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CURSO MEGE

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Turma: DPC-RR, 1ª fase (Reta Final)
Material: TEORIA GERAL DO DIREITO E DA POLÍTICA

MATERIAL DE APOIO 1
(TEORIA GERAL DO DIREITO E DA
POLÍTICA)
APRESENTAÇÃO

Caros amigos,
Neste material tratamos dos primeiros sete pontos que compõem o
programa de Teoria Geral do Direito e da Política, que, por sua vez, compõe o
Edital do Concurso Público para provimento de vagas para o cargo Delegado
de Polícia Civil Classe Substituta da Polícia Civil do Estado de Roraima.

TEORIA GERAL DO DIREITO E DA POLÍTICA


1 Dogmática Jurídica.
2 Direito objetivo e direito subjetivo.
3 Hermenêutica jurídica.
4 Fontes do direito. 4.1 Princípios gerais de direito. 4.2 Jurisprudência e 2
súmula vinculante.
5 Integração do ordenamento jurídico.
6 Interpretação da norma.
7 Eficácia da Lei no tempo. 7.1 Conflitos de normas jurídicas no tempo e
o direito brasileiro: direito penal, civil, constitucional e direito do trabalho.

Bons estudos.
Professor Rosângelo
Texto didático para uso exclusivo dos alunos Mege. Favor não citar.
TEORIA GERAL DO DIREITO E DA POLÍTICA

1 Dogmática Jurídica

Ao se questionar sobre o modo ao qual se pode conhecer o direito, o jurista


Tercio Sampaio Ferraz Jr., propõe dois aspectos. O primeiro aspecto acentua-
se na pergunta, o outro acentua-se na resposta.
O aspecto da pergunta, por própria nomenclatura, questiona os conceitos
básicos, as premissas, e os princípios fundamentais do direito. É um aspecto
que tem por objetivo que através do meio analítico explicar o fenômeno
jurídico, mas sempre aberto a crítica e assim sem propor a solução finalista,
Tercio denominou esse aspecto de Zetética Jurídica.
O aspecto da resposta, por sua vez, pressupõe os elementos basilares do
direito como uma verdade razoável, é um modo de conhecer o direito que não
se preocupa com problemas inatacáveis mas sim a construção de doutrinas e
dogmas com o fim de construir uma resposta possível, Tercio denominou esse
3
aspecto como Dogmática Jurídica. É este aspecto que se encontra no edital do
nosso concurso e assim vamos nos debruçar sobre ele.
Conceito
São disciplinas dogmáticas, no estudo do direito, a ciência do direito civil,
comercial, constitucional, processual, penal e muitas outras. Uma disciplina só
poderá ser definida como dogmática à medida que considera certas premissas,
como vinculantes para o estudo, é o denominado Princípio da Inegabilidade
dos pontos de Partida.
Um exemplo, no Direito Constitucional, é o princípio da legalidade, que obriga
ao dogma constitucional a pensar os problemas comportamentais com base na
lei, conforme à lei, para além da lei, mas nunca contra a lei. Não cabe dentro
do Direito Constitucional dogmático questionar o real valor da lei ou a
existência da lei, trate-se de questionamento Zetéticos mas não dogmáticos.
Uma ressalva é importante quando se diz que o princípio básico da dogmática
é o da inegabilidade dos pontos de partida, isto não significa que a função dela
consista nesse postulado, ou seja, repetir dogmas pura e simplesmente. A
dogmática apenas depende desse princípio, mas não se reduz a ele. Nesse
sentido, uma disciplina dogmática, não deve ser considerada uma prisão para o
pensamento, mas um aumento da liberdade no trato com a experiência
normativa. Isso porque, se com a imposição de dogmas e regras de
interpretação, a sociedade espera uma vinculação dos comportamentos, o
trabalho do teórico cria é criar soluções se adequando as vinculações.
Aplicabilidade
A importância que terá este conhecimento para o delegado de polícia reside
muito na disciplina dogmática penal e suas muitas relações interdisciplinares
da matéria. Assim o conhecimento de que o direito penal traz consigo
pressupostos de verdade e as outras matérias auxiliares que serão capazes de
responder as questões zetéticas é como as bancas examinadoras tem se
debruçado nesse ponto do conteúdo. Observe como o tema foi aplicado em
ultimas provas:
Como já foi Cobrado
(Delegado de Polícia Civil -MA 2018)
Afirmar que a criminologia é interdisciplinar e tem o empirismo como método
4
significa dizer que esse ramo da ciência
a) utiliza um método analítico para desenvolver uma análise indutiva.
b) considera os conhecimentos de outras áreas para formar um conhecimento
novo, se afirmando, então, como independente.
c) utiliza um método silogístico
d) utiliza um método racional de análise e trabalha o direito penal de forma
dogmática.
e) é metafísica e leva em conta os métodos das ciências exatas para o estudo
de seu objeto.

Comentário:
Na questão será cobrado ao candidato o conhecimento básico do que se trata
a criminologia, mas a partir dos conhecimentos de disciplinas dogmáticas e
zetéticas o candidato poderá inferir que não se trata da letra D a formal, mas
sim de uma analise aberta de indução, conclui-se que o modo como a
criminologia conhece o direito é zetético, assim resposta correta letra A.
(Delegado de Polícia – BA-2018)
2- Assinale a alternativa que indica a correta relação da Criminologia com
a Política Criminal, Direito Penal ou com o Sistema de Justiça Criminal.

