiderme.

Comentário:

As queimaduras são classificadas do 1º ao 4º grau, de acordo com a gravidade da lesão,


e segundo a classificação de Lussena-Hoffman. Vimos que cada grau apresenta lesões

com características peculiares e visíveis principalmente na pele. De acordo com as


alternativas, a que preenche corretamente o gabarito é a letra “e”. Isso porque a

queimadura de primeiro grau apenas dilata os vasos sanguíneos, causando um rubor e


um aumento de temperatura no local da queimadura. Regenera-se completamente, e

desaparece após algumas horas.

34
Questão 2

(Polícia Civil - MG – Perito - 2011) A mais simples lesão superficial da pele produzida pela
eletricidade artificial caracterizada por consistência endurecida, bordas altas, leito deprimido,

tonalidade branco-amarelada, fixa, indolor, asséptica e de fácil cicatrização é denominada:

A) Marca de Chambert.

B) Marca de Piacentino.

C) Marca de Jellinek.

D) Marca de Montalti.

E) Marca de Lichtenberg.

Comentário:

Aqui a questão aborda o fenômeno denominado de eletroplessão, que acarreta o


surgimento de lesões devido à ação da eletricidade artificial/industrial. A lesão causada

pela entrada da corrente elétrica no local específico de contato da corrente com a pele,
que apresenta as características apontadas no enunciado, denomina-se marcas de

Jellinek. O gabarito que atende ao enunciado, portanto, está na alternativa “c”.

Questão 3

(2015 - FUNIVERSA - SPTC-GO - Médico Legista de 3º Classe) Assinale a alternativa que

apresenta a síndrome desencadeada pela eletricidade artificial, não necessariamente letal.

A) eletroplessão

B) metalização

C) fulminação

D) eletrocussão

E) fulguração

35
Comentário:

A lesão causada pela eletricidade artificial é denominada eletroplessão, podendo ou não

resultar morte do indivíduo. O gabarito da questão, portanto, está na letra “a”.

Questão 4

(FUMARC - 2011 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) A eletricidade natural ou cósmica,

reportando ao capítulo das energias lesivas de ordem física, agindo letalmente sobre o
homem, denomina-se:

A) Eletroemissão.

B) Eletroplessão.

C) Fulminação.

D) Fulguração.

Comentário:

Vejam como são recorrentes as questões que abordam a diferenciação acerca da ação da

eletricidade natural e da eletricidade industrial. Vimos no tópico referente às lesões e


mortes pela ação elétrica a diferenciação entre as lesões produzidas por ambas as fontes

de eletricidade. A lesão letal decorrente de ação da eletricidade natural ou cósmica é


denominada fulminação. Observem que a questão não exige a definição peculiar dada
pelo professor Hygino, portanto, a alternativa que responde corretamente ao enunciado

da questão é a letra “c”.

Questão 5

(FUNCAB - 2013 - PC-ES - Médico legista) Nas queimaduras por fogo, sob chama direta:

A) as lesões são descendentes, de acordo com a força de gravidade.

B) as lesões têm contorno nítido e forma bem definida.

36
C) os pelos estão habitualmente crestados.

D) as lesões classificadas como superficiais cursam com formação de bolhas.

E) as áreas protegidas pelas vestes geralmente são poupadas.

Comentário:

Como vimos no tópico referente às queimaduras, mais especificamente em relação à


identificação dos agentes vulnerantes que as produzem, as queimaduras de fogo

apresentam algumas características peculiares, dentre elas algumas que fornecem à


perícia médico-legal um diagnóstico de certeza quando ao agente causador da lesão.

Dentre elas, a que mais se destaca é a presença de pelos crestados. Sendo assim, a
alternativa que responde corretamente ao enunciado da questão é a letra “c”. Ademais,

as outras alternativas encontram-se incorretas por apresentarem aspectos característicos


de queimaduras produzidas por outros agentes vulnerantes, a saber a alternativa “a”, que

traz elementos típicos das queimaduras produzidas por líquidos ferventes.

Questão 6

(CESPE - 2012 - PC-AL - Escrivão de Polícia) Julgue os itens a seguir, relacionados a perícias

e a laudos médico-legais.
Para a confirmação da causa morte de uma vítima fatal de eletroplessão o perito deve

identificar, nessa vítima, a marca elétrica de Jellinek, que consiste em uma queimadura bem
definida na pele.

Comentário:

A marca de Jellinek é, de fato, uma lesão produzida pela ação da eletricidade industrial,

indicando o ponto de entrada da corrente elétrica no corpo da vítima, caracterizando o


fenômeno da eletroplessão. É uma ferida na pele, dura e geralmente indolor. O equívoco

da assertiva encontra-se no ponto em que afirma que o perito DEVE procurar a marca de

Jellinek, quando ela pode ou não ocorrer. Gabarito: errado.

37
Questão 7

(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) O sinal de Lichtemberg é uma característica que
pode ser encontrada nas mortes por:

A) asfixia.

B) afogamento.

C) eletroplessão.

D) soterramento.

E) fulminação.

Comentário:

Mais uma vez a questão cobra as características e a nomenclatura diferencial das lesões

produzidas pela ação elétrica natural e industrial. Como vimos, a corrente elétrica
industrial produz lesões e morte a partir do fenômeno da eletroplessão; ao passo que a

eletricidade natural ou cósmica gera, de acordo com a maioria da doutrina, dois tipos de
lesão, a depender de haver ou não morte: fulguração (quando não há morte) e

fulminação (quando ocorre a morte). De acordo com o enunciado da questão, nos casos

de morte, ocorrerá a fulminação, sendo o nosso gabarito a alternativa “e”.

Questão 8

(PC-MG - 2011 - PC-MG - Delegado de Polícia) A classificação das queimaduras, que


considera a profundidade das lesões, é definida em graus, do primeiro ao quarto. Uma

queimadura que apresenta vesículas ou flictenas, contendo líquido seroso, remete-se:

A) primeiro grau.

B) segundo grau.

C) terceiro grau.

D) quarto grau.

38
Comentário:

Aqui está sendo cobrado do candidato o conhecimento da classificação das queimaduras

em graus (classificação de Lussena-Hoffman), e suas respectivas características


elementares. Como vimos, a queimadura que apresenta a formação de lesões cutâneas

com aspecto bolhoso, denominadas de flictenas, é a queimadura de segundo grau. O

gabarito da questão, portanto, está na letra “b”.

Questão 9

(FUNCAB – Escrivão de Polícia – PC-PA/2016) A hipotermia é uma situação causada pela


ação do:

A) Calor direto.
B) Ácido sulfúrico.
C) Frio.
D) Calor difuso.
E) Projétil de arma de fogo.
Comentário:

Aqui a questão aborda o conhecimento da classificação da atuação do frio. Como vimos,


semelhante ao que ocorre com o calor, o frio pode atuar de duas maneiras sobre o

organismo humano, a saber: de forma direta e de forma difusa. Quando atua de forma
direta, as lesões produzidas recebem o nome de geladuras, ao passo que, quando atua

de forma difusa, ocorre o que chamamos de hipotermia. O gabarito que responde ao


enunciado da questão, portanto, está na alternativa “c”.

Questão 10

(FUNCAB – Delegado de Polícia – PC-PA/2016) Durante a necropsia de um cadáver é


encontrado o sinal de Montalti. Esse sinal é um importante indício para saber se a vítima:.

A) possui lesões provocadas por projéteis de arma de fogo.

B) ingeriu alguma substância líquida que a levou a óbito.

39
C) possui lesões provocadas pela eletricidade.

D) respirou, pois pode ser observada fuligem ao longo de suas vias respiratórias.

E) sofreu alguma espécie de barotrauma.

Comentário:

Aqui temos um tema bastante interessante e de importância tanto teoria, para efeitos de
prova, quanto prática, para o dia a dia da perícia forense. Trata-se da investigação da

causa da morte de vítimas de incêndio, sobretudo para a determinação do momento em


que se deu o óbito (se antes ou depois de se iniciar o incêndio). Se a vítima estava viva

quando o incêndio foi iniciado, significa que ela respirou, inalando a fumaça e os gases
tóxicos provenientes da combustão. Com isso, haverá vestígios de fuligem impregnando

sua traqueia e sua árvore respiratória como um todo. Isso porque o fogo produz lesões
externas e também internas. A essas características dá-se o nome de sinal de Montalti. O

gabarito que resonde corretamente nosso enunciado, portanto, está na alternativa “d”.

Questão 11

(IBADE – Agente de Polícia Civil – PC-AC/2017) Um mergulhador que sai do fundo de um

rio e sobre muito rapidamente pode estar sujeito aos efeitos da descompressão. Tal fato é
considerado um:

A) Fenômeno abiótico imediato.


B) Afogamento.
C) Fenômeno abiótico consecutivo.
D) Fenômeno cadavérico transformativo.
E) Barotrauma.

Comentário:

Como vimos no tocante às lesões pela ação da pressão atmosférica, a mudança brusca

de pressão é capaz de acarretar danos ao organismo humano. A essas lesões dá-se o


nome de barotraumas. No caso, o enunciado se refere expressamente à doença da

descompressão.

40
GABARITO

Questão 1 - E

Questão 2 - C

Questão 3 - A

Questão 4 - C

Questão 5 – C

Questão 6 - Errado

Questão 7 - E

Questão 8 - B

Questão 9 - C

Questão 10 – D

Questão 11 - E

41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.

DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed.

São Paulo: Editora Saraiva, 2007.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina


Legal, 3ª ed. Salvador: Editora Jus Podium, 2018.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015,
p. 360.

GALVÃO, Malthus. Marca de Jellineck. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br.


Acesso em: 10/02/2020.

GALVÃO, Malthus. Sinal de Lichtemberg. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br.


Acesso em: 10/02/2020.

HERCULES, Hygino de C., Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005.

42
CARREIRAS POLICIAIS

Medicina Legal
Capítulo 6
SUMÁRIO

MEDICINA LEGAL, Capítulo 6 .................................................................................................................................... 2

6. Energias de Ordem Química. ............................................................................................................................... 2

6.1. Conceito. ................................................................................................................................................................... 2

6.2. Cáusticos. .................................................................................................................................................................. 2

6.2.1 Conceito. ................................................................................................................................................................... 2

6.2.2 Vitriolagem. .............................................................................................................................................................. 3

6.2.3 Profilaxia médica das lesões causadas pelos cáusticos........................................................................ 4

6.2.4 Perícia médico-legal - Lesões internas no organismo causadas pela ação dos ácidos e
bases cáusticas.................................................................................................................................................................... 5

6.3 Venenos..................................................................................................................................................................... 6

6.3.1 Conceito e classificação...................................................................................................................................... 6

6.3.2 Fases do percurso do veneno no organismo: .......................................................................................... 6

6.3.3 Síndrome de Body Packer. ................................................................................................................................ 7

6.3.4 Perícia toxicológica nos casos de envenenamento. ............................................................................... 8

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 11

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 16

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 21

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 22

1
MEDICINA LEGAL

Capítulo 6

6. Energias de Ordem Química.

6.1. Conceito.

Energias de ordem química são aquelas que atuam nos tecidos vivos, a partir do contato
interno ou externo, através de substâncias que provocam alterações de natureza somática,

fisiológica ou psíquica, podendo, inclusive, levar à morte. São exemplos mais comuns de
agentes vulnerantes de ordem química os cáusticos e os venenos1.

6.2. Cáusticos.

6.2.1 Conceito.

São substâncias que, de acordo com sua natureza química, provocam lesões
tegumentares (lesões nos tecidos) mais ou menos graves. Essas substâncias podem resultar

em efeitos coagulantes ou liquefacientes.

I) As de efeito coagulante são aquelas que desidratam os tecidos e lhes causam


escaras (feridas) endurecidas e de tonalidade diversa, podendo ser ocasionadas
por certas substâncias, a exemplo do nitrato de prata, o acetato de cobre e o
cloridrato de zinco.

II) As de efeito liquefaciente produzem escaras úmidas, translúcidas, moles e têm


como principais agentes causadores a soda, a potassa e a amônia.

1
DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo:
Editora Saraiva, 2007, p. 128.
2
6.2.2 Vitriolagem.

Existe um tipo de composto químico líquido chamado ácido, da categoria das substâncias

cáusticas, que produz queimaduras pelo fato de desencadear uma reação exotérmica
(liberação de calor). Um dos ácidos mais utilizados em medicina legal é o ácido sulfúrico,

sendo extremamente corrosivo. O nome comumente empregado para o ácido sulfúrico é óleo
de vitríolo, pelo que o emprego dessa substância para causar lesões nas vítimas é chamado

de vitrioagem.

Na vitriolagem surgem as lesões viscerais e cutâneas, podendo sua causa ser criminosa,
suicida ou acidental. Quando criminosa, a ação é dada pelo arremesso de ácidos

propriamente ditos ou de outras bases cáusticas, geralmente contra a face da vítima, pescoço,
tórax ou até mesmo contra seu aparelho genital. Vejam nas imagens abaixo exemplos de
lesões de vitriolagem:

Quase sempre a ação criminosa é motivada por ciúmes, tendo o objetivo de causar
deformidades no corpo da vítima, configurando o crime de lesão corporal gravíssima, nos

termos do art. 129, § 2º, IV do Código Penal.

Em casos de acidentes, as hipóteses mais comuns de ocorrência de vitriolagem se dão por


ingestão involuntária de substâncias cáusticas por indivíduos embriagados ou até mesmo no
ambiente de fábricas, quando da ocorrência de explosões ou de derrame de recipientes em
que são armazenadas tais substâncias.

3
6.2.3 Profilaxia médica das lesões causadas pelos cáusticos.

As queimaduras químicas tendem a ser profundas e progressivas até enquanto a

substância cáustica não é totalmente afastada ou neutralizada por meio da lavagem


abundante das lesões com água corrente ou soro fisiológico.

No tratamento local das queimaduras causadas pela ação dos ácidos e cáusticos quando

elas comprometem áreas nobres (como a face e extremidades ou tórax), a primeira medida
recomendada consiste em despir rapidamente a vítima e submetê-la à lavagem imediata com

grande volume de água durante várias horas – o tempo decorrido entre o evento danoso e a
remoção da substância com água está diretamente relacionado com a profundidade e

extensão da lesão -, objetivando a diluição hídrica do agente cáustico e assim diminuir a taxa
de reação química entre a substância e os tecidos atingidos.

O procedimento de lavagem é de maior importância até do que a neutralização da

substância cáustica por seu antídoto (ácido ou base), pois que a neutralização por álcali, por
exemplo, gera também uma reação exotérmica e acaba por aumentar o risco de ocasionar
queimadura adicional, além de sua ação orgânica ser apenas superficial, não atingindo os

tecidos mais profundos lesados pelo cáustico.

A causa da morte no tratamento médico da vitriolagem está atrelada com a hipotensão e


necrose tubular aguda, em não raros casos, devido a erros na identificação inicial do grau de

extensão e profundidade da lesão, acarretando a desidratação do organismo.

Isso porque a lesão de queimadura causada pela ação de ácidos e cáusticos,


semelhantemente ao que ocorre com o fogo, destrói a epiderme, deixando a derme exposta,

o que acarreta intensa perda de água (uma vez que a camada epidérmica é queratinizada e
funciona como impermeabilizante), podendo ocorrer morte por desidratação.

Ainda que se consiga combater essa intensa desidratação, existe um risco muito alto de

infecção por bactérias que entram em contado com a camada mais profunda da pele. Por
isso, quanto mais extensa for a área atingida pela ação do ácido, maior a desidratação e maior
a possibilidade de infecção.

4
6.2.4 Perícia médico-legal - Lesões internas no organismo causadas

pela ação dos ácidos e bases cáusticas.

Quando há lesões internas, a morte pode advir como consequência do choque

neurogênico, perfuração do estômago, da hemorragia gástrica, de asfixia por edema da


glote, infecções locais ou generalizadas, dentre outras causas. Assim, quando da realização

da necropsia, é possível que o perito encontre:

a) Lesões múltiplas nos rins, fígado, no aparelho gastrointestinal como um todo,


vasos trombosados, hiperemia do sistema nervoso central;

b) Estômago de coloração negra e com volume reduzido, e, por vezes, pergaminho


ou coriáceo;

c) Parede gástrica edemaciada e necrosada, de consistência diminuída;

d) Sangue transformado em uma massa gelatinosa e achocolatada, similar aos


casos de vítimas de queimaduras;

e) A mucosa oral e o tubo digestivo apresentam coloração e consistência


modificadas de acordo com o tipo de cáustico e do tempo da ingestão;

No geral, são percebidas congestão e intensa hemorragia estomacal, a depender do tipo

de cáustico e do tempo de sobrevida, caracterizando uma gastrite aguda grave, podendo,


inclusive, haver perfuração deste órgão e uma consequente peritonite química.

Em havendo sobrevida por mais de um dia, é possível a detecção de extensas áreas de

necrose e destruição da mucosa, bem como edemas das outras camadas da parede
estomacal, que acaba por se tornar bastante espessa.

Qualquer que tenha sido o agente cáustico que provocou o dano, caso a vítima venha a

sobreviver, haverá fibrose das lesões devido à evolução da reação inflamatória que ocorre
na fase aguda.

5
As lesões podem ocorrer por ingestão direta ou aspiração do cáustico, sendo

comumente observadas na boca, em toda a extensão do estômago e nas vias aeras (em caso
de aspiração da substância corrosiva).

Nesse último caso (aspiração da substância), conforme o grau de penetração nas vias

aéreas, as lesões poderão se restringir à laringe ou também ingressar nos pulmões, caso em
que haverá a formação de intenso edema pulmonar ao longo de toda a extensão do órgão.

6.3 Venenos.

6.3.1 Conceito e classificação.

Pode-se conceituar veneno como qualquer substância que, introduzida pelas mais
diversas vias no organismo, ainda que homeopaticamente, danifica a vida ou a saúde. Podem

ser classificados da seguinte maneira:

I) Quanto ao estado físico: sólidos, líquidos e gasosos;


II) Quanto à origem: animal, vegetal, mineral e sintético;
III) Quanto às funções químicas: óxidos, ácidos, bases e sais;
IV) Quanto ao uso: doméstico, agrícola, industrial, medicinal, cosmético, dentre outros.

6.3.2 Fases do percurso do veneno no organismo:

a) Penetração: pode ser oral, gástrica, retal, dentre outras, sendo a via
orogastrointestinal a mais comumente usada (ingestão oral).

b) Absorção: é o processo pelo qual o veneno chega à parte interna dos tecidos
orgânicos.

c) Fixação: é a etapa do envenenamento em que a substância tóxica se localiza em


certos órgãos, a variar conforme o grau de afinidade.

d) Transformação: é o processo pelo qual o organismo tenta se defender da ação


química e tóxica causada pela substância venenosa, de modo que o organismo

6
apresenta mecanismos que facilitam a eliminação do veneno e atenuação dos seus
efeitos.

e) Distribuição: é a fase em que o veneno, ao penetrar na circulação, estende-se pelos


mais variados tecidos internos2.

f) Eliminação: etapa na qual o veneno é expelido pelas vias naturais do organismo;

g) Mitritização: fenômeno que se caracteriza pela elevada resistência orgânica contra


os efeitos tóxicos da substância venenosa3.

h) Toxicidade: propriedade de determinada substância para causar dano interno ao


organismo humano;

i) Sinergismo: é a ação potencializadora dos efeitos tóxicos decorrentes da ingestão


simultânea de várias substâncias venenosas.

j) Equivalente tóxico: quantidade mínima de veneno capaz de matar por via


intravenosa.

6.3.3 Síndrome de Body Packer.

Ocorre frequentemente com as pessoas vulgarmente conhecidas como “mulas do tráfico”,

que são contratadas pelas organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas para fazer o
transporte das substâncias ilícitas, notoriamente de cocaína, anfetaminas ou heroína.

Em não raros casos, a realização desse transporte de substâncias se dá pela ingestão

destas e o seu armazenamento no interior do organismo (estômago ou intestino), como


forma de burlar a fiscalização policial nas áreas de fronteiras terrestres ou em aeroportos.

2
Vide questões 1 e 3 deste material para saber a forma de abordagem deste conteúdo.
3
Vide questão 2 deste material para saber a forma de abordagem deste conteúdo.
7
Nesses casos, pode ocorrer o rompimento da cápsula isolante que armazena a

substância dentro do organismo, acarretando a morte por overdose da droga ou intoxicação


aguda e maciça do organismo.

A síndrome de Body Packer é diferente da síndrome de Body Pusher, uma vez que, nesses
casos, ocorre com aqueles que transportam pequenas quantidades de drogas nos orifícios

naturais.

6.3.4 Perícia toxicológica nos casos de envenenamento.

A perícia toxicológica nos casos de suspeita de envenenamento é feita por perito

especializado em química, pois que, dada a sua importância, a toxicologia forense deixou de
ser um simples ramo ou subdivisão da medicina legal, passando a ganhar status de ciência

autônoma4.

Para afirmar o diagnóstico de morte por envenenamento, o perito legista busca nortear-
se pelo critério físico-químico ou toxicológico, procurando isolar, identificar e dosar (no

sangue colhido do coração e dos vasos da base, na urina, vísceras, e nos tecidos em geral) as
substâncias tóxicas suspeitas, associado ao critério médico-legal, de modo a fundamentar suas

deduções na possível ausência de outras lesões, na necrópsica, que justifiquem a causa da


morte.

O interesse médico-legal na determinação da causa da morte por envenenamento tem

efeitos jurídicos de ordem prática, que se refletem na própria tipificação da conduta


criminosa, e, por consequência, em todo o desenrolar da persecução penal. Isso porque o

homicídio praticado mediante o emprego de veneno (veneficio) caracteriza-se como

4
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 388.
8
homicídio qualificado (art. 121, § 2º, III), e, por consequência, configura crime hediondo nos

termos do art. 1º, I da Lei 8.072/90.

Nos casos de identificação de ação orgânica de venenos e tratamento de pessoas vivas,


quando as circunstâncias do caso de envenenamento são suspeitas, o médico do paciente tem

o dever de preservar qualquer indício que se possa mostrar de especial valor, como vômito,
urina ou fezes excretadas; alimento ou medicamentos que possivelmente tenham contribuído

para os sintomas, de modo a armazená-los em recipientes de vidro limpos e selados para


prevenir qualquer alteração fraudulenta.

Os referidos frascos contendo o material coletado serão enviados à autoridade

competente, que determinará a sua análise posterior por especialista em toxicologia. Quando
da realização dos exames laboratoriais, o perito deverá tomar o cuidado de anotar

minuciosamente os dados sobre suas observações referentes ao caso (que terão importante
valor probatório se for necessário a prestação de seu testemunho em Juízo).

Nos casos em que se verificar o óbito do paciente, o médico assistente não deverá

assinar o atestado de óbito ou mesmo permitir a remoção do cadáver para exumação. Em


se tratando de exumação, veremos adiante com mais detalhes no capítulo referente à
tanatologia forense as hipóteses de constatação de substâncias venenosas em cadáveres. Mas,

devido à importância do tema, vamos adiantar um pouco da explanação apenas para fins de
esclarecimento, com o fim de dar uma visão mais abrangente sobre o assunto.

Pode acontecer de o cadáver de pessoa vítima de envenenamento ser enterrado sem que

se tenha feito o exame pericial necroscópico com o objetivo específico de buscar indícios de
morte por envenenamento, por motivos variados que sejam, a saber, por exemplo, a ausência

de suspeita inicial de que houve administração de substância venenosa na vítima por ação
criminosa.

Não obstante, ainda que não se tenha feito exame toxicológico inicialmente, é possível

que haja a sua realização em momento posterior, a través da exumação judicial, sendo
aquela que é determinada por interesse da justiça.

9
Nesses casos, ainda que haja a esqueletização do cadáver, é possível identificar a

presença de substâncias venenosas que por ventura vieram a causa o óbito da vítima. A
constatação desse fato se faz mediante a análise química e laboratorial de materiais

orgânicos já putrefeitos encontrados na chamada sombra cadavérica.

A sombra cadavérica é um material líquido resultante da completa putrefação do


cadáver. O processo de putrefação de perfaz por várias fases, sendo uma delas conhecida

como liquefação cadavérica, em que todo o material dos tecidos orgânicos que compõem o
corpo, durante o processo de apodrecimento, transforma-se em líquido, reduzindo

literalmente o corpo a uma massa líquida e fétida.

Esses líquidos, quando já enterrado o cadáver ou mesmo quando simplesmente


descartado em um lugar qualquer, escorrem impregnando o fundo do caixão e o solo da

sepultura. Assim, a coleta de materiais contaminados com esses líquidos putrefeitos permite
que haja a sua análise laboratorial e realização de exame toxicológico das substâncias ali
encontradas.

Com isso é possível, mesmo após a liquefação, nos casos de posterior suspeita de
envenenamento, identificar a presença de substâncias venenosas causadoras da morte do
indivíduo, de modo a suprir o conjunto probatório e conduzir o processo criminal pelo

caminho correto.

10
QUADRO SINÓTICO

São aquelas que atuam nos tecidos vivos, a

partir do contato interno ou externo, através


de substâncias que provocam alterações de

natureza somática, fisiológica ou psíquica,


ENERGIAS DE ORDEM QUÍMICA podendo, inclusive, levar à morte. São

exemplos mais comuns de agentes


vulnerantes de ordem química os cáusticos e
os venenos

São substâncias que, de acordo com sua natureza química,


provocam lesões tegumentares (lesões nos tecidos) mais ou

menos graves. Essas substâncias podem resultar em efeitos


coagulantes ou liquefacientes.

a) Efeito coagulante: desidratam os tecidos e lhes causam


escaras (feridas) endurecidas e de tonalidade diversa,
podendo ser ocasionadas por certas substâncias, a
exemplo do nitrato de prata, o acetato de cobre e o
CÁUSTICOS
cloridrato de zinco.

b) Efeito liquefaciente: produzem escaras úmidas,


translúcidas, moles e têm como principais agentes
causadores a soda, a potassa e a amônia.

Vitriolagem:

Existe um tipo de composto químico líquido chamado ácido, da


categoria das substâncias cáusticas, que produz queimaduras

11
pelo fato de desencadear uma reação exotérmica (liberação de

calor). Um dos ácidos mais utilizados em medicina legal é o


ácido sulfúrico, sendo extremamente corrosivo. O nome

comumente empregado para o ácido sulfúrico é óleo de


vitríolo, pelo que o emprego dessa substância para causar

lesões nas vítimas é chamado de vitrioagem. Na vitriolagem


surgem as lesões viscerais e cutâneas, podendo sua causa ser
criminosa, suicida ou acidental.

 Obs.: quando a ação é criminosa, quase sempre é


motivada por ciúmes, tendo o objetivo de causar
deformidades no corpo da vítima, configurando o

crime de lesão corporal gravíssima, nos termos do art.


129, § 2º, IV do Código Penal.

A causa da morte no tratamento médico da vitriolagem está

atrelada com a hipotensão e necrose tubular aguda, em não


raros casos, devido a erros na identificação inicial do grau de

extensão e profundidade da lesão, acarretando a desidratação


do organismo.

Perícia médico-legal da vitriolagem – Lesões internas:

Quando há lesões internas, a morte pode advir como

consequência do choque neurogênico, perfuração do


estômago, da hemorragia gástrica, de asfixia por edema da

glote, infecções locais ou generalizadas, dentre outras causas.


Assim, quando da realização da necropsia, é possível que o

perito encontre:

f) Lesões múltiplas nos rins, fígado, no aparelho


gastrointestinal como um todo, vasos trombosados,
hiperemia do sistema nervoso central;

12
g) Estômago de coloração negra e com volume
reduzido, e, por vezes, pergaminho ou coriáceo;

h) Parede gástrica edemaciada e necrosada, de


consistência diminuída;

i) Sangue transformado em uma massa gelatinosa e


achocolatada, similar aos casos de vítimas de
queimaduras;

j) A mucosa oral e o tubo digestivo apresentam


coloração e consistência modificadas de acordo com
o tipo de cáustico e do tempo da ingestão;

No geral, são percebidas congestão e intensa hemorragia


estomacal, a depender do tipo de cáustico e do tempo de

sobrevida, caracterizando uma gastrite aguda grave, podendo,


inclusive, haver perfuração deste órgão e uma consequente

peritonite química.

É qualquer substância que, introduzida pelas mais diversas


vias no organismo, ainda que homeopaticamente, danifica a

vida ou a saúde. Podem ser classificados da seguinte maneira:

V) Quanto ao estado físico: sólidos, líquidos e gasosos;


VI) Quanto à origem: animal, vegetal, mineral e sintético;
VII) Quanto às funções químicas: óxidos, ácidos, bases e
VENENOS
sais;
VIII) Quanto ao uso: doméstico, agrícola, industrial,
medicinal, cosmético, dentre outros.

Fases de percurso do veneno no organismo:

k) Penetração: pode ser oral, gástrica, retal, dentre


outras, sendo a via orogastrointestinal a mais

13
comumente usada (ingestão oral).
l) Absorção: é o processo pelo qual o veneno chega à
parte interna dos tecidos orgânicos.
m) Fixação: é a etapa do envenenamento em que a
substância tóxica se localiza em certos órgãos, a variar
conforme o grau de afinidade.
n) Transformação: é o processo pelo qual o organismo
tenta se defender da ação química e tóxica causada
pela substância venenosa, de modo que o organismo
apresenta mecanismos que facilitam a eliminação do
veneno e atenuação dos seus efeitos.
o) Distribuição: é a fase em que o veneno, ao penetrar
na circulação, estende-se pelos mais variados tecidos
internos.
p) Eliminação: etapa na qual o veneno é expelido pelas
vias naturais do organismo;
q) Mitritização: fenômeno que se caracteriza pela
elevada resistência orgânica contra os efeitos tóxicos
da substância venenosa.
r) Toxicidade: propriedade de determinada substância
para causar dano interno ao organismo humano;
s) Sinergismo: é a ação potencializadora dos efeitos
tóxicos decorrentes da ingestão simultânea de várias
substâncias venenosas.
t) Equivalente tóxico: quantidade mínima de veneno
capaz de matar por via intravenosa.

Síndrome de Body Packer

Ocorre frequentemente com as pessoas vulgarmente


conhecidas como “mulas do tráfico”, que são contratadas pelas

organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas para fazer


o transporte das substâncias ilícitas com o seu

armazenamento no interior do organismo. Nesses casos, pode

14
ocorrer o rompimento da cápsula isolante que armazena a

substância dentro do organismo, acarretando a morte por


overdose da droga ou intoxicação aguda e maciça do

organismo.

15
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) Ao estudar as energias de ordem química, deve-

se conhecer a ação dos cáusticos e venenos. Assinale a alternativa correta.

A) A ação dos cáusticos é principalmente interna, com alterações da coagulação sanguínea.

B) Os cáusticos, assim como os venenos, podem ser classificados quanto ao seu estado físico
em líquidos, sólidos e gasosos, podendo agir internamente e externamente.

C) As lesões descritas como vitriolagem são causadas por envenenamento crônico.

D) São fases do percurso do veneno no organismo: penetração, absorção, distribuição, fixação,

transformação, eliminação.

E) São formas de se classificar os cáusticos: estado físico, origem, funções químicas e quanto
ao uso.

Comentário:

Opa! Começamos bem! Aqui a banca cobra a diferenciação entre as principais


características dos cáusticos e venenos, no tocante a sua atuação no organismo e as

lesões que podem causar. Conforme explanamos no tópico referente aos venenos, vimos
que o seu percurso no organismo humano passa por algumas fases à medida que vai

penetrando e agindo no corpo. Dentre as fases mencionadas, estão justamente a


penetração, absorção, distribuição, fixação, transformação e eliminação, cada uma com

suas características de ação da substância venenosa no organismo. A alternativa que


corresponde ao nosso gabarito, portanto, é a letra “d”. Outrossim, analisemos juntos as
demais assertivas. A alternativa “a” está incorreta ao afirmar que a ação dos cáusticos é

16
principalmente interna, o que não é verdade. É bem possível que haja lesões internas

causadas por cáusticos, quando da sua ingestão acidental ou suicida, bem como nos
casos de inalação da substância, que penetra pelas vias aéreas, causando lesões nos

pulmões e na árvore respiratória como um todo. Não obstante, vê-se que as hipóteses
mais frequentes de lesão por cáusticos são resultado de sua ação externa, quando em

contato com a pele, havendo, inclusive, uma nomenclatura específica na literatura


médico-legal para denominar as lesões por ação de ácido, chamada de vitriolagem. A
alternativa “b” está equivocada ao atribuir aos cáusticos a classificação atinente aos

venenos. A alternativa “c” contém erro ao atribuir a vitriolagem à ação dos venenos, o
que, em verdade, corresponde à ação dos ácidos. E a alternativa “e” basicamente repete

o enunciado da alternativa “b”, estando de igual forma incorreta.

Questão 2

(FUNCAB - 2013 - PC-ES - Médico legista) Em relação aos envenenamentos, assinale a


alternativa INCORRETA.

A) Na morte por injeção de cloreto de potássio na veia, o diagnóstico exclusivo por exame de
autopsia é praticamente impossível.

B) A presença de livores róseos, sangue de cor vermelho vivo, trombose dos vasos cerebrais e

dos pulmões, pneumonia e amolecimento cerebral apontam para intoxicação por óxido de
carbono.

C) O cianeto é um gás com odor de amêndoas amargas, que inibe as enzimas que atuam na

cadeia respiratória mitocondrial e produz livores róseos.

D) No saturnismo, o indivíduo pode apresentar um transtorno psicótico capaz de ensejar a


prática de crimes violentos.

E) A intoxicação crônica pelo gás arsênico produz o fenômeno conhecido como mitridatismo.

Comentário:

Aqui temos um assunto que será abordado no capítulo referente à toxicologia forense,
mas que guarda pertinência com o tema aqui trabalhado. A intoxicação aguda por

17
ingestão de arsênico ou seus derivados provoca a inflamação e formação de úlceras na

boca e no tubo digestivo, provocando por vezes hemorragias significativas e uma série
de problemas hepáticos, renais, cardíacos e encefálicos que evoluem rapidamente. O

mitridatismo se caracteriza como uma das fases do percurso do veneno no organismo,


sendo um efeito de tolerância do organismo contra o agente, criando maior resistência

após sucessivas ingestões. Esse é, portanto, o erro da alternativa, pelo que o gabarito da
questão está na letra “e”.

Questão 3

(Médico Legista – PCPR – 2017 - IBFC) O percurso do veneno através do organismo segue

fases determinadas. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta das fases desse
percurso.

A) Penetração; absorção; distribuição; fixação; transformação; eliminação.

B) Absorção; penetração; fixação; transformação; distribuição; eliminação.

C) Penetração; absorção; transformação; fixação; distribuição; eliminação.

D) Absorção; penetração; fixação; distribuição; transformação; eliminação.

E) Absorção; penetração; distribuição; fixação; transformação; eliminação.

Comentário:

O percurso do veneno através do organismo tem as seguintes fases: penetração,

absorção, distribuição, fixação, transformação e eliminação. Há algumas situações ou


fenômenos que podem ocorrer após a penetração do veneno, tais como: mitridatização,

toxicidade, intolerância, sinergismo e equivalente tóxico.

Questão 4

(FUNCAB – Médico Legista – PC-ES/2013) O modo de ação tóxica sistêmica do ácido oxálico
é através de:
A) Tetanização.
B) Bloqueio da respiração celular.

18
C) Bloqueio do transporte de oxigênio.

D) Paralisia da musculatura esquelética.


E) Depressão do Sistema Nervoso Central.

Comentário:

Ácido oxálico: limpador de metais, removedor de ferrugem e tintas. Além das lesões
típicas de contato, ele provoca uma hipocalcemia por reação com o cálcio iônico e

formação de cristais insolúveis de oxalato de cálcio em pH normal. A ingestão de 5g do


produto concentrado pode matar um adulto. Os domissanitários têm concentrações
médias de 10%. Na exposição aguda, notam-se uma incoordenação muscular, tetania,

convulsões, coma, arritmias cardíacas, choque e insuficiência renal duradoura. O nosso


gabarito, portanto, está na letra “a”.

Questão 5

(IESES – Perito Médico Legista – IGP-SC/2017) Em um caso de suicídio, um indivíduo


trancou-se na garagem e ligou o motor do seu veículo. Grandes quantidades de monóxido de

carbono (CO) foram liberadas pelo veículo devido à combustão da gasolina e desta forma o
indivíduo foi a óbito. Quanto ao monóxido de carbono, podemos dizer que:

I. O CO é um gás classificado como asfixiante bioquímico por diminuir o transporte de


oxigênio no sangue.

II. A afinidade do CO pela hemoglobina é cerca de 240 vezes maior do que a do oxigênio.

III. O CO liga-se à mioglobina formando carboxiemoglobina.

IV. Para um individuo adulto, concentrações tóxicas e letais de carboxiemoglobina no sangue


são aproximadamente de 5 e 25%, respectivamente.

Assinale:

A) Se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.


B) Se somente as afirmativas I, II e IV estiverem corretas.
C) Se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.

19
D) Se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.

Comentário:

Essa questão também aborda temas referentes ao capítulo que tratará da toxicologia

forense, no entanto, pelos conteúdos já vistos até agora, temos plenas condições de
resolver esta questão! Lembrem-se do conteúdo relativo às lesões e mortes causadas

pela ação térmica, onde foi explicado que a combustão de materiais inflamáveis produz a
emissão de gases tóxicos, sobretudo o CO (monóxido de carbono) e CO² (dióxido de
carbono). O CO possui uma maior fixação no organismo que o CO², não sendo expelido

na mesma proporção, pelo que fixa preso ao organismo humano. Quando inalado em
grandes quantidades, o CO se liga fortemente à hemoglobina do plasma sanguíneo,

gerando uma reação química e acarretando a formação de uma nova substância, a


carboxiemoglobina, concentrada em grande parte no sangue. Assim, há a transformação

da consistência do plasma, ficando mais espesso, de cor cereja (carminada), gerando a


perda de oxigênio no sangue. Com isso podemos julgar as assertivas propostas na

questão, estando as proposições I e II corretas. O gabarito da questão, portanto, está na


alternativa “d”. a assertiva III está incorreta ao afirmas que o CO se liga à mioglobina, o
que, como vimos não é verdade, ligando-se à hemoglobina. A assertiva IV está incorreta

na indicação dos percentuais letais de CO no sangue, ocorrendo risco de morte quando


há saturação de 70 a 80% no sangue, acarretando pulso filiforme, bradipneia, síncope

respiratória e morte.

E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e
praticando bastante! Vamos juntos até a aprovação! Até mais!!!

20
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - E

Questão 3 - A

Questão 4 - A

Questão 5 – D

21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.
DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.

GALVÃO, Malthus. Lesões causadas pela ação dos ácidos – Vitriolagem. Malthus, 2020.
Disponível em www.malthus.com.br. Acesso em: 09/02/2020.

22
CARREIRAS POLICIAIS

Medicina Legal
Capítulo 7
SUMÁRIO

MEDICINA LEGAL, Capítulo 7 .................................................................................................................................... 2

7. Energias de Ordem Físico-Química. .................................................................................................................. 2

7.1. Asfixiologia Forense. ............................................................................................................................................ 2

7.1.1 Asfixias Mecânicas. ............................................................................................................................................... 2

7.1.2 Tríade asfíxica. ........................................................................................................................................................ 2

7.1.3 Ação do agente vulnerante e causa da morte nas asfixias. ............................................................... 4

7.2. Modalidades de asfixia. ...................................................................................................................................... 5

7.2.1. Noções de afogamento...................................................................................................................................... 6

7.3. Sufocação. ............................................................................................................................................................. 15

7.3.1. Sufocação direta. ................................................................................................................................................ 15

7.3.2. Sufocação indireta. ............................................................................................................................................ 16

7.4. Modalidades de asfixia por constrição do pescoço. .......................................................................... 17

7.4.1. Docimasia microscópica ou histológica de Balthazard-Lebrunn................................................... 20

7.4.2. Esganadura............................................................................................................................................................ 20

7.4.3. Enforcamento. ...................................................................................................................................................... 21

7.4.4. Estrangulamento................................................................................................................................................. 21

7.4.5. A importância dos sulcos cervicais e estigmas ungueais no pescoço. ...................................... 22

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 27

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 33

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 43

1
MEDICINA LEGAL

Capítulo 7

7. Energias de Ordem Físico-Química.

7.1. Asfixiologia Forense.

7.1.1 Asfixias Mecânicas.

Para ser caracterizada como asfixia mecânica, tem que haver um fator de ordem mecânica

na sua execução, bem como deve ser violenta. Então, em síntese, para ser caracterizada como
asfixia mecânica, têm que estar presentes os seguintes fatores:

a) Tem que ser primária quanto ao tempo - a causa que provocou a asfixia tem que ser
primária, ou seja, foi a própria asfixia que começou o quadro traumático no organismo.
Se, por acaso, outra causa iniciou o quadro traumático e, em razão dela, o indivíduo foi
asfixiado e veio a óbito, não se trata de asfixia mecânica.

b) Mecânica quanto ao meio - tem que ser gerada por algum fator de ordem mecânica.

c) Violenta quanto ao modo;

7.1.2 Tríade asfíxica.

É um conjunto de 3 sinais que devem estar presentes para caracterizar uma asfixia.

Caracteriza-se pela constatação das seguintes características:

I) O sangue fica líquido e escuro;


II) Há congestão polivisceral;

2
III) Presença de petéquias de Tardieu disseminadas por todo corpo, tanto
internamente quanto externamente;

Os vasos sanguíneos dos órgãos internos, quando há morte por asfixia, ficam cheios de

sangue fluido e escuro, ficando congesto e pesado. Com a progressiva falta de oxigênio e o
excesso de CO2, há maior vasodilatação generalizada nas diversas vísceras maciças, como
fígado, rins, baço, dentre outras.

Os vasos sanguíneos destas vísceras ficam mais repletos de sangue de tonalidade escura,
ficando coletados nesses vasos, o que acarreta o aumento de peso nessas vísceras devido ao
acúmulo de maior volume de sangue que o habitual. Essas vísceras passam a apresentar uma

tonalidade vermelho escuro.

As petéquias sugerem que houve morte por asfixia, mas não podem ser consideradas,
no entanto, como lesões patognomônicas de asfixia, não oferecendo diagnóstico de certeza

quanto à causa da morte. Confiram na imagem1 abaixo:

Essa tríade, contudo, não significa que o indivíduo morreu asfixiado. Explicamos melhor.
Quando o indivíduo sofre uma asfixia mecânica, surge uma tríade, mas que, no entanto, essa

tríade pode aparecer em uma porção de outras causas de morte que não guardam relação
com a asfixia.

1
GALVÃO, Malthus. Petéquias Pulmonares. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
3
Além destes, outros sinais externos podem ser constatados, a saber:

a) Cianose da pele – cor arroxeada ou azulada;


b) Equimoses conjuntivas – na região branca dos olhos;
c) Espuma na boca e no nariz – cogumelo de espuma;
d) Projeção da língua para fora;
e) Resfriamento lento do cadáver;

Assim, o correto é afirmas que quando há uma asfixia mecânica, em meio a outros
diversos elementos que caracterizam a asfixia estará presente essa tríade; mas o contrário

não ocorre, pelo que a mera constatação isoladamente da tríade asfíxica não oferece
diagnóstico de certeza de caracterização da asfixia como causa da morte.

A fluidez do sangue se dá pelo fato de que o sangue do cadáver não coagula. Isso ocorre

em razão da ação de um sistema fibrinolítico. Assim que uma pessoa morre, a tendência do
sangue é coagular, mas isso não ocorre porque o organismo libera uma enzima que destrói

uma proteína que é essencial para a coagulação, chamada fibrina. Uma vez que há a
quebra/destruição da fibrina, o sangue não consegue mais coagular, ficando fluido.

E como o sangue não está oxigenado, há uma alta concentração de hemoglobina que não

contém oxigênio, mas sim hidrogênio (HB H+), o que acarreta uma tonalidade mais escura no
sangue do cadáver.

7.1.3 Ação do agente vulnerante e causa da morte nas asfixias.

A simples atuação mecânica do agente vulnerante não se basta para acarretar a causa da

morte. Para isso, há uma reação química desencadeada no organismo devido à


constrição/obstrução das vias respiratórias. Essa reação química depende da hipoxia (falta de

oxigênio) e da hipercarpnia (excesso de gás carbônico).

Então, a causa da morte nas asfixias se dá pelo conjunto formado pela ação do agente
vulnerante físico mecânico junto com uma alteração química gerada no organismo pela

ação desse agente, dando origem a um agente vulnerante físico-químico. Daí a classificação as
asfixias na categoria das energias vulnerantes de ordem físico-química.

4
Assim, podemos dividir as asfixias em dois grandes grupos, que também se subdividem

em outros tipos/submodalidades de asfixias:

 Asfixia Pura: são as asfixias causadas por problemas exclusivamente respiratórios, a


exemplo da sufocação direta e do soterramento estrito2.

 Asfixia Complexa: o conceito é dado por exclusão, pelo que são causadas pela
associação de mais de um aparelho ou sistema, ocorrendo na maioria dos casos de
asfixia. Ou seja, se não for causada por problemas exclusivamente respiratórios, sendo
resultado da confluência de um conjunto de fatores, será considerada asfixia complexa.
Isso porque na asfixia estão envolvidos, para além do sistema respiratório, também o
sistema circulatório e/ou o sistema nervoso.

 Asfixia Mista: são as que se confundem e se superpõem, em graus variados, aos


fenômenos circulatórios, respiratórios e nervosos – ex.: esganadura.

