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Transtorno do Espectro Autista:

olhar para o passado, construindo o


presente e mudando o futuro.
O que é?
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do
neurodesenvolvimento, caracterizado por déficits persistentes na interação
e comunicação social, presença de comportamentos e interesses restritos e
repetitivos (American Psychiatric Association, 2013). Ainda, de acordo com
a APA, os prejuízos e déficits associados ao TEA, embora dependam do
nível de severidade do transtorno e comorbidades associadas, tendem a
persistir ao longo da vida e ter repercussão em diversos contextos, como
familiar, escolar, profissional.
Primeiros sinais (a partir de 12 meses)
• Não responder quando chamado pelo nome.
• Pouco contato visual.
• Pouca reciprocidade no sorriso social.
• Poucos gestos comunicativos (ex: apontar).
• Preferência por brincar sozinho.
• Ausência de atenção compartilhada.
• Reduzido interesse por outras crianças.
• Atraso na fala e outras formas de comunicação.
Níveis de Suporte no TEA - DSM-5 TR
Comportamentos
Nível Comunicação social
repetitivos/interesses restritos
Déficits em comunicação verbal e não
Rituais imutáveis.
verbal.
Nível 3: Intenso desconforto quando rotinas são
Graves prejuízos no funcionamento
Suporte interrompidas.
social.
intenso Alta frequência de comportamentos
Interações sociais muito limitadas;
repetitivos.
Mínima resposta social.

Déficits em comunicação verbal e não


Nível 2: Interesses fixos frequentes.
verbal.
Suporte Desconforto e frustração visíveis quando
Respostas reduzidas ao contato social
grande interrompidas.
de outras pessoas.

Déficit social sem suporte ocasiona


Rituais e comportamentos repetitivos.
Nível 1: prejuízo.
Resiste às tentativas de interrupção dos
Suporte Dificuldades em iniciar relações sociais.
rituais ou interesse fixo.
Interesse diminuído por relações sociais.
Prevalência
Causas
“O TEA é um transtorno multifatorial do qual não se conhece o mecanismo
da causa completamente. Um estudo publicado pelo JAMA Psychiatry em 17
de julho de 2019, sugere que 97% a 99% dos casos de autismo têm causa
genética, sendo 81% hereditários. O trabalho científico, com 2 milhões de
indivíduos, de cinco países diferentes, sugere ainda que de 18% a 20% dos
casos tem causa genética somática (não hereditária). E o restante,
aproximadamente de 1% a 3%, devem ter causas ambientais, pela
exposição de agentes intrauterinos — como drogas, infecções, trauma
durante a gestação.”
Dados
Nesse estudo do CDC de 2021, as crianças tinham 50% mais chances de
receber um diagnóstico de autismo até os 4 anos, quando comparadas às
crianças de 8 anos.

O diagnóstico é dado, em média, aos 4 anos de idade nos EUA.

Não há diferença geral no número de crianças negras identificadas com TEA


em comparação a crianças brancas. O espectro autista é um transtorno que
não difere etnias nem classes e abrange a todos igualmente.
Quadros associados - Comorbidades
Comorbidades são condições que coexistem.
As principais condições que podem ocorrer simultaneamente com o
autismo são:

• Epilepsia. • Transtorno do Processamento

• Distúrbios do sono. sensorial.

• Transtorno de déficit de atenção • Distúrbios gastrointestinais e

e hiperatividade. alimentares.

• Alexitimia. • Transtornos de ansiedade, e

• Transtorno Opositor Desafiador. • Depressão.


Família
O impacto do diagnóstico nos membros da família é singular, mas
segundo pesquisas na área (Ingersoll & Hambrick, 2011; Silva &
Schalock, 2012), pais de crianças com TEA relatam
consideravelmente mais estresse do que pais de crianças com
desenvolvimento típico e pais de crianças com outros tipos de
transtornos do desenvolvimento. Este estresse elevado tem sido
associado a maior risco de ansiedade e depressão e menor
qualidade de vida.
Diagnóstico
“O diagnóstico do TEA é realizado através da observação clínica com base
nos sinais propostos pelo DSM 5. Além disso, sinais comórbidos tais como
auto e heteroagressividade, crises de birra, hiperatividade, desatenção,
impulsividade, problemas de sono e autolesões também devem ser
avaliados.

O diagnóstico e a intervenção precoce são essenciais para um bom


prognóstico.

(Proposta de Padronização Para o Diagnóstico, Investigação e Tratamento do


Transtorno do Espectro Autista Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, 2021)
Tratamento
O tratamento do TEA caracteriza-se por intervenção precoce através de
terapias que visam potencializar o desenvolvimento do paciente. Atualmente
as terapias com maior evidência de benefício são baseadas na ciência da
Análise do Comportamento Aplicada (ABA - Applied Behavior Analysis),
associada a terapias auxiliares, como fonoterapia, terapia ocupacional. Outras
abordagens devem ser orientadas de acordo com cada caso, individualmente. O
número de horas semanais ou quantidade de terapia por semana, devem ser
definidos por cada profissional, de acordo com cada caso.

(Proposta de Padronização Para o Diagnóstico, Investigação e Tratamento do Transtorno do Espectro


Autista Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, 2021)
Tratamento
“Eventualmente, pode ser necessário uso de medicação em paciente com
TEA para sintomas associados como agressividade e agitação, podendo ser
utilizado, nestes casos, a risperidona para crianças com mais de 5 anos de
idade e o aripiprazol para maiores de seis anos. Além disso pode ser
indicado o metilfenidato para pacientes com TDAH associado. Outros
fármacos podem ser tentados em situações específicas e individuais.”

“Dietas, suplementação, vitaminas e vários tipos de abordagens têm sido


propostas para o tratamento do TEA, entretanto, não há evidência
científica para que muitas dessas terapias sejam utilizadas.”
(Proposta de Padronização Para o Diagnóstico, Investigação e Tratamento do Transtorno do Espectro
Autista Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, 2021)
Tratamento
De acordo com a revisão mais atual e confiável sobre Práticas Baseadas em
Evidências para Crianças, Adolescentes, e Jovens com Transtorno do
Espectro do Autismo*, podemos afirmar que existem 28 práticas que
atenderam aos critérios de classificação de evidências.

Fonte: *Evidence-based practices for children, youth, and young adults with Autism.
The University of North Carolina at Chapel Hill, Frank Porter Graham Child
Development Institute, National Clearinghouse on Autism Evidence and Practice
Review Team, 2020
Tratamento
A natureza do tratamento adequado para crianças com TEA tem sido um
debate contínuo entre educadores, pais e médicos. Infelizmente, para as
crianças, longos debates e legais batalhas resultam em longos períodos de
tempo antes que as crianças recebam intervenção.

PRECOCIDADE + INTENSIDADE + GENERALIZAÇÃO


Tratamento
O que é preciso?
Saúde
• Diagnóstico precoce e intervenção baseada em evidências.
• Medicação, quando necessário.
• Residências terapêuticas para adultos que necessitam de alto suporte.
• Apoio e terapia familiar.
O que é preciso?
Educação
• Inclusão escolar.
• Avaliação e estratégia individualizada.
• Metodologias específicas e
• Capacitação dos professores e assistentes (mediadores escolares).
O que é preciso?
Sociedade
• Reduzir barreiras com leis que garantam a inclusão da neurodiversidade.
• Conscientização.
• Apoio familiar.
• Adaptação em eventos e espaços sociais/públicos.
• Atendimentos e vagas prioritários.
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Colaborador: Fábio Coelho.


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