a) O Direito Penal é condicionante e moldura da criminologia, visto que esta


tem por objeto o estudo do crime e, assim, parte em suas diversas correntes e
teorias, das definições criminais dogmáticas e legais postas pelo Direito Penal,
e a elas se circunscreve.
b) A Criminologia, especialmente em sua vertente crítica, tem como
incumbência a explicação e justificação do Sistema de Justiça Criminal que tem
por finalidade a implementação do Direito Penal e consequente prevenção
criminal.
c) A Política Criminal é uma disciplina que estuda estratégias estatais para
atuação preventiva sobre a criminalidade, e que tem como uma das principais
finalidades o estabelecimento de uma ponte eficaz entre a criminologia, 5
enquanto ciência empírica, e o direito penal, enquanto ciência axiológica.
d) A Política Criminal é condicionante e moldura da criminologia, visto que
esta tem por objeto o estudo do crime e, assim, parte em suas diversas
correntes e teorias, das definições criminais dogmáticas e legais postas pela
Política Criminal, e a elas se circunscreve.
e) As teorias criminológicas da integração ou do consenso apontam o sistema
de justiça criminal como fator que pode aprofundar a criminalidade, deslocando
o problema criminológico do plano da ação para o da reação.
Comentário:
A Questão demonstra bem a necessidade do conhecimento da Dogmática
Jurídica, na resposta correta, a letra C transcreve o conceito de
conhecimento aberto que é permitido a mudança de pontos de partida para que
se possua uma análise crítica dos dados criminais, o direito penal, ao contrario,
é um direito axiológico, "axios" (valor) + "logos" (estudo), é o estudo aplicado
dos valores postos a sociedade conhecimento então dogmático, com
premissas ou valores previamente estabelecidos.
2 Direito objetivo e direito subjetivo
A expressão “direito objetivo” é utilizada para se referir tanto a um
sistema jurídico como um todo quanto a um conjunto de suas normas (direito
civil, sucessório) ou ainda os preceitos isolados do sistema.
O direito objetivo gera o direito subjetivo, uma vez que desse surgem
situações de subjetivações que ocorrem na forma de deveres jurídicos e de
direitos subjetivos. O principal questionamento é se o direito subjetivo existe
por si só, ou se é uma circunstância engendrada pelo direito objetivo. Algumas
teorias buscaram fundamentar o direito subjetivo, dando-lhe realidade diversa
da do direito objetivo.
A teoria da vontade de Bernard Windscheid define o direito subjetivo
como “o poder ou domínio da vontade livre do homem o ordenamento protege
e confere”. Essa tese foi criticada por razões óbvias: nem sempre a vontade
pode ser reconhecida como essência de um direito, como acontece nos casos
de pessoas jurídicas e de pessoas incapazes, por exemplo. 6
A teoria do interesse (Rudolf Von Ihering), em linhas gerais, define o
direito subjetivo como “o interesse juridicamente protegido”. Na teoria da
garantia, o direito subjetivo não tem por base a vontade, e sim “a possibilidade
de fazer a garantia da ordem jurídica tornar efetiva a proteção judicial do
direito”. A teoria da pretensão garantida, de Miguel Reale, é tradicional da
doutrina do direito. Segundo ela, o direito subjetivo é “a possibilidade de ser
pretendido algo efetivamente pela pessoa que se situar concretamente nas
circunstancias genericamente previstas na norma jurídica”.
Os direitos subjetivos podem ser classificados em: absolutos e relativos,
disponíveis e indisponíveis, públicos e privados, principais e acessórios.
Um direito é relativo quando a obrigação correspondente engloba um ou
vários sujeitos, individualmente determinados (exemplo: direitos de crédito);
absoluto, quando o dever correlato é uma obrigação universal a respeito do
direito (exemplo: direitos reais). Os direitos indisponíveis são irrenunciáveis,
como o direito à vida e à integridade, salvo exceções legais. Os direitos
públicos e privados têm em vista a qualidade do sujeito, se de direito público ou
privado, bem como o tipo de relação entre eles e o interesse protegido. Os
direitos subjetivos principais têm existência autônoma, e os acessórios
possuem caráter secundário, sendo apenas uma decorrência do principal.

3 Hermenêutica jurídica

Introdução
A determinação do sentido das normas, o correto entendimento do significado
dos seus textos e intenções, tendo em vista a possível solução de conflitos
constitui a tarefa da hermenêutica jurídica. O propósito básico do jurista não é
simplesmente compreender um texto, mas também determinar-- lhe a força e o
alcance, pondo o texto normativo em presença dos dados atuais de um
problema.

A função da hermenêutica é construir uma racionalização para o fato que


sociedade não é nem gentil nem maldosa, pois a vontade do legislador racional
não tem, estritamente, nenhum caráter. Assim, o direito deve ser instrumento
voltado para a manutenção da ordem. Para isso trabalha a hermenêutica criar 7
um significado efetivo à ideia de um governo do direito, unificado e racional.

Com o fim de interpretar de forma razoável o legislador racional, em que os


ideais contraditórios aparecem como coerentes, em que o direito é,
simultaneamente, seguro e elástico, justo e compassivo, economicamente
eficiente e moralmente equitativo, digno e solene, mas funcional e técnico.

Métodos Hermenêuticos.

a) Hermenêutica gramatical

Interpretação gramatical. Parte-se do pressuposto de que a ordem das


palavras e o modo como elas estão conectadas são importantes para obter-se
o correto significado da norma. Assim, dúvidas podem surgir, quando a norma
conecta substantivos e adjetivos ou usa pronomes relativos. Ao valer-se da
língua natural, o legislador está sujeito a equivocidades que, por não existirem
nessas línguas regras de rigor (como na ciência), produzem perplexidades.
É óbvio que as exigências gramaticais da língua, por si, não resolvem essas
dúvidas. Por uma interpretação dita gramatical, não se reduz, pois, a meras
regras da concordância. A interpretação gramatical tem na análise apenas um
instrumento para mostrar e demonstrar o problema, não para resolvê-lo.

A letra da norma, assim, é apenas o ponto de partida da atividade


hermenêutica. Como interpretar juridicamente é produzir uma paráfrase, a
interpretação gramatical obriga o jurista a tomar consciência da letra da lei e
estar atento às equivocidades proporcionadas pelo uso das línguas naturais e
suas imperfeitas regras de conexão.

b) Hermenêutica lógica

Trata-se de um instrumento técnico, inicialmente a serviço da identificação de


inconsistências. Parte-se do pressuposto de que a conexão de uma expressão
normativa com as demais do contexto é importante para a obtenção do
significado correto.

Não obstante as exigências de compatibilidade lógica, ocorrem, no entanto, 8


inconsistências quando, às vezes, num mesmo diploma legal, usa-se o mesmo
termo em normas distintas com consequências diferentes. A interpretação
lógica lida com as palavras da lei na forma de conceitos.

Por exemplo, quando afirmamos que “o conceito de ‘revolução’ apenas se


aplica a movimentos políticos da era moderna”, conferimos a revolução o
sentido de um termo, um significado que permanece invariável nos contextos
em que é usado: revolução ou revolta política no sentido moderno.

Submetidos a um processo histórico de mutação estão os conceitos de


conteúdo institucional, isto é, aqueles cujo conteúdo são instituições. Admite-se
que instituições têm vida própria, pois são entidades jurídicas que se enraízam
na pessoa, mas que não ultrapassam em questão logica. o princípio lógico da
identidade permite ao jurista mostrar a questão, mas não resolvê-la.

C) Hermenêutica histórica

A busca do sentido efetivo na circunstância atual ou no momento de criação da


norma mostra que ambos se interpenetram. Daí, às vezes, a ideia de uma
interpretação histórico-evolutiva. É preciso ver as condições específicas do
tempo em que a norma incide, mas não podemos desconhecer as Condições
em que ocorreu sua gênese.

Para o levantamento das condições históricas, recomenda-se ao intérprete o


recurso aos precedentes normativos, isto é, de normas que vigoraram no
passado e que antecederam à nova disciplina para, por comparação.

Essa investigação leva o intérprete também a buscar – quando existem –, nos


chamados trabalhos preparatórios (discussões parlamentares, emendas
preteridas etc.), elementos auxiliares do sentido histórico da norma. Tudo isso
há de lhe fornecer a chamada occasio legis, isto é, o conjunto de circunstâncias
que marcaram efetivamente a gênese da norma.

D) Interpretação teleológica

A interpretação teleológica ativa a participação do intérprete na configuração do 9


sentido. Seu movimento interpretativo, inversamente ao da interpretação logica
que também postula uma cabal e coerente unidade do sistema, parte das
consequências avaliadas das normas e retorna para o interior do sistema.

É como se o intérprete tentasse fazer com que o legislador fosse capaz de


mover suas próprias previsões, pois as decisões dos conflitos parecem basear-
se nas previsões de suas próprias consequências.

