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MATEUS

MATEUS DARDENGO
DARDENGO MESQUITA
MESQUITA -- CPF:
CPF: 132.846.077-06
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RESUMO 4
DOS DIREITOS HUMANOS - PARTE II
SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO
SUMÁRIO
3. Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos .................................................................................... 3
3.6 Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).............................................................................................. 3
3.6.1 Atribuições ............................................................................................................................................................................................. 3
3.6.2 Requisitos de Admissibilidade de uma Petição ou Comunicação ..................................................................... 4
3.6.3 Tramitação Processual na Comissão Interamericana de Direitos Humanos ............................................ 4
3.7 Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) ............................................................................................. 9
3.8 Principais Julgados envolvendo o Brasil na Corte IDH ................................................................................................. 17
3.9 Protocolo de San Salvador ............................................................................................................................................................ 30
3.10 Protocolo Adicional para Abolição da Pena de Morte (Protocolo de Assunção) ....................................... 33
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REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................................................................. 33
DARDENGO MESQUITA
MATEUS DARDENGO
MATEUS CPF: 132.846.077-06
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3. Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos

3.6 Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)

Conforme estudado no material anterior, a CIDH foi criada em 1959 por meio da Resolução
VIII da Reunião de Consulta de Ministros das Relações Exteriores, realizada em Santiago (Chile). Desse
modo, alcançou base convencional apenas em 1967, com a elaboração do Protocolo de Buenos Aires
(1970), o qual promoveu reformas na Carta da OEA.

Com o advento da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa
Rica), a CIDH passou a exercer papel dúplice no âmbito do Sistema Interamericano de Proteção dos
Direitos Humanos: como órgão principal da OEA, encarregado de zelar pelos direitos humanos, e como
órgão da Convenção Americana.
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A Comissão Interamericana de Direitos Humanos ou CIDH é composta por 7 membros


(Comissários), que deverão ser pessoas de alta autoridade moral e reconhecido saber em matéria de
direitos humanos.

A escolha dos membros, eleitos a título pessoal, é feita a partir de propostas encaminhadas
pelos Estados-membros. Cada um dos referidos governos pode propor até três candidatos, nacionais
do Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado membro da Organização dos Estados
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Americanos. Quando for proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser
nacional de Estado diferente do proponente.

Os membros são eleitos para mandato 4 anos, podendo ser reeleitos apenas uma vez. Não
poderá compor a CIDH mais de um nacional do mesmo Estado.
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DARDENGO MESQUITA

Atualmente, o Brasil conta com uma jurista (Flávia Piovesan) compondo a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos.
MATEUS DARDENGO

3.6.1 Atribuições

São atribuições da CIDH, conferidas pela Carta da OEA, promover a observância e a defesa
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dos direitos humanos. Além disso, a Convenção Americana de Direitos Humanos (1969) conferiu
à Comissão o papel de submeter casos a competência contenciosa da Corte Interamericana (papel
dúplice), após o exercício de juízo de delibação, tendo em vista que os particulares não podem
peticionar diretamente à Corte (diferentemente do que ocorre no Sistema Europeu).

Não bastasse isso, a Comissão também tem como função formular recomendações aos
governos dos Estados membros; preparar estudos e relatórios; solicitar informações dos Estados acerca
das medidas adotadas em matéria de direitos humanos; elaborar o relatório anual à Assembleia Geral
da OEA sobre o cumprimento dos deveres atribuídos aos Estados na proteção dos direitos humanos
(o relatório anual é aplicado aos Estados membros da OEA que não se submetem à jurisdição da Corte
Interamericana, sendo competência da Assembleia Geral da OEA).

Apenas os Estados-membros e a Comissão têm legitimidade para submeter um caso


diretamente à Corte Interamericana. Assim, o particular deverá encaminhar sua denúncia ou queixa à
Comissão Interamericana, que verificará (juízo de delibação) a possibilidade de apresentação do caso
à Corte. Destarte, o cidadão não pode acionar diretamente à Corte IDH.

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Assim, diferentemente do Sistema Europeu, no que diz respeito à Corte, apenas Estados-
partes e a Comissão têm legitimidade para submeter um caso à sua competência contenciosa (Art.
61.1 da CADH).

Com relação à Comissão Interamericana, têm legitimidade para apresentar petições


contendo denúncias e queixas qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não-governamental
legalmente reconhecida em um ou mais Estados membros da OEA (Artigo 44 da CADH).

3.6.2 Requisitos de Admissibilidade de uma Petição ou Comunicação

Conforme o Artigo 46 da CADH, os requisitos de admissibilidade de uma Petição ou


Comunicação na Comissão Interamericana de Direitos Humanos são:

a) Esgotamento dos recursos internos;


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b) A apresentação da petição no prazo de 6 meses (prazo decadencial), após a notificação


do interessado da decisão definitiva em âmbito interno;
c) Ausência de litispendência internacional;
d) Requisitos formais: nome, nacionalidade, profissão, domicílio e assinatura da pessoa/
das pessoas/ou dos representantes legais da entidade que submeter a petição.
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Os requisitos das alíneas a) e b) não são exigíveis quando a legislação interna não assegurar
o direito ao devido processo legal; quando o peticionante não tiver acesso aos recursos da jurisdição
interna ou for impedido de esgotá-los; quando houver demora injustificada na decisão dos recursos.

Outrossim, a Comissão também declarará inadmissível:


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i) a petição que constitua a mera reprodução de outra já apresentada e examinada pela


Comissão ou por outro organismo internacional;
ii) a petição que exponha fatos não caracterizadores de violação de direitos humanos;
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iii) a petição manifestamente infundada, com evidente improcedência.

3.6.3 Tramitação Processual na Comissão Interamericana de Direitos Humanos


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O processamento de uma petição perante a Comissão de Direitos Humanos ocorre da


seguinte forma, resumidamente:

1) Cumpridos os requisitos e admitida a petição, a Comissão solicita informações ao


Estado denunciado, que deve responder em um prazo razoável;
2) Recebidas as informações – ou transcorrido o prazo de resposta - caso não subsistam
os motivos ensejadores da petição, ela será arquivada;
3) Se o processo não for arquivado, a Comissão examinará o assunto, podendo realizar
investigações, realizar visitas in loco e solicitar novas informações;
4) Se não houver solução amistosa, a Comissão redigirá um relatório com a exposição
dos fatos e suas conclusões, encaminhando-o aos Estados interessados, os quais
não poderão publicá-lo. Nesse relatório, a Comissão pode formular proposições e
recomendações.

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Sobre as visitas in loco, é importante observar que o Governo Brasileiro, ao depositar a
carta de adesão à Convenção, utilizou-se de uma declaração interpretativa dos arts. 43 e 48, alínea “a”,
da CADH, de modo que não admitiu o direito automático de visitas e inspeções in loco por parte da
Comissão. Desse modo, é necessária prévia autorização do Estado brasileiro para tanto.

Ademais, ainda sobre o procedimento, ressalta-se que o caso poderá ser solucionado
amistosamente. Caso se chegue a solução compositiva, a Comissão redigirá um relatório,
encaminhando-o aos peticionários, aos Estados-partes e ao Secretário-Geral da OEA, para publicação.

Veja-se o que dispõe o texto da CADH:

Artigo 49.
Se se houver chegado a uma solução amistosa de acordo com as disposições
do inciso 1, f, do artigo 48, a Comissão redigirá um relatório que será
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encaminhado ao peticionário e aos Estados Partes nesta Convenção e,


posteriormente, transmitido, para sua publicação, ao Secretário-Geral da
Organização dos Estados Americanos. O referido relatório conterá uma
breve exposição dos fatos e da solução alcançada. Se qualquer das partes
no caso o solicitar, ser-lhe-á proporcionada a mais ampla informação
possível.

Artigo 50.
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1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo que for fixado pelo
Estatuto da Comissão, esta redigirá um relatório no qual exporá os fatos
e suas conclusões. Se o relatório não representar, no todo ou em parte, o
acordo unânime dos membros da Comissão, qualquer deles poderá agregar
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ao referido relatório seu voto em separado. Também se agregarão ao


relatório as exposições verbais ou escritas que houverem sido feitas pelos
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interessados em virtude do inciso 1, e, do artigo 48.


2. O relatório será encaminhado aos Estados interessados, aos quais não
será facultado publicá-lo.
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3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as proposições e


recomendações que julgar adequadas.
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Artigo 51.
1. Se no prazo de três meses, a partir da remessa aos Estados interessados
do relatório da Comissão, o assunto não houver sido solucionado ou
submetido à decisão da Corte pela Comissão ou pelo Estado interessado,
aceitando sua competência, a Comissão poderá emitir, pelo voto da maioria
absoluta dos seus membros, sua opinião e conclusões sobre a questão
submetida à sua consideração.
2. A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um prazo dentro
do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe competirem para remediar
a situação examinada.
3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo voto da maioria
absoluta dos seus membros, se o Estado tomou ou não medidas adequadas
e se publica ou não seu relatório.

Com efeito, cumpre destacar alguns casos envolvendo o Brasil no âmbito da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), nos quais foi alcançada solução amistosa.

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• Caso dos Meninos Emasculados do Maranhão vs. Brasil

O caso envolve uma série de homicídios perpetrados contra meninos entre 8 e 15 anos de
idade (cerca de 28 homicídios) e, mais especificamente, o desaparecimento das crianças Raniê Silva
Cruz, Eduardo Rocha da Silva e Raimundo Nonato da Conceição Filho, na cidade de Paço do Lumiar/
MA, sendo seus corpos encontrados com marcas de tortura e emasculação nos órgãos genitais.

O caso não chegou a ser levado à Corte IDH, tendo sido apreciado apenas pela CIDH.
Houve alegação de que o Estado brasileiro violou suas obrigações à luz da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos e da Declaração Americana, por não adotar medidas eficazes no tocante
a prevenção e repressão dos crimes, dentre elas os direitos à vida, proteção judicial, proteção da
criança e garantias judiciais.

Para os denunciantes, houve um atraso injustificado por parte das autoridades locais
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na busca pelas crianças, e os inquéritos policiais sobre a responsabilidade pelos crimes foram
considerados demasiado morosos e ineficazes. Destacou-se que tal fato ocorreu devido a imperícia da
polícia do Estado do Maranhão e a omissão da Polícia Federal ao intervir de forma extemporânea nas
investigações.

Tal caso representa a primeira vez que o Brasil celebrou uma solução amistosa no âmbito
da Comissão Interamericana, após a admissibilidade do caso e antes da deliberação final1. O acordo
de solução amistosa, assinado em 15 de dezembro de 2005, contempla o seguinte:
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I. Reconhecimento de Responsabilidade;
II. Julgamento e Punição dos responsáveis;
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III. Medidas de Reparação;


III.1 - Reparação Simbólica;
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III.2 - Reparação Material;


IV. Medidas de não-repetição.
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• Caso Maria da Penha Maia Fernandes vs. Brasil


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Maria da Penha é um dos ícones de luta contra a violência doméstica. Sofreu mais de uma
tentativa de homicídio por parte de seu então marido. Certa vez, foi atacada enquanto dormia, ficando
paraplégica. Além disso, ele tentou eletrocutá-la enquanto ela tomava banho. Também foi vítima de
uma série de agressões. O MP ofereceu denúncia contra seu ex-marido, mas, mesmo passados 15 anos
o caso não tinha sido encerrado.

A denúncia apresentada pela Comissão, pela Senhora Maria da Penha, pelo Centro de
Justiça e Direito Internacional (CEJIL) e pelo Comitê Latino-Americano de Defesa da Mulher (CLADEM),
apontava a tolerância da República Federativa do Brasil para com a violência cometida por Marco
Antônio Heredia Viveiros, contra a sua então esposa Maria da Penha Maia Fernandes durante os anos
de convivência matrimonial, que culminou em tentativas de homicídio e agressões entre maio e junho
de 1983.

Denunciou-se a tolerância do Estado, por não haver efetivamente tomado por mais de 15
anos as medidas necessárias para processar e punir o agressor, apesar das ações penais em curso.
1 PAIVA, Caio C.; HEEMANN, Thimotie A. Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora
CEI, 2017. P. 733.

