Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2
SUMÁRIO
1. DOUTRINA (RESUMO)................................................................................................... 4
1.1. DIREITO CONSTITUCIONAL: NOÇÕES GERAIS ....................................................... 5
1.2. CONCEITO DE CONSTITUCIONALISMO ................................................................. 8
1.3. NEOCONSTITUCIONALISMO ............................................................................... 27
1.4. CONSTITUCIONALISMO E SOBERANIA POPULAR ............................................... 54
1.5. EVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL DO BRASIL .......................................................... 59
1.6. CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO E ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO ......................... 65
1.7. ESTRUTURA DAS CONSTITUIÇÕES ...................................................................... 78
1.7.1. PREÂMBULO .................................................................................................... 78
1.7.2. PARTE DOGMÁTICA ......................................................................................... 78
1.7.3. PARTE TRANSITÓRIA ........................................................................................ 78
1.8. NORMAS CONSTITUCIONAIS PROGRAMÁTICAS ................................................. 79
1.9. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ........................................................................... 79
1.10. DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS ............................................. 85
1.11 NORMAS CONSTITUCIONAIS ............................................................................. 87
3
1.12 HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL ................................................................... 97
1.13 O OLHAR DOS MINISTROS DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SOBRE A
CONSTITUIÇÃO CIDADÃ ........................................................................................... 104
1.14 DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO .......................................................................... 110
2. QUESTÕES ................................................................................................................. 125
3. GABARITO COMENTADO .......................................................................................... 130
1. DOUTRINA (RESUMO)
1 Neste tópico, entendemos como importante reprisarmos alguns itens já exigidos em provas
para aguçarmos o seu olhar para situações que podem voltar a ser exigidas.
B. Constitucionalismo antigo
C. Constitucionalismo medieval
D. Constitucionalismo moderno
CAIU EM PROVA (TJMT 2009): Movimento político social e cultural que, sobretudo a
partir de meados do século XVIII, questiona nos planos político, filosófico e jurídico os
esquemas tradicionais de domínio político, sugerindo, ao mesmo tempo, a invenção de
uma nova forma de ordenação e fundamentação do poder político. Esta definição,
formulada por J. J. Gomes Canotilho, designa:
a) o poder constituinte.
b) o constitucionalismo moderno.
c) o constitucionalismo antigo.
d) a democracia.
e) a autocracia.
Resposta: letra b.
Frisa-se que o Constitucionalismo moderno foi fundamental para o
desenvolvimento da ideia de Estado de Direito, tal qual conhecida hoje: Estado em que
o poder exercido é limitado pela ordem jurídica vigente.
Características do Constitucionalismo moderno:
i) Superação do absolutismo;
ii) Surgimento das primeiras Constituições escritas (constituição
no sentido formal);
iii) Primeiras ideias de rigidez constitucional e supremacia
constitucional;
iv) Influências do Iluminismo, a partir das ideias de John Locke
(ideias de liberalismo), Jean Jacques Rousseau (valorização da lei
como expressão da vontade geral do povo) e Montesquieu
(divisão de poderes);
ATENÇÃO! John Locke, Rousseau e Montesquieu são influenciadores do
Constitucionalismo MODERNO. Já foi considerado errado em provas assertiva no
sentido que os pensadores seriam precursores do Constitucionalismo contemporâneo.
v) Garantia de direitos individuais;
vi) Separação dos poderes;
vii) Limitação do poder estatal. 13
Já foi cobrado em prova:
“A transição da Monarquia Absolutista para o Estado Liberal, em
especial na Europa, no final do século XVIII, que traçou
limitações formais ao poder político vigente à época, é um marco
do constitucionalismo moderno”.
Alternativa CORRETA.
Importante destacar que os marcos do Constitucionalismo moderno são o
absenteísmo estatal (viés liberal do período) e a proteção das liberdades públicas
clássicas (direitos civis e políticos), relacionando-se, portanto, aos direitos fundamentais
de primeira geração/dimensão.
Esse movimento pode ser didaticamente subdividido em duas fases:
Constitucionalismo moderno liberal e Constitucionalismo moderno social.
b) Constitucionalismo francês
O marco inicial do Constitucionalismo francês é a Revolução Francesa, de 1789.
A primeira Constituição francesa escrita é de 1791. Duas ideias que constam da
Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 são fundamentais
para a compreensão do Constitucionalismo francês: garantia de direitos e separação
dos poderes.
São características fundamentais do Constitucionalismo francês:
E. Constitucionalismo contemporâneo
G. Constitucionalismo abusivo
20
🎥 CONSTITUCIONALISMO DIGITAL - GILMAR MENDES (min 5:08)
Nos últimos anos, uma nova onda do constitucionalismo digital tem emergido
no nível dos estados nacionais, particularmente a partir da ação do Poder Legislativo.
Os parlamentos de países como Brasil, Filipinas, Itália, Nova Zelândia e Nigéria
buscam desempenhar as funções essenciais do constitucionalismo clássico no sub-
sistema da Internet, criando medidas para estabelecer e proteger os direitos digitais,
limitar o exercício do poder na rede digital e formalizar os princípios de governança para
a Internet. Suas legislações formais sobre a internet incorporam categorias de direitos,
princípios e normas de governança, restringindo significativamente o poder de
autoridades públicas e atores privados em suas interações com os usuários.
Autores como Lex Gill, Dennis Redeker e Urs observam que algumas dessas
legislações, embora situadas em um plano infraconstitucional, possuem uma natureza
"pré" ou "proto-constitucional", contribuindo para a interpretação das constituições
formais na esfera digital.
Entre nós, o Marco Civil da Internet (Lei nº 12.965/2014) conferiu centralidade
a cláusulas gerais de proteção da liberdade de expressão (art. 3º, inciso I), da privacidade
(art. 3º, inciso II) e da preservação da natureza participativa da rede (art. 3º, inciso VII),
estabelecendo limites à asseguração desses direitos tanto contra atores públicos quanto
contra atores privados. Por esse motivo, é possível afirmar que o MCI incorpora diversos
elementos da crescente literatura sobre constitucionalismo digital aqui discutida.
23
(i) não são diretamente responsáveis pelo conteúdo ilegal produzido pelos seus
usuários;
(ii) não podem ser compelidos a ter que verificar de forma a priori os conteúdos
a serem postados;
(iii) devem remover qualquer conteúdo ilegal das plataformas assim que
tiverem conhecimento disso e
(iv) devem desenvolver e manter mecanismos minimante efetivos de
identificação dos usuários.
26
A resposta definitiva sobre o tema, no entanto, será dada pela via da jurisdição
constitucional, quando do julgamento, pelo STF, do Recurso Extraordinário 1.037.396,
representativo do Tema 987 da sistemática da Repercussão Geral.
O debate a ser enfrentado pela Corte consiste em saber se é constitucional ter
que se exigir uma ordem judicial para compelir o provedor a remover determinado
conteúdo ou se o simples descumprimento de uma notificação extrajudicial do usuário
bastaria para caracterizar a responsabilidade do provedor perante a legislação
consumerista.
No caso concreto que deu ensejo à repercussão geral, uma usuária do
Facebook ajuizou ação contra a plataforma pela criação de um perfil falso que utilizava
o nome da autora da ação. No julgamento do recurso inominado, a Segunda Turma
Recursal Cível de Piracicaba/SP determinou não só a remoção do conteúdo, mas
também que o Facebook fosse condenado a pagar danos morais por não ter retirado o
conteúdo logo após a notificação da usuária.