Assim, entende-se que, não importa a norma, ela há de ter, para o hermeneuta,
sempre um objetivo que serve para controlar até as consequências da previsão
legal (a lei sempre visa aos fins sociais do direito e às exigências do bem
comum, ainda que, de fato, possa parecer que eles não estejam sendo
atendidos).

e) Interpretação especificadora
Uma interpretação especificadora parte do pressuposto de que o sentido da
norma cabe na letra de seu enunciado. Tendo em vista a criação de condições
para que os conflitos sejam decidíveis com um mínimo de perturbação social
(questão da decidibilidade), a hermenêutica vê-se pragmaticamente dominada
por um princípio de economia de pensamento.

Um exemplo muito ilustrativo desse tipo de interpretação. No Código Civil de


2002, em seu art. 930, determina quais as consequências dos danos causados
para evitar um perigo, quando esse perigo ocorrer por “culpa de terceiro’’.
A palavra culpa, mesmo na técnica jurídica, é ambígua, pois se define ora
como negligência, ora como dolo, ora ambos, ora como característica da
reprovabilidade pessoal do agente.

A interpretação especificadora em sua atividade hermenêutica trará a busca do


conflito com o mínimo de perturbação social não há uma preocupação com a
força legislativa mas sim com a solução do problema prático. A hermenêutica
especificadora é uma que se preocupa com soluções econômicas e possíveis, 10
já pouca com a perfeição do contexto logico ou histórico da interpretação
jurídica.
Como já foi Cobrado
(Delegado de Polícia –DF 2009)
A respeito de vigência, eficácia, conflito, hermenêutica e aplicação da lei, da
analogia, dos princípios gerais do direito e da equidade, assinale a alternativa
correta.

a) Leis formais são as que definem direitos e deveres, estabelecem as


condições existenciais de uns e de outros, os requisitos de constituição e gozo
das situações jurídicas, bem como os elementos dos status pessoais.
b) A derrogação é a revogação total da lei.
c) Quanto à origem, a interpretação da lei pode ser gramatical, lógica ou
sistemática.
d) Segundo os postulados da escola exegética, ao entendimento da norma,
devem contribuir todos os fatores extrínsecos, deve-se cogitar das
necessidades econômicas ou sociais, assim como podem penetrar ideias
renovadoras, a inspiração da equidade e o conceito abstrato de boa-fé.
e) Segundo as teorias objetivistas, no silêncio da lei a respeito de sua
aplicação às situações geradas sob o império da lei antiga, cujos efeitos se
prolongarem na constância da lei nova, é que se deve fazer apelo aos
princípios diretores da solução dos conflitos de leis no tempo.

Gabarito: E

4 Fontes do Direito. Princípios gerais de Direito.


Jurisprudência. Súmula vinculante

4.1 Fontes do Direito


As fontes de direito objetivo são as formas pelas quais conteúdos pré-
jurídicos se revestem para tornarem-se jurídicos, logo, exigíveis. São meios de 11
positivação do direito.
a) Lei
É a fonte primária e obrigatória do direito nos países de tradição romano-
germânica. Pode ser entendida como um preceito jurídico escrito proveniente
da autoridade estatal competente, com caráter geral e obrigatório.
A lei é uma proposição. Ou seja, um mandamento constituído por um
preceito primário, que é a disposição sobre uma conduta humana, e um
preceito secundário, estabelecedor de sanção. O preceito jurídico sempre
busca harmonia com o justo.
Para alcançar o status próprio, a lei deve ser submetida a instâncias
formais de deliberação, monopolizadas pelo Estado. No nosso sistema, as leis
são geralmente votadas pelo Poder Legislativo, e sancionadas pelo Poder
Executivo, salvo exceções. Para que estejam aptas a produzir efeitos, é
essencial que sejam emanadas por autoridade competente.
A lei deve ser elaborada com o caráter geral. Ainda que não toque todas
as pessoas no território nacional, é imprescindível que contenha ideia de
generalidade.
A sanção não é apenas o poder de coerção da norma, mas sua
condição de existência. Pode não ser encontrada diretamente no texto, porém
permeia o ordenamento como um todo. Existem dois tipos de coercibilidade:
direta e indireta. Direta, quando a observância da norma é estrita e não admite
variabilidade em caso de descumprimento. Diante de um roubo, por exemplo, a
desobediência gera pena privativa de liberdade. E indireta, quando o
descumprimento admite mais de uma forma de coerção, como, por exemplo,
no descumprimento de contrato que pode gerar multa, obrigação de fazer, não
fazer, multa alternativa, entre outros.
b) Costumes
Também chamados de direito consuetudinário ou direito costumeiro, os
costumes compreendem normas tidas como válidas, sem que o Poder Público
as tenha estabelecido. São regras de conduta habitualmente obedecidas,
sendo o seu uso juridicamente obrigatório. Trata-se de fontes acessórias, cuja
aplicação concreta é admitida quando não houver lei ou quando foi impossível
a aplicação análoga.
O artigo 376 do Código de Processo Civil de 2015 traz que a parte que 12
alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o
teor e a vigência, se assim o juiz determinar. O juiz não tem o dever de
conhecê-lo, ou seja, além de provar o fato, a parte deve também provar o
costume que inspirou o ato ou o negócio jurídico.
c) Doutrina
Conjunto organizado das pesquisas e indagações dos cultores do direito.
Chamado também de direito científico ou ciência jurídica. É considerada por
muitos autores como uma espécie de costume. Sua natureza é interpretativa,
considerando que constrói conceitos, sistemas, classificações e teorias. Muitas
vezes, influencia os estudos do legislador para estabelecer a lei.
Para considerar a doutrina como fonte, é preciso que haja ausência ou
impossibilidade de aplicação análoga de lei ou de costume específico para o
problema; que a doutrina esteja em harmonia com princípios gerais do direito.
4.2 Princípios gerais de Direito
São proposições de caráter geral e amplo que englobam implícita ou
explicitamente um conjunto de normas, determinando a produção de efeitos
das mesmas no sistema jurídico. São diretrizes, não só para a produção de
efeitos das disposições, como para integrar a lacuna sistêmica.
São características dos princípios a generalidade, a alta fecundidade e a
baixa densidade normativa. Luiz Roberto Barroso, em Neoconstitucionalismo e
Constitucionalização do Direito, aponta que reconhecimento da normatividade
dos princípios é um dos símbolos do pós-positivismo. Os princípios, segundo
ele, são “normas que veiculam determinados valores ou indicam fins públicos a
serem realizados por diferentes meios”.
A palavra “valor” vem do latim axio, podendo ser traduzido como aquilo
que é digno de ser considerado. A norma, por sua vez, pode ser considerada a
prescrição do valor nas circunstâncias concretas da ação (Lima Vaz,
2002:2082).
O princípio possui um grau de concreção maior que o valor, pois já é
uma reformulação do valor enquanto proposição jurídica, com previsão de 13
consequências jurídicas. Suas delimitações, entretanto, são amplas e flexíveis,
no que se difere das normas-regras.
Os princípios gerais do direito são a base do ordenamento jurídico,
contendo suas características essenciais, sendo, portanto, a última
salvaguarda do aplicador do direito. Na ausência de qualquer outra fonte, deve-
se valer de algum princípio geral de direito no processo de integração.