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Denunciou-se a violação dos artigos 1 (Obrigação de respeitar os direitos); 8 (Garantias judiciais); 24
(Igualdade perante a lei) e 25 (Proteção judicial) da Convenção Americana, em relação aos artigos II e
XVIII da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, bem como dos artigos 3, 4, a, b, c, d,
e, f, g, 5 e 7 da Convenção de Belém do Pará.

O caso correu à revelia do Brasil, embora esse tenha sido devidamente intimado para
apresentar resposta. Aqui, uma observação deve ser feita. O Brasil comumente desrespeita a CIDH,
o que não se dá com a Corte IDH. Portanto, é muito comum que ela seja ignorada, o que contradiz
a obrigação assumida ao ratificar a Convenção Americana em relação à faculdade da Comissão
para “atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua autoridade, em
conformidade com o disposto nos artigos 44 e 51 da Convenção”. Sendo assim, a Comissão analisou o
caso com base nos documentos apresentados pelos peticionários e outros elementos obtidos (artigo
42 de seu Regulamento).
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Veja-se a manifestação da CIDH:

“(...) considera conveniente lembrar aqui o fato inconteste de que a justiça


brasileira esteve mais de 15 anos sem proferir sentença definitiva neste
caso e de que o processo se encontra, desde 1997, à espera da decisão do
segundo recurso de apelação perante o Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará. A esse respeito, a Comissão considera, ademais, que houve atraso
injustificado na tramitação da denúncia, atraso que se agrava pelo fato de
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que pode acarretar a prescrição do delito e, por conseguinte, a impunidade


definitiva do perpetrador e a impossibilidade de ressarcimento da vítima”.

Assim, diante da análise documental e peticionário apresentado, a Comissão chegou à


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seguinte conclusão:
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“1. Que tem competência para conhecer do caso e que a petição é admissível
em conformidade com os artigos 46.2, c e 47 da Convenção Americana e com
o artigo 12 da Convenção de Belém do Pará, com respeito a violações dos
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direitos e deveres estabelecidos nos artigos 1.1 (Obrigação de respeitar os


direitos, 8 (Garantias judiciais), 24 (Igualdade perante a lei) e 25 (Proteção
judicial) da Convenção Americana em relação aos artigos II e XVIII da
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Declaração Americana, bem como no artigo 7 da Convenção de Belém do


Pará;

2. Que, com fundamento nos fatos não controvertidos e na análise acima


exposta, a República Federativa do Brasil é responsável da violação dos
direitos às garantias judiciais e à proteção judicial, assegurados pelos
artigos 8 e 25 da Convenção Americana em concordância com a obrigação
geral de respeitar e garantir os direitos, prevista no artigo 1.1 do referido
instrumento pela dilação injustificada e tramitação negligente deste caso
de violência doméstica no Brasil;

3. Que o Estado tomou algumas medidas destinadas a reduzir o alcance da


violência doméstica e a tolerância estatal da mesma, embora essas medidas
ainda não tenham conseguido reduzir consideravelmente o padrão de
tolerância estatal, particularmente em virtude da falta de efetividade da
ação policial e judicial no Brasil, com respeito à violência contra a mulher;

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4. Que o Estado violou os direitos e o cumprimento de seus deveres
segundo o artigo 7 da Convenção de Belém do Pará em prejuízo da Senhora
Fernandes, bem como em conexão com os artigos 8 e 25 da Convenção
Americana e sua relação com o artigo 1(1) da Convenção, por seus próprios
atos omissivos e tolerantes da violação infligida”.

E, na sequência, recomendou que:

“a) se completasse de forma rápida e efetiva o processamento penal do


responsável da agressão e tentativa de homicídio em prejuízo da Senhora
Maria da Penha Fernandes Maia;

b) se procedesse investigação séria, imparcial e exaustiva a fim de


determinar a responsabilidade pelas irregularidades e atrasos injustificados
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que impediram o processamento rápido e efetivo do responsável, bem


como tomasse as medidas administrativas, legislativas e judiciárias
correspondentes;

c) se adotasse, sem prejuízo das ações que possam ser instauradas contra
o responsável civil da agressão, as medidas necessárias para que o Estado
assegure à vítima adequada reparação simbólica e material pelas violações
aqui estabelecidas, particularmente por sua falha em oferecer um recurso
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rápido e efetivo; por manter o caso na impunidade por mais de quinze


anos; e por impedir com esse atraso a possibilidade oportuna de ação de
reparação e indenização civil;
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d) se prosseguisse e intensificasse o processo de reforma que evite a


tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência
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doméstica contra mulheres no Brasil, em particular:

I) Medidas de capacitação e sensibilização dos funcionários judiciais e


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policiais especializados para que compreendam a importância de não


tolerar a violência doméstica;
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II) Simplificar os procedimentos judiciais penais a fim de que possa


ser reduzido o tempo processual, sem afetar os direitos e garantias de
devido processo;

III) O estabelecimento de formas alternativas às judiciais, rápidas


e efetivas de solução de conflitos intrafamiliares, bem como de
sensibilização com respeito à sua gravidade e às consequências
penais que gera;

IV) Multiplicar o número de delegacias policiais especiais para a


defesa dos direitos da mulher e dotá-las dos recursos especiais
necessários à efetiva tramitação e investigação de todas as denúncias
de violência doméstica, bem como prestar apoio ao Ministério Público
na preparação de seus informes judiciais;

V) Incluir em seus planos pedagógicos, unidades curriculares


destinadas à compreensão da importância do respeito à mulher e a

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seus direitos reconhecidos na Convenção de Belém do Pará, bem
como ao manejo dos conflitos intrafamiliares.

e) se apresentasse à Comissão Interamericana de Direitos Humanos,


relatório sobre o cumprimento destas recomendações”.

O Brasil reconheceu sua omissão e comprometeu-se prestar reparações à vítima, Maria da


Penha, e a adotar medidas protetivas quanto a questão da violência doméstica, dentre essas medidas
destaca-se a promulgação da Lei Maria da Penha (Lei n° 11.340/2006).

3.7 Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH)

A Corte Interamericana é o órgão jurisdicional do Sistema Americano de Proteção dos


Direitos Humanos. Além da função contenciosa, a Corte também desempenha papel consultivo.
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Em regra, os particulares não podem acionar diretamente a prestação jurisdicional da Corte, sendo
necessária a intervenção da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Na Corte IDH prevalece o locus standi, em razão da legitimidade para propor casos ser
restrita aos Estados-membros e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. No Sistema Europeu
prevalece o jus standi, por admitir o peticionamento individual à Corte Europeia.

A Corte é composta por 7 juízes, nacionais dos Estados-membros da OEA, que devem
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gozar da mais alta autoridade moral e reconhecida competência em matéria de direitos humanos.
Além disso, os magistrados devem reunir condições para o exercício da mais elevada função judicial
em seu país (no caso do Brasil, o Supremo Tribunal Federal), de acordo com a legislação local.
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Embora composta por 7 juízes, o quórum de deliberação da Corte Interamericana de


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Direitos Humanos é de 5 juízes, nos termos do artigo 56 da CADH.

Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade na composição da Corte. Os


candidatos são indicados pelos próprios Estados, dependendo a escolha de maioria absoluta, por
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meio de votação secreta na Assembleia Geral da OEA. O mandato é de 6 anos, podendo o juiz ser
reeleito apenas uma vez.
MATEUS

Cada um dos Estados Partes poderá propor até três candidatos, nacionais do Estado que os
propuser ou de qualquer outro Estado membro da Organização dos Estados Americanos. Quando se
propuser uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado diferente
do proponente.

Os juízes da Corte, assim como os membros da Comissão, gozam das imunidades


reconhecidas aos agentes diplomáticos, desde o momento de sua eleição até o fim do mandato.

O juiz nacional de um determinado Estado-parte somente pode participar de um


julgamento envolvendo seu país nos casos oriundos de petições interestatais. No entanto, em casos
envolvendo mais de um Estado-parte, se já houver um juiz nacional de um deles, o outro poderá
designar juiz ad hoc, específico para o caso. Por exemplo: Se o Brasil denunciar a Argentina por grave
violação de direitos humanos e na composição da Corte houver um juiz brasileiro, a Argentina poderá
nomear um juiz ad hoc (magistrado nomeado para o ato). O Juiz ad hoc deve atender aos mesmos
requisitos de ingresso de um juiz regular da Corte.

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Essa previsão convencional, todavia, sofreu restrição de efeitos a partir da Opinião
Consultiva nº 20/2009. O tema do juiz ad hoc já foi objeto da referida Opinião Consultiva, tendo a Corte
Interamericana restringido a figura aos processos entre Estados. No caso de um particular peticionar
contra um Estado-membro, não mais se admite a figura do juiz ad hoc.

A Comissão far-se-á presente em todos os casos perante a Corte, mesmo se for um caso
entre Estados, oportunidade em que a Comissão exercerá uma espécie de papel de custos legis (Artigo
57 da CADH).

Ademais, ressalta-se que a Corte Interamericana de Direitos Humanos é órgão da Convenção


Americana (Pacto de San José da Costa Rica), no entanto, não é considera um órgão integrante da OEA.

A Corte possui jurisdição contenciosa e consultiva, mas os Estados não são obrigados a
reconhecer a competência contenciosa. Quando os Estados aderem à CADH, não são submetidos
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automaticamente à competência contenciosa da Corte IDH, sendo necessária a adesão ao protocolo


facultativo que prevê a competência contenciosa dessa corte (Artigo 62 da CADH).

O Brasil reconheceu a competência contenciosa da Corte Interamericana em 10 de


dezembro de 1998 e, em sua declaração, indicou que o Tribunal teria competência para os “fatos
posteriores” a esse reconhecimento.

Depois que o Estado adere à competência contenciosa da Corte, forma-se uma cláusula
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pétrea convencional, não sendo possível a denúncia do tratado para renunciar especificamente a
competência contenciosa da Corte. A única forma de denunciar tal competência é também denunciar
todo o tratado, ficando o Estado submetido à competência contenciosa da corte por apenas 1 anos
após a denúncia (Caso da Venezuela).
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Em função da competência consultiva (Artigo 64), a Corte IDH emite opiniões, que consistem
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na interpretação da Convenção (Pacto de San José da Costa Rica) e de outros tratados de proteção de
direitos humanos nos Estados americanos (inclusive a Declaração Americana dos Direitos e Deveres
do Homem, embora não seja um tratado). A consulta é realizada em abstrato, sem a análise específica
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de um caso concreto.

Outrossim, cumpre rememorar que a competência contenciosa é a capacidade da Corte


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Interamericana de Direitos Humanos de condenar um Estado por violações de direitos humanos


ocorridas em seu território. Em casos de condenação, admite-se a fixação de indenização revertida
à vítima da violação de direitos humanos, com a obrigação de reparação do dano (material, moral,
espiritual2, dano ao projeto de vida3,) e a devolução dos direitos e garantias dos suprimidos.

Ao receber um processo, a Corte procederá ao mesmo exame de admissibilidade realizado


pela Comissão. Isso significa que a Corte não está vinculada ao juízo de prelibação exercido pela CIDH
Além disso, enquanto requisito de admissibilidade, a Corte analisará o esgotamento do processo
internacional perante a Comissão (Art. 61.2 da CADH), ou seja realizará o juízo de delibação.

O Sistema Interamericano não admite o peticionamento individual à Corte IDH, sendo


necessária a intervenção da Comissão (Artigo 61). Além disso, admite-se o peticionamento direto de um
2 É uma modalidade de dano distinto do moral e material, sendo caracterizado pela ofensa aos aspectos culturais e religio-
sos de um povo. Trata-se de um tema relevante para a proteção dos direitos de comunidades tradicionais.
3 O dano ao projeto de vida foi reconhecido no Caso Niños de la Calle, em que a Corte IDH identificou a violação de direitos
humanos praticadas pelo Estado da Guatemala contra vítimas menores de idade, que foram sequestradas, torturadas e
mortas pela Polícia Nacional. O dano ao projeto de vida interfere na liberdade individual, já que as vítimas são privadas de
um projeto de vida diverso.