A doutrina tem interpretado que o art. 19 do MCI representa uma escolha do
legislador pelo modelo de responsabilização judicial, visando preservar a liberdade de
expressão na internet, ainda que isso implique em certo sacrifício do controle absoluto
do usuário sobre a informação. No entanto, essa opção não impede que o provedor
remova o conteúdo na ausência de ordem judicial.
Se, a partir de uma notificação extrajudicial de um usuário, a empresa
identificar uma violação dos termos de uso da rede social, por exemplo, poderá
proceder à retirada do conteúdo, mesmo sem ordem judicial. Portanto, o art. 19 do MCI
não estabelece como única condição para remoção do conteúdo a existência de ordem
judicial; ao contrário, explicita que sempre que tal ordem existir, o conteúdo deve ser
removido pela plataforma.
Independentemente da interpretação que o STF possa dar ao MCI nesse ponto,
reconhece-se que o problema da responsabilidade de intermediários pelo conteúdo de
terceiros dificilmente se resolve por uma formulação abstrata da aferição do
cumprimento do dever de proteção dos direitos fundamentais pelo legislador.
Uma vez que as plataformas digitais exercem uma função mediadora e
adjudicatória de direitos que precede a atuação do estado, é fundamental repensar a
teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais para garantir a preservação dos
direitos de personalidade dos usuários, indo além da avaliação da atuação do legislador.
Com a incorporação dos valores do constitucionalismo digital, o controle de
constitucionalidade do art. 19 do MCI deve considerar, em termos factuais, o
comprometimento dos atores privados com o preceito constitucional de liberdade de 27
expressão (art. 5º, inciso IV, da CF/88).
Isso pode eventualmente significar uma abertura da jurisdição constitucional
para a avaliação concreta das práticas de conformação de direitos de personalidade
pelas plataformas digitais. A experiência acumulada do Poder Judiciário no tratamento
dessas questões certamente pode contribuir para a análise dos riscos e benefícios do
regime de responsabilidade subjetiva dos provedores de internet.
1.3. NEOCONSTITUCIONALISMO
2
Revista da EMERJ, v. 9, nº 33, 2006.
3
O constitucionalismo democrático no Brasil: crônica de um sucesso imprevisto.
link: https://www.migalhas.com.br/depeso/168919/o-constitucionalismo-democratico-no-brasil--
cronica-de-um-sucesso-imprevisto
3) Inovações hermenêuticas. O formalismo jurídico e a aplicação
automática da lei são substituídos por novos cânones
interpretativos, pela argumentação jurídica e pela ponderação;
4) Densificação da força normativa do Estado; e
5) Desenvolvimento da Justiça Distributiva.
31
A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO
b) Direito Administrativo
c) Direito Penal
A Constituição Federal de 1988 dispõe que todo poder emana do povo, que o
exerce por meio de seus representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição. Dessa forma, a titularidade do poder é do povo, podendo seu exercício se
dar de forma direta ou indireta.
A CF prevê como regra a Democracia Indireta (representativa), que é exercida
pelos representantes eleitos pelo voto popular.
Contudo, há mecanismos de exercício da Democracia Direta previstos
constitucionalmente, que possibilitam o exercício do poder diretamente pelo povo. São
estes: o referendo, o plebiscito, a iniciativa popular e a ação popular.
Confiram a previsão contida no art. 14 do texto constitucional:
“Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio
universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para
todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.”
1.4.1. PLEBISCITO
1.4.2. REFERENDO
Também regulado pela Lei 9.709/98, o referendo é uma consulta posterior que
confirma uma decisão já tomada, devendo ser autorizado por Decreto-Legislativo
editado pelo Congresso (art. 49, XV, da CF) por proposta de no mínimo 1/3 de qualquer
das casas.
A votação se dá por maioria simples e não passa por sanção do Presidente
(matéria exclusiva do Congresso).
São exemplos de REFERENDO realizados no Brasil, sob a égide da Constituição
de 88: o referendo para a manifestação do eleitorado sobre a manutenção ou rejeição
da proibição da comercialização de armas de fogo e munição (2005) - Lei 10.826/2003 -
Estatuto do Desarmamento; o referendo no Estado do Acre para decidir sobre o fuso
horário (2010).
ATENÇÃO! Embora esse não seja o perfil do ENAM, segue uma DICA para
memorização: número 1503 (1% do eleitorado, distribuído em 5 Estados, com 0,3%
do eleitorado em cada um deles).
Abaixo segue trecho da obra “Desafios do Direito no Século XXI - Diálogos Luso-
Brasileiros Governação e COVID-19” (Novembro/2021, página 96), em trecho escrito por
nossa coordenadora do ENAM que retrata um viés de participação popular também na
fiscalização da gestão pública.
1.5. EVOLUÇÃO CONSTITUCIONAL DO BRASIL
Nesse ponto é importante que tenhamos uma noção geral do histórico das
Constituições brasileiras, bem como as principais inovações trazidas por cada uma delas
no cenário nacional.
A. Constituição de 1824
59
i. após a declaração da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, a
Constituição do Império do Brasil foi outorgada em 25 de março de 1824;
ii. forte centralismo administrativo e político;
iii. forma de governo: Monarquia;
iv. forma unitária de Estado, com nítida centralização político-administrativa;
v. além das funções legislativa, executiva e judiciária, estabeleceu-se a função
moderadora. O Poder Moderador era exercido pelo Chefe do Executivo. Paulo
Bonavides, em uma obra clássica sobre história constitucional brasileira, disse que o
Poder Moderador no Brasil era como uma “constitucionalização do absolutismo”.
vi. eleições indiretas;
vii. sufrágio censitário, baseando-se em condições econômico-financeiras para
votar e para ser votado;
viii. a função executiva era exercida pelo Imperador, Chefe do Poder Executivo,
por intermédio de seus Ministros de Estado;
ix. Constituição semirrígida. Isso porque, quanto à alterabilidade, algumas
normas necessitavam de um procedimento mais solene e mais dificultoso para serem
alteradas; outras, contudo, eram alteradas por um processo legislativo ordinário;
x. não estabeleceu qualquer sistema de controle de constitucionalidade.
ATENÇÃO! Pergunta aplicada na prova oral do TJSP.
Como funcionava Estado e religião na Constituição de 1824?
A Constituição garantia liberdade de religião, mas o Brasil tinha religião oficial, que era
a religião católica. A liberdade religiosa era mitigada, de tal forma que outros cultos não
poderiam ser externos.
Os padres eram funcionários públicos remunerados pela Coroa. O imperador nomeava
os bispos, e as decisões religiosas do papa, para terem validade no Brasil, precisavam
ser pré-aprovadas pelo imperador. Portanto, havia certa confusão e interpenetração
entre Estado e religião.
A Constituição de 1824 perdurou até a proclamação da República.
B. Constituição de 1891
C. Constituição de 1934
Já caiu em prova:
TJRJ, 2011: “Na evolução político-constitucional brasileira, o
voto feminino no Brasil foi expressamente previsto pela primeira
vez num texto constitucional na Constituição de 1934”
(alternativa considerada correta).