4.3 Jurisprudência
Conjunto de decisões do Poder Judiciário reiteradas, constantes e
pacíficas, resultantes da aplicação de normas a caso semelhantes, constituindo
uma norma geral aplicável a todos os casos similares ou idênticos.
A natureza interpretativa da Jurisprudência é inegável, na medida em
que, quando o poder Judiciário aplica uma norma ao caso concreto, procede a
uma interpretação da norma. A grande questão é: a jurisprudência é fonte do
direito?
A corrente negativista entende que a jurisprudência nunca é fonte formal
do direito. O artigo 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro traz
que, “quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia,
os costumes e os princípios gerais de direito.” Não abarcando, portanto, a
jurisprudência como fonte. Já a corrente jurisprudencialista é aquela que dá
primazia à jurisprudência como fonte secundária, de forma que a jurisprudência
pode, inclusive, contrapor-se à lei.
A corrente realista entende que a jurisprudência é uma fonte secundária
e não tem valor caso se contraponha à lei ou mesmo aos costumes
(interpretação do art. 4º LINDB). A Consolidação das Leis do trabalho a
recepcionou expressamente, colocando a jurisprudência como fonte acessória.
Art. 8º: As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta
de disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela
jurisprudência, por analogia, por equidade e outros princípios e normas gerais
de direito, principalmente do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os
usos e costumes, o direito comparado, mas sempre de maneira que nenhum
interesse de classe ou particular prevaleça sobre o interesse público. 14
Sendo assim, a jurisprudência será utilizada como fonte quando houver
a ausência de lei ou de costume para o caso concreto; houver impossibilidade
de aplicação da analogia legis ou juris.; quando houver decisão judicial
reiterada, constante e pacífica e em consonância com os princípios gerais de
direito.

4.4 Súmula vinculante


As súmulas são decisões estratificadas dos Tribunais Superiores,
apresentadas em forma de verbetes sintéticos, numerados. São decisões
costumeiramente adotadas de maneira uniforme pelos tribunais, resultando
numa tendência sobre determinada matéria.
A súmula orientadora visa somente proporcionar maior estabilidade à
jurisprudência, simplificando julgamentos das questões mais frequentes e
facilitando o trabalho dos operadores do direito. Não é de observância
obrigatória.
Já a súmula vinculante, somente pode ser emitida pelo Supremo
Tribunal Federal (EC nº 45) e torna obrigatório o seu cumprimento pelos
demais órgãos do Poder Judiciário. Editada apenas em matérias
constitucionais. Veja o artigo:
Art. 103-A, Constituição Federal 1988. O Supremo Tribunal
Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão
de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre
matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua
publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação
aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração Pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem
como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma
estabelecida em lei. (Incluído pela EC 45/2004).

Como já foi Cobrado


(Delegado de Polícia SP-2014) 15
Assinale a alternativa que apresenta, correta e respectivamente, uma fonte
direta e uma fonte indireta.
a) Costume e lei.
b) Costume e jurisprudência.
c) Doutrina e jurisprudência.
d) Princípios gerais do direito e doutrina.
e) Lei e costume.
Gabarito: E
5- Integração do ordenamento jurídico

Neste ponto, mais do que em qualquer outro, a Ciência do Direito mostra


o seu sentido não estritamente descritivo.
O problema da integração coloca-se, basicamente, para uma concepção
do Direito que distingue a atividade legislativa da executiva e da judiciária.
Discute-se aqui a legitimidade de o intérprete ir além da compreensão da
norma, configurando novas hipóteses normativas, quando o direito vigente não
as prevê ou mesmo quando as prevê, mas de modo insatisfatório.
O problema da integração do direito surge, na verdade, quando as
necessidades de uma sociedade já em modificação começam a romper com
uma espécie de admiração acrítica pelo jurista do direito positivo vigente. Este
rompimento, ao nível da teoria jurídica, expressou-se, de um lado, nas
discussões em torno da existência ou não de lacunas nos ordenamentos
vigentes, e, de outro, admitida a sua existência, em torno da legitimidade e dos
limites da atividade integradora do intérprete.
16
O problema lógico da completude do sistema das normas consiste em
saber se o direito, enquanto sistema de normas que qualificam juridicamente
comportamentos, tem a propriedade peculiar de não deixar nenhum
comportamento sem qualificação.
A questão tem relevância para os casos em que o juiz, não encontrando
nenhuma norma que regulasse determinado comportamento, tivesse de julgá-
lo como permitido automaticamente.
Alguns autores costumam a ver a questão da lacuna como sendo um
problema de ordem processual, pois surge somente no momento da aplicação
de um sistema normativo a determinado caso, para o qual, aparentemente ou
realmente, não há norma específica.
Kelsen reconhece a completude do Direito, mas admite a existência de
lacunas ao nível processual, a incompletude como uma ficção que permite
estabelecer limites – ideológicos - ao arbítrio do juiz nos casos de
comportamentos permitidos, mas, do ponto de vista da ordem social,
indesejadamente permitidos.
A questão da lacuna, tendo em vista a tarefa integradora da ciência
jurídica no seu modelo hermenêutico, tem nuanças mais complicadas ainda.
Admitida a possibilidade de que ela existe, isto não significa que já a tenhamos
definida, a doutrina encontra dificuldades em determinar seu estrito significado.
A doutrina raramente consegue distinguir o conceito de lacuna nos seus
aspectos estáticos (ausência de uma norma num ordenamento dado e
desligado da sua dinamicidade) e nos seus aspectos dinâmicos (a própria
historicidade do direito, revelando "lacunas" que antes não existiam e
preenchendo outras antes reconhecidas).
O problema da integração coloca ainda a questão dos instrumentos
integradores. Fala-se em analogia, em interpretação extensiva, em equidade,
em princípios gerais, em indução amplificadora, etc. Reconhecem-se esses
meios de integração, mas há incerteza quanto ao seu sentido metodológico.

Um direito positivado, como é o atual, tende a estreitar, em nome do


valor certeza e do predomínio da lei como fonte básica, o campo de atuação do
intérprete, dando-lhe poucas condições para recorrer com eficiência a fatores 17
extrapositivos, como os ideais de justiça, o sentimento do equitativo, os
princípios de Direito Natural etc.

O conceito de lacuna alarga o campo da positividade a partir dele


próprio; é uma construção da ciência jurídica imanente ao direito positivado que
assegura a eventuais critérios transcendentes uma coloração positivante, que
dá força à argumentação do intérprete.

O direito, enquanto conjunto estruturado de normas jurídicas, está preparado


para produzir uma decisão que resolva qualquer conflito social. Em termos
judiciais, os juízes devem produzir sentenças a partir das leis. Quando um juiz
constata que não há uma lei que preveja o caso conflituoso, depara-se com
uma lacuna legal e com a necessidade de preenchê-la, promovendo
a integração do ordenamento jurídico.
O art. 5º, XXXV, da CF, afirma que “a lei não excluirá da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, conferindo a todo cidadão o
direito de demandar judicialmente. Se existe o direito do lado do
cidadão, surge um dever, por parte do Estado, de “apreciar” todo pedido
que lhe for formulado.

