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Pode esse tema, posteriormente avaliado, garantir maior compreensão e lucidez por
parte dos alunos, dos temas que se ministrado através de aula expositiva?
É possível na regência dessa aula, conquistar a certeza de que sua apresentação não
As respostas a essas perguntas são afirmativas e, ainda de quebra, a ela outras conquistas
Será possível com esse trabalho alcançar não apenas as disciplinas acima relacionadas como
outra qualquer, poderá esse trabalho, devidamente adaptado, ser executado em qualquer série
ou nível de escolaridade e, bem mais que apenas uma compreensão literal do que se expõe, se
mais amplas que as provocadas por simples explanação. Portanto, no desempenho desse
trabalho o professor poderá estar se aproximando dos sonhos de Piaget, ao levar o aluno não a
estruturas mentais de seus alunos e, dessa forma, específico para cada um. E tudo isso apenas
com a coragem em se substituir uma tradicional exposição por um envolvente e motivador Jogo
de Palavras.
Em primeiro lugar garantindo que os alunos tenham alguma ideia sobre o tema,
escolhido.
e objetivos do texto, fragmenta-las separando cada uma das palavras e escrevendo cada palavra
em um pequeno quadrado de papel. Mais fácil é quadricular-se uma folha antes, escrever as
palavras em cada dos quadrados e somente depois corta-la. Esse emaranhado de palavras,
amontoadas ao acaso e unidas fora de ordem compõe o recurso material do “jogo de palavras”.
Com tantas cópias desse material quantas duplas, trios ou grupos se contar em classe, basta
entrega-la aos alunos destacando que sua tarefa, à imagem de quem monta quebra-cabeças, será
tentar ordenar as frases, emprestando-lhe sentido lógico. Algo, por exemplo, similar que afirmar
“É construção coisa não que de, mas fora processo o interativo de um conhecimento vem
interior” e que ordenado expressaria “O conhecimento não é uma coisa que vem de fora, mas
Ao se envolverem no desafio que essa atividade abriga, os alunos encontrariam motivação por
ver substituída sua postura passiva de ouvinte por ação solidaria de jogador; motivados, não se
energia pois estaria substituindo tradicional discurso, por ajuda interativa e, essa aula, levaria o
aluno a falar, trocar ideias, buscar esquemas de solução e por essas vias pensar, usando
simbolizado pelo texto fragmentado, ao qual buscariam uma estrutura lógica. Nessa atividade o
professor transformou texto em contexto, colocou em ação mecanismos de uso dos hemisférios
cerebrais direito e esquerdo e, levando a seus alunos jogo desafiador e atraente, através do
mesmo ensinou que o novo conhecimento não se sobrepõe aos conhecimentos anteriores, mas a
Apenas uma questão o desafio nesta breve crônica proposto é incapaz de responder:
Se é assim tão simples descobrir estratégias de ensino motivadoras e capazes de
que vem de fora, como informação com a qual se entulham e desrespeitam cérebros,
Você, por acaso, soube de algum médico que após prescrever uma solicitação de exames clínicos e,
– Amiga… Creio que a única alternativa que agora resta é sugerir que procure uma funerária!
Certamente, essa resposta é inimaginável, pois por mais grave que seja os resultados trazidos por sua
paciente, por mais aguda e periclitante que possa ser sua saúde, haverá sempre o bom conselho, o cuidado
alternativo, a esperança de recuperação. O médico, viva no país em que viver e esteja diante deste ou
daquele paciente, é sempre profissional comprometido com a esperança e, por mais aguda que seja a
situação clínica com a qual se depara, sente que a vida ainda merece sua luta, que jamais é tarde para se
renunciar a esperança.
Será que, diante do desempenho decepcionante em uma prova ou erros em demasia em um exame, o
professor age de igual maneira? A resposta infelizmente, e todos sabemos, nem sempre se parece coma do
médico. Existem, e não são poucos, os que oferecem ajuda, sugerem caminhos, acendem esperanças e
creem na recuperação, mas muitos outros, ao contrário, preferem atirar sobre o aluno a culpa do mau
ensino, a justificativa de seu fracasso docente. Muitas vezes pensa: “Ensinar eu ensinei, se não aprendeu a
culpa não é minha!”. Será que não é mesmo? Será que a dificuldade em aprender não advém do mau
caminho no ensinar? Será que a pressa, a precipitação, o cansaço, a revolta pelo salário ínfimo ou outros
Sinto que talvez essa questão possa ser um dos fundamentos que diferem a figura do professor da de um
verdadeiro educador. O educador, tal como o bom médico, jamais se entrega a desdita, nunca desiste do
seu paciente, jamais renuncia a certeza de que curar almas é tão importante quando curar o corpo.
O QUE ENSINAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL?
Quando se examina os conteúdos curriculares desenvolvido no Brasil, tanto em Escolas Públicas quanto
nas Escolas Particulares nos cursos de Ensino Fundamental e Médio não é difícil descobrir-se uma
relativa uniformidade. Um simples exame destes conteúdos presentes nos livros didáticos e nas diferentes
publicações dos Sistemas de Ensino mais utilizados confirma essa assertiva. Varia e varia bastante
“como” é promovido esse ensino, desde o tradicional sistema discursivo do professor, o aluno
individualizado, a lousa e seu caderno, até estratégias que envolvem recursos eletrônicos sofisticados e
textos impressos pelo próprio aluno, não muda, entretanto os conteúdos das disciplinas curriculares,
inclusive pela própria imposição de afunilamento nas provas do ENEM ou outros chamados grandes
vestibulares. Enfim, o que o aluno necessita saber ao concluir seu ciclo estudantil pré-acadêmico constitui
uniformidade nacional.
como uma incursão compreensiva através das operações aritméticas básicas, existem divagações sobre o
restante dos conteúdos a se trabalhar. Dependendo da natureza da instituição ou dos hábitos culturais de
cada ponto do país, não se percebe a preocupação sobre os conteúdos essenciais que qualquer criança
necessita levar para iniciar o Ensino Fundamental. Infelizmente em muitos lugares ainda prevalece à
concepção da criança como um “pequeno adulto” ou algo cujo volume de saberes com que deve chegar
ao Ensino Fundamental pode ser um punhado de informações desconectadas e irrelevantes, pois que
somente a partir desse nível e como professores especialistas irão entrar com seriedade no mundo do
saber.