TJRJ, 2014: “Uma, de fundo puramente liberal, ampliou o
municipalismo e incorporou importante capítulo relativo à
declaração de direitos e suas garantias. Outra mostrou força
renovadora na solução social apresentada em seu contexto, com
capítulos novos inspirados na Constituição alemã de Weimar.
Essas afirmações estão, correta e respectivamente, relacionadas
às Constituições brasileiras de 1891 e 1934” (alternativa
considerada correta). 62
D. Constituição de 1937
E. Constituição de 1946
i. Inspirou-se nas ideias liberais da Constituição de 1891 e nas ideias sociais da
Constituição de 1934;
ii. forma de governo: República;
iii. forma de estado: Federação;
iv. Tripartição de Poderes foi restabelecida na prática;
v. constitucionalização dos partidos políticos, consagrando-se o
pluripartidarismo;
vi. eleição direta para Presidente da República para mandato de 5 anos;
vii. consagrou o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional;
viii. vedou as penas de morte, salvo em tempo de guerra, além das penas de
banimento, de confisco e de caráter perpétuo;
ix. foi reconhecido o direito de greve;
x. a Emenda Constitucional nº 16/1965 estabeleceu o controle concentrado
genérico no país ao criar a ação direta de inconstitucionalidade, de competência
originária do Supremo Tribunal Federal. A legitimidade era exclusiva do Procurador
Geral da República e poderia ter por objeto tanto lei e ato normativo federal quanto
estadual, possibilitando assim o controle de constitucionalidade concentrado também
em âmbito estadual.
Em linhas gerais, a Constituição de 1946 foi fruto de uma Assembleia 63
Constituinte eleita e manteve os axiomas gerais do modelo da Constituição de 1934,
conjugando direitos individuais e sociais, mas retirando as excrescências autoritárias da
Constituição de 1937.
Obs.: breve experiência parlamentarista no período, instaurado pela Emenda
Constitucional 04 e que durou de 1961 até 1963.
F. Constituição de 1967
Já caiu em prova:
TJCE, 2018: “A preocupação com a implementação de
dispositivos constitucionais e, em particular, de suas promessas
sociais, não é central. As controvérsias constitucionais são
decididas com base nos códigos da política e conforme conflitos
de interesse. Nessa luta, acabam preponderando os interesses
dos grupos mais poderosos, dos denominados “sobrecidadãos”,
que conseguem utilizar a Constituição e o Estado em geral como
instrumento para satisfazer seus interesses. A juridicidade da
Constituição fica comprometida pela corrupção da 69
normatividade jurídica igualitária e impessoal, conforme o
binômio legal-ilegal. As controvérsias constitucionais são
decididas com base no código do poder S. Lunardi & D. Dimoulis.
Resiliência constitucional: compromisso maximizador,
consensualismo político e desenvolvimento gradual. São Paulo:
Direito GV, 2013, p. 15 (com adaptações)”
A concepção de Constituição a respeito da qual o texto
precedente discorre denomina-se Constituição simbólica
(alternativa considerada correta).
Quanto à Origem:
a) Promulgadas - São as Constituições que têm origem
democrática. Alguns chamam de votada ou popular (ex.: CF
1891; 1934; 1946; e 1988). Elaboradas por uma assembleia
nacional constituinte em nome do povo, pelo povo e para o
povo.
b) Outorgadas - São aquelas que foram impostas de maneira
unilateral por um agente revolucionário, assim não recebem
legitimidade popular (ex.: CF 1824, 1937, 1967 e emenda 1/69).
c) Cesaristas - Existe uma autorização popular por meio de
plebiscito ou referendo, mas o texto da Constituição é forçado
por um poder ditatorial (ex.: plebiscito napoleônicos e de
Pinochet no Chile). Também chamadas de napoleônicas ou
bonapartistas.
d) Pactuadas - Estas decorrem de um pacto entre os vários
titulares de poder (ex.: Magna Carta de 1215 na Inglaterra -
Decorreu de um pacto entre Realeza e Burguesia).
Quanto à Forma:
a) Escritas (instrumentalizada) - São aquelas sedimentadas em
documentos solenes, formais (ex.: CF 1988). Em algumas
Constituições escritas existe uma grande influência dos
costumes, como nos EUA. Podem ser codificadas ou legais.
b) Não escritas - Estas não trazem regras em um único texto
solene e codificado. É formada por textos esparsos,
73
reconhecidos pela sociedade como fundamentais. Além disso,
baseiam-se nos usos, costumes, jurisprudência e convenções
(ex.: Constituição Inglesa).
Quanto à Extensão:
a) Sintéticas (concisas, breves, sumárias, sucintas, básicas) - O
texto da Constituição é principiológico e não se funda em
detalhes. Esta espécie de Constituição tem maior manutenção
do texto no ordenamento (ex.: EUA).
b) Analíticas (amplas, extensas, largas) - O texto da Constituição
é minucioso. Esta espécie de Constituição está sujeita a uma
maior modificação dada a evolução social (ex.: CF 1988).
CAIU EM PROVA:
TJSC, 2019: A respeito das constituições classificadas como
semânticas, assinale a opção correta.
a) São aquelas que se estruturam a partir da generalização
congruente de expectativas de comportamento.
b) São aquelas cujas normas dominam o processo político; e
nelas ocorrem adaptação e submissão do poder político à
constituição escrita.
c) Funcionam como pressupostos da autonomia do direito; e
nelas a normatividade serve essencialmente à formação da
constituição como instância reflexiva do sistema jurídico.
d) São aquelas cujas normas são instrumentos para a
estabilização e perpetuação do controle do poder político pelos
detentores do poder fático.
e) São aquelas cujo sentido das normas se reflete na realidade
constitucional.
Resposta: Letra D.
Outras classificações:
a) Constituição-lei: tem status de lei ordinária.
b) Constituição-fundamento: liberdade do legislador é apenas
dar efetividade às normas constitucionais. 77
c) Constituição-quadro/constituição-moldura: legislador só
pode atuar dentro de determinado espaço estabelecido pelo
poder constituinte. Cabe à jurisdição constitucional verificar se
esses limites foram obedecidos.
ATENÇÃO! Não é o perfil de prova do ENAM, mas fica uma DICA para memorização
dos fundamentos: So-Ci-Di-Va-Plu.
José Afonso da Silva identifica quatro inspirações para este rol de princípios que
devem reger o Estado brasileiro em suas relações internacionais: a de caráter
nacionalista, expressa nas ideias de independência nacional, de autodeterminação dos
povos, de não intervenção e de igualdade entre os Estados; a de caráter
internacionalista, revelada na determinação de prevalência dos direitos humanos e de 85
repúdio ao terrorismo e ao racismo; a de caráter pacifista, exteriorizada nos dispositivos
que determinam a defesa da paz, de solução pacífica dos conflitos e a concessão de asilo
político; e a de caráter comunitarista, observada nas ideias de cooperação entre os
povos para o progresso da humanidade e no estímulo à formação de uma comunidade
latino-americana de nações.
Quanto à APLICABILIDADE:
A aplicabilidade se refere ao grau de alcance e realizabilidade dos dispositivos
constitucionais.
O § 1º do artigo 5º da Constituição Federal expressamente prevê que “As
normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata”.