Percebendo tal dificuldade, o art. 4° da LINDB (Lei de Introdução às Normas do


Direito Brasileiro), estabelece que são os métodos de integração normativa a
analogia, os costumes e os princípios gerais do direito. Observamos cada um
deles:

5.1- Integração Normativa

A norma jurídica não pode regular todas as situações possíveis e imagináveis


da convivência humana. Há situações que basta ao aplicador do direito fazer o
encaixe do fato (concreto) à lei (abstrata e genérica), a isso chamamos de
18
subsunção. Podem ocorrer situações, porém, em que isso não seja possível.
Isto é, nem sempre a subsunção aplica-se a todas as situações jurídicas.

Nesses casos, então, há ocorrência de lacuna normativa, não havendo lei


prévia tratando do tema. A lei, nessa hipótese, é omissa, existe lacuna. Desse
modo, obviamente, não há como haver subsunção do fato à norma, situação
que se resolve por meio da integração normativa.
A técnica de integração normativa é exatamente o oposto da ocorrência de um
conflito entre normas supostamente reguladoras de um mesmo fato. Na
integração, ocorre o inverso, não há conflito entre normas. Na verdade, não há
nenhuma norma a regular o fato concreto.

Assim, no caso de omissão da lei no caso concreto, tem o juiz autorização legal
para interpretar e integrar as normas, hipótese em que, utilizando-se da
analogia, dos costumes ou dos princípios gerais do direito, o magistrado cria
uma norma individual, que só vai valer para cada caso concreto, pondo fim ao
conflito, sem dissolver definitivamente a lacuna.
De fato, não se resolve o problema da ausência de legislação enquanto não
preenchida a lacuna por meio efetivamente de lei. Apenas se utiliza do método
de colmatação para que seja dada uma solução jurídica pontual e aplicável tão
somente para aquele caso específico que não se encontra regulado.

5.1.1 Métodos de Integração Normativa

a) Analogia:
Casos parecidos devem ser julgados de maneira semelhante. Esse é o
conceito de analogia. Consiste em aplicar à hipótese não prevista
especialmente em lei dispositivo relativo a caso semelhante. Nesse caso, o
magistrado estende um preceito legal a casos não diretamente compreendidos
na descrição legal, porém, semelhantes.
Temos, por exemplo, um caso “A”, em que se aplica a regra jurídica "B"; mas
em um caso “C”, sendo a lei omissa, por ser similar ao caso "A", subsume-se à
hipótese a mesma regra "B", por analogia. Não se trata de interpretação 19
extensiva, caso em que existe lei subsumindo-se ao fato. É, pois, analogia, não
havendo lei que se subsuma à hipótese, aplicando-se a lei de caso análogo.

A analogia pode ser legal (legis), quando o juiz pega uma única lei que regula o
caso parecido e aplica-a por analogia; ou jurídica (iuris), quando o juiz pega um
conjunto de normas e aplica por analogia diante da lacuna, não utilizando
apenas uma única lei como paradigma.
Nesse último caso, seria o exemplo da união homoafetiva, a esta aplicando-se
por analogia todo o disciplinamento da união estável, não apenas uma lei, mas
um conjunto de normas aplicadas por analogia, ante a lacuna. É diferente,
portanto, a analogia iuris da analogia legis: a primeira se fundamenta em um
conjunto de norma, a segunda, e uma única lei apenas.

B) Costumes
Trata-se da prática reiterada no tempo que se subtende obrigatória. A isso
chamamos juridicamente de costumes, havendo a presença de dois elementos
que o compõem: elemento objetivo (reiteração no tempo) e elemento subjetivo
(obrigatoriedade social).
Por isso é que os costumes não se confundem com a chamada praxe
administrativa. O costume exige cumulativamente os requisitos objetivo (uso
continuado) e subjetivo (convicção generalizada de sua obrigatoriedade), ao
passo que na praxe administrativa ocorre apenas o requisito objetivo. O
costume, portanto, é fonte do direito, método de integração normativa, já a
praxe administrativa não.

C) Princípios Gerais do Direito

Os princípios são as fontes basilares para qualquer ramo do direito, influindo


tanto em sua formação como em sua aplicação. Entende-se que a melhor
definição do conceito de princípios pode ser extraída dos ensinamentos de
Celso Antônio Bandeira de Mello, em sua memorável lição: “Princípio é, por
definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele,
disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes 20
o espírito e servindo de critério para a sua exata compreensão e inteligência,
exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que
lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico. É o conhecimento dos
princípios que preside a intelecção das diferentes partes componentes do todo
unitário que há por nome sistema jurídico positivo” (MELLO, 2006)

Portanto, os princípios constituem o fundamento maior de uma ciência jurídica,


possuindo fundamental importância dentro dos ramos do direito, seja na
elaboração da norma legal ou na aplicação em face dos casos concretos,
constituindo-se em ideias informadoras da organização jurídica e, atualmente,
reconhecendo-se a sua eficácia normativa.
Ao se ferir uma norma, diretamente estar-se-á ferindo um princípio daquele
sistema, eis que tal norma, direta ou indiretamente, está embutida em sua
essência. Assim, os princípios devem lastrear todas as atividades jurídicas,
sejam interpretativas, normativas, aplicativas ou integrativas.
Como já foi Cobrado
(Delegado de Polícia –MA 2018)
No direito penal, a analogia
a) é uma forma de autointegração da norma penal para suprir as lacunas
porventura existentes.
b) é uma fonte formal imediata do direito penal.
c) utiliza, na modalidade jurídica, preceitos legais existentes para solucionar
hipóteses não previstas em lei.
d) corresponde a uma interpretação extensiva da norma penal.
e) é uma fonte formal mediata, tal como o costume e os princípios gerais do
direito.
Gabarito: A

6 Interpretação da norma 21
6.1 A Ciência do Direito como Teoria da Interpretação – o problema da
interpretação
É hoje um postulado quase universal da ciência jurídica a tese de que
não há norma sem interpretação, ou seja, toda norma é, pelo simples fato de
ser posta, passível de interpretação. No século XIX a interpretação deixa de ser
uma questão técnica da atividade do jurista para ser objeto de reflexão, tendo
em vista a constituição de uma teoria.
Interpretar o direito significava, então, a inserção da norma em tela na
totalidade do sistema. A ligação, porém, entre o conceito de sistema e o de
totalidade acabou por colocar a questão geral do sentido da unidade do todo.
Aparecem os modelos mecânico e orgânico. No primeiro, a unidade era dada
pela integração das partes segundo um princípio de não-contradição e de
complementaridade. No segundo, a unidade era um plus em relação às partes,
alguma coisa que não se reduzia à mera soma das partes, mas garantia a
unidade do seu sentido.
Savigny se atentava apenas ao sentido textual da lei, onde determinar
esse sentido era a interpretação. Daí a elaboração de quatro técnicas para
determinar o sentido da lei: a interpretação gramatical, que procurava o sentido
vocabular da lei; a interpretação lógica, que visava o seu sentido proposicional;
a sistemática, que buscava o sentido global; e a histórica, que tentava atingir o
seu sentido genético.
A concepção de que o texto da lei é expressão da mens legislatoris leva
Savigny a afirmar que interpretar é compreender o pensamento do legislador
manifestado no texto da lei.
O problema básico da atividade jurídica não é apenas a configuração
sistemática da ordem normativa, mas a determinação do seu sentido. Isto
instaura as condições para o aparecimento de um método peculiar, ligado à
ideia de compreensão e de uma disputa em torno do objeto da própria teoria
jurídica.
Quando dizemos que interpretar é compreender outra interpretação (a
fixada na norma), afirmamos a existência de dois atos: um que dá à norma o
seu sentido e outro que tenta captá-lo. Portanto, para que possa haver 22
interpretação jurídica é preciso que ao menos um ato doador de sentido seja
fixado.