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Estado Parte contra outro, no entanto, tal previsão carece de efetividade, por desestabilizar as relações
diplomáticas entre os Estados e oportunizar o “efeito bumerangue” (denunciar e ser denunciado).

Em casos de extrema gravidade e urgência, para evitar danos irreparáveis às pessoas,


a Corte, nos casos que estiverem sob seu conhecimento, poderá diretamente tomar as medidas
provisórias pertinentes (Artigo 63.2 da CADH). Se o caso ainda não chegou à sua competência, poderá
assim atuar a pedido da Comissão.

Verifica-se, pois, que as medidas de urgência no Sistema Internacional de Direitos Humanos


podem ser tomadas pela CIDH ou pela Corte IDH, ambas em casos graves e urgentes. Entretanto,
quando tomadas pela CIDH são chamadas de medidas cautelares e quando tomados pela Corte IDH
são chamadas de medidas provisórias.

As medidas provisórias (liminares) expedidas pela Corte têm força vinculante e são
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expressamente previstas na CADH. Já as medidas cautelares, as quais não possuem previsão expressa
no Pacto de San José da Costa Rica (apenas no regulamento da própria Comissão), possuem caráter
de recomendação, e, portanto, não têm força vinculante. No exercício da competência contenciosa,
a sentença proferida pela Corte IDH pode determinar: a) o restabelecimento do direito ou liberdade
violados; b) a reparação do dano; c) o pagamento de indenização justa à parte lesada; d) a realização
de reparações imateriais.

A Sentença da Corte IDH é definitiva e inapelável, devendo ser devidamente fundamentada


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(Artigo 67 da CADH). Admite-se, contudo, um pedido de interpretação (espécie de embargos de


declaração) para esclarecer divergências sobre o sentido ou alcance da sentença, no prazo de 90 dias.

Os Estados são obrigados a cumprir integralmente a decisão da Corte, de acordo com o


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arcabouço normativo interno. A ressalva em questão não confere um caráter facultativo ao cumprimento
da sentença, mas possibilita que o Estado adote os mecanismos internos necessários ao cumprimento
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do dispositivo vinculante.

A sentença que determinar indenização compensatória poderá ser executada a partir do


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procedimento interno para execução de sentenças contra o Estado. No Brasil, a sentença da Corte IDH
é executada como uma sentença contra a Fazenda Pública.
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Não é necessária a homologação do STJ para as sentenças da Corte IDH. Apenas as sentenças
estrangeiras são submetidas à homologação do STJ, o que não abrange a jurisdição internacional da
qual o Brasil é signatário.

Independentemente de a violação ser cometida por Município, Estado ou União, a execução


sempre será procedida contra a União (Justiça Federal). Afinal, a condenação da Corte IDH é contra a
República Federativa do Brasil, sendo representada no plano interno pela União Federal.

Existe divergência doutrinária acerca da forma de pagamento, se esta deve ser submetida
ou não ao regime de precatórios. Em razão da gravidade dos casos e do risco de embaraçamento
internacional (represálias), os pagamentos não estão sendo submetidos ao regime dos precatórios,
conforme posicionamento de André de Carvalho Ramos.

• OPINIÕES CONSULTIVAS:

Nos termos indicados acima, a Corte IDH possui competência consultiva, a qual consiste
na interpretação da Convenção (Pacto de San José da Costa Rica) e de outros tratados de proteção de

11
direitos humanos nos Estados americanos (inclusive a Declaração Americana dos Direitos e Deveres
do Homem, embora esta não seja um tratado). A consulta é realizada em abstrato, sem uma análise
específica de um caso concreto, mas possui imensa relevância prática e teórica.

Até o momento, foram expedidas pela Corte Interamericana 25 Opiniões Consultivas,


tratando dos mais diversos temas. Aqui, faremos uma breve síntese do teor desses documentos.

Opinião Consultiva nº 1 (1982) – Foi solicitada pelo Peru. Esclareceu a Corte Interamericana
que a sua competência consultiva pode se dar sobre qualquer tratado internacional de
direitos humanos aplicável aos Estados americanos.

A Opinião Consultiva nº 1 foi uma metaconsulta, visando o esclarecimento sobre quais


documentos são abrangidos pela competência da Corte IDH.
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Opinião Consultiva nº 2 (1982) – Foi solicitada pela CIDH. Esclareceu a Corte que os Estados
se submetem à CADH desde o momento do depósito de seu instrumento de ratificação
ou adesão (com ou sem reservas). Quanto à denúncia da Convenção por um Estado, deve
ser observado o período de um ano até a retirada (Cláusula de Pré-Aviso). Além disso,
caso pretenda desvencilhar-se da jurisdição da Corte, o Estado deve também denunciar a
Convenção.

Essa OC nº 2 teve origem em questionamento da CIDH sobre qual o termo inicial da sujeição
CPF: 132.846.077-06

dos Estados à CADH.

Opinião Consultiva nº 3 (1983) – Foi solicitada pela CIDH. Determina a impossibilidade


de criação de penas de morte em face de crimes não punidos com essa sanção antes da
MESQUITA -- CPF:

adoção da Convenção Americana.


DARDENGO MESQUITA

Se o Estado aboliu a pena de morte no momento da ratificação da CADH, não poderá,


por meio de legislação posterior, aplicá-la para delitos que não tinham tal previsão no momento da
ratificação.
MATEUS DARDENGO

Opinião Consultiva nº 4 (1984) – Foi solicitada pela Costa Rica. Trata-se de consulta
referente a normas específicas de nacionalidade da Costa Rica. A Corte entendeu que a
MATEUS

alteração legislativa do Estado da Costa Rica não viola a Convenção Americana de Direitos
Humanos, já que estabelecer critérios diferenciados de naturalização para pessoas nascidas
em determinados países é plenamente possível.

Opinião Consultiva nº 5 (1985) – Foi solicitada pela Costa Rica. Impossibilidade de exigir
dos jornalistas diploma universitário e filiação ao Conselho Profissional de Jornalistas.

Manifestou-se a Corte nesse sentido visando impedir qualquer obstáculo desproporcional


à liberdade de expressão e de informação. Essa decisão, inclusive, foi citada pelo STF no julgamento
da ADPF nº 130, que seguiu a opinião da Corte IDH.

Opinião Consultiva nº 6 (1986) – Foi solicitada pelo Uruguai. Questionava-se o alcance da


expressão “leis” do art. 30 da CADH. A Corte esclareceu que o termo “leis” significa qualquer
norma jurídica de caráter geral emanada pelo Poder Legislativo democraticamente eleito e
constitucionalmente previsto no ordenamento doméstico de determinado país.

Opinião Consultiva nº 7 (1986) – Foi solicitada pela Costa Rica. A Corte esclareceu que

12
o direito de resposta deve ser protegido pelos Estados, sendo adotadas as medidas
legislativas que forem necessárias, independentemente de limitações do ordenamento
jurídico interno.

Opinião Consultiva nº 8 (1987) – Foi solicitada pela CIDH. A Corte esclareceu que a garantia
do Habeas Corpus é considerada cláusula pétrea convencional, não podendo ser suspensa
durante estados de emergência, guerra ou perigo público.

Opinião Consultiva nº 9 (1987) – Foi solicitada pelo Uruguai. A Corte esclareceu que
as garantias judiciais são consideradas cláusulas pétreas convencionais, seguindo o
entendimento da OC n° 8.

A OC nº 8 e a OC nº 9 já foram destacadas no estudo das cláusulas pétreas convencionais,


ou seja, garantias que não podem ser objeto de suspensão.
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Opinião Consultiva nº 10 (1989) – Foi solicitada pela Colômbia. Questionava-se a


possibilidade de a Corte exarar parecer opinativo sobre a Declaração Americana dos
Direitos e Deveres do Homem. A Corte IDH esclareceu que a DADDH pode ser objeto de
Opinião Consultiva.

A Corte decidiu que a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem deve
ser considerada “tratado internacional” para fins do art. 64 da CADH, sendo possível a emissão de
CPF: 132.846.077-06

pareceres consultivos acerca da declaração supramencionada, desde que dentro dos limites de sua
competência e em uma relação de conectividade com a CADH.

Opinião Consultiva nº 11 (1990) – Foi solicitada pela CIDH. Exceções ao Esgotamento dos
MESQUITA -- CPF:

Recursos Internos. A Corte decidiu que, caso reste configurada impossibilidade de utilização
dos recursos internos em razão da hipossuficiência econômica ou por inexistência de
DARDENGO MESQUITA

advogado que defenda os interesses do requerente, em virtude de possíveis represálias, é


possível afastar o requisito de esgotamento prévio dos recurso internos.
MATEUS DARDENGO

Opinião Consultiva nº 12 (1991) – Foi solicitada pela Costa Rica. Tratava da compatibilidade
entre um projeto de lei processual e a CADH. A Corte IDH recusou manifestação.
MATEUS

A Costa Rica possuía um Projeto de Lei em andamento que discutia o duplo grau de
jurisdição e a Corte IDH decidiu não analisar, pois a Costa Rica possuía vários casos sujeitos a jurisdição
contenciosa do órgão.

Opinião Consultiva nº 13 (1993) – Foi solicitada pela Argentina e pelo Uruguai. Trata das
possibilidades de atuação da Comissão Interamericana. Segundo a Corte, a CIDH pode se
manifestar sobre a regularidade de leis internas em relação à CADH. Se a CIDH diz que uma
petição é inadmissível, não cabem recursos. Princípio Estoppel.

Perceba que a OC nº 13 fixou três entendimentos: i) A lei interna pode ser analisada pela CIDH
em relação à CADH; ii) as decisões da Comissão sobre o não recebimento de petições são irrecorríveis;
e iii) os relatórios dos arts. 50 e 51 elaborados pela CIDH devem constar de documentos distintos.

Opinião Consultiva nº 14 (1994) – Foi solicitada pela CIDH. Trata da Responsabilidade


do Estado pela edição e aplicação de leis inconvencionais. A Corte estabeleceu que viola
a CADH a promulgação de uma lei em manifesto conflito com as obrigações assumidas
pelo Estado, sendo possível a sua responsabilização caso ocorra efetiva lesão a direitos

13
previstos na Convenção.

Opinião Consultiva nº 15 (1997) – Foi solicitada pelo Chile. A Corte esclareceu que a CIDH
não está autorizada a modificar os informes emitidos e nem a expedir um terceiro informe.

Opinião Consultiva nº 16 (1999) – Foi solicitada pelo México. Impossibilidade de um Estado


não notificar um preso estrangeiro de seu direito à assistência consular – violação do
devido processo legal.

Essa OC nº 16 solicitada pelo México objetivava resguardar os direitos de seus cidadãos de


solicitar a assistência consular ao serem presos, especialmente nos EUA.

Opinião Consultiva nº 17 (2002) – Foi solicitada pela CIDH. A Corte emitiu parecer no sentido
de que as obrigações de proteção dos direitos das crianças devem ser consideradas como
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obrigações erga omnes.

Opinião Consultiva nº 18 (2003) – Foi solicitada pelo México. Tratou dos direitos trabalhistas
dos imigrantes. A Corte esclareceu que o princípio da igualdade e não discriminação aplica-
se mesmo em favor de migrantes ilegais: “A qualidade migratória de uma pessoa não
pode constituir uma justificativa para privá-la do desfrute e do exercício de seus direitos
humanos, entre eles os de caráter trabalhista”.
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Opinião Consultiva nº 19 (2005) – Foi solicitada pela Venezuela. Questionava a existência


de órgão no Sistema Interamericano com competência para exercer controle de legalidade
sobre a atuação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Assentou a Corte IDH
que a Comissão tem plena autonomia e independência no exercício de seu mandato,
MESQUITA -- CPF:

atuando dentro do marco legal estabelecido pela Convenção.


DARDENGO MESQUITA

Opinião Consultiva nº 20 (2009) – Foi solicitada pela Argentina. Tratou da figura do Juiz
Ad Hoc. A Corte determinou que o Estado pode indicar um juiz ah hoc apenas em casos
contenciosos envolvendo Estados. Assim, o juiz nacional do Estado demandado não pode
MATEUS DARDENGO

conhecer de casos contenciosos originados de petições individuais.