Entretanto, a doutrina diverge sobre qual a extensão do comando constitucional, tendo
se desenvolvido quatro correntes, a saber:
a) A cláusula é irrelevante: não é possível alternar a natureza das coisas por
mero comando constitucional, haja vista que a aplicabilidade da norma depende não
somente da disposição normativa, mas também de requisitos técnicos e institucionais,
que não são preenchidos de forma imediata por força do comando constitucional.
Assim, a norma deve ser um vetor interpretativo para assegurar a máxima efetividade
dos direitos e garantias fundamentais.
b) A cláusula é regra absoluta: ainda que não haja regulamentação a respeito,
todos estão obrigados a garantir a eficácia plena das normas que dispõem sobre direitos
e garantias fundamentais, seja pela via da integração de lacunas, seja por intermédio de
mandado de injunção.
c) A cláusula é regra, mas não é absoluta: a cláusula deve ser observada dentro
das condições apresentadas pelas instituições estatais para o seu cumprimento, não
podendo ser afastada sempre que for possível o seu cumprimento de acordo com os
recursos existentes.
d) A cláusula é um princípio que deve ser realizado na maior extensão possível.
Como princípio, impõe a máxima otimização da aplicabilidade das normas definidoras
de direitos e garantias fundamentais, mas não afasta situações excepcionais em que não
seja possível a sua observância. Esta é a posição que prevalece e a mais segura a ser
adotada em concursos públicos.
Quanto à EFICÁCIA:
José Afonso da Silva classifica as normas constitucionais, quanto à eficácia, em:
ATENÇÃO! José Afonso da Silva entende que também são normas de eficácia contida as
que preveem restrições a direitos, por motivos de necessidade, de utilidade pública, de
interesse social, de iminente perigo público, de calamidade pública, de manutenção da
ordem, dentre outras da mesma natureza, por meio de atos administrativos.
90
OBS.: Virgílio Afonso da Silva critica a distinção entre normas de eficácia contida
e de eficácia plena, pois, mesmo estas últimas, seriam regulamentáveis (toda
regulamentação importa restrição) – não há direitos absolutos. A maneira de salvar a
classificação seria admitir que as normas plenas seriam restringíveis apenas dentro dos
limites expressa ou implicitamente decorrentes do texto constitucional (limites
imanentes), ao passo que as normas contidas admitiriam restrições adicionais impostas
pelo legislador ordinário.
Apesar das críticas doutrinárias, a classificação de José Afonso da Silva ainda é
bastante utilizada e muito cobrada em provas, razão pela qual deve ser memorizada.
CLASSIFICAÇÕES (nomenclaturas de outros doutrinadores):
- Absolutas ou
superficazes¹
NORMA
PRINCÍPIO REGRA
Dworkin critica Hart (Hart era considerado positivista “soft”, ou seja, acreditava
na relação contingente, mas não necessária, entre direito e moral), que defende que,
nos casos difíceis (“hard cases” não solucionados pela lei), o juiz decidiria com
discricionariedade (criaria uma lei para o caso concreto).
Para Dworkin, os princípios devem ser aplicados, chegando-se a uma decisão
justa e com base em direito preexistente. Assim, para cada caso haveria apenas uma
resposta, mesmo aplicando-se os princípios (ideia de integridade da jurisprudência, que
deve seguir uma lógica, como um “romance em cadeia”).
OBS.: a aplicação especial dos princípios se verifica nos hard cases, aqueles não
solucionáveis pela mera aplicação do raciocínio lógico - subsunção legal (STF, MC no MS
32.326).
DWORKIN (modo de aplicação):
REGRAS PRINCÍPIOS
ALEXY:
Para Alexy, diante dos “hard cases”, haveria várias respostas
argumentativamente aceitáveis.
REGRAS PRINCÍPIOS
- Princípios são mandamentos de otimização = normas que exigem que algo seja
cumprido na maior medida possível, de acordo com as possibilidades fáticas (caso
concreto) e jurídicas existentes (normas envolvidas) – Alexy).
- As regras devem ser satisfeitas ou não = se uma regra é válida e não comporta
qualquer exceção, então se deve fazer exatamente o que ela ordena. Não há aplicação
em maior ou menor medida (lógica do “tudo ou nada” – Dworkin).
Quanto à NATUREZA DAS RAZÕES:
- Princípios fornecem razões contributivas para a decisão (prima facie) = são aquelas
que podem ser afastadas por outras razões de peso maior (argumentos favoráveis e
contrários). Em uma colisão de princípios, as razões de um podem prevalecer sobre
os outros (ex.: meio ambiente e saúde x livre iniciativa – interpretação conforme a
Constituição que proibiu a importação de pneus usados – ADPF 101).
DWORKIN ALEXY
Quanto à DIMENSÃO:
- Princípios possuem dimensão de importância, peso e valor = os princípios são
resolvidos na dimensão da importância, isto é, em um caso concreto de colisão, o
afastamento de um princípio para aplicação de outro não significa que ele seja
inválido ou que não possa prevalecer em outro caso no qual as circunstâncias sejam
diversas.
ESQUEMATIZANDO:
PRINCÍPIOS REGRAS
MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO
CARACTERÍSTICAS
C. MÉTODO TÓPICO-PROBLEMÁTICO
CARACTERÍSTICAS DO MÉTODO
D. MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR
NÃO CONFUNDA:
TÓPICO-PROBLEMÁTICO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR
E. MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE
MÉTODO SÍNTESE
104
105
🎥 Sessão solene em comemoração aos 35 anos da CF/88 - Min. L.R Barroso (1:02:53)
🎥 A incerteza na e/ou por causa da interpretação constitucional - Min. L.R Barroso
1.14 DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO
Teoria formulada por Esmein, seguindo a linha de Karl Schmitt. Aduz que,
quando do surgimento de uma nova Constituição, ocorrem dois fenômenos em relação
à Constituição anterior:
1) as normas que fazem parte da Constituição propriamente
dita (materialmente constitucionais) ficam inteiramente
revogadas;
2) as normas que são apenas leis constitucionais (formalmente)
e que tiverem o conteúdo compatível com a nova Constituição
serão recebidas por ela como normas infraconstitucionais. 110
Apesar de Pontes de Miranda ter defendido essa teoria, é majoritaríssima a sua
não aceitação no ordenamento pátrio.
RECEPÇÃO
PRINCÍPIOS INSTRUMENTAIS
A. Unidade da Constituição
B. Efeito integrador
JÁ CAIU EM PROVA:
“A norma constitucional não tem existência autônoma em face
da realidade, e a constituição não configura apenas a expressão
de um ser, mas também de um dever ser. Assim, para ser
aplicável, a constituição deve ser conexa à realidade jurídica,
social, política; no entanto, ela não é apenas determinada pela
realidade social, mas também determinante desta. É correto
afirmar que o texto acima aborda o princípio da força normativa
da Constituição” (TJ-AL 2008). Alternativa correta.
F. Máxima efetividade
OBS.: Como já visto, toda norma constitucional possui eficácia, mas nem todas
possuem efetividade.
- Eficácia negativa = aptidão da norma para invalidar outras normas que lhe sejam
contrárias.
* Todas as normas constitucionais possuem eficácia negativa.