7.2. Modalidades de asfixia.

As asfixias podem ocorrer das seguintes maneiras:

I) Impedir o fluxo de ar nos pulmões – sufocação direta e sufocação indireta;


II) Modificar o meio ambiente respirável – líquido, sólido em pó e gases não
respiráveis;
III) Constrição do pescoço – enforcamento – enforcamento, estrangulamento e
esganadura;
IV) Por outras formas – eletricidade, química, etc.

O ambiente atmosférico respirável para garantir a vida do indivíduo é composto


basicamente por 21% de oxigênio, 78% de nitrogênio e 1% de outros gases. O corpo
aproveita o oxigênio, expelindo em grandes quantidades o nitrogênio. Quando há a

modificação do ambiente respirável por líquido, ocorrerão as hipóteses de afogamento;


quando houver a substituição do ar por sólidos em pó, há o soterramento; e quando há a

substituição do ar respirável por gases não tóxicos, mas que não servem para a respiração,
ocorre o confinamento – tanto em locais abertos quanto em locais fechados.

2
Vide questão 6 deste material.
5
Portando, podemos resumir as modalidades de asfixia por modificação do ambiente

respirável a partir do seguinte esquema:

Líquido - Afogamento;

Sólido em pó - Soterramento;

Gases não tóxicos - Confinamento;

Também são modalidades de asfixia:

a) Envenenamento por cianeto (HCN);


b) Intoxicação pelo monóxido de carbono (CO);
c) Eletroplessão de média amperagem associada ao fator de tempo prolongado;
d) Fraturas múltiplas do gradil costal;

Essas outras formas de asfixia, por não se caracterizarem como asfixia mecânica, não serão
estudadas neste capítulo, a exemplo do envenenamento por cianeto e intoxicação pelo

monóxido de carbono, que estão associadas à temática da toxicologia forense.

7.2.1. Noções de afogamento.

A primeira informação relevante acerca do afogamento é que não precisa


necessariamente haver submersão, bastando que os orifícios respiratórios (narinas e boca)

fiquem abaixo de um líquido, acidentalmente ou criminosamente. Há uma diferenciação entre


os tipos de afogamento:

 Afogamento em água doce;


 Afogamento em água salgada;

Para saber as diferenças a partir dos efeitos do afogamento em água doce e em água
salgada, é preciso primeiro compreender algumas noções acerca do mecanismo do sistema
respiratório, sobretudo da forma como ocorrem as trocas gasosas. Vamos explicar.

6
Quando o ar atmosférico penetra no organismo através da árvore respiratória, ele é rico

em oxigênio. Assim, o ar penetra nos alvéolos pulmonares e entra em contato com o sangue
através dos capilares (locais onde ocorrem as trocas gasosas).

O sangue que sai dos pulmões rico em O2 e vai para o coração, entrando pelos átrios e

saindo pelos ventríolos, passando a circular pelo restante do corpo. À medida que vai
circulando, o sangue vai perdendo oxigênio e se enchendo de gás carbônico, retornando ao

coração, sendo novamente enviado aos alvéolos pulmonares, onde ocorrerá mais uma vez as
trocas gasosas, sendo o ar expelido e havendo a liberação de CO2 pelo organismo através do

processo respiratório contínuo. Confiram no esquema representado pela imagem3 a seguir:

Assim, o processo circulatório do corpo humano pode ser sintetizado da seguinte forma:

circula pelo corpo -


perde O2 e Ganha
CO2

Sangue vem do corpo


Sangue sai do
e entra no pulmão :
pulmão: ventrículo
átrio direito - rico em
esquerdo - rico em O2
CO2

Sangue veio do
Ocorrem as trocas
pulmão: átrio
gasosas e o ar rido em
esquerdo - rico em
CO2 é expelido
O2.

3
Sistema circulatório. Toda Matéria, 2020. Disponível em www.todamateria.com.br/sistema-circulatorio/. Acesso em
11/02/2020.
7
a) Afogamento em água doce:

Sabe-se que o organismo humano sempre tenta se regular para estar em equilíbrio nos
meios intra e extra celular (dentro e fora das células). O sangue, por sua vez, está cheio de

células chamadas de glóbulos vermelhos, que contem água e sais minerais. Assim, quando há
um equilíbrio de sais minerais no sangue, esses glóbulos vermelhos mantém a sua estrutura e

formato normais.

Quando há uma maior concentração de sais minerais no sangue, ou seja, o meio externo
do plasma sanguíneo possui maior quantidade se sais do que o meio intracelular dos glóbulos

vermelhos, há uma maior saída de água de dentro dessas células, fazendo com que elas
diminuam de volume (murcham).

E quando há uma maior quantidade de sais no meio intracelular do que na corrente

sanguínea (plasma), essas células tendem a absorver (puxar) maior quantidade de água,
ficando inchadas e maior que o seu tamanho normal. Elas aumentam tanto o seu tamanho

normal que acabam se rompendo, liberando uma substância chamada potássio na corrente
sanguínea. O potássio faz com que o sangue fique mais fluido e menos consistente que o
normal nas áreas em que há grande concentração dessa substância, causando também uma

fibrilação ventricular no coração, sendo esta uma disfunção no ritmo dos batimentos
cardíacos, levando o indivíduo a óbito.

Assim, quando o indivíduo se afoga em água doce, a entrada de água nos pulmões faz

com que os glóbulos vermelhos se rompam, liberando o potássio na corrente sanguínea,


sendo esse sangue em sequência bombeado para o coração, entrando nele através do átrio

esquerdo (fica no lado esquerdo do coração).

Com isso, o perito legista consegue identificar que o afogamento se deu em água doce,
pois durante a autópsia, o sangue que é encontrado no lado esquerdo do coração (átrio

esquerdo) está mais diluído do que no resto do corpo. Ou seja, o perito basicamente faz a
comparação entre o sangue que está no átrio esquerdo com o que está no átrio direito.

8
Se a água que está entrando nos pulmões chega pelo lado esquerdo e sai pelo direito, o

sangue que ficará acumulado do lado esquerdo é mais fluido e menos concentrado que o
sangue encontrado do lado direito do coração.

É a partir da análise de densidade e da salinidade dos sangues coletados no coração

durante a autópsia que o perito consegue identificar o afogamento por água doce. Assim
como a densidade, a salinidade do sangue encontrado no lado esquerdo (que recebeu mais

água que o lado direito) também estará diferente.

O legista, durante a autópsia, não vê a fibrilação ventricular! Para que um médico possa
visualizar a fibrilação ventricular, ele necessita de realizar um exame – com o indivíduo vivo –

através de um aparelho que faz eletrocardiograma.

O legista pode determinar a causa da morte por fibrilação ventricular a partir da análise
do sangue encontrado nos dois lados do coração, pois à medida que a água vai entrando e o

sangue vai sendo diluído, os glóbulos vão se rompendo e liberando potássio, e o aumento do
potássio na circulação é o que causa a fibrilação ventricular.

Assim, já foi questionamento de prova a seguinte pergunta: o que é que o legista

percebe na autópsia de morte por afogamento em água doce?

Uma das alternativas trazia como resposta a fibrilação ventricular, levando muitos
candidatos a erro. A fibrilação ventricular não é perceptível na autópsia, e sim DEDUTÍVEL a

partir da análise e comparação das salinidades e densidades dos sangues encontrados do


lado direito e esquerdo do coração.

Outro questionamento que já foi feito em provas é o seguinte: um cadáver foi encontrado

dentro da água, e, durante a autópsia, comparando as densidades do sangue do lado direito e


do lado esquerdo, notou-se que a densidade era a mesma em ambos os lados.

9
Indaga-se a causa da morte nesse caso. A partir desses dados, sendo as densidades iguais,

sabe-se que a água nem entrou e nem saiu, e, portanto, a pessoa não respirou dentro da
água, sendo a resposta conclusiva no sentido de que ele já estava morto quando foi jogado

na água, descartando-se assim o diagnostico de morte por afogamento.

b) Afogamento em água salgada:

No afogamento em água salgada ocorre justamente o oposto daquilo que ocorre no


afogamento em água doce. Isso porque a água do mar que entra nos pulmões vai puxar a

água de dentro dos glóbulos vermelhos (meio hipertônico), fazendo com que ele murche,
diminuindo de tamanho. Nessas hipóteses, o sangue, que já possui uma certa quantidade de

água, vai perder essa água para o pulmão, que fica cheio de água que entra do mar e água
que sai do sangue.

Durante a autópsia, se faz o mesmo procedimento realizado nos casos de afogamento em

água doce: o perito irá coletar sangue do lado esquerdo e direito do coração e fazer a
comparação das densidades, e encontrará um resultado contrário.

O sangue do lado esquerdo vai estar mais grosso e denso do que o sangue encontrado

do lado direito. Podemos sintetizar da seguinte maneira:

Sangue mais diluído • Afogamento em


no lado esquerdo
água doce.
do coração:

Sangue mais diluído • Afogamento em


no lado direito do
água salgada.
coração:

No caso de afogamento em água salgada, o indivíduo morre realmente asfixiado, com os


pulmões cheios de água. Mas no afogamento em água doce, a morte se dá por fibrilação
ventricular.

10
 Cogumelo de espuma4:

O cogumelo de espuma é um dos principais sinais da morte por afogamento, ocorrendo


da seguinte forma: o líquido aspirado mistura-se com o ar alveolar e com as secreções

presentes nas vias respiratórias, bem como com o surfactante, que é uma substância especial
que recobre o epitélio alveolar.

Dessa mistura resulta uma espuma consistente que distende o pulmão e preenche toda a

árvore respiratória do cadáver. Quando o indivíduo é resgatado ainda com vida e submetido à
respiração artificial, a espuma é eliminada juntamente com o líquido em excesso. Porém,

quando se dá a morte e o corpo é retirado da água pouco tempo depois, costuma eliminar
essa espuma pelas narinas e pela boca, de modo que ela apresenta o aspecto de uma massa

branca arredondada, lembrando o formado de um “chapéu de cogumelo”, daí resultando sua


nomenclatura. Confira a imagem5 abaixo:

 Diagnóstico de afogamento em cadáveres comuns algumas horas após a morte.

Durante a autópsia, o legista encontrará além dos sinais gerais de asfixia (tríade asfíxica),
os seguintes aspectos:

I) Manchas de Paltaulf nos pulmões;


II) Enfisema hidroaéreo de Casper;
III) Resíduos marinhos nas vias aéreas;

4
Vide questões 3 e 8 deste material.
5
GALVÃO, Malthus. Cogumelo de espuma. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.
11
IV) Alteração da densidade do sangue nos átrios cardíacos
V) Cogumelo de espuma;

Resíduos marinhos são aqueles encontrados em água salgada (mar e lagoas); já os

resíduos potâmicos são aqueles encontrados em água doce (lagos e rios).

Quando a água penetra nos pulmões, por ser mais pesada que o ar, acaba por arrebentar

os alvéolos pulmonares, e, por consequência, os vasos sanguíneos que neles existem. Com
isso, há uma hemorragia interna nos pulmões, formando grandes equimoses pulmonares que

são vistas através das pleuras, sendo conhecidas como manchas de Paltaulf. Assim, as
manchas de Paltaulf são lesões patognomônicas de afogamento. Vejam na imagem6

abaixo:

6
GALVÃO, Malthus. Manchas de Paltaulf. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em
11/02/2020.

12
Os enfisemas hidroaéreos de Casper ocorrem quando o indivíduo afogado respira água.

Com a entrada de água nos pulmões, seus vasos ficam cheios de bolhas de ar e água. Assim,
gotículas de ar expulso dos pulmões pela entrada da água aparecem sob a pleura visceral.

 Diagnóstico da morte por afogamento em cadáveres em avançado estado de


putrefação ou esqueletizados:

I) Algas diatomáceas.

Nesses casos, a perícia deverá se guiar pela presença de algas diatomáceas (plânctons)
dentro dos vasos sanguíneos que passam pelos ossos. Explicamos melhor.

No ecossistema aquático existem os plânctons, que são criaturas vivas que flutuam na

água, podendo ser macroscópicos ou microscópicos. Para efeitos do nosso estudo, nos
ateremos aos plânctons microscópicos.

Existe uma espécie de plânctons que são chamados de algas diatomáceas, que vivem

dentro de uma carapaça microscópica por elas mesmas fabricadas a partir de sílica (partículas
de areia). Quando o indivíduo se afoga, a água contendo essas criaturas microscópicas
penetram nos pulmões e na corrente sanguínea, percorrendo ao longo do corpo em razão do

processo de trocas gasosas.

Ao viajarem pela corrente sanguínea, passam por vários vasos sanguíneos e capilares,
inclusive para dentro dos ossos. Os ossos, embora sejam uma estrutura dura e resistente, são

formados por células vivas, que recebem vasos sanguíneos que passam por dentro dos ossos.
Assim, as algas diatomáceas também entram nos ossos quando são levadas pela corrente
sanguínea.

Nesses casos, onde houver sangue, também haverá algas diatomáceas. Quando a pessoa
morre, o sangue para de circular, ficando coletado em diversas partes do corpo. Assim, à

medida que ocorre a putrefação dos tecidos corporais, vão sendo expelidas as algas
diatomáceas, com exceção dos ossos.

13
Os ossos, por serem mais resistentes que as demais partes do corpo, conservam em seu

interior os vasos sanguíneos que estão impregnados pelas algas diatomáceas. Lá elas estão
mortas, mas a sua carapaça fica conservada.

Assim, é possível à perícia detectar a partir do fêmur (maior osso do corpo humano) a

presença desses plânctons, permitindo ao legista concluir que o indivíduo respirou dentro da
água e morreu por afogamento.

Além disso, é possível que a perícia conclua, inclusive, o local onde se deu o afogamento,

uma vez que cada região possui tipos específicos de algas diatomáceas, devido às
particularidades de seu ecossistema marinho. Assim, por comparação do material coletado nos

ossos do cadáver, a perícia é capaz de atestar a causa da morte por afogamento, bem como o
local onde ele ocorreu.

II) Afogado Branco de Parrot.

É possível que, após feita a autópsia, não sejam encontrados quaisquer vestígios de
afogamento ou mesmo de lesões macro ou microscópicas, o que acarretaria a indeterminação

da causa da morte.

Nesses casos, a literatura médico-legal define o quadro a partir da nomenclatura afogado


branco de Parrot. Nada mais é do que o cadáver que foi encontrado submerso em águas,

sem qualquer sinal que evidencie o afogamento ou qualquer outro tipo de lesão que possa
explicar a causa de sua morte.

Nessas hipóteses, a morte é explicada por duas suposições: a primeira é a de que o

indivíduo foi vítima de um choque térmico, porque estava com o corpo quente e entrou em
contato repentino com a água; a segunda é por inibição vaga por contato da água com a

laringe, causando uma parada cardiorrespiratória de causa desconhecida.

14
Inibição vagal é uma inibição do nervo vago, que cuida dos batimentos do coração e

do funcionamento dos pulmões. Essa hipótese é de pouca utilidade no dia a dia das perícias
médico-legais, mas tem importância teórica para fins de prova de concursos. Portanto, fiquem
ligados, pois é bem possível que haja uma questão de prova indagando sobre o afogamento

branco de Parrot!

7.3. Sufocação.

A sufocação é uma modalidade de asfixia mecânica pura decorrente do bloqueio direto

ou indireto das vias respiratórias, impedindo assim a passagem do ar. Pode ser classificada
como sufocação direta e sufocação indireta.

7.3.1. Sufocação direta.

É uma forma de asfixia pura, na qual somente está envolvido o aparelho respiratório.

Há duas maneiras de causa a sufocação direta: pela obstrução dos orifícios respiratórios
(ex.: tapas a boca e a narina com as mãos) e pela obstrução das vias aéreas superiores.

Para entendermos melhor esta última hipótese, faz-se necessário ter uma melhor noção

acerca do funcionamento do sistema respiratório. O ar penetra no sistema respiratório através


das narinas e da boca. As vias aéreas superiores são formadas pela laringe, glote, traqueia e

brônquios.

Caso haja obstrução dessas vias que não necessariamente pelos orifícios respiratórios,
haverá também a sufocação direta. Confiram na ilustração7 abaixo:

7
Sistema respiratório. Pinterest, 2020. Disponível em https://br.pinterest.com/pin/349451252323189934/. Acesso
em 11/02/2020.
15
7.3.2. Sufocação indireta.

Pode se dar pelas seguintes maneiras:

 Compressão do tórax8;
 Crucificação – exaustão da musculatura respiratórias;
 Paralisia da musculatura respiratória – músculos intercostais e diafragma;

A sufocação indireta por compressão torácica impede a realização dos movimentos


respiratórios, levando, por consequência, à asfixia. É também conhecida como congestão
compressiva de Perthes.

Um dos sinais externos mais importantes que indicam a possibilidade de ter havido uma
asfixia por sufocação indireta por compressão torácica é a máscara equimótica de Morestin,
caracterizando-se por diversas petéquias (equimoses pontuais) na região cérvico-facial (face e

pescoço), produzida pelo refluxo sanguíneo da veia cava em razão da compressão.

O sangue que sobre para a cabeça fica acumulado em razão da compressão torácica, não

conseguindo retornar e seguir seu fluxo normal, o que acarreta um amento da pressão nos
vãos dessa região corporal, fazendo com que haja o extravasamento de sangue na forma de
petéquias, acumulando-se na região da face, pescoço e tórax.

8
Vide questão 1 deste material.
16
No entanto, o aparecimento da máscara equimótica de Morestin não oferece diagnóstico

de certeza acerca da sufocação indireta por compressão do tórax, não sendo lesões
patognomônicas de asfixia!

7.4. Modalidades de asfixia por constrição do pescoço.

São basicamente 3 as modalidades de asfixia por constrição do pescoço, a saber:

I) Esganadura;
II) Enforcamento;
III) Estrangulamento;

Inicialmente, é importante saber que o pescoço é um elemento do tronco, sendo uma


extensão para cima, não fazendo parte da cabeça. A estrutura do pescoço é basicamente

formada pelas seguintes partes:

HIOIDE
Osso situado acima da laringe;
LARINGE
GLÂNDULA TIREOIDE
Abaixo da laringe;
TRAQUEIA
Local onde há passagem de ar;

17
Quando ocorre uma constrição do pescoço, esses órgãos e seus vasos sanguíneos são

afetados, podendo aparecer equimoses na tireoide, fraturas na laringe e no hioide, sendo


sinais indicativos para o perito de que houve constrição nesta área.

No pescoço nós podemos encontrar veias (descendo para o pescoço – se aproximam do

coração) e artérias (subindo para o pescoço – se afastando do coração). No pescoço há duas


veias (jugulares) e artérias muito importantes (carótidas).

As carótidas levem sangue oxigenado para a cabeça e para o cérebro, enquanto as

jugulares trazem sangue com maior concentração de gás carbônico. Entre esses vasos passa
um nervo, chamado de nervo vago, que vem do bulbo (parte do encéfalo), que comanda os

batimentos cardíacos e os movimentos respiratórios. Então no momento em que há constrição


do pescoço, esse nervo também pode ser afetado.

18
O pescoço também é revestido por músculos, e na hora em que há a constrição, essa

musculatura que envolve o pescoço também é lesada, podendo surgir equimoses nos
músculos. Assim, a constrição do pescoço atinge:

Laringe, Traqueia e Tireoide

Osso hioide e nervo vago

Musculatura, artérias
carótidas e veias jugulares

De todas as éreas suscetíveis de dano pela constrição no pescoço, a que oferece maior

perigo é o nervo vago, que, uma vez afetado pela pressão da constrição ou mesmo por uma
forte pancada na região do pescoço, é capaz de gerar uma parada cardiorrespiratória,

ocasionando a morte do indivíduo.

A fratura no osso hioide comumente causa infiltração hemorrágica no local da fratura, o


que significa que foi produzida uma lesão intra vitam (enquanto o indivíduo estava vivo),

indicando que a causa da morte muito provavelmente se deu em razão da constrição na


região do pescoço.

Por outro lado, uma fratura no hioide sem que haja infiltração hemorrágica indica que

essa lesão foi feita após a morte (post mortem).

O interesse médico-legal e a consequência dessa constatação é o enquadramento da


conduta como homicídio qualificado por emprego de asfixia, e, como tal, configura também

a prática de crime hediondo, nos termos da Lei 8.072/90.

19
7.4.1.Docimasia microscópica ou histológica de Balthazard-

Lebrunn.

Tem notória relevância nos casos de determinação de morte no infanticídio. Sabe-se que

o crime de infanticídio consiste em matar, durante o parto ou logo após, sob a influência de
estado puerperal, o próprio filho recém-nascido.

Por vezes ocorre que a mãe tenta matar o próprio filho sob a influência de estado

puerperal, mas que, no entanto, o recém-nascido já se encontrava morto ao tempo da ação


criminosa. A consequência jurídica disso está no enquadramento da conduta como crime

impossível, isentando a mãe de pena.

Para a constatação do tempo da morte do recém-nascido, ganha notória importância a


Docimasia microscópica ou histológica de Balthazard-Lebrunn. É um exame microscópico

dos tecidos, que consiste na observação, por meio de microscópico, se os alvéolos


pulmonares estão fechados (não respirou) ou abertos (respirou). Isso é importante à medida

que ainda que esteja o cadáver em putrefação, os gases dela oriundos não abrem os alvéolos.

Assim estando os alvéolos pulmonares abertos, significa que o feto respirou durante o
nascimento ou logo após, sendo considerado o nascimento com vida, e, consequentemente,

haverá crime e imposição de pena ao agente. Caso contrário, será considerado crime
impossível por absoluta impropriedade do objeto, cuja consequência é a atipicidade do fato.

7.4.2. Esganadura.

A esganadura somente pode ser feita com as mãos, deixando frequentemente estigmas

digitais e ungueais no pescoço da vítima, indicando que houve ação criminosa,


provavelmente uma tentativa de homicídio por asfixia, sendo a forma qualificada e
caracterizando-se como crime hediondo. A esganadura nunca apresentará sulcos com marca

de laço no pescoço. Verifique na imagem9 abaixo:

9
GALVÃO, Malthus. Estigmas ungueais e digitais na esganadura. Malthus, 2020. Disponível em www.malthus.com.br. Acesso
em:11/02/2020.
20
Os estigmas ungueais (escoriações em meia lua) e digitais no pescoço são lesões
patognomônicas externas, que diferem das lesões internas causadas pela força da constrição

no pescoço.

7.4.3.Enforcamento.

Ocorre com laço tracionado no pescoço pelo peso do corpo da vítima. Pode constituir
ação criminosa homicida, suicida ou até mesmo eventos acidentais, sendo mais comuns em

casos de suicídio.

7.4.4. Estrangulamento.

Ocorre com laço tracionado por qualquer outra força diferente do peso do corpo da
vítima, geralmente traduzindo uma ação criminosa com intenção homicida, evento acidental

ou execução. Geralmente o laço é apertado com as mãos do agressor, mas nunca por elas
diretamente, caso em que ocorrerá esganadura. Pode ser feito, ainda, por pressão do braço

(mata leão) ou das pernas (triângulo armlock – golpe de jiu-jítsu).

Esse golpe é comumente utilizado com a finalidade de interromper a passagem de sangue


para o cérebro através das artérias carótidas. No momento em que a passagem do sangue é
21
bloqueada em razão da constrição, falta a oxigenação no cérebro, acarretando o desmaio da

vítima.

O estrangulamento geralmente apresenta sulcos contínuos, completos, de profundidade


uniforme, sentido horizontal, podendo mostrar o decalque do laço, expor os tecidos

subjacentes ou até mesmo não aparecer.

Quanto mais estreito e duro for o laço, mais visível o sulco será. Ao contrário, quando
mais largo e mole for o laço, menos o sulco se mostrará evidente. Assim, algumas variantes

poderão influir na marcação dos sulcos, a tomar como exemplos algumas:

 Laço duro – sulco mais visível;


 Laço mole – sulco menos visível;

 Laço estrito – sulco mais visível;


 Laço largo – sulco menos visível;

 Suspensão completa (no enforcamento) – sulco mais visível;


 Suspensão incompleta (no enforcamento) - sulco menos visível;

7.4.5. A importância dos sulcos cervicais e estigmas ungueais no


pescoço.

Quando ocorre um enforcamento ou um estrangulamento, aparece uma marca no


pescoço, sendo denominada de sulco. A depender das características dos sulcos, é possível à

perícia determinar a causa do evento danoso que levou o indivíduo a óbito, ou seja, se o que
houve foi um enforcamento ou um estrangulamento. Esses sulcos podem apresentar as

seguintes características:

HORIZONTAL OBLÍQUO
COMPLETO INCOMPLETO
CONTÍNUO DESCONTÍNUO
PROFUNDIDADE HOMOGÊNEA PROFUNDIDADE HETEROGÊNEA
ABAIXO DA LARINGE ACIMA DA LARINGE
ABAIXO DO HIOIDE ACIMA DO HIOIDE

22
A VISIBILIDADE DEPENDE DO LAÇO A VISIBILIDADE DEPENDE DO LAÇO

O sulco será completo quanto formar um círculo inteiro em volta do pescoço, hipótese em
que também será contínuo. Sendo abaixo da laringe, obrigatoriamente também ficará abaixo

do hioide (pois a laringe fica situada abaixo do osso hioide).

Será incompleto ou descontínuo quando não formar um círculo perfeito e completo,


assemelhando-se a uma meia lua, hipótese em que sua profundidade será heterogênea,

devido a uma maior pressão na parte anterior do pescoço (garganta) do que na sua área
lateral.

Sendo o sulco oblíquo e incompleto, ele poderá se situar acima da laringe, mas abaixo

do hioide, ficando entre essas duas regiões. No entanto, se ficar acima do hioide, também
ficará obrigatoriamente acima da laringe, pois esta se localiza abaixo desse osso.

Também poderá se apresentar como horizontal e incompleto, abaixo da laringe e abaixo

do hioide, sendo uma marca típica de estrangulamento. Vejam na imagem10 abaixo as


possíveis localizações do sulcos:

10
Sistema respiratório. Aula de anatomia, 2020. Disponível em:
https://www.auladeanatomia.com/novosite/pt/sistemas/sistema-respiratorio/. Acesso em 11/02/2020.
23
 Marca do sulco acima da laringe, mas abaixo do hioide;
 Marca do sulco abaixo da laringe e abaixo do hioide;
 Marca do sulco acima do hioide e acima da laringe;

Estrangulamento x Enforcamento

Aqui há uma diferença fundamental entre o estrangulamento e o enforcamento. O

estrangulamento geralmente é feito com uma volta completa no pescoço através de uma
corda ou fio (por exemplo), em que as extremidades da corda são puxadas com as mãos,

geralmente se situando abaixo da laringe e abaixo do hioide. Nesse caso, sendo o sulco
completo, a sua profundidade será uniforme.

Já nos casos de enforcamento11, uma vez feito o laço no pescoço e sendo as


extremidades da corda presas em um local mais alto, estando o peso do corpo agindo

11
Vide questões 2 e 5 deste material.
24
para baixo e o laço sendo puxado para cima, a tendência é que esse laço passe por cima

da laringe e por cima do hioide.

A parte mais baixa do laço é a que estará em maior contato com o pescoço, e, como
está com suas extremidades presas e sendo puxado para cima, a tendência é que a marca

seja oblíqua, apresentando maior profundidade na parte em que o laço mantém maior
contato com o pescoço (na parte mais baixa), sendo diminuída essa profundidade à medida

que o laço vai subindo em direção ao nó.

Compreendam melhor a explanação visualizando a imagem abaixo:

É possível verificar os pontos em que o laço exerce maior pressão em razão do peso do

próprio corpo e pela força da gravidade, a saber: na região anterior do pescoço (1ª imagem);
na região lateral do pescoço (2ª imagem); e na região posterior do pescoço (3ª imagem).
Nessas áreas é que haverá maior profundidade dos sulcos, apresentando-se na forma

oblíqua e descontínua.

Assim, podemos sintetizar da seguinte forma:

Enforcamento: Estrangulamento:
Sulcos por cima da laringe e do hioide Sulcos embaixo da laringe e do hioide
Sulcos incompletos e oblíquos Sulcos completos e horizontais

O enforcamento poderá ser considerado como:

I) Típico: nó situado na parte posterior do pescoço;


25
II) Atípico: nó situado nas laterais ou na parte frontal do pescoço;

Há alguns sinais encontrados nos sulcos de enforcados12:

 Sinal de Ponsold: livores cadavéricos, em placas, por cima e por baixo das bordas do
sulco;

 Sinal de Thoinot: zona violácea ao nível das bordas do sulco;

 Sinal de Azevedo-Neves: livores puntiformes por cima e por baixo das bordas do sulco;

 Sinal de Neyding: infiltrações hemorrágicas puntiformes no fundo do sulco;

 Sinal de Ambroise-Paré: pele enrugada e escoriada no fundo do sulco;

 Sinal de Bonnet: marcas da trama do laço;

 Sinal de Schulz: borda superior do sulco saliente e violácea;

12
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p. 360.
26
QUADRO SINÓTICO

Asfixias mecânicas: tem que haver um fator


de ordem mecânica na sua execução, bem

como deve ser violenta. Deve ter como


características:

a) Tem que ser primária quanto ao

tempo - a causa que provocou a


asfixia tem que ser primária, ou seja,

foi a própria asfixia que começou o


quadro traumático no organismo.
b) Mecânica quanto ao meio - tem que

ser gerada por algum fator de ordem


mecânica.

ENERGIAS DE ORDEM FÍSICO- c) Violenta quanto ao modo;

QUÍMICA Tríade asfíxica: 3 sinais devem estar presentes

IV) O sangue fica líquido e escuro;


ASFIXIOLOGIA FORENSE
V) Há congestão polivisceral;
VI) Presença de petéquias de Tardieu
disseminadas por todo corpo,
tanto internamente quanto
externamente;

Essa tríade, contudo, não significa que o


indivíduo morreu asfixiado. pode aparecer
em uma porção de outras causas de morte
que não guardam relação com a asfixia.

27
A simples atuação mecânica do agente vulnerante não se basta

para acarretar a causa da morte. Para isso, há uma reação


química desencadeada no organismo devido à

AÇÃO DO AGENTE constrição/obstrução das vias respiratórias. Essa reação química


depende da hipoxia (falta de oxigênio) e da hipercarpnia
VULNERANTE E
(excesso de gás carbônico). Então, a causa da morte nas asfixias
CAUSA DA MORTE se dá pelo conjunto formado pela ação do agente vulnerante

NAS ASFIXIAS físico mecânico junto com uma alteração química gerada no

organismo pela ação desse agente, dando origem a um agente


vulnerante físico-químico. Daí a classificação as asfixias na

categoria das energias vulnerantes de ordem físico-química.

Asfixia Pura: são as asfixias causadas por problemas


exclusivamente respiratórios, a exemplo da sufocação direta e
do soterramento estrito.

Asfixia Complexa: o conceito é dado por exclusão, pelo que


são causadas pela associação de mais de um aparelho ou
sistema, ocorrendo na maioria dos casos de asfixia. Ou seja, se
não for causada por problemas exclusivamente respiratórios,
sendo resultado da confluência de um conjunto de fatores, será
considerada asfixia complexa. Isso porque na asfixia estão
MODALIDADES DE envolvidos, para além do sistema respiratório, também o

ASFIXIA sistema circulatório e/ou o sistema nervoso.

Asfixia Mista: são as que se confundem e se superpõem, em

graus variados, aos fenômenos circulatórios, respiratórios e


nervosos – ex.: esganadura.

As asfixias também podem ocorrer das seguintes maneiras:

V) Impedir o fluxo de ar nos pulmões – sufocação


direta e sufocação indireta;
VI) Modificar o meio ambiente respirável – líquido,
sólido em pó e gases não respiráveis;

28
VII) Constrição do pescoço – enforcamento –
enforcamento, estrangulamento e esganadura;
VIII) Por outras formas – eletricidade, química, etc.

Não precisa necessariamente haver submersão, bastando que


os orifícios respiratórios (narinas e boca) fiquem abaixo de um
líquido, acidentalmente ou criminosamente. Há uma
diferenciação entre os tipos de afogamento:

 Afogamento em água doce;

Quando o indivíduo se afoga em água doce, a entrada de água

nos pulmões faz com que os glóbulos vermelhos se rompam,


liberando o potássio na corrente sanguínea, sendo esse sangue
em sequência bombeado para o coração, entrando nele através
do átrio esquerdo (fica no lado esquerdo do coração). A alta

concentração de potássio no coração causa uma fibrilação


ventricular, gerando uma parada cardiorrespiratória, levando o
indivíduo a óbito.
AFOGAMENTO
Com isso, o perito legista consegue identificar que o
afogamento se deu em água doce, pois durante a autópsia, o
sangue que é encontrado no lado esquerdo do coração (átrio

esquerdo) está mais diluído do que no resto do corpo. Ou seja,


o perito basicamente faz a comparação entre o sangue que está

no átrio esquerdo com o que está no átrio direito.

 Afogamento em água salgada;

No afogamento em água salgada ocorre justamente o oposto


daquilo que ocorre no afogamento em água doce. Isso porque
a água do mar que entra nos pulmões vai puxar a água de

dentro dos glóbulos vermelhos (meio hipertônico), fazendo com


que ele murche, diminuindo de tamanho. Nessas hipóteses, o
sangue, que já possui uma certa quantidade de água, vai perder

29
essa água para o pulmão, que fica cheio de água que entra do

mar e água que sai do sangue.

Durante a autópsia, se faz o mesmo procedimento realizado nos


casos de afogamento em água doce: o perito irá coletar sangue

do lado esquerdo e direito do coração e fazer a comparação


das densidades, e encontrará um resultado contrário.

O sangue do lado esquerdo vai estar mais grosso e denso do

que o sangue encontrado do lado direito.

Cogumelo de espuma:

É um dos principais sinais da morte por afogamento. Ocorre


porque o líquido aspirado mistura-se com o ar alveolar e com

as secreções presentes nas vias respiratórias, bem como com o


surfactante, que é uma substância especial que recobre o

epitélio alveolar.

Dessa mistura resulta uma espuma consistente que distende o


pulmão e preenche toda a árvore respiratória do cadáver.

Quando se dá a morte e o corpo é retirado da água pouco


tempo depois, costuma eliminar essa espuma pelas narinas e

pela boca, de modo que ela apresenta o aspecto de uma massa


branca arredondada, lembrando o formado de um “chapéu de

cogumelo”.

Diagnóstico de morte por afogamento em cadáveres:

Durante a autópsia, o legista encontrará além dos sinais gerais


de asfixia (tríade asfíxica), os seguintes aspectos:

VI) Manchas de Paltaulf nos pulmões;


VII) Enfisema hidroaéreo de Casper;
VIII) Resíduos marinhos nas vias aéreas;
IX) Alteração da densidade do sangue nos átrios
30
cardíacos;

É uma modalidade de asfixia mecânica pura decorrente do


bloqueio direto ou indireto das vias respiratórias, impedindo

assim a passagem do ar. Pode ser classificada como sufocação


direta e sufocação indireta.

a) Sufocação direta: somente está envolvido o aparelho

respiratório. Há duas maneiras de causa a sufocação


SUFOCAÇÃO
direta: pela obstrução dos orifícios respiratórios (ex.:

tapas a boca e a narina com as mãos) e pela obstrução


das vias aéreas superiores.

b) Sufocação indireta: pode se dar de três maneiras –


compressão do tórax, crucificação e paralisia da

musculatura respiratória.

a) Esganadura:

A esganadura somente pode ser feita com as mãos, deixando


frequentemente estigmas digitais e ungueais no pescoço da

vítima, indicando que houve ação criminosa, provavelmente uma


tentativa de homicídio por asfixia, sendo a forma qualificada e

caracterizando-se como crime hediondo. A esganadura nunca


apresentará sulcos com marca de laço no pescoço.

b) Enforcamento:

MODALIDADES DE Ocorre com laço tracionado no pescoço pelo peso do corpo

da vítima. Pode constituir ação criminosa homicida, suicida ou


ASFIXIA POR
até mesmo eventos acidentais, sendo mais comuns em casos de
CONTRIÇÃO DO suicídio. O enforcamento poderá ser:

PESCOÇO
 Típico - nó situado na parte posterior do pescoço;

31
 Atípico - nó situado nas laterais ou na parte frontal do

pescoço;
c) Estrangulamento:

Ocorre com laço tracionado por qualquer outra força

diferente do peso do corpo da vítima, geralmente traduzindo


uma ação criminosa com intenção homicida, evento acidental

ou execução. Geralmente o laço é apertado com as mãos do


agressor, mas nunca por elas diretamente, caso em que

ocorrerá esganadura. Pode ser feito, ainda, por pressão do


braço (mata leão) ou das pernas (triângulo armlock – golpe de
jiu-jítsu). O estrangulamento geralmente apresenta sulcos

contínuos, completos, de profundidade uniforme, sentido


horizontal, podendo mostrar o decalque do laço, expor os

tecidos subjacentes ou até mesmo não aparecer.

Estrangulamento:

 HORIZONTAL

 COMPLETO
 PROFUNDIDADE HOMOGÊNEA
SULCOS CERVICAIS
 ABAIXO DA LARINGE E DO HIOIDE
E ESTIGMAS
Enforcamento:
UNGUEAIS NO
 OBLÍQUO
PESCOÇO  INCOMPLETO

 PROFUNDIDADE HETEROGÊNEA
 ACIMA DA LARINGE E DO HIOIDE

32
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FGV - 2012 - PC-MA - Delegado de Polícia) Na sufocação indireta por compressão torácica,

a vítima asfixia-se pela restrição aos movimentos de inspiração e expiração. O achado de


necropsia típico desta modalidade de asfixia caracteriza-se por

A) rotura das camadas interna e externa das artérias carótidas.

B) fratura do osso hioide.

C) petéquias subpleurais e subepicárdicas.

D) máscara equimótica ou equimose cérvico-facial.

E) cogumelo de espuma eliminado pelos orifícios da face.

Comentário:

Aqui a banca sobra o conhecimento da sistemática da asfixia por sufocação indireta, que

ocorre de três maneiras: compressão do tórax, crucificação e paralisia da musculatura


respiratória. Na asfixia por compressão torácica há o bloqueio dos movimentos
respiratórios de inspiração e expiração, devido a uma forte pressão sobre o tronco da

vítima. Essa compressão, além de impedir os movimentos respiratórios, também impede


o fluxo sanguíneo, fazendo com que o sangue que está na região cérvico-facial fique

acumulado, gerando uma pressão nos vasos e fazendo com que ocorra pequenos
extravasamentos de sangue nessa região, aparecendo as petéquias de Tardieu na região

cérvico-facial e na membrana subconjuntiva dos olhos. Essa sugilação (conjunto de


petéquias) em torno da face caracteriza a máscara equimótica de Morestin. O gabarito
que responde a nossa questão, portanto, está na letra “d”.

33
Questão 2

(FUMARC - 2014 - PC-MG - Investigador de Policia) Experimentalmente, o enforcamento


evolui em três períodos até o êxito letal. Constitui um sinal clínico característico da evolução

do seu “segundo período”:

A) Calor.

B) Convulsão.

C) Fosfeno.

D) Zumbido.

Comentário:

Aqui há um ponto que não abordamos na explanação do conteúdo, por isso vamos nos
ater a uma explicação com mais detalhes antes de responder a questão. Para além das

características que podem ser observadas na morte por enforcamento, há três estágios
que ocorrem durante o processo desse tipo de asfixia por constrição do pescoço. No

período inicial temos a constrição do feixe vásculo-nervoso do pescoço,


comprometendo a vascularização cerebral, determina sensação de calor, zumbidos e
perda rápida da consciência; no segundo período há parada do fluxo respiratório, por

impossibilidade do livre trânsito do ar atmosférico determinada pela obstrução das vias


aéreas ao nível do osso hioide, pelo laço, e pelo rechaço da base da língua contra a

parede posterior da faringe, promove hipoxemia seguida de hipercapneia, com


convulsões, e de fenômenos ligados à paralisia do pneumogástrico; no terceiro

período sobrevém apneia, parada cardíaca e morte. Diante da explicação, podemos


concluir pela resposta do nosso gabarito como sendo a letra “b” como efeito da fase

final do enforcamento, que poderá gerar parada cardíaca com convulsões.

Questão 3

((VUNESP - 2014 - PC-SP - Médico Legista) Assinale a alternativa que contém sinais mais
comumente encontrados nas vítimas de afogamento.

34
A) Manchas de Tardieu, cogumelo de espuma e máscara equimótica.

B) Manchas de Paltauf, maceração da pele e cogumelo de espuma.

C) Máscara equimótica, manchas de Paltauf, pele anserina.

D) Hipóstases claras, manchas de Tardieu e cianose ungueal.

E) Lesões por animais aquáticos, cianose ungueal e hipóstases escuras.

Comentário:

Vimos que as manchas de Paltaulf são equimoses que podem ser vistas a través da

pleura pulmonar, sendo ocasionada pelo rompimento dos vasos sanguíneos alveolares
devido à pressão exercida pela entrada de água nos pulmões, sendo, portando, uma

lesão patognomônica de afogamento. Para além disso, outro sinal bastante característico
nos casos de morte por afogamento é o aparecimento do cogumelo de espuma, uma
vez que o líquido aspirado se mistura com o ar alveolar e com outras secreções

presentes nas vias respiratórias e com o surfactante (substância que recobre o epitélio
alveolar), ocasionando a formação de uma mistura branca e consistente que é expelida

pelos orifícios respiratórios do cadáver afogado. De outro lado, ocorre o fenômeno da


maceração, que será estudado com mais detalhamento no capítulo referente à

tanatologia forense. A maceração é a destruição dos tecidos epiteliais da epiderme e da


derme devido ao contato prolongado do corpo com a água. Ocorre mais frequentemente

nos casos de aborto, onde o feto natimorto fica por um razoável período de tempo
dentro do útero e submerso no líquido amniótico da placenta, causando assim a
destruição da sua pele, apresentando lesões que se assemelham às queimaduras de 3º

grau. Sendo assim, a alternativa que corresponde ao gabarito da nossa questão está na
letra “b”.

Questão 4

(FUNCAB - 2013 - PC-ES - Médico legista) A presença no cadáver de um sulco horizontal e


contínuo no pescoço, com bordas iguais, profundidade uniforme e não pergaminhado, situado

35
sobre o laringe, infiltração abaixo do sulco e sinais gerais de asfixia, todos esses elementos em

conjunto caracterizam a morte por:

A) enforcamento.

B) estrangulamento.

C) esganadura.

D) sufocação.

E) afogamento.

Comentário:

Aqui a banca aborda as características dos sulcos cervicais e sua diferenciação nos casos
de enforcamento e estrangulamento. Como vimos, os sulcos produzidos por

estrangulamento, geralmente, possuem as características de ser contínuo e completo,


horizontal e de profundidade uniforme, ficando quase sempre entre a laringe e o hioide.

Com essas informações, confrontando-as com os dados descritos no enunciado da


questão, podemos concluir que a situação narrada é consequência de um
estrangulamento, estando a resposta, portando, na letra “b”.

Questão 5

(UEG - 2013 - PC-GO - Delegado de Polícia) Com relação às asfixias, tem-se o seguinte:

A) esganadura tem origem homicida, sendo rara sua forma acidental.

B) o sulco comumente encontrado nos enforcados e estrangulados é produzido por um

instrumento corto- contundente.

C) soterramento é um tipo de asfixia em que ocorre a substituição do meio aéreo por terra.

D) estrangulamento braquial é forma comum de asfixia em suicídios e requer desproporção de


forças.

36
Comentário:

É uma questão um tanto quanto polêmica, mas vamos à analise de suas alternativas. Na

alternativa “a” existem dados verídicos e coerentes acerca da esganadura. Trata-se de


modalidade de asfixia por constrição do pescoço na qual são utilizadas diretamente as

mãos do agente, sendo quase sempre de natureza criminosa. A controvérsia da


alternativa está na informação de que raramente pode ter origem acidental. Não

conseguimos vislumbrar na prática a realização de uma esganadura acidental, pois o seu


próprio modo de execução demanda que haja uma intenção direta do agente criminoso

de produzir o resultado morte ou pelo menos causar lesões corporais, a depender do


caso. A banca deu como resposta justamente a alternativa “a”, mas, como dissemos de
início, é uma resposta polêmica. Pensamos que melhor serviria como resposta a

alternativa “c”, pois a substituição do meio respirável por terra realmente é uma forma de
soterramento. Não obstante, a definição dada pela doutrina médico-legal acerca do

soterramento é que este consiste na substituição do meio respirável por sólidos em pó,
que não somente a terra propriamente dita, podendo ter sido essa delimitação o que

veio a invalidar a alternativa. A alternativa “b” erra ao afirmar que os enforcamentos e


estrangulamentos são produzidos por instrumentos corto-contundentes, o que

definitivamente não é verdade, pois isso provavelmente levaria a uma lesão de


decapitação, esgorjamento ou degolamento, a depender do caso. Ficamos então com a

alternativa dada como correta pela banca examinadora, constante na letra “a”.

Questão 6

(PC-MG - 2011 - PC-MG - Delegado de Polícia) Constitui um exemplo de asfixia mecânica

pura de interesse médico-legal:

A) Sufocação direta.

B) Estrangulamento típico.

C) Enforcamento completo.

D) Esganadura antebraquial.