Opinião Consultiva nº 21 (2014) – Foi solicitada pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
MATEUS

Trata da proteção de crianças em situação de migração. Para a Corte, os Estados devem


garantir a proteção dos direitos das crianças acima de qualquer consideração sobre
nacionalidade ou status migratório. Deve-se observar o Princípio do Non-Refoulement para
pessoas menores de 18 anos.

Opinião Consultiva nº 22 (2016) – Foi solicitada pelo Panamá. Trata da possibilidade de


pessoas jurídicas buscarem proteção no âmbito do Sistema Interamericano. A Corte IDH
entendeu que, em regra, as pessoas jurídicas não podem acessar o sistema interamericano
de direitos humanos, exceto comunidades indígenas, sindicatos e federações sindicais.

Opinião Consultiva nº 23 (2017) – Foi solicitada pela Colômbia. Questionava-se o âmbito


de aplicação das obrigações estatais relacionadas à proteção do meio ambiente. A Corte
emitiu parecer no sentido de recrudescer a proteção ambiental e garantir a efetiva tutela
do meio ambiente (inegável direito humano e essencial ao exercício e fruição dos demais
direitos humanos) por todos os Estados e entes privados no âmbito regional pelo Sistema
Interamericano.

14
Opinião Consultiva nº 24 (2017) - Foi solicitada pela Costa Rica. Trata sobre as obrigações
estatais em relação à identidade de gênero, mudança de nome, igualdade e não
discriminação de casais do mesmo sexo.

A Defensoria Pública da União e a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro atuaram


como amici curiae nessa OC, na qual foi firmado entendimento que a identidade de gênero é uma
categoria protegida pelos artigos 1º e 24 da CADH, além do estabelecido nos artigos 11.2 e 18 da
Convenção. Esta proteção contempla a obrigação de o Estado reconhecer e facilitar a mudança de
nome das pessoas, de acordo com a identidade de gênero de cada uma.

Ademais, a OC nº 24 entendeu também que a pessoa interessada em modificar seu nome


pode assim proceder mediante processo jurisdicional ou procedimento administrativo. O CNJ,
inclusive, regulamentou esse procedimento de modificação de nome.
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A OC nº 24 firmou ainda que a Convenção Americana protege, em virtude do direito à


proteção da vida privada e familiar (artigo 11.2), assim como o direito à proteção da família (artigo
17), o vínculo familiar que possa derivar de uma relação de um casal do mesmo sexo, possuindo papel
importante no direito de casamento homoafetivo.

Opinião Consultiva nº 25 (2018) – Foi solicitada pelo Equador. Trata das dimensões dos
asilos territorial e diplomático. Para a Corte, o art. 22.7 do Pacto de San José da Costa Rica
e o art. XXVII da Declaração Americana de Direitos Humanos contemplam apenas o asilo
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territorial. Assim, o asilo diplomático depende da legislação de cada Estado, que é livre
para regular a questão internamente. Em ambos os casos, todavia, deve-se observar o Non-
Refoulement.
MESQUITA -- CPF:

Opinião Consultiva nº 26 (2020) – Em 6 de maio de 2019, a República da Colômbia,


apresentou um pedido de Parecer Consultivo sobre “as obrigações de direitos humanos de
DARDENGO MESQUITA

um Estado que denuncia a Convenção Americana sobre Direitos Humanos e tenta se retirar
da Organização dos [Estados] Americanos” (doravante “o pedido” ou “o inquérito”). A
CorteIDH reforçou interpretações anteriores, reafirmando que as obrigações permanecem
MATEUS DARDENGO

intactas até a denúncia efetiva ocorrer, que a retirada não possui efeito retroativo,
mantendo o poder de se pronunciar sobre atos iniciados no período de vigência do tratado
ou antes da denúncia efetiva e continuados no tempo, além do dever de cumprir com
MATEUS

obrigações estipuladas pelos respectivos órgãos de monitoramento. Afirmou, inclusive,


expressamente, que: “as normas consuetudinárias, as derivadas de princípios gerais de
direito e as pertinentes ao jus cogens continuam a vincular o Estado em virtude do direito
internacional geral”. Isso significa que mesmo que o Estado saia da CADH, permanece
vinculado às normas e intepretações do direito consuetudinário geral ou regional.

Opinião Consultiva nº 27 (2021) – A CorteIDH reafirmou o direito à liberdade sindical à


pedido da CIDH. A Corte, com base, principalmente, no Art. 8º do Protocolo de San Salvador,
reforçou o direito à liberdade sindical nos seguintes termos:

i) A liberdade sindical, a negociação coletiva e o direito à greve têm uma relação de


interdependência e indivisibilidade. O respeito e garantia desses direitos é fundamental
para a defesa dos direitos laborais e de condições de trabalho justas, equitativas e
satisfatórias.

ii) Os direitos de reunião e liberdade de expressão, na sua relação com a liberdade


de associação, negociação coletiva e greve, constituem direitos fundamentais dos

15
trabalhadores, e dos seus representantes, de organizarem e manifestarem reivindicações
específicas sobre as suas condições de trabalho, podendo participar nas questões de
interesse público, razão pela qual os Estados têm o dever de respeitar e garantir esses
direitos.

iii) A normativa trabalhista (nacional e internacional) possui um nível mínimo de proteção


aos direitos laborais, de forma que não podem renunciar a tais direitos de modo prejudicial
aos trabalhadores por meio de negociação coletiva.

iv) Os Estados devem garantir o direito das mulheres, em igualdade de condições, a não
serem submetidas a atos de discriminação e a participar de todas as associações que
tratem da vida pública e política, incluindo sindicatos e organizações de trabalhadores
e trabalhadoras. Isso implica não estabelecer qualquer tipo de tratamento diferenciado
injustificadamente entre as pessoas por sua mera condição de mulher, e a obrigação dos
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Estados de criar condições de igualdade real no exercício dos direitos sindicais.

v) A autonomia sindical não abrange as medidas que limitem o exercício dos direitos
sindicais pelas mulheres no seio dos sindicatos, pelo contrário, obriga os Estados a
adoptarem medidas positivas que permitam às mulheres gozar da igualdade formal e
material no mercado de trabalho, espaço laboral e sindical, em particular as que combatem
os fatores estruturais que estão na base da persistência de estereótipos e papéis de gênero,
e que não permitem às mulheres o pleno gozo dos seus direitos sindicais.
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vi) Os Estados têm a obrigação de adaptar suas leis e práticas às novas condições do
mercado de trabalho, independentemente dos avanços tecnológicos que produzam
tais mudanças, e em atenção às obrigações de proteção dos direitos dos trabalhadores
MESQUITA -- CPF:

e trabalhadoras impostas pelas normas internacionais de direitos humanos de direitos


humanos, devendo para isso fomentar a participação efetiva dos representantes dos
DARDENGO MESQUITA

trabalhadores e trabalhadoras, e dos empregadores, na elaboração da política e legislação


laboral.
MATEUS DARDENGO

Opinião Consultiva nº 28 (2021) – Em 21 de outubro de 2019, a República da Colômbia


apresentou um pedido de Parecer Consultivo sobre “a figura da reeleição presidencial
indefinida no contexto do Sistema Interamericano de Direitos Humanos”. A conclusão da
MATEUS

CorteIDH foi:

i) A reeleição presidencial por tempo indeterminado não constitui um direito autônomo


protegido pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos ou pelo corpus iuris do
direito internacional dos direitos humanos.

ii) A proibição da reeleição indefinida é compatível com a Convenção Americana sobre


Direitos Humanos, a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e a Carta
Democrática Interamericana.

iii) A autorização da reeleição presidencial indefinida é contrária aos princípios da


democracia representativa e, portanto, às obrigações estabelecidas na Convenção
Americana sobre Direitos Humanos e na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do
Homem.

Opinião Consultiva nº 29 (2022) – Em 25 de novembro de 2019, a Comissão Interamericana


de Direitos Humanos apresentou um pedido de Parecer Consultivo sobre “Abordagens

16
Diferenciadas às Pessoas Privadas de Liberdade”. A conclusão da CorteIDH foi:

i) Os Estados devem aplicar um enfoque diferenciado no atendimento das necessidades


especiais dos diferentes grupos populacionais privados de liberdade para assegurar a
execução da pena com respeito à sua dignidade humana.

ii) Os Estados devem adotar abordagem diferenciada no tratamento das mulheres grávidas,
puérperas, puérperas e lactantes, bem como cuidadoras primárias, privadas de liberdade.

iii) Os Estados devem adotar um enfoque diferenciado no tratamento de meninos e meninas


que vivem em centros de internação com suas mães ou cuidadoras principais.

iv) Os Estados devem adotar um enfoque diferenciado no tratamento das pessoas LGBTI
privadas de liberdade.
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v) Os Estados devem adotar um enfoque diferenciado no tratamento das pessoas


pertencentes a povos indígenas privados de liberdade.

vi) Os Estados devem adotar um enfoque diferenciado no tratamento do idoso privado de


liberdade.

3.8 Principais Julgados envolvendo o Brasil na Corte IDH


CPF: 132.846.077-06

a) Caso Fazenda Brasil Verde:

O caso versa sobre trabalhadores submetidos a condição análoga a de escravos na Fazenda


MESQUITA -- CPF:

Brasil Verde, localizada no Estado do Pará.


DARDENGO MESQUITA

O Brasil foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por violação dos
direitos dos indivíduos de não serem submetidos a qualquer forma de escravidão, bem como de não
serem submetidos ao tráfico de pessoas (Art. 6.1 da CADH).
MATEUS DARDENGO

A Corte considera que os dois elementos fundamentais para definir uma situação como
escravidão são: i) o estado ou condição de um indivíduo e ii) o exercício de algum dos atributos do
MATEUS

direito de propriedade, isto é, que o escravizador exerça poder ou controle sobre a pessoa escravizada
ao ponto de anular a personalidade da vítima.

A Corte IDH também consignou condição de discriminação estrutural histórica em razão da


condição econômica.

b) Caso Favela Nova Brasília (Cosme Rosa Genoveva e Outros vs. Brasil):

O caso está relacionado às supostas execuções extrajudiciais de 26 pessoas - incluindo seis


menores - em conexão com ataques policiais pela Polícia Civil do Rio de Janeiro em 18 de outubro de
1994 e 8 de maio de 1995 no Favela Nova Brasília, no Rio de Janeiro. Alegou-se que essas mortes foram
justificadas pelas autoridades judiciais através do levantamento de “autos de resistência à prisão”.

A Corte concluiu que o Brasil vulnerou o direito às garantias judiciais (art. 8.1 da CADH),
o direito à proteção judicial (art. 25 da CADH), o direito à integridade pessoal (art. 5.1 da CADH), a
obrigação de respeitar os direitos (art. 1.1 da CADH) e o dever de adotar disposições de direito interno

17
para a proteção dos direitos humanos (art. 2 da CADH).

A violação de direitos, nesse caso, não se encontra somente na morte de pessoas, ocorridas
em um contexto e padrão de uso excessivo da força de execuções extrajudiciais realizadas pela política
no Brasil. O Estado brasileiro foi também punido, justamente, por ter sido omisso na investigação e
responsabilização dos agentes criminosos.

c) Caso Gomes Lund e Outros (Guerrilha do Araguaia):

Trata-se do desaparecimento forçado de mais de 70 pessoas, entre membros do partido do


PC do B e camponeses da região, resultado de operações do Exército brasileiro empreendidas entre
1972 e 1975 com o objetivo de erradicar a Guerrilha do Araguaia, que foi um movimento de resistência
à Ditadura Militar.
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A Corte IDH assentou que o Estado brasileiro era internacionalmente responsável pela
violação dos direitos ao reconhecimento da personalidade jurídica, à vida, à integridade pessoal e à
liberdade, em desfavor de 62 pessoas desaparecidas na Guerrilha do Araguaia.