G. Justeza ou conformidade funcional
b) Conservação das normas = uma norma não deve ser declarada inconstitucional
quando puder ser interpretada em consonância com a constituição.
princípios e
• normas de 1º grau = buscam regular os casos concretos.
regras
PRINCÍPIO
RAZOABILIDADE
INTERPRETATIVO
PROPORCIONALIDADE
TÉCNICA DE SOLUÇÃO PONDERAÇÃO DE
DE CONFLITOS INTERESSES
a) Adequação = o meio utilizado deve ser apto para fomentar¹ o princípio almejado.
¹ Não necessita atingir, mas apenas fomentar.
b) Necessidade ou exigibilidade = dentre os meios aptos a fomentar o objetivo
perseguido (similarmente eficazes, não necessariamente iguais), deve-se optar pelo
menos oneroso possível ao princípio sacrificado.
PRINCÍPIO PRINCÍPIO
AFETADO FOMENTADO
séria séria
média média
leve leve
Exemplos:
1) afetação média e satisfação leve = inadequação;
2) afetação leve e satisfação séria = adequação - em casos de
empate do grau de afetação e o grau de satisfação, a questão é
resolvida pela “margem de atuação estrutural” conferida ao
legislador, democraticamente eleito = a lei é válida.
J. Princípio da razoabilidade (Importante para o ENAM!)
4 Trecho extraído neste tópico dos escritos de Oriana Piske no artigo: “Proporcionalidade e
Razoabilidade: Critérios de Intelecção e Aplicação do Direito”.
5 ZANCANER, Weida. Razoabilidade e moralidade: princípios concretizadores do perfil
constitucional do Estado Social e Democrático de Direito. In: MELLO, Celso Antônio Bandeira
de (Org.). Estudos em homenagem a Geraldo Ataliba: Direito Administrativo e Constitucional.
São Paulo: Malheiros, 1997. v. 2.
as diferenciações normativas sejam razoáveis e racionais. Isto quer dizer que a norma
classificatória não deve ser arbitrária, implausível ou caprichosa, devendo, ao revés,
operar como meio idôneo, hábil e necessário ao atingimento de finalidades
constitucionalmente válidas, Para tanto, há de existir uma indispensável relação de
congruência entre a classificação em si e o fim a que ela se destina.
Para Celso Antônio Bandeira de Mello 6, enuncia o princípio da razoabilidade
"que a Administração, ao atuar no exercício de discrição, terá de obedecer a critérios
aceitáveis do ponto de vista racional, em sintonia com o senso normal de pessoas
equilibradas e respeitosas das finalidades que presidiram a outorga da competência
exercida”.
Recaséns Siches7, aponta com brilhantismo a necessidade da observância do
princípio da razoabilidade pelo Poder Judiciário. Os ensinamentos do mestre estão
sintetizados de forma lapidar no seguinte trecho de sua monumental obra intitulada
Nueva Filosofía de la Interpretación del Derecho:
6
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 9 ed. São Paulo:
Malheiros, 1997.
7 RECASENS SICHES, Luis. Nueva Filosofia de la Interpretactión del Derecho. 2 ed. México:
Editorial Porrúa. 1973.
A LÓGICA DO RAZOÁVEL (IMPORTANTE PARA O ENAM!)
Para injetar uma veia humanística, desde já, em nossos alunos(as), tratamos
neste tópico de um tema de grande relevância para o ENAM (sem prejuízo de seu
estudo em outros tópicos em nosso estudo), como desdobramento do princípio da
razoabilidade (outra conexão com nossa aula inicial).
Buscando aperfeiçoar a filosofia jurídica que reputava insuficiente ao
aperfeiçoamento do Direito no século XX. Surge uma nova lógica material para o
Direito, visando substituir a lógica tradicional. Nasce a Lógica do Razoável. Afirma
Siches8, em tradução livre:
“O Direito é segurança; mas segurança no quê? Segurança
naquilo que é considerado justo e que a sociedade de uma
época importa-se fundamentalmente em garanti-lo por
considerar ineludível a seus fins. (...) O que o Direito deve
proporcionar é precisamente a segurança do Justo. (...) O que
o Direito pode nos oferecer é só um relativo grau de segurança
e certeza em um mínimo indispensável para vida social.”
Pode-se dizer que é uma visão de justiça distributiva, mas essa visão encontra-
se em permanente tensão com as exigências de ordem e estabilidade social. Tensão
entre Justiça e Segurança. Desse modo, Recaséns-Siches estabelece uma distinção na
121
Filosofia do Direito que seria acadêmica e não acadêmica.
A primeira, nada mais seria que a Teoria Geral do Direito como é conhecida.
A segunda, mais preocupadas com os problemas de ordem prática na experiência do
Direito, buscaria harmonizar tanto quanto possível a tensão os valores de justiça e
segurança e certeza.
8 RECASÉNS SICHES, Luis. Nueva filosofia de la interpretatión del derecho. México: Porrúa, 1973.
9 GONZAGA, Alvaro de Azevedo. Lógica do razoável. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso
Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Teoria
Geral e Filosofia do Direito. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga, André
Luiz Freire (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
Ao invés de focar-se na norma a ser aplicada, avalia-se a situação-problema.
A partir disso, através da hermenêutica, a decisão judicial atualizaria o sentido da
norma a cada sentença ou acórdão com qualidade de coisa julgada, numa espécie de
movimento inverso.
Não se define o critério de justiça com base apenas na norma posta, mas com
base nos valores sociais e nos fatos que atravessam o caso concreto. A esse método,
Recaséns Siches denomina Lógica do Razoável ou Lógica da Equidade. Portanto, o
jurista não precisa demonstrar que aquele caminho a ser percorrido é de acordo com
a lógica tradicional silogística; o juiz não precisa torcer a técnica para fundamentar
uma decisão de forma dedutiva.
Basta que percorra um caminho tridimensional partindo do fato, atualizando-
o com os valores correspondentes, para assim construir um significado normativo que
dê segurança jurídica ao caso, sempre perpassando sua construção intelectual
pela tópica e pelas retóricas contundentes, construindo assim uma decisão prudente,
equitativa e razoável para o caso, de modo a permitir um eficiente acesso à justiça e
uma maior efetividade do Direito.
O tema é de suma importância nos grandes debates da sociedade brasileira,
especialmente quando, em um olhar mais restrito, algumas decisões são logo
rotuladas como frutos do “ativismo judicial”, que, em boa parte de seus limites em
debate, tem na lógica do razoável um argumento para oferecer amparo à decisões que
não se restrinjam meramente ao silogismo clássico das aplicações positivistas da lei.
122
ASPECTOS CARACTERÍSTICOS DA LÓGICA DO RAZOÁVEL
10 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 20. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2002.