37
Comentário:

Asfixias puras são aquelas cuja dinâmica lesiva somente envolve o sistema respiratório e

nada mais. Esse é um dado chave para a resolução desta questão. Dentre as alternativas,
a única que somente envolve o sistema respiratório está na letra “a”, uma vez que a

sufocação direta pode ser realizada pela obstrução dos orifícios respiratórios e pela

obstrução das vias aéreas superiores.

Questão 7

(2016 – Auxiliar de Legista – CEBRASPE - PCPE) O tipo de asfixia mecânica que ocorre
devido à constrição do pescoço por laço e na qual a força atuante é o próprio peso da vítima

denomina-se

A) estrangulamento.

B) sufocação direta.

C) enforcamento.

D) sufocação indireta.

E) esganadura.

Comentário:

Questão fácil! Dentre as 3 modalidades de asfixia por constrição do pescoço está o


enforcamento, cuja característica principal é o laço tracionado no pescoço pelo peso do

corpo da vítima. O gabarito da questão, portanto, está na letra “c”.

Questão 8

(2016 – Auxiliar de Legista – CEBRASPE - PCPE) Assinale a opção que apresenta um sinal

observado na necropsia de vítimas de afogamento.

A) cadáver em posição de lutador

B) lesão de acordeão de Lacassagne

38
C) cogumelo de espuma

D) máscara equimótica de Morestin

E) vitriolagem

Comentário:

Aqui outra questão que não oferece maiores dificuldades! Vimos as características gerais
da asfixia (tríade asfíxica), bem como as particularidades de cada uma das modalidades

de asfixia mais comumente trabalhadas pela doutrina médico-legal e de maior


recorrência nas provas de concursos. Dentre elas o afogamento, que apresenta

características bastante peculiares em relação às demais asfixias. O afogamento tem


como principal sinal externo o aparecimento do cogumelo de espuma, e, como sinal

interno, as manchas de Paltaulf. Diante disso, fica fácil responder a questão, estando seu

gabarito na letra “c”.

Questão 9

(VUNESP - 2014 - PC-SP - Médico Legista) São características do sulco cervical nas asfixias
por enforcamento e estrangulamento, respectivamente:

A) geralmente único / frequentemente múltiplo.

B) raramente apergaminhado / frequentemente apergaminhado.

C) horizontal / oblíquo.

D) contínuo / descontínuo.

E) abaixo da cartilagem tireoide / acima da cartilagem tireoide.

Comentário:

Novamente a banca cobre a diferenciação das modalidades de asfixia por constrição do

pescoço a partir das características dos sulcos encontrados no pescoço das vítimas. Aqui
podemos responder a questão por exclusão das alternativas. Sabemos que

frequentemente os sulcos produzidos pelo enforcamento são oblíquos, descontínuos, de

39
profundidade heterogênea e acima da laringe e do hioide. Com isso podemos excluir as

alternativas “c”, “d” e “e”. Sobraram-nos as alternativas “a” e “b”. Vejamos. A letra “a” nos
fornece uma informação interessante, até então não trabalhada neste material, mas que é

de fácil dedução e conclusão. Os sulcos únicos são aqueles causados por apenas uma
volta do laço em torno do pescoço, ao passo que os múltiplos são aqueles causados por

mais de uma volta do laço no pescoço. Assim podemos concluir que essa é a nossa
alternativa! Isso porque no enforcamento o modo de confecção do laço apresenta uma
única alça, estando as extremidades da corda presas acima, formando um nó. Já no

estrangulamento, geralmente, o laço é amarrado no pescoço a partir de duas ou mais


voltas, sendo apertado pelas extremidades da corda com outra força que não seja o peso

do corpo, mais comumente as mãos do criminoso. Assim, o gabarito da nossa questão

está na letra “a”.

Questão 10

(FUNCAB – Delegado de Polícia – PC-RJ/2012) Nas necropsias, em casos de morte por


asfixias em geral, na ausência de lesões externas específicas, o perito deverá basear o seu

diagnóstico no achado de um conjunto de sinais internos, que estarão descritos no corpo do


laudo cadavérico. A autoridade policial, ao ler o laudo pericial, irá observar a presença

constante de:

A) Edema cerebral, petéquias pulmonares e sangue coagulado.

B) Fluidez do sangue, congestão e equimoses viscerais.

C) Desidratação corporal e hemorragia visceral.

D) Edema pulmonar, digestão intestinal e congestão vascular.

E) Encontro de espuma e de corpos estranhos nas vias respiratórias.

Comentário:

Aqui temos os sinais gerais de asfixia, representando a tríade asfíxica, sendo sinais
internos presentes nas mais variadas modalidades de mortes por asfixia. São 3 os sinais

40
gerais: o sangue fica fluido e escuro; há congestão polivisceral; e há presença das

petéquias de Tardieu disseminadas por todo o corpo, interna e externamente. Com isso,

podemos concluir que o gabarito da nossa questão encontra-se na letra “b”.

E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e
praticando bastante! Vamos juntos até a aprovação! Até mais!!!

41
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - B

Questão 3 - B

Questão 4 - B

Questão 5 – A

Questão 6 – A

Questão 7 – C

Questão 8 – C

Questão 9 – A

Questão 10 – B

42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aula de anatomia, 2020. Disponível em: https://www.auladeanatomia.com/novosite/pt/sistemas/sistema-
respiratorio/. Acesso em 11/02/2020.

CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.

DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p. 360.

GALVÃO, Malthus. Lesões causadas pela ação dos ácidos – Vitriolagem. Malthus, 2020.
Disponível em www.malthus.com.br. Acesso em: 09/02/2020.

Pinterest, 2020. Disponível em https://br.pinterest.com/pin/349451252323189934/. Acesso em 11/02/2020.

Toda Matéria, 2020. Disponível em www.todamateria.com.br/sistema-circulatorio/. Acesso em


11/02/2020.

43
CARREIRAS POLICIAIS

Medicina Legal
Capítulo 8
SUMÁRIO

MEDICINA LEGAL, Capítulo 8 .................................................................................................................................... 2

7. Tanatologia Forense. ................................................................................................................................................ 2

8.1. Conceito. ................................................................................................................................................................... 2

8.1.1 Critérios para o diagnóstico de morte encefálica. ................................................................................. 4

8.1.2 Notificação compulsória. ................................................................................................................................... 5

8.1.3 Tipos de morte. ...................................................................................................................................................... 5

8.1.4 Morte natural, morte violenta e morte suspeita. .................................................................................... 6

8.2. Destinação do cadáver após a morte. ......................................................................................................... 8

8.2.1 Destinação final do cadáver. ............................................................................................................................ 8

8.3. Tanatognose. ........................................................................................................................................................... 9

8.3.1. Fenômenos abióticos imediatos. .................................................................................................................... 9

8.3.2. Fenômenos abióticos consecutivos: ........................................................................................................... 10

8.3.3. Fenômenos transformativos. ......................................................................................................................... 15

8.4. Cronotanatognose. ............................................................................................................................................ 21

8.5. Diagnose Diferencial das lesões intra vitam e post mortem. ......................................................... 23

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 24

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 33

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 41

1
MEDICINA LEGAL

Capítulo 8

7. Tanatologia Forense.

8.1. Conceito.

O conceito de tanatologia basicamente se caracteriza como sendo o estudo dos sinais


que se relacionam com a morte. Antes de nos aprofundarmos no estudo, é preciso que

tenhamos conhecimento acerca de alguns conceitos iniciais que vão nos acompanhar ao
longo de toda a matéria, de modo que esse conhecimento vai facilitar bastante na
compreensão do tema. Vamos a eles!

É o estudo do ser humano em seus aspectos


biológicos e comportamentais.

ANTROPOLOGIA FÍSICA

Trata-se da perícia realizada no local em que há o


cadáver. Normalmente realizada pelos peritos
criminais, atendendo ao art. 6º, I do CPP.
PERINECROSCOPIA

É o estudo da hora aproximada da morte a partir

CRONOTANATOGNOSE dos fenômenos cadavéricos.

Estudo das alterações biológicas e geológicas dos


materiais orgânicos após a morte até a fossilização.
Está ligada a Paleontologia e aos fenômenos
TAFONOMIA
transformativos conservadores.

É a parte da tanatologia forense que estuda o

TANATOGNOSE diagnóstico da realidade da morte e os fenômenos

2
correlatos.

NECROSE É a morte de um tecido, ou seja, morte celular em


grupo.
É a morte isolada de uma célula (“morte

APOPTOSE programada”), que se separa das demais, tem seu


tamanho reduzido.
Mancha escura que permanece sob o cadáver
durante e após a decomposição. Pode conter
resíduos que permitam a identificação de tóxicos.
SOMBRA CADAVÉRICA
Importante nas exumações para a análise e pesquisa
de eventuais substâncias venenosas e a consequente
constatação de morte por envenenamento.
É um fenômeno complexo de difícil conceituação.
Mas, em linhas gerais, podemos conceituá-la como a
MORTE
cessação dos fenômenos vitais pela parada das
funções cerebral, respiratória e circulatória.

Em relação a este último conceito, é importante que se façam algumas considerações. A


morte não é instantânea, é gradativa a nível celular, muito embora, macroscopicamente, já
haja um quadro clínico irreversível da morte do indivíduo. No Brasil, o critério definidor de
morte é a morte encefálica, que é a perda irreversível das funções encefálicas (cérebro,

cerebelo e tronco encefálico).

A Lei 9.437, em seu art. 3º, dispõe que “a retirada post mortem de tecidos, órgãos ou
partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser procedida de
diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não

3
participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios
clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina”.

Com base nisso, o Conselho Federal de Medicina regulamentou, por meio da Resolução
1.480/97, os critérios para diagnóstico de morte encefálica, considerando que a parada total e

irreversível das funções encefálicas equivale à morte, conforme os critérios já bem

estabelecidos pela comunidade científica mundial.

8.1.1 Critérios para o diagnóstico de morte encefálica.

O art. 1º da Resolução 1.480/97 dispõe que a morte encefálica será caracterizada através
da realização de exames clínicos e complementares durante intervalos de tempo variáveis,

próprios para determinadas faixas etárias, a saber:

De 7 dias a 2 meses incompletos – 48 horas


De 2 meses a 1 ano incompleto – 24 horas
De 1 ano a 2 anos incompletos – 12 horas
Acima de 2 anos – 6 horas

Assim, há alguns parâmetros clínicos a serem observados para fins de constatação da

morte encefálica1, estabelecidos no art. 4º da Resolução do CFM:

I) Coma aperceptivo – com ausência de atividade motora supra-espinhal;


II) Apneia – parada respiratória;

Os exames complementares a serem realizados para a constatação de morte encefálica


deverão demonstrar de forma inequívoca:

 Ausência de atividade elétrica cerebral;


 Ausência de atividade metabólica cerebral;
 Ausência de perfusão sanguínea cerebral;

No termo de declaração de morte encefálica deverá constar a causa do coma, devendo

ser interrompido o protocolo caso sejam constatados hipotermia ou uso de drogas


depressoras do sistema nervoso central (como intoxicação por barbitúricos,

1
Vide questão 1 deste material.
4
benzodiazepínicos ou por outras substâncias neurolépticas), de modo a descartar causas

reversíveis do coma.

8.1.2 Notificação compulsória.

Trata-se da comunicação compulsória feita pelo profissional de saúde, em determinados


casos, às centrais de notificação, captação e distribuição de órgãos da unidade federada onde

ocorre, acerca do diagnóstico de morte encefálica feito em pacientes por eles assistidos.

8.1.3 Tipos de morte.

A doutrina médico-legal traz algumas modalidades de morte e seus diferentes tipos de


diagnóstico. Vejamos cada uma delas:

a) Morte anatômica: a cessação total e permanente das grandes funções do organismo;

b) Morte histológica: células e sistemas do organismo morrem gradativamente;

c) Morte aparente: redução das funções vitais momentaneamente. O indivíduo, se


socorrido adequadamente, pode se recuperar;

d) Morte relativa: parada cardíaca associada à perda da consciência, diagnosticada pela


ausência de pulso. O indivíduo, se socorrido adequadamente, pode se recuperar;

e) Morte intermédia ou intermediária: admitida por alguns autores, seria o estágio


inicial da morte definitiva. Estágio intermediário entre a morte relativa e a morte
absoluta. O indivíduo, se socorrido adequadamente, pode se recuperar;

f) Morte real ou absoluta: é o ato de cessar tudo, a personalidade humana e suas


funções.

g) Morte súbita: morte inesperada, brusca e repentina, não tendo causa externa ou
violenta, sendo, portanto, sempre de causa interna ou patológica. Quanto à
sobrevivência, a morte súbita é aquela de efeito imediato e instantâneo e, em razão de
durar alguns minutos, impossibilita o atendimento médico eficiente.
5
h) Morte agônica: é aquela que, depois da manifestação de sua causa, seu processo
perdura por dias até que o indivíduo venha efetivamente a óbito.

Alguns autores ainda fazem a distinção entre morte súbita natural e morte súbita

suspeita. A natural pode ter as mais diversas causas, como distúrbios cardiovasculares
(rompimento de um aneurisma), lesões no sistema nervoso central, hemorragias meníngeas ou
encefálicas, bem como podem decorrer de fatores ocasionais (ex.: fadiga, hipersensibilidade a

determinadas drogas – idiossincrasias – etc.). Já a morte súbita suspeita é aquele que ocorre
de forma duvidosa e sobre a qual não se tem evidência de ter sido ocasionada por fatores

naturais ou por causa violenta. Assim, a morte súbita suspeita será assim considerada sempre

que houver a possibilidade de não ter sido de causas naturais2.

8.1.4 Morte natural, morte violenta e morte suspeita.

Embora já tenhamos tratado de diversos conceitos acerca dos tipos de morte, aqui vale um

aprofundamento especial, por ser uma temática de extrema importância no dia a dia das
perícias forenses, bem como ser objeto de recorrente cobrança em provas de concursos
públicos. Vamos então à diferenciação dos conceitos de morte natural, violenta e suspeita.

 Morte natural:

É aquele decorrente dos processos mórbidos preexistentes, qualquer que seja sua

natureza e sua evolução, podendo ser congênitos ou adquiridos, e desde que não tenham
sido agravados por um fator exógeno (externo). Segundo o professor Genival Veloso de
França3, o melhor seria denominá-la de morte por antecedentes patológicos.

2
HERCULES, Hygino de C., Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005, p. 129.
3
FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 9ª ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2014, p 457.
6
 Morte violenta:

É aquela resultante diretamente de uma ação exógena e lesiva, ou que tal ação tenha
concorrido para agravar uma patologia existente, não importando se ocorreu de forma

imediata ou tardia, mas desde que haja relação de causa e efeito entre a agressão e a morte.

Dessa forma, se inserem nesse conceito todas as mortes oriundas de violência ou


decorrentes de meios estranhos que agravem o fisiologismo normal ou as patologias internas.

São mortes causadas por uma ação vinda de fora. Em todos esses óbitos, procura-se
determinar a participação de alguém de forma ativa ou passiva para justificar sua

responsabilidade.

Não significa que a morte violenta tenha necessariamente um agente causador


responsável, podendo ocorrer também de forma acidental, sem que se tenha qualquer
participação humana, tal como ocorre nos desastres naturais ou outros fenômenos físicos

(fulminação por raios, inundação, terremotos, etc.), bem como pela ação de animais. Entende-
se também por morte violenta aquela em que não existe violência no sentido real da palavra,

mas que sua ocorrência se deu por motivo de descaso, como nos casos de omissão de

socorro.

 Morte suspeita:

É aquela que surge de forma inesperada e sem causa evidente. Este tipo de morte,
atualmente, é transferido para a responsabilidade médico-legal em razão da Resolução do
Conselho Federal de Medicina, devido à própria experiência pericial. Entre as mortes suspeitas

está a que ocorre em salas de cirurgia (mors in tabula), principalmente quando o óbito não
está justificado pelos comemorativos e pela evolução da doença. Em resumo, a morte suspeita

se dá quando não se sabe exatamente a sua causa, se interna ou externa.

7
8.2. Destinação do cadáver após a morte.

Após o evento letal, a depender do tipo de morte ocorrida, o cadáver poderá ser levado a
diferentes locais para a determinação da causa da morte e demais procedimentos até que seja

sepultado.

I) Sistema de verificação de óbito (SVO): local para onde é encaminhado o


cadáver nos casos de morte natural sem assistência médica.

II) Instituto médico-legal (IML): é obrigatório o encaminhamento do cadáver nos


casos de morte suspeita ou violenta4.

8.2.1 Destinação final do cadáver.

Após os procedimentos médico-legais para a elucidação da causa da morte, e, em alguns

casos, doação de seus órgãos, o cadáver poderá passar pelos seguintes procedimentos:

a) Inumação: é o sepultamento na terra, enterro. Destino final mais comum do cadáver.

b) Exumação: é o ato de desenterrar o cadáver ou os restos dele (art. 163 ao 166 do CPP).

c) Imersão: é o sepultamento na água.

d) Cremação: o cadáver é submetido a altíssimas temperaturas para ser reduzido às cinzas.


Para mortes naturais, não há necessidade de autorização judicial, basta que dois
médicos assinem a declaração de óbito ou então, se o cadáver foi para o Instituto
Médico Legal, basta a assinatura de um médico legista. No entanto, se a morte for
violenta, serão necessárias a assinatura de um médico legista e também da autorização
judicial.

e) Destruição: o professor Genival Veloso de França cita que alguns seguidores de uma
seita indiana deixavam os cadáveres no alto de uma torre para serem consumidos por
abutres e pela fauna cadavérica.

4
Vide questão 9 deste material.
8
f) Liquefação: é a cremação ecológica. É um método novo, no qual o cadáver é submerso
em solução aquecida e pressurizada de hidróxido de potássio, depois os ossos são
cremados.

g) Embalsamento: soluções antissépticas e conservadoras são injetadas no cadáver para


retardar a putrefação. Não se confunde com a formolização, em que as vísceras são
substituídas por algodão embebidos de formol.

8.3. Tanatognose.

É a parte da tanatologia forense que estuda o diagnóstico da realidade da morte e os

fenômenos correlatos. Muitos autores seguem a classificação do professor Flamíneo Fávero


(clássica) e dividem os fenômenos abióticos cadavéricos em:

 Imediatos/incerteza/prováveis;
 Mediato/certeza/tardios/reais;
 Transformativos – destrutivos e conservadores;

Estudaremos cada um deles separadamente. Há ainda outra forma de classificar os

fenômenos cadavéricos apontada por outros autores, que os subdividem em:

 Fenômenos de ordem física: hipóstases, desidratação, resfriamento.


 Fenômenos de ordem química: rigidez, autólise, putrefação etc.

8.3.1. Fenômenos abióticos imediatos.

São sinais que aparecem imediatamente após a morte ou quando o indivíduo ainda

está morrendo. Não são considerados sinais de certeza de morte, pois pode haver a
reanimação do indivíduo. Sendo assim, são sinais de probabilidade ligados normalmente a

cessação das funções vitais. São eles:

I) Perda de consciência: estados de coma;


II) Insensibilidade: estados de coma;
III) Relaxamento dos esfíncteres (flacidez muscular difusa): ânus, pupila, uretra etc;
IV) Cessação da respiração;
9
V) Cessação de batimentos cardíacos;
VI) Facies hipocrática (máscara da morte);
VII) Imobilidade e abolição do tônus muscular;
VIII) Inexcitabilidade elétrica;
IX) Dilatação das pupilas;

8.3.2. Fenômenos abióticos consecutivos:

São sinais que sugerem morte absoluta. Porém, alguns autores afirmam que mesmo na

presença dos sinais abióticos consecutivos, o indivíduo ainda pode estar vivo, ou seja, ainda
pode ser reanimado, sendo, no entanto, pouco provável, pois, para esses sinais acontecerem, é
necessário um tempo maior pós-morte. São eles:

I) Desidratação e Evaporação tegumentar

É um fenômeno físico. Com a morte, não há reposição de líquidos e a evaporação deles

faz surgir alguns fenômenos decorrentes da desidratação do corpo, a saber:

II) Perda de peso;


III) Dessecação das mucosas;
IV) Apergaminhamento da pele:

A pele tem aspecto de pergaminho, mais dura, ressacada e com tonalidade parda. Em
locais sob compressão contínua e intensa (enforcamento, por exemplo) a pele pode ficar

apergaminhada pelo extravasamento de líquidos, e não pela desidratação.

V) Fenômenos oculares:

Alguns aspectos podem ser percebidos nos olhos do cadáver, sinalizando um diagnóstico de

certeza de que houve a morte. Subdividem-se em:

a) Sinal de Louis: é perda de tensão do globo ocular, que se torna mole e depressível;

10
b) Sinal de Larcher-Sommer: é uma mancha negra da esclerótica, acontece entre 3 a 5
horas após a morte. Vejam na imagem5 abaixo:

c) Sinal de Stenon-Louis: é o resultado do enrugamento da córnea e o depósito de


resíduos. A córnea vai ficando opaca, turva e a transparência dela some, depois forma-
se uma tela viscosa (albuminoide), um véu que substitui o brilho da córnea. Vejam a
imagem6 abaixo:

VI) Resfriamento cadavérico (Algor mortis):

É um fenômeno físico. Somos seres homeotermo, ou seja, mantemos nossa temperatura


corporal constante. A média da nossa temperatura corporal é de cerca de 16,5ºC, com

diferença de 1ºC entre a temperatura retal e axilar. A morte interrompe nosso processo de
termorregulação e o cadáver perde calor paulatinamente até igualar a temperatura com a

do ambiente externo.

5
SINAL DE LARCHER-SOMMER. Slideplayer, 2020. Disponível em: www.slideplayer.com.br/slide/5634703/. Acesso

em: 12/02/2020.

6
SINAL DE STENON-LOUIS. Slideshare, 2020. Disponível em: www.slideshare.net/trubelnecropsia/tanatologia-ls.
Acesso em: 12/02/2020.

11
Vários fatores internos e externos influenciam no processo de resfriamento. A

temperatura do cadáver tem importância para a cronotanatognose e inúmeros estudiosos


propõem fórmulas para calcular a provável hora da morte a partir da perda de calor. Delton

Croce afirma que o cadáver perde 0,5ºC nas primeiras 3 horas e depois 1ºC por hora até o
equilíbrio com o meio ambiente.

VII) Livores cadavéricos ou Hipóstases (Livor mortis):

É um fenômeno físico. Também chamadas de sugilações post mortem, os livores


aparecem nas áreas de maior declive do corpo, por ação da gravidade. Há um acúmulo do

sangue no interior dos vasos sanguíneos dessas regiões mais baixas do corpo.

Surgem em torno de 30 minutos (pontilhados) a 2 horas (manchas) após a morte,


generalizam-se entre 6 e 8 horas e se fixam de 8 a 12 horas, de modo que, se mudar a

posição do cadáver, os livores não mudarão de lugar, porque haverá a passagem do plasma
sanguíneo para os tecidos e as hemácias ficarão aglomeradas e imóveis.

Desaparecem com a putrefação. A tonalidade dos livores pode variar conforme os tipos

de morte, a exemplo de ter ocorrido por asfixia, intoxicações etc. Importante ressaltar que as
áreas sob compressão não formam as hipóstases, pois impede a acumulação do sangue em

razão da pressão exercida sobre os vasos nas áreas de contato do cadáver e a sperfície sobre
a qual ele se encontra. Confiram na imagem7:

Há uma grande distinção entre os livores cadavéricos e as equimoses, não se


confundindo em nenhuma hipótese, devido às características peculiares de cada um desses

7
GALVÃO, Malthus. Livores Cadavéricos. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus,com.br. Acesso em
12/02/2020.
12
fenômenos, bem como o momento em que ocorrem no organismo humano. Sobre esse tema,

confiram a tabela comparativa a seguir:

LIVORES EQUIMOSES

Sangue não coagulado Sangue coagulado

Ausência de malhas e fibrina Presença de malhas e fibrina

Ausência de infiltração Infiltração hemorrágica

hemorrágica

Presença em locais específicos Presença em qualquer lugar do


corpo

Sangue dentro dos vasos Sangue fora dos vasos

Integridade dos vasos Roturas de vasos

Os livores ficam coletados dentro dos vasos, ao passo que nas equimoses há o

extravasamento de sangue. Nos livores o sangue fica coletado, enquanto que nas equimoses o
sangue fica infiltrado nos tecidos. As equimoses são lesões intra vitam, e os livores são lesões

post mortem.

VIII) Rigidez cadavérica (Rigor mortis):

É um fenômeno químico. O corpo passa por uma flacidez muscular generalizada imediata
após a morte. Há um desvio metabólico na morte, pela falta de oxigênio e consumo de ATP

sem renovação, aumenta-se a produção de ácido lático pela via anaeróbica, ocorrendo a
acidificação do corpo.

13
Sem ATP, com acúmulo de cálcio e de ácido lático, as pontes químicas de actina e miosina

não conseguem ser desfeitas e ocorre o enrijecimento muscular. Alguns autores atribuem a
rigidez à coagulação da miosina pela desidratação muscular associada ao aumento de ácido

lático (Delton Croce, entre outros).

A causa da morte influencia no aparecimento/desaparecimento e a intensidade da rigidez.


A Lei de Nysten-Sommer consiste em dizer que a rigidez acontece da cabeça para os pés

(sentido céfalo-caudal ou crânio podálico), dos menores segmentos musculares para os


maiores. A rigidez se inicia por volta de 1 a 2 horas após a morte, generaliza-se entre 6 e 8

horas e desaparece com a instalação da putrefação, por volta de 24 após a morte.

Se determinada região do cadáver for manipulada após a instalação da rigidez, esta


região, ficando flácida, não voltará a ficar rígida. Nas mortes por asfixia, a rigidez é intensa e

precoce, sendo a causa da morte importante influenciadora na duração e intensidade da


rigidez8.

INÍCIO DA RIGIDEZ DE 1 A 2 HORAS APÓS A MORTE


GENERALIZAÇÃO ENTRE 6 A 8 HORAS APÓS A MORTE
DESAPARECIMENTO 24 HORAS APÓS A MORTE – INÍCIO DO
ESTADO DE PUTREFAÇÃO.

IX) Sinal de Kossu ou Espasmo Cadavérico: estado de rigidez abrupta, sem


precedência da flacidez muscular generalizada. O cadáver permanece realizando o
mesmo movimento que tinha antes da morte. Seria a permanência da última

8
GALVÃO, Malthus. Rigidez Cadavérica. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus,com.br. Acesso em
12/02/2020.
14
contração muscular em vida. Instantaneamente, após a morte, o indivíduo fica rígido,
mais raro de acontecer. Apesar de diversas, não há explicações satisfatórias.

8.3.3. Fenômenos transformativos.

a) Fenômenos transformativos Destrutivos9:

I) Autólise (químico) – é um processo de destruição celular em decorrência das


próprias enzimas. Os lisossomos liberam enzimas que destroem a própria célula.
Sem o oxigênio, a respiração aeróbica não é realizada, de modo que ocorre um
aumento da acidez celular, um desvio metabólico.

II) Putrefação (químico) – é um processo de decomposição da matéria orgânica, que


sofre acidificação e ação das bactérias. Depende de fatores como tipo de morte,
temperatura, umidade, nutrição etc. Divide-se em quatro etapas:

o Coloração (cromática): se inicia entre 18 e 24 horas com a mancha verde


abdominal (mancha verde abdominal de Brouardel), localizada na fossa ilíaca
direita. Surge no ceco (início do intestino grosso) em razão da intensa presença
de bactérias e por ser a região mais próxima da parede abdominal. Nos recém-
nascidos e afogados ela se inicia no tórax. É de tonalidade esverdeada escura
por conta da sulfoxi-hemoglobina, que é o resultado da hemoglobina
(pigmento vermelho do sangue) + gás sulfídrico (gás produzido pelas bactérias
de putrefação). Confiram na imagem10 a seguir:

9
Vide questões 2, 3, 4 e 6 deste material.
10
GALVÃO, Malthus. Mancha Verde Abdominal. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus,com.br. Acesso em
12/02/2020.
15
o Gaseificação (enfisematosa): com a intensa produção de gases pelas bactérias,
o corpo se expande, assume forma grosseira, com procidência da língua,
projeção dos olhos, bolsa escrotal, prolapso do ânus e tonalidade verde-
enegrecida. Então, em cerca de 2 a 3 dias há a chamada fase gasosa ou
enfisematosa, com produção de mais gases e bolhas. Os gases empurram o
sangue para os vasos superficiais e o desenho deles pode ser visto. É a
circulação póstuma de Brouardel. Brouardel realizou um experimento que
constatou que do 2º ao 4º dia há produção de gases inflamáveis. As bases
pulmonares são espremidas. O cadáver exala um odor péssimo.

O parto póstumo de Brouardel acontece em cadáver de mulher grávida em caixão, pois os


gases de putrefação começam a aumentar e se expandir, de modo que expulsam os órgãos

de dentro para fora, expelindo o feto morto do útero.

16
As bolhas possuem baixo conteúdo proteico e não se confundem com as oriundas de
queimadura de 2º grau (Reação de Chambert). Esse teste é fundamental para fazer a

diferenciação entre as lesões intra vitam e post mortem. Como vimos no capítulo referente às
energias vulnerantes de ordem física, mais especificamente no tópico que trata das
queimaduras, a atuação do calor sobre a pele (em pessoas vivas) faz com que o plasma

sanguíneo se desloque pra baixo da pele, formando bolhas, chamadas de flictenas. Assim,
quando da realização da perícia médico-legal, o perito coleta o líquido de dentro dessas

bolhas para detectar a presença de proteínas. Caso a reação de Chambert seja positiva, trata-
se de uma possível queimadura de 2º grau ou de alguma doença de pele. Em sendo negativa

a reação, trata-se de bolhas decorrentes da fase gasosa da putrefação.

11

o Coliquação (redutora): inicia-se cerca de 3 semanas depois da morte. Os


tecidos moles se dissolvem, o esqueleto fica exposto. Acontece uma dissolução
pútrida do cadáver. A fauna cadavérica segue atuando e se encarrega dos
tecidos moles. Os tecidos vão se desintegrando e há grande perda líquida. O
corpo perde a sua forma e tem aspecto lamacento.

11
GALVÃO, Malthus. Gaseificação. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus,com.br. Acesso em 12/02/2020.
17
12

o Esqueletização: varia conforme o ambiente, podendo levar anos. Alguns autores


se referem a aproximadamente 3 anos. Nesta fase, desaparecem todos os
tecidos orgânicos, ficando o cadáver reduzido a ossos.

13

III) Maceração (químico) – é um fenômeno destrutivo que ocorre em corpos


decompostos em meios líquidos. A ação do líquido vai destruindo os tecidos
orgânicos, causando lesões na pele que se assemelham a queimaduras de 3º grau. A
maceração pode ser:

12
GALVÃO, Malthus. Coliquação. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em:
12/02/2020.

13
GALVÃO, Malthus. Esqueletização. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em:

12/02/2020.

18
 Séptica: quando há a presença de germes no meio.

 Asséptica: quando não há presença de germes no meio. Ocorre mais


comumente com fetos mortos e retidos no útero. A partir do 5º mês de
gestação sofrem maceração asséptica.

A maceração ocorre a partir do 5º mês de gestação, porque é nesse período que há


líquido suficiente no saco amniótico para macerar. Antes do 5º mês, o feto mumifica

(litopedio: feto mumificado), ou seja, fenômeno cadavérico conservador.

Na maceração do feto, observa-se o Sinal de Splanger, que é o achatamento da


abóbada craniana; o Sinal de Spalding, que é o cavalgamento dos ossos do crânio e indica

que há mais de sete dias de morte intrauterina; o Sinal de Brakeman, que também é
chamado de sinal da boca aberta e consiste na queda do maxilar inferior. Observa-se

também que o ventre se achata, a pele se destaca, os ossos ficam livres, a pele apresenta

tonalidade avermelhada. Confiram tais aspectos na imagem a seguir:

19
14

b) Fenômenos transformativos Conservadores:

I) Mumificação – processo químico processo em que o cadáver perde líquidos


rapidamente, tornando-se ressecado. A putrefação é suspensa. Ocorre normalmente
em ambiente secos, quentes e bem arejados. A desidratação é intensa e o cadáver
fica ressecado e escuro. Confiram na imagem15 a seguir:

II) Saponificação ou Adipocera - é um fenômeno químico conservador em que o


cadáver fica com consistência similar a cera ou sabão, esbranquiçado e quebradiço.
Acontece em lugar quente, úmido e pode ser em solo ou água pouco corrente. Há
formação de ácidos graxos com hidrólise de gordura pelas bactérias. Posteriormente,

14
GALVÃO, Malthus. Maceração. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 12/02/2020.

15
GALVÃO, Malthus. Mumificação. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 12/02/2020.
20
os ácidos reagem com algumas bases do solo. Em terrenos argilosos o processo é
facilitado, bem como em indivíduos gordos. Confiram na imagem16 abaixo:

III) Corificação - é uma petrificação ou calcificação que pode acontecer nos fetos
mortos e retidos no útero. Em alguns casos o feto fica calcificado por muitos anos.
Também se trata de corificação o fenômeno químico que consiste na
transformação dos tecidos do cadáver em um tipo de couro duro e ressecado.
Para esse fenômeno acontecer, o corpo deve estar em urnas fechadas forradas
com zinco.

8.4. Cronotanatognose.

Como vimos nos conceitos iniciais de nossa matéria, a cronotanatognose é o estudo da


hora aproximada da morte a partir dos fenômenos cadavéricos. Os fenômenos cadavéricos,

sejam destrutivos ou conservadores (conforme o caso e as condições do ambiente), demoram


um certo lapso de tempo para se manifestarem, fazendo com que o cadáver avance pelos

estágios/fases da putrefação.

É a partir da constatação desses eventos que a perícia consegue, a partir de uma


estimativa, determinar o momento da morte com relativa precisão. Como já estudamos as

16
GALVÃO, Malthus. Saponificação. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 12/02/2020
21
etapas da putrefação cadavérica, e para fins de prova, iremos nos basear a partir de uma

tabela que estabelece uma relação de tempo com as fases da putrefação17:

Até 2 horas da morte Corpo flácido e quente; ausência

de livores cadavéricos.

Rigidez de membros superiores,

nuca e mandíbula; livores


Entre 2 e 8 horas
cadavéricos; alterações oculares

(fundo de olho).

Rigidez generalizada; manchas de


hipóstases; alterações oculares
Entre 8 e 16 horas
(fundo de olho).

Rigidez generalizada; início da


mancha verde abdominal;
Entre 16 e 24 horas
alterações oculares (fundo de
olho).

Disseminação da mancha verde;


fase gasosa; alterações oculares
Entre 48 e 72 horas
(fundo de olho).

Fundo de olho irreconhecível.


Cadáver flutuando nas águas.
Entre 72 horas e 96 horas

Após 3 semanas Fase coliquativa.

Desaparecimento das partes moles

e presença de insetos.

17
Vide questões 5, 7 e 10 deste material.
22
Entre 1 e 3 anos

Após 3 anos Esqueletização completa.

8.5. Diagnose Diferencial das lesões intra vitam e post mortem.

Os intervalos muito próximos da morte (antes ou depois) são chamados de período de


incerteza. O diagnóstico que busca diferenciar as lesões produzidas em face da vítima viva ou

depois da morte possibilita a elucidação da dinâmica do evento, da causa jurídica e causa


da morte.

As lesões produzidas durante a vida apresentam:

a) Reação inflamatória,
b) Retração dos tecidos,
c) Crosta das escoriações,
d) Espectro equimótico,
e) Equimose,
f) Coagulação sanguínea bem aderente
g) Outras reações vitais em geral.

Se produzidas após a morte, não há infiltração hemorrágica, os tecidos não se retraem,

não há formação de crostas de escoriações, sangue não coagulado (lesões brancas), entre
outros.

As bolhas em um cadáver em putrefação podem parecer queimaduras, por isso, faz-se o

Teste de Chambert, que consiste em analisar a quantidade de proteínas que existem dentro
da bolha. Se não houver proteínas, o teste deu negativo, então, é sinal de putrefação. Se

houver proteínas dentro da bolha, é indicativo de queimadura feita em vida ou alguma outra
doença em vida que produz bolhas.

23
QUADRO SINÓTICO

É o estudo dos sinais que se relacionam


com a morte.

Conceitos básicos:

ANTROPOLOGIA FÍSICA: É o estudo do


ser humano em seus aspectos biológicos e

comportamentais.

PERINECROSCOPIA: Trata-se da perícia


realizada no local em que há o cadáver.

Normalmente realizada pelos peritos


criminais, atendendo ao art. 6º, I do CPP.

CRONOTANATOGNOSE: É o estudo da
TANATOLOGIA FORENSE
hora aproximada da morte a partir dos

fenômenos cadavéricos.

TAFONOMIA: Estudo das alterações

biológicas e geológicas dos materiais


orgânicos após a morte até a fossilização.

Está ligada a Paleontologia e aos fenômenos


transformativos conservadores.

TANATOGNOSE: É a parte da tanatologia


forense que estuda o diagnóstico da
realidade da morte e os fenômenos

24
correlatos.

NECROSE: É a morte de um tecido, ou seja,


morte celular em grupo.

APOPTOSE: É a morte isolada de uma


célula (“morte programada”), que se separa
das demais, tem seu tamanho reduzido.

SOMBRA CADAVÉRICA: Mancha escura


que permanece sob o cadáver durante e após

a decomposição. Pode conter resíduos que


permitam a identificação de tóxicos.

Importante nas exumações para a análise e


pesquisa de eventuais substâncias venenosas
e a consequente constatação de morte por

envenenamento.

MORTE: É um fenômeno complexo de difícil


conceituação. Mas, em linhas gerais, podemos
conceituá-la como a cessação dos fenômenos

vitais pela parada das funções cerebral,


respiratória e circulatória.

i) Morte anatômica: a cessação total e permanente das


grandes funções do organismo;

j) Morte histológica: células e sistemas do organismo


morrem gradativamente;
TIPOS DE MORTE

k) Morte aparente: redução das funções vitais


momentaneamente. O indivíduo, se socorrido
adequadamente, pode se recuperar;

25
l) Morte relativa: parada cardíaca associada à perda da
consciência, diagnosticada pela ausência de pulso. O
indivíduo, se socorrido adequadamente, pode se
recuperar;

m) Morte intermédia ou intermediária: admitida por alguns


autores, seria o estágio inicial da morte definitiva.
Estágio intermediário entre a morte relativa e a morte
absoluta. O indivíduo, se socorrido adequadamente, pode
se recuperar;

n) Morte real ou absoluta: é o ato de cessar tudo, a


personalidade humana e suas funções.

o) Morte súbita: morte inesperada, brusca e repentina, não


tendo causa externa ou violenta, sendo, portanto, sempre
de causa interna ou patológica. Quanto à sobrevivência, a
morte súbita é aquela de efeito imediato e instantâneo e,
em razão de durar alguns minutos, impossibilita o
atendimento médico eficiente.

p) Morte agônica: é aquela que, depois da manifestação de


sua causa, seu processo perdura por dias até que o
indivíduo venha efetivamente a óbito.

O art. 1º da Resolução 1.480/97 dispõe que a morte encefálica

CRITÉRIOS PARA será caracterizada através da realização de exames clínicos e

complementares durante intervalos de tempo variáveis, próprios


DISGNÓSTICO DA
para determinadas faixas etárias, a saber:
MORTE ENCEFÁLICA
 De 7 dias a 2 meses incompletos – 48 horas;
 De 2 meses a 1 ano incompleto – 24 horas;

26
 De 1 ano a 2 anos incompletos – 12 horas;

 Acima de 2 anos – 6 horas;

Devem ser observados alguns parâmetros clínicos:

III) Coma aperceptivo – com ausência de atividade


motora supra-espinhal;
IV) Apneia – parada respiratória;

Os exames complementares a serem realizados para a

constatação de morte encefálica deverão demonstrar de forma


inequívoca:

 Ausência de atividade elétrica cerebral;


 Ausência de atividade metabólica cerebral;
 Ausência de perfusão sanguínea cerebral;

Após o evento letal, a depender do tipo de morte ocorrida, o


cadáver poderá ser levado a diferentes locais para a

determinação da causa da morte e demais procedimentos até


que seja sepultado.

III) Sistema de verificação de óbito (SVO): local para


DESTINAÇÃO DO onde é encaminhado o cadáver nos casos de
morte natural sem assistência médica.
CADÁVER

IV) Instituto médico-legal (IML): é obrigatório o


encaminhamento do cadáver nos casos de morte
suspeita ou violenta.

Destinação final:

h) Inumação: é o sepultamento na terra, enterro. Destino


27
final mais comum do cadáver.

i) Exumação: é o ato de desenterrar o cadáver ou os restos


dele (art. 163 ao 166 do CPP).

j) Imersão: é o sepultamento na água.

k) Cremação: o cadáver é submetido a altíssimas


temperaturas para ser reduzido às cinzas. Para mortes
naturais, não há necessidade de autorização judicial, basta
que dois médicos assinem a declaração de óbito ou
então, se o cadáver foi para o Instituto Médico Legal,
basta a assinatura de um médico legista. No entanto, se a
morte for violenta, serão necessárias a assinatura de um
médico legista e também da autorização judicial.

l) Destruição: o professor Genival Veloso de França cita que


alguns seguidores de uma seita indiana deixavam os
cadáveres no alto de uma torre para serem consumidos
por abutres e pela fauna cadavérica.

m) Liquefação: é a cremação ecológica. É um método novo,


no qual o cadáver é submerso em solução aquecida e
pressurizada de hidróxido de potássio, depois os ossos
são cremados.

n) Embalsamento: soluções antissépticas e conservadoras


são injetadas no cadáver para retardar a putrefação. Não
se confunde com a formolização, em que as vísceras são
substituídas por algodão embebidos de formol.

28
É a parte da tanatologia forense que estuda o diagnóstico da

realidade da morte e os fenômenos correlatos.

Classificação dos fenômenos abióticos:

 Imediatos/incerteza/prováveis;
 Mediato/certeza/tardios/reais;
TANATOGNOSE
 Transformativos – destrutivos e conservadores;

Fenômenos de ordem física: hipóstases, desidratação,


resfriamento.

Fenômenos de ordem química: rigidez, autólise, putrefação etc.

São sinais que aparecem imediatamente após a morte ou


quando o indivíduo ainda está morrendo. Não são

considerados sinais de certeza de morte. São eles:

X) Perda de consciência: estados de coma;


XI) Insensibilidade: estados de coma;

FENÔMENOS XII) Relaxamento dos esfíncteres (flacidez muscular


difusa): ânus, pupila, uretra etc;
ABIÓTICOS
XIII) Cessação da respiração;
IMEDIATOS XIV) Cessação de batimentos cardíacos;
XV) Facies hipocrática (máscara da morte);
XVI) Imobilidade e abolição do tônus muscular;
XVII) Inexcitabilidade elétrica;
XVIII) Dilatação das pupilas;

São sinais que sugerem morte absoluta. São os seguintes:

X) Desidratação e Evaporação tegumentar;


FENÔMENOS
XI) Perda de peso;
ABIÓTICOS XII) Dessecação das mucosas;
XIII) Apergaminhamento da pele;
CONSECUTIVOS
XIV) Fenômenos oculares;

29
XV) Resfriamento cadavérico (Algor mortis);
XVI) Livores cadavéricos ou Hipóstases (Livor mortis);
XVII) Rigidez cadavérica (Rigor mortis);
XVIII) Sinal de Kossu ou Espasmo Cadavérico;

a) Destrutivos:
IV) Autólise (químico) – é um processo de destruição
celular em decorrência das próprias enzimas. Os
lisossomos liberam enzimas que destroem a própria
célula. Sem o oxigênio, a respiração aeróbica não é
realizada, de modo que ocorre um aumento da
acidez celular, um desvio metabólico.
V) Putrefação (químico) – é um processo de
decomposição da matéria orgânica, que sofre
acidificação e ação das bactérias. Depende de fatores
como tipo de morte, temperatura, umidade, nutrição
etc. Divide-se em quatro etapas: coloração,
gaseificação, coliquação e esqueletização.
FENÔMENOS VI) Maceração: é um fenômeno destrutivo que ocorre em
corpos decompostos em meios líquidos. A ação do
TRANSFORMATIVOS
líquido vai destruindo os tecidos orgânicos, causando
lesões na pele que se assemelham a queimaduras de
3º grau. A maceração pode ser: séptica ou acéptica.

b) Conservadores:

 Mumificação – processo químico processo em que o


cadáver perde líquidos rapidamente, tornando-se
ressecado. A putrefação é suspensa. Ocorre normalmente
em ambiente secos, quentes e bem arejados. A
desidratação é intensa e o cadáver fica ressecado e
escuro.
 Saponificação ou Adipocera - é um fenômeno químico
conservador em que o cadáver fica com consistência
30
similar a cera ou sabão, esbranquiçado e quebradiço.
Acontece em lugar quente, úmido e pode ser em solo ou
água pouco corrente. Há formação de ácidos graxos com
hidrólise de gordura pelas bactérias. Posteriormente, os
ácidos reagem com algumas bases do solo. Em terrenos
argilosos o processo é facilitado, bem como em
indivíduos gordos.
 Corificação - é uma petrificação ou calcificação que
pode acontecer nos fetos mortos e retidos no útero. Em
alguns casos o feto fica calcificado por muitos anos.
Também se trata de corificação o fenômeno químico
que consiste na transformação dos tecidos do cadáver
em um tipo de couro duro e ressecado. Para esse
fenômeno acontecer, o corpo deve estar em urnas
fechadas forradas com zinco.