6.2 Métodos tradicionais de interpretação. As técnicas interpretativas


Parte-se do ponto de vista de que, sendo a decidibilidade a questão
básica que domina a atividade do jurista, a hermenêutica jurídica visa
fundamentalmente criar condições para que eventuais conflitos possam ser
resolvidos com um mínimo de perturbação social. Do ângulo pragmático,
aquela atividade é, assim, dominada pelo princípio da economia de
pensamento. Ou seja, para elucidar o texto normativo não é necessário ir
sempre até o fim, mas até o ponto em que os problemas pareçam
razoavelmente decidíveis.
A primeira tarefa do intérprete, pois, é estabelecer uma definição. A
definição jurídica oscila entre o aspecto onornasiológico da palavra, isto é, o
uso corrente da palavra para a designação do fato, e o aspecto sernasiológico,
isto é, a sua significação normativa.
A interpretação vocabular do texto recebe o nome de interpretação
gramatical. Durante muito tempo e ainda hoje se questiona sobre a legitimidade
de uma hermenêutica que, ao debruçar-se sobre o texto, busca-lhe o seu
sentido literal. A hermenêutica jurídica raras vezes consegue limitar-se ao
sentido vocabular do texto, quer comum quer técnico. Assim, ao lado da
interpretação vocabular (gramatical), o jurista se vê obrigado, para obter um
sentido razoável, a valer-se de técnicas de objetivos mais amplos, que buscam,
então, o sentido contextual da norma. Falamos em interpretação lógica e
sistemática.
A técnica lógica (de lógico) tem apenas certo respeito pelo chamado
princípio de coerência, o qual consiste em uma exigência de compatibilidade. A
exigência de coerência, que nos obriga a evitar usos incompatíveis, faz da
interpretação lógica uma técnica peculiar. Os seus instrumentos podem ser
reduzidos a três procedimentos básicos: a atitude formal, a atitude prática e a
atitude diplomática.
Atitude formal: se preocupa em resolver, de antemão, eventuais
incompatibilidades pelo estabelecimento de regras gerais, é o estabelecimento 23
de apoios formais, válidos antes da ocorrência da situação.
Atitude prática: procura evitar as incompatibilidades à medida que elas
se apresentam, repensando as noções e as normas em função das situações.
Assim, em nome da busca de uma solução mais equitativa para um conflito, é
possível reinterpretar, digamos, um elemento do conteúdo de uma norma não à
letra, mas num sentido amplo ou restrito, conforme as exigências da decisão
justa.
Atitude diplomática: é um procedimento pelo qual, tentando evitar uma
incompatibilidade, o intérprete, ao menos no momento e dentro de certas
circunstâncias determinadas, inventa uma saída, que soluciona, ainda que
provisoriamente ou tendo em vista o caso dado, e só aquele caso, o conflito em
tela.
A própria determinação de certos critérios de coerência exige que o texto
normativo seja visualizado num corpo maior, donde a chamada interpretação
sistemática, aqui entendida, em termos de Savigny, como a busca do sentido
global da norma num conjunto abarcante.
A interpretação sistemática, por envolver uma teleologia, culmina
sempre num procedimento que ativa a participação do intérprete na própria
criação do direito. Fala-se então em interpretação histórico-evolutiva que ocorre
quando os objetivos do legislador histórico não são mais reconhecíveis de
modo claro ou quando as necessidades sociais do mundo em transformação
passam a exigir uma revaloração dos fins propostos para determinada
legislação.

6.3 Métodos clássicos


Segundo Morales, na ciência jurídica há quatro métodos clássicos de
interpretação que foram definidos por Savigny, quais sejam:
Gramatical - o elemento gramatical da interpretação tem por objeto as
palavras de que serve o legislador para nos comunicar seu pensamento, ou
seja, a linguagem das leis.
Lógico - o elemento lógico, a decomposição do pensamento ou as relações
lógicas que unem suas diferentes partes. 24
Histórico - tem por objeto o estado do direito existente sobre a matéria, na
época em que a lei foi editada: determina o modo de ação da lei e a mudança
introduzida por ela, que é precisamente o que o elemento histórico deve
esclarecer
Sistemático - o elemento sistemático tem por objeto o laço íntimo que une as
instituições e regras do direito no seio de uma vasta unidade. O legislador tinha
diante de seus olhos tanto esse conjunto como os fatos históricos e, por
conseguinte, para apreciar por completo seu pensamento é necessário explicar
claramente a ação exercida pela lei sobre o sistema geral do direito e o lugar
que ela ocupa nesse sistema.
Miguel Reale, citado por Morales, destaca que não deve haver uma
progressão entre sobreditos critérios, partindo-se, por exemplo, da análise
gramática para, em estágios ulteriores, chegar à análise sistemática. Os
elementos de análise estão mutuamente imbricados e implicam-se
reciprocamente, daí resultando o caráter unitário do processo de interpretação.
6.4 Interpretação constitucional

6.4.1 Princípio da interpretação conforme a Constituição


No escólio de Pedro Lenza, ao se defrontar com normas
plurissignificativas/polissêmicas, deve-se preferir satisfazer aquela que mais se
aproxime da Constituição e principalmente a que não seja contrária aos
parâmetros constitucionais.
Tal princípio tem incidência direta no Poder Judiciário. Para satisfazê-lo,
algumas observações devem ser feitas, tais como:
a) deve-se preferir a interpretação não contrária à Constituição;
b) percebendo o intérprete que uma lei pode ser interpretada em conformidade
com a Constituição, ele deve assim aplicá-la para evitar sua não continuidade;
c) o intérprete não pode contrariar o texto literal e o sentido da norma para
obter a sua concordância com a Constituição; - o texto normativo funciona
como moldura para as possíveis interpretações.
d) só se admite a interpretação conforme a Constituição se existir um espaço 25
de decisão e, dentre as várias a que se chegar, deverá ser aplicada aquela em
conformidade com a Constituição;
e) após a interpretação, se o juiz chegar a um resultado contrário à
Constituição, deverá alegar a inconstitucionalidade da norma;
f) não se aceita interpretações, ainda que conforme a Constituição, que criem
regras novas e distintas daquelas objetivadas pelo legislador. Deve-se afastar
interpretações que não se adéquem ao sentido normativo pretendido pelo
legislador.