11 GONZAGA, Alvaro de Azevedo. Lógica do razoável. Enciclopédia jurídica da PUC-SP. Celso
Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga e André Luiz Freire (coords.). Tomo: Teoria
Geral e Filosofia do Direito. Celso Fernandes Campilongo, Alvaro de Azevedo Gonzaga, André
Luiz Freire (coord. de tomo). 1. ed. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
2017. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/62/edicao-1/logica-do-
razoavel
2. QUESTÕES
2. (TJSP, Vunesp, 2017) Leia o texto a seguir. “(…) arranca da ideia de que a leitura de
um texto normativo se inicia pela pré-compreensão do seu sentido através do
intérprete. A interpretação da constituição também não foge a esse processo: é uma
compreensão de sentido, um preenchimento de sentido juridicamente criador, em que
125
o intérprete efetua uma atividade prático normativa, concretizando a norma a partir de
uma situação histórica concreta. No fundo esse método vem realçar e iluminar vários
pressupostos da atividade interpretativa: (1) os pressupostos subjetivos, dado que o
intérprete desempenha um papel criador (pré-compreensão) na tarefa de obtenção de
sentido do texto constitucional: (2) os pressupostos objetivos, isto é, o contexto,
atuando o intérprete como operador de mediações entre o texto e a situação a que se
aplica: (3) relação entre o texto e o contexto com a mediação criadora do intérprete,
transformando a interpretação em ‘movimento de ir e vir’ (círculo hermenêutico). (…)
se orienta não por um pensamento axiomático mas para um pensamento
problematicamente orientado”. Da leitura do texto do constitucionalista J.J. Gomes
Canotilho, conclui-se que o autor se refere a que método de interpretação
constitucional?
a) Método tópico-problemático-concretizador.
b) Método científico-espiritual.
c) Método tópico-problemático.
d) Método hermenêutico-concretizador.
7. (TJPR, CESPE, 2017) Nossa Constituição, como a maioria das cartas políticas
contemporâneas, contém regras de diversos tipos, funções e naturezas, por postularem
finalidades diferentes, mas coordenadas e inter-relacionadas entre si, formando um
sistema de normas que se condicionam reciprocamente. Algumas delas são plenamente
eficazes e de aplicabilidade imediata; outras são de eficácia reduzida, dependem de
legislação que lhes integre o sentido e determine sua incidência; não são de
aplicabilidade imediata, mas são aplicáveis até onde possam. José Afonso da Silva.
Aplicabilidade das normas constitucionais. 6.ª ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 47
(com adaptações).
Tendo o fragmento de texto de José Afonso da Silva como referência inicial, assinale a
opção correta com relação à eficácia das normas constitucionais e aos princípios e à
interpretação da CF.
a) Segundo o STF, o desmembramento de município previsto na CF é norma de eficácia
contida.
b) Para o STF, a norma que estabelece o direito à aposentadoria especial dos servidores
públicos tem eficácia limitada.
c) De acordo com o princípio da unidade da CF, nenhuma lei ou ato normativo, nacional
ou internacional, pode subsistir se for incompatível com o texto constitucional.
d) A norma que prevê o direito dos necessitados à plena orientação jurídica e à integral
assistência judiciária não autoriza que o Poder Judiciário determine aos estados a
criação de órgãos da defensoria pública.
129
3. GABARITO COMENTADO
1. C
Com o advento do neoconstitucionalismo, os princípios ganham força normativa e
podem ser fonte de direito subjetivo tanto quanto as regras. Nesse sentido, sabendo-se
que o direito brasileiro confere força normativa aos princípios, a única opção correta
seria a letra “c”, haja vista que as alternativas “a” e “b” afastam a força normativa dos
princípios. A respeito da letra “d”, como visto, as normas constitucionais, que incluem
regras e princípios, não são todas de eficácia plena, havendo também normas de eficácia
contida e limitada, conforme teoria de José Afonso da Silva, o que torna a assertiva
incorreta.
2. D
MÉTODO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR: Método apresentado por Konrad Hesse na
obra “A força normativa da constituição”. Parte da ideia de que interpretação e
aplicação consistem em processo unitário (concretista) - possui três elementos básicos:
(1) a norma a ser concretizada;
(2) o problema a ser resolvido;
(3) a compreensão prévia do intérprete. A norma é resultado da interpretação (papel
ativo do intérprete) = concretização da norma. 130
TÓPICO-PROBLEMÁTICO HERMENÊUTICO-CONCRETIZADOR
A questão pode ser respondida pelos três elementos acima: pressupostos subjetivos,
pressupostos objetivos e círculo hermenêutico.
3. E
MÉTODO NORMATIVO-ESTRUTURANTE: Método apresentado por Friedrich Müller na
obra “Métodos de trabalho do direito constitucional”. A concretização da norma deve
ser feita por intermédio de vários elementos, dentre eles o metodológico (clássicos de
interpretação e princípios da interpretação da constituição), dogmáticos (doutrina e
jurisprudência), teóricos (teoria da constituição), política constitucional (ex.: reserva do
possível) = há uma relação social entre o texto e a realidade – a norma não compreende
apenas o texto, abarcando também um pedaço da realidade social, que é a parte mais
significativa (domínio normativo).
O método é concretista, mas entende que a norma não está inteiramente no texto,
sendo resultante da relação entre texto e realidade.
Atenção para o trecho da questão: “A normatividade, a que se refere o método, não se
esgota no texto (...)”. Texto + realidade: esse é o segredo do método.
131
4. E
FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO: Na aplicação da Constituição, deve ser dada
preferência às soluções concretizadoras de suas normas, que as tornem mais eficazes e
permanentes.
Tal princípio, idealizado por Konrad Hesse, empenha-se em demonstrar que não há de
se verificar uma derrota da Constituição quando colocada em oposição aos fatores reais
de poder. Deve-se ter em vista a chamada vontade da Constituição. Assim, como norma
jurídica, a Constituição possui força normativa suficiente para, coercitivamente, impor
as suas determinações.
5. D
Item D - Na verdade, são três as etapas, como estudado: necessidade, adequação e
proporcionalidade em sentido estrito.
6. A
Item I – Possuem eficácia plena (aplicabilidade direta, imediata e integral).
Item II – Correto.
Item III – Em verdade, tal direito é de eficácia limitada (depende de lei).
Item IV – Não há que se falar neste caso em inconstitucionalidade. Aqui, fala-se em
recepção ou não-recepção.
Relembrando:
RECEPÇÃO
Quando do surgimento de uma nova Constituição, as leis infraconstitucionais anteriores
que forem materialmente (conteúdo) compatíveis são recepcionadas (busca-se evitar o
vácuo legislativo). Já as materialmente incompatíveis não são recepcionadas (não
recepção = revogação).
A incompatibilidade formal superveniente NÃO impede a recepção e ainda faz com que
a norma adquira uma nova roupagem - um novo “status” (ex.: CTN, aprovado como LO
e recepcionado como LC = ADEQUAÇÃO).
7. B
ALTERNATIVA A: INCORRETA
De acordo com o entendimento do STF: “Norma constitucional de eficácia limitada,
porque dependente de complementação infraconstitucional, tem, não obstante, em
linha de princípio e sempre que possível, a imediata eficácia negativa de revogar as
regras preexistentes que sejam contrárias. Município: criação: EC 15/1996:
132
plausibilidade da arguição de inconstitucionalidade da criação de Municípios desde a
sua promulgação e até que lei complementar venha a implementar sua eficácia plena,
sem prejuízo, no entanto, da imediata revogação do sistema anterior. É certo que o novo
processo de desmembramento de Municípios, conforme a EC 15/1996, ficou com a sua
implementação sujeita à disciplina por lei complementar, pelo menos no que diz com o
Estudo de Viabilidade Municipal, que passou a reclamar, e com a forma de sua
divulgação anterior ao plebiscito. [ADI 2.381 MC, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 20-6-
2001, P, DJ de 14-12-2001.]”