É o estudo da hora aproximada da morte a partir dos

fenômenos cadavéricos. Os fenômenos cadavéricos, sejam


destrutivos ou conservadores (conforme o caso e as condições

do ambiente), demoram um certo lapso de tempo para se


manifestarem, fazendo com que o cadáver avance pelos

estágios/fases da putrefação.

É a partir da constatação desses eventos que a perícia


consegue, a partir de uma estimativa, determinar o momento
CRONOTANATOGNOSE
da morte com relativa precisão.

 Até 2 horas depois da morte – corpo flácido e quente;


ausência de livores cadavéricos;

 Entre 2 e 8 horas - Rigidez de membros superiores, nuca


e mandíbula; livores cadavéricos; alterações oculares
(fundo de olho);
 Entre 8 e 16 horas - Rigidez generalizada; manchas de
hipóstases; alterações oculares (fundo de olho);
31
 Entre 16 e 24 horas - Rigidez generalizada; início da

mancha verde abdominal; alterações oculares (fundo de


olho);

 Entre 48 e 72 horas - Disseminação da mancha verde;


fase gasosa; alterações oculares (fundo de olho);

 Entre 72 e 96 horas - Fundo de olho irreconhecível.


Cadáver flutuando nas águas;
 Após 3 semanas – Fase coliquativa;

 Entre 1 e 3 anos – Desaparecimento das partes moles e


presença de insetos;

 Após 3 anos – Esqueletização completa;

Os intervalos muito próximos da morte (antes ou depois) são


chamados de período de incerteza. O diagnóstico que busca

diferenciar as lesões produzidas em face da vítima viva ou


depois da morte possibilita a elucidação da dinâmica do

evento, da causa jurídica e causa da morte.

As lesões produzidas durante a vida apresentam:

DIAGNOSE h) Reação inflamatória,


DIFERENCIAL DAS i) Retração dos tecidos,

LESÕES INTRA VITAM E j) Crosta das escoriações,


k) Espectro equimótico,
POST MORTEM
l) Equimose,
m) Coagulação sanguínea bem aderente
n) Outras reações vitais em geral.

Se produzidas após a morte, não há infiltração hemorrágica,


os tecidos não se retraem, não há formação de crostas de

escoriações, sangue não coagulado (lesões brancas), entre


outros.

32
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia) Para se realizar um transplante cardíaco,

considera-se como sinal de morte do doador:

A) a parada dos movimentos cárdio circulatórios.

B) a parada cárdio respiratória irreversível.

C) a parada cardíaca definitiva.

D) a lesão cerebral irreversível.

E) a suspensão irreversível da atividade encefálica.

Comentário:

Essa questão trata do diagnóstico definitivo da morte. Como vimos, no Brasil se adota o
conceito de morte encefálica para a determinação definitiva do momento da morte. Nos

termos da Resolução do Conselho Federal de Medicina, que regulamenta a lei de


transplante de órgãos, a morte encefálica se dá com a parada irreversível da atividade
cerebral, após a constatação de alguns sinais e a realização de certos procedimentos que

atestam a morte encefálica. A resposta encontra-se, portanto, na letra “e”.

Questão 2

(CESPE - Legista – PCPE/2016) São designados processos tanatológicos conservadores

A) autólise e putrefação.

B) maceração e saponificação.

33
C) autólise e mumificação.

D) putrefação e maceração.

E) saponificação e mumificação.

Comentário:

A questão aborda o conhecimento acerca dos fenômenos cadavéricos destrutivos e


conservadores. Dentre os fenômenos conservadores, temos a mumificação, a

saponificação/adipocera e a corificação. A resposta está, portanto, na alternativa “e”, pois


que todas as demais alternativas trazem ao menos uma hipótese de fenômenos

destrutivos.

Questão 3

(PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia) No processo de putrefação do cadáver se

sucedem as seguintes fases, pela ordem:

A) gasosa, cromática, coliquativa e de esqueletização.

B) cromática, gasosa, coliquativa e de esqueletização.

C) cromática, coliquativa, gasosa e de esqueletização.

D) gasosa, coliquativa, cromática e de esqueletização.

E) coliquativa, cromática, gasosa e de esqueletização.

Comentário:

Como vimos, o cadáver, ao passar pela putrefação e sofrer os fenômenos destrutivos,


perpassa por algumas fazes em sequência. Primeiro passa pela autólise, que é u processo

de destruição celular em decorrência das próprias enzimas existentes no corpo humano.


Em seguida, se inicia a putrefação propriamente dita, sendo um processo de
decomposição da matéria orgânica, mediante a ação de bactérias. Essa etapa se
subdivide em outras quatro, a saber: coloração, gaseificação, coliquação e esqueletização,
respectivamente. A nossa resposta, portanto, encontra-se na letra “b”.

34
Questão 4

(COESAC – Técnico em Anatomia e Necroscopia – UFF/2019) São Fenômenos Abióticos e


Transformativos:

a) desidratação, eritemas, autólise, putrefação.


b) desidratação, leucoplasia, autólise, maceração.
c) desidratação, manchas de hipóstase, necrose, maceração.

d) desidratação, manchas de hipóstase, autólise, maceração.


e) desidratação, manchas de hipóstase, necrose, putrefação.

Comentário:

Mais uma vez a banca examinadora cobra do candidato o conhecimento acerca dos
fenômenos cadavéricos transformativos. Vimos que todo o processo de decomposição do

corpo passa obrigatoriamente por determinadas etapas e numa sequência fixa. Dentre as
alternativas, a que traz etapas do processo transformativo é a alternativa “d”. lembrando

que a necrose não é uma fase da putrefação, mas sim um fenômeno geral de morte dos
tecidos orgânicos. Os eritemas são lesões que só podem ser produzidas em pessoas
vivas.

Questão 5

(Legista – PCPE – CESPE – 2016) Assinale a opção correta acerca da rigidez muscular
cadavérica (rigor mortis).

A) Em mortes ocorridas durante intenso exercício físico, como no caso de afogados que

tentaram se salvar, a rigidez é tardia ou débil.

B) A rigidez muscular do cadáver se deve ao consumo total de ATP existente nos músculos.

C) A rigidez evolui de modo ascendente, iniciando-se pelos membros inferiores até atingir o

pescoço.

D) O desaparecimento da rigidez cadavérica coincide com a fase coliquativa e se desfaz na


ordem inversa de sua instalação.

35
E) Em casos de pacientes idosos, magros e portadores de doenças crônicas, a rigidez é

precoce e intensa.

Comentário:

Vimos que a rigidez cadavérica é um fenômeno químico, que tem início no lapso

temporal de 1 a 2 horas após a morte. Esse processo de enrijecimento ocorre de forma


decrescente, ou seja, da cabeça aos pés (sentido céfalo-caudal ou crânio podálico). Daí já

podemos eliminar de cara as alternativas “c” e “d”. esse processo de dá pela falta de
oxigênio e consumo total de ATP, devido à cessação da atividade celular nos cadáveres,
fazendo com que aumentem os níveis de miosina e ácido lácteo. A alternativa que

responde ao nosso gabarito está, portanto, na letra “b”.

Questão 6

(FUMARC - 2011 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) Constitui um fenômeno transformativo


destrutivo observado nos cadáveres:

A) Calcifcação.

B) Corifcação.

C) Adipocera.

D) Autólise

Comentário:

Dentre as alternativas, a única que faz menção a um fenômeno destrutivo é a alternativa


“e”. As demais trazem modalidades de fenômenos transformativos conservadores. Apenas

a título de revisão, ao fenômenos transformativos destrutivos são: autólise, putrefação


(coloração, gaseificação, coliquação e esqueletização) e maceração. Ao contrário, os

fenômenos conservadores são três: mumificação, saponificação/adipocera e corificação.

36
Questão 7

(CESPE – Técnico em Anatomia e Necrópsia – FUB/2018) Julgue o item que se segue, relativo
a fenômenos cadavéricos.

A circulação póstuma de Brouardel aparece, em geral, oito horas após o óbito.

Certo

Errado

Comentário:

A circulação póstuma de Brouardel marca o início da fase gasosa ou enfisematosa,

caracterizada pela mancha verde abdominal. Os gases da putrefação produzidos pela


ação de bactérias começam a empurrar o sangue para cima, e o gás sulfídrico produzido

pelas bactérias reagem com a hemoglobina do sangue, gerando uma substância


denominada sulfoxiemoglobina, começando no abdômen, com um aspecto esverdeado.
Nos estudos da cronotanatognose, vimos que a fase gasosa se inicia no lapso temporal

compreendido entre 16 e 24 horas após a morte. O gabarito da questão está, portanto,


“errado”. A título de revisão, no lapso de 8 horas (como narra o enunciado), ocorre a

rigidez de membros superiores, nuca e mandíbula, livores cadavéricos e alterações

oculares.

Questão 8

(INSTITUTO AOCP – Médico Legista – PC-ES /2019) Em uma exumação realizada em um


cemitério, o médico-legista se deparou com um caixão hermeticamente selado. Tão logo abriu

a tampa superior, verificou que o corpo havia sofrido um fenômeno transformativo típico
desse tipo de urna metálica. Trata-se de

A) autólise.

B) coreificação.

C) mumificação.

D) maceração.

37
E) saponificação.

Comentário:

Dentre as alternativas acima, a única que traz um fenômeno que ocorre no confinamento
de cadáveres em superfície metálica é a corificação, na alternativa “b”. Como vimos, a

corificação é uma petrificação ou calcificação que pode acontecer em duas hipóteses: em


fetos mortos e retidos no útero e em cadáveres que tem seus tecidos transformados em

uma espécie de couro endurecido e ressecado. Para que isso ocorra, na última hipótese,

o corpo deve estar em urnas fechadas e forradas com zinco. Resposta: letra “b”.

Questão 9

(VUNESP – Delegado de Polícia – PC-SP/2018) De modo geral, nos casos de morte de causa
desconhecida, o cadáver deve ser encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal) ou para o

SVO (Serviço de Verificação de Óbitos) respectivamente, quando a morte for decorrente de

A) acidente de trânsito – suicídio.

B) causa natural sem assistência médica – acidente de trânsito.

C) homicídio – suicídio.

D) suicídio – morte natural ou suspeita sem assistência médica.

E) causa externa ou morte suspeita – morte natural sem assistência médica.

Comentário:

No tópico referente à destinação do cadáver, vimos que deve haver o encaminhamento


para o IML nos casos de morte violenta ou suspeita, e para o SVO nos casos de morte
natural sem assistência médica. A resposta que corresponde ao gabarito da questão,

portanto, está na letra “e”.

38
Questão 10

(VUNESP – Delegado de Polícia – PC-SP/2018) São os 3 fenômenos abióticos mediatos que


ocorrem progressivamente após a morte. Algor (resfriamento), livor (manchas de hipóstase) e

rigor (rigidez cadavérica). Destes, a rigidez generalizada pode ser observada

A) somente após 48 horas do óbito.

B) entre 8 e 24 horas após o óbito.

C) entre 1 e 2 horas do óbito.

D) entre 4 e 6 horas após o óbito.

E) entre 24 e 48 horas após o óbito.

Comentário:

No estudo da cronotanatognose, vimos os fenômenos cadavéricos e seus respectivos


lapsos de tempo para que haja a sua configuração. Em relação à rigidez cadavérica,

vimos que ela se inicia de 1 a 2 horas após a morte, e desaparece após 24 horas do
evento letal, tendo seu ápice (generalização) entre o período de 8 a 24 horas. O gabarito

que responde à nossa questão está, portanto, na alternativa “b”.

E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e

praticando bastante! Vamos juntos até a aprovação! Até mais!!!

39
GABARITO

Questão 1 - E

Questão 2 - E

Questão 3 - B

Questão 4 - D

Questão 5 – B

Questão 6 – E

Questão 7 – ERRADO

Questão 8 – B

Questão 9 – E

Questão 10 – B

40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aula de anatomia, 2020. Disponível em: https://www.auladeanatomia.com/novosite/pt/sistemas/sistema-
respiratorio/. Acesso em 11/02/2020.

CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.

DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p. 360.

GALVÃO, Malthus. Lesões causadas pela ação dos ácidos – Vitriolagem. Malthus, 2020.
Disponível em www.malthus.com.br. Acesso em: 09/02/2020.

HERCULES, Hygino de C., Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005.
Pinterest, 2020. Disponível em https://br.pinterest.com/pin/349451252323189934/. Acesso em 11/02/2020.

Slideplayer, 2020. Disponível em: www.slideplayer.com.br/slide/5634703/. Acesso em: 12/02/2020.

Slideshare, 2020. Disponível em: www.slideshare.net/trubelnecropsia/tanatologia-ls. Acesso em: 12/02/2020.

Toda Matéria, 2020. Disponível em www.todamateria.com.br/sistema-circulatorio/. Acesso em


11/02/2020.

41
CARREIRAS POLICIAIS

Medicina Legal
Capítulo 9
SUMÁRIO

MEDICINA LEGAL, Capítulo 9 .................................................................................................................................... 3

9. Psicologia e Psiquiatria Forense. ........................................................................................................................ 3

9.1. Psiquiatria Forense................................................................................................................................................ 3

9.1.1 Psicopatologia Forense – Modificadores da imputabilidade ............................................................. 3

9.1.2 Imputabilidade ....................................................................................................................................................... 3

9.1.3 Conceito de normalidade e de anormalidade ......................................................................................... 5

9.1.4 Doentes mentais .................................................................................................................................................... 7

9.1.5 Psicóticos – psicoses diversas. ......................................................................................................................... 7

9.1.6 Pessoas que possuem desenvolvimento mental incompleto ............................................................ 8

9.1.7 Pessoas que possuem desenvolvimento mental retardado ............................................................... 8

9.1.8 Oligofrenia................................................................................................................................................................ 9

9.1.9 Idiotia.......................................................................................................................................................................... 9

9.1.10 Imbecilidade ......................................................................................................................................................... 10

9.1.11 Debilidade mental.............................................................................................................................................. 10

9.1.12 Síndrome de Down – Mongolismo ............................................................................................................ 11

9.1.13 Exame de sanidade mental............................................................................................................................ 12

9.1.14 Perturbação da saúde mental ...................................................................................................................... 13

9.1.15 Neuroses – Fobias, Filias, Manias ................................................................................................................ 14

9.1.16 Epilepsias ............................................................................................................................................................... 14

9.1.17 Psicopatias ............................................................................................................................................................. 15

9.2. Psicologia Forense. ............................................................................................................................................ 16

9.2.1 Conceito e principais modificadores da imputabilidade penal e da capacidade civil ......... 16

9.2.2 Idade ........................................................................................................................................................................ 16

1
9.2.3 Sexo.......................................................................................................................................................................... 18

10.1.1 Emoção e paixão ................................................................................................................................................ 18

10.1.2 Agonia ..................................................................................................................................................................... 18

10.1.3 Sono patológico ................................................................................................................................................. 19

10.1.4 Surdimudismo...................................................................................................................................................... 19

10.1.5 Afasia ....................................................................................................................................................................... 20

10.1.6 Embriaguez ........................................................................................................................................................... 20

10.1.7 Psicologia das multidões delinquentes .................................................................................................... 24

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 25

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 39

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 46

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 48

2
MEDICINA LEGAL

Capítulo 9

9. Psicologia e Psiquiatria Forense.

9.1. Psiquiatria Forense.

9.1.1 Psicopatologia Forense – Modificadores da imputabilidade

A psicopatologia forense é o ramo da medicina legal que estuda e analisa as doenças,


deficiências e demais distúrbios de natureza mental. Tais estudos repercutem diretamente

na aferição da imputabilidade penal. Os estudos da psicopatologia forense abrangem duas


grandes categorias: a psicologia forense e a psiquiatria forense.

A psicologia forense, de acordo com a doutrina médico-legal, estuda a personalidade

normal e os aspectos que nela influem, sejam de que ordens forem, se biológica, mesológica
ou social.

A psiquiatria forense, por sua vez, estuda os transtornos anormais de personalidade,

assim conhecidos como doenças mentais, retardos mentais, demências, esquizofrenias e


outros transtornos psicóticos.

Antes de adentrarmos no estudo pontual desses transtornos, analisaremos os aspectos

legais e médicos da imputabilidade, segundo os ditames da legislação criminal pátria.

9.1.2 Imputabilidade

A imputabilidade é tratada no Código Penal nos arts. 26 a 28, que regulam os estados de
imputabilidade, inimputabilidade e de semi-imputabilidade. A imputabilidade é um fator

biopsicológico que traduz a capacidade de um indivíduo de entender o que está fazendo e, a

3
partir desse estado de consciência, poder direcionar sua vontade para a execução de

determinada conduta.

Nos termos da legislação criminal, salvo expressas exceções legais, os crimes previstos
tanto no Código Penal como na legislação extravagante são de natureza dolosa, caracterizada

pela consciência da própria ação, da previsibilidade do resultado e da vontade (direta ou


indireta – dolo direto e dolo eventual) de produzi-lo no mundo concreto.

Daí a importância da aferição do estado de consciência e do estado anímico do indivíduo

quando do tempo da ação ou omissão criminosa, o que se refletirá diretamente na sua


punibilidade, sendo um aspecto de fundamental importância no dia a dia forense, e de grande

utilidade prática para a persecução penal.

Assim, o indivíduo pode ser considerado de 3 formas:

 Imputável – quando o agente, ao tempo da conduta, possui plena capacidade de


entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

entendimento.

 Inimputável – quando o agente, ao tempo da conduta, é inteiramente incapaz de

entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse


entendimento. (Art. 26, caput)

 Semi-imputável – quando o indivíduo, em razão de perturbação de saúde mental ou


por desenvolvimento incompleto ou retardado, não era inteiramente capaz de

entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse


entendimento. (Art. 26, parágrafo único).

A depender da caracterização de um desses três estados de imputabilidade, haverá uma

consequência jurídica distinta para o indivíduo, podendo responder pelo crime, ser isento de
pena ou ter sua pena diminuída na fração variável de 1/3 a 2/3.1

1
Vide questão 8 deste material.
4
Em resumo, a determinação do estado de imputabilidade de um indivíduo se dá através

da conjugação do binômio consciência + vontade (dolo como elemento subjetivo da conduta).

Não obstante, é imprescindível analisar a conduta do agente para aferir a existência de


nexo de causalidade entre o ato que ele praticou e a sua perturbação ou doença mental. Por

vezes, é possível que uma pessoa, apesar de ser portadora de uma doença mental, pratique
determinado ato que não tenha nenhuma correspondência com seu quadro biopsíquico.
Nesses casos, em não havendo nexo causal entre a conduta e o estado mental do

indivíduo, não será ele, para esses fins específicos, considerado inimputável ou semi-
imputável, respondendo normalmente por sua conduta criminosa2.

Em resumo, deve-se mostrar que a eventual alteração da consciência da ilicitude do fato

foi a causa da conduta ilícita cometida. Ou, conforme o caso, em não havendo alteração na
consciência da ilicitude, deve-se provar que o agente não tinha condições de determinar-se de

acordo com o entendimento da situação, e que essa falta de domínio da vontade foi a causa

da conduta ilícita.

9.1.3 Conceito de normalidade e de anormalidade

Em verdade, não há um consenso na doutrina médico-legal acerca do que seja um estado


de normalidade ou de anormalidade da atividade psíquica cerebral. Isso porque a exata

delimitação do que seja normal ou anormal acaba por passar por uma extensão bastante
complexa da normalidade psíquica, que abrange fatores de ordem biológica, psicológica,

filosófica, antropológica ou até mesmo cultural que são inerentes a cada indivíduo de maneira
isolada.

2
Vide questões 1 e 2 deste material.
5
Não obstante, há situações extremas que revelam de maneira inegável um estado de

anormalidade no funcionamento da atividade cerebral que causam reflexos na esfera de


comportamento dos indivíduos, sendo denominadas de psicopatologias. Para isso, faz-se

necessário que tenhamos uma breve noção do funcionamento do cérebro humano e dos
impulsos que atuam no sistema límbico. Vejamos a seguir.

Há determinadas áreas no interior do cérebro encarregadas de variadas sensações, tais

como: fome, saciedade, prazer, desejo sexual, cólera, alegria, consciência, memória recente,
memória antiga, dentre outras.

Cada uma dessas áreas possui seus quimiorreceptores, que serão mais ou menos ativados

pelos neurotransmissores químicos liberados durante as sinapses.

As sinapses são ligações químicas e morfológicas entre as extremidades dos neurônios


com as membranas celulares de glândulas, músculos, outros neurônios ou outros órgãos em

geral. Para que tudo funcione normalmente conforme as necessidades do organismo, os


neurotransmissores (acetilcolina, serotonina, dopamina, adrenalina e nora adrenalina) devem

ser liberados nas sinapses e encontrar seus respectivos receptores, de modo a ativá-los ou
inibi-los, conforme sua ação.

Então, esses agentes químicos que atuam no cérebro podem provocar alterações no

funcionamento normal e, consequentemente, alterações de comportamento.

Assim, os neurotransmissores transmitem as informações, ao passo que os


quimiorreceptores as recebem. Quando há um desequilíbrio na transmissão dessas

informações, ou seja, se há excesso ou déficit nessas sinapses neurais, o indivíduo poderá


ficar mais agitado ou mais apático, conforme o caso, ocasionando as psicopatologias.

Portanto, o ponto chave da psicopatologia forense é encontrar a normalidade na

transmissão química das informações e substâncias atuantes no cérebro.

6
9.1.4 Doentes mentais

São os portadores de psicoses e demências em geral. Uma vez caracterizado um desses

estados, resta saber se, ao tempo da ação ou omissão, o agente era ou não capaz de
entender o caráter ilícito ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

9.1.5 Psicóticos – psicoses diversas.

São legítimas doenças mentais, podendo ter causa externa (intoxicação por álcool ou

drogas) ou interna (patologia congênita), a exemplo da psicose maníaco-depressiva.

Alguns distúrbios hormonais são capazes de provocar diversas alterações psíquicas e


comportamentais nos indivíduos que são acometidos por esses fatores, podendo ocasionar a

perda de controle de seus próprios atos.

Um exemplo emblemático desse quadro é o estado puerperal, que consiste num


transtorno hormonal durante a gravidez e no pós-parto que acomete as mulheres, podendo, a

depender do caso, evoluir para um grau mais elevado, gerando a psicose puerperal.

Uma das características mais marcantes do quadro de psicose é a irritabilidade e o


descontrole emocional. O psicótico sabe o que faz, porém não possui nenhuma capacidade

de controlar seus impulsos comportamentais.

Há, portanto, uma inibição total do controle de suas ações neurológicas, podendo vir a
se tornar agressivos, caso não seja diagnosticada a doença desde seu início, e a consequente

submissão ao tratamento.

Ao contrário do que ocorre com as neuroses e com as psicopatias (nas quais há uma
predisposição criminosa e violenta), na psicose o indivíduo é normal até que haja o início do

desenvolvimento da doença.

Pode o organismo apresentar predisposições genéticas ao desenvolvimento de psicoses,


mas é possível que também e desenvolvam em indivíduos que não apresentem histórico

familiar desse tipo de doença mental.

7
9.1.6 Pessoas que possuem desenvolvimento mental incompleto

São basicamente dois tipos de pessoas:

 Os surdos-mudos que não conseguem exprimir sua vontade em nível absoluto ou

relativo;
 Índios afastados da civilização de forma absoluta ou relativa;

9.1.7 Pessoas que possuem desenvolvimento mental retardado

São todos os oligofrênicos, conceituados como aqueles que possuem pouca capacidade

de pensamento e raciocínio (oligo = pouco; frênicos = pensamento), que se subdividem em


outras categorias:

 Idiotas – QI de 0 a 5%

 Imbecis – QI de 20 a 50%
 Débeis mentais – QI de 51 a 75%

Esses são os critérios médico-legais tradicionais para a classificação dos graus de

desenvolvimento mental retardado. No entanto, por questões éticas, vem sendo utilizada uma
nova nomenclatura objetivando a não ofender a dignidade humana. São elas:

 Dependentes (substituindo os idiotas/retardo mental profundo) – classificados como

aqueles de idade mental de 0 a 3 anos;

 Independentes treináveis (substituindo os imbecis/retardo mental moderado) – com


idade mental de 3 a 7 anos;

 Independentes educáveis (substituindo os débeis mentais/retardo mental leve) – com

idade mental de 7 a 12 anos;3

Vejamos agora as características de cada uma da oligofrenias, começando com um


panorama geral desta categoria de pessoas com desenvolvimento mental retardado.

3
Vide questão 1 deste material.
8
9.1.8 Oligofrenia

É um termo utilizado na psiquiatria por Kraepelin, que pode ser caracterizado por um

grupo mórbido de desenvolvimento mental incompleto, de natureza congênita ou


adquirida por causas patológicas no primeiro período da vida extrauterina, antes do término

da evolução das faculdades psicointelectuais, com acentuado déficit da inteligência, sendo


este um traço marcante nesse grupo de indivíduos.

São indivíduos de baixo intelecto que ostentam uma incapacidade de compreender,

criar e criticar os fatos ocorridos a sua volta, ou até mesmo a incapacidade de se


autodeterminar na vida social, o que lhes impede de aproveitar as situações vividas para usar

como experiência na vivência de novas situações.

Segundo especialistas, as oligofrenias se manifestam muito precocemente a partir de sinais


como: a dificuldade de sugar o mamilo da mãe; gritos e choros intermitentes, infundados e

contínuos; apatia fisionômica; lentidão de movimentos; atardamento da deambulação e da


palavra, sendo posteriormente seguida na incapacidade intelectual, dificuldade de raciocinar,
planejar e construir, bem como a dificuldade de se autoconduzirem com autonomia na

sociedade.

Os oligofrênicos, notadamente os idiotas, diferem dos dementes, pois desde o nascimento


ou durante os primeiros anos de vida, já apresentam o retardo, a insuficiência ou a parada

completa do desenvolvimento das capacidades intelectuais. Já com os dementes, a deficiência


intelectual aparece após o desenvolvimento das faculdades cognoscitivas. É dizer: o idiota

nunca teve vida intelectual ativa; já o demente pode ter tido algum tipo de desenvolvimento.

9.1.9 Idiotia

Trata-se de um estado mórbido, ligado a um defeito acidental ou congênito do


encéfalo, que consiste na ausência completa ou na parada do desenvolvimento das

faculdades intelectuais e afetivas.

Como visto na classificação anterior, os idiotas (ou dependentes, segundo a nomenclatura


moderna) possuem idade mental de 0 a 3 anos, com o quociente intelectual inferior a 25%.

9
São incapazes de se cuidar sozinhos ou de executar simples tarefas cotidianas, e não

articulam a palavra. Os idiotas profundos têm vida psíquica infra-humana, inferior à dos
animais. O idiota completo ou de segundo grau já se mostra mais capaz de dominar a fala

(ainda que de maneira rudimentar) e expressa instintos de natureza sexual. Não inúteis
economicamente e em geral vivem pouco.

9.1.10 Imbecilidade

Os imbecis são aqueles cujo QI se situa entre 25 e 50%, tendo idade mental equivalente

a uma criança de 3 a 7 anos. São capazes de algum tipo de aprendizado desde que sejam
empenhados enormes esforços, e quando amparados em estabelecimentos educacionais

especializados.

Alguns até apresentam uma boa memória. São facilmente enganados, e propensos à
cólera e a violência, mediante a execução de atos de pequena criminalidade, a exemplo de

algumas fraudes elementares. Ostentam certa capacidade de se defender.

Apresentam comportamento sexual precoce, que se satisfaz com a masturbação. Não


apresentam boa adaptação ao convívio familiar, e expressam certa afeição por animais. São

incapazes de prover sua própria subsistência em condições normais.

9.1.11 Debilidade mental

Segundo a classificação dos especialistas, conforma já exposta acima, os débeis mentais


possuem uma idade mental situada entre 7 e 12 anos, com o QI entre 50 e 90%. Sendo

assim, dentre todas as categorias de oligofrênicos, os débeis mentais são os que ostentam o
maior percentual de pacientes.

São incapazes de levar a vida em igualdade entre pessoas normais, mas que, no entanto,

podem até prover suas subsistências em condições que eventualmente lhes sejam favoráveis.

São facilmente irritáveis, podendo se mostrar propensos a atos de violência, tais como
lesões corporais, homicídio e antropofagia.

Apesar de o conseguirem com dificuldade, os débeis mentais são capazes de exercer

alguns atos da vida civil. A debilidade mental é um retardo geral no quadro de


10
aprendizagem intelectual, mas que não constitui uma causa absoluta de impedimento para o

matrimônio. No entanto, é possível de acarretar a anulação do casamento caso o outro


cônjuge tome conhecimento desta circunstância depois da celebração do casamento.

De acordo com a legislação penal vigente, os débeis mentais são classificados como

semi-imputáveis, sendo regulamentados nos termos do art. 26, parágrafo único, do CP.

Os idiotas e os imbecis são penalmente inimputáveis, uma vez que são, ao tempo da
ação ou omissão criminosa, inteiramente incapazes de entender o caráter ilícito do fato ou

de determinar-se de acordo com esse entendimento, sendo enquadrados nos termos do art.

26, caput, do Código Penal, e, por consequência, isentos de pena.

9.1.12 Síndrome de Down – Mongolismo

Uma síndrome se caracteriza por um conjunto de sinais que ocorrem em mesmo tempo.
Em se tratando da síndrome de Down, uma das características marcantes é a presença de

olhos puxados, como os dos asiáticos.

Essa síndrome ocorre porque o número de cromossomos da célula embrionária é


alterado. Os cromossomos humanos são numerados em pares, indo de 1 a 22, e uma

eventual alteração nesse número de cromossomos, mais especificamente no cromossomo 21,


é o que caracteriza a síndrome de Down. Por isso é também conhecida como trissomia do

cromossomo 21 (3 pares de cromossomos).

Essas crianças portadoras da síndrome de Down têm uma porção de alterações biológicas,
sendo de ordem cardíaca, pulmonar, intestinal, renal e mental. Assim, essas crianças podem ter
um desenvolvimento mental próximo do dependente, do independente treinável ou do
independente educável.

11
Assim, deve-se constatar, em cada caso, o nível de discernimento mental da pessoa

portadora da síndrome de Down, pois seu desenvolvimento metal, apesar de deficitário, sofre
uma enorme gama de variedade, de modo que deve ser analisado criteriosamente o grau de

consciência para efeitos jurídicos penais (tanto para a responsabilização criminal no caso de
serem autoras de crimes; quanto na hipótese de aferição do grau de vulnerabilidade para fins

de proteção penal contra os crimes sexuais).

 Inclusão social da pessoa com necessidades especiais – Lei 13.146/2015 (Estatuto da


Pessoa com Deficiência):

Os cuidados atuais permitem que portadores da síndrome de Down interagem no

ambiente social, cultural, pedagógico, etc. Há, inclusive, uma presunção de discernimento para
a prática ou a permissão de atos sexuais, inclusive o matrimônio.

9.1.13 Exame de sanidade mental

O exame de sanidade mental pode ter sua realização determinada tanto na fase

investigativa (inquérito policial) quanto na fase judicial propriamente dita (após o


recebimento da denúncia).

O exame de sanidade mental tem como objetivo a aferição do estado de higidez mental,

a ser analisado no momento da ação delituosa, visando a atestar se o periciado tinha, ao


tempo da ação ou omissão, plena capacidade de compreensão acerca do caráter ilícito do

fato, ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Uma importante particularidade é que, em se tratando de exame pericial a ser feito no


suspeito/investigado/acusado, somente o juiz pode determinar que se faça. Assim, na fase

investigativa, o Delegado de Polícia pode representar pela realização do exame (durante da


fase de inquérito). O membro do MP, por sua vez, pode requisitar a realização do exame, seja
na fase do inquérito ou na fase processual.

Art. 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará,
de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do
ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame
médico-legal.

12
Atente-se para o fato de que a competência exclusiva do juiz para determinar a realização
do exame de sanidade mental somente ocorre nos casos em que ele deverá ser feito no

suspeito/indiciado/acusado! Quando o exame tiver de ser feito na vítima, por exemplo, o


delegado de polícia e o membro do MP podem requisitar diretamente a realização desta

perícia.

9.1.14 Perturbação da saúde mental

Caracterizam-se como perturbados mentais os doentes mentais que possuem alguma

capacidade, bem como outro grupo de pessoas que não são considerados doentes mentais
propriamente ditos, mas que tem algum tipo de distúrbio na saúde mental.

São disciplinados no Código Penal nos termos do art. 26, parágrafo único, como uma

categoria diferenciada, que não se enquadram no conceito de doentes mentais ou pessoas


que possuem o desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Essas pessoas, quando

cometem crimes, podem ter uma redução de pena que varia de 1/3 a 2/3.

A doutrina médico-legal categoriza essas pessoas em basicamente 5 grupos:

a) Neuróticos;
b) Psicopatas;

c) Epilépticos;
d) Pródigos;

e) Doentes mentais com capacidade parcial;

Vamos aqui tratar dos principais tipos de transtornos mentais, detalhando com mais vagar
aqueles que se mostram mais relevantes para fins de prova.

13
9.1.15 Neuroses – Fobias, Filias, Manias

São transtornos do mundo psíquico, geralmente ligados a conflitos psíquicos de origem

na infância dos indivíduos acometidos por este quadro. O indivíduo se utiliza


inconscientemente de mecanismos de defesa para evitar a realidade.

Segundo alguns autores, por não ser caracterizadas como doenças mentais, as neuroses

não deveriam, a princípio, tornar o agente inimputável. Todavia, se isso for de um grau tão
elevado a ponto de influir na capacidade de autodeterminação do agente, é possível que este

seja enquadrado no conceito de inimputável nos termos do art. 26, caput, do CP.

9.1.16 Epilepsias

Alguns autores, a exemplo do professor Hygino Carvalho Hércules, inserem a epilepsia


como um distúrbio neuropsiquiátrico entre os mais variados tipos de doenças mentais.

Outros autores só admitem essa hipótese nos casos de psicose epiléptica, com estado
crepuscular e/ou automatismos totalmente afastados da consciência do paciente infrator.

A epilepsia é uma afecção do sistema nervoso central essencialmente crônica,

anunciada por auras sensitivo-sensoriais, motoras ou psíquicas, que são sintomas subjetivos
instantâneos, premonitórios, e que se caracteriza por convulsões, perda súbita dos sentidos,

completa inconsciência e amnésia, podendo ocorrer sintomas acessórios como o “grito do


pavão”, mordida da língua, micção, sialorreia e sono.

Conforme a doutrina médico-legal, o crime violento epiléptico é aquele cometido pelo

agente que sofre de epilepsia, apresentando um quadro característico com os seguintes


elementos:

 Multiplicidade de golpes (desnecessários e até mesmo incompreensíveis);

 Ferocidade na execução;
 Instantaneidade do ato;
 Não costuma haver motivação para o crime;

 Ausência de premeditação ou remorso;


 Amnésia anterior;

14
 Pouca ou nenhuma preocupação de esconder a arma, objetos ou vestes sujas de

sangue;

Segundo a doutrina, esse quadro delitivo se dá em razão do estado crepuscular,


caracterizando-se como um quadro no qual ocorre o estreitamento do campo da

consciência, bem como há anomalia da reação aos estímulos, o que acarreta confusão
mental.

De um modo geral, surgem agressões, amnésia em relação aos próprios atos (o agressor

costuma permanecer no mesmo local do crime, portando, não raras vezes, a arma que
utilizou). Nesses casos, geralmente os indivíduos são considerados semi-imputáveis.

9.1.17 Psicopatias

Os psicopatas não se caracterizam como doentes mentais. Segundo estudos médico-

legais na área de psiquiatria, as psicopatias diferem substancialmente das doenças mentais,


em razão de não acarretarem no paciente a perda da noção da realidade. Também são

conhecidas como transtorno de personalidade.

Este é um ponto chave diferencial entre os psicopatas e os psicóticos: estes últimos


apresentam graves sintomas de distúrbio mental, como delírios e alucinações, sendo

facilmente diagnosticados como doentes mentais. Os psicopatas, por sua vez, demonstram
distorções na sua personalidade, principalmente no que tange ao caráter, temperamento,

reações instintivas e no campo da afetividade.

Assim, as personalidades psicopáticas resultam de imaturidade ou anomalia dos instintos,


de modo que são incapazes de assimilar as regras do convívio social.

15
A personalidade psicopática se traduz como um padrão duradouro de comportamento

que difere das expectativas do ambiente cultural do indivíduo, geralmente tendo início na
adolescência ou na juventude, e que se mantém estável ao longo do tempo, gerando para seu

portador uma grande dificuldade de adaptação social.

O diagnóstico da psicopatia revela importância médico-legal à medida que acarreta o


enquadramento do indivíduo portador como tendo perturbação da saúde mental, nos termos

do art. 26, parágrafo único do Código Penal.

Além disso, influi diretamente na análise conclusiva acerca da existência do nexo de


causalidade que é exigido no critério biopsicológico.

9.2. Psicologia Forense.

9.2.1 Conceito e principais modificadores da imputabilidade penal

e da capacidade civil

Estuda os limites normais, biológicos, mesológicos e legais da capacidade civil e da


responsabilidade penal. As legislações civil e penal regulamentam, explícita ou implicitamente,

os limitadores e modificadores da capacidade civil e da responsabilidade penal. A seguir,


estudaremos os principais aspectos referentes ao presente tema.

Dividiremos os modificadores e limitadores da imputabilidade penal e da capacidade civil

em dois grandes grupos: Limitadores e modificadores de ordem biológica e Limitadores e


modificadores de ordem psicopatológica. Para fins didáticos, analisaremos os dois grupos na

respectiva ordem.

9.2.2 Idade

Código Penal:

Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos


às normas estabelecidas na legislação especial.

Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:

16
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos,
na data da sentença;

Código Civil:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os


menores de 16 (dezesseis) anos.

A idade tem influência tanto no campo penal quanto no civil. Conforme o art. 27 do CP,
os menores de 18 anos são considerados inimputáveis, tendo a legislação penal, nesse ponto,

adotado o critério biológico para aferição da responsabilidade penal.

A imputabilidade, como sendo substrato do elemento da culpabilidade no conceito


analítico de crime, é um pressuposto para aplicação da pena. Em sendo o indivíduo

inimputável em razão da menoridade, a ele não serão aplicadas as disposições do Código


Penal, estando sujeito à legislação especial (Estatuto da Criança e do Adolescente).

A lei adotou tal presunção em razão da imaturidade psíquica (nos casos de

inimputabilidade à luz do art. 27 do CP), e da senilidade (no caso da circunstância atenuante


prevista no art. 65, I – maiores de 70 anos).

Nesse último caso, a lei considera a dificuldade biológica dos idosos por entender que a

idade avançada provoca constantes alterações fisiológicas da lucidez, da atitude, nas suas
tendências e na própria vitalidade, presumindo assim que o criminoso senil representa um
menor perigo à sociedade.

Na lei civil, a capacidade plena dos indivíduos se dá com o advento da maioridade (18
anos). Não obstante, a legislação civilista, ao contrário da legislação criminal, determina uma
gradação na capacidade civil, instituindo a categoria dos relativamente incapazes4.

Isso se dá em razão do grau de importância dos bens jurídicos envolvidos. De um lado, na


esfera penal, está em risco o bem jurídico da liberdade de locomoção, sendo considerado um
bem indisponível. De outro, na esfera civilista, estão os bens jurídicos de natureza disponível, a

exemplo dos direitos patrimoniais e alguns direitos da personalidade.

4
Vide questões 5 e 6 deste material.
17
9.2.3 Sexo

Em relação ao sexo, a lei o admite como limitador e modificador da capacidade civil, mas

não da responsabilidade penal. Na esfera civil, por exemplo, tanto o homem quanto a mulher
com 16 anos completos são capazes de contrair matrimônio, desde que com a autorização

dos pais ou responsáveis legais do adolescente.

10. Em relação ao sexo, a lei o admite como limitador e modificador da capacidade civil,
mas não da responsabilidade penal. Na esfera civil, por exemplo, tanto o homem
quanto a mulher com 16 anos completos são capazes de contrair matrimônio, desde
que com a autorização dos pais ou responsáveis legais do adolescente.

10.1.1 Emoção e paixão

Segundo a maioria da doutrina penalista, a emoção é um estado agudo de excitação

psíquica, enquanto que a paixão é um estado emocional crônico. Pode ocorrer de algumas
descargas elétricas na estrutura cerebral, em razão de estímulos externos que mexem com as
emoções de um indivíduo, desencadearem sintomas similares aos das psicoses ou ao

originados por drogas psicodélicas ou alucinógenas.

Esse desequilíbrio das funções cerebrais no sistema límbico determina oscilações ou


mudanças bruscas de humor, de modo a gerar uma reação comportamental intensa no

indivíduo, podendo levá-lo ao automatismo.

Porém, a emoção e a paixão não excluem a imputabilidade, de acordo com o que


determina o art. 28 do CP. Não obstante, podem ser levadas em consideração pelo juiz

quando da fixação da pena, servindo como atenuantes.

10.1.2 Agonia

De acordo com a literatura médico-legal, a agonia se caracteriza como estados terminais


do indivíduo (também conhecidos como “moribundos”). Interessa principalmente ao direito

civil, mais precisamente no que tange ao casamento in extremis. O Código Civil permite, em
seu art. 1540, a realização do casamento quando o sujeito estiver em iminente perigo de vida.

Passemos agora ao estudo dos limitadores e modificadores de ordem psicopatológica.


18
10.1.3 Sono patológico

O sono patológico compreende o sonambulismo e o hipnotismo. Vejamos cada um

deles. O sonambulismo é um sintoma de perturbação que pode ser situado entre o sono
natural e o sono patológico.

Quando ocorre, se manifesta mais frequentemente na infância do que na fase adulta.

Pode ser descrito sucintamente como “um sonho que se executa durante o sono”, em que o
indivíduo permanece adormecido, mas conserva sua atividade motora. Assim, qualquer ato

que o indivíduo venha a praticar, o fará de forma inconsciente, de modo que ficará isento de
pena.

O hipnotismo, por sua vez, se caracteriza como um processo destinado a induzir, por

sugestão, um estado de transe, capaz de sujeitar o hipnotizado às ordens do


hipnotizador. Similar ao que acontece no sonambulismo, no hipnotismo o indivíduo perde

alguns sentidos, mas conserva sua capacidade motora. Pode-se dizer que o hipnotismo é um
sonambulismo provocado.

10.1.4 Surdimudismo

Os portadores de surdimudismo são indivíduos que necessitam de atenção especial, uma

vez que ficam parcialmente limitados de receber e de dar estímulos verbais e auditivos. Os
portadores de surdimudismo não devem ser equiparados aos portadores de retardo
mental, seja ele profundo ou moderado.

No entanto, em determinadas situações, o surdo-mudo pode ser considerado incapaz de


praticar sozinho os atos da vida civil. Nesse ponto, essa causa limitadora interessa muito ao
direito civil, nos termos do art. 4º do CC, c/c art. 2º da Lei 13.146/2015.

Art. 4º. São incapazes, relativamente a certos atos da vida civil ou à maneira de os exercer:

(...)

III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade.

19
10.1.5 Afasia

Pela afasia, o indivíduo perde os sinais que usa para se comunicar com seus

semelhantes. São, portanto, alterações da capacidade de percepção sensorial, podendo ser


motoras, verbais, auditivas, dentre outras.

 Surdez verbal (impossibilidade de compreender a palavra ouvida);

 Cegueira verbal (impossibilidade de compreender a palavra lida);


 Amusia (impossibilidade de compreender a música);

 Estereognosia (perturbação da percepção da forma);


 Disprossexia (perturbação da atenção);

 Estesiognosia (perturbação da percepção da pressão);


 Distração (falta de atenção aperceptiva);
 Astereognosia (impossibilidade de reconhecimento do objeto pela forma);

As perturbações perceptivas do espaço podem apresentar-se pela visão dos objetos


pequenos e longos, grandes e deformada.

10.1.6 Embriaguez

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:

(...)

II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.

§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso

fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de


entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez,

proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da


omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento 5.

5
Vide questões 7, 9 e 10 deste material.
20
Pelo teor do art. 28 do CP, a embriaguez não constitui causa excludente da

imputabilidade penal, como regra. Em sendo a embriaguez voluntária ou culposa, vindo o


indivíduo a cometer algum delito durante seu estado de embriaguez, responderá

normalmente pelo crime e sofrerá as sanções aplicáveis.

Há, no entanto, uma ressalva quanto a essa regra geral, que está nas hipóteses de
embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior, se em razão dela, ao

tempo da ação ou omissão criminosa, o indivíduo era inteiramente incapaz de entender o


caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Em outra hipótese, se, não obstante estar sob o efeito de embriaguez proveniente de caso

fortuito ou força maior, o indivíduo ainda mantinha alguma capacidade de discernimento ou


autocontrole, responderá pelo crime, mas terá sua pena diminuída de 1/3 a 2/3.

Vê-se, desta forma, que a embriaguez na esfera penal pode funcionar, a depender do

caso, como causa de isenção ou de redução de pena, desde que a embriaguez provenha de
caso fortuito ou força maior.

 Formas de embriaguez:

a) Culposa – decorre da imprudência ou negligência do indivíduo ao beber de forma


exagerada. Não isenta de pena o agente.

b) Preterdolosa – o sujeito, apesar não querer o resultado, sabe que estando embriagado
pode vir a cometer algum crime.

c) Proveniente de caso fortuito ou força maior – é tratada no art. 28, § 1º do CP, na

qual o agente não possui nenhuma intenção de se embriagar, tendo a embriaguez


resultado de um evento imprevisível e inevitável.

d) Acidental – o sujeito ingere bebida de pouco ou de nenhum grau percentual alcoólico,


mas que são potencializadas pela interação com outros medicamentos.