6.4.2 Interpretação autêntica da Constituição


A interpretação autêntica também pode ser chama de interpretação
legal, legislativa ou pública. Ela é realizada pelo próprio órgão que editou a
norma a ser interpretada, declarando seu sentido, alcance e conteúdo, por
meio de norma jurídica. Segundo o autor Hans Kelsen, a interpretação feita
pelo órgão aplicador do Direito é sempre autêntica, pois ela cria direitos, tais
direitos podem ser gerais ou voltados para o caso concreto. A interpretação
autêntica comumente assume a forma de lei.
Classificação:
- contextual: quando vem inserida no próprio texto interpretado;
- posterior: quando elaborada para esclarecer o sentido ambíguo de lei já
publicada.
Ressalte-se que o posicionamento hierárquico das leis deve ser
observado, de modo que uma norma constitucional só poderá ser interpretada
autenticamente por outra norma constitucional.

6.4.3 Método concretista de interpretação das normas constitucionais


Segundo Bernardo Fernandes "o método hermenêutico concretizador
tem por ponto de partida o fato de que a leitura de qualquer texto, o que inclui o
texto constitucional, se inicia a partir de pré-compreensões já presentes no
intérprete, a quem cabe a tarefa de concretizar a norma, sempre para e a partir
de uma situação histórica concreta. (...) a interpretação constitucional nada 26
mais é do que um processo de concretização".
Conforme Pedro Lenza, esse método de interpretação coloca em
destaque alguns pressupostos, como o papel criador do intérprete e as
circunstâncias e contexto no qual se desenvolve tal atividade. Se forma um
círculo hermenêutico (movimento de ir e vir do subjetivo para o objetivo, até
que o intérprete compreenda a norma) entre texto e contexto, de modo que, o
intérprete atua como mediador entre a norma e a situação concreta, levando
em conta a realidade social.

6.4.4 Método tópico problemático de interpretação constitucional


Segundo o autor Bernardo Gonçalves Fernandes, tal método assume as
premissas de que a interpretação constitucional é dotada de um caráter prático
– voltado para a resolução de um problema concreto, aplicação da norma ao
caso concreto – e um caráter aberto ou indeterminado – o que permite várias
interpretações.
Conforme esse método, a interpretação da constituição passa por um
processo aberto de argumentação que assume um pluralismo de intérpretes,
os quais, analisando os pontos em comum (topoi) e as divergências, chegam à
interpretação mais conveniente para solucionar o problema. O método tópico
problemático é passível de várias críticas, pois pode conduzir a um casuísmo,
além de perder de vista o movimento que a interpretação deve seguir (caminho
da norma para o problema).

Como já foi Cobrado


Acerca da doutrina e da jurisprudência do STF a respeito das técnicas de
interpretação constitucional, julgue os itens a seguir.

I A técnica da interpretação conforme pode ser utilizada tanto no controle de


constitucionalidade difuso quanto no abstrato.

II Como técnica de exegese, a interpretação conforme impõe a decretação da


inconstitucionalidade da norma, atendendo à vontade do legislador. 27
III A interpretação constitucional segue os mesmos cânones hermenêuticos da
interpretação das demais normas jurídicas.

IV A declaração de nulidade sem redução de texto gera o vício de


inconstitucionalidade da norma e o seu afastamento do mundo jurídico.
Estão certos apenas os itens

a) I e II.
b) I e III.
c) III e IV.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.

Gabarito: B
7 Eficácia da lei no tempo. Conflito de normas jurídicas no
tempo e o Direito brasileiro: Direito Penal, Direito Civil, Direito
Constitucional e Direito do Trabalho

7.1 Eficácia da lei no tempo


A lei é regida por dois princípios fundamentais: o da obrigatoriedade e o
da continuidade.
O princípio da obrigatoriedade é estabelecido pelo artigo 3º da Lei de
Introdução Nacional do Direito Brasileiro, que diz que “Ninguém se escusa de
cumprir a lei, alegando que não a conhece”. Ou seja, a parte não pode alegar a
ignorância da lei para que a mesma não produza efeitos.
Já o princípio da continuidade está no artigo 2º da LINDB: “Não se
destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou
revogue.” Somente uma lei pode revogar outra, expressa ou tacitamente.
Para que uma norma cumpra seu papel no sistema jurídico, é
imprescindível que passe pelos seguintes planos: existência, validade,
28
eficácia e efetividade.
A existência da norma ocorre quando ela é sancionada, porém sua
força executória se dá com a promulgação, ou seja, no ato do Poder Executivo
que reconhece a autenticidade e determina sua entrada no sistema jurídico. A
validade normativa diz respeito à pertinência, isto é, se a norma está ou não
integrada ao sistema jurídico. Observar a validade material é observar a
concordância da norma com o sistema constitucional. A validade formal refere-
se à qualidade da norma de obedecer ao devido processo legal. Eficácia é a
potencialidade de produzir efeitos concretos. Para que uma norma seja eficaz,
é imprescindível que exista e seja válida. Enfim, a efetividade da norma,
também conhecida como eficácia social, é o sucesso normativo, aceitação e
satisfação social.
Quando uma lei entra em vigor, revogando total ou parcialmente outra,
sua aplicabilidade destina-se ao presente e ao futuro. O legislador não deve,
portanto, criar novas determinações jurídicas para interferir naquelas situações
de fato já alcançadas por norma anterior, segundo o princípio da segurança
jurídica. O Direito Brasileiro é regido pelo princípio da irretroatividade das leis,
salvo exceções, nos termos do art. 5º, XXXVI, CF/88: “a lei não prejudicará o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.

7.2 Conflito de normas jurídicas no tempo e o Direito brasileiro: Direito


Penal, Direito Civil, Direito Constitucional e Direito do Trabalho
Antinomias são conflitos aparentes de normas. Ao se deparar com uma
antinomia, cabe ao aplicador do direito encontrar uma solução. Para tanto, são
três as regras fundamentais: O critério hierárquico, fundamental por
estabelecer a máxima de que a lei superior prevalece sobre a inferior; o
critério da especialidade, que determina a predominância da lei especial
sobre a lei geral; e o critério cronológico, que propõe a revogação da lei
anterior por lei posterior.
O critério da hierarquia traz que, entre duas normas incompatíveis,
prevalece a hierarquicamente superior:
a) Norma constitucional: são hierarquicamente superiores a todas as demais, 29
delas irradiam as demais normas;
b) Normas complementares: estão num segundo plano hierárquico. São
consideradas leis de organização básica e possuem matérias expressamente
estabelecidas na Constituição (art. 148);
c) Normas ordinárias, delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e
resoluções: as normas ordinárias, ao contrário das normas complementares,
não possuem matéria previamente determinada. O que não é regulado por
norma complementar é residualmente disciplinada por lei ordinária. Além disso,
as leis complementares demandam quórum qualificado para aprovação
(maioria absoluta, ou seja, primeiro número inteiro superior à metade dos
componentes da Casa Legislativa). Já as leis ordinárias demandam maioria
simples para aprovação (metade dos parlamentares presentes na sessão);
d) Decretos regulamentares;
e) Normas internas (despachos, estatutos, regimentos);
f) Normas individuais.
O critério da especialidade prega que uma lei especial prevalece sobre a
geral. É importante ressaltar que norma especial não se confunde com norma
excepcional. As normas excepcionais abrem exceções, contrariando a norma
geral. A norma especial não contraria a norma geral, apenas concede
tratamento diferente, adaptando circunstâncias e exigências.
a) Normas gerais: disciplinam todo o ramo do direito, por meio de princípios
generalizantes. Exemplos: Código Penal, Código Civil, de Processo Civil, entre
outros.
b) Normas especiais: disciplinam apenas alguns aspectos dentro de um dos
ramos do direito, por meio de princípios setoriais. Exemplo: lei que disciplina a
impenhorabilidade do bem de família.
c) Normas individuais: meros atos administrativos. Repercutem para um grupo
certo de pessoas ou até para uma única pessoa.
As regras básicas para soluções de antinomias geradas pelo conflito de
normas no tempo no Direito brasileiro se encontram no art. 2ª da Lei de
Introdução as Normas do Direito Brasileiro (LINDB).
Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor
até que outra a modifique ou revogue. §1o A lei posterior revoga a
anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela 30
incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que
tratava a lei anterior.
A regra da hierarquia não está expressamente disposta no ordenamento
jurídico. Decorre da supremacia da Constituição. Portanto, o critério
cronológico também deve ser submetido ao critério hierárquico.