É evidente que existem exceções, mas são estas de tal forma incomuns, que parece impossível se
estabelecer um padrão de como está ocupada à mente de uma criança ao terminar a sua Educação Infantil
e, pior ainda, se este padrão em condições excepcionais existe para alguns, serão os mesmos atropelados
pelas normas do que efetivamente se acredita ser essencial a todos. Mas, não é isso que se nota quando se
compara a Educação Infantil no Brasil como é a mesma preparada em inúmeros países que navegam por
infantil uma etapa irrelevante em termos de aprendizagens de conteúdos das disciplinas curriculares. Em
face desta situação, nas oportunidades em que somos convidados a falar sobre os “conteúdos” a serem
ministrados na Educação Infantil, após a conquista do letramento e do domínio das operações aritméticas
básicas, costumamos sugerir que estes devem se organizar em torno de cinco pilares que consideramos
essenciais e que jamais deixam de existir em países em que a formação da criança é encarada com
respeito e prioridade.
Enumeramos abaixo esses cinco pilares, destacando que não cabe qualquer hierarquia entre eles. Portanto:
REFLEXIVA DO ENTORNO.
Não é possível se estabelecer uma idade prescrita para começar a se aprender ciência. O saber científico
emoldura de tal forma a nossa vida que desde que a criança aprende a perguntar é essencial que sua
curiosidade se volte para o “por que” das coisas que observa. Por que o céu é azul? Por a rouca seca mais
depressa no varal? Porque os rios correm para o mar e não ao contrário? Porque respiramos? O que
Enfim, existe um indevassável universo de curiosidade que emerge da observação infantil e que cabe aos
pais e, sobretudo, a escola canalizar. Menos importante que o volume de respostas que cada criança deve
levar para o Ensino Fundamental, é importante que prevaleça algo como um verdadeiro “culto a sua
curiosidade científica” e sua perspicácia em buscar respostas. O educador infantil nesse caso não seria a
“enciclopédia humana” que assassina o gosto da descoberta, mas o fantástico propositor de problemas, o
Qualquer criança explora em cada instante de seu crescimento a diversidade autônoma de seus sentidos.
Viver a infância significa cheirar, degustar, observar, escutar e experimentar o tato e essa conquista
como um perfumista, experimenta como um degustador profissional, enxerga com olhos de um grande
pintor, ouve como maestro genial e transforma a sensibilidade de seus dedos em olhos de insuperável
profundidade, sabe que com extrema simplicidade e sem grande dispêndio de tempo, a criança aprende
que ver é bem mais que olhar, ouvir é escutar é patamar acima de ouvir, falar é muito mais que apenas
dizer. Enfim, com paciência e persistência educar os sentidos não sugere possível orientação profissional,
PENSAMENTO.
Não aprendemos a pensar como quem aprende a preparar um churrasco. Mas, raramente associamos a
culturais primitivos, sem língua escrita e, portanto, com reduzido vocabulário constituem pálidos modelos
de culturas que, com parcos pensamentos, quase nada edificou. A criança necessita ser desafiada a cada
instante em descobrir o supremo mistério da palavra, de sua fonética, da significação que lhe damos, da
sútil maneira como constrói sentença e reestrutura pensamentos. Qualquer criança que cresce desafiada
em se fazer um colecionador de palavras, torna-se leitor contumaz, observador arguto e carrega por toda
vida as raízes infindas dessa paixão e, por isso, vive mais intensamente e, sobretudo, em cada momento
de sua existência. Mas, tudo quanto se afirma sobre a grandeza da palavra, também se insinua no mistério
dos números. Mais que simplesmente aprender maneja-los matematicamente é essencial que a criança
aprenda a refletir sobre a magia de sua composição e a surpresa de sua relação com nos mesmos e nosso
entorno.
Pais e professores são unânimes em proclamar que não existe aprender mais essencial que a
aprendizagem de valores. Constitui unanimidade entre educadores a ênfase em mostrar que organizar a
existência à luz de valores e de procedimentos significa incorporar à vida a qualidade inefável da empatia,
da resiliência, da acolhida, da paixão. Mas, da mesma maneira, como essa unanimidade se reafirma em
toda parte emerge a contradição de que educar valores é tarefa da família e não da escola, das igrejas e
não dos clubes. É esta uma ingênua simplicidade que não se percebe em nações que educam a criança
para sua autonomia, sua visão sistêmica de projetos, sua relação empática com o outro e com as
comunidades. Educar valores é papel essencial da escola laica e da escola religiosa, da escola pública e da
escola particular, da família pobre e da família rica e se o lapso dessa ação se perde na infância, é bem
Acreditamos que a culminância dos quatro pilares anteriores se consolida com um trabalho cuidadoso no
estímulo as diferentes inteligências humanas. Não é mais concebível ignorar o que hoje se sabe sobre a
mente humana, sua fenomenal plasticidade e sobre a incrível diversidade em seu poder de solucionar
problemas e criar coisas. Da mesma forma como na educação da criança já há tempos se sabe que o
estímulo aos músculos e ao movimento é atributo essencial a sua qualidade de vida, hoje já é possível
saber que a criação de “laboratórios de inteligências” realiza para o cérebro a mesma qualidade requerida
pelo corpo.
Dessa maneira, quanto se desenvolve um projeto contínuo de estimulação das inteligências se está
reforçando a curiosidade na busca dos porquês científicos, a plenitude da exploração dos sentidos, a
extrema sensibilidade no domínio das palavras e nas viagens do pensamento e, finalmente, a descoberta
dos valores éticos como que embutido em nossa prodigiosa inteligência existencial.
O QUE NÃO MUDA?