21
e) Preordenada/voluntária – nesse tipo de embriaguez, o sujeito bebe com a intenção

de cometer crimes, incorrendo na chamada actio libera in causa. Ou seja, o sujeito se


coloca voluntária e intencionalmente numa situação que, em tese, poderia gerar sua

inimputabilidade. Nesses casos, a embriaguez configura uma circunstância atenuante.

f) Patológica – é resultante da ingestão de pequenas does, com manifestações

desproporcionais. Vibert dividia a embriaguez patológica em quatro tipos:

o Agressiva e violenta: tende ao crime e ao sangue.

o Excito-motora: acesso de raiva e de desnutrição.


o Convulsiva: impulsos destruidores e sanguinários.

o Delirante: delírios com tendência à autoacusação.

 Manifestações clínicas da embriaguez:

I) Manifestações físicas:

É importante ressaltar que um indício isolado dessas causas não deve ser considerado
como determinante da embriaguez. É dizer, as características a seguir devem ser examinadas e

constatadas em conjunto com as manifestações neurológicas e psíquicas. São elas:

 Congestão das conjuntivas;


 Taquicardia;

 Taquipneia;
 Hálito alcoólico-acético;

II) Manifestações neurológicas:

São manifestações ligadas à alteração psicomotora, tais como equilíbrio, marcha e demais

perturbações de ordem motora.

22
III) Manifestações psíquicas:

Ocorre de maneira progressiva. Iniciam-se pelas alterações de humor, da atenção, até

atingirem os impulsos menores.

 Fases da embriaguez:

a) Excitação/desinibição/macaco:

Genival França indica que nessa fase, o indivíduo mostra-se bem vivo, bem humorado,
dando às vezes uma falsa impressão d maior capacidade intelectual. Nessa fase também

costuma-se revelar segredos, sendo extremamente instável. É a fase da euforia.

b) Confusão/agitação/leão/fase médico-legal dos crimes comissivos:

É a fase do leão. Aqui surgem perturbações nervosas e psíquicas. O andar começa a ficar
cambaleante, e o sujeito apresenta certo grau de irritabilidade e propensão a agressões.

c) Sono/comatosa/porco/fase médico-legal dos crimes omissivos:

É a fase comatosa ou do porco. Nela o sujeito não se mantém de pé, caminhando com
dificuldade. Não reage a estímulos normais. Aqui pode haver o cometimento de crimes
omissivos, bem como há a possibilidade de ser molestado sexualmente.

 Principais sinais do alcoolismo:

I) Perturbações neurológicas:

 Polineurite: é o comprometimento de vários neurônios periféricos por um processo


degenerativo.

 Síndrome de Wernicke: é caracterizada por sintomas resultantes de lesões por


minúsculos focos hemorrágicos dos nervos cranianos do tronco cerebral.

 Síndrome de Korsakov: é caracterizada por um quadro clínico de amnésia e


desorientação.

23
II) Perturbações psíquicas:

 Delirium tremens: quando o alcoolismo é crônico, pode surgir um estado agudo no


qual se manifestam sintomas físicos e psíquicos. O sujeito passa a ter alucinações e
visões de animais asquerosos e rastejantes (Zoopias).

 Delírio de ciúmes dos bebedores: se apresenta por manifestações de ciúmes e


infidelidade conjugal.

 Epilepsia alcoólica: o uso excessivo do álcool pode apresentar crises convulsivas


parecidas com as da epilepsia.

 Dipsomania: nela o sujeito ingere, de forma compulsiva, grandes quantidades de


bebida.

10.1.7 Psicologia das multidões delinquentes

As multidões podem ser divididas em homogêneas e heterogêneas. As primeiras dão


aquelas nas quais os indivíduos possuem identidades de ideias, doutrinas e paixões. Já as

heterogêneas são formadas por indivíduos que não possuem união ou ligação de ordem
intelectual ou afetiva.

O processo de desencadeamento das ações coletivas geralmente parte de um indivíduo,

que fomenta a ideia da ação, sendo considerado como líder do grupo.

Esse aspecto tem relevância na esfera penal, pois que a legislação elenca como
circunstância atenuante de pena o crime cometido sob a influência de multidões, sendo

prevista no art. 65, III, “e” do CP.

24
QUADRO SINÓTICO

Psicopatologia Forense: o ramo da medicina

legal que estuda e analisa as doenças,


deficiências e demais distúrbios de

natureza mental. Tais estudos repercutem


PSIQUIATRIA E PSICOLOGIA diretamente na aferição da imputabilidade

FORENSE penal. Os estudos da psicopatologia forense


abrangem duas grandes categorias: a
psicologia forense e a psiquiatria forense.

A imputabilidade é um fator biopsicológico que traduz a


capacidade de um indivíduo de entender o que está fazendo

e, a partir desse estado de consciência, poder direcionar sua


vontade para a execução de determinada conduta. O indivíduo

pode ser enquadrado em três categorias distintas:

 Imputável – quando o agente, ao tempo da conduta,


possui plena capacidade de entender o caráter ilícito do
IMPUTABILIDADE
fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

 Inimputável – quando o agente, ao tempo da conduta, é


inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato

ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.


(Art. 26, caput)

25
 Semi-imputável – quando o indivíduo, em razão de

perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento


incompleto ou retardado, não era inteiramente capaz de

entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de


acordo com esse entendimento. (Art. 26, parágrafo único).

A depender da caracterização de um desses três estados de

imputabilidade, haverá uma consequência jurídica distinta para


o indivíduo, podendo responder pelo crime, ser isento de pena

ou ter sua pena diminuída na fração variável de 1/3 a 2/3.

Em resumo, a determinação do estado de imputabilidade de um


indivíduo se dá através da conjugação do binômio consciência

+ vontade (dolo como elemento subjetivo da conduta).

Nexo de causalidade:

Deve-se mostrar que a eventual alteração da consciência da


ilicitude do fato foi a causa da conduta ilícita cometida. Ou,

conforme o caso, em não havendo alteração na consciência da


ilicitude, deve-se provar que o agente não tinha condições de

determinar-se de acordo com o entendimento da situação, e


que essa falta de domínio da vontade foi a causa da conduta
ilícita.

Estuda os transtornos anormais de personalidade, assim


conhecidos como doenças mentais, retardos mentais,

demências, esquizofrenias e outros transtornos psicóticos.

Doentes mentais: são os portadores de psicoses e demências


PISIQUIATRIA
em geral.
FORENSE
I) Psicóticos: as psicoses ão legítimas doenças mentais,
podendo ter causa externa (intoxicação por álcool ou
drogas) ou interna (patologia congênita), a exemplo

26
da psicose maníaco-depressiva. Alguns distúrbios

hormonais são capazes de provocar diversas


alterações psíquicas e comportamentais nos

indivíduos que são acometidos por esses fatores,


podendo ocasionar a perda de controle de seus

próprios atos. Há, portanto, uma inibição total do


controle de suas ações neurológicas, podendo vir a
se tornar agressivos, caso não seja diagnosticada a

doença desde seu início, e a consequente submissão


ao tratamento.

II) Pessoas que possuem desenvolvimento mental


incompleto: São basicamente dois tipos de pessoas:
os surdos-mudos que não conseguem exprimir sua
vontade em nível absoluto ou relativo; e os Índios

afastados da civilização de forma absoluta ou


relativa;

III) Pessoas que possuem desenvolvimento mental


retardado: são todos os oligofrênicos, conceituados

como aqueles que possuem pouca capacidade de


pensamento e raciocínio. Se subdividem em 3 grupos:

 Idiotas – QI de 0 a 5%
 Imbecis – QI de 20 a 50%

 Débeis mentais – QI de 51 a 75%

Oligofrenia:

São indivíduos de baixo intelecto que ostentam uma

incapacidade de compreender, criar e criticar os fatos


ocorridos a sua volta, ou até mesmo a incapacidade de se

27
autodeterminar na vida social, o que lhes impede de

aproveitar as situações vividas para usar como experiência na


vivência de novas situações.

Idiotia:

Trata-se de um estado mórbido, ligado a um defeito acidental

ou congênito do encéfalo, que consiste na ausência completa


ou na parada do desenvolvimento das faculdades intelectuais

e afetivas.

Como visto na classificação anterior, os idiotas (ou dependentes,


segundo a nomenclatura moderna) possuem idade mental de 0

a 3 anos, com o quociente intelectual inferior a 25%.

Imbecilidade:

Os imbecis são aqueles cujo QI se situa entre 25 e 50%, tendo


idade mental equivalente a uma criança de 3 a 7 anos. São

capazes de algum tipo de aprendizado desde que sejam


empenhados enormes esforços, e quando amparados em

estabelecimentos educacionais especializados.

Alguns até apresentam uma boa memória. São facilmente


enganados, e propensos à cólera e a violência, mediante a

execução de atos de pequena criminalidade, a exemplo de


algumas fraudes elementares. Ostentam certa capacidade de se

defender.

Debilidade mental:

Segundo a classificação dos especialistas, conforma já exposta


acima, os débeis mentais possuem uma idade mental situada

entre 7 e 12 anos, com o QI entre 50 e 90%. Sendo assim,


dentre todas as categorias de oligofrênicos, os débeis mentais

28
são os que ostentam o maior percentual de pacientes.

São incapazes de levar a vida em igualdade entre pessoas

normais, mas que, no entanto, podem até prover suas


subsistências em condições que eventualmente lhes sejam

favoráveis.

São facilmente irritáveis, podendo se mostrar propensos a


atos de violência, tais como lesões corporais, homicídio e

antropofagia.

 Obs.: Os idiotas e os imbecis são penalmente


inimputáveis, uma vez que são, ao tempo da ação ou

omissão criminosa, inteiramente incapazes de entender


o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo

com esse entendimento, sendo enquadrados nos termos


do art. 26, caput, do Código Penal, e, por consequência,

isentos de pena.

Exame de sanidade mental:

Pode ter sua realização determinada tanto na fase investigativa


(inquérito policial) quanto na fase judicial propriamente dita

(após o recebimento da denúncia).

O exame de sanidade mental tem como objetivo a aferição do


estado de higidez mental, a ser analisado no momento da

ação delituosa, visando a atestar se o periciado tinha, ao tempo


da ação ou omissão, plena capacidade de compreensão acerca

do caráter ilícito do fato, ou de determinar-se de acordo com


esse entendimento.

 Obs.: em se tratando de exame pericial a ser feito no


suspeito/investigado/acusado, somente o juiz pode
determinar que se faça. Assim, na fase investigativa, o

29
Delegado de Polícia pode representar pela realização do

exame (durante da fase de inquérito). O membro do MP,


por sua vez, pode requisitar a realização do exame, seja

na fase do inquérito ou na fase processual.

Perturbação da saúde mental:

Caracterizam-se como perturbados mentais os doentes mentais


que possuem alguma capacidade, bem como outro grupo de

pessoas que não são considerados doentes mentais


propriamente ditos, mas que tem algum tipo de distúrbio na

saúde mental. A doutrina médico-legal categoriza essas pessoas


em basicamente 5 grupos:

f) Neuróticos;

g) Psicopatas;
h) Epilépticos;

i) Pródigos;
j) Doentes mentais com capacidade parcial;

Neuroses:

São transtornos do mundo psíquico, geralmente ligados a

conflitos psíquicos de origem na infância dos indivíduos


acometidos por este quadro. O indivíduo se utiliza

inconscientemente de mecanismos de defesa para evitar a


realidade.

Epilepsias:

Alguns autores, a exemplo do professor Hygino Carvalho

Hércules, inserem a epilepsia como um distúrbio


neuropsiquiátrico entre os mais variados tipos de doenças
mentais. Outros autores só admitem essa hipótese nos casos
de psicose epiléptica, com estado crepuscular e/ou

30
automatismos totalmente afastados da consciência do paciente

infrator.

A epilepsia é uma afecção do sistema nervoso central


essencialmente crônica, anunciada por auras sensitivo-

sensoriais, motoras ou psíquicas, que são sintomas subjetivos


instantâneos, premonitórios, e que se caracteriza por

convulsões, perda súbita dos sentidos, completa inconsciência e


amnésia, podendo ocorrer sintomas acessórios como o “grito do

pavão”, mordida da língua, micção, sialorreia e sono.

Psicopatias:

Os psicopatas não se caracterizam como doentes mentais.


Segundo estudos médico-legais na área de psiquiatria, as

psicopatias diferem substancialmente das doenças mentais, em


razão de não acarretarem no paciente a perda da noção da

realidade. Também são conhecidas como transtorno de


personalidade.

A personalidade psicopática se traduz como um padrão

duradouro de comportamento que difere das expectativas do


ambiente cultural do indivíduo, geralmente tendo início na
adolescência ou na juventude, e que se mantém estável ao

longo do tempo, gerando para seu portador uma grande


dificuldade de adaptação social.

Estuda os limites normais, biológicos, mesológicos e legais da


capacidade civil e da responsabilidade penal.
PSICOLOGIA Limitadores e modificadores de ordem biologia:

FORENSE I) Idade: A idade tem influência tanto no campo penal


quanto no civil. Conforme o art. 27 do CP, os menores
de 18 anos são considerados inimputáveis, tendo a

31
legislação penal, nesse ponto, adotado o critério

biológico para aferição da responsabilidade penal.


Na lei civil, a capacidade plena dos indivíduos se dá

com o advento da maioridade (18 anos). Não


obstante, a legislação civilista, ao contrário da

legislação criminal, determina uma gradação na


capacidade civil, instituindo a categoria dos
relativamente incapazes.

II) Sexo: Em relação ao sexo, a lei o admite como

limitador e modificador da capacidade civil, mas não


da responsabilidade penal. Na esfera civil, por
exemplo, tanto o homem quanto a mulher com 16
anos completos são capazes de contrair matrimônio,
desde que com a autorização dos pais ou

responsáveis legais do adolescente. Em relação ao


sexo, a lei o admite como limitador e modificador da

capacidade civil, mas não da responsabilidade penal.


Na esfera civil, por exemplo, tanto o homem quanto a

mulher com 16 anos completos são capazes de


contrair matrimônio, desde que com a autorização dos

pais ou responsáveis legais do adolescente.

III) Emoção e paixão: Segundo a maioria da doutrina

penalista, a emoção é um estado agudo de excitação


psíquica, enquanto que a paixão é um estado

emocional crônico. Pode ocorrer de algumas


descargas elétricas na estrutura cerebral, em razão de
estímulos externos que mexem com as emoções de
um indivíduo, desencadearem sintomas similares aos
das psicoses ou ao originados por drogas psicodélicas

32
ou alucinógenas. Esse desequilíbrio das funções

cerebrais no sistema límbico determina oscilações ou


mudanças bruscas de humor, de modo a gerar uma

reação comportamental intensa no indivíduo, podendo


levá-lo ao automatismo. Porém, a emoção e a paixão

não excluem a imputabilidade, de acordo com o que


determina o art. 28 do CP. Não obstante, podem ser
levadas em consideração pelo juiz quando da fixação

da pena, servindo como atenuantes.

IV) Agonia: De acordo com a literatura médico-legal, a


agonia se caracteriza como estados terminais do
indivíduo (também conhecidos como “moribundos”).
Interessa principalmente ao direito civil, mais
precisamente no que tange ao casamento in extremis.

O Código Civil permite, em seu art. 1540, a realização


do casamento quando o sujeito estiver em iminente

perigo de vida.

Limitadores e modificadores de ordem psicopatológica:

I) Sono patológico: O sono patológico compreende o


sonambulismo e o hipnotismo. Vejamos cada um

deles. O sonambulismo é um sintoma de


perturbação que pode ser situado entre o sono

natural e o sono patológico. Quando ocorre, se


manifesta mais frequentemente na infância do que

na fase adulta. Pode ser descrito sucintamente como


“um sonho que se executa durante o sono”, em que

o indivíduo permanece adormecido, mas conserva


sua atividade motora. Assim, qualquer ato que o
indivíduo venha a praticar, o fará de forma

33
inconsciente, de modo que ficará isento de pena. O

hipnotismo, por sua vez, se caracteriza como um


processo destinado a induzir, por sugestão, um

estado de transe, capaz de sujeitar o hipnotizado


às ordens do hipnotizador. Similar ao que acontece

no sonambulismo, no hipnotismo o indivíduo perde


alguns sentidos, mas conserva sua capacidade
motora. Pode-se dizer que o hipnotismo é um

sonambulismo provocado.

II) Surdimudismo: Os portadores de surdimudismo são


indivíduos que necessitam de atenção especial, uma
vez que ficam parcialmente limitados de receber e de
dar estímulos verbais e auditivos. Os portadores de
surdimudismo não devem ser equiparados aos

portadores de retardo mental, seja ele profundo ou


moderado. No entanto, em determinadas situações, o

surdo-mudo pode ser considerado incapaz de


praticar sozinho os atos da vida civil. Nesse ponto,

essa causa limitadora interessa muito ao direito civil,


nos termos do art. 4º do CC, c/c art. 2º da Lei

13.146/2015.

III) Afasia: Pela afasia, o indivíduo perde os sinais que

usa para se comunicar com seus semelhantes. São,


portanto, alterações da capacidade de percepção

sensorial, podendo ser motoras, verbais, auditivas,


dentre outras.

IV) Embriaguez: regulamentada no art. 28 do CP. a


embriaguez não constitui causa excludente da

34
imputabilidade penal, como regra. Em sendo a

embriaguez voluntária ou culposa, vindo o indivíduo a


cometer algum delito durante seu estado de

embriaguez, responderá normalmente pelo crime e


sofrerá as sanções aplicáveis. Há, no entanto, uma

ressalva quanto a essa regra geral, que está nas


hipóteses de embriaguez completa proveniente de
caso fortuito ou força maior, se em razão dela, ao

tempo da ação ou omissão criminosa, o indivíduo era


inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do

fato ou de determinar-se de acordo com esse


entendimento. Em outra hipótese, se, não obstante
estar sob o efeito de embriaguez proveniente de caso
fortuito ou força maior, o indivíduo ainda mantinha

alguma capacidade de discernimento ou autocontrole,


responderá pelo crime, mas terá sua pena diminuída
de 1/3 a 2/3.

Formas de embriaguez:

g) Culposa – decorre da imprudência ou negligência do


indivíduo ao beber de forma exagerada. Não isenta de

pena o agente.

h) Preterdolosa – o sujeito, apesar não querer o resultado,

sabe que estando embriagado pode vir a cometer algum


crime.

i) Proveniente de caso fortuito ou força maior – é tratada


no art. 28, § 1º do CP, na qual o agente não possui
nenhuma intenção de se embriagar, tendo a embriaguez
resultado de um evento imprevisível e inevitável.

35
j) Acidental – o sujeito ingere bebida de pouco ou de
nenhum grau percentual alcoólico, mas que são
potencializadas pela interação com outros

medicamentos.

k) Preordenada/voluntária – nesse tipo de embriaguez, o


sujeito bebe com a intenção de cometer crimes,

incorrendo na chamada actio libera in causa. Ou seja, o


sujeito se coloca voluntária e intencionalmente numa
situação que, em tese, poderia gerar sua

inimputabilidade. Nesses casos, a embriaguez configura


uma circunstância atenuante.

l) Patológica – é resultante da ingestão de pequenas does,


com manifestações desproporcionais.

Manifestações clínicas da embriaguez:

IV) Manifestações físicas: é importante ressaltar que um


indício isolado dessas causas não deve ser

considerado como determinante da embriaguez. É


dizer, as características a seguir devem ser examinadas
e constatadas em conjunto com as manifestações

neurológicas e psíquicas. São elas:


 Congestão das conjuntivas;

 Taquicardia;
 Taquipneia;

 Hálito alcoólico-acético;

V) Manifestações neurológicas: são manifestações


ligadas à alteração psicomotora, tais como equilíbrio,

36
marcha e demais perturbações de ordem motora.

VI) Manifestações psíquicas: ocorre de maneira


progressiva. Iniciam-se pelas alterações de humor, da

atenção, até atingirem os impulsos menores.

Fases da embriaguez:

d) Excitação/desinibição/macaco:

Genival França indica que nessa fase, o indivíduo mostra-se

bem vivo, bem humorado, dando às vezes uma falsa impressão


d maior capacidade intelectual. Nessa fase também costuma-se

revelar segredos, sendo extremamente instável. É a fase da


euforia.

e) Confusão/agitação/leão/fase médico-legal dos

crimes comissivos:

É a fase do leão. Aqui surgem perturbações nervosas e


psíquicas. O andar começa a ficar cambaleante, e o sujeito

apresenta certo grau de irritabilidade e propensão a agressões.

f) Sono/comatosa/porco/fase médico-legal dos crimes


omissivos:

É a fase comatosa ou do porco. Nela o sujeito não se

mantém de pé, caminhando com dificuldade. Não reage a


estímulos normais. Aqui pode haver o cometimento de crimes

omissivos, bem como há a possibilidade de ser molestado


sexualmente.

Perturbações psíquicas:

 Delirium tremens: quando o alcoolismo é crônico, pode


surgir um estado agudo no qual se manifestam sintomas

37
físicos e psíquicos. O sujeito passa a ter alucinações e
visões de animais asquerosos e rastejantes (Zoopias).

 Delírio de ciúmes dos bebedores: se apresenta por


manifestações de ciúmes e infidelidade conjugal.

 Epilepsia alcoólica: o uso excessivo do álcool pode


apresentar crises convulsivas parecidas com as da
epilepsia.

 Dipsomania: nela o sujeito ingere, de forma compulsiva,


grandes quantidades de bebida.

As multidões podem ser divididas em homogêneas e


heterogêneas. As primeiras dão aquelas nas quais os

indivíduos possuem identidades de ideias, doutrinas e


paixões. Já as heterogêneas são formadas por indivíduos que
não possuem união ou ligação de ordem intelectual ou

PSICOLOGIA DAS afetiva.

MULTIDÕES O processo de desencadeamento das ações coletivas


geralmente parte de um indivíduo, que fomenta a ideia da ação,
DELINQUENTES
sendo considerado como líder do grupo.

Esse aspecto tem relevância na esfera penal, pois que a


legislação elenca como circunstância atenuante de pena o

crime cometido sob a influência de multidões, sendo prevista no


art. 65, III, “e” do CP.

38
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(CESPE - 2012 - PC-AL - Escrivão de Polícia) No que se refere à perícia médico-legal, julgue

os itens subsequentes.

No âmbito penal, os adultos portadores de retardo mental leve são considerados semi-
imputáveis, enquanto os portadores de retardo mental moderado e profundo são

considerados inimputáveis.

Comentário:

Como vimos no tópico referente às pessoas que possuem desenvolvimento mental

retardado, há a classificação em graus dessas pessoas, que se subdividem em 3


categorias distintas: idiotas – QI de 0 a 5% (renomeados como dependentes/retardo
mental profundo, com idade mental de 0 a 3 anos); imbecis - QI de 20 a 50%

(renomeados como independentes treináveis/retardo mental moderado, com idade


mental de 3 a 7 anos); e ao débeis mentais – QI de 51 a 75% (renomeados como

independentes educáveis/retardo mental leve, com idade mental de 7 a 12 anos). Os


dois primeiros (idiotas e imbecis – retardo mental profundo e moderado,
respectivamente) são considerados inimputáveis nos termos da legislação penal vigente
(art. 26, caput, do CP). Já os últimos (débeis mentais – retardo mental leve) são

considerados semi-imputáveis, em razão de terem uma maior capacidade de cognição e


raciocínio que os demais. Assim, conforme há uma gradação acerca do desenvolvimento
mental, podemos concluir que nem todo indivíduo com retardo mental será considerado

inimputável para a legislação penal, de modo que o gabarito da questão está “correto”.

39
Questão 2

(CESPE - 2012 - PC-AL - Delegado de Polícia) Em relação à perícia médico-legal, julgue os


itens que se seguem.

Para a aplicação do critério biopsicológico da imputabilidade, conceito expresso no Código


Penal brasileiro, é necessário a avaliação da existência de um transtorno mental, da capacidade
de entendimento do caráter ilícito do fato e da capacidade de autodeterminação pelo autor e,

ainda, do nexo de causalidade entre o distúrbio mental ou psicológico e o ato praticado.

Comentário:

Vimos que para que haja o enquadramento de um indivíduo como inimputável ou até

mesmo semi-imputável, nos termos do art. 26, caput, e parágrafo único do CP, é
necessário que haja uma avaliação psiquiátrica a fim de atestar o seu grau de

entendimento e de autodeterminação sobre os atos que praticou. E, mais ainda, é


necessário que exista um nexo de causalidade entre a conduta praticada e o transtorno

mental do agente, de modo que a sua conduta seja uma consequência direta do
transtorno existente. É dizer, a perícia deve demonstrar que a eventual alteração da
consciência da ilicitude do fato foi a causa da conduta ilícita cometida. Ou, conforme o

caso, em não havendo alteração na consciência da ilicitude, deve-se provar que o agente
não tinha condições de determinar-se de acordo com o entendimento da situação, e que

essa falta de domínio da vontade foi a causa da conduta ilícita. O gabarito da questão
está, portanto, “correto”.

Questão 3

(2012 - FGV - PC-MA - Delegado de Polícia) O transtorno que se manifesta pela compulsão
do indivíduo em comprar tudo o que vê e que pode levar à dissipação do patrimônio da

própria pessoa, denomina-se:

A) Dipsomania.

B) Riparofilia.

C) Cibomania.
40
D) Amusia.

E) Oniomania.

Comentário:

A oniomania é uma doença que ataca esse tipo de compulsivo, é caracterizada como um
transtorno de personalidade e mental, classificado dentro dos transtornos do impulso. O

gabarito que responde à questão está, portanto, na alternativa “e”.

Questão 4

(FAEPU-MG-2010) Com relação ao Transtorno de Personalidade Borderline, é correto afirmar

que:

A) O indivíduo geralmente apresenta a crença de ser especial e possui fantasias de ilimitado


sucesso, poder, inteligência, beleza ou amor ideal.

B) O indivíduo pode apresentar perturbação da identidade, instabilidade afetiva, sentimentos

crônicos de vazio, comportamento automutilante ou gestos e ameaças suicidas.

C) O indivíduo geralmente apresenta dramaticidade, teatralidade de expressão emocional


exagerada.

D) O indivíduo geralmente evita atividades ocupacionais que envolvam contato interpessoal


por medo de críticas, desaprovação, rejeição, vergonha ou ridicularização.

Comentário:

Aqui há um tema que não abordamos de maneira expressa, então vamos nos ater mais
um pouco na explicação para podermos elaborar o comentário dessa questão. A

personalidade Borderline é um tipo de distúrbio mental relacionado à personalidade


psicopática. Há inúmeras subclassificações e divisões dos tipos de personalidades

psicopáticas, de modo que não há um consenso exato acerca das características de cada
uma delas. E, mais ainda, é difícil a tarefa de classificação de cada um desses perfis em
razão de, na prática, os indivíduos que são considerados psicopatas apresentarem

características mistas dos mais variados perfis psicopáticos. Não obstante, no que tange

41
ao transtorno de personalidade Borderline, há algumas características peculiares que

compõem esse perfil, a saber: relacionamento interpessoal intenso e instável; variações


de humor, auto estima instável; impulsividade, crises de raiva e tendência autodestrutiva.

De todas essas características, a mais marcante e distintiva dentre os diversos perfis


existentes é a tendência autodestrutiva, sendo esta o ponto chave para a resolução desta

questão. Assim, podemos concluir que o gabarito que responde à nossa questão está na

alternativa “b”.

Questão 5

(FUNCAB - 2013 - PC-ES - Médico Legista) Marque a alternativa que indica situação de
incapacidade civil absoluta.

A) Compra de imóvel por indivíduo com 15 anos de idade.

B) Casamento de portador de perturbação mental.

C) Estado de embriaguez incompleta eventual.

D) Abertura de conta bancária por usuário de drogas ilícitas.

Comentário:

Aqui a questão aborda a temática referente aos limitadores da capacidade civil, mais
especificamente aqueles de ordem biológica. Trata-se da idade necessária à aquisição da

capacidade civil. Vimos que a legislação civilista, ao contrário da legislação penal, faz uma
gradação acerca da incapacidade para os atos da vida civil, sendo subdividida em

incapacidade civil relativa e incapacidade civil absoluta. A questão cobra do candidato o


conhecimento das causas de incapacidade civil absoluta, pelo que a resolução desta

questão demanda o conhecimento do art. 3º do Código Civil. Com efeito, após o


advento do Estatuto da pessoa com deficiência – que promoveu grandes mudanças no
ordenamento brasileiro como um todo -, hoje somente são considerados absolutamente

incapazes os indivíduos menores de 16 anos. Dessa forma, o gabarito da nossa questão


está na alternativa “a”.

42
Questão 6

(FUNCAB - 2013 - PC-ES - Médico Legista) São incapazes de exercer relativamente os atos
da vida civil, EXCETO:

A) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

B) os ébrios habituais.

C) os viciados em tóxicos.

D) os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

E) os pródigos.

Comentário:

Novamente a banca cobra do candidato o conhecimento do teor dos arts. 3º e 4º do

Código Civil. Dentre as alternativas, a única que traz hipóteses de absolutamente


incapazes é a alternativa “a”. Todas as demais se referem aos relativamente incapazes,

nos termos do art. 4º do CC.

Questão 7

(2015 - CESPE - TJ-DF - Técnico Judiciário - Administrativa) Acerca da imputabilidade penal,

julgue o item a seguir.

A embriaguez completa, culposa por imprudência ou negligência — aquela que resulta na


perda da capacidade do agente de entender o caráter ilícito de sua conduta —, no momento

da prática delituosa, não afasta a culpabilidade.

Comentário:

Estudamos com profundidade a temática relativa à embriaguez como causa modificadora

da imputabilidade. Segundo os ditames da lei penal, em seu art. 28, somente exclui a
imputabilidade a embriaguez completa, se e somente se for proveniente de caso fortuito
ou força maior. Desse modo, a embriaguez culposa não afasta a imputabilidade, de

43
modo que ao agente delituoso responde normalmente pelos atos praticados, se

definidos como crime pela lei penal. O gabarito da questão está, portanto, “correto”.

Questão 8

(2015 - CESPE - TJ-DF - Técnico Judiciário - Administrativa) Acerca da imputabilidade penal,

julgue o item a seguir.

A doença mental e o desenvolvimento mental incompleto ou retardado, por si só, afastam por
completo a responsabilidade penal do agente.

Comentário:

Vimos que a doença mental pode sim ser levada em conta para fins de afastar a
imputabilidade penal. Não obstante, não basta haver a doença mental, mas também ela

deve ser de um grau que seja incapacitante, ou seja, retire do agente a total capacidade
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

entendimento, nos termos do art. 28, caput, do CP. Ainda, deve haver também um nexo
de causalidade entre a doença mental e o ato praticado pelo agente inimputável, de

modo que a doença mental seja a causa direta da conduta. O gabarito da questão está,

portanto, “errado”.

Questão 9

(AROEIRA - 2014 - PC-TO - Agente de Polícia) Com base na Lei Penal e nas principais
jurisprudências, julgue os itens abaixo.

É isento de pena o agente que, ao tempo da ação ou da omissão, era inteiramente incapaz de

entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, em


virtude de embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior.

Comentário:

Trata-se da redação ipisis literis do art. 28 do Código Penal, segundo a qual a


embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, exclui a

imputabilidade. O gabarito está, portanto, “correto”.

44
Questão 10

(CONSULPLAN - 2013 - PM-TO - Soldado da Polícia Militar) Com base na Lei Penal e nas
principais jurisprudências, julgue os itens abaixo.

De acordo com a teoria do Direito Penal, a inimputabilidade exclui a culpabilidade.

Comentário:

Aqui a questão foge um pouco da temática médico-legal, aprofundando um pouco na


matéria de direito penal, mais especificamente no âmbito da teoria do crime. Não

obstante, citamos no tópico referente à embriaguez que a imputabilidade é um substrato


do elemento da culpabilidade dentro do conceito analítico de crime, segundo o qual o

crime seria toda conduta típica, antijurídica e culpável. Cada um desses elementos se
subdivide em outros, mas que, no entanto, para fins de resolução desta questão, no

ateremos ao elemento da culpabilidade. A culpabilidade é formada por três outros


substratos, a saber: a imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de

conduta diversa. A caracterização de cada um desses elementos demanda a presença


concomitante de todos os seus subcomponentes. Assim, uma vez excluída a
imputabilidade, por via de consequência, estará também excluída a culpabilidade,

caracterizando não o conceito de crime, mas sim de injusto penal, não sendo viável a

punição do agente. O gabarito da questão está, portanto, “correto”.

E chegamos ao fim de mais um tema, pessoal!!! Esperamos que tenham gostado da

abordagem teórica, lembrando que é fundamental a revisão e a prática de resolução de


questões para a devida fixação do tema. Até mais!

45
GABARITO

Questão 1 - Certo

Questão 2 - Certo

Questão 3 - E

Questão 4 - B

Questão 5 – A

Questão 6 - A

Questão 7 - Certo

Questão 8 - Errado

Questão 9 - Certo

Questão 10 – Certo

46
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Da Capacidade Civil

 CC: Arts. 3º e 4º;

Da Imputabilidade Penal:

 CP: Arts. 26 ao 28;

Da Embriaguez:

 CP: Art. 28;

Estatuto das Pessoas com Deficiência:

 Lei 13.146/2015;

Exame de Sanidade Mental:

 CPP: Art. 149;

47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.

DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed. Salvador: Editora Jus
Podium, 2018.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p. 360.

HERCULES, Hygino de C., Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005.

48
CARREIRAS POLICIAIS

Medicina Legal
Capítulo 10
SUMÁRIO

MEDICINA LEGAL, Capítulo 10 ................................................................................................................................. 3

10. Toxicologia Forense. ................................................................................................................................................. 3

10.1 Toxicologia Forense. ............................................................................................................................................ 3

10.1.1 Conceito. ................................................................................................................................................................... 3

10.2 Conceito de tóxicos, cáusticos e venenos.................................................................................................. 3

10.2.1 Tóxicos. ...................................................................................................................................................................... 3

10.2.2 Cáusticos. .................................................................................................................................................................. 4

Vitriolagem: .............................................................................................................................................................. 4

10.2.3 Venenos..................................................................................................................................................................... 5

Conceito e classificação:..................................................................................................................................... 5

Fases do percurso do veneno no organismo: .......................................................................................... 5

Síndrome de Body Packer: ................................................................................................................................ 7

10.2.4 Distinção entre tóxicos e venenos................................................................................................................. 7

10.3 Tropismos orgânicos. .......................................................................................................................................... 8

10.3.1 Principais substâncias tóxicas e tropismos – Saturnismo, Hidrargirismo e Mitridatismo. .... 8

10.4 Distinção entre tóxicos e venenos.............................................................................................................. 13

10.5 Sistema porta hepático – A barreira do organismo contra os tóxicos e venenos................ 13

10.6 Perícia médico-legal – Detecção da ação dos tóxicos e venenos nas autopsias. ................. 14

10.6.1 Congestão polivisceral. .................................................................................................................................... 14

10.6.2 Residuograma nos pelos corporais – A importância dos pelos nas exumações e perícias
toxicológicas intra vitam. ............................................................................................................................................. 16

10.6.3 Detecção dos tóxicos e venenos a partir do olho humano. ........................................................... 16

10.7 Intoxicação pelo monóxido de carbono (CO). ...................................................................................... 19

1
10.8 Envenenamento por cianeto. ........................................................................................................................ 21

10.9 Inalantes e aerossóis – Ação imediata no organismo. ...................................................................... 23

10.10 Álcool, drogas e noções de imputabilidade. ......................................................................................... 23

10.10.1 Drogas Psicoanalépticas. ........................................................................................................................ 24

10.10.2 Drogas Psicodislépticas. .......................................................................................................................... 28

10.10.3 Drogas Psicolépticas ou Psico-catalépticas. ................................................................................... 30

10.10.4 Alcoolismo e embriaguez – Modificadores da imputabilidade. ............................................ 32

10.10.5 Principais drogas ilícitas e substancias de uso e abuso. .......................................................... 38

10.10.6 Situações de inimputabilidade relacionadas ao uso e dependência de drogas. .......... 39

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 41

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 56

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 66

LEGISLAÇÃO COMPILADA............................................................................................................................................ 67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 68

2
MEDICINA LEGAL

Capítulo 10

10. Toxicologia Forense.

10.1 Toxicologia Forense.

10.1.1 Conceito.

Estuda as energias de ordem química. Essa análise resulta, para o perito médico-legal, na
procura por venenos ou substâncias tóxicas como os cáusticos, podendo indicar suicídio,

homicídio ou acidente. Por ser um tema afeto aos agentes e energias vulnerantes de ordem
química, muito do que veremos aqui será uma repetição do capítulo 6 do nosso curso, apenas
com um aprofundamento a mais em algumas peculiaridades da toxicologia que não foram

trabalhadas do referido capítulo. Vamos aos estudos!

10.2 Conceito de tóxicos, cáusticos e venenos.

10.2.1 Tóxicos.

Tóxico é qualquer substância de origem animal, vegetal ou mineral que, introduzida em


quantidade suficiente num organismo vivo, produz efeitos maléficos, podendo causar a
morte1. Em verdade, qualquer droga ou até mesmo um medicamento qualquer tomado em

dose excessiva é capaz de causar intoxicação de efeito letal.

Portanto, tóxico é muito mais sinônimo de veneno do que de uma substância química que
altere a normalidade mental ou psíquica.

1
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 661.
3
10.2.2 Cáusticos.

São substâncias que, de acordo com sua natureza química, provocam lesões

tegumentares (lesões nos tecidos) mais ou menos graves. Essas substâncias podem resultar
em efeitos coagulantes ou liquefacientes.

I) As de efeito coagulante são aquelas que desidratam os tecidos e lhes causam


escaras (feridas) endurecidas e de tonalidade diversa, podendo ser ocasionadas
por certas substâncias, a exemplo do nitrato de prata, o acetato de cobre e o
cloridrato de zinco.

II) As de efeito liquefaciente produzem escaras úmidas, translúcidas, moles e têm


como principais agentes causadores a soda, a potassa e a amônia.

 Vitriolagem:

Existe um tipo de composto químico líquido chamado ácido, da categoria das substâncias

cáusticas, que produz queimaduras pelo fato de desencadear uma reação exotérmica
(liberação de calor). Um dos ácidos mais utilizados em medicina legal é o ácido sulfúrico,

sendo extremamente corrosivo. O nome comumente empregado para o ácido sulfúrico é óleo
de vitríolo, pelo que o emprego dessa substância para causar lesões nas vítimas é chamado

de vitrioagem.

Na vitriolagem surgem as lesões viscerais e cutâneas, podendo sua causa ser criminosa,
suicida ou acidental. Quando criminosa, a ação é dada pelo arremesso de ácidos

propriamente ditos ou de outras bases cáusticas, geralmente contra a face da vítima, pescoço,
tórax ou até mesmo contra seu aparelho genital. Vejam nas imagens2 abaixo exemplos de
lesões de vitriolagem:

2
GALVÃO, Malthus. Lesões causadas pela ação dos ácidos – Vitriolagem. Malthus, 2020.
Disponível em www.malthus.com.br. Acesso em: 09/02/2020.

4
Quase sempre a ação criminosa é motivada por ciúmes, tendo o objetivo de causar
deformidades no corpo da vítima, configurando o crime de lesão corporal gravíssima, nos
termos do art. 129, § 2º, IV do Código Penal.

Em casos de acidentes, as hipóteses mais comuns de ocorrência de vitriolagem se dão por


ingestão involuntária de substâncias cáusticas por indivíduos embriagados ou até mesmo no
ambiente de fábricas, quando da ocorrência de explosões ou de derrame de recipientes em

que são armazenadas tais substâncias.

10.2.3 Venenos.

 Conceito e classificação:

Pode-se conceituar veneno como qualquer substância que, introduzida pelas mais

diversas vias no organismo, ainda que homeopaticamente, danifica a vida ou a saúde. Podem
ser classificados da seguinte maneira:

I) Quanto ao estado físico: sólidos, líquidos e gasosos;


II) Quanto à origem: animal, vegetal, mineral e sintético;
III) Quanto às funções químicas: óxidos, ácidos, bases e sais;
IV) Quanto ao uso: doméstico, agrícola, industrial, medicinal, cosmético, dentre outros.

 Fases do percurso do veneno no organismo:

5
Pode ser oral, gástrica, retal, dentre outras, sendo a
via orogastrointestinal a mais comumente usada
(ingestão oral).
PENETRAÇÃO

É o processo pelo qual o veneno chega à parte

ABSORÇÃO interna dos tecidos orgânicos. Ocorre no intestino


delgado.

É a etapa do envenenamento em que a substância

FIXAÇÃO tóxica se localiza em certos órgãos, a variar


conforme o grau de afinidade.
É o processo pelo qual o organismo tenta se
defender da ação química e tóxica causada pela
substância venenosa, de modo que o organismo
TRANSFORMAÇÃO
apresenta mecanismos que facilitam a eliminação do
veneno e atenuação dos seus efeitos.
É a fase em que o veneno, ao penetrar na circulação,
estende-se pelos mais variados tecidos internos3.
DISTRIBUIÇÃO

ELIMINAÇÃO Etapa na qual o veneno é expelido pelas vias


naturais do organismo.
Fenômeno que se caracteriza pela elevada resistência

MITRIDITIZAÇÃO orgânica contra os efeitos tóxicos da substância


venenosa4.
Propriedade de determinada substância para causar

TOXICIDADE dano interno ao organismo humano.

É a ação potencializadora dos efeitos tóxicos


decorrentes da ingestão simultânea de várias
SINERGISMO
substâncias venenosas.
EQUIVALENTE TÓXICO Quantidade mínima de veneno capaz de matar por
via intravenosa.

3
Vide questões 1 e 3 deste material para saber a forma de abordagem deste conteúdo.
4
Vide questão 2 deste material para saber a forma de abordagem deste conteúdo.
6
 Síndrome de Body Packer:

Ocorre frequentemente com as pessoas vulgarmente conhecidas como “mulas do tráfico”,


que são contratadas pelas organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas para fazer o

transporte das substâncias ilícitas, notoriamente de cocaína, anfetaminas ou heroína.

Em não raros casos, a realização desse transporte de substâncias se dá pela ingestão


destas e o seu armazenamento no interior do organismo (estômago ou intestino), como

forma de burlar a fiscalização policial nas áreas de fronteiras terrestres ou em aeroportos.

Nesses casos, pode ocorrer o rompimento da cápsula isolante que armazena a


substância dentro do organismo, acarretando a morte por overdose da droga ou intoxicação

aguda e maciça do organismo.

A síndrome de Body Packer é diferente da síndrome de Body Pusher, uma vez que,

nesses casos, ocorre com aqueles que transportam pequenas quantidades de drogas nos

orifícios naturais.

10.2.4 Distinção entre tóxicos e venenos.

A primeira informação crucial que permite a diferenciação entre essas duas substâncias é
que o veneno mata mesmo que em pequenas quantidades no organismo. O tóxico, por sua

vez, necessita de concentração em grandes quantidades no organismo para que acarrete a


morte.

Portanto, a grande diferença entre um e outro é a dose, pois ambos são agentes

químicos, ambos penetram no organismo e podem acarretar a morte.

7
10.3 Tropismos orgânicos.

Quando há a ingestão de determinado medicamento ou substância, ela se espalha por


todo o organismo humano. No entanto, cada medicamento ou substância tem uma atuação

especial e mais concentrada em determinada parte do organismo, seja o coração, rins,


fígado, cérebro, etc.

Tropismo, portanto, é a propriedade química que tem determinada substância para se

concentrar em determinadas áreas específicas do corpo através da atividade metabólica


orgânica. É, portanto, o poder de atuação concentrada das substâncias químicas.

No estudo da toxicologia, algumas substâncias como as drogas ilícitas e o álcool têm

maior atuação (tropismo) no sistema cerebral, causando diversas alterações no seu


funcionamento e na dinâmica comportamental do indivíduo. De igual forma, alguns tóxicos e

metais têm tropismos especiais. Vejamos a seguir alguns deles.

10.3.1 Principais substâncias tóxicas e tropismos – Saturnismo,

Hidrargirismo e Mitridatismo.

I) Arsênico – trata-se de um metal pesado. Quando presente no organismo, surgem


eritemas na pele, dores abdominais e polineuropatia. Nos cadáveres é possível
encontrar arsênico a partir de exames nos cabelos, unhas etc.

 Mitridatismo – é a intoxicação/envenenamento pelo arsênico.

Há uma história curiosa por trás dessa nomenclatura, que remete aos tempos antigos.

Existia um rei chamado Mitrídates VI, que acreditava paranoicamente que algum dia seria
vítima de uma traição, na qual alguém iria envenená-lo. Sendo assim, ele passava todos os

dias a ingerir pequenas quantidades de arsênico, imaginando que isso fortaleceria seu
organismo e o tornaria resistente à ação do arsênico (principal substância venenosa na

época), de modo que quando chegasse o dia em que alguém o envenenaria, ele estaria imune
à ação do veneno. E assim surgiu o nome mitridatismo, que consiste na ação de
envenenamento gradativo com pequenas doses periódicas de arsênico.

8
De igual forma, alguns autores também denominam de mitridatização a resistência

natural que o corpo desenvolve contra a ação de determinada substância ou


medicamento, tal qual vimos anteriormente no estudo das energias de ordem química, como

sendo uma das fases do percurso do veneno no corpo.