7.2.1 Direito Penal


Art. 5º, Constituição Federal de 198, XL - a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o réu.
O princípio da irretroatividade restringe que a legislação penal atinja
apenas os fatos ocorridos no momento da vigência da lei, ratificando os
preceitos constitucionais da legalidade e da segurança jurídica.
Código Penal Brasileiro, Art. 2º - Ninguém pode ser punido por
fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer
modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda
que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
A retroatividade da lei penal mais benéfica ao réu encontra seu
fundamento na própria natureza do direito penal, haja vista que este
regulamenta as situações excepcionais, em que o Estado deve intervir para
punição e reeducação social do autor. Modificar uma lei penal significa que a lei
considera desnecessária uma ingerência da mesma intensidade nos bens
jurídicos do autor, ou que diretamente é indispensável qualquer ingerência.
Sendo assim, a lei mais benéfica (lex mitior) pode retroagir e ultragir;
enquanto a lei mais gravosa (lex severior) não possui tal capacidade.

7.2.2 Direito Civil


As regras do Código Civil submetem-se ao princípio da irretroatividade.
Mesmo que lei posterior seja mais benéfica, não pode a parte invocar a
retroatividade da lei se o negócio jurídico já foi consumado na vigência de uma
lei anterior. 31
Suponhamos um ato jurídico perfeito constituído quando vigorava
Código Civil de 1916, mas que seus efeitos se protraem no tempo, estendendo-
se até a vigência de nova lei. Segundo o Código Civil de 2002:
Art. 2.035. A validade dos negócios e demais atos jurídicos,
constituídos antes da entrada em vigor deste Código, obedece ao
disposto nas leis anteriores, referidas no art. 2.045, mas os seus
efeitos, produzidos após a vigência deste Código, aos
preceitos dele se subordinam, salvo se houver sido prevista
pelas partes determinada forma de execução.
Além disso, o CC de 2002, em seus artigos finais (2.228 a 2.043), traz
uma série de regras gerais de direito intertemporal, ou seja, conjunto de
normas e regulamentos que resolvem os conflitos das leis no decorrer dos
tempos. Vejamos alguns exemplos:
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos
por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver
transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei
revogada.
Art. 2.029. Até dois anos após a entrada em vigor deste Código,
os prazos estabelecidos no parágrafo único do art. 1.238 e
no parágrafo único do art. 1.242 serão acrescidos de dois anos,
qualquer que seja o tempo transcorrido na vigência do
anterior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916.
Art. 2.031. As associações, sociedades e fundações, constituídas
na forma das leis anteriores, bem como os empresários, deverão
se adaptar às disposições deste Código até 11 de janeiro de
2007. (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005).

7.2.3 Direito Constitucional


A Constituição é o sol do sistema normativo; seu fundamento original de
validade. Isso significa que todas as situações incompatíveis com a Lei Maior
devem ceder ao seu crivo.
A Constituição Federal de 1988 consagra o princípio da irretroatividade.
Os efeitos do texto constitucional são imediatos, mas não retroativos. Não 32
alcançam situações jurídicas disciplinadas por ordenamento anterior. A
retroatividade é admitida somente em casos expressos.
Art. 5º XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada.
Uma consideração interessante sobre o conflito de normas no tempo e o
direito constitucional é a distinção entre inconstitucionalidade e não recepção
da lei. Não se pode falar de inconstitucionalidade de lei anterior à nova
Constituição. A nova Constituição não foi o fundamento de validade de toda a
legislação anterior. Se revogasse todo o sistema preexistente, o direito
enfrentaria um verdadeiro vácuo normativo.
No entanto, a legislação recepcionada se submete a uma nova
interpretação de seu texto de acordo com a nova Constituição, à luz das novas
regras, princípios e fins por ela adotados. A interpretação conforme a nova
constituição pode deflagrar a não recepção da lei anterior.
O instrumento de controle para leis anteriores à Constituição no nosso
sistema jurídico é a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental,
prevista no art. 102, I, “a”, da CF/88.
7.2.4 Direito do Trabalho
Art. 912 da Consolidação das Leis do Trabalho: Os dispositivos
de caráter imperativo terão aplicação imediata às relações
iniciadas, mas não consumadas, antes da vigência desta
Consolidação.

Como salientado pelo artigo acima, o princípio da irretroatividade


das leis é abarcado pela CLT. O fato do Direito do Trabalho ter múltiplas
fontes normativas e de cláusulas contratuais, faz com que o tema da
intertemporalidade seja ainda mais relevante nesse ramo.
O princípio da aderência contratual informa que “preceitos normativos e
cláusulas contratuais tendem a aderir ao contrato de trabalho com intensidade
e extensão temporais diferenciadas”. Isto é, as normas jurídicas tendem a ter
aderência relativa, e as cláusulas contratuais, aderência absoluta. As normas
jurídicas só produzem efeitos contratuais quando em vigor; se a norma se 33
extingue, extintos também serão seus efeitos.

Como já foi Cobrado


(Delegado de Polícia- GO 2013)
Supondo-se que a Lei “W”, de vigência considerada temporária pelo
ordenamento jurídico, revoga, de forma expressa, a Lei “X” e que, devido a
mudanças de comportamentos socioeconômicos, a lei revogadora vem a
perder sua vigência, tem-se que:
a) a lei revogada fica impossibilitada de ser restaurada por ter a lei revogadora
perdido a vigência, pois ao ordenamento jurídico pátrio é incabível o princípio
da caducidade.
b) as correções promovidas no texto da Lei “W”, ainda em vigor, consideram-
se lei nova.
c) de acordo com o estudo da Lei de Introdução às Normas de Direito
Brasileiro, a Lei revogada “X” é imediatamente restaurada, como uma resposta
aos anseios socioeconômicos da evolução e porque não se pode ficar sem lei.
d) de acordo com a Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro, a Lei
destinada à vigência temporária possuirá vigor até que outra a revogue.

Gabarito: B

34

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