A primeira impressão que este título desperta é a resposta “nada”. Vivemos tempos fluidos em que nada
permanece igual ao que era antes, mesmo que em uma anterioridade próxima.
Compare, por exemplo, tudo que se tem ao redor e se refaça a pergunta. Não é complicado perceber que
governo, política, profissão, família, religião, valor ético, instrumento e tudo mais estão em permanente e
fluída mudança. Quando se volta aos olhos para trás, bem distante, se percebe que as coisas pareciam
sólidas, rígidas, inalteradas ou pouco mudadas de pais para filhos, de avós para netos. Dizer o que era
bom ou o que não era, salvo para mentes doentias, representava consenso. Era possível reclamar que não
se tinha um bom governo, que era sórdida a política corrupta, que todas as famílias tinham fantasmas
ocultos em armários, que nem todas as religiões conduziam à integridade dos costumes, que os valores
balançavam ao sabor das conveniências, mas incontestavelmente, ninguém punha em dúvida o que era o
certo.
Vivem-se tempos fluídos onde prevalece à busca da individualidade das opiniões e, mesmo estas, mudam
a cada instante, dependem de cada circunstância. Quem ousa proclamar o bom ou bem, o belo ou o justo
sabe que proclama para alguns e que outros podem com igual validade proclamar pelo ruim, pelo mal,
pelo feio que aos que o amam bonito parece e pela injustiça de se achar que existe justiça unânime. Por
acaso, ao fazer estas ponderações estamos reclamando? Evocando uma volta ao passado? Clamando pela
solidez que se diluiu em líquido e que assim se amolda ao formato de seu frasco? De maneira alguma.
Se tudo muda, se em nos mesmos sentimos a inevitável avalanche da mudança porque reclamar? Como
não sorver a certeza de que a complexidade dos tempos de agora se faz densa, persistente e difícil para ser
desfeita ou para ser ao menos compreendida? Prevalece à incapacidade em se escolher entre a atração e a
repulsa, entre a esperança e o pragmatismo da certeza e tudo isso acaba por nos levar a tentar se adaptar a
essa onda e viver os tempos que nos resta viver descobrindo que se tudo muda nada nos resta senão
salas de aula com carteiras fixas, a lousa desenhada à frente e a frente da mesma o mestre expondo,
falando, repetindo como se não mais existisse o Google, como se Internet tivesse sido proibida pelo
Grande Irmão. Existe algo no horizonte que simboliza a solução para o problema da quadratura. Algo que
garante que comer o bolo, equivale a preserva-lo, desfrutar das delicias do agora é se prender a
imutabilidade do ontem. Esse algo é a risonha e franca escola brasileira. Afinal, muda o conceito de
beleza, muda o valor do aprender e saber materializar o que aprendeu, muda o olhar sobre a arte, muda a
sistemática que envolve os relacionamentos humanos e, é claro, nessa onda muda o governo, a política, o
exercício da profissão, a família, a religião, os valores éticos, e principalmente os instrumentos que nos
cercam. Só a escola brasileira não muda. Em suas mágicas salas o tempo se congela. Nada se altera.
SABOROSA MANEIRA DE ENSINAR, PÉSSIMA FORMA DE APRENDER
A aula expositiva sempre foi e sempre será uma gostosa maneira de ensinar, pois permite ao professor
transmitir a mesma mensagem para muitos, impõe a tirania do discurso, enaltece a vaidade de sentir-se
onipresença do silêncio e, de tantas vezes repetidas, impõe a quem pensa que ensina uma rotina que,
quando ocasiona cansaço, é apenas o esgotamento físico de se falar inutilmente a mesma coisa, inúmeras
vezes. Mas, se esse sistema de aula tão popular e antigo é sinônimo de conforto ao emissor, representa a
pior maneira de aprender, desde quando foi possível observar a mente humana em processo de
O que aqui se afirma não representa opinião pessoal de quem sempre foi inimigo dessa estratégia hostil.
Estudos neurológicos que celeremente avançam mostram que a exposição de alunos a repetidos discursos
nada representa para sua cognição e inteligência e significa muito pouco para a memória e a
materialização do aprender em fazer. A aula expositiva é saboroso conforto para professores que odeiam
se transformar, mas é, ao mesmo tempo, galopante frustração para alunos que buscam se transformar. Se,
por exemplo, um professor dividir seus alunos em três grupos, sugerir ao primeiro que insista em repetir
um conceito muitas vezes, propor ao segundo que imagine esse mesmo conceito envolvido em ações
cotidianas do dia a dia, solicitar ao terceiro que busque transformar o conceito em imagens, como se o
assistisse em um filme ou novela, e, depois de algum tempo, avaliar o desempenho de cada grupo,
repetindo essa avaliação em uma semana e, depois, em um mês, descobrirá que o primeiro grupo
Experiências como essas não são inéditas. Encontram-se ao alcance e foram realizadas em lugares de todo
o mundo, com alunos de todas as idades. Diante da cristalina certeza das vantagens dos segundo e terceiro
ocasionado pelo exercício da contextualização. E, então, onde fica o professor em tudo isso?
A resposta é simples: escorado na comodidade da ação saborosa que não serve para coisa alguma ou
apoiado pela certeza de que ensina a pensar, imaginar, transferir e se transformar. O que vale mais? Ser
inútil e não ajudar ninguém a nada ou descobrir sua identidade e semear o saber?
Grande parte dos professores, seja qual for o nível de ensino em que atua, defende a ideia da reprovação
de alunos que não alcançam as metas de aprendizagens essenciais ao curso. Buscam destacar, de maneira
simplória, entretanto realista, que motorista sem qualificação é drama para si mesmo e para os outros e
que cozinheira que não sabe cozinhar, envenena e envenena-se. Além disso, afirmam que sem o temor da
sanção os alunos se desmotivam, a indisciplina assola e o prêmio da promoção automática nível os maus
aos bons e, dessa forma, engana a família e ilude o aluno. Alguns professores que contra a retenção se
colocam também possuem argumentos sólidos. Lembram que o temor do insucesso castra a
induzir o aluno à cola ou a outros subterfúgios. É evidente que os dois lados possuem razões, inúmeras
além destas, e que seja qual for à posição assumida, sempre sobram resquícios de dúvida se deve ou não
existir a retenção.