A Comissão também submeteu o caso à Corte porque, em virtude da Lei nº 6.683/79 (Lei de
Anistia): “o Estado não realizou uma investigação penal com a finalidade de julgar e punir as pessoas
responsáveis pelo desaparecimento forçado de 70 vítimas e a execução extrajudicial de Maria Lúcia
Petit da Silva”.
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A Comissão solicitou ao Tribunal que declarasse o Brasil como responsável pela “violação
dos direitos estabelecidos nos artigos 3 (direito ao reconhecimento da personalidade jurídica), 4
(direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 7 (direito à liberdade pessoal), 8 (garantias judiciais),
MESQUITA -- CPF:

13 (liberdade de pensamento e expressão) e 25 (proteção judicial), da Convenção Americana sobre


Direitos Humanos, em conexão com as obrigações previstas nos artigos 1.1 (obrigação geral de respeito
DARDENGO MESQUITA

e garantia dos direitos humanos) e 2 (dever de adotar disposições de direito interno) da mesma
Convenção”, bem como medidas de reparação.
MATEUS DARDENGO

O Estado brasileiro se defendeu, por sua vez, alegando a) a incompetência ratione temporis
para examinar as supostas violações ocorridas antes do reconhecimento da jurisdição contenciosa da
Corte pelo Brasil; b) a incompetência em virtude da falta de esgotamento dos recursos internos; e c) o
MATEUS

arquivamento de imediato do caso, ante a manifesta falta de interesse processual dos representantes.
No que tange ao mérito, o Estado aduziu que a Corte deveria julgar improcedente a denúncia, pois o
Brasil já estava tomando todas as ações no sentido de construir uma solução pacífica no sentido de
reconciliar os incidentes.

Após prestado todo o trâmite instrutório, onde foram apresentadas provas de natureza
documental, testemunhal e pericial de ambas as partes, o julgamento da lide teve a seguinte conclusão:

1. Decidiu-se, por unanimidade, admitir parcialmente a exceção preliminar


de falta de competência temporal interposta pelo Estado, e rejeitar as
demais exceções preliminares interpostas;

Declarar, por unanimidade, que:

2. As disposições da Lei de Anistia brasileira que impedem a investigação e


sanção de graves violações de direitos humanos são incompatíveis com a
Convenção Americana, carecem de efeitos jurídicos e não podem seguir re-

18
presentando um obstáculo para a investigação dos fatos do presente caso,
nem para a identificação e punição dos responsáveis, e tampouco podem
ter igual ou semelhante impacto a respeito de outros casos de graves viola-
ções de direitos humanos consagrados na Convenção Americana ocorridos
no Brasil;

3. O Estado é responsável pelo desaparecimento forçado e, portanto, pela


violação dos direitos ao reconhecimento da personalidade jurídica, à vida,
à integridade pessoal e à liberdade pessoal, estabelecidos nos artigos 3, 4,
5 e 7 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em relação com o
artigo 1.1 desse instrumento;

4. O Estado descumpriu a obrigação de adequar seu direito interno à Con-


venção Americana sobre Direitos Humanos, contida em seu artigo 2, em
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relação aos artigos 8.1, 25 e 1.1 do mesmo instrumento, como consequên-


cia da interpretação e aplicação que foi dada à Lei de Anistia a respeito de
graves violações de direitos humanos. Da mesma maneira, o Estado é res-
ponsável pela violação dos direitos às garantias judiciais e à proteção judi-
cial previstos nos artigos 8.1 e 25.1 da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos, em relação aos artigos 1.1 e 2 desse instrumento, pela falta de
investigação dos fatos do presente caso, bem como pela falta de julgamen-
to e sanção dos responsáveis, em prejuízo dos familiares das pessoas desa-
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parecidas e da pessoa executada;

5. O Estado é responsável pela violação do direito à liberdade de pensa-


mento e de expressão consagrado no artigo 13 da Convenção Americana
MESQUITA -- CPF:

sobre Direitos Humanos, em relação com os artigos 1.1, 8.1 e 25 desse ins-
trumento, pela afetação do direito a buscar e a receber informação, bem
DARDENGO MESQUITA

como do direito de conhecer a verdade sobre o ocorrido. Da mesma manei-


ra, o Estado é responsável pela violação dos direitos às garantias judiciais
estabelecidos no artigo 8.1 da Convenção Americana, em relação com os
MATEUS DARDENGO

artigos 1.1 e 13.1 do mesmo instrumento, por exceder o prazo razoável da


Ação Ordinária;
MATEUS

6. O Estado é responsável pela violação do direito à integridade pessoal,


consagrado no artigo 5.1 da Convenção Americana sobre Direitos Huma-
nos, em relação com o artigo 1.1 desse mesmo instrumento, em prejuízo
dos familiares indicados na Sentença;

Dessa forma, entre as principais penalidades firmadas, destacam-se as de que:

a) o Estado deve conduzir eficazmente, perante a jurisdição ordinária, a in-


vestigação penal dos fatos do presente caso a fim de esclarecê-los, deter-
minar as correspondentes responsabilidades penais e aplicar efetivamente
as sanções e consequências que a lei preveja;

b) o Estado deve realizar todos os esforços para determinar o paradeiro das


vítimas desaparecidas e, se for o caso, identificar e entregar os restos mor-
tais a seus familiares;

c) o Estado deve oferecer o tratamento médico e psicológico ou psiquiátrico

19
que as vítimas requeiram e, se for o caso, pagar o montante estabelecido;

d) o Estado deve realizar um ato público de reconhecimento de responsabi-


lidade internacional a respeito dos fatos do presente caso;
e) o Estado deve continuar com as ações desenvolvidas em matéria de ca-
pacitação e implementar, em um prazo razoável, um programa ou curso
permanente e obrigatório sobre direitos humanos, dirigido a todos os ní-
veis hierárquicos das Forças Armadas;

f) Estado deve adotar, em um prazo razoável, as medidas que sejam neces-


sárias para tipificar o delito de desaparecimento forçado de pessoas em
conformidade com os parâmetros interamericanos. Enquanto cumpre com
esta medida, o Estado deve adotar todas aquelas ações que garantam o efe-
tivo julgamento, e se for o caso, a punição em relação aos fatos constitu-
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tivos de desaparecimento forçado através dos mecanismos existentes no


direito interno;

g) Estado deve continuar desenvolvendo as iniciativas de busca, sistemati-


zação e publicação de toda a informação sobre a Guerrilha do Araguaia, as-
sim como da informação relativa a violações de direitos humanos ocorridas
durante o regime militar, garantindo o acesso à mesma;
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Desse modo, o caso traz à tona a discussão acerca da convencionalidade das leis de anistia.
Antes mesmo de a Corte analisar o referido caso, o STF já se manifestara pela constitucionalidade da
Lei de Anistia brasileira, de 1979. Essa lei, por sua vez, foi declarada inconvencional pela Corte IDH.
MESQUITA -- CPF:

A decisão da Corte gerou discussões a respeito da possibilidade de estar ou não contrariando


a jurisprudência do STF. Nesse sentido, é preciso lembrar que a Corte não funciona como uma “quarta
DARDENGO MESQUITA

instância” ou órgão revisor das decisões dos Tribunais do país, ou seja, não reforma a decisão do STF,
o que não significa que o decidido pela Corte IDH seja meramente simbólico.
MATEUS DARDENGO

A sentença, no ponto resolutivo 9, veda a invocação de “prescrição, irretroatividade da


lei penal, coisa julgada, ne bis in idem ou qualquer excludente similar de responsabilidade” e, no
ponto resolutivo 3, declara que, na perspectiva do direito internacional, “as disposições da Lei de
MATEUS

Anistia brasileira que impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos
são incompatíveis com a Convenção Americana, carecem de efeitos jurídicos e não podem seguir
representando um obstáculo para a investigação dos fatos do presente caso, nem para a identificação
e punição dos responsáveis, e tampouco podem ter igual ou semelhante impacto a respeito de outros
casos de graves violações de direitos humanos consagrados na Convenção Americana ocorridos no
Brasil”.

Após a sentença, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) ajuizou nova arguição no


Supremo (ADPF 320), na qual busca a revisão do antigo precedente da Corte pela constitucionalidade
da Lei de Anistia, com base nos fundamentos declinados pela Corte internacional.

d) Caso Escher e Outros:

Caso de interceptação telefônica e monitoramento ilegal de integrantes do Movimento


dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), realizados pela Polícia Militar do Estado do Paraná, sem
observância das devidas formalidades legais. Questionado sobre a ilegalidade das interceptações o
Judiciário quedou-se inerte.

20
O erro do Estado não esteve apenas na ação policial desastrada, mas também na atuação
judicial que não se comportou conforme o próprio direito interno brasileiro determinava.

Assim, o Estado brasileiro foi julgado responsável pela violação dos direitos humanos das
vítimas (direito à privacidade, à honra, à reputação e à liberdade de associação), conforme sentença
de 20 de novembro de 2009, e condenado a reparar as vítimas, dar publicidade à decisão da Corte e
investigar os fatos que geraram as violações.

e) Caso Damião Ximenes Lopes:

No presente caso, retrata-se um dos primeiros envolvendo deficiência mental, sendo que
o Estado infrator foi o Brasil.
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A denúncia dizia que o Senhor Damião Ximenes Lopes havia sido internado, em 01.10.1999,
na Cada de Repouso Guararapes. Era local privado de atendimento à saúde mental, operado de acordo
com o SUS. Ficava localizado no município de Sobral, Ceará. Com apenas três dias de internação,
Ximenes Lopes veio à óbito.

A irmã do falecido apresentou a denúncia à Corte IDH, pois os fatos que levaram à morte do
Senhor Damião Ximenes Lopes possuíam indícios de violação do direito à vida, integridade psíquica
e os responsáveis pela morte não haviam sido penalizados.
CPF: 132.846.077-06

Inicialmente se relatou que a mãe do Senhor Ximenes Lopes o encontrara agonizando,


tendo solicitado socorro ao médico Francisco Ivo de Vasconcelos, acreditando que seu filho ia morrer
devido às condições em que se encontrava. No entanto, o médico não atendeu seus pedidos. O senhor
MESQUITA -- CPF:

Damião Ximenes Lopes morreu no mesmo dia.


DARDENGO MESQUITA

O corpo do Senhor Ximenes apresentava marcas de tortura, com punhos dilacerados


e completamente roxos, e mãos também perfuradas, com sinais de unhas e uma parte do seu nariz
machucado. A causa da morte foi dada pelos médicos como “morte natural, parada cardiorrespiratória.”
MATEUS DARDENGO

O corpo do senhor Damião Ximenes Lopes foi então levado para Fortaleza para que fosse realizada uma
necropsia, a qual também concluiu que se tratava de “morte indeterminada”. A família não acreditou
nesse laudo e pensou ter havido manipulação e omissão da verdade.
MATEUS

Na busca pela verdade real dos fatos, a família do falecido encontrou muitas pessoas que
sofreram maus-tratos ou que tiveram parentes espancados dentro da Casa de Repouso Guararapes,
mas ninguém tinha interesse em denunciar por receio de represálias.

Assim, após os procedimentos padrões, em 08.10.2003, a Comissão aprovou o Relatório


de Mérito nº 43/03, concluindo que o Estado era responsável pela violação de diversos direitos
consagrados pela Convenção, no que se refere à hospitalização de senhor Damião Ximenes Lopes em
condições desumanas e degradantes, às violações a sua integridade pessoal e ao seu assassinato, bem
como às violações da obrigação de investigar, do direito a um recurso efetivo e das garantias judiciais
relacionadas com a investigação dos fatos. A Comissão recomendou ao Estado a adoção de uma série
de medidas para reparar as mencionadas violações.