Assim, a mitridatização tanto pode ser o envenenamento gradativo e criminoso por baixas
doses periódicas de arsênico (meio criminoso); como também pode ser o desenvolvimento da

resistência orgânica a determinada substância (meio medicamentoso).

 Hiperceratose palmar e plantar:

A ceratose é uma substância que se origina de uma proteína chamada queratina,

responsável pela função impermeabilizante da pele humana. Assim, a hiperceratose plantar e


palmar ocorre em pessoas que possuem excesso de queratina nas palmas das mãos e nas

plantas dos pés.

Pode ocorrer com pessoas que trabalham em lavouras, ou que exercem trabalho braçal de
intenso esforço físico. Então, a hiperceratose pode ser consequência do exercício de um

trabalho muito árduo e sem recursos adequados de materiais de segurança para o exercício
dessas atividades.

Não obstante, ocorre também a hiperceratose em pessoas que são intoxicadas por

determinados medicamentos e tóxicos. É bastante comum nos casos de intoxicação pelo


arsênico, seja acidental ou criminosa. Confiram nas imagens a seguir:

9
5

Quando da constatação da hiperceratose palmar e plantar, não se pode dar, desde logo,
um diagnóstico de certeza acerca da intoxicação por arsênico como o fator causador deste
sinal. É provável, mas não é certo que tenha havido contaminação por arsênico. O

diagnóstico deverá ser feito mediante a realização de exames laboratoriais complementares

e específicos para a pesquisa dessa substância no organismo.

 Linhas de Mees:

São linhas esbranquiçadas e transversas na lâmina ungueal, que pode ser única ou
múltipla. Essa linha pode significar, NORMALMENTE, intoxicação por arsênico, mas também

pode ser consequência de outras causas, tais como: septicemia, aneurisma dissecante da aorta,

5
GALVÃO, Malthus. Hiperceratose Palmar e Plantar. Malthus, 2020. Disponível em
www.malthus.com.br. Acesso em: 09/02/2020.

10
várias infecções parasitárias, insuficiência renal, bem como pode ser resultado do uso de

alguns medicamentos (quimioterápicos). Vejam a seguir:

II) Chumbo – também é um metal pesado. A intoxicação por chumbo é denominada


saturnismo e provoca alterações psíquicas, sensoriais, bem como, devido a sua
atuação por inibição não competitiva, anemia, pois não permite a fixação do ferro na
hemoglobina. É possível observar na gengiva do intoxicado, uma faixa acinzentada
(orla de Burton).

 Orla de Burton:

É um sinal que aparece nas pessoas vítimas de intoxicação por chumbo, que consiste em
manchas azul-esverdeadas que ficam localizadas na coroa dos dentes. É muito comum em
pessoas que trabalham em atividades que demandam o contato direto com produtos à base

de chumbo, de modo que esse sinal pode ter origem criminosa ou acidental. Confiram na
imagem abaixo as características desse sinal:

6
GALVÃO, Malthus. Linhas de Mees. Malthus, 2020. Disponível em www.malthus.com.br. Acesso
em: 09/02/2020.

11
7

III) Mercúrio – igualmente um metal pesado. Sua intoxicação denomina-se


hidrargirismo e alterações nos sistemas nervoso e digestivo, como paralisias e
polineurite periférica.

O hidrargirismo pode ocorrer pela contaminação ambiental feita pelas fábricas que
operam com a manipulação do mercúrio, como também pode ocorrer pela mineração (os

garimpeiros e mineradores utilizam o mercúrio para poder extrair o ouro das minas, e acabam
por contaminar o solo com essa substância e outros metais pesados).

IV) Cianeto – libera um odor de amêndoas amargas e somente é letal em meio ácido,

pois em meio alcalino, a liberação do íon cianeto não ocorre. Provoca lesões de cor
vermelha, além de impedir a respiração no meio intracelular. É utilizado o papel de

Shoenbein (cor azul) e o papel de Guinard (cor vermelha) para identificar esse tipo
de substância nas perícias. Veremos com mais detalhamento a ação do

envenenamento por cianeto mais adiante no presente capítulo.

V) Pesticidas organofosforados;

VI) Carbamato/ácido carbâmico (chumbinho);

7
GALVÃO, Malthus. Orla de Burton. Malthus, 2020. Disponível em www.malthus.com.br. Acesso
em: 09/02/2020.

12
10.4 Distinção entre tóxicos e venenos.

A primeira informação crucial que permite a diferenciação entre essas duas substâncias é
que o veneno mata mesmo que em pequenas quantidades no organismo. O tóxico, por sua

vez, necessita de concentração em grandes quantidades no organismo para que acarrete a


morte. Portanto, a grande diferença entre um e outro é a dose, pois ambos são agentes

químicos, ambos penetram no organismo e podem acarretar a morte.

10.5 Sistema porta hepático – A barreira do organismo contra os


tóxicos e venenos.

Quando ocorre administração de substâncias tóxicas, a primeira barreira corporal contra a


ação das drogas é o estômago. A partir do momento em que um indivíduo ingere

determinada substância, ao chegar ao estômago, ela será digerida e quebrada em várias


outras substâncias distintas daquela inicial. Então nem tudo que se ingere chega ao corpo

com as mesmas propriedades químicas e com o mesmo potencial de ação na corrente


sanguínea.

A segunda barreira é o intestino delgado. Tudo o que é digerido pelo estômago e passa

pelo intestino delgado é capturado pelos vasos sanguíneos ali existentes e, em seguida é
levado para o fígado. O fígado possui uma grande veia chamada de “veia porta”, que é a que

leva as substâncias digeridas e metabolizadas para o restante do corpo. O sistema porta


hepático é o conjunto de vasos sanguíneos que fazem o transporte as substância do intestino

ao fígado.

Antes de serem transportadas pela veia porta, as substâncias são selecionadas e


metabolizadas pelo fígado, de modo que este órgão é o encarregado de fazer a seleção das

substâncias que penetram no corpo, eliminando aquelas que são impróprias para o
organismo. Assim é que grande parte das substâncias nocivas ao organismo são barradas pelo
fígado antes de entrarem definitivamente na corrente sanguínea.

13
Por conta disso, na maioria das intoxicações, o primeiro órgão a ser danificado é o

fígado, que tenta transformar o tóxico em uma substância menos agressiva para o organismo,
e que por isso acaba sendo lesado. É basicamente isso que ocorre nas hepatites tóxicas, uma

vez que o fígado tenta neutralizar os tóxicos e venenos lançados no organismo.

Por vezes, pode ocorrer de uma pessoa que já estava em processo de óbito ser
envenenada com a finalidade de acelerar a sua morte, e, logo após a ingestão do veneno, vir

a óbito rapidamente. No entanto, quando da realização da autópsia, pode ser constatado que
o estômago estava cheio de veneno, mas ou outros órgãos não, o que atesta que a causa da

morte não foi por envenenamento.

Por isso, quando há uma morte por suspeita de intoxicação ou envenenamento, os órgãos
são enviados da necropsia para o laboratório em recipientes separados, de modo a viabilizar

suas análises e assim descobrir em quais órgãos aquela substância está mais concentrada,
para que a perícia possa analisar o trajeto da substância tóxica ou venenosa dentro do corpo.

Vimos que, dentre as fases do envenenamento, está a absorção. Atentem-se para a


informação de que a absorção ocorre no intestino, podendo isso ser, eventualmente,

questionamento de prova.

10.6 Perícia médico-legal – Detecção da ação dos tóxicos e


venenos nas autopsias.

10.6.1 Congestão polivisceral.

Quando há intoxicação, órgãos como estômago, rins e fígado passam a trabalhar


excessivamente, o que acarreta um maior fluxo sanguíneo nesses órgãos. Portanto, quando

14
da realização da autópsia de um cadáver vítima de envenenamento ou de intoxicação, o perito

legista constata que esses órgãos estão inchados, congestos, sinalizando que houve intensa
atividade metabólica nesses locais.

Assim, uma das hipóteses de congestão polivisceral nos cadáveres consiste na

intoxicação ou envenenamento. No entanto, quando se está diante apenas da constatação


de congestão polivisceral, não é possível que se ateste a causa da morte por intoxicação ou

envenenamento, visto que ela também poderá ocorrer diante de outras causas, a saber na
morte por asfixia (tríade asfíxica). Confira o aspecto dos órgãos congestos na imagem 8 a

seguir:

Nos exames laboratoriais, além dos órgãos também há análise de urina e fezes, a fim de

detectar a presença de substâncias tóxicas ou venenosas.

Morfina e opiáceos (codeína, tramadol, oxicodona, metadona, etc.) podem ser detectados
na urina num período de 3 a 5 dias após a absorção. Também podem ser secretados pela bile.

8
GALVÃO, Malthus. Congestão Polivisceral. Malthus, 2020. Disponível em www.malthus.com.br.
Acesso em: 09/02/2020.

15
Isso se mostra de grande utilidade para as perícias forenses, pois que, quando há excreção

na bile, a morfina e seus metabólicos podem ser encontrados até cerca de 1 mês após a
morte.

No caso de intoxicação ou envenenamento por arsênico, há possibilidade de detecção nos

cabelos e unhas até durante anos após a morte (antes que haja decomposição desses tecidos,
é claro).

10.6.2 Residuograma nos pelos corporais – A importância dos


pelos nas exumações e perícias toxicológicas intra vitam.

Consiste na análise laboratorial de fios de cabelo e pelos do corpo. Com efeito, o

residuograma nos pelos é mais eficaz e preciso do que os exames de sangue e urina, para
fins de detecção de substâncias tóxicas, entorpecentes ou venenosas.

Os pelos são órgãos vivos, e, em sua raiz, existe o chamado bulbo capilar, também

formado por células vivas que captam tudo aquilo que passa na corrente sanguínea.

Essas células vivas são se reproduzindo, e, à medida que se reproduzem, vão subindo para
as camadas mais superficiais dos pelos. À medida que sobem, vão morrendo, e, quando já

mortas, elas se encontram fechadas hermeticamente pela queratina, e dentro delas está o
tóxico, podendo haver detecção por até 3 ou 4 meses após a última utilização, a depender da
droga.

Inclusive, a depender da altura em que as células intoxicadas estão ao longo dos pelos, é
possível à perícia calcular relativamente o tempo que a pessoa usou, ou se ainda está usando

aquela substância.

É possível, inclusive, a detecção do tóxico nos pelos por até 180 dias após a utilização.

10.6.3 Detecção dos tóxicos e venenos a partir do olho

humano.

O olho humano, em sua composição anatômica, contém uma substância gelatinosa


chamada de humor vítreo (líquido que se assemelha ao vidro). Esse humor vítreo tem uma

16
característica que mantém mais ou menos intactas as substâncias que circulavam no

sangue mesmo após a morte.

Confira na imagem abaixo a composição do globo ocular para uma maior compreensão:

HUMOR VÍTREO:

Isso é de grande importância prática no âmbito médico-legal, pois, após a morte, quando
as células já estão mortas, as membranas celulares perdem a sua capacidade seletiva, é dizer,

as substâncias químicas contidas dentro e fora das células se equilibram, o que dificulta a
análise laboratorial do percentual de concentração dessas substâncias no organismo.

Vamos explicar melhor. Recordem do capítulo referente à asfixiologia forense, quando

fizemos a diferenciação do diagnóstico de morte por afogamento em água doce e em água


salgada.

Tomemos como exemplo a intoxicação por potássio. Vimos que as células do sangue

(glóbulos vermelhos) existente nos vasos capilares do pulmão, quando em contato com a
água doce, tendem a sugar maior quantidade de água que o seu limite normal devido à

concentração de sais dentro das células, que é maior do que fora (no plasma sanguíneo).

Ao absorverem grande quantidade de água, essas células acabam por se romper, de modo
a liberar grande quantidade de potássio na corrente sanguínea. O potássio é uma substância

17
altamente tóxica para o coração, de modo que altera os níveis e ritmos de batimentos

cardíacos.

Esse sangue concentrado em altos níveis de potássio, ao chegar no coração, acarretam


uma fibrilação cardíaca, gerando a morte do indivíduo. Daí o motivo de que no afogamento

em água doce, o indivíduo não chega a morrer propriamente asfixiado pelo volume de água
nos pulmões, mas sim de uma parada cardíaca antes que a asfixia propriamente dita possa

acontecer.

Assim ocorre nos casos de intoxicação. Isso porque o sódio e o potássio possuem níveis
diferentes de concentração dentro e fora das células. Quando eventualmente há a intoxicação

por potássio, estando este em grande quantidade fora das células, cai na corrente sanguínea e
chega ao coração, acarretando o mesmo resultado que na morte por afogamento em água

doce, a saber a fibrilação cardíaca.

Tanto é que a injeção letal que se usa em alguns países estrangeiros é composta por uma
grande concentração de cloreto de potássio, justamente com a finalidade de causar uma

parada cardíaca e, consequentemente, a morte do indivíduo condenado.

Assim que o indivíduo morre, a capacidade da célula de manter o cloreto de potássio


dentro da célula em grande quantidade e fora dela em pequena quantidade se perde, ou seja,

com a morte, a membrana celular perde sua propriedade seletiva, de modo que os níveis
dessa substância tóxica dentro e fora da célula se igualam após a morte.

Assim, não é possível que a perícia determine se a causa da morte se deu por excesso ou

carência de determinada substância no organismo, pois a diferença de concentração das


substâncias dentro e fora da célula só são diferentes enquanto a pessoa está viva.

No entanto, no humor vítreo esse nivelamento de substâncias demora mais para ocorrer

mesmo após a morte. Por isso, quando da autópsia de cadáveres, o melhor lugar para se
determinar a causa da morte por intoxicação ou envenenamento é dentro do humor vítreo.

18
Diante dessa explanação, se, eventualmente, se a prova lhe perguntar em que local do

corpo humano demora mais para que os níveis se concentração de substâncias nos meios
intracelular e extracelular se nivelem, a resposta deverá ser inevitavelmente o humor vítreo,

dentro do globo ocular. Assim, é possível detectar, por exemplo, a intoxicação de potássio na
corrente sanguínea, uma vez que no humor vítreo será conservada essa concentração

extracelular por mais tempo.

10.7 Intoxicação pelo monóxido de carbono (CO).

No sistema respiratório humano, as trocas gasosas ocorrem da seguinte maneira: na

circulação do sangue pulmonar, quando o sangue entra em contato com o ar atmosférico


respirável, a hemoglobina (Hb) do sangue se liga ao oxigênio (O2), e o leva para as células do

corpo, tudo ocorrendo num processo contínuo e repetitivo.

Assim é que a função da hemoglobina se baseia no transporte de O2 para as células do


corpo após adquiri-lo nas trocas gasosas no pulmão. Confira a nossa representação no

esquema abaixo e nas imagens9 a seguir:

9
TRANSPORTE DE OXIGÊNIO PELA HEMOGLOBINA. Brasil Escola, 2020. Disponível em:
www.brasilescola.uol.com.br. Acesso em 20/02/2020.
19
O ar
atmosférico é
respirado

Hemoblobina chega ao
volta para o pulmões
pulmão e onde há
recebe mais trocas
oxigênio gasosas

Hemoglobina
Hemoblobina
leva oxigênio
se liga ao
para as
oxigênio
células

Quando há inalação de grande quantidade de ar concentrado em monóxido de carbono, o


ar contido dentro dos alvéolos pulmonares passa para a corrente sanguínea através dos
capilares do pulmão (onde ocorrem as trocas gasosas), passando para a corrente sanguínea.

Assim é que o monóxido de carbono fica ligado à hemoglobina do plasma com um poder
de fixação incrível, cerca de 250 vezes maior que a fixação do O2 ou do CO2 . Quando essa
concentração de CO no sangue chega a um percentual maior que 50%, há perigo de morte

iminente.

Quando mais o indivíduo respira CO, mais ele se liga à hemoglobina, e quanto mais
houver essa ligação, menor a quantidade de hemoglobina livre no sangue, impedindo que

20
haja o transporte de O2 para as células, diminuindo assim a oxigenação do organismo,

podendo levar à morte.

Essa ligação da hemoglobina com o monóxido de carbono recebe o nome de carboxi-


hemoglonina. Quando há interação entre oxigênio e hemoglobina, essa reação é reversível,

em que a célula a todo momento larga e pega O 2, fazendo seu transporte pelo corpo.
Quando de trata de monóxido de carbono, essa reação se mostra irreversível, de modo que

a concentração de carboxi-hemoglobina só faz aumentar, acarretando a morte do indivíduo.

Assim, quando a pessoa morre por intoxicação de monóxido de carbono (carboxi-


hemoglobina), os livores cadavéricos ficam carminados (cor de cereja, carmim), de modo que

os livores carminados já remetem diretamente à intoxicação por monóxido de carbono.

10.8 Envenenamento por cianeto.

O cianeto é um sal do ácido cianídrico, sendo volátil (vaporiza). O ácido cianídrico só

vaporiza em meio ácido, por isso é que o cianeto é extremamente mortal se for ingerido, pois,
ao passar pelo estômago, sendo um meio ácido, ele reage liberando o íon cianídrico, que

mata.

Essa morte não ocorre em razão de o cianeto estar no sangue ou nos órgãos, mas porque
o cianeto está dentro das células. Portanto, o cianeto é um veneno que só mata quando está

dentro da célula (veneno intracelular).

Dentro da célula existe o citoplasma, onde há uma porção de corpúsculos espalhados. Um


desses corpúsculos é a mitocôndria, que se encarrega de reagir os hidrogênios que são ácidos

com o oxigênio negativo, e dessa reação forma-se a água, que é neutra e benéfica para o
organismo humano.

Portanto, a mitocôndria pega todos os hidrogênios que são ácidos e gera uma reação

química que os transforma em água. Isso porque se houver excesso de hidrogênios ácidos, o
ambiente intracelular como um todo fica ácido, sendo extremamente nocivo.

21
Para que essa reação ocorra e haja produção de água, é necessária a atuação de uma

enzima chamada citocromoxidase. Ela permite que o oxigênio retire os hidrogênios ácidos
produzidos pela oxidação da glicose. Se essa enzima não atuar, o hidrogênio não reage com o

oxigênio, não havendo, por consequência, produção de água, deixando o ambiente ácido e
provocando a morte muito rapidamente.

Por isso, a morte é inevitável quando o indivíduo é envenenado pelo cianeto, ainda que

em pequenas doses, pois ele age dentro da célula, atuando dentro da mitocôndria, impedindo
que a enzima citocromoxidase realize a reação química geradora de água, acidificando o

organismo, e acarretando a morte em questão de minutos.

Podemos resumir a atuação do cianeto da seguinte forma a partir do esquema a seguir:

Cianeto Bloqueia a citocromoxidade na


mitocôndria;

Sem a ação dessa enzima, os hidrogênios


livres acarretam a acidez do organismo;

A morte é quase que instantânea.

O cianeto era muito utilizado nas câmaras de gás dos campos de concentração durante a

segunda guerra mundial, causando mortalidade em massa de milhares de judeus.

22
10.9 Inalantes e aerossóis – Ação imediata no organismo.

É possível ministrar doses de tóxicos ou venenos através da via digestora, injeção


intramuscular, intravenosa, pela via respiratória, pela via vaginal e anal. Assim, é possível a

penetração da substância tóxica ou venenosa por diversas visas no organismo.

No entanto, a depender da maneira em que é introduzida, ela poderá passar ou não pelo
fígado, caso em que será metabolizada, podendo ou não passar para o resto do sistema

circulatório humano.

No entanto, quando a substância é introduzida pelas vias respiratórias e passa direto


para o pulmão, e, chagando lá, é transportada para o coração, seguindo seu percurso direto

para o cérebro. Por isso é que o efeito das drogas inalantes é extremamente rápido e a droga
não passa pelo fígado.

Drogas como maconha e crack possuem um efeito quase que instantâneo, e, da mesma

forma, a eliminação dessas substâncias também é muito rápida, o que faz com que o
indivíduo queira consumir outra dose imediatamente.

É por isso que, embora mais barato que a cocaína pura, o crack é consumido com uma

intensidade muito maior, e, consequentemente, seu efeito passa a ser muito mais devastador
no organismo.

10.10 Álcool, drogas e noções de imputabilidade.

São drogas que possuem tropismo cerebral (atuam no cérebro), ocasionando diferentes
efeitos no organismo a depender da espécie de droga que se utiliza. As drogas tóxicas são

substâncias químicas naturais ou sintéticas, que têm a capacidade de agir sobre o sistema
nervoso central, com tendência ao tropismo pelo cérebro, alterando a normalidade mental

ou psíquica, de modo a desequilibrar o comportamento e a personalidade de um indivíduo 10.

10
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011, p. 661.
23
10.10.1 Drogas Psicoanalépticas.

São drogas estimulantes, que atuam no aumento da atividade cerebral, dando ao usuário

uma sensação de vigor e euforia. São exemplos desse tipo de drogas a cocaína e as
anfetaminas (MDMA – Metilenodioximetanfetamina) e ecstasy.

Existem anfetaminas que são prescritas por médicos, com fins terapêuticos, e outras que

são proibidas, a exemplo do ecstasy. Essa droga nada mais é do que uma anfetamina
modificada.

O ecstasy foi originalmente desenvolvido pela companhia farmacêutica Merck, em 1912,

que, na sua forma original, era conhecido como MDMA. Foi usado em 1953 pelo exército dos
EUA em testes de guerra psicológica, tendo ressurgido nos anos 60 como um medicamento

de psicoterapia para “inibições” mais baixas.

Foi apenas nos anos 70 que o MDMA surgiu como uma droga recreativa para utilização
em festas.

 Cocaína e derivados de anfetaminas:

A palavra cocaína refere-se à droga em forma de pó ou de cristal. O pó é geralmente

misturado com substâncias como amido de milho, pó de talco e/ou açúcar, bem como outras
drogas como a procaína (um anestésico local) ou anfetaminas.

Extraída de folhas de coca, a cocaína foi originalmente desenvolvida como um anestésico.

É mais comumente inalada pelo nariz, sendo o pó absorvido pela circulação sanguínea através
do tecido das mucosas nasais.

Também pode ser ingerida ou friccionada nas gengivas e demais mucosas. Para a droga

ser absorvida mais rapidamente pelo corpo, os toxico dependentes injetam-nas nas veias, o
que aumenta substancialmente o risco de overdose.

São substâncias derivadas da cocaína o crack, a merla e o oxi, sendo proibidas e

consideradas drogas psicoanalépticas (estimulantes). Todos esses subprodutos da cocaína são


fumados, e, por isso, vão direto para o pulmão, passa para o coração, para depois serem

disseminados para o resto do corpo, mas tendo como destino imediato o cérebro.

24
Por isso, a rapidez com que esses derivados chegam no cérebro é muito maior do que a

cocaína aspirada ou injetada na veia. Como entram pelo pulmão, são rapidamente eliminados,
resultando no rápido término da sensação dada pela droga, o que gera uma compulsividade

no uso. O efeito é rápido, desaparece rápido e leva o indivíduo a utilizar numa constância e
em dosagens cada vez maiores, gerando dependência química.

Um detalhe é que na preparação de drogas como a merla e o oxi são utilizados solventes

altamente tóxicos, como ácido sulfúrico, querosene, gasolina, soda cáustica, dentre outros. Ou
seja, embora seja pequena a quantidade de cocaína, há uma grande quantidade de

substâncias altamente lesivas para o organismo. Têm como efeitos a curto prazo:

I) Euforia intensa;
II) Ansiedade e paranoia;

III) Ânsia intensa pela droga;


IV) Pânico e psicose;
V) Doses excessivas (mesmo que apenas uma vez) podem causar convulsões,

derrames vasculares cerebrais e morte repentina;

Assim, há uma gradação na origem das substâncias derivadas da cocaína a partir da


manipulação química de seus resíduos, que pode ser ilustrada a partir do fluxograma a seguir:

Erythroxylom Coca

(planta origina a Cloridato de Cocaína Crack


cocaína)

Merla Oxi

25
Quando há a ingestão de cocaína, após cair na corrente sanguínea, ela é processada pelo

fígado gerando uma substância chamada benzoil-ecgonina, que continua a ser metabolizada
dando origem à metil-ecgonina, estando presente no sangue. Por isso, quando há realização

de exame de sangue toxicológico, muitas vezes não é detectada a cocaína propriamente


dita, mas sim a benzoil-ecgonina ou a metil-ecgonina.

Aqui há uma particularidade: se o indivíduo utilizar a cocaína junto com álcool, aparece

um produto intermediário chamado de cocaetileno  é um produto derivado da mistura da


cocaína com o álcool.

Se por acaso a pessoa consome cocaína na forma de crack, o produto formado será o

METIL-ECGONIDINA, sendo detectado no exame de sangue. Portanto, se a questão da prova


trouxer essa substância, a resposta a ser dada deve ser a de que ele é usuário de crack, e não

a cocaína propriamente dita.

 Lesão no septo nasal ou no palato:

São lesões com o aspecto de um buraco na região do céu da boca (palato) e no septo

nasal. Geralmente são ocasionadas pelo uso exagerado de cocaína, que é uma substância que
tem propriedades anestésicas, o que gera a contração dos vasos sanguíneos nas regiões

utilizadas para o seu consumo.

Essa contração dos vasos faz com que haja uma grande constrição destes naquela região,
não havendo circulação de sangue nessa áreas como consequência. A falta de circulação gera

também a falta de oxigenação nessas regiões corporais, acarretando a necrose celular, que,

26
com o tempo e o uso gradativo e contínuo, faz um buraco na região nasal e do palato.

Confiram na imagem11 a seguir:

Aqui vai uma explicação que serve tanto para o aprendizado da matéria, como também

para você, concurseiro, que tem o hábito de estudar por várias horas!

Muitos têm mania de pensar que a ritalina (metilfenidato) estimula a capacidade de


pensamento e o desempenho da memória, facilitando, desta forma, no aprendizado. DOCE

ILUSÃO dessas pessoas, e espero que não seja também a sua! Cuidado!!! A ritalina é sim uma
droga psicoanaléptica, e, portanto, da categoria das drogas estimulantes. Ela acende você,

mas não aprimora sua memória!!!

11
GALVÃO, Malthus. Lesão no Palato – Cocainomania. Malthus, 2020. Disponível em
www.malthus.com.br. Acesso em: 20/02/2020.

27
Caso você não tenha TDAH – transtorno de déficit de atenção e hiperatividade -, e

fizer uso da ritalina para ficar acordado estudando nas madrugadas adentro, o máximo que
você vai conseguir é uma longa noite de insônia, ficando com os batimentos cardíacos

acelerados, acima de 120 batimentos por minuto, a respiração ofegante num ritmo de 30 a 40
movimentos por minuto, num estado de agitação, mas não vai conseguir estudar.

Vários estudos já feitos no âmbito da medicina já comprovaram que a ação da ritalina só

é efetiva nos casos em que o paciente realmente tenha algum distúrbio neurológico ou
psiquiátrico que precise da utilização desse medicamento.

Nesses casos, a ritalina será um medicamento controlado, cuja aquisição depende de

receituário médico. Ao fazer uso desse medicamento sem orientação médica, além de
consumir uma substância que não vai te trazer nenhum resultado positivo, a rigor, você estará

cometendo uma conduta criminosa tipificada na Lei de Drogas (Lei 11.343/2006), mais
especificamente no teor do art. 28, que tipifica o crime de posse ou porte de drogas para
consumo pessoal.

Então, meus caros, fiquem atentos e previnam-se de maus hábitos induzidos por falta de
informação ou conversas enganosas! Sua saúde sempre em primeiro lugar, façam a sua parte

estudando e deixem o resultado como consequência, que certamente virá!

10.10.2 Drogas Psicodislépticas.

São drogas que atuam na mente causando uma distorção no pensamento e nos

sentidos, acarretando alucinações, ilusões e delírios. Os indivíduos começam a ver o que não
existe, ouvir vozes e coisas que não foram ditas. Um grande exemplo dessa categoria de

drogas é o LSD (ácidos lisérgicos), bem como cogumelos alucinógenos.

 LSD – Ácido Lisérgico:

O LSD é um dos químicos mais potentes, funcionando como alteradores do humor. Foi

obtido a partir do ácido lisérgico, que se encontra na ferrugem das gramíneas (um fungo que
se desenvolve no centeio e outros grãos). Mais tarde foi produzido em laboratório.

28
Atualmente é industrializado na forma de cristais, em laboratórios ilegais, principalmente

nos EUA. Estes cristais são convertidos em líquido para distribuição. É inodoro, incolor e tem
um leve gosto amargo.

Conhecido como “ácido” e por muitos outros nomes, o LSD é vendido na rua em

pequenos tabletes (“micropontos”), cápsulas ou quadrados de gelatina (“window panfs”).

Possui os seguintes efeitos físicos:

I) Tem seu início de ação a parir de uma hora do uso;


II) Ápice de 3 a 5 horas;

III) Pode permanecer por até 12 horas no organismo;


IV) Os indivíduos apresentam pupilas dilatadas (midríase);

V) Temperatura corporal elevada ou reduzida;


VI) Suores ou arrepios (pele anserina);

VII) Perda de apetite;


VIII) Insônia;

IX) Boca seca;


X) Tremores;

 Maconha:

A maconha tem como princípio ativo o THC (tetrahidrocanabinol), que é metabolizado

pelo organismo dando origem aos canabinoides, pelo que a realização de exame de sangue
toxicológico em usuários de maconha, por vezes, detecta não o THC propriamente dito, mas

sim os seus derivados, que são os canabinoides.

Os canabinoides têm efeitos alucinógenos. No entanto, existe outro derivado do THC


que é conhecido como canabidiol, que pode ser usado como medicamento para tratar ou

controlar os efeitos de certas doenças, a exemplo do autismo em grau severo e outros


distúrbios de ordem psiquiátrica.

Portanto, não é de todo verdadeira a afirmação de que a maconha pode ser usada
para fins medicinais, de modo que um de seus derivados é que possui essa função

29
terapêutica. Para isso são necessárias prescrição médica e autorização da Agência Nacional de

Vigilância Sanitária – ANVISA.

O ingrediente ativo da cannabis (THC) permanece depositado no organismo por


semanas ou mais, podendo ser detectado nos exames toxicológicos realizados através dos

pelos corporais. Portanto, se você é concurseiro e almeja a um cargo na área de segurança


pública, tome bastante cuidado com o uso dessas substâncias, pois, uma vez detectada a

presença dessas substâncias por ocasião do exame médico toxicológico, esse resultado botará
todo o seu esforço a perder.

10.10.3 Drogas Psicolépticas ou Psico-catalépticas.

Também chamadas de psico-catalépticas, são drogas depressoras do sistema nervoso

central, funcionando com calmantes ou sedativas. Essas drogas induzem o sono, provocam
analgesias (diminuição da dor) e geram o efeito calmante. São exemplos dessa categoria de

drogas o álcool, a morfina, a heroína (di-acetil-morfina), os analgésicos e os anestésicos.

O álcool é uma droga permitida; a morfina é uma droga controlada; e a heroína é uma
droga proibida!

A heroína é fabricada a partir da morfina, sendo dela um derivado. A morfina é extraída

diretamente da planta, sendo uma droga natural; a heroína vem da morfina, mas é modificada
em laboratório, não sendo, portanto, natural.

Aqui há um importante detalhe acerca da classificação das drogas quanto sua origem, que

pode ser objeto de cobrança nas provas. Quando uma droga é extraída diretamente da planta,
é tida como uma droga natural. Quando é totalmente fabricada em laboratório, é

30
considerada uma droga sintética. Mas quando é derivada de uma droga natural e passa por

uma modificação química em laboratório, é considerada como uma droga semi-sintética ou

semi-natural.

 Opiáceos – semelhantes ao ópio:

O ópio tem ação depressora (calmante) do sistema nervoso central. Do ópio (suco) -

substância natural – se obtém a morfina, que é muito utilizada em casos terminais de câncer,
bem como analgésico de grande utilidade em cardíacos e outros tipos de pacientes.

PARA FINS DE CONCURSO, a maconha é uma droga psicodisléptica, da categoria dos


alucinógenos. De igual forma, o álcool é uma droga depressora, e não estimulante! Apesar de

a primeira fase da embriaguez ser caracterizada por um estado de alegria, euforia e


desinibição, o fato é que o álcool age na diminuição da atividade do sistema nervoso central.

Inclusive, tanto é verdade que a primeira coisa que o álcool deprime é a censura. Daí porque
o primeiro efeito da embriaguez é a desinibição, dando uma falsa sensação de liberdade e

felicidade.

Para gravar na memória as classificações das drogas aqui explicada, segue um esquema

explicativo sobre a etimologia das palavras, que certamente nos ajudará a lembrar na hora da
prova:

PSICO Mente, pensamento, cérebro


LÉPTICO Que se prende, que se liga (se liga ao
cérebro)
ANA Para cima, estimulante

CATA Para baixo, depressor


DIS Que distorce, deforma (alucinógenos)

31
10.10.4 Alcoolismo e embriaguez – Modificadores da

imputabilidade.

O presente tema guarda íntima relação com o conteúdo trabalhado no capítulo anterior

de nosso curso, quando tratamos da psicologia forense e dos limitadores e modificadores da


responsabilidade penal e da capacidade civil. Dessa forma, até mesmo como maneira de

revisão do assunto para melhor fixação do aprendizado, basicamente repetiremos as lições lá


trabalhadas, afinal, recordar é viver!

 Noções de imputabilidade penal:

A imputabilidade é tratada no Código Penal nos arts. 26 a 28, que regulam os estados de
imputabilidade, inimputabilidade e de semi-imputabilidade. A imputabilidade é um fator
biopsicológico que traduz a capacidade de um indivíduo de entender o que está fazendo e, a
partir desse estado de consciência, poder direcionar sua vontade para a execução de

determinada conduta.

Nos termos da legislação criminal, salvo expressas exceções legais, os crimes previstos
tanto no Código Penal como na legislação extravagante são de natureza dolosa, caracterizada

pela consciência da própria ação, da previsibilidade do resultado e da vontade (direta ou


indireta – dolo direto e dolo eventual) de produzi-lo no mundo concreto.

Daí a importância da aferição do estado de consciência e do estado anímico do indivíduo

quando do tempo da ação ou omissão criminosa, o que se refletirá diretamente na sua


punibilidade, sendo um aspecto de fundamental importância no dia a dia forense, e de grande
utilidade prática para a persecução penal.

Assim, o indivíduo pode ser considerado de 3 formas:

 Imputável – quando o agente, ao tempo da conduta, possui plena capacidade de


entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse

entendimento.

32
 Inimputável – quando o agente, ao tempo da conduta, é inteiramente incapaz de

entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse


entendimento. (Art. 26, caput)

 Semi-imputável – quando o indivíduo, em razão de perturbação de saúde mental ou


por desenvolvimento incompleto ou retardado, não era inteiramente capaz de

entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse


entendimento. (Art. 26, parágrafo único).

A depender da caracterização de um desses três estados de imputabilidade, haverá uma

consequência jurídica distinta para o indivíduo, podendo responder pelo crime, ser isento de
pena ou ter sua pena diminuída na fração variável de 1/3 a 2/3.

Em resumo, a determinação do estado de imputabilidade de um indivíduo se dá através

da conjugação do binômio consciência + vontade (dolo como elemento subjetivo da


conduta).

Não obstante, é imprescindível analisar a conduta do agente para aferir a existência de


nexo de causalidade entre o ato que ele praticou e a sua perturbação ou doença mental. Por
vezes, é possível que uma pessoa, apesar de ser portadora de uma doença mental, pratique

determinado ato que não tenha nenhuma correspondência com seu quadro biopsíquico.
Nesses casos, em não havendo nexo causal entre a conduta e o estado mental do
indivíduo, não será ele, para esses fins específicos, considerado inimputável ou semi-

imputável, respondendo normalmente por sua conduta criminosa12.

12
Vide questão 2 deste material.
33
Em resumo, deve-se mostrar que a eventual alteração da consciência da ilicitude do fato

foi a causa da conduta ilícita cometida. Ou, conforme o caso, em não havendo alteração na
consciência da ilicitude, deve-se provar que o agente não tinha condições de determinar-se de

acordo com o entendimento da situação, e que essa falta de domínio da vontade foi a causa

da conduta ilícita.

Para o nosso estudo atual, interessa essencialmente a análise do teor do art. 28, II, §§ 1º
e 2º do CP e Arts. 45 e 46 da Lei 11.343/2006 (Lei de drogas) Vamos a eles!

 Embriaguez como causa modificadora da imputabilidade:

Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal:

(...)

II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos.

§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso

fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de


entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez,

proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da


omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento 13.

Pelo teor do art. 28 do CP, a embriaguez não constitui causa excludente da


imputabilidade penal, como regra. Em sendo a embriaguez voluntária ou culposa, vindo o
indivíduo a cometer algum delito durante seu estado de embriaguês, responderá normalmente

pelo crime e sofrerá as sanções aplicáveis.

Há, no entanto, uma ressalva quanto a essa regra geral, que está nas hipóteses de
embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior, se em razão dela, ao

tempo da ação ou omissão criminosa, o indivíduo era inteiramente incapaz de entender o


caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

13
Vide questões 7, 9 e 10 deste material.
34
Em outra hipótese, se, não obstante estar sob o efeito de embriaguez proveniente de caso

fortuito ou força maior, o indivíduo ainda mantinha alguma capacidade de discernimento ou


autocontrole, responderá pelo crime, mas terá sua pena diminuída de 1/3 a 2/3.

Vê-se, desta forma, que a embriaguez na esfera penal pode funcionar, a depender do

caso, como causa de isenção ou de redução de pena, desde que a embriaguês provenha de
caso fortuito ou força maior.

 Formas de embriaguez:

a) Culposa – decorre da imprudência ou negligência do indivíduo ao beber de forma


exagerada. Não isenta de pena o agente.

b) Preterdolosa – o sujeito, apesar não querer o resultado, sabe que estando embriagado

pode vir a cometer algum crime.

c) Proveniente de caso fortuito ou força maior – é tratada no art. 28, § 1º do CP, na

qual o agente não possui nenhuma intenção de se embriagar, tendo a embriaguês


resultado de um evento imprevisível e inevitável.

d) Acidental – o sujeito ingere bebida de pouco ou de nenhum grau percentual alcoólico,


mas que são potencializadas pela interação com outros medicamentos.

e) Preordenada/voluntária – nesse tipo de embriaguez, o sujeito bebe com a intenção


de cometer crimes, incorrendo na chamada actio libera in causa. Ou seja, o sujeito se

coloca voluntária e intencionalmente numa situação que, em tese, poderia gerar sua
inimputabilidade. Nesses casos, a embriaguez configura uma circunstância atenuante.

f) Patológica – é resultante da ingestão de pequenas does, com manifestações


desproporcionais. Vibert dividia a embriaguez patológica em quatro tipos:

o Agressiva e violenta: tende ao crime e ao sangue.

o Excito-motora: acesso de raiva e de desnutrição.


35
o Convulsiva: impulsos destruidores e sanguinários.

o Delirante: delírios com tendência à autoacusação.

 Manifestações clínicas da embriaguez:

I) Manifestações físicas:

É importante ressaltar que um indício isolado dessas causas não deve ser considerado
como determinante da embriaguez. É dizer, as características a seguir devem ser examinadas e

constatadas em conjunto com as manifestações neurológicas e psíquicas. São elas:

 Congestão das conjuntivas;


 Taquicardia;

 Taquipneia;
 Hálito alcoólico-acético;

II) Manifestações neurológicas:

São manifestações ligadas à alteração psicomotora, tais como equilíbrio, marcha e demais

perturbações de ordem motora.

III) Manifestações psíquicas:

Ocorre de maneira progressiva. Iniciam-se pelas alterações de humor, da atenção, até

atingirem os impulsos menores.

 Fases da embriaguez:

a) Excitação/desinibição/macaco:

Genival França indica que nessa fase, o indivíduo mostra-se bem vivo, bem humorado,
dando às vezes uma falsa impressão de maior capacidade intelectual. Nessa fase também

costuma-se revelar segredos, sendo extremamente instável. É a fase da euforia, na qual é


inibida primeiramente a censura.

36
b) Confusão/agitação/leão/fase médico-legal dos crimes comissivos:

É a fase do leão. Aqui surgem perturbações nervosas e psíquicas. O andar começa a ficar

cambaleante, e o sujeito apresenta certo grau de irritabilidade e propensão a agressões.

c) Sono/comatosa/porco/fase médico-legal dos crimes omissivos:

É a fase comatosa ou do porco. Nela o sujeito não se mantém de pé, caminhando com

dificuldade. Não reage a estímulos normais. Aqui pode haver o cometimento de crimes
omissivos, bem como há a possibilidade de ser molestado sexualmente.

 Principais sinais do alcoolismo:

I) Perturbações neurológicas:

 Polineurite: é o comprometimento de vários neurônios periféricos por um processo


degenerativo.

 Síndrome de Wernicke: é caracterizada por sintomas resultantes de lesões por


minúsculos focos hemorrágicos dos nervos cranianos do tronco cerebral.

 Síndrome de Korsakov: é caracterizada por um quadro clínico de amnésia e


desorientação.

II) Perturbações psíquicas:

 Delirium tremens: quando o alcoolismo é crônico, pode surgir um estado agudo no


qual se manifestam sintomas físicos e psíquicos. O sujeito passa a ter alucinações e
visões de animais asquerosos e rastejantes (Zoopias).

 Delírio de ciúmes dos bebedores: se apresenta por manifestações de ciúmes e


infidelidade conjugal.

 Epilepsia alcoólica: o uso excessivo do álcool pode apresentar crises convulsivas


parecidas com as da epilepsia.

37
 Dipsomania: nela o sujeito ingere, de forma compulsiva, grandes quantidades de
bebida.

10.10.5 Principais drogas ilícitas e substancias de uso e abuso.

I) Maconha – geralmente utilizada por cigarros, xaropes, infusões etc. Na maioria

dos casos, não costuma provocar crise de abstinência, por não levar à
dependência física.

II) Cocaína – geralmente utilizada por aspiração pelo nariz, injetável ou colocado na
mucosa da boca. Pode provocar pequenos buracos no septo nasal, tremores no

corpo, taquicardia, aumento da pressão arterial, pupilas dilatadas, euforia e


excitação (devido ao bloqueio na receptação das catecolaminas).

III) Crack – é o subproduto da cocaína, e por isso é consumido majoritariamente por

pessoas de menor poder aquisitivo. Seus efeitos ocorrem com maior intensidade
e velocidade.

IV) Merla – sua consistência é pastosa, de cor amarelada e cheiro bem específico.
Seus efeitos duram aproximadamente 15 minutos, causando uma sensação de

euforia, seguida de inquietação. É ainda mais barato que o crack, pois é fabricada
com diversas substâncias como querosene e gasolina.

V) Morfina – possui alta capacidade de intoxicação e dependência, por ser derivada

do ópio. Provoca sensação de euforia e bem-estar (fase lua-de-mel da morfina),


no entanto, leva ao emagrecimento e envelhecimento precoce.

VI) Alucinógeno – geralmente utilizados em comprimidos ou em fragmentos de


papéis dissolvidos com a substância. É uma droga considerada semissintética,

extraída da ergotina do centeio e pode provocar, segundo Genival França, quatro


tipos de efeitos:

38
 O efeito “todo poderoso”, no qual dá a sensação de poder
realizar atitudes impossíveis como voar.
 O efeito de depressão profunda e solidão.
 O efeito de paranoias.
 O efeito de estado geral de confusão mental

VII) Barbitúricos – é uma substância utilizada como sedativo, pois é depressora do


sistema nervoso central. A embriaguez barbitúrica provoca tremores, sonolência e

pode levar ao coma e até mesmo à morte.

VIII) Ópio – extraído da papoula, provoca sensações de excitação e, em seguida,


depressão.

IX) Erva do Santo-Daime (ayahuasca) – usada em rituais religiosos, por isso já foi
algumas vezes excluída ou incluída na Portaria 344/98 da ANVISA.

X) Oxi – também conhecida como droga da morte, por provocar alterações severas

no sistema nervoso central. Sua fabricação inclui substâncias como gasolina,


ácido sulfúrico e resíduos do refino das folhas de coca.

10.10.6 Situações de inimputabilidade relacionadas ao uso e


dependência de drogas.

Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas):

Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito,
proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da
omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este
apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no caput deste
artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento
médico adequado.

39
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das
circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou
da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
de acordo com esse entendimento.

Aqui valem as mesmas explanações referentes à embriaguez como causa excludente ou

atenuante da imputabilidade, naquilo que tange à plena capacidade de cognição e


autodeterminação ante a prática de condutas criminosas.

Em sendo as drogas substâncias químicas que possuem tropismo cerebral, e, em razão

disso, a potencialidade para alterar o funcionamento do psiquismo humano, a sua atuação no


organismo pode ser tal que retire do agente a capacidade de entender o caráter ilícito do fato

ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

A depender do grau de alteração no organismo, as drogas podem retirar total ou


parcialmente a capacidade de cognição e de autodeterminação do indivíduo, de modo a

excluir a imputabilidade e isentar o réu de pena, ou atenuar a sanção penal, conforme o caso.

40
QUADRO SINÓTICO

Estuda as energias de ordem química. Essa

análise resulta, para o perito médico-legal, na


TOXICOLOGIA FORENSE procura por venenos ou substâncias tóxicas

como os cáusticos, podendo indicar suicídio,


homicídio ou acidente.