ALTERNATIVA B: CORRETA
A aposentadoria especial do servidor público está prevista em norma de eficácia
limitada (art. 40, § 4º, da CF). Nesse sentido, é o entendimento do STF: “A Corte firmou
entendimento no sentido de que a competência concorrente para legislar sobre
previdência dos servidores públicos não afasta a necessidade da edição de norma
regulamentadora de caráter nacional, cuja competência é da União”. (MI 1898 AgR,
Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 16/05/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-107 DIVULG 31-05-2012 PUBLIC 01-06-2012).
ALTERNATIVA C: INCORRETA
O princípio que legitima a afirmativa é o princípio da supremacia da constituição, e não
o princípio da unidade.
ALTERNATIVA D: INCORRETA
Por diversas vezes, o STF já se posicionou em favor da possibilidade de controle
jurisdicional de políticas públicas. O caso em tela foi objeto do seguinte julgado:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO – EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO
RECURSO DE AGRAVO – DEFENSORIA PÚBLICA – IMPLANTAÇÃO – OMISSÃO ESTATAL
QUE COMPROMETE E FRUSTRA DIREITOS FUNDAMENTAIS DE PESSOAS NECESSITADAS
– SITUAÇÃO CONSTITUCIONALMENTE INTOLERÁVEL – O RECONHECIMENTO, EM FAVOR
DE POPULAÇÕES CARENTES E DESASSISTIDAS, POSTAS À MARGEM DO SISTEMA
JURÍDICO, DO “DIREITO A TER DIREITOS” COMO PRESSUPOSTO DE ACESSO AOS DEMAIS
DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS – INTERVENÇÃO JURISDICIONAL
CONCRETIZADORA DE PROGRAMA CONSTITUCIONAL DESTINADO A VIABILIZAR O
ACESSO DOS NECESSITADOS À ORIENTAÇÃO JURÍDICA INTEGRAL E À ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA GRATUITAS (CF, ART. 5º, INCISO LXXIV, E ART. 134) – LEGITIMIDADE DESSA
ATUAÇÃO DOS JUÍZES E TRIBUNAIS – O PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO NA
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS INSTITUÍDAS PELA CONSTITUIÇÃO E NÃO
EFETIVADAS PELO PODER PÚBLICO – A FÓRMULA DA RESERVA DO POSSÍVEL NA
PERSPECTIVA DA TEORIA DOS CUSTOS DOS DIREITOS: IMPOSSIBILIDADE DE SUA
INVOCAÇÃO PARA LEGITIMAR O INJUSTO INADIMPLEMENTO DE DEVERES ESTATAIS DE
PRESTAÇÃO CONSTITUCIONALMENTE IMPOSTOS AO ESTADO – A TEORIA DA
“RESTRIÇÃO DAS RESTRIÇÕES” (OU DA “LIMITAÇÃO DAS LIMITAÇÕES”) – CONTROLE
JURISDICIONAL DE LEGITIMIDADE DA OMISSÃO DO ESTADO: ATIVIDADE DE
FISCALIZAÇÃO JUDICIAL QUE SE JUSTIFICA PELA NECESSIDADE DE OBSERVÂNCIA DE
CERTOS PARÂMETROS CONSTITUCIONAIS (PROIBIÇÃO DE RETROCESSO SOCIAL,
PROTEÇÃO AO MÍNIMO EXISTENCIAL, VEDAÇÃO DA PROTEÇÃO INSUFICIENTE E
PROIBIÇÃO DE EXCESSO) – DOUTRINA – PRECEDENTES – A FUNÇÃO CONSTITUCIONAL
133
DA DEFENSORIA PÚBLICA E A ESSENCIALIDADE DESSA INSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA –
“THEMA DECIDENDUM” QUE SE RESTRINGE AO PLEITO DEDUZIDO NA INICIAL, CUJO
OBJETO CONSISTE, UNICAMENTE, na “criação, implantação e estruturação da
Defensoria Pública da Comarca de Apucarana” – RECURSO DE AGRAVO PROVIDO, EM
PARTE. - Assiste a toda e qualquer pessoa – especialmente àquelas que nada têm e que
de tudo necessitam – uma prerrogativa básica essencial à viabilização dos demais
direitos e liberdades fundamentais, consistente no reconhecimento de que toda pessoa
tem direito a ter direitos, o que põe em evidência a significativa importância jurídico-
institucional e político-social da Defensoria Pública. - O descumprimento, pelo Poder
Público, do dever que lhe impõe o art. 134 da Constituição da República traduz grave
omissão que frustra, injustamente, o direito dos necessitados à plena orientação jurídica
e à integral assistência judiciária e que culmina, em razão desse inconstitucional
inadimplemento, por transformar os direitos e as liberdades fundamentais em
proclamações inúteis, convertendo-os em expectativas vãs. - É que de nada valerão os
direitos e de nenhum significado revestir-se-ão as liberdades, se os fundamentos em
que eles se apoiam – além de desrespeitados pelo Poder Público ou transgredidos por
particulares – também deixarem de contar com o suporte e o apoio de um aparato
institucional, como aquele proporcionado pela Defensoria Pública, cuja função precípua,
por efeito de sua própria vocação constitucional (CF, art. 134), consiste em dar
efetividade e expressão concreta, inclusive mediante acesso do lesado à jurisdição do
Estado, a esses mesmos direitos, quando titularizados por pessoas necessitadas, que são
as reais destinatárias tanto da norma inscrita no art. 5º, inciso LXXIV, quanto do preceito
consubstanciado no art. 134, ambos da Constituição da República. - O desrespeito à
Constituição tanto pode ocorrer mediante ação estatal quanto mediante inércia
governamental. A situação de inconstitucionalidade pode derivar de um
comportamento ativo do Poder Público, que age ou edita normas em desacordo com o
que dispõe a Constituição, ofendendo-lhe, assim, os preceitos e os princípios que nela
se acham consignados. Essa conduta estatal, que importa em um “facere” (atuação
positiva), gera a inconstitucionalidade por ação. - Se o Estado deixar de adotar as
medidas necessárias à realização concreta dos preceitos da Constituição, em ordem a
torná-los efetivos, operantes e exequíveis, abstendo-se, em consequência, de cumprir o
dever de prestação que a Constituição lhe impôs, incidirá em violação negativa do texto
constitucional. Desse “non facere” ou “non praestare” resultará a inconstitucionalidade
por omissão, que pode ser total, quando é nenhuma a providência adotada, ou parcial,
quando é insuficiente a medida efetivada pelo Poder Público. Precedentes (ADI 1.458-
MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.). Doutrina. - É lícito ao Poder Judiciário, em face
do princípio da supremacia da Constituição, adotar, em sede jurisdicional, medidas
destinadas a tornar efetiva a implementação de políticas públicas, se e quando se
registrar situação configuradora de inescusável omissão estatal, que se qualifica como
comportamento revestido da maior gravidade político-jurídica, eis que, mediante
inércia, o Poder Público também desrespeita a Constituição, também ofende direitos
que nela se fundam e também impede, por ausência (ou insuficiência) de medidas
concretizadoras, a própria aplicabilidade dos postulados e princípios da Lei
Fundamental. Precedentes. Doutrina. - A função constitucional da Defensoria Pública e
a essencialidade dessa Instituição da República: a transgressão da ordem constitucional
– porque consumada mediante inércia (violação negativa) derivada da inexecução de
programa constitucional destinado a viabilizar o acesso dos necessitados à orientação
134
jurídica integral e à assistência judiciária gratuitas (CF, art. 5º, LXXIV, e art. 134) –
autoriza o controle jurisdicional de legitimidade da omissão do Estado e permite aos
juízes e Tribunais que determinem a implementação, pelo Estado, de políticas públicas
previstas na própria Constituição da República, sem que isso configure ofensa ao
postulado da divisão funcional do Poder. Precedentes: RTJ 162/877-879 – RTJ 164/158-
161 – RTJ 174/687 – RTJ 183/818-819 – RTJ 185/794-796, v.g.. Doutrina. (AI 598212 ED,
Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 25/03/2014, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-077 DIVULG 23-04-2014 PUBLIC 24-04-2014)
8. D
(A) INCORRETA. “A Metódica jurídica normativo-estruturante trabalha com a concepção
de que a norma jurídica não se identifica com seu texto (expresso), pois ela é o resultado
de um processo de concretização. Portanto, o texto da norma não possui normatividade,
mas sim, apenas validade. (...) Metaforicamente, o texto de uma norma deve ser visto
apenas como a ‘ponta do iceberg’” (Bernardo Gonçalves Fernandes, Curso de direito
constitucional, 7ª ed, Juspodivm, 2015, p. 191). Em verdade, o conceito trazido no item
mais se aproxima do método desenvolvido por Gadamer, e não o normativo-
estruturante, desenvolvido por Muller.