Por ausência de cumprimento das determinações por parte do Estado, o caso foi submetido
à Corte IDH em 1º de outubro de 2004. Após dois anos de trâmite, mais precisamente em 4 de julho de
2006 a Corte proferiu sentença condenando o Brasil, por unanimidade, nos seguintes termos:

21
1. O Estado deve garantir, em um prazo razoável, que o processo interno
destinado a investigar e sancionar os responsáveis pelos fatos deste caso
surta seus devidos efeitos;

2. O Estado deve publicar, no prazo de seis meses, no Diário Oficial e em ou-


tro jornal de ampla circulação nacional, uma só vez, o Capítulo VII relativo
aos fatos provados na Sentença, sem as respectivas notas de pé de página,
bem como sua parte resolutiva;

3. O Estado deve continuar a desenvolver um programa de formação e capa-


citação para o pessoal médico, de psiquiatria e psicologia, de enfermagem
e auxiliares de enfermagem e para todas as pessoas vinculadas ao atendi-
mento de saúde mental, em especial sobre os princípios que devem reger
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o trato das pessoas portadoras de deficiência mental, conforme os padrões


internacionais sobre a matéria e aqueles dispostos na Sentença;

4. O Estado deve pagar, em dinheiro, para as senhoras Albertina Viana Lo-


pes e Irene Ximenes Lopes Miranda, no prazo de um ano, a título de inde-
nização por dano material, a quantia fixada nos parágrafos 225 e 226 da
Sentença (U$ 1.500,00 e U$ 10.000,00, respectivamente);
CPF: 132.846.077-06

5. O Estado deve pagar em dinheiro para as senhoras Albertina Viana Lopes


e Irene Ximenes Lopes Miranda e para os senhores Francisco Leopoldino Lo-
pes e Cosme Ximenes Lopes, no prazo de um ano, a título de indenização
por dano imaterial, a quantia fixada no parágrafo 238 da Sentença (mon-
MESQUITA -- CPF:

tante total fixado em U$ 125.000,00);


DARDENGO MESQUITA

6. O Estado deve pagar em dinheiro, no prazo de um ano, a título de custas


e gastos gerados no âmbito interno e no processo internacional perante o
sistema interamericano de proteção dos direitos humanos, a quantia fixa-
MATEUS DARDENGO

da no parágrafo 253 (U$ 10.000,00), a qual deverá ser entregue à senhora


Albertina Viana Lopes;
MATEUS

7. Supervisionará o cumprimento íntegro desta Sentença e dará por con-


cluído este caso uma vez que o Estado tenha dado cabal cumprimento ao
disposto nesta Sentença. No prazo de um ano, contado a partir da notifica-
ção desta Sentença, o Estado deverá apresentar à Corte relatório sobre as
medidas adotadas para o seu cumprimento.

Tal decisão retratou um verdadeiro marco quanto as garantias judiciais, a violação do


direito à vida e à integridade pessoal. Foi um dos primeiros casos que envolveu pessoa com deficiência
na Corte IDH. Estabeleceu deveres do Estado na elaboração de uma política antimanicomial.

f) Caso Garibaldi:

Caso de desocupação forçada de propriedade situada no município de Querência do


Norte, no Estado do Paraná, realizado por grupo de homens encapuzados e armados, sem autorização
judicial, que levou à morte do trabalhado rural chamado Sétimo Garibaldi, integrante do MST.

A Corte IDH concluiu que as autoridades estatais não atuaram com a devida diligência

22
na investigação da morte de Sétimo Garibaldi, a qual, ademais, excedeu a um prazo razoável. Assim,
considerou violados os direitos às garantias e proteção judiciais previstas no art. 8.1 e 25.1 da Convenção
Americana de Direitos Humanos.

O Estado brasileiro foi condenado a dar ampla publicidade à decisão, investigar e punir os
responsáveis pela morte da vítima, investigar eventuais falhas funcionais, pagar indenização à família
da vítima e restituir gastos e custas processuais.

g) Caso Gilson Nogueira de Carvalho:

O caso trata do homicídio de Gilson Nogueira de Carvalho, advogado e defensor de direitos


humanos no Estado do Rio Grande do Norte. Acusava-se o Brasil de não ter investigado e punido os
responsáveis, violando o direito de acesso à justiça das vítimas.
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Trata-se de mais um caso envolvendo violência contra movimentos sociais e contra


defensores de direitos humanos. Entretanto, a demanda foi considerada improcedente pela Corte
Interamericana.

Embora a Comissão tenha levado o caso à Corte, analisando o acervo fático que contornava
o caso, entendeu a Corte IDH que não ficou provado que o Estado brasileiro foi omisso na investigação
dos fatos, uma vez que os responsáveis já haviam sido pronunciados para julgamento pelo Tribunal do
Júri. Esse caso, portanto, refere-se a uma demanda improcedente contra o Brasil.
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h) Caso Povo Indígena Xucuru:

O caso está relacionado à alegada violação do direito à propriedade coletiva dos indígenas
MESQUITA -- CPF:

Xucuru como resultado de: (i) atraso de mais de 16 anos entre 1989 e 2005 no processo administrativo
de reconhecimento, titulação, demarcação e delimitação de suas terras e territórios ancestrais; e (ii)
DARDENGO MESQUITA

atraso no saneamento total das referidas terras e territórios, de modo que os indígenas pudessem
exercer esse direito de forma pacífica.
MATEUS DARDENGO

O caso também está relacionado à violação dos direitos de garantias judiciais e proteção
judicial, como consequência da violação de prazo razoável no respectivo processo administrativo,
bem como do atraso na resolução de ações civis iniciadas por pessoas não indígenas com relação com
MATEUS

parte das terras e territórios ancestrais da cidade indígena de Xucuru.

Em 16.03.16, a CIDH encaminhou-o à Corte IDH, considerando que o Brasil violou o direito à
propriedade, consagrado no artigo XXIII da Declaração Americana de Direitos Humanos e no artigo 21,
bem como o direito à integridade pessoal, previsto no art. 5º da Convenção Americana, em detrimento
do povo indígena Xucuru e seus membros.

Veja-se trecho da decisão:

“I - demora de mais de 16 anos, entre 1989 e 2005, no processo administrati-


vo de reconhecimento, titulação, demarcação e delimitação de suas terras
e territórios ancestrais; II - demora na desintrusão total dessas terras e ter-
ritórios, para que o referido povo indígena pudesse exercer pacificamente
seu direito de propriedade; III - suposta violação dos direitos às garantias
judiciais e à proteção judicial, em consequência do alegado descumprimen-
to do prazo razoável no processo administrativo respectivo, bem como da
suposta demora em resolver ações civis iniciadas por pessoas não indíge-

23
nas com relação a parte das terras e territórios ancestrais do Povo Indígena
Xucuru”.

No julgamento do caso Povo Indígena Xucuru vs. República Federativa do Brasil, a Corte
IDH reiterou sua jurisprudência de que não possui competência para julgar fatos ocorridos antes do
reconhecimento da sua competência contenciosa pelo Estado-membro que supostamente praticou as
violações. Tal entendimento já foi aplicado nos casos Gomes Lund e Outros (Guerrilha do Araguaia) e
Favela Nova Brasília.

Ademais, o Tribunal reconheceu sua incompetência para analisar violações a direitos


previstos na Convenção nº 169 da OIT, uma vez que esse instrumento não compõe o Sistema
Interamericano de Direitos Humanos. Contudo, a Corte ressaltou que não há óbice a utilização desse
e de outros diplomas internacionais como referenciais para aplicação das normas da Convenção
Americana, sob a ótica do desenvolvimento da matéria dos Direitos Humanos no plano internacional.
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i) Caso Vladimir Herzog:

Em 24.10.1975, Vladimir Herzog, diretor de jornalismo da TV Cultura, foi chamado a


comparecer no DOI-CODI de São Paulo para prestar declarações, sendo então detido sem ordem
judicial e assassinado. Todavia, a morte do jornalista foi apresentada à sociedade como suicídio, o
qual foi forjado pelos agentes do Estado.
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A família da vítima buscou, sem êxito, a investigação do ocorrido e a responsabilização dos


envolvidos, entretanto, o TJ-SP considerou a Lei de Anistia como óbice para esse propósito. Após o
esgotamento de recursos internos, o caso chegou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos4.
MESQUITA -- CPF:

A CIDH solicitou o Estado a adotar todas as medidas necessárias para garantir que a Lei nº
6.683/79 (Lei de Anistia) e outras disposições do direito penal, como a prescrição, a coisa julgada e os
DARDENGO MESQUITA

princípios da irretroatividade e do ne bis in idem (direito de não ser julgado duas vezes pelo mesmo
crime), não continuem representando um obstáculo para a persecução penal de graves violações de
direitos humanos, a exemplo do presente caso.
MATEUS DARDENGO

Também urgiu o Estado a outorgar uma reparação aos familiares de Vladimir Herzog, que
inclua o tratamento físico e psicológico, e a celebração de atos de importância simbólica que garantam
MATEUS

a não repetição dos crimes cometidos no presente caso e o reconhecimento da responsabilidade


do Estado pela prisão arbitrária, tortura e assassinato da vítima, e pela dor de seus familiares. E,
finalmente, a Comissão solicitou ao Brasil reparar adequadamente as violações de direitos humanos,
tanto no aspecto material, quanto moral.

Em 2016, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos enviou o caso à Corte IDH para
julgamento.

Em 4 de julho de 2018, a Corte IDH condenou o Estado brasileiro pela prisão, tortura e
morte de Vladimir Herzog. A Corte considerou o Brasil responsável pela violação dos direitos previstos
nos artigos 5.1 (direito à integridade física, psíquica e moral), 8.1 (razoável duração do processo e 25.1
(proteção judicial), todos da Convenção Americana de Direitos Humanos.

A Corte determinou que sejam reiniciadas as investigações sobre o caso e o processo


penal cabível, para que seja possível identificar, processar e punir os responsáveis pela morte de
4 PAIVA, Caio C.; HEEMANN, Thimotie A. Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora
CEI, 2017. P. 654.

24
Herzog. Foi determinado também que o Brasil adote “medidas mais idôneas” para que se reconheça a
imprescritibilidade de crimes internacionais e contra a humanidade.

Destaques do caso:

a) Violações de direitos humanos após a aceitação da jurisdição contenciosa da Corte IDH;


b) Inversão do ônus da prova;
c) Inconvencionalidade das leis de autoanistia;

j) Caso Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus vs. Brasil:

Em 1998, grave explosão ocorrida em uma fábrica de fogos de artifício, localizada no


município de Santo Antônio de Jesus/BA, causou a morte de cerca de 64 pessoas, ferindo outras.
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Dentre as vítimas estavam mulheres e crianças.

A explosão da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus resultou em quatro processos


judiciais. Contudo, mais de 20 anos depois, apenas dois dos processos foram encerrados, sem no
entanto garantirem uma reparação justa às vítimas da explosão.

Em 04.10.18, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos concluiu que o Estado


brasileiro é responsável pelos danos causados pela explosão da fábrica, vez que a este cabia fiscalizar
CPF: 132.846.077-06

as atividades lá desempenhadas.

Veja-se manifestação da Comissão:


MESQUITA -- CPF:

“(...) o Estado é o responsável pela violação do direito à vida e à integridade


pessoal por sua falta de fiscalização na fábrica onde tinha ciência da
DARDENGO MESQUITA

realização de atividades industriais perigosas e deveria saber da existência


de uma das piores formas de trabalho infantil”.
MATEUS DARDENGO

A CIDH considerou violados os direitos à vida, à integridade física, às garantias judiciais e à


igualdade e não discriminação, ordenando o Estado brasileiro a:
MATEUS

“(...) reparar integralmente as violações dos direitos humanos, tanto no


aspecto material como imaterial, com base no que o Estado deve adotar
medidas de compensação econômica e moral e providenciar medidas de
atenção à saúde física e mental para as vítimas sobreviventes”.

Para a CIDH, violou-se o direito ao trabalho e ao princípio da igualdade e da não


discriminação, uma vez que a fabricação de fogos de artifício era a única opção de trabalho para os
habitantes do município, dada a sua situação de pobreza.

Assim, reconheceu que o Estado possui os deveres de prevenção, sanção e reparação das
piores formas de trabalho infantil, assim como em relação às violações à vida e à integridade que
resultem de atividades perigosas no âmbito trabalhista.

Em 26.10.2020 a Corte Interamericana condenou o Brasil no Caso Fábrica de Fogos de Santo


Antônio de Jesus. Essa foi a nona e mais recente condenação do Estado brasileiro perante a Corte IDH.
Conforme divulgado em Comunicado Oficial5:
5 Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/comunicados/cp_107_2020_port.pdf.