Tóxico é qualquer substância de origem animal, vegetal ou


mineral que, introduzida em quantidade suficiente num
organismo vivo, produz efeitos maléficos, podendo causar a

morte. Em verdade, qualquer droga ou até mesmo um


TÓXICOS
medicamento qualquer tomado em dose excessiva é capaz de

causar intoxicação de efeito letal. Portanto, tóxico é muito mais


sinônimo de veneno do que de uma substância química que
altere a normalidade mental ou psíquica.

São substâncias que, de acordo com sua natureza química,


provocam lesões tegumentares (lesões nos tecidos) mais ou

menos graves. Essas substâncias podem resultar em efeitos


coagulantes ou liquefacientes.

a) Efeito coagulante: desidratam os tecidos e lhes causam


CÁUSTICOS
escaras (feridas) endurecidas e de tonalidade diversa,
podendo ser ocasionadas por certas substâncias, a
exemplo do nitrato de prata, o acetato de cobre e o
cloridrato de zinco.

b) Efeito liquefaciente: produzem escaras úmidas,

41
translúcidas, moles e têm como principais agentes
causadores a soda, a potassa e a amônia.

Vitriolagem:

Existe um tipo de composto químico líquido chamado ácido, da

categoria das substâncias cáusticas, que produz queimaduras


pelo fato de desencadear uma reação exotérmica (liberação de

calor). Um dos ácidos mais utilizados em medicina legal é o


ácido sulfúrico, sendo extremamente corrosivo. O nome

comumente empregado para o ácido sulfúrico é óleo de


vitríolo, pelo que o emprego dessa substância para causar
lesões nas vítimas é chamado de vitrioagem. Na vitriolagem

surgem as lesões viscerais e cutâneas, podendo sua causa ser


criminosa, suicida ou acidental.

 Obs.: quando a ação é criminosa, quase sempre é

motivada por ciúmes, tendo o objetivo de causar


deformidades no corpo da vítima, configurando o

crime de lesão corporal gravíssima, nos termos do art.


129, § 2º, IV do Código Penal.

É qualquer substância que, introduzida pelas mais diversas

vias no organismo, ainda que homeopaticamente, danifica a


vida ou a saúde. Podem ser classificados da seguinte maneira:

V) Quanto ao estado físico: sólidos, líquidos e gasosos;


VI) Quanto à origem: animal, vegetal, mineral e sintético;
VII) Quanto às funções químicas: óxidos, ácidos, bases e
sais;
VENENOS VIII) Quanto ao uso: doméstico, agrícola, industrial,
medicinal, cosmético, dentre outros.

Fases de percurso do veneno no organismo:

a) Penetração: pode ser oral, gástrica, retal, dentre


42
outras, sendo a via orogastrointestinal a mais
comumente usada (ingestão oral).
b) Absorção: é o processo pelo qual o veneno chega à
parte interna dos tecidos orgânicos.
c) Fixação: é a etapa do envenenamento em que a
substância tóxica se localiza em certos órgãos, a variar
conforme o grau de afinidade.
d) Transformação: é o processo pelo qual o organismo
tenta se defender da ação química e tóxica causada
pela substância venenosa, de modo que o organismo
apresenta mecanismos que facilitam a eliminação do
veneno e atenuação dos seus efeitos.
e) Distribuição: é a fase em que o veneno, ao penetrar
na circulação, estende-se pelos mais variados tecidos
internos.
f) Eliminação: etapa na qual o veneno é expelido pelas
vias naturais do organismo;
g) Mitritização: fenômeno que se caracteriza pela
elevada resistência orgânica contra os efeitos tóxicos
da substância venenosa.
h) Toxicidade: propriedade de determinada substância
para causar dano interno ao organismo humano;
i) Sinergismo: é a ação potencializadora dos efeitos
tóxicos decorrentes da ingestão simultânea de várias
substâncias venenosas.
j) Equivalente tóxico: quantidade mínima de veneno
capaz de matar por via intravenosa.

Síndrome de Body Packer

Ocorre frequentemente com as pessoas vulgarmente

conhecidas como “mulas do tráfico”, que são contratadas pelas


organizações criminosas ligadas ao tráfico de drogas para fazer

o transporte das substâncias ilícitas com o seu

43
armazenamento no interior do organismo. Nesses casos, pode

ocorrer o rompimento da cápsula isolante que armazena a


substância dentro do organismo, acarretando a morte por

overdose da droga ou intoxicação aguda e maciça do


organismo.

A primeira informação crucial que permite a diferenciação entre

essas duas substâncias é que o veneno mata mesmo que em


pequenas quantidades no organismo. O tóxico, por sua vez,
DISTINÇÃO ENTRE
necessita de concentração em grandes quantidades no
TÓXICOS E organismo para que acarrete a morte.

VENENOS Portanto, a grande diferença entre um e outro é a dose, pois

ambos são agentes químicos, ambos penetram no organismo e


podem acarretar a morte.

Tropismo é a propriedade química que tem determinada

substância para se concentrar em determinadas áreas específicas


do corpo através da atividade metabólica orgânica. É, portanto,

o poder de atuação concentrada das substâncias químicas.

TROPISMOS Principais Tropismos:

ORGÂNICOS I) Saturnismo: intoxicação por chumbo (Pb).


II) Hidargirismo: intoxicação por mercúrio;

III) Mitridatismo: intoxicação por arsênico.

Trata-se de um metal pesado. Quando presente no organismo,


surgem eritemas na pele, dores abdominais e polineuropatia.
Nos cadáveres é possível encontrar arsênico a partir de exames
ARSÊNICO nos cabelos, unhas etc. Provoca hiperceratose palmar e plantar
e as linhas de Mees.

Libera um odor de amêndoas amargas e somente é letal em


CIANETO
meio ácido, pois em meio alcalino, a liberação do íon cianeto

44
não ocorre. Provoca lesões de cor vermelha, além de impedir a
respiração no meio intracelular. É utilizado o papel de
Shoenbein (cor azul) e o papel de Guinard (cor vermelha) para
identificar esse tipo de substância nas perícias.

Quando ocorre administração de substâncias tóxicas, a


primeira barreira corporal contra a ação das drogas é o

estômago. A partir do momento em que um indivíduo ingere


determinada substância, ao chegar ao estômago, ela será

digerida e quebrada em várias outras substâncias distintas


daquela inicial. Então nem tudo que se ingere chega ao corpo
com as mesmas propriedades químicas e com o mesmo

potencial de ação na corrente sanguínea.

A segunda barreira é o intestino delgado. Tudo o que é


digerido pelo estômago e passa pelo intestino delgado é

capturado pelos vasos sanguíneos ali existentes e, em seguida é


levado para o fígado. O fígado possui uma grande veia
SISTEMA PORTA
chamada de “veia porta”, que é a que leva as substâncias
HEPÁTICO
digeridas e metabolizadas para o restante do corpo. O sistema

porta hepático é o conjunto de vasos sanguíneos que fazem o


transporte as substância do intestino ao fígado.

Antes de serem transportadas pela veia porta, as substâncias

são selecionadas e metabolizadas pelo fígado, de modo que


este órgão é o encarregado de fazer a seleção das substâncias

que penetram no corpo, eliminando aquelas que são


impróprias para o organismo. Assim é que grande parte das
substâncias nocivas ao organismo são barradas pelo fígado

antes de entrarem definitivamente na corrente sanguínea.

Por conta disso, na maioria das intoxicações, o primeiro órgão


a ser danificado é o fígado, que tenta transformar o tóxico em

45
uma substância menos agressiva para o organismo, e que por

isso acaba sendo lesado. É basicamente isso que ocorre nas


hepatites tóxicas, uma vez que o fígado tenta neutralizar os

tóxicos e venenos lançados no organismo.

Congestão Polivisceral:

Quando há intoxicação, órgãos como estômago, rins e fígado


passam a trabalhar excessivamente, o que acarreta um maior

fluxo sanguíneo nesses órgãos. Portanto, quando da realização


da autópsia de um cadáver vítima de envenenamento ou de

intoxicação, o perito legista constata que esses órgãos estão


inchados, congestos, sinalizando que houve intensa atividade

metabólica nesses locais.

Residuograma nos pelos corporais:

Consiste na análise laboratorial de fios de cabelo e pelos do


PERÍCIA MÉDICO
corpo. Com efeito, o residuograma nos pelos é mais eficaz e
LEGAL – DETECÇÃO preciso do que os exames de sangue e urina, para fins de
DOS TÓXICOS E detecção de substâncias tóxicas, entorpecentes ou venenosas.

VENENOS
Os pelos são órgãos vivos, e, em sua raiz, existe o chamado

bulbo capilar, também formado por células vivas que captam


tudo aquilo que passa na corrente sanguínea.

Essas células vivas são se reproduzindo, e, à medida que se

reproduzem, vão subindo para as camadas mais superficiais dos


pelos. À medida que sobem, vão morrendo, e, quando já

mortas, elas se encontram fechadas hermeticamente pela


queratina, e dentro delas está o tóxico, podendo haver detecção

por até 3 ou 4 meses após a última utilização, a depender da


droga.

Inclusive, a depender da altura em que as células intoxicadas

46
estão ao longo dos pelos, é possível à perícia calcular

relativamente o tempo que a pessoa usou, ou se ainda está


usando aquela substância. É possível, inclusive, a detecção do

tóxico nos pelos por até 180 dias após a utilização.

Detecção dos tóxicos e venenos no humor vítreo:

O olho humano, em sua composição anatômica, contém uma


substância gelatinosa chamada de humor vítreo (líquido que se

assemelha ao vidro). Esse humor vítreo tem uma característica


que mantém mais ou menos intactas as substâncias que

circulavam no sangue mesmo após a morte, sendo o local


mais provável de diagnosticar a ação de tóxicos e venenos

quando da realização de autópsias.

Quando há inalação de grande quantidade de ar concentrado


em monóxido de carbono, o ar contido dentro dos alvéolos

pulmonares passa para a corrente sanguínea através dos


capilares do pulmão (onde ocorrem as trocas gasosas),
INTOXICAÇÃO PELO
passando para a corrente sanguínea.
MONÓXIDO DE
Assim é que o monóxido de carbono fica ligado à hemoglobina
CARBONO
do plasma com um poder de fixação incrível, cerca de 250

vezes maior que a fixação do O2 ou do CO2 . Quando essa


concentração de CO no sangue chega a um percentual maior
que 50%, há perigo de morte iminente.

O cianeto é um sal do ácido cianídrico, sendo volátil (vaporiza).


O ácido cianídrico só vaporiza em meio ácido, por isso é que o
ENVENENAMENTO cianeto é extremamente mortal se for ingerido, pois, ao passar

POR CIANETO pelo estômago, sendo um meio ácido, ele reage liberando o íon
cianídrico, que mata.

Essa morte não ocorre em razão de o cianeto estar no sangue

47
ou nos órgãos, mas porque o cianeto está dentro das células.

Portanto, o cianeto é um veneno que só mata quando está


dentro da célula (veneno intracelular).

Dentro da célula existe o citoplasma, onde há uma porção de

corpúsculos espalhados. Um desses corpúsculos é a


mitocôndria, que se encarrega de reagir os hidrogênios que são

ácidos com o oxigênio negativo, e dessa reação forma-se a


água, que é neutra e benéfica para o organismo humano.

Portanto, a mitocôndria pega todos os hidrogênios que são

ácidos e gera uma reação química que os transforma em água.


Isso porque se houver excesso de hidrogênios ácidos, o

ambiente intracelular como um todo fica ácido, sendo


extremamente nocivo.

Para que essa reação ocorra e haja produção de água, é

necessária a atuação de uma enzima chamada citocromoxidase.


Ela permite que o oxigênio retire os hidrogênios ácidos
produzidos pela oxidação da glicose. Se essa enzima não atuar,

o hidrogênio não reage com o oxigênio, não havendo, por


consequência, produção de água, deixando o ambiente ácido e

provocando a morte muito rapidamente.

Por isso, a morte é inevitável quando o indivíduo é envenenado


pelo cianeto, ainda que em pequenas doses, pois ele age dentro

da célula, atuando dentro da mitocôndria, impedindo que a


enzima citocromoxidase realize a reação química geradora de

água, acidificando o organismo, e acarretando a morte em


questão de minutos.

48
A depender da maneira em que é introduzida, ela poderá

passar ou não pelo fígado, caso em que será metabolizada,


podendo ou não passar para o resto do sistema circulatório

humano.

No entanto, quando a substância é introduzida pelas vias


respiratórias e passa direto para o pulmão, e, chagando lá, é

transportada para o coração, seguindo seu percurso direto


para o cérebro. Por isso é que o efeito das drogas inalantes é

extremamente rápido e a droga não passa pelo fígado.


INALANTES E
Drogas como maconha e crack possuem um efeito quase que
AEROSSÓIS – AÇÃO
instantâneo, e, da mesma forma, a eliminação dessas
IMEDIATA
substâncias também é muito rápida, o que faz com que o
indivíduo queira consumir outra dose imediatamente.

É por isso que, embora mais barato que a cocaína pura, o crack

é consumido com uma intensidade muito maior, e,


consequentemente, seu efeito passa a ser muito mais
devastador no organismo.

São drogas que possuem tropismo cerebral (atuam no cérebro),


ocasionando diferentes efeitos no organismo a depender da

espécie de droga que se utiliza. As drogas tóxicas são


substâncias químicas naturais ou sintéticas, que têm a

ÁLCOOL, DROGAS E capacidade de agir sobre o sistema nervoso central, com

NOÇÕES DE tendência ao tropismo pelo cérebro, alterando a normalidade


mental ou psíquica, de modo a desequilibrar o comportamento
IMPUTABILIDADE
e a personalidade de um indivíduo.

I) Drogas psicoanalápticas:

São drogas estimulantes, que atuam no aumento da atividade


cerebral, dando ao usuário uma sensação de vigor e euforia.

49
São exemplos desse tipo de drogas a cocaína e as anfetaminas

(MDMA – Metilenodioximetanfetamina) e ecstasy.

II) Drogas psicodislépticas:

São drogas que atuam na mente causando uma distorção no


pensamento e nos sentidos, acarretando alucinações, ilusões e

delírios. Os indivíduos começam a ver o que não existe, ouvir


vozes e coisas que não foram ditas. Um grande exemplo dessa

categoria de drogas é o LSD (ácidos lisérgicos), bem como


cogumelos alucinógenos.

III) Drogas psicocatalépticas ou psicolépticas:

Também chamadas de psico-catalépticas, são drogas

depressoras do sistema nervoso central, funcionando com


calmantes ou sedativas. Essas drogas induzem o sono,

provocam analgesias (diminuição da dor) e geram o efeito


calmante. São exemplos dessa categoria de drogas o álcool, a

morfina, a heroína (di-acetil-morfina), os analgésicos e os


anestésicos.

Imputabilidade penal:

A imputabilidade é um fator biopsicológico que traduz a


ALCOOLISMO E
capacidade de um indivíduo de entender o que está fazendo e,
EMBRIAGUEZ – a partir desse estado de consciência, poder direcionar sua
MODIFICADORES DA vontade para a execução de determinada conduta. O indivíduo

IMPUTABILIDADE pode ser considerado como:

 Imputável – quando o agente, ao tempo da conduta,


possui plena capacidade de entender o caráter ilícito do

50
fato ou de determinar-se de acordo com esse

entendimento.

 Inimputável – quando o agente, ao tempo da conduta, é

inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato


ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

(Art. 26, caput)

 Semi-imputável – quando o indivíduo, em razão de


perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento
incompleto ou retardado, não era inteiramente capaz de

entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de


acordo com esse entendimento. (Art. 26, parágrafo único).

A depender da caracterização de um desses três estados de

imputabilidade, haverá uma consequência jurídica distinta para


o indivíduo, podendo responder pelo crime, ser isento de pena

ou ter sua pena diminuída na fração variável de 1/3 a 2/3.

I) Embriaguês: regulamentada no art. 28 do CP. a


embriaguês não constitui causa excludente da
imputabilidade penal, como regra. Em sendo a
embriaguês voluntária ou culposa, vindo o indivíduo a

cometer algum delito durante seu estado de


embriaguês, responderá normalmente pelo crime e
EMBRIAGUEZ sofrerá as sanções aplicáveis. Há, no entanto, uma
ressalva quanto a essa regra geral, que está nas

hipóteses de embriaguês completa proveniente de


caso fortuito ou força maior, se em razão dela, ao
tempo da ação ou omissão criminosa, o indivíduo era
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do
fato ou de determinar-se de acordo com esse

51
entendimento. Em outra hipótese, se, não obstante

estar sob o efeito de embriaguês proveniente de caso


fortuito ou força maior, o indivíduo ainda mantinha

alguma capacidade de discernimento ou autocontrole,


responderá pelo crime, mas terá sua pena diminuída

de 1/3 a 2/3.

Formas de embriaguês:

g) Culposa – decorre da imprudência ou negligência do


indivíduo ao beber de forma exagerada. Não isenta de

pena o agente.

h) Preterdolosa – o sujeito, apesar não querer o resultado,

sabe que estando embriagado pode vir a cometer algum


crime.

i) Proveniente de caso fortuito ou força maior – é tratada


no art. 28, § 1º do CP, na qual o agente não possui

nenhuma intenção de se embriagar, tendo a embriaguês


resultado de um evento imprevisível e inevitável.

j) Acidental – o sujeito ingere bebida de pouco ou de


nenhum grau percentual alcoólico, mas que são

potencializadas pela interação com outros


medicamentos.

k) Preordenada/voluntária – nesse tipo de embriaguês, o


sujeito bebe com a intenção de cometer crimes,

incorrendo na chamada actio libera in causa. Ou seja, o


sujeito se coloca voluntária e intencionalmente numa
situação que, em tese, poderia gerar sua

52
inimputabilidade. Nesses casos, a embriaguês configura

uma circunstância atenuante.

l) Patológica – é resultante da ingestão de pequenas does,

com manifestações desproporcionais.

Manifestações clínicas da embriaguês:

IV) Manifestações físicas: é importante ressaltar que um

indício isolado dessas causas não deve ser


considerado como determinante da embriaguês. É

dizer, as características a seguir devem ser examinadas


e constatadas em conjunto com as manifestações
neurológicas e psíquicas. São elas:

 Congestão das conjuntivas;


 Taquicardia;

 Taquipneia;
 Hálito alcoólico-acético;

V) Manifestações neurológicas: são manifestações


ligadas à alteração psicomotora, tais como equilíbrio,

marcha e demais perturbações de ordem motora.

VI) Manifestações psíquicas: ocorre de maneira

progressiva. Iniciam-se pelas alterações de humor, da


atenção, até atingirem os impulsos menores.

Fases da embriaguês:

d) Excitação/desinibição/macaco:

Genival França indica que nessa fase, o indivíduo mostra-se


bem vivo, bem humorado, dando às vezes uma falsa impressão

d maior capacidade intelectual. Nessa fase também costuma-se

53
revelar segredos, sendo extremamente instável. É a fase da

euforia.

e) Confusão/agitação/leão/fase médico-legal dos


crimes comissivos:

É a fase do leão. Aqui surgem perturbações nervosas e

psíquicas. O andar começa a ficar cambaleante, e o sujeito


apresenta certo grau de irritabilidade e propensão a agressões.

f) Sono/comatosa/porco/fase médico-legal dos crimes

omissivos:

É a fase comatosa ou do porco. Nela o sujeito não se


mantém de pé, caminhando com dificuldade. Não reage a

estímulos normais. Aqui pode haver o cometimento de crimes


omissivos, bem como há a possibilidade de ser molestado

sexualmente.

Perturbações psíquicas:

 Delirium tremens: quando o alcoolismo é crônico, pode


surgir um estado agudo no qual se manifestam sintomas
físicos e psíquicos. O sujeito passa a ter alucinações e
visões de animais asquerosos e rastejantes (Zoopias).

 Delírio de ciúmes dos bebedores: se apresenta por


manifestações de ciúmes e infidelidade conjugal.

 Epilepsia alcoólica: o uso excessivo do álcool pode


apresentar crises convulsivas parecidas com as da
epilepsia.

 Dipsomania: nela o sujeito ingere, de forma compulsiva,


grandes quantidades de bebida.

54
Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas):

Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob


o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao
tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal
praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.
SITUAÇÕES DE
Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial,
INIMPUTABILIDADE
que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições
RELACIONADAS AO referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu
encaminhamento para tratamento médico adequado.
USO DE DROGAS
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por
força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía,
ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

55
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) Ao estudar as energias de ordem química, deve-

se conhecer a ação dos cáusticos e venenos. Assinale a alternativa correta.

A) A ação dos cáusticos é principalmente interna, com alterações da coagulação sanguínea.

B) Os cáusticos, assim como os venenos, podem ser classificados quanto ao seu estado físico
em líquidos, sólidos e gasosos, podendo agir internamente e externamente.

C) As lesões descritas como vitriolagem são causadas por envenenamento crônico.

D) São fases do percurso do veneno no organismo: penetração, absorção, distribuição, fixação,

transformação, eliminação.

E) São formas de se classificar os cáusticos: estado físico, origem, funções químicas e quanto
ao uso.

Comentário:

Opa! Começamos bem! Aqui a banca cobra a diferenciação entre as principais


características dos cáusticos e venenos, no tocante a sua atuação no organismo e as

lesões que podem causar. Conforme explanamos no tópico referente aos venenos, vimos
que o seu percurso no organismo humano passa por algumas fases à medida que vai

penetrando e agindo no corpo. Dentre as fases mencionadas, estão justamente a


penetração, absorção, distribuição, fixação, transformação e eliminação, cada uma com

suas características de ação da substância venenosa no organismo. A alternativa que


corresponde ao nosso gabarito, portanto, é a letra “d”. Outrossim, analisemos juntos as
demais assertivas. A alternativa “a” está incorreta ao afirmar que a ação dos cáusticos é

56
principalmente interna, o que não é verdade. É bem possível que haja lesões internas

causadas por cáusticos, quando da sua ingestão acidental ou suicida, bem como nos
casos de inalação da substância, que penetra pelas vias aéreas, causando lesões nos

pulmões e na árvore respiratória como um todo. Não obstante, vê-se que as hipóteses
mais frequentes de lesão por cáusticos são resultado de sua ação externa, quando em

contato com a pele, havendo, inclusive, uma nomenclatura específica na literatura


médico-legal para denominar as lesões por ação de ácido, chamada de vitriolagem. A
alternativa “b” está equivocada ao atribuir aos cáusticos a classificação atinente aos

venenos. A alternativa “c” contém erro ao atribuir a vitriolagem à ação dos venenos, o
que, em verdade, corresponde à ação dos ácidos. E a alternativa “e” basicamente repete

o enunciado da alternativa “b”, estando de igual forma incorreta.

Questão 2

(CESPE - 2012 - PC-AL - Delegado de Polícia) Em relação à perícia médico-legal, julgue os

itens que se seguem.

Para a aplicação do critério biopsicológico da imputabilidade, conceito expresso no Código


Penal brasileiro, é necessário a avaliação da existência de um transtorno mental, da capacidade

de entendimento do caráter ilícito do fato e da capacidade de autodeterminação pelo autor e,


ainda, do nexo de causalidade entre o distúrbio mental ou psicológico e o ato praticado.

Comentário:

Vimos que para que haja o enquadramento de um indivíduo como inimputável ou até
mesmo semi-imputável, nos termos do art. 26, caput, e parágrafo único do CP, é
necessário que haja uma avaliação psiquiátrica a fim de atestar o seu grau de

entendimento e de autodeterminação sobre os atos que praticou. E, mais ainda, é


necessário que exista um nexo de causalidade entre a conduta praticada e o transtorno

mental do agente, de modo que a sua conduta seja uma consequência direta do
transtorno existente. É dizer, a perícia deve demonstrar que a eventual alteração da
consciência da ilicitude do fato foi a causa da conduta ilícita cometida. Ou, conforme o

57
caso, em não havendo alteração na consciência da ilicitude, deve-se provar que o agente

não tinha condições de determinar-se de acordo com o entendimento da situação, e que


essa falta de domínio da vontade foi a causa da conduta ilícita. O gabarito da questão

está, portanto, “correto”.

Questão 3

(FUNCAB - 2013 - PC-ES - Médico legista) Em relação aos envenenamentos, assinale a


alternativa INCORRETA.

A) Na morte por injeção de cloreto de potássio na veia, o diagnóstico exclusivo por exame de

autopsia é praticamente impossível.

B) A presença de livores róseos, sangue de cor vermelho vivo, trombose dos vasos cerebrais e
dos pulmões, pneumonia e amolecimento cerebral apontam para intoxicação por óxido de

carbono.

C) O cianeto é um gás com odor de amêndoas amargas, que inibe as enzimas que atuam na
cadeia respiratória mitocondrial e produz livores róseos.

D) No saturnismo, o indivíduo pode apresentar um transtorno psicótico capaz de ensejar a


prática de crimes violentos.

E) A intoxicação crônica pelo gás arsênico produz o fenômeno conhecido como mitridatismo.

Comentário:

A intoxicação aguda por ingestão de arsênico ou seus derivados provoca a inflamação e


formação de úlceras na boca e no tubo digestivo, provocando por vezes hemorragias

significativas e uma série de problemas hepáticos, renais, cardíacos e encefálicos que


evoluem rapidamente. O mitridatismo se caracteriza como uma das fases do percurso do
veneno no organismo, sendo um efeito de tolerância do organismo contra o agente,

criando maior resistência após sucessivas ingestões graduais desse veneno. Esse é,
portanto, o erro da alternativa, pelo que o gabarito da questão está na letra “e”.

58
Questão 4

(COPESE - UFT - 2012 - DPE-TO - Analista Jurídico - de Defensoria Pública) Nos termos do
Código Penal, é isento de pena o agente que pratica o fato:

A) Pela emoção ou pela paixão.

B) Pela embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool.

C) Pela embriaguez, voluntária ou culposa, por substâncias de efeitos análogos ao do álcool.

D) Pelo estado de embriaguez completa do agente, proveniente de caso fortuito ou força

maior ao tempo da ação ou da omissão, que o torne inteiramente incapaz de entender o


caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Comentário:

Temos aqui a abordagem do texto literal do art. 28, § 1º do CP, que trata da causa de
inimputabilidade na hipótese de embriaguez completa e proveniente de caso fortuito ou

força maior. Nesses casos, uma vez que seja retirada do agente a total capacidade de
entender o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento,

estará ele isento de pena, sendo considerado inimputável para todos os efeitos legais. O

gabarito que corresponde à nossa resposta está, portanto, na alternativa “d”.

Questão 5

(FCC - 2012 - TRF - 5ª REGIÃO - Analista Judiciário - Execução de Mandados) Em matéria


penal, a embriaguez incompleta, resultante de caso fortuito ou de força maior,

A) não suprime a imputabilidade penal, mas diminui a capacidade de entendimento gerando

uma causa geral de diminuição de pena.

B) não exclui, nem diminui, a imputabilidade penal, não operando qualquer efeito na aplicação
da pena.

59
C) é hipótese de elisão da imputabilidade penal porque afeta a capacidade de compreensão,

tornando o agente isento de pena.

D) não exclui, nem diminui, a imputabilidade penal, servindo como circunstância agravante.

E) embora não suprima a imputabilidade penal, é censurável, e serve como circunstância


agravante.

Comentário:

Desta vez a banca cobra do candidato o conhecimento acerca do teor do art. 28, § 2º do
CP, que trata da embriaguez incompleta, proveniente de caso fortuito ou força maior.

Nesses casos, a lei considera que o indivíduo ainda possui algum domínio de suas
faculdades mentais, possuindo uma capacidade de discernimento e de autodeterminação,

ainda que mínimas. Assim, não será caso se exclusão da imputabilidade e a consequente
isenção de pena, mas sim haverá a aplicação de uma causa de diminuição de pena que

varia de 1/3 a 2/3. O gabarito que atende ao enunciado da questão está, portanto, na

alternativa “a”.

Questão 6

(UFPR - 2012 - TJ-PR - Juiz) A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância
de efeito análogo:

A) isenta o réu de pena, mas pode ser recepcionada como crime independente punido com
pena de detenção.

B) é sempre considerada atenuante na prática de qualquer delito.

C) não exclui a imputabilidade penal.

D) só tem relevância penal quando a embriaguez atinge percentual perceptível por exame de

bafômetro.

60
Comentário:

Como vimos, somente a embriaguez COMPLETA e proveniente de CASO FORTUITO ou

FORÇA MAIOR são capazes de excluir a imputabilidade e isentar o réu de pena. Ou,
ainda, diminuir a quantidade de pena aplicada nos casos em que a embriaguez seja

incompleta. A embriaguez culposa ou voluntária são um indiferente penal, pelo que a

resposta de nosso gabarito está na alternativa “c”.

Questão 7

(2015 - CESPE - TJ-DF - Técnico Judiciário - Administrativa) Acerca da imputabilidade penal,


julgue o item a seguir.

A embriaguez completa, culposa por imprudência ou negligência — aquela que resulta na

perda da capacidade do agente de entender o caráter ilícito de sua conduta —, no momento


da prática delituosa, não afasta a culpabilidade.

Comentário:

Estudamos com profundidade a temática relativa à embriaguês como causa modificadora


da imputabilidade. Segundo os ditames da lei penal, em seu art. 28, somente exclui a

imputabilidade a embriaguês completa, se e somente se for proveniente de caso fortuito


ou força maior. Desse modo, a embriaguês culposa não afasta a imputabilidade, de

modo que ao agente delituoso responde normalmente pelos atos praticados, se

definidos como crime pela lei penal. O gabarito da questão está, portanto, “correto”.

Questão 8

(Médico Legista – PCPR – 2017 - IBFC) O percurso do veneno através do organismo segue
fases determinadas. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta das fases desse

percurso.

A) Penetração; absorção; distribuição; fixação; transformação; eliminação.

B) Absorção; penetração; fixação; transformação; distribuição; eliminação.

61
C) Penetração; absorção; transformação; fixação; distribuição; eliminação.

D) Absorção; penetração; fixação; distribuição; transformação; eliminação.

E) Absorção; penetração; distribuição; fixação; transformação; eliminação.

Comentário:

O percurso do veneno através do organismo tem as seguintes fases: penetração,


absorção, distribuição, fixação, transformação e eliminação. Há algumas situações ou

fenômenos que podem ocorrer após a penetração do veneno, tais como: mitridatização,
toxicidade, intolerância, sinergismo e equivalente tóxico. O gabarito, portanto, está na

letra “a”.

Questão 9

(AROEIRA - 2014 - PC-TO - Agente de Polícia) Com base na Lei Penal e nas principais

jurisprudências, julgue os itens abaixo.

É isento de pena o agente que, ao tempo da ação ou da omissão, era inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, em

virtude de embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior.

Comentário:

Trata-se da redação ipisis literis do art. 28 do Código Penal, segundo a qual a

embriaguês completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, exclui a


imputabilidade. O gabarito está, portanto, “correto”.

Questão 10

(CONSULPLAN - 2013 - PM-TO - Soldado da Polícia Militar) Com base na Lei Penal e nas
principais jurisprudências, julgue os itens abaixo.

De acordo com a teoria do Direito Penal, a inimputabilidade exclui a culpabilidade.

62
Comentário:

Aqui a questão foge um pouco da temática médico-legal, aprofundando um pouco na

matéria de direito penal, mais especificamente no âmbito da teoria do crime. Não


obstante, citamos no tópico referente à embriaguês que a imputabilidade é um substrato

do elemento da culpabilidade dentro do conceito analítico de crime, segundo o qual o


crime seria toda conduta típica, antijurídica e culpável. Cada um desses elementos se

subdivide em outros, mas que, no entanto, para fins de resolução desta questão, no
ateremos ao elemento da culpabilidade. A culpabilidade é formada por três outros

substratos, a saber: a imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de


conduta diversa. A caracterização de cada um desses elementos demanda a presença
concomitante de todos os seus subcomponentes. Assim, uma vez excluída a

imputabilidade, por via de consequência, estará também excluída a culpabilidade,


caracterizando não o conceito de crime, mas sim de injusto penal, não sendo viável a

punição do agente. O gabarito da questão está, portanto, “correto”.

Questão 11

(FUNCAB – Médico Legista – PC-ES/2013) O modo de ação tóxica sistêmica do ácido oxálico
é através de:
A) Tetanização.

B) Bloqueio da respiração celular.


C) Bloqueio do transporte de oxigênio.

D) Paralisia da musculatura esquelética.


E) Depressão do Sistema Nervoso Central.

Comentário:

Ácido oxálico: limpador de metais, removedor de ferrugem e tintas. Além das lesões típicas de
contato, ele provoca uma hipocalcemia por reação com o cálcio iônico e formação de cristais

insolúveis de oxalato de cálcio em pH normal. A ingestão de 5g do produto concentrado pode


matar um adulto. Os domissanitários têm concentrações médias de 10%. Na exposição aguda,

63
notam-se uma incoordenação muscular, tetania, convulsões, coma, arritmias cardíacas, choque

e insuficiência renal duradoura. O nosso gabarito, portanto, está na letra “a”.

Questão 12

(IESES – Perito Médico Legista – IGP-SC/2017) Em um caso de suicídio, um indivíduo

trancou-se na garagem e ligou o motor do seu veículo. Grandes quantidades de monóxido de


carbono (CO) foram liberadas pelo veículo devido à combustão da gasolina e desta forma o
indivíduo foi a óbito. Quanto ao monóxido de carbono, podemos dizer que:

I. O CO é um gás classificado como asfixiante bioquímico por diminuir o transporte de


oxigênio no sangue.

II. A afinidade do CO pela hemoglobina é cerca de 240 vezes maior do que a do oxigênio.

III. O CO liga-se à mioglobina formando carboxiemoglobina.

IV. Para um individuo adulto, concentrações tóxicas e letais de carboxiemoglobina no sangue

são aproximadamente de 5 e 25%, respectivamente.

Assinale:

A) Se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.


B) Se somente as afirmativas I, II e IV estiverem corretas.
C) Se somente as afirmativas I e III estiverem corretas.
D) Se somente as afirmativas I e II estiverem corretas.

Comentário:

Essa questão também aborda temas referentes ao capítulo que tratará da toxicologia
forense, no entanto, pelos conteúdos já vistos até agora, temos plenas condições de
resolver esta questão! Lembrem-se do conteúdo relativo às lesões e mortes causadas pela
ação térmica, onde foi explicado que a combustão de materiais inflamáveis produz a
emissão de gases tóxicos, sobretudo o CO (monóxido de carbono) e CO² (dióxido de
carbono). O CO possui uma maior fixação no organismo que o CO², não sendo expelido na
mesma proporção, pelo que fixa preso ao organismo humano. Quando inalado em grandes
quantidades, o CO se liga fortemente à hemoglobina do plasma sanguíneo, gerando uma

64
reação química e acarretando a formação de uma nova substância, a carboxiemoglobina,
concentrada em grande parte no sangue. Assim, há a transformação da consistência do
plasma, ficando mais espesso, de cor cereja (carminada), gerando a perda de oxigênio no
sangue. Com isso podemos julgar as assertivas propostas na questão, estando as
proposições I e II corretas. O gabarito da questão, portanto, está na alternativa “d”. a
assertiva III está incorreta ao afirmas que o CO se liga à mioglobina, o que, como vimos
não é verdade, ligando-se à hemoglobina. A assertiva IV está incorreta na indicação dos
percentuais letais de CO no sangue, ocorrendo risco de morte quando há saturação de 70
a 80% no sangue, acarretando pulso filiforme, bradipneia, síncope respiratória e morte.

E chegamos ao fim de mais um tema, pessoal!!! Esperamos que tenham gostado da

abordagem teórica, lembrando que é fundamental a revisão e a prática de resolução de


questões para a devida fixação do tema. Até mais!

65
GABARITO

Questão 1 - D

Questão 2 - Certo

Questão 3 - E

Questão 4 - D

Questão 5 – A

Questão 6 - C

Questão 7 - Certo

Questão 8 - A

Questão 9 - Certo

Questão 10 – Certo

Questão 11 – A

Questão 12 – D

66
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Da Imputabilidade Penal:

 CP: Arts. 26 ao 28;

Da Embriaguês:

 CP: Art. 28;

Lei de drogas – Lei 11.343/2006:

 Lei 11.343/2006: Arts. 45 e 46;

67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.

DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed.
São Paulo: Editora Saraiva, 2007.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p.
360.

GALVÃO, Malthus. Linhas de Mees. Malthus, 2020. Disponível em www.malthus.com.br. Acesso


em: 09/02/2020.

HERCULES, Hygino de C., Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005.

TRANSPORTE DE OXIGÊNIO PELA HEMOGLOBINA. Brasil Escola, 2020. Disponível em:


www.brasilescola.uol.com.br. Acesso em 20/02/2020.

68
CARREIRAS POLICIAIS

Medicina Legal
Capítulo 11
SUMÁRIO

MEDICINA LEGAL, Capítulo 11 ................................................................................................................................. 3

11. Sexologia Forense. ..................................................................................................................................................... 3

11.1 Conceito. ................................................................................................................................................................... 3

11.2 Conjunção carnal. .................................................................................................................................................. 3

11.3 Ato libidinoso diverso da conjunção carnal. ............................................................................................. 4

11.3.1 Lesões anais e perianais..................................................................................................................................... 4

11.4 Diagnóstico de “certeza” de conjunção carnal. ....................................................................................... 4

11.4.1 Himenologia. ........................................................................................................................................................... 5

11.4.2 Esperma. ................................................................................................................................................................... 8

11.4.3 Gravidez..................................................................................................................................................................... 9

11.5 Aborto. .................................................................................................................................................................... 11

11.5.1 Provas de aborto. ............................................................................................................................................... 12

11.5.2 Provas de nascimento com vida. ................................................................................................................ 15

11.6 Parafilias. ................................................................................................................................................................ 18

QUADRO SINÓTICO ...................................................................................................................................................... 23

QUESTÕES COMENTADAS ........................................................................................................................................ 29

GABARITO ........................................................................................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................. 39

2
MEDICINA LEGAL

Capítulo 11

11. Sexologia Forense.

11.1 Conceito.

Para Genival França1, “sexologia criminal, também chamada de sexologia forense, é a parte
da medicina legal que trata das questões médico-biológicas e periciais ligadas aos delitos

contra a dignidade e a liberdade sexual. ”

11.2 Conjunção carnal.

Conjunção carnal trata-se da penetração do órgão sexual masculino, pênis, no órgão sexual

feminino, vagina. Quando não consentida, a conjunção carnal consiste no crime de estupro.

Estupro

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal
ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18


(dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

§ 2º Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

1
FRANÇA; Genival Veloso de. Medicina Legal, 9ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014, p. 606
3
Assim, é importante conhecer os aspectos técnicos e científicos que indicam estupro, de

modo que os peritos médico-legais buscarão por evidências subjetivas, como as declarações
da vítima, bem como evidências objetivas, descrevendo minuciosamente suas lesões.

11.3 Ato libidinoso diverso da conjunção carnal.

Para a Medicina Legal, a palavra “libido” significa apetite sexual. Já em outras áreas da
psicologia, por exemplo, libido pode significar tudo aquilo que dá prazer ao indivíduo, não só

na área sexual.

Em 2009, apenas as mulheres podiam ser vítimas de estupro, tendo em vista que o crime
consistia apenas na conjunção carnal mediante violência ou grave ameaça, sem abranger os

atos libidinosos diversos da conjunção carnal, que eram tidos como outro crime, os atentados
violentos ao pudor.

Atualmente, tipificado no art. 213 do Código Penal e classificado como crime hediondo pela

lei 8.072/90 (lei dos crimes hediondos), o crime de estupro além da conjunção carnal, também
abrange os atos libidinosos diversos da conjunção carnal, e é um crime comum, ou seja, pode

ter como sujeito ativo e sujeito passivo tanto homens quanto mulheres.

11.3.1 Lesões anais e perianais

As lesões anais e perianais são consideradas atos libidinosos diversos da conjunção carnal e
há importantes sinais específicos que indicam a sua ocorrência.

São os chamados Sinal de Wilson Johnston e Sinal de Alfredo Machado. O primeira trata-

se de equimoses, hemorragia, aspecto triangular e dor no ânus, o segundo nada mais é do que
a cicatrização do sinal de Wilson Johnston.

11.4 Diagnóstico de “certeza” de conjunção carnal.

Primeiramente, quando se fala “certeza” em Medicina Legal, significa “grande


probabilidade”, admitindo-se prova em contrário, pois pode ser contestada em nome do
princípio da ampla defesa e do contraditório. Para o perito médico-legal, por exemplo, quando
se constata, no exame da vítima, a rotura do hímen com sangue e inchaço local, em seu laudo,

4
ele colocará o diagnóstico de certeza da ocorrência de conjunção carnal, independentemente

se o que causou a rotura do hímen foi o pênis ou objeto inserido pelo agressor.

O diagnóstico de certeza de conjunção carnal será dado quando ocorrer2: rotura do hímen;
esperma no canal vaginal; gravidez; cancro sifilítico no colo do útero (doença transmitida

pela conjunção carnal).

11.4.1 Himenologia.

Hímen: é uma membrana composta pela orla, que é a mucosa propriamente dita (apresenta
vasos sanguíneos, fibras elásticas e filetes nervosos), e pelo óstio, que é o orifício natural. O

hímen separa a vulva da vagina e deriva de pregas formadas a partir do epitélio vaginal. Quando
o óstio é maior do que a orla, o hímen é complacente, de modo que pode haver conjunção

carnal sem provocar a perda da virgindade. Quando é ao contrário, o hímen é não complacente.

 Estrutura do hímen3:
a) Face interna: é face vaginal, rugosa e irregular.
b) Face externa: é a face vestibular, composta pela borda de inserção ou fixa, borda livre,
orla e óstio.

2
VIDE QUESTÃO 1 DESTE MATERIAL.
3
ANATOMIA HUMANA. Anatomia Urogenital, 2020. Disponível em: www.anatomia-
urogenital.blogspot.com/p/genital-feminino. Acesso em: 17/02/2020.
5
 Tipos de hímen:

O hímen pode ser único ou múltiplo, comissurado (hímen com ângulos) ou acomissurado
(hímen sem ângulos).

a) Acomissurados: himens em que o óstio não apresentam ângulos em sua borda livre,
são os imperfurados, anulares (que têm o óstio circular), semilunares, helicoidais,
septados (transversal, longitudinal ou oblíquo) e cribiformes (diversos óstios, aparenta
o bico de um regador).

b) Comissurados: himens em que os óstio apresentam ângulos em sua borda livre,


separando a orla em formato de lábios, são os bilabiados, trilabiados (ou triangular),
quadrilabiados e os multilabiados (ou multiangulados).

c) Atípicos: himens que não se enquadram em nenhuma classificação acima, são os


fenestrados, os com apêndices salientes e os com apêndices pendentes.

Vejam a imagem4:

No estudo da Himenologia, alguns conceitos são fundamentais e de especial utilidade tanto


prática – no dia a dia das perícias sexológicas -, quanto teórica para fins de compreensão da
matéria. Vamos a eles!

Roturas: são lesões traumáticas e podem ser recentes ou antigas, ora sangrantes, ora
cicatrizadas, geralmente assimétricas e atingem toda a orla, aproximadas as bordas coaptam, ou

4
TIPOS DE HÍMEN. Slideplayer, 2020. Disponível em: www.slideplayer.es/slide/15714847 Acesso em: 17/02/2020.
6
seja, aproximadas, as bordas se juntam e são costuráveis. Para a medicina-legal, importa dizer

que houve conjunção carnal quando há a rotura, independentemente se o que causou a rotura
foi pênis ou objeto inserido. Se o local apresentar sangue, dor e tumefeito (inchação), diz-se

que houve conjunção carnal recente.

Carúnculas Mirtiformes: são cicatrizes do hímen que indicam que houve parto vaginal. São
traumáticas, assimétricas, apresentam resíduos do hímen.

Entalhes: não são lesões, são falhas no hímen, alterações congênitas, não hereditárias. Não

cicatrizam, geralmente são simétricas, apresentando ângulos arredondados, e não atingem toda
a altura da orla do hímen. As bordas, quando tentamos aproximá-las, não coaptam totalmente,

ou seja, as bordas não se juntam, pois há ausência de pedaços, de modo que não são
costuráveis5.

Chanfraduras: são também alterações congênitas que não cicatrizam, são semelhantes aos

entalhes, trata-se, na verdade, de diversos entalhes localizados na borda livre do hímen. São
pouco profundas e muito numerosas.

Relógio Himenológico de Lacassagne: consiste em representar o hímen como um relógio,

de modo a identificar o local da lesão como se estivesse verificando a hora. Observe a imagem6
abaixo e o modo como se refere à rotura no hímen.

5
Vide questão 2 deste material.
6
RELÓGIO HIMENOLÓGICO. Slideplayer, 2020. Disponível em: www.slideplayer.es/slide/15714847 Acesso em:
17/02/2020.
7
HIMENOLOGIA é o estudo do hímen, diferentemente de HIMENEOLOGIA. Este consiste no
estudo médico-legal do casamento.

11.4.2 Esperma.

O esperma é o conjunto de substâncias produzidas pelos órgãos masculinos. Nos vestígios

biológicos podem ser encontrados algumas dessas substâncias que o compõem, as principais
são7:

 FOSFATASE ÁCIDA (ACIMA DE 300 UI/mm³)

 LÍQUIDO PROSTÁTICO

 LÍQUIDO SEMINAL

 PROSTATIC SPECIFIC ANTIGEN (PSA)

 PROTEÍNA P30 (PRECURSORA DO PSA)

 ESPERMATOZÓIDES – dá a certeza da presença de esperma.