(B) INCORRETA. Trata-se do método tópico-problemático. O método de interpretação
científico-espiritual atesta que a Constituição deve ter em conta as bases de valoração
(ou ordens de valores) subjacentes ao texto constitucional. (Bernardo Gonçalves
Fernandes, Curso de direito constitucional, 7ª ed, Juspodivm, 2015, p. 191).
(C) INCORRETA. Não há óbice a que se utilize referida técnica de interpretação em
decisões que reconheçam a constitucionalidade de emendas constitucionais, conforme
doutrina majoritária.
(D) CORRETA. Trata-se, para a doutrina majoritária, de exemplos de situação
constitucional imperfeita, pois há uma atenuação de declaração da nulidade, haja vista
que preserva uma interpretação possível que se mostra compatível com o texto
constitucional. É dizer, pelo fato de não ter sido declarada a inconstitucionalidade da
norma como um todo – o que deveria acontecer - tem-se uma situação constitucional
imperfeita. Obs.: tal posicionamento foi considerado correto na prova objetiva do TJ/CE,
pela mesma banca CESPE.
(E) INCORRETA. Necessário para utilização da técnica que a norma seja plurívoca.
9. E
(A) INCORRETA. Filtragem constitucional: passar a lei no filtro da Constituição para
extrair dela o seu sentido mais correto. Não tem nada a ver com princípios x regras e
não enseja o efeito indicado.
(B) INCORRETA. Método apresentado por Theodor Viehweg na obra “Tópica e
jurisprudência: uma contribuição à investigação dos fundamentos jurídico-científicos”.
Baseia-se em “topos” (“topoi”), que são esquemas de pensamento, formas de
raciocínio, sistemas de argumentação, lugares comuns (podem ser extraídos da
jurisprudência, da doutrina, do senso-comum) – há uma argumentação jurídica em
torno de um problema a ser resolvido, com opiniões favoráveis e contrárias,
135
prevalecendo a que for mais convincente = adequação da norma ao problema (parte-
se dele, não do texto).
(C) INCORRETA. Método apresentado por Friedrich Müller na obra “Métodos de
trabalho do direito constitucional”. A concretização da norma deve ser feita por
intermédio de vários elementos, dentre eles o metodológico (clássicos de interpretação
e princípios da interpretação da constituição), dogmáticos (doutrina e jurisprudência),
teóricos (teoria da constituição), política constitucional (ex: reserva do possível) = há
uma relação social entre o texto e a realidade – a norma não compreende apenas o
texto, abarcando também um pedaço da realidade social, parte mais significativa
(domínio normativo).
(D) INCORRETA. O princípio da unidade da Constituição impõe que a Constituição deve
ser interpretada de modo a evitar conflitos, contradições e antagonismos entre suas
normas (refinamento da interpretação sistemática) = interpretação em conjunto com as
demais normas. Ele, justamente, afasta a tese da hierarquia das normas constitucionais
(Otto Bachoff). O STF já considerou que as normas constitucionais originárias estão
todas no mesmo patamar, devendo ser conciliadas (ADI 4097).
(E) CORRETA. Os princípios, na teoria de Robert Alexy, são mandados de otimização,
aplicados em vários graus, conforme a possibilidade fática e jurídica (colisão com outros
princípios). Alexy, seguindo a teoria da argumentação de Chaïm Perelman, afasta-se da
teoria da correspondência de Aristóteles. Seu critério da verdade, então, não é a
correspondência com a realidade, mas o fruto da construção discursiva – a verdade não
está no mundo, é uma produção cultural humana subordinada à refutabilidade
(falseabilidade) e que, por ser histórica, pode ser negada e substituída por um novo
argumento racional que lhe sirva de fundamento. Justamente por não se basear em
conceitos absolutos, mas em noções de probabilidade e verossimilhança (melhor tese
possível), diferentemente de Dworkin, Alexy refuta a possibilidade de uma única
resposta correta a um caso controverso (hard case) – haveria uma multiplicidade de
opções (respostas constitucionais possíveis), devendo a escolha ser pautada segundo
critérios de correção do discurso (decisão aproximadamente correta).
10. E
(A) INCORRETA.
A assertiva se equivoca ao dizer que existe separação entre o direito e a moral. O
neoconstitucionalismo é uma nova forma de se interpretar o Direito, que aproximado
da Moral, passa a contemplar juízos de valor com a finalidade de preservar, garantir e
promover os direitos fundamentais, que por estarem prescritos em regras ou princípios
constitucionais faz com que o Direito Constitucional se aloque no centro do sistema
jurídico irradiando sua forma normativa.
(B) CORRETA.
Constituições pluralistas ou compromissórias são aquelas que possuem normas
inspiradas em ideologias diversas. Geralmente resultam de um compromisso entre os
diversos grupos participantes do momento constituinte.
(C) INCORRETA. 136
A assertiva se equivoca ao dizer que nas constituições flexíveis, o conflito entre a
norma constitucional anterior e a lei superveniente resolve-se não pelo critério
hierárquico. Flexíveis são aquelas Constituições que não possuem um processo
legislativo de alteração mais dificultoso do que o processo legislativo de alteração das
normas infraconstitucionais. A dificuldade em alterar a Constituição é a mesma
encontrada para alterar uma lei que não é constitucional.
(D) INCORRETA.
O Brasil não adotou a teoria da dupla revisão, sendo inclusive entendido como uma
limitação implícita ao poder de reforma constitucional.
(E) INCORRETA.
No sentido sociológico, a Constituição, segundo a conceituação de Lassalle, seria a
somatória dos fatores reais do poder dentro de uma sociedade.