25
“Neste caso, a Corte declarou a violação dos direitos à vida (artigo 4 da
Convenção Americana), à integridade pessoal (artigo 5), aos direitos eco-
nômicos, sociais, culturais e ambientais, no que diz respeito ao trabalho
em condições equitativas e satisfatórias (artigo 26), aos direitos da criança
(artigo 19), à igualdade e não discriminação (artigos 24 e 1.1), à proteção
judicial (artigo 25) e às garantias judiciais (artigo 8).
(...)
Conforme a Corte estabeleceu na Sentença, a fábrica contava com autori-
zação das autoridades competentes para o seu funcionamento. No entan-
to, desde seu registro, até o momento da explosão, não houve fiscalização
por parte das autoridades estatais em relação às condições de trabalho ou
ao controle de atividades perigosas, apesar de que essa era uma exigência
legal em função do risco que implicava a atividade realizada.
A Corte estabeleceu que os Estados têm o dever de regular, supervisionar e
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fiscalizar a prática de atividades perigosas, que implicam riscos significa-


tivos à vida e à integridade das pessoas submetidas a sua jurisdição, como
medida para proteger e preservar esses direitos. (...)
Na Sentença, a Corte também estabeleceu que a situação de pobreza em
que se encontravam as vítimas, somada ao fato de que eram mulheres e
afrodescendentes, agravou sua condição de vulnerabilidade. Isso facilitou
a instalação e o funcionamento de uma fábrica dedicada a uma atividade
especialmente perigosa, sem fiscalização, e levou as vítimas a aceitar um
CPF: 132.846.077-06

trabalho que colocava em risco sua vida e sua integridade, bem como a
de suas filhas e filhos menores de idade. Ainda, o Estado não adotou ne-
nhuma medida para garantir a igualdade material no direito ao trabalho a
respeito desse grupo de mulheres em situação de marginalização e discri-
MESQUITA -- CPF:

minação.”
DARDENGO MESQUITA

A Corte IDH determinou várias medidas de reparação, dente as quais: indenizações por
dano material e imaterial, assim como ressarcimento por custos e gastos, bem como a execução de
um “programa de desenvolvimento socioeconômico” destinado à população de Santo Antônio de
MATEUS DARDENGO

Jesus. A sentença também deverá ser publicada, na íntegra, em páginas oficiais do Estado da Bahia e
do Governo Federal, e uma versão resumida deverá ser divulgada em rádio e televisão.
MATEUS

Os juízes determinaram ainda a realização de um ato de reconhecimento de


responsabilidade internacional. Além disso, o Brasil deverá implementar uma “política sistemática
de inspeções periódicas” nos locais de produção de fogos de artifício.

l) Caso Márcia Barbosa de Souza:

Trata-se de mais um caso de 1998. A Corte IDH condenou o Brasil pelo assassinato de
Márcia Barbosa de Souza. A sentença é de 07 de setembro de 2021. É a primeira condenação do Brasil
pelo crime de feminicídio. Na sentença, o Brasil foi culpabilizado pela discriminação no acesso à
Justiça, por não investigar e julgar a partir da perspectiva de gênero, pela utilização de estereótipos
negativos em relação à vítima e pela aplicação indevida da imunidade parlamentar.

O acusado de assassinato foi o ex-deputado estadual pela Paraíba Aércio Pereira de Lima.
O caso só começou a ser julgado quando o acusado deixou de ser parlamentar em 2003 e ele só foi
condenado em 2007. Ele foi sentenciado a 16 anos de prisão, mas não chegou a ser preso e, poucos
meses depois, morreu em decorrência de um infarto.
No julgamento de Aércio, a imagem de Márcia foi estereotipada, no intuito de descredibilizá-

26
la. A Corte IDH entendeu que a investigação e o processo penal tiveram “um caráter discriminatório
por razão de gênero e não foram conduzidos com uma perspectiva de gênero”.

A Corte também entendeu que a imunidade parlamentar não pode ser uma guarita para a
impunidade:

“107. A Corte considera que a análise da aplicação da imunidade parlamen-


tar pode ser realizada apenas diante de um caso concreto, com o propósito
de evitar que a decisão adotada pelo respectivo órgão legislativo seja arbi-
trária, e assim propicie a impunidade. A câmara legislativa deve, portanto,
enfocar-se em examinar se estão presentes claros elementos de arbitrarie-
dade no exercício da ação penal dirigida contra um parlamentar que possa
comprometer a autonomia do legislador. Para isso, é necessário realizar um
exercício cuidadoso de ponderação entre a garantia do exercício do manda-
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to para o qual o parlamentar foi eleito democraticamente, por um lado, e o


direito de acesso à justiça, por outro.
108. Agora, à luz da finalidade da imunidade processual — a preservação
da ordem parlamentar —, o exame do fumus persecutionis pressupõe um
estudo da gravidade, da natureza e das circunstâncias dos fatos acusados,
pois a resposta a um pedido de levantamento da imunidade parlamentar
não pode derivar de uma atuação arbitrária da câmara legislativa, que ig-
nore a natureza do conflito e as necessidades de proteção dos interesses e
CPF: 132.846.077-06

direitos em jogo.
109. O Tribunal recorda que o dever de motivação é exigível a qualquer au-
toridade pública, seja administrativa, legislativa ou judiciária, cujas deci-
sões possam afetar os direitos das pessoas, e que se adote estas decisões
MESQUITA -- CPF:

com pleno respeito às garantias do devido processo legal.206 A este res-


peito, o artigo 8 da Convenção estabelece as diretrizes do devido proces-
DARDENGO MESQUITA

so legal, o qual está composto por um conjunto de requisitos que devem


ser observados nas instâncias processuais para que as pessoas estejam em
condições de defender adequadamente seus direitos perante qualquer tipo
MATEUS DARDENGO

de ato do Estado que possa afetá-los.


110. Portanto, para evitar uma decisão arbitrária, a Corte considera que
o órgão legislativo deve motivar sua decisão de levantamento ou não da
MATEUS

imunidade processual. Isso porque esta decisão necessariamente terá im-


pacto tanto nos direitos do parlamentar, relacionados com o exercício de
suas funções, como no direito de acesso à justiça das vítimas das supostas
infrações penais atribuídas a este mesmo parlamentar. Evidentemente, ao
tratar-se de um órgão legislativo, não se pode exigir a fundamentação pró-
pria de uma decisão judicial. Como se observa no Brasil e em outros Esta-
dos Parte da Convenção, a decisão final da Câmara legislativa corresponde
à votação de um parecer escrito ou relatório de uma comissão técnica des-
te órgão sobre o pedido de levantamento da imunidade parlamentar. Por
conseguinte, o referido relatório técnico deve conter a motivação sobre a
decisão adotada”.

A sentença decidiu:

“Por unanimidade:

1. Declarar parcialmente procedente a exceção preliminar relativa à alega-

27
da incompetência ratione temporis a respeito de fatos anteriores à data de
reconhecimento da competência da Corte, de acordo com os parágrafos 19
a 23 desta Sentença.
2. Rejeitar a exceção preliminar relativa à alegada falta de esgotamento de
recursos internos, de acordo com os parágrafos 27 a 34 desta Sentença.

DECLARA, Por unanimidade, que:

3. O Estado é responsável pela violação dos direitos às garantias judiciais,


à igualdade perante a lei e à proteção judicial, contidos nos artigos 8.1, 24
e 25 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em relação às obri-
gações de respeitar e garantir os direitos sem discriminação e ao dever de
adotar disposições de direito interno, estabelecidos nos artigos 1.1 e 2 do
mesmo instrumento, e em relação às obrigações previstas no artigo 7.b da
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Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência con-


tra a Mulher, em prejuízo de M.B.S. e S.R.S., nos termos dos parágrafos 98 a
151 da presente Sentença.

4. O Estado é responsável pela violação do direito à integridade pessoal, re-


conhecido no artigo 5.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos,
em relação ao artigo 1.1 do mesmo instrumento, em prejuízo de M.B.S. e
S.R.S., nos termos dos parágrafos 155 a 162 da presente Sentença.
CPF: 132.846.077-06

E DISPÕE, Por unanimidade, que:

5. Esta Sentença constitui per se uma forma de reparação.


MESQUITA -- CPF:

6. O Estado realizará as publicações indicadas no parágrafo 176 desta Sen-


DARDENGO MESQUITA

tença, no prazo de seis meses contados a partir de sua notificação.

7. O Estado realizará um ato de reconhecimento de responsabilidade inter-


MATEUS DARDENGO

nacional em relação aos fatos deste caso, nos termos dos parágrafos 177 e
178 desta Sentença.
MATEUS

8. O Estado elaborará e implementará um sistema nacional e centralizado


de recopilação de dados que permita a análise quantitativa e qualitativa de
fatos de violência contra as mulheres e, em particular, de mortes violentas
de mulheres, nos termos do parágrafo 193 da presente Sentença.

9. O Estado criará e implementará um plano de formação, capacitação e


sensibilização continuada para as forças policiais responsáveis pela inves-
tigação e para operadores de justiça do Estado da Paraíba, com perspectiva
de gênero e raça, nos termos do parágrafo 196 da presente Sentença.

10. O Estado levará a cabo uma jornada de reflexão e sensibilização sobre


o impacto do feminicídio, da violência contra a mulher e da utilização da
figura da imunidade parlamentar, nos termos do parágrafo 197 da presente
Sentença.

11. O Estado adotará e implementará um protocolo nacional para a inves-


tigação de feminicídios, nos termos dos parágrafos 201 e 202 da presente

28
Sentença.

12. O Estado pagará as quantias fixadas nos parágrafos 212 e 218 da pre-
sente Sentença a título de compensação pelas omissões nas investigações
do homicídio de Márcia Barbosa de Souza; de reabilitação; indenização por
dano material e dano imaterial, e reembolso de custas e gastos, nos termos
dos parágrafos 224 a 229 da presente Decisão.

13. O Estado reembolsará ao Fundo de Assistência Jurídica de Vítimas da


Corte Interamericana de Direitos Humanos a quantia despendida durante
a tramitação do presente caso, nos termos dos parágrafos 223 e 229 desta
Sentença.

14. O Estado, dentro do prazo de um ano contado a partir da notificação


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desta Sentença, apresentará ao Tribunal um relatório sobre as medidas


adotadas para cumprir a mesma, sem prejuízo do estabelecido no parágra-
fo 176 da presente Sentença.

15. A Corte supervisionará o cumprimento integral desta Sentença, no


exercício de suas atribuições e em cumprimento de seus deveres confor-
me a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, e dará por concluído
o presente caso uma vez que o Estado tenha dado cabal cumprimento ao
CPF: 132.846.077-06

disposto na mesma”.

Assim, em destaque o Brasil foi condenado a criar um sistema de coleta de dados sobre
violência contra a mulher; oferecer treinamento para as forças policiais e membros da Justiça;
MESQUITA -- CPF:

promover conscientização sobre o impacto da feminicídio, da violência contra a mulher e do uso da


figura da imunidade parlamentar; e a pagar indenização por dano material e imaterial para a família
DARDENGO MESQUITA

de Márcia.

m) Caso Gabriel Sales Pimenta


MATEUS DARDENGO

No dia 04.10.22, o Brasil sofreu sua mais recente condenação pela Corte Interamericana de
Direitos Humanos (Corte IDH) com a publicação da sentença do Caso Gabriel Sales Pimenta. O Estado
MATEUS

foi considerado responsável pela violação dos direitos à verdade, à proteção e integridade da família
de um defensor de direitos humanos.

Segundo a sentença, restou demonstrada uma “grave falência” do Estado nas investigações
sobre a morte violenta de Gabriel Sales Pimenta, “e pela situação de absoluta impunidade em que se
encontra o homicídio na atualidade”.

A Corte IDH concluiu que o Brasil “não cumpriu sua obrigação de atuar com a devida
diligência reforçada na investigação do homicídio”.

Gabriel Sales Pimenta era um jovem de 27 anos. Em 1980, ele passou a atuar como
advogado do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Marabá e foi representante da Comissão Pastoral
da Terra. Como advogado, ele atuou na defesa dos direitos dos trabalhadores rurais. Em razão disso,
foi assassinado.