Sempre nos colocamos contrários à retenção pura e simples, ainda que a ameaça de um verdugo ajude a
disciplina em sala de aula, mas sempre nos colocamos contrários a uma singela postura que clama pela a
aprovação automática. Essa posição, nada se relaciona com o ato de ficar em cima do muro, antes de
acreditar na força coerente de uma avaliação bem feita e de uma recuperação que, efetivamente, possa
Dominar conteúdos conceituais, saber associá-los a vida que se vice, percebê-los ferramentas para uma
leitura do mundo e, ao mesmo tempo, conquistar a fluência na leitura, a compreensão espacial plena, a
linguagem desafiadora dos números, a força e o poder da argumentação, aprender a aprender e saber
materializar o que se aprendeu pelo bem fazer são alguns dos fundamentos que sem a escola não se
alcança e sem um domínio cognitivo seguro não se caminha e, se um aluno, estas metas não pode
alcançar que lhe seja propiciado de forma plena e ilimitada as condições para que as obtenha. A saúde
mental que a inteligência humana inspira é mais ou menos como a saúde corporal que a vida plena exige;
e se não conquistamos e não usufruímos essa saúde que se busque remédios, que se proponham
intervenções, que se procedam a exames laboratoriais seguros para que o usufruto à vida se restaure. O
que parece existir de errado na escola brasileira não é a estéril discussão entre retenção ou aprovação
automática, mas uma aguda reflexão sobre o que, efetivamente, significa “avaliar” e como de maneira
plena e integral se propiciar elementos de recuperação aos que ficam para trás. Reter um aluno que não
acompanha uma turma inspirando essa retenção em uma avaliação numérica, despótica e imperfeita e que
desconsidera a individualidade de seu estilo e a força emocional de seu ambiente é mais ou menos como
ordenar decapitação aos que apresentam colesterol alto ou aos portadores dos primeiros sinais de
insidiosa diabetes.
O RPOFESSOR E A MENTE
Qualquer pessoa vive e se refaz. Seja qual for à direção que damos a nossa existência e as nossas paixões
viver é fazer-se e cada dia que nasce nos descobre diferente do dia que passou. Diferente por uma razão
biológica, uma vez que o viver significa envelhecer a cada minuto e não há evolução sem transformação
por mais imperceptível que seja esta. Mas, além das alterações corporais, a mudança maior e que mais
sentido dá a esse se refazer são as mudanças ocasionadas pelo aprendizado. Impossível um dia de vida
sem que algo se aprenda, ainda que também mal se perceba a sutiliza dessa mudança. E é exatamente na
configuração dessa realidade que emerge com inusitado vigor a figura do mestre.
É evidente que não aprendemos somente na escola e que, portanto, muito além da função docente, o
refazer se dá pelas experiências vividas, encontros surgidos, acasos circunstanciais, mas se é verdade que
não somente o professor ensina, nenhuma outra profissão tem em sua estrutura essencial essa função. É
por essa razão que ser professor possui significado indizível e também por essa mesma razão que é
essencial que todos que foram abraçados por essa função necessitam se aprofundar na plena compreensão
do que efetivamente significa ensinar. É esse domínio que liga a profissão à neurociência e que necessita
fazer do professor um estudioso e curioso observador sobre a mente humana. Em uma sociedade que se
Somente quando aprendemos como a mente aprende e retém o essencial no que aprendeu, podemos
verdadeiramente ensinar e quando bem ensinamos somos únicos na gloriosa missão de fazer de toda
pessoa um verdadeiro agente na missão de fazer-se a cada dia. Se houve tempo e espaço para o professor
que ditava informações, prescrevia memorizações, domina-se pela rotina de ensinar saberes dispensáveis
e descartáveis, esse tempo passou e é claramente substituído pelos novos tempos da perspectiva
para efetivamente se transformar, o velho professor sepulta-se na inutilidade enquanto a pessoa humana
verdadeira saúda os novos artífices na insubstituível arte de ensinar a viver. Dentro da sala de aula ou não.
PORQUE EXISTEM ESCOLAS?
Escolas existem no mundo inteiro. Com variações, que envolvem bem mais os recursos do que se faz que
propriamente a maneira como se faz, existem escolas no ocidente e no oriente, em países democráticos e
em outros de marcante pressão ditatorial. Essa presença e uniformidade internacional da escola é, no
mínimo, surpreendente. Não seria possível imaginar país onde os familiares fossem a única
transmissora da herança cultural? Seria absurdo pensar que em outro, sábios conselheiros via Internet, se
encarregassem de transmitir os postulados necessários para se bem viver? Claro que não! A escola é
imprescindível da maneira como está instituída e é por esse motivo que dessa mesma forma está em toda
parte instituída.
Mas, vale a pena insistir: Por que a escola, da forma que é, é imprescindível! Será realmente ou representa
uma convenção e simples desejo de manter nos tempos de agora o que em outros tempos se fez? Não,
rebaterão muitos. A escola é imprescindível porque a Declaração Universal dos Direitos do Homem diz
em seu artigo 26 que toda pessoa tem direito à educação e que esta deve objetivar pleno desenvolvimento
da personalidade humana e ao fortalecimento do respeito pelos direitos do homem e suas liberdades
fundamentais. Além disso, prescreve que a educação deve favorecer a compreensão, a tolerância e a
amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos. Perfeito, se a escola existe por esses
propósitos e se são eles essenciais para uma cultura de paz, tudo bem. Entende-se as razões do existir da
escola e a essência incontestável de sua importância.