Existem reações que indicam probabilidade de presença de esperma de acordo com a


presença ou não de algumas substâncias:

 Reação de Florence: verifica a presença de cristais de colina liberados pelas


lecitinas do espermatozoide.

 Reação de Baecchi: verifica a presença de espermina, que aparecem após os


cristais de Florence.

7
Vide questão 10 deste material.
8
 Reação de Barbério: verifica a presença de espermina, através da formação de
cristais de leucomaínas espermáticas.

 Reação de Bokarius: verifica a presença de microcristais de sulfato de cálcio.

 Reação de Walker: verifica a presença e a concentração de fosfatase ácida, que


deve estar acima de 300 UI/mm³, uma vez que também no organismo feminino
é encontrada essa substância, porém, em menor concentração.

 Lâmpada de Woods: verifica a presença de esperma através de raios


ultravioletas filtrados, deixando a substância luminescente, no entanto, não
garante a certeza, pois há várias substâncias que também ficam luminescentes
na utilização da lâmpada de Woods.

 Reação de Corin Stoks: verifica a presença de esperma através de um


microscópio e a utilização de corantes como azul de metileno

11.4.3 Gravidez.

No Código Civil, há garantia aos direitos de alimento desde a concepção, pois, para o Direito

Civil, a gravidez começa a partir da concepção. No Direito Penal, no entanto, a gravidez


somente começa após a nidação, que é a implantação do óvulo no organismo feminino,

normalmente no endométrio, mas pode ser, por exemplo, na trompa, no ovário, no abdome
(gravidez ectópica ou fora do lugar).

Importa saber que a ovulação é o momento em que o ovário (glândula sexual feminina)

elimina o óvulo (gameta feminino). O óvulo vive entre 24 a 36 horas e morre ainda dentro da
trompa se não for fecundado. Quando é fecundado, ele leva cerca de 7 a 8 dias para chegar ao

útero. Diz-se concepção, fertilização ou fecundação, o momento em que o espermatozoide


(gameta masculino) penetra no óvulo.

Os anexos embrionários são estruturas que mantêm vivo o embrião dentro do útero
materno. Trata-se da placenta, saco amniótico, saco vitelínico, alantoide (estrutura que dá origem

9
ao cordão umbilical). Enquanto não saírem os elementos embrionários, o parto ainda não

acabou.

Há autores que dizem que o parto se inicia com a rotura do saco amniótico e outros que
dizem que é com a dilatação do orifício do colo do útero. O final do parto é tido como a

retirada ou saída espontânea da placenta. Por ser o último anexo embrionário a sair, marca o
fim do parto e o início do puerpério.

O estado puerperal é a elementar do tipo penal infanticídio, artigo 123 do Código Penal:

Infanticídio

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto
ou logo após:

Pena - detenção, de dois a seis anos.

É importante constatar se, ao matar a criança, a mãe se encontrava ou não em estado


puerperal, pois caso não seja infanticídio, responderá pelo crime de homicídio doloso. O

puerpério pode durar de seis a oito semana, quando o organismo materno retorna às suas
condições pré-gravídicas, e é um fenômeno físico-psíquico gerado pelos hormônios envolvidos

no parto, bem como pelo esgotamento físico e psicológico.

Atente-se pelo fato do tipo penal do infanticídio conter as palavras DURANTE O PARTO ou

LOGO APÓS, ou seja, não tem um requisito cronológico exato, portanto, diz-se que
compreende o perídio da expulsão dos anexos embrionários até os primeiros cuidados ao
infante nascido.8

8
Vide questão 9 deste material.
10
 Provas de parto vaginal anterior:

Pode-se concluir que a mulher já passou por parto anterior quando há a presença de:

a) Carúnculas mirtiformes ou mitridiformes no hímen (somente essa garante a


certeza);

b) Cicatrizes ao nível do períneo;


c) Cicatrizes ao redor do orifício do colo do útero - Focinho de Tenca;

11.5 Aborto.

O aborto consiste na morte do nascituro a qualquer tempo da gravidez, pode ser


espontâneo ou provocado. O Código Penal trata do abordo em seus artigos 124 a 128 do
Código Penal.

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:

Pena - detenção, de um a três anos.

Aborto provocado por terceiro

Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:

Pena - reclusão, de três a dez anos.

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:

Pena - reclusão, de um a quatro anos.

Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de


quatorze anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido
mediante fraude, grave ameaça ou violência

Forma qualificada

Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um
terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a
gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer
dessas causas, lhe sobrevém a morte.

11
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da


gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Assim, o aborto provocado, excetuando-se o aborto necessário e o aborto no caso de


gravidez resultante de estupro, segundo o código penal, consiste em crime9. Pode ser provocado

propositalmente por meios:

d) Físicos: a exemplo da curetagem;


e) Químicos: a exemplo da sabina, apiol, chá de jornal, hormônios;

f) Físico-químicos: a exemplo da injeção de sódio;


g) Pressão hidrostática: injeção de água no intuito de deslocar a placenta.

11.5.1 Provas de aborto.

É possível constatar a ocorrência de aborto quando há a presença de:

a) Litopédio: devido aos sais minerais do corpo da gestante e a presença de pouco líquido

amniótico, o feto morto, quando não é eliminado, fica mumificado, por isso também é
chamado de “criança de pedra”, como pode-se ver na imagem10 abaixo:

9
Vide questão 6 deste material.
10
LITOPÉDIO. Além da parede, 2020. Disponível em: www.alemdaparede.blogspot.com/2013/12/chinesa-da-luz-
um-feto-de-60-anos-de.html Acesso em: 17/02/2020.
12
b) Feto papiráceo: somente ocorre na gravidez de gêmeos. Quando um dos fetos se

alimenta e se desenvolve mais que o outro, que atrofia, morre e recebe o nome de feto
papiráceo, por sua semelhança ao papiro, vide imagem11:

c) Mola hidatiforme: é uma degeneração da placenta. Acontece quando o feto morre


(aborto espontâneo), mas a placenta continua se desenvolvendo, formando uma porção

de bolhas, que são vesículas cheias de líquidos, dando a impressão que a mulher continua
grávida. Observe12:

d) Feto macerado: a derme e as vísceras do feto ficam embebidas por hemoglobina,


acontece devido a ação do líquido amniótico sobre o concepto morto há mais de 24

horas. Geralmente após o quarto ou quinto mês de gestação. Trata-se de um fenômeno


transformativo destruidor, em que há a presença de destacamento em retalhos na pele,

11
FETO PAPIRÁCEO. Busy, 2020. Disponível em: https://busy.org/@freddy88/feto-papiraceo-feto-momificado
Acesso em: 17/02/2020.

12
MOLA HIDATIFORME. Slideplayer, 2020. Disponível em: www.slideplayer.es/slide/ 1269550 Acesso em:
17/02/2020.
13
exagero na amplitude das articulações e hemólise universal. Pode apresentar Sinal de

Spalding, que é o deslocamento dos ossos do crânio, que estão soltos e cavalgando uns
sobre os outros, indicando maceração por mais de sete dias. Também pode aparece

manchas verdes nos orifícios do corpo do feto, indicando putrefação, mas somente se o
líquido amniótico estiver contaminado de micróbios (meio séptico), o que é menos

comum. Confiram tais aspectos na imagem a seguir13:

e) Restos coriônicos, trofoblásticos ou placentários: logo após a nidação, ocorre a

formação do cório, que é uma proteção para o embrião. Depois de um tempo, o cório
ganha vilosidades coriônicas e passa a se chamar trofoblasto, que mais tarde passará a

se chamar placenta. Se, analisando determinado vestígio, foram encontradas células


coriônicas, trofoblásticas ou placentárias, significa que há células embrionárias, ou seja,
que ocorreu um aborto. Se há a presença de células coriônicas, significa que foi logo
após a nidação; células trofoblásticas, significa que foi um período depois da nidação;
células placentárias, significa que foi um tempo maior depois a nidação

f) Presença de células trofoblásticas nos pulmões: é um sinal de recente gravidez, essa

prova é colhida por ocasião da necropsia do cadáver da gestante.

13
GALVÃO, Malthus. Maceração. Malthus, 2020. Disponível em: www.malthus.com.br. Acesso em: 12/02/2020.
14
Pseudociese é a falsa gravidez. Não se trata de simulação, é uma alteração psicológica em
que a mulher acredita realmente que está grávida. Lembre-se que a gravidez, para o direito

penal, somente começa com a nidação (implantação do embrião dentro do útero).

11.5.2 Provas de nascimento com vida.

Trata-se de docimasias, ou seja, métodos utilizados para constatar se o feto nasceu ou não
vivo, a fim de melhor tipificar o evento ocorrido e garantir ou não determinados direitos civis,
como por exemplo, o direito sucessório14.

Docimasia Hidrostática Pulmonar de Galeno: examina-se em quatro etapas o pulmão do


feto colocado em um recipiente com água. Essa Docimasia não permite contraprova, pois, os
órgãos utilizados, após a Docimasia, serão sepultados com o cadáver do feto, ou seja, não é

armazenado para futura repetição do teste. O perito deve ter cuidado com os resultados falsos
positivos e resultados falsos negativos. O falso positivo pode acontecer em casos de cadáver

em putrefação (devido aos gases), de pulmões congelados e de pulmões submetidos à


respiração artificial como tentativa de reanimação, todos esses exemplos farão com que o

pulmão flutue, mesmo sem o feto ter respirado. O falso negativo pode ocorrer quando há nos
pulmões a presença de pneumonia, o que torna os órgãos mais pesados, e mesmo havendo ar,

não flutuarão15.

1) Na primeira etapa, coloca-se o conjunto do tórax constituído pela língua, traqueia,


laringe, faringe, pulmões, timo e coração. Se flutuarem, a etapa é tida como positiva,

14
Vide questões 3 e 8 deste material.
15
Vide questão 4 deste material.
15
indicando que houve respiração e, portanto, há a presença de ar. Se não flutuarem,

passa-se para a segunda etapa.

2) Na segunda etapa, coloca-se somente os pulmões inteiros. Se flutuarem, houve


respiração, se afundarem, passa-se para a terceira etapa.

3) Na terceira etapa, secciona-se os pulmões, colocando os pedaços pequenos no

recipiente com água, de modo que, se flutuar, houve respiração, se não, passa-se para
a quarta etapa.

4) Na quarta e última etapa, os pequenos pedaços são amassados no fundo do

recipiente, com o objetivo de verificar se há saída de bolhas de ar. Se houver


desprendimento de bolhas de ar, o teste será positivo.

Docimasia Hidrostática de Icard: examina-se em duas etapas. Geralmente é utilizada em

complemento à docimasia hidrostática de Galeno.

1) Na primeira etapa, coloca-se um pedaço do pulmão em um recipiente com água e,


utilizando-se de uma seringa, realiza a sucção. Será positivo se o pedaço subir com a

sucção.

2) Na segunda etapa, coloca-se um pedaço do pulmão em um recipiente com água quente,


de modo que se flutuar, o teste será positivo, pois significa que o ar presente nos alvéolos
se dilataram por conta do calor da água.

Existem também a Docimasia Física de Icard, a Docimasia Óptica de Icard e a Docimasia


Química de Icard. As três consistem em observar a formação ou não de bolhas de ar. Na

primeira docimasia, em um recipiente com água, faz-se furos nos espaços intercostais do feto,
verificando se saem bolhas de ar. Na segunda, esmagam-se pequenos pedaços do pulmão em

duas lâminas de vidro, verificando se saem bolhas de ar. Na terceira, em um recipiente com
hidróxido de potássio, coloca-se um pedaço do pulmão embebido de álcool puro, de modo

que ele fica preso ao fundo do vaso, desse modo, verifica-se se o teste dá positivo com a saída
de bolhas de ar, resultantes da destruição do parênquima pelo líquido.

Docimasia Hidrostática Gastrointestinal de Breslau: utilizada geralmente quando se

consegue apenas o abdômen do cadáver. Trata-se do exame em que se mergulha em um


16
recipiente com água um conjunto de órgãos gastrointestinais composto pelo esôfago,

estômago, intestino delgado e intestino grosso, a fim de constatar se há a presença de ar que


indique a ocorrência do nascimento com vida, devido a deglutição de ar.

Docimasia Hidrostática Auricular de Vreden-Wendt-Gelé: examina-se o canal auditivo, se

há presença de ar no ouvido médio. Faz-se um furo no tímpano e observa se há saída de bolhas


de ar. Essa docimasia é mais utilizada quando só se tem para exame a cabeça do cadáver.

Docimasia Microscópica de Balthazard Lebrunn: também chamada de Docimasia

Histológica de Fillippi-Puppe-Balthazard ou Bouchut-Tamassia. É a docimasia mais confiável,


permite contraprova, consiste no exame microscópico de um pedaço do pulmão, pode ser feita

inclusive em pulmão putrefeito. Será considerado positivo se os alvéolos estiverem abertos, e


negativo se os alvéolos estiverem fechados.

Docimasia Diafragmática de Ploquet: observa-se as cúpulas diafragmáticas. Se estiverem

com um formato mais plano, menos convexo, o teste será positivo, pois significar que houve
respiração.

Docimasia Radiológica de Bordas: observa-se o raio-x nas radiografias dos pulmões. Será

considerado positivo se estiverem menos opacas, pois, quando não há respiração, há uma maior
opacidade.

Docimasia Táctil de Nerio Rojas: consiste em palpar os pulmões. Será considerado positivo

se estiver com uma sensação esponjosa e negativo se estiver carnoso.

Docimasia Visual de Bouchut-Casper: consiste em olhar o desenho do pulmão. Será


considerado positivo se o pulmão estiver em formato de mosaico alveolar.

Docimasia de Mirto: consiste em observar o nervo óptico e será considerado positivo se

houver a presença de mielina, o que indica que houve mais de 12 horas de vida.

Docimasia de Souza Dinitz: consiste em observar se há a presença de saliva no estômago.

Tumor do parto: é uma prova de vida intraparto, ou seja, acontece quando há vida no início
do parto, comprovada pelo batimento cardíaco do feto, ainda que este não tenha respirado. É

possível provar que o coração estava batendo com a presença do chamado tumor do parto. O

17
tumor do parto nada mais é do que uma bossa serossanguinolenta occipital, um cefaloematoma,

que é causado pela pressão do canal vaginal na cabeça do feto. Na hora em que a criança está
nascendo, a cabeça passa pelo orifício do colo do útero, que faz pressão contra a sua cabeça.

O coração batendo empurra o sangue para a cabeça da criança, mas o sangue não retorna, por
conta da pressão lateral do colo do útero, fazendo com que o sangue se acumule embaixo do

couro cabeludo, formando a bossa serosanguinolenta occipital.

11.6 Parafilias.

Pode-se chamar por parafilia o instinto sexual humano fora dos padrões da normalidade.

São psicopatologias de ordem sexual, que se caracterizam pela satisfação sexual pela realização
de práticas eróticas anormais. Algumas vezes as parafilia são elementos importantes a serem

considerados no âmbito da Medicina Legal, pois podem sugerir o cometimento de crimes.

Tal fenômeno pode ser classificado conforme a alteração da libido, em quantidade e em


qualidade.

Quantitativo Qualitativo

• Aumento: ninfomania, erotismo, • Inversão: pederastia etc;


exibicionismo etc; • Algolanias ou desvio do instinto:
• Diminuição: frigidez, anafrodisia etc. sadismo; vampirismo; necrofilia etc.

Diversos são os tipos de parafilias já conceituadas na doutrina médico-legal. Iremos agora


nos deparar com o conceito de algumas das principais parafilias para fins de provas de

concursos:

 Anafrodisia: é a diminuição do instinto sexual do homem, tendo causas


diversas, tais como diabetes, esgotamento nervoso, dentre muitas outras.

 Autoerotismo: nessa parafilia, o orgasmo sexual independe da presença do


sexo oposto. É o coito sem parceiro (não raras vezes consistem na contemplação
de um autorretrato ou uma estátua, por exemplo).

18
 Erotismo: é a tendência abusiva dos atos sexuais. Quando ocorre com o
homem, recebe o nome de satiríase (existem a ereção e a consumação do ato
com a ejaculação, mas o indivíduo não se satisfaz e tende a manter sucessivas
relações sexuais). Em relação à mulher, recebe o nome de ninfomania ou
uteromania, podendo levar ao crime ou à prostituição.

 Erotomania: é um grau acentuadíssimo de erotismo, ao ponto de que, para a


pessoa que sofre desse distúrbio, absolutamente tudo gira em torno do sexo.

 Exibicionismo: trata-se de uma obsessão impulsiva de mostrar a própria


genitália, sem necessariamente manter relação sexual com outras pessoas.

 Frotteurismo: provém do vocábulo francês frotteur, que significa “esfregar”.


Caracteriza-se pela satisfação e excitação sexual através da fricção da genitália.
É, principalmente nos dias atuais, de grande interesse médico-legal, sobretudo
nos casos ocorridos corriqueiramente nos transportes púbicos, em que os
indivíduos aproveitam-se do pouco espaço proveniente da lotação dos coletivos
para se esfregar nas vítimas. Antes de 2018 essa prática era considerada mera
contravenção penal, mas hoje em dia houve o agravamento dessa conduta e
elevação do patamar de punição, passando a configurar o crime de
importunação sexual, punido com reclusão de 1 a 5 anos16.

 Frigidez: é a diminuição do instinto sexual da mulher, podendo ocorrer em


virtude de causas religiosas, culturais ou emocionais.

 Anorgasmia: é uma disfunção sexual rara que ocorre quando o homem não
consegue chegar ao orgasmo. Não lhe falta desejo nem manifestações eróticas,
mas apesar disso, não consegue atingir o orgasmo.

 Masoquismo: também chamado de algolagnia passiva. Nessa parafilia o


indivíduo só se excita quando se sujeita a sofrimento ou humilhação, podendo
o sofrimento ser de ordem física ou moral.

16
VIDE QUESTÃO 7 DESTE MATERIAL.
19
 Necrofilia: obsessão do indivíduo pela prática de atos sexuais com cadáveres,
chegando ao ponto de violar sepulturas para conseguir tal objetivo.

 Pederastia: atração de indivíduos idosos do sexo masculino por mulheres mais


jovens.

 Mixoscopia, escopofilia ou voyeurismo: caracteriza-se pelo prazer sexual em


presenciar ou espreitar relações sexuais de terceiros. Não tem muita implicação
médico-legal, pois que tal ato, em regra, não atinge de maneira penalmente
relevante os direitos ou interesses alheios, pelo que sua punição violaria o
princípio da alteridade do direito penal.

 Riparofilia: caracteriza-se pela atração de certos indivíduos por mulheres


desasseadas (sujas ou de baixa condição higiênica). Há, inclusive, homens que
preferem manter relações sexuais com a mulheres durante seu período de
menstruação.

 Sadismo: também chamado de algolagnia ativa. Caracteriza-se pelo desejo e


satisfação sexual obtidos com o sofrimento da pessoa amada, podendo não
raras vezes até resultar em morte.

 Sodomia: consiste numa aberração sexual na qual os indivíduos praticam coito


anal ante a introdução de objetos no ânus. Pode afetar tanto homens como
mulheres17.

 Uranismo ou urolagnia: consiste no prazer e excitação sexual de ver alguém


urinando, ou, ainda, urinando sobre o parceiro(a).

 Vampirismo: ocorre quando o indivíduo se satisfaz sexualmente quando está


na presença de certa quantidade de sangue, ou, em algumas vezes, através de
mordedura lateral no pescoço.

17
VIDE QUESTÃO 5 DESTE MATERIAL.
20
 Bandagismo: excitação erótica de um indivíduo ao ficar amarrado.

 Auto estrangulamento: também chamado de auto asfixia ou hipoxifilia.


Consiste na obtenção do prazer através da privação de oxigênio pela constrição
do pescoço. É de grande importância médico-legal à medida que tal prática é
capaz de provocar sequelas pela parada respiratória ou até mesmo a morte.

 Coprolalia: consiste na necessidade de ouvir palavras obscenas durante o ato


sexual afim de obter excitação sexual. Pode ocorrer antes, durante ou depois
do ato sexual.

 Clismafilia: o indivíduo sente prazer quando lhe inserem água no ânus, seja
através de enemas ou clisteres (aparelho específico para higienização pós-
cirurgias).

 Coprofilia: é a obtenção de prazer através da defecação do parceiro sobre seu


corpo.

 Andromimetofilia ou ginemimetofilia: é o prazer que têm alguns indivíduos


do sexo masculino quando veem determinadas mulheres vestidas de homem.
A ginemimetofilia é representação do oposto (mulheres se excitam ao ver
homens vestidos de mulheres).

 Bestialismo: também conhecido como zoofilia, consiste na prática sexual entre


seres humanos e animais, principalmente os domésticos.

 Pedofilia: transtorno da sexualidade no qual há uma predileção sexual por


crianças, podendo ir desde a prática de contemplação ou observação, até o
estupro (art. 217-A do CP). É de grande interesse médico-legal e de comum
recorrência no dia a dia forense.

21
 Fetichismo: desvio sexual que se manifesta no desejo por um objeto ou parte
do corpo do parceiro sexual.

 Penculofilia: atração por lugares perigosos, inapropriados ou até mesmo por


situações de tensão para a prática do sexo.

 Gerontofilia ou cronoinversão: atração sexual de jovens por pessoas mais


velhas.

 Cromoinversão: é a acentuada preferência por pessoas de cor de pele diferente.

 Etnoinversão: é a atração por pessoas de etnias diferentes. É uma variante da


cromoinversão.

 Dolismo: atração de um indivíduo por bonecas e manequins, chegando até


mesmo a manter relações sexuais com esses objetos inanimados. É de pouco
interesse médico-legal.

22
QUADRO SINÓTICO

DIAGNÓSTICO DE a) Rotura do hímen;


b) Esperma no canal vaginal;
CERTEZA DE c) Gravidez;

CONJUNÇÃO d) Cancro sifilítico no colo do útero.

CARNAL

 Hímen: deriva de pregas formadas a partir do epitélio

vaginal e é composto pela orla e pelo ósteo. Pode ser


complacente ou não complacente, único ou múltiplo,

perfurado ou imperfurado, comissurado ou acomissurado.


 Roturas: lesões traumáticas e podem ser recentes ou

antigas, ora sangrantes, ora cicatrizadas, geralmente


assimétricas e atingem toda a orla, aproximadas as bordas

coaptam, ou seja, aproximadas, as bordas se juntam e são


costuráveis.

HIMENOLOGIA  Carúnculas Mirtiformes: cicatrizes do hímen que indicam

que houve parto vaginal. São traumáticas, assimétricas,


apresentam resíduos do hímen.

 Entalhes: não são lesões, são falhas no hímen, alterações


congênitas, não hereditárias. Não cicatrizam, geralmente
são simétricas e não atingem toda a altura da orla do
hímen. As bordas, quando tentamos aproximá-las, não
coaptam, ou seja, as bordas não se juntam, pois há
ausência de pedaços, de modo que não são costuráveis.
 Chanfraduras: alterações congênitas que não cicatrizam,

trata-se, na verdade, de diversos entalhes localizados na


23
borda livre do hímen. São pouco profundas e muito

numerosas.
 Relógio Himenológico de Lacassagne: consiste em

representar o hímen como um relógio, de modo a


identificar o local da lesão como se estivesse verificando a

hora.

Reações que indicam probabilidade de presença de esperma


através da presença de determinadas substâncias que o compõe:

Reação de Florence: verifica a presença de cristais de colina;

Reação de Becchi e Reação de Barbério: verificam a presença

de espermina;

Reação de Bokarius: verifica a presença de microcristais de


sulfato de cálcio;

ESPERMA Reação de Walker: verifica a presença e a concentração de


fosfatase ácida;

Lâmpada de Woods: verifica a presença de esperma através de

raios ultravioletas filtrados, deixando a substância luminescente,


no entanto, não garante a certeza, pois há várias substâncias que
também ficam luminescentes na utilização da lâmpada de Woods;

Reação de Corin Stoks: verifica a presença de esperma através


de um microscópio e a utilização de corantes como azul de
metileno.

 Litopédio: devido aos sais minerais do corpo da gestante


PROVAS DE e a presença de pouco líquido amniótico, o feto morto,

ABORTO quando não é eliminado, fica mumificado, por isso também


é chamado de “criança de pedra”.

24
 Feto papiráceo: somente ocorre na gravidez de gêmeos.

Quando um dos fetos se alimenta e se desenvolve mais


que o outro, que atrofia, morre e recebe o nome de feto

papiráceo, por sua semelhança ao papiro.

 Mola hidatiforme: é uma degeneração da placenta.


Acontece quando o feto morre (aborto espontâneo), mas

a placenta continua se desenvolvendo, formando uma


porção de bolhas, que são vesículas cheias de líquidos,

dando a impressão que a mulher continua grávida.

 Feto macerado: a derme e as vísceras do feto ficam


embebidas por hemoglobina, acontece devido a ação do

líquido amniótico sobre o concepto morto há mais de 24


horas. Geralmente após o quarto ou quinto mês de
gestação. Trata-se de um fenômeno transformativo

destruidor, em que há a presença de destacamento em


retalhos na pele, exagero na amplitude das articulações e

hemólise universal. Pode apresentar Sinal de Spalding, que


é o deslocamento dos ossos do crânio, que estão soltos e

cavalgando uns sobre os outros, indicando maceração por


mais de sete dias. Também pode aparece manchas verdes

nos orifícios do corpo do feto, indicando putrefação, mas


somente se o líquido amniótico estiver contaminado de

micróbios (meio séptico), o que é menos comum.

 Restos coriônicos, trofoblásticos ou placentários: logo


após a nidação, ocorre a formação do cório, que é uma

proteção para o embrião. Depois de um tempo, o cório


ganha vilosidades coriônicas e passa a se chamar
trofoblasto, que mais tarde passará a se chamar placenta.
Se, analisando determinado vestígio, foram encontradas

25
células coriônicas, trofoblásticas ou placentárias, significa

que há células embrionárias, ou seja, que ocorreu um


aborto. Se há a presença de células coriônicas, significa que

foi logo após a nidação; células trofoblásticas, significa que


foi um período depois da nidação; células placentárias,

significa que foi um tempo maior depois a nidação.

 Presença de células trofoblásticas nos pulmões: é um


sinal de recente gravidez, essa prova é colhida por ocasião

da necropsia do cadáver da gestante.

Docimasia Hidrostática Pulmonar de Galeno: examina-se em


quatro etapas o pulmão do feto colocado em um recipiente com

água

1. Primeira etapa: coloca-se o conjunto do tórax


constituído pela língua, traqueia, laringe, faringe,
pulmões, timo e coração. Se flutuarem, a etapa é
tida como positiva, indicando que houve respiração
e, portanto, há a presença de ar. Se não flutuarem,
passa-se para a segunda etapa.

PROVAS DE 2. Segunda etapa: coloca-se somente os pulmões


inteiros. Se flutuarem, houve respiração, se
NASCIMENTO COM
afundarem, passa-se para a terceira etapa.
VIDA 3. Terceira etapa: secciona-se os pulmões, colocando
os pedaços pequenos no recipiente com água, de
modo que, se flutuar, houve respiração, se não,
passa-se para a quarta etapa.
4. Quarta etapa: os pequenos pedaços são amassados
no fundo do recipiente, com o objetivo de verificar
se há saída de bolhas de ar. Se houver
desprendimento de bolhas de ar, o teste será
positivo.

26
Docimasia Hidrostática de Icard: examina-se em duas etapas

1. Primeira etapa: coloca-se um pedaço do pulmão em um


recipiente com água e, utilizando-se de uma seringa,
realiza a sucção. Será positivo se o pedaço subir com a
sucção.
2. Segunda etapa: coloca-se um pedaço do pulmão em um
recipiente com água quente, de modo que se flutuar, o
teste será positivo, pois significa que o ar presente nos
alvéolos se dilataram por conta do calor da água.

Existe também a Docimasia Física de Icard, a Docimasia Óptica


de Icard e a Docimasia Química de Icard. As três consistem em

observar a formação ou não de bolhas de ar. Na primeira


docimasia, em um recipiente com água, faz-se furos nos espaços

intercostais do feto, verificando se saem bolhas de ar. Na


segunda, esmagam-se pequenos pedaços do pulmão em duas
lâminas de vidro, verificando se saem bolhas de ar. Na terceira,

em um recipiente com hidróxido de potássio, coloca-se um


pedaço do pulmão embebido de álcool puro, de modo que ele

fica preso ao fundo do vaso, desse modo, verifica-se se o teste


dá positivo com a saída de bolhas de ar, resultantes da destruição

do parênquima pelo líquido.

Docimasia Hidrostática Gastrointestinal de Breslau: mergulha-


se, em um recipiente com água, um conjunto de órgãos

gastrointestinais composto pelo esôfago, estômago, intestino


delgado e intestino grosso, a fim de constatar se há a presença

de ar que indique a ocorrência do nascimento com vida, devido


a deglutição de ar.

Docimasia Hidrostática Auricular de Vreden-Wendt-Gelé:


examina-se o canal auditivo, se há presença de ar no ouvido

27
médio. Faz-se um furo no tímpano e observa se há saída de

bolhas de ar.

Docimasia Microscópica de Balthazard Lebrunn: também


chamada de Docimasia Histológica de Fillippi-Puppe-Balthazard

ou Bouchut-Tamassia. É a docimasia mais confiável, permite


contraprova, consiste no exame microscópico de um pedaço do

pulmão, pode ser feita inclusive em pulmão putrefeito. Será


considerado positivo se os alvéolos estiverem abertos, e negativo

se os alvéolos estiverem fechados.

Docimasia Diafragmática de Ploquet: observa-se as cúpulas


diafragmáticas. Se estiverem com um formato mais plano, menos

convexo, o teste será positivo, pois significar que houve


respiração.

Docimasia Radiológica de Bordas: observa-se o raio-x nas

radiografias dos pulmões. Será considerado positivo se estiverem


menos opacas, pois, quando não há respiração, há uma maior
opacidade.

Docimasia Táctil de Nerio Rojas: consiste em palpar os pulmões.


Será considerado positivo se estiver com uma sensação esponjosa
e negativo se estiver carnoso.

Docimasia Visual de Bouchut-Casper: consiste em olhar o


desenho do pulmão. Será considerado positivo se o pulmão

estiver em formato de mosaico alveolar.

Docimasia de Mirto: consiste em observar o nervo óptico e será


considerado positivo se houver a presença de mielina, o que

indica que houve mais de 12 horas de vida.

28
Docimasia de Souza Dinitz: consiste em observar se há a

presença de saliva no estômago.

Tumor do parto: é uma prova de vida intraparto, ou seja,


acontece quando há vida no início do parto, comprovada pelo

batimento cardíaco do feto, ainda que este não tenha respirado.


É possível provar que o coração estava batendo com a presença

do chamado tumor do parto. O tumor do parto nada mais é do


que uma bossa serossanguinolenta occipital, um cefaloematoma,

que é causado pela pressão do canal vaginal na cabeça do feto.


Na hora em que a criança está nascendo, a cabeça passa pelo
orifício do colo do útero, que faz pressão contra a sua cabeça. O

coração batendo empurra o sangue para a cabeça da criança, mas


o sangue não retorna, por conta da pressão lateral do colo do

útero, fazendo com que o sangue se acumule embaixo do couro


cabeludo, formando a bossa serosanguinolenta occipital.

QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(AOCP - 2019 - PC-ES – Médico Legista) Após um exame ginecológico, o médico-legista

respondeu NÃO ao quesito relacionado à existência de conjunção carnal em uma pericianda.


Dentre as seguintes variáveis, qual é a que melhor se encaixa com a resposta presente no laudo?

A) ausência de rotura himenal.

B) presença de hímen complacente com gravidez.

29
C) presença de fosfatase ácida na vagina.

D) presença de hímen complacente sem gravidez.

E) presença de contaminação venérea.

Comentário:

Essa questão trata do diagnóstico de certeza de conjunção carnal. Como vimos, a rotura
do hímen, esperma no canal vaginal, gravidez e cancro sifilítico são situações que levam o

perito a afirmar a conjunção carnal. Por tanto, a letra “a” é a resposta correta. A letra “b”
não poderia ser pelo fato da gravidez. A letra “c” não cita a concentração de fosfatase

ácida encontrada na vagina, portanto não há como afirmar se está ou não abaixo de 300
UI/mm³ (quando acima de 300UI/mm³, esse índice indica a presença de esperma). A letra

“d” nos fala sobre hímen complacente, que é aquele em que o orifício natural (óstio) é
maior do que a mucosa (orla), de modo que pode haver conjunção carnal sem a perda da

virgindade. A letra “e” não especifica a doença venérea, apenas o cranco sifilítico garante
a conjunção carnal.

Questão 2

(AOCP - 2019 - PC-ES – Médico Legista) O exame do hímen é valioso no diagnóstico da

virgindade. Em relação ao tema, assinale a correta.

A) É exclusivo dos humanos.

B) O óstio himenal é a membrana do hímen.

C) A orla himenal é o orifício que a membrana apresenta.

D) A interrupção da orla himenal constitui os entalhes e as comissuras.

E) Os entalhes são profundos e separam a orla em verdadeiros lábios.

Comentário:

A questão aborda o conhecimento acerca da himenologia. Várias espécies de mamíferos


têm hímen, não é a letra “a”, portanto. As alternativas “b” e “c” estão com os conceitos

30
trocados. A letra “e” traz o conceito de hímen comissurado e não de entalhes. A resposta

está, portanto, na alternativa “d”, pois a interrupção da orla himenal pode caracterizar
entalhes ou comissuras.

Questão 3

(NUCEPE - 2018 - PC-PI – Médico Legista) Sobre as provas de vida, assinale a alternativa
INCORRETA.

A) Na docimasia respiratória de Galeno, na quarta fase, retira-se todo o bloco do sistema

respiratório e mais língua, timo e coração, num recipiente com água na temperatura ambiente,
sendo positiva se o bloco flutua.

B) Para fins penais, considera-se como prova de vida extrauterina ter havido, pelo menos, um
episódio de respiração pulmonar.

C) Dentre as docimásias não respiratórias, podem ser citadas a gastrointestinal e as auriculares.

D) Na maceração intrauterina pode ocorrer pele com aspecto bolhoso, a epiderme pode se
descolar, podem aparecer efusões avermelhadas nas cavidades serosas; o fígado pode se tornar

amarelo-amarronzado e as efusões das cavidades serosas se tornarem turvas.

E) Quantos à docimásia hidrostática pulmonar de Galeno, não pode ser realizada na fase
enfisematosa, não podendo seus resultados positivos serem considerados prova de vida

extrauterina.

Comentário:

Como vimos, a docimasia hidrostática pulmonar de galeno é composta de quatro fases. A

primeira alternativa, na verdade, descreve a primeira fase do teste e não a quarta, como
afirma, nossa resposta, portanto, encontra-se na letra “a”.

Questão 4

(NUCEPE - 2018 - PC-PI – Médico Legista) Marque a alternativa que contém o único indivíduo
que pode ter sido vítima de infanticídio.

31
a) Cadáver de feto recém-nascido a termo exibindo leite no conteúdo gástrico.

b) Cadáver de feto recém-nascido apresentando descamação da epiderme e ausência de induto


sebáceo.

c) Cadáver de feto recém-nascido a termo com alças intestinais sem mecônio.


d) Cadáver de feto recém-nascido a termo com Docimasia de Galeno positiva.

e) Cadáver de feto macerado.

Comentário:

Atente-se para o fato de importar as palavras “durante o parto” e “logo após” contidas no
tipo penal do infanticídio, que significam o perídio da expulsão dos anexos embrionários

até os primeiros cuidados ao infante nascido. A alternativa “a” não traz um caso de
infanticídio no âmbito da Medicina Legal, pois amamentar o infante, é considerado
momento posterior aos primeiros cuidados. A letra “b”, “c” e “e” nos traz casos de
fenômenos que acontecem com o feto morto ainda no útero da mulher. Dentre as

alternativas, a que traz um indivíduo que pode ter sido vítima de infanticídio é a alternativa
“d”. Lembre-se que dando positiva a docimasia de galeno, significa que o infante nasceu

com vida, pois respirou.

Questão 5

(NUCEPE - 2018 - PC-PI – Médico Legista) Satisfação sexual centrada na cópula anal com
mulher recebe o nome de:

A) Pederastia.

B) Uranismo.

C) Sodomia.

D) Sadismo.

E) Masoquismo.

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Comentário:

Vimos que pederastia e uranismo significam a mesma coisa, qual seja a prática viciosa do

coito anal entre homens. O sadismo, por sua vez, é satisfação da libido através do
sofrimento alheio. Já o masoquismo, é a satisfação da libido através do próprio sofrimento.

A alternativa que responde ao nosso gabarito está, portanto, na letra “c”.

Questão 6

(AOCP - 2018 – ITEP-RN – Perito Criminal) Para efeito de diagnóstico médico-legal, conforme

o artigo 128 do Código Penal brasileiro, o aborto

A) é permitido e não configura crime, se praticado por médico em casos de malformação fetal,
estupro e risco de vida à gestante.

B) é permitido e não configura crime, em casos de anencefalia fetal, estupro e risco de vida à
gestante.

C) é permitido e não configura crime, se praticado por médico, quando a gravidez resulta de

estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou há risco à vida da gestante.

D) é crime em qualquer modalidade, embora não punível se praticado por médico, se a gravidez
resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou quando não houver

outra maneira de salvar a vida da gestante

E) é crime em qualquer modalidade, embora não punível se praticado por médico em casos de
malformação fetal, estupro e risco de vida à gestante.

Comentário:

Dentre as alternativas, a única que compreende os dizeres do Código Penal é a alternativa


“d”. A letra “e” pode levar em erro os candidatos desatentos ao enunciado da questão,

pois há clara referência ao Código Penal. Neste diploma, não há permissivo legal nos casos
de malformação fetal (trata-se de jurisprudência nos casos de anencefalia), além do mais,
o aborto nos casos de estupro somente é realizado com o consentimento da gestante, o

que não deixa claro a alternativa.

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Questão 7

(AOCP - 2019 - PC-ES – Médico Legista) No Brasil, aproveitando-se das aglomerações em


transportes públicos, alguns indivíduos objetivam esfregar seus órgãos genitais, principalmente

em mulheres, ou tocar seus seios ou genitais, sem que outra pessoa perceba ou identifique suas
intenções. Esse transtorno sexual é conhecido como

A) urolagnia.

B) riparofilia.

C) autoerotismo.

D) exibicionismo.

E) frotteurismo.

Comentário:

Vale relembrar os conceitos das parafilias em questão. Urolagnia se prende ao ato da

micção, em ver alguém urinando. Por sua vez, a riparofilia consiste em manter relações
sexuais com pessoas desasseadas. Já o autoerotismo, é o coito sem parceiro. O

exibicionismo é a obsessão impulsiva de mostrar sua genitália. A resposta, portanto, está

na letra “e”.

Questão 8

(FUNDATEC – 2017 – IGP-RS - Médico Legista) Nas provas de vida extrauterina, realizadas na
perícia de fetos e bebês a termo na rotina médico-legal, utilizamos de docimasias para provar

que o sujeito passivo do crime, ou da morte natural, estava vivo. Das provas e experiências mais
conhecidas descritas abaixo, qual está correta?

A) A docimásia óptica de Bouchut refere que a distensão dos pulmões com a respiração provoca

o abaixamento das cúpulas diafragmáticas. Ou seja, a expansão dos lobos pulmonares ajuda
na retificação da convexidade diafragmática.
B) A docimásia pulmonar hidrostática de Galeno estabelece que os pulmões que respiraram

têm a sua densidade diminuída, pela penetração do ar e expansão dos espaços aéreos. A
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prova consiste em mergulhar o tórax e os pulmões em frascos com vidros, em 4 etapas

distintas, para que se possam retirar conclusões válidas. Em resultado positivo, os pulmões
flutuam em uma das quatro etapas.

C) A docimásia de Plouquet propõe o uso rotineiro de cortes histológicos dos pulmões, para o

diagnóstico microscópico entre o tecido pulmonar fetal e o tecido que já respirou.

D) A docimásia de Balthazar utiliza-se do aspecto poligonal, em mosaico, determinado pela

lobulação pulmonar, enquanto os pulmões fetais mostram superfícies homogêneas. Nessa


prova, utilizamos de uma lupa para melhorar a visualização do mosaico pulmonar.

E) Casper desenvolveu a docimásia gastrintestinal, que como a de Galeno, relata que os bebês

que nasceram vivos deglutiram o ar. Deve-se retirar o tubo digestivo (do esôfago ao reto),

ligá-los e mergulhá-los em um vasilhame com água. Na positividade, o tubo ou parte do


tubo, flutua. Em casos de dúvida, podemos fazer cortes no estômago e delgado, dentro da
água, e verificar se saem bolhas de ar.

Comentário:

O conceito da letra “a” corresponde, na verdade, à docimasia diafragmática de Ploquet, de

modo que também não pode ser a letra “c”. A letra “d” também está errada pois conceitua
a docimasia de Bouchut-Casper. A letra “e” trata da docimasia hidrostática gastrointestinal

de Breslau. Resposta: letra “b”.

Questão 9

(FCC – 2017 – POLITEC-AP - Médico Legista) De acordo com o Código Penal brasileiro, artigo

123, infanticídio é matar, sob influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou
logo após. Nesse tipo de crime, haverá a perícia psiquiátrica da mulher. Nesse contexto,

A) a perícia psiquiátrica é relativamente simples, tendo em vista que o estado puerperal é um

transtorno permanente que ocorre devido ao nascimento da criança, geralmente em gestações


desejadas.

B) a avaliação psiquiátrica realizada alguns dias, meses ou anos após o fato não atrapalha a
conclusão do Perito Médico Legista.

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C) o estado puerperal é facilmente diferenciado de outras perturbações mentais, tais como um

surto psicótico.

D) o puerpério é facilmente conceituado obstetricamente, sendo considerado o período desde


o início da gestação até a expulsão da placenta.

E) o estado puerperal tem influência das dores do trabalho de parto, do esforço para a expulsão

do concepto e da perda sanguínea durante o parto, segundo a teoria fisiopsíquica.

Comentário:

Como vimos, o estado puerperal não é um transtorno permanente. Ele começa com o fim

do parto e pode durar cerca de seis a oito semanas. Ademais, o estado puerperal não é
de fácil diferenciação do surto psicótico, principalmente quando se trata de mães com

histórico de doenças mentais como esquizofrenia, por exemplo. A resposta que

corresponde ao gabarito da questão, portanto, está na letra “e”.

Questão 10

(FUNDATEC – 2017 – IGP-RS - Médico Legista) A respeito da perícia médico-legal em crimes


contra a dignidade sexual, assinale a alternativa correta.

A) Conjunção carnal é a introdução completa ou incompleta do pênis na cavidade vaginal ou

no ânus, ocorrendo ou não ejaculação.

B) A constatação de esperma na cavidade vaginal é de muita importância na comprovação da


conjunção carnal e pode auxiliar na identificação do agressor.

C) Ruptura himenal recente é conclusiva com relação à ocorrência de estupro.

D) Não é possível encontrar integridade himenal em mulher com vida sexual iniciada.

E) O encontro de fosfatase ácida na cavidade vaginal permite o diagnóstico médico-legal de


conjunção carnal.

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Comentário:

A conjunção carnal compreende a introdução do pênis na vagina, excluindo-se o ânus, de

modo que a alternativa “a” está errada. A alternativa “c” nos diz que a ruptura himenal
seria indicativo de estupro, o que não é. Lembre-se que, para ocorrer estupro, deve haver

a violência ou grave ameaça. A letra “d” não seria por conta da existência do hímen
complacente, que permite a integridade himenal mesmo com a ocorrência de conjunção

carnal. A letra “e” não traz a concentração de fosfatase ácida encontrada na vagina,
portanto não há como afirmar se está ou não abaixo de 300 UI/mm³ (quando acima de

300UI/mm³, esse índice indica a presença de esperma). O gabarito que responde à nossa

questão está, portanto, na alternativa “b”.

E por hoje é só pessoal! Espero que se mantenham firme nos estudos, revisando e praticando
bastante! Vamos juntos até a aprovação! Até mais!!!

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GABARITO

Questão 1 - A

Questão 2 - D

Questão 3 - A

Questão 4 - D

Questão 5 – C

Questão 6 – D

Questão 7 – E

Questão 8 – B

Questão 9 – E

Questão 10 – B

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Aula de anatomia, 2020. Disponível em: https://www.auladeanatomia.com/novosite/pt/sistemas/sistema-
respiratorio/. Acesso em 11/02/2020.

CROCE, Delton. Manual de Medicina Legal, 7ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2011.

DEL-CAMPO; Eduardo Roberto Alcântara. Medicina Legal, coleção cursos e concursos. 3ª ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2007.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal, 3ª ed.
Salvador: Editora Jus Podium, 2018.

FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015, p. 360.

GALVÃO, Malthus. Lesões causadas pela ação dos ácidos – Vitriolagem. Malthus, 2020. Disponível
em www.malthus.com.br. Acesso em: 09/02/2020.

HERCULES, Hygino de C., Medicina Legal – Texto e Atlas. São Paulo: Atheneu, 2005.
Pinterest, 2020. Disponível em https://br.pinterest.com/pin/349451252323189934/. Acesso em 11/02/2020.

Slideplayer, 2020. Disponível em: www.slideplayer.com.br/slide/5634703/. Acesso em: 12/02/2020.

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Toda Matéria, 2020. Disponível em www.todamateria.com.br/sistema-circulatorio/. Acesso em


11/02/2020.

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