Em agosto de 1983, 3 homens foram denunciados pelo crime. Em novembro de 1999, o MP


solicitou a extinção da responsabilidade penal de um dos acusados, em virtude de sua morte. Houve

29
a improcedência da denúncia contra outro suspeito por falta de provas. O julgamento contra o réu
restante nunca ocorreu, pois ele nunca foi localizado.
Segundo a sentença, houve, portanto, negligência dos operadores judiciais na tramitação
do processo penal, que permitiu a ocorrência da prescrição, foi o “fator determinante para que o caso
permanecesse em uma situação de absoluta impunidade”.

A sentença trouxe o seguinte dispositivo contra o Brasil:

a) criar um grupo de trabalho com a finalidade de identificar as causas e circunstâncias


geradoras da impunidade e elaborar linhas de ação que permitam superá-las;

b) publicar o resumo oficial da sentença no Diário Oficial da União, no Diário Oficial do


Estado do Pará e em um jornal de grande circulação nacional, assim como a sentença, na
íntegra, no site do governo federal, do Ministério Público e do Poder Judiciário do Estado
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do Pará;

c) realizar um ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional em relação


com os fatos do presente caso;

d) criar um espaço público de memória na cidade de Belo Horizonte, no qual seja valorizado,
protegido e resguardado o ativismo das pessoas defensoras de direitos humanos no Brasil,
entre eles o de Gabriel Sales Pimenta;
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e) criar e implementar um protocolo para a investigação dos delitos cometidos contra


pessoas defensoras de direitos humanos;
MESQUITA -- CPF:

f) revisar e adequar seus mecanismos existentes, em particular o Programa de Proteção aos


Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas, nos âmbitos federal e
DARDENGO MESQUITA

estadual, para que seja previsto e regulamentado através de uma lei ordinária e tenha em
consideração os riscos inerentes à atividade de defesa dos direitos humanos;
MATEUS DARDENGO

g) pagar as quantias fixadas na sentença a título de dano material (US$ 100 mil), imaterial
(US$ 280 mil), custas e gastos (US$ 32.500).
MATEUS

3.9 Protocolo de San Salvador

O Protocolo de San Salvador foi adotado pela Assembleia Geral da OEA em 17 de novembro
de 1988, e é um Protocolo Adicional ao Pacto San José da Costa Rica, assim como o Tratado de Assunção.

Entrou em vigência no ordenamento jurídico brasileiro em 30 de dezembro de 1999, com


a promulgação do Decreto nº 3.321/1999. Ou seja, embora tenha sido originado no ano de 1988, levou
11 anos para ser incorporado à ordem jurídica nacional.

Por trazer, no âmbito do Sistema Interamericano, os direitos econômicos, sociais e culturais


o Protocolo de San Salvador solidificou a ideia de indivisibilidade dos direitos humanos, cumprindo
seu objetivo de ampliar a gama de proteção aos direitos humanos, trazendo previsões específicas para
os direitos sociais em sentido amplo.

“Em seu preâmbulo, o Protocolo ressalta a estreita relação existente entre


os direitos econômicos, sociais e culturais, os direito civis e políticos, uma

30
vez que as diferentes categorias de direito constituem um todo indissolúvel
que protege a dignidade humana. As duas categorias de direitos exigem
uma tutela e promoção permanentes, com o objetivo de conseguir sua
vigência plena, sem que jamais possa ser justificável a violação de uns a
pretexto da realização de outros.6”

Esse Protocolo ressalta a natureza indivisível dos direitos humanos e agrega ao sistema
protetivo interamericano os direitos econômicos, sociais e culturais. A ideia de indivisibilidade traz
consigo a impossibilidade da separação dos direitos humanos a depender da sua natureza. Ou seja,
não se pode dividir os direitos humanos em individuais, de liberdade, sociais, econômicos e culturais.

O documento possui 22 artigos, dentre os quais pode-se destacar: a) obrigações dos


Estados (arts. 1º a 3º); b) restrições permitidas e proibidas (arts. 4º e 5º); c) direitos protegidos (arts. 6º
a 18); d) meios de proteção (art. 19); e) disposições finais (arts. 20 a 22).
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Ressalta-se que os Estados que aderirem a esse protocolo, como previsto em seu art. 1º,
obrigam-se a adotar as medidas necessárias, até o máximo dos recursos disponíveis e levando em
conta seu grau de desenvolvimento, a fim de garantir a efetividade dos direitos nele previstos.

Verifica-se, pois, em seu art. 1º, a chamada Cláusula de Progressiva Realização ou Cláusula
de Progressividade.
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Apesar da cláusula de progressiva realização, parcela considerável da doutrina especializada


defende a possibilidade de justiciabilização dos direitos previstos no Protocolo.

No entanto, existe uma margem para o Estado alegar a reserva do possível.


MESQUITA -- CPF:

Nos termos do artigo 2º, os Estados-partes têm um dever de ajustamento interno. Ou seja,
DARDENGO MESQUITA

deverão adotar medidas legislativas e administrativas de ajuste da legislação interna que se encontre
incompatível com o Pacto, para tornar efetivos os direitos nele previstos.
MATEUS DARDENGO

Assim, além de serem obrigados a criarem leis que facilitem a aplicabilidade dos direitos
sociais previstos no Protocolo de San Salvador, não podem fugir da sua responsabilidade internacional
alegando que existe legislação interna incompatível (art. 4°).
MATEUS

O artigo 3º, por sua vez, traz a obrigação de não discriminação na garantia dos direitos
enunciados, seja por motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer
outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição
social.

Outrossim, cumpre destacar alguns dos direitos previstos no Protocolo de San Salvador:

a) Direito ao Trabalho (Arts. 6° e 7°): Foi fortemente desenvolvido no Protocolo de San


Salvador com várias observações pertinentes, como: a) direito à remuneração digna;
b) direito de vocação, garantindo que os indivíduos sejam livres para escolherem, de
acordo com as suas vocações, os ofícios que realizarão (uma vedação de interferência do
Estado); c) estabilidade, segurança e higiene no trabalho; d) vedação do trabalho noturno
e insalubre para os menores de 18 anos; e) estimula que exista e haja disponibilidade, em
iguais condições, de trabalho para as mulheres e pessoas com deficiência.

6 RAMOS. A. C. Ibidem. P. 306.

31
b) Direito à Sindicalização e Greve (Art. 8º): O Estado deve garantir aos trabalhadores
o direito de organizar sindicatos e de filiar-se, garantindo-se também o direito de greve.
Ninguém poderá ser obrigado a pertencer a um sindicato.

c) Direitos Previdenciários (Art. 9º): O Protocolo deixa claro que é importante que o Estado
garanta aos seus cidadãos direitos previdenciários em casos de sinistro (incapacidade
laboral, doenças, afastamento por questão de maternidade etc.).

d) Direito à Saúde (Art. 10): Todas as pessoas tem direitos à saúde, entendida como o
gozo de bem-estar físico, mental e social. Os Estados-partes devem reconhecer a saúde
com bem público e adotar medidas para sua garantia, tais como: atendimento primário de
saúde, extensão dos serviços a todas as pessoas, imunização contra doenças infecciosas,
prevenção e tratamento de doenças endêmicas, educação da população, satisfação das
necessidades dos grupos mais vulneráveis.
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e) Direito ao Meio Ambiente (Art. 11): Importante mencionar que o Protocolo de San
Salvador foi o primeiro documento, no sistema interamericano, a mencionar expressamente
o direito ao meio ambiente sadio. No âmbito internacional, o Tratado de Estocolmo de
1972 foi o primeiro documento relevante a positivar o direito ao meio ambiente.

f) Direito à Alimentação (Art. 12): Toda pessoa tem direito a uma nutrição adequada que
assegure a possibilidade de gozar do mais alto nível de desenvolvimento físico, emocional
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e intelectual.

g) Direito à Educação (Art. 13): Evidenciou o direito de toda pessoa à educação. Deixou
claro a imprescindibilidade de ensino básico, estimulando a gratuidade e universalidade
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dos ensinos técnico e superior.


DARDENGO MESQUITA

h) Direito à Cultura, Proteção da Família, das Crianças, dos Idosos e Deficientes (Arts.
14 a 18).
MATEUS DARDENGO

Conforme o art. 19, os meios de proteção ou mecanismos que o Protocolo traz para garantir
a defesa dos direitos que nele constam são: Sistemas de Relatórios Periódicos (enviados à OEA) e
Sistema de Peticionamento Individual (os indivíduos podem peticionar à Comissão Interamericana de
MATEUS

Direitos Humanos, que atuará na sua função originária). Com relação ao Peticionamento Individual, o
Protocolo estabelece que:

Artigo 19.6. Caso os direitos estabelecidos na alínea a do artigo 8, e no artigo


13, forem violados por ação imputável diretamente a um Estado Parte
deste Protocolo, essa situação poderia dar lugar, mediante participação da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos e, quando cabível, da Corte
Interamericana de Direitos Humanos, à aplicação do sistema de petições
individuais regulado pelos artigos 44 a 51 e 61 a 69 da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos.

Desse modo, se os direitos sindicais, com exceção do direito de greve, e o direito à educação
forem violados por Estado-parte, o Protocolo de San Salvador entende ser possível a utilização do
sistema de petições individuais à CIDH.

32
3.10 Protocolo Adicional para Abolição da Pena de Morte (Protocolo de Assunção)

O Protocolo Adicional à Convenção Americana de Direitos Humanos para Abolição da


Pena de Morte, também chamado de Protocolo de Assunção, foi adotado em 08 de junho de 1990, e
assinado pelo Brasil em 07 de junho de 1994, sendo incorporado ao ordenamento jurídico nacional,
com reserva, a partir do Decreto nº 2.754, de 27 de agosto de 1998.

Conforme já visto, a CIDH não veda totalmente a pena de morte. Afirma, entretanto, que
aqueles Estados que já tenham abolido devem permanecer como se encontram, e aqueles em que
ainda exista pena de morte, devem seguir algumas condições como: sentença penal transitada em
julgado; crimes graves, vedando totalmente a aplicação da pena para crimes políticos ou conexos; não
pode ser aplicado à mulheres grávidas, nem para maiores de 70 anos e menores de 18 anos.

Essa não vedação da pena de morte foi uma estratégia do Pacto San José da Costa Rica para
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trazer o maior número de Estados para aderirem ao documento. Posteriormente, com o Protocolo de
Assunção, houve a abolição total da pena de morte, com a finalidade de se ampliar a proteção à vida
e integridade física.

Não é admitida qualquer reserva ao protocolo, salvo aquela realizada no momento da


ratificação do mesmo, quanto ao direito de aplicar a pena de morte em tempo de guerra, por delitos
sumamente graves de caráter militar. O Estado brasileiro apôs dita reserva em atenção à previsão do
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art. 5º, XLVII, alínea ‘a’, CF/88.

REFERÊNCIAS
MESQUITA -- CPF:

ALMEIDA, Fernando Barcellos de. Teoria Geral dos Direitos Humanos. Porto Alegre: Safe, 1996.
DARDENGO MESQUITA

COMPARATO, Fábio Konder. Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 7ª edição, revista e atualizada.
São Paulo: Saraiva, 2010.
MATEUS DARDENGO

FENSTERSEIFER, Tiago. Defensoria Pública na Constituição Federal. Rio de Janeiro: Forense, 2017.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MATEUS

Método, 2020.

PAIVA, Caio C.; HEEMANN, Thimotie A. Jurisprudência Internacional de Direitos Humanos. 2ª ed. Belo
Horizonte: Editora CEI, 2017.

PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional: um Estudo Comparativo dos Sistemas
Regionais Europeu, Interamericano e Africano. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

__________. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

__________. Temas de Direitos Humanos. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

__________. FACHIN, Melina. G. MAZZUOLI, Valério de O. Comentários à Convenção Americana sobre


Direitos Humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2019.

RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

33
__________. Processo Internacional dos Direitos Humanos. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

__________. Teoria Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2016.

TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. A proteção internacional dos direitos humanos: fundamentos
jurídicos e instrumentos básicos. São Paulo: Saraiva, 1991.

__________. Tratado de direito internacional de direitos humanos. Porto Alegre: Sergio Antonio
Fabris, 1999.
MATEUS DARDENGO
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