Mas, sobra uma pergunta: A nossa escola está efetivamente cumprindo esse desígnio? Efetivamente
Se a resposta é afirmativa, por favor, chamem-me depressa. Necessito do alento dessa descoberta; tenho
fome e voracidade em conhecer uma escola com essa plena e incontestável razão de existir. A maior parte
das que conheço, estão bem mais preocupadas em transmitir conhecimentos, ministrar conteúdos, adestrar
habilidades que, efetivamente, desenvolver ações que possam estruturar personalidades, favorecer a
compreensão e a tolerância e ensinar a fazer amigos. Não grifamos duas vezes a palavra “ações” por
diletantismo. Achamos que “ações” são coisas diferentes de “conselhos” e nossa pergunta firma-se nessa
diferença. Que hoje ou ontem, aqui e ali, nesta ou naquela aula, o professor possa ministrar conselhos que
pretendam conduzir a estrutura integral da personalidade, não duvido. O pedido para que me chamem é,
realmente, para observar e aprender com os professores ações concretas, exercícios de desenvolvimento
da personalidade, projetos que ensinem a fazer amigos, alfabetização emocional que trabalhando
Mas, seria isso possível? De que maneira os professores poderiam se engajar em um trabalho que, junto
com os temas conceituais que pensam ensinar, poderiam efetivamente trabalhar as razões cruciais de a
escola existir?
A resposta não é difícil, ainda que não possa ser a mesma para toda parte. Um trabalho consciente jamais
se distancia da contextualização desses valores à realidade do aluno e esta varia de um ponto para outro.
O que fica de unidade nessa esperança, é que as escolas que se reconstruíram na busca desse novo
ensinar, o fizeram após discussões e reflexões de sua equipe docente. Nada de importar modelos, ainda
que os estudos dos mesmos sejam imprescindível, desnecessário clamar para que o Estado faça pela
escola o que sua equipe, muito melhor que ele, pode por ela fazer. Exemplos expressivos de inclusão,
experimentadas em muitas partes e, ainda que possa existir uma dispersão em termos dos caminhos
Unidade que pouco a pouco se constrói com uma equipe de professores que almejam, sobretudo porque
aprenderam a amar sua profissão, dar dignidade a sua função e acreditar que se um amanhã melhor
desejamos, em nossas mãos e de nenhum outro profissional com tal intensidade, existe a certeza de que
basta querer.
QUANDO OS MODELOS ATRAPALHAM
Caso prefira, deixe o professor e escolha outros quatro profissionais de outras áreas quaisquer e indague a
eles, com quantos especialistas da sua área tiveram contato antes de buscarem sua formação.
A resposta é fácil antecipar. Seja qual for à carreira escolhida é grande a probabilidade de que antes de se
iniciar na mesma se tivesse apenas eventuais contatos com profissionais dessa área, circunstância que
evidentemente difere muito para o caso do professor. Encare seu caso pessoal, por exemplo: quantas
vezes antes de se iniciar na profissão travou contato com advogados? Ou com arquitetos? Mas, com
Essa circunstância enfatiza que a maior parte dos profissionais existentes no mercado não chegaram a ele
inspirados em modelos vividos, mas na essência do que aprenderam em seus estudos sobre essa
profissão, mas tal condição jamais ocorre com o professor que ao buscar sua carreira, por certo, conviveu
com centenas de diferentes professores e ainda que inconscientemente introjetaram modelos que acabam
esculpindo seu jeito pedagógico de ser. Sem nem mesmo perceberem, buscam a profissão já com posturas
de ação incorporadas para fazer a seus alunos, aquilo que a eles na ação profissional foi feito e despertou
admiração ou surpresa.
E isso é mau? Claro que sim! Por melhor que, por exemplo, tivesse sido um médico há trinta ou quarenta
anos atrás, seria um profissional absolutamente desatualizado face aos novos recursos e as incontestáveis
conquistas da medicina atual e um bom médico hoje em dia somente o é porque se acha sintonizado
integralmente com seu tempo e com os recursos que o caracterizam. O mesmo pode ser aplicado no caso
de professores. Há trinta ou quarenta anos atrás, a concepção do que era um “bom” professor é
Naqueles tempos, importante era dominar conteúdos e transmiti-los para que fossem os mesmos
memorizados; era desenvolver uma avaliação somativa e aprovar ou desaprovar alunos pela capacidade
de armazenarem informações, era ministrar aula mantendo os alunos em silêncio e suposta atenção. Hoje
Será que bom professor não é todo aquele capaz de transformar informações em conhecimento? Àquele
capaz de despertar competências, estimular inteligências? O professor que sabe valorizar o diálogo e
promover situações de relações interpessoais? O interrogador, desafiador, propositor de problemas? O
profissional que, efetivamente, sabe construir saberes a partir da representação de seus alunos? O mestre
capaz de trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem? Todo aquele capaz de ensinar o
aluno a usar a integridade de seu cérebro através de diferentes habilidades operatórias? O bom professor
não quem é capaz de construir e planejar dispositivos e sequências didáticas e de envolver os alunos em
profissional eficiente em educação não é se mostrar capaz de seduzir seus a alunos a se envolverem na
novas formas de se pensar e trabalhar o currículo permitindo que os estudantes possam dominar e fazer
uso de novas tecnologias e assim vivenciar e superar os conflitos de seu entorno e da relação interpessoal
aprendizagem?
Nada temos contra modelos e será sempre válido e reconfortante mantê-los em nossa lembrança, mas
antes de incorporá-los existe a certeza de que os tempos são outros e de que nada faz mais por um bom
profissional que, efetivamente apreender a filosofia e a essência de uma profissão e exercê-la de acordo
Até os anos noventa do século passado pouco se conhecia sobre o cérebro humano e sua admirável
experiências vividas ou apreendidas para solucionar novos desafios. O avanço das Ciências da Cognição e
o desenvolvimento de novas técnicas de captação de imagens que nos permite ver a atividade cerebral
enquanto ocorre e detectar com precisão quais a estruturas envolvidas, mudaram não apenas alguns
conceitos médicos, mas interferiram sobre o que se conhece sobre aprendizagem e memórias e, dessa
forma, como trabalhar saberes em sala de aula. A lista que aparece a seguir sugere algumas das
interessantes conclusões sobre a mente humana e que devem ser levadas em consideração quando se
ministra uma aula, seja qual for o nível de idade do aluno, ou os conceitos que se busca construir.
O cérebro humano é capaz de aprender em qualquer idade, mas reveste-se de notável importância a
educação que se recebe desde o nascer, até os primeiros anos de vida e o reconhecimento das agudas
2. A imperativa certeza de que cérebro que não se usa é órgão que se perde.
Uma pessoa normal nasce dotada de tecido cerebral complexo e com capacidade para diversificadas e
múltiplas conexões, mas se esse tecido não é desafiado através de estímulos significativos que atingem a
percepção sensorial e depois não se utiliza intensamente essa modificação, ocorre uma atrofia ou perda
dessas funções. Em síntese, a escolaridade convencional pode ter limite, a aprendizagem jamais.
Bebês ou crianças pequenas podem sobreviver ou se desenvolver mesmo com comprometimento de uma
parte do cérebro, mas à medida que passam os anos, esta flexibilidade diminui e fica bem mais difícil
compensar capacidades e funções perdidas. É importante que se preserve boas amizades por toda vida,
mas a amizade imprescindível é a que, até os trinta anos, desafia, instiga, ousa.
A plasticidade cerebral que nos faz aprender admite que tudo quanto se assimila chega através de
experiências concretas do sujeito sobre o objeto do conhecimento, mas chega também pela observação e
constatação dos exemplos que se conquista dos modelos que se observa e com os quais a vida nos propõe
conviver. Estímulos procedimentais não substituem estímulos experimentais, mas estes também não
A complexidade das zonas e das redes neurais, cada uma orientada para capacidades bastante específicas,
destaca que alguns indivíduos sejam dotados de potenciais e talentos muito acima da média dos demais e
como as aptidões são relativamente independentes, ninguém é absolutamente bom em tudo que é
necessário para bem viver, mas possui excelência em uma ou outra capacidade. A avaliação do ser
Além de evidentes disparidades biológicas e de papeis sociais que em muitos pontos se opõe, o cérebro
masculino e o cérebro feminino apresentam diferenças hemisféricas sensíveis que interferem na forma
como percebem e como acolhem a compreensão e a relação da pessoa com o mundo. Em outras palavras,
homens e mulheres podem fazer uma mesma leitura de seu tempo e de seus personagens, mas
com capacidade limitada em codificar emocionalmente suas experiências, apresentam problemas em reter
e se transformar pela aprendizagem. Emoção não somente se ensina, mas sem a mesma pouco se aprende.
Essa lista, muito longe de se acreditar completa, não pode ser vista com indiferença e nem mesmo como
receita por este ou por aquele professor. Ao contrário, identificada como resposta da ciência pelo que hoje
se sabe, deve transformar-se em instrumento de reflexão e imperativo de discussões entre toda equipe
docente.
UM DRAMA E TRES PERSONAGENS
Minha impressão sobre essa aluna? A pior possível! Apática, desinteressada, revela sérias dificuldades em
aprender e agudos problemas de memória, pois somente assimila após desgastante insistência e, menos de
um mês depois, já não mais é capaz de se lembrar do que sabia. Além dessas dificuldades de
aprendizagem e retenção, não se interessa por nada, passando pelos fatos sem aos mesmos se ligar.
Durante as aulas mergulha em seus devaneios e o que ouve, entra por um ouvido e mais que depressa pelo
outro sai. Incapaz de acompanhar o desempenho dos colegas mais fracos de sua turma, não pode
permanecer na série e que se encontra e somente uma avaliação absurda, se é que houve alguma
– Minha impressão sobre essa aluna? A melhor possível! Dinâmica, interessada e protagonista de todos os
desafios propostos, aprende com imensa facilidade e revela uma curiosidade sem limites. Com genial
poder de associar o que aprende ao mundo real, é destaque onde quer que se apresente, admirado pelos
colegas e de méritos reconhecidos pela maior parte de seus professores. Proprietária de uma memória
dinâmica sabe descobrir o que aprendeu para contextualizar diante do que deseja saber. Na aula, se
mostra muito organizada, ouvindo com atenção e esforçando-se sempre para ajudar colegas com mais
dificuldades. Embora com a mesma idade de seus colegas, pensa, pesquisa, cria e aplica como os
melhores alunos de séries mais avançadas. Em um sistema escolar em que o nível intelectual e corporal
dos alunos fosse aferido pela competência e pela dedicação, certamente estaria em série mais adiante.
– Esperem um pouco. Por favor, ajudem-me a compreender. Ouvi com atenção o seu depoimento,
professora Marlene, e com igual atenção também ouvi o relato do professor Eduardo. Estou atônito sem
entender nada, ou envolvido por uma perversa brincadeira de vocês dois. É da mesma aluna que se
referem?
– Surpresa e vítima de brincadeira é como também me sinto, senhor Diretor. Fui sincera e busquei ser
transparente ao falar da Tânia Mara. Sei que é péssima aluna e confesso que não compreendo o absurdo
desse julgamento feito pelo Eduardo, meu colega da Educação Física. Como pode descrever essa menina,
afrontando minha forma de percebê-la. Então dúvida que Tânia Mara é a pior aluna da classe? Reafirma
existe apenas a certeza da coerência e a clareza da verdade. Tânia Mara é aluna inteligente e dedicada,
adolescente admirável esperta e criativa. Dedica-se com extremo vigor a todas as aulas quando se
descobre protagonista e não apenas ouvinte, quando suas competências e inteligências são instigadas e
exigidas e não omitidas pela mediocridade de repetições maçantes. Aprende com extrema facilidade a
graça dos movimentos corporais e domina com esperteza e criatividade a linguagem dos sentidos. Possui
excelente memória para reter tudo quanto efetivamente tenha significação e aplicar o que guardou para
transformar-se e transformar o mundo real em que vive e modela, critica e intervém…. Quem se interessa
pela linguagem dos movimentos e bem a aprende, aprende com igual facilidade qualquer conteúdo, de
– Calma lá, professor Eduardo. A Tânia Mara pode ser excelente e dinâmica na Educação Física que o
– Não, professora Marlene. Desculpe o incômodo da correção, mas não existe inteligência aguda sem
desafio, significação plena sem protagonismo, excelente memória particularizada em apenas alguns itens.
todas as memórias humanas estão sempre associadas à plenitude da motivação e não as especificidades
das disciplinas curriculares. Desculpe, mas não é a Tânia Mara que é má aluna, são suas aulas e seu
conceito de educação que não evoluiu. Nenhuma pessoa verdadeiramente inteligente não se sente
sonolenta e apática diante de aulas mortas, temas maçantes, memorizações inconsequentes. Aprenda a
dar mais vida às suas aulas e, depressa, perceberá quanto Tânia Mara e todos os seus alunos
desabrocharão…
– Professora Marlene, professor Eduardo. No debate aberto, não há como ser neutro e não cabe a
hipocrisia de não tomar partido. O Eduardo tem razão, todos os seus alunos, todos os professores desta
casa e esta direção já perceberam que na linguagem serena e na harmonia sincera dos movimentos
compreendidos, se revela a força da inteligência humana e que sem estímulos desafiadores não existe
compreensão do cérebro e ação do corpo. Quem aprende a aprender, apreende qualquer conceito de
qualquer disciplina e os aplica em qualquer situação desafiadora. O mundo reverencia os Jogos Olímpicos
como forma explícita da diversidade e da grandeza da inteligência e da superação humana. Falta apenas a
“Admirável Mundo Novo” é nome de um romance, que li pela primeira vez, aos vinte anos e que, de
tempos em tempos, gosto de mais vezes o saborear. Escrito pelo genial Aldous Huxley e publicado pela
primeira vez (1932) cinco anos antes de meu nascimento, relata um hipotético futuro onde as pessoas são
Romance escrito por um poeta sonhador, teimava em desejar olhar para o amanhã com esperança de paz,
ainda que para pessoas como que robotizadas pela alienação. Inspirado pela esperança do autor, mas
desapontado com a maneira cruel como via a conquista dessa paz, fiz-me professor e, após bem mais de
cinquenta anos dedicados ao ensino, atrevo-me a discordar de Huxley, ainda que pensando que o mundo
novo que aguardo chegar possa ser realmente admirável, ainda que por caminhos diferentes.
Assim, quando retomo ao hábito rotineiro dessa leitura, creio que é perfeitamente factível esperar por um
mundo novo e admirável, mas consolidado não pela educação que temos, mas por outra que sonhamos e
esperamos. Chega-se, então, o questionamento. O que existe de errado na educação que temos? Como
Não ouso pensar em receitas mágicas, mas trazer para meu país o que, há tempos, já se pratica em alguns
países com excelente e admirável educação. No Brasil, com raras e esquálidas exceções, se pensa
educação entulhando a mente dos alunos com informações, organizadas através de um pesado e indigesto
currículo. Informações matemáticas, linguísticas, geográficas e outras tantas que transforma o bom
estudante em “intelectuoide”, mas não o faz mais homem, não o ajuda a efetivamente “aprender a ser”.
Ao se comparar a estrutura curricular brasileira básica descobre-se uma enorme listagem de disciplinas,
sempre voltadas para que o aluno possa melhor conhecer, mas não melhor viver. Nos países ao qual de
passagem nos referimos inexiste a matemática que não desperte a consciência sobre regras, a história que
nos mostra que a passagem humana pela terra não pode separar os saberes dos valores, a geografia que
mostra que a diferenças entre países ricos e pobres situa-se menos nas suas economias e mais, muito mais,
na sua formação ética, na sua consciência cidadã. Difícil essa mudança? Fácil, seguramente não é, mas
indiscutivelmente plausível. Seu preço? Olhar para as crianças de agora e sonhar com Huxley. Não nas
castas que propôs, mas no insubstituível título de sua obra. Uma nova e ousada educação nos permitirá
sabermos o que nos espera. Finalmente, um mundo novo. Um admirável mundo novo.
CAIXA DE OVOS
“Caixa de ovos porque, à imitação desse produto, os professores não se integram, não formam equipe,
não vestem igual camisa, não transpiram pelo mesmo time. Cada um é intocável na sua unicidade, não
Pode não ser regra geral, mas não deixa de acontecer, não apenas na escola, mas em muitos outros
grupos, no campo profissional, nas comunidades religiosas e até mesmo na família. Não é raro que, ciente
do seu valor ou individualidade, muitos se fechem, com medo de repartir experiências ou de ser superado
Muito ruim quando não se consegue sentir-se parte de um todo, responsável também pelo resultado de um
projeto maior.”Penei tanto para construir, planejar, realizar isso e vou entregar de mão beijada para quem
Verdade que há pessoas assim. Eu mesma vi um texto meu, criado especialmente para uma avaliação de
Língua Portuguesa, ser usado por outra professora. Tudo bem, se ela me pedisse; nem precisaria dar-me o
crédito. Mas ela escreveu o próprio nome como autora. E foi muito elogiada!
Claro que existem diferenças entre as pessoas: personalidade, comportamento, pontos de vista,
convicções, valores, até idiossincrasias que se confrontam e causam conflitos que interferem na
convivência, sempre uma arte difícil! Mas, nem por isso precisamos nos isolar em nosso cubículo interior,
Homem ou mulher, velho ou moço, que em sua ação é ao mesmo tempo músico e regente?
Quem é essa estranha figura que em seu trabalho chora e ri, fala e escuta, conta e encanta?
Quem é esse ator que precisa entusiasmar o grupo e ao mesmo tempo atender o apelo individual?
Precisa manter a ordem sem perder a serenidade; falar a todos, ouvindo a cada um?
Quem possui a indômita magia para ajudar que todos desabrochem e se expressem, aprendam e se
Quem é esse estranho malabarista que necessita se equilibrar entre conteúdos e competências, limitando
Quem é esse anjo que empresta a filho dos outros, o tempo que para os seus não tem e que cobrado pelos
desafios da vida sempre dura, não consegue apagar a emoção que a rotina propicia?
Que necessita sempre resolver, saber, decidir, propor, desafiar sem oportunidade de perder o instante, sem
Quem possui essa aura para esgotado, renovar esforços; combalido encontrar energia? Quem pode, ao
Que aprende a empatia que ensina, pratica a solidariedade que prega, administra a progressão do currículo
que deseja, avalia com olhar abrangente, vibra com sucessos que não são seus.
Quem é esse distribuidor de sementes que não colhe para uso próprio os frutos que plantou?
sonho?
Existe uma perversa tendência de alguns professores pensarem a ideia de “mudança” atrelada à tecnologia
e, dessa maneira, verbos como “” ou “inovar” sempre aparecem associados a novos recursos eletrônicos
que olham como “coisas do passado” livros de papel, cadernos, lousas, lápis e canetas. Para estes, a
mensagem da renovação denomina-se ensino on-line, tabletes, lousas eletrônicas e teclados. Não se pode
afirmar que é essa uma concepção de ensino absurda, mas seguramente nos parece ser uma ideia
incompleta.
É evidente que os recursos tecnológicos estão mudando conceitos usuais e é mais evidente ainda que em
dez anos ou ainda menos não mais se pensará “sala de aula” com os elementos com que é agora a mesma
percebida. O que parece, entretanto, essencial é acreditar que se não houver radical mudança na “pessoa”
do professor, surgirá inseparável abismo entre seus pensamentos e os recursos eletrônicos que agora
chegam. É importante acreditar que toda mudança tecnológica somente assume contorno de verdadeira
mudança real e efetiva significa mudança na maneira de pensar, para somente depois se assumir com
Essa mudança na maneira de pensar do professor necessita se apoiar em alguns indicadores sólidos, isto é,
nada se muda quando se ignora “o que mudar” e, nesse sentido, propomos como passo inicial de uma
verdadeira mudança nesse pensar, pelo menos cinco indicadores que estruturam toda escola e que balizam
a ação de todo professor: A “Aula” que ministra o “Conteúdo” que transforma em conhecimento, a
“Postura Desafiadora” que assume a “Multiplicidade de linguagens (ou inteligências) que instiga” e,
Não mais se pode acreditar que uma Aula se transforme em relato expositivo, frio e cruel, de saberes que
o aluno passivamente ouve. É essencial que o professor estude outras maneiras de ministrar aula e que
sempre as credite capaz de gerar protagonismo ilimitado do aluno, sua fala articulada e centrada no tema
habilidades operatórias. Aula que se ocultar desses princípios se transforma em suplício para quem
incorporar aos fundamentos que envolvem o aluno em sua vida, seus desafios e suas relações. Não mais
pode existir uma “História”, uma “Geografia”, “Literatura”, “Matemática”, “Ciência” ou “Arte” que se
afaste do cotidiano que não ajude o aluno a olhar e compreender o mundo que o cerca e as pessoas que
descobre.
Tempos atrás a postura do professor diante de seus alunos era invariavelmente a do “proprietário do
saber” e “inquisidor de memórias”. Para professores desses tempos, o ponto de interrogação representava
apenas a arma com que aferia e feria seus alunos e sua aula expunha temas que eram essências de se
guardar. Não mais se concebe postura similar e o professor dos novos tempos necessita menos ensinar e
mais ajudar o aluno a aprender, menos cobrar repostas prontas e mais provoca-las, fazendo do ponto de
interrogação sua arma e a alma de sua aula. Da mesma forma, o professor de anteontem era o mestre do
texto e apenas nesta linguagem acreditava. Seus desafios eram textos, as provas cobravam textos o
sucesso da aprendizagem era pelos textos (orais ou escritos) avaliados. Não mais se aceita a restrição
desse limite. O novo aluno possui estilo de aprendizagem múltiplo e, dessa forma, requer a palavra e o
pensamento, a foto e mensagem, o texto e a ilustração e, assim, não prioriza esta a aquela inteligência,
Essas mudanças não são difíceis de implantar e, menos ainda, difícil de encontra-las. Difícil é acreditar
moderniza em sua aula, seu conteúdo, sua postura e suas linguagens, fluirão como consequência
Professor com esses requisitos e livres para aspirar esses pensamentos será sempre um professor
admiravelmente moderno, mesmo em sala de aula aonde sequer a luz elétrica chegou.
PROFESSORES E PROFESSAUROS
PARA O PROFESSOR
É uma oportunidade de aprender e crescer, um momento mágico de revisão crítica e decisões corajosas.
PARA O PROFESSAURO:
É o angustiante retorno á uma rotina odiosa, o eterno repetir amanhã, tudo quanto de certo e errado se fez
ontem.
PARA OS PROFESSORES:
Alegria de percebê-los cada vez mais sábios e curiosos. A certeza de que não os ensinarão e sim
contribuirão de uma forma decisiva para iluminar suas inteligências e afiar suas competências.
PARA PROFESSAUROS:
Nada mais do que ter que encarar chatíssimos clientes, que transformados em espectadores pensarão
PARA OS PROFESSORES:
Um momento especial para propor novas situações de aprendizagens pesquisadas e por meio delas
PARA OS PROFESSAUROS:
Nada além da repetitividade de informações que estão nos livros e apostilas, e a solicitação de esforços
agudos da memória para acolher o que se transmite, ainda que sem qualquer significação e poder de
Um volume de informações que necessitará ser transformadas em conhecimento, uma série de veículos
PARA OS PROFESSAUROS:
Trechos cansativos de programas estáticos que precisam ser ditos, ainda que não se saiba por que fazê-lo.
PARA OS PROFESSORES:
Desafios a superar, esperanças a aguardar, conhecimento para cada vez mais aprender, a fim de fazer da
PARA OS PROFESSAUROS:
A rotina de se trabalhar por imposição, casar por obrigação, fazer filhos por tradição. Empanturrar-se para