Você está na página 1de 5

CBI of Miami 1

DIREITOS AUTORAIS
Esse material está protegido por leis de direitos autorais. Todos os
direitos sobre o mesmo estão reservados.
Você não tem permissão para vender, distribuir gratuitamente, ou copiar
e reproduzir integral ou parcialmente esse conteúdo em sites, blogs, jornais ou
quaisquer veículos de distribuição e mídia.
Qualquer tipo de violação dos direitos autorais estará sujeito a ações
legais.

CBI of Miami 2
Os Aspectos de Aprendizado do Autista.
Emanoele Freitas

Durante muito tempo estudei e pesquisei sobre a forma de aprendizado


do autista, tendo como base de estudo meu próprio filho, um autista moderado
com afasia congênita infantil, diagnóstico esse que demorou 4 anos e meio
para ser fechado após seu laudo de autismo, porque buscar durante tanto
tempo um laudo detalhado? alguns profissionais nesse período diziam que não
havia necessidade de maiores dados que Laudo é apenas uma rotulação do
indivíduo e em outro um engessamento de sua capacidade, mas como havia
lido em alguns artigos e que me moviam para tal conquista era que “ Um
argumento para o rótulo do diagnóstico correto é o argumento do
TRATAMENTO APROPRIADO”. E é nesse argumento que baseio toda
atividade para um indivíduo com autismo.
Todo trabalho na observação dos diferentes graus de autismo é que
indefere o grau, mas sim a forma apropriada de sequenciação do aprendizado
que ocorre de forma similar na grande maioria. O que diferenciava na linha a
ser seguida era ter como base de trabalho o real diagnóstico da criança.
O fator mais relevante em não me conformar com um laudo surgiu
justamente no dia a dia com vários autistas, sendo que nenhum possuía
características parecidas, mas todos aprendiam, alguns com mais facilidade e
outros quase de forma microscópica e aí se acendeu a luz vermelha, porque
para uns ocorre de forma relativamente apropriada e para outros mesmo com
os estímulos esse desenvolvimento não vinha? O laudo diferencial, traz a
potencialização e principalmente um norteador aos profissionais que atuaram
com nossos filhos.
Um dos aspectos mais conceituados para o aprendizado do autista e
que mesmo com comprometimentos mais graves não deixará de acontecer
mesmo que com um pouco mais de tempo é a estruturação desse ensino,
organizar e dar sequência lógica ao acontecimento, além de estimular a
evolução do aprendizado, também inibe comportamentos disruptivos e crises
de ansiedade. Sendo assim, qual seria o próximo fator relevante? Quanto mais
próximo da realidade daquele autista, mais rápido será à absorção.

CBI of Miami 3
A estruturação das atividades com aspectos visuais torna muito mais
fácil de compreensão, e a sequenciação dessas atividades tanto em casa como
em ambiente escolar potencializa os aspectos de aprendizagem.
Nós fazemos nossas atividades diárias de forma automática sem prestar
muita atenção nisso, mas os autistas necessitam de sequenciação visual para
uma execução mais apropriada, por exemplo, sequenciar o primeiro momento
do dia, levantar, escovar os dentes, tomar banho, vestir a roupa, pentear os
cabelos, etc. tudo isso é simples para nós, mas para eles é deveras
complicado, pois cada atividade aqui citada depende de diversos passos e
fatores para que ocorram de acordo com o desejado, já visualmente e com
ordens sequenciadas o processo flui mais rapidamente, não estou dizendo que
será do dia pra noite, como não é para nenhuma criança, mas o processo
ocorrerá.
Outra atividade bastante desafiadora no aprendizado do autista é a
linguagem/comunicação; nosso grande desafio como mãe e como profissional,
e o que deveríamos aprender em primeiro lugar? No meu caso foi a orientação
de uma professora em São Paulo que me disse;
- Qual a finalidade de falar?
E respondi, - para mostrar o que quero,
- Correto, mas você sabe a finalidade, o objetivo das coisas, você aprendeu
isso ao longo do seu desenvolvimento, conseguia assimilar por imitação, mas e
o autista? A fala é de forma abstrata para o autista, e o primeiro passo é fazê-lo
aprender o propósito da comunicação, pois assim ele aprenderá o poder da
comunicação, mas se ele não tem a compreensão do abstrato, como faremos
isso? Lembre-se sempre a realidade de todo autista é que ele frequentemente
quer desesperadamente se comunicar, mas não sabe como.
E respondi finalmente entendo o processo que ela me apresentava, eu
precisava tornar a comunicação concreta para meu filho, precisava criar a
necessidade para ele falar.
O processo mais fácil de se iniciar foi justamente com aquilo que meu
filho mais amava.... comer. Eu precisava criar condições favoráveis para a
comunicação, e no meu caso ainda existia uma afasia congênita infantil como
dificultador do processo, o que é raro ocorre em outros autistas, mas ao tornar

CBI of Miami 4
visual e concreto o processo de aquisição da linguagem ela foi aparecendo, e
as primeiras palavras surgiram aos 6 anos de idade.
Em outro caso iniciamos o processo com uma criança de 3 anos de
idade, que chegou sem nenhuma verbalização, foram iniciadas as terapias com
Cards do cotidiano, e o gosto principal da criança como facilitador, e ao término
de 3 meses ele estava iniciando a verbalização já dizendo claramente mamãe,
papai, quer água, tchau tia, entre outras, e assim o processo foi se estendendo
e hoje 3 anos depois ele fala sem auxílio de cards, inicia conversa, da opinião e
fórmula sentenças.
Dentro do trabalho vimos na prática as três etapas do desenvolvimento
da linguagem acontecerem, ecolalia, verbalização e comunicação, e que pode
ser alcançado desde que se saiba realmente todas as características orais da
criança e se obter êxito nesse processo.
Com isso ficou claro para nós que todo processo de aprendizagem do
autista, seja qual for o grau sempre será visual, pontual com suporte, sempre
dentro da real necessidade daquela criança, de forma concreta. Mostrar os
propósitos e seus benefícios.
E por fim, um trecho que sempre me faz pensar em como ajudar mais e
mais nossos autistas a ultrapassarem a barreira de seus conflitos.
“Todo o meu pensamento é visual. Quando eu penso em conceitos abstratos,
tais como me relacionar com pessoas, eu uso imagens visuais, tipo a de uma
porta de vidro deslizante. Relacionamentos devem ser abordados
cuidadosamente, senão a porta de vidro se desfacelaria”. (Temple Grandin)
Tenhamos o cuidado e o trato delicado e necessário ao atuar com
nossos autistas, tenhamos a transparência de um vidro para podermos captar
suas reais necessidades e assim ajudarmos a não quebrar seu
desenvolvimento tão único e frágil.

CBI of Miami 5

Você também